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Apresentação do módulo
Para a Organização Mundial da Saúde, a adolescência é um período da vida que começa
aos 10 e vai até aos 19 anos. Já para o Estatuto da Criança e do Adolescente, esse período começa
aos 12 e vai até aos 18 anos.
Mesmo com definições diferentes, ambas as concepções concordam que é nesse período
que acontecem importantes mudanças físicas, psicológicas e comportamentais.
Objetivo do módulo
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:
Estrutura do módulo
Este módulo é formado por uma aula:
A decisão de incluir na esfera de ação do Estatuto o menor de 18 anos está de acordo com
a Convenção sobre os Direitos da Criança, que, como se sabe, em seu primeiro dispositivo,
estabelece que, para os efeitos da mesma, "se entende por criança todo o ser humano menor de 18
anos".
1.3. Adolescência
Segundo H. Bee (1997), a adolescência é um período (dos 12 aos 20 anos) de mudanças
da puberdade e um período de transição entre a infância e a adoção completa de um papel adulto.
Entretanto, essa fase conflituosa é agravada no contexto brasileiro, sobre o qual Oliveira
(2001) considera:
Em primeiro lugar, o fato de que nesta “onda jovem” predominam sujeitos de baixa renda,
seja porque 63% dos brasileiros estão localizados em famílias consideradas miseráveis,
despossuídas ou pobres1, seja porque a taxa de fecundidade2 nestes segmentos é bem maior. Em
segundo lugar, observa-se que, no mínimo, 1/3 deste total de jovens que vivem no patamar mais
baixo da pirâmide social está concentrado em áreas mais carentes de equipamentos, como é o
caso das cidades nordestinas ou dos municípios pequenos de outras regiões do Brasil, com poucas
alternativas de desenvolvimento econômico e que ficam de fora dos programas nacionais da área
social ou são alvo apenas de medidas paliativas.
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Ver o arquivo “Informação 1” em anexo na plataforma.
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Ver o arquivo “Informação 2” em anexo na plataforma.
Trabalhamos com o argumento de que, quanto mais desigual for uma
nação, maiores serão suas taxas de violência e de criminalidade. Logo, a
questão não pode ser apresentada a partir de qualquer relação de
causalidade com a miséria em si mesma, na medida em que muitas nações
extremamente pobres, mas com menor desigualdade social, possuem
indicadores de violência reduzidos.
Refletindo sobre a questão – Tendo em vista que o Estado e a sociedade brasileira não
cumprem a legislação no que tange à priorização da infância e da juventude, como esperar que o
jovem cumpra obrigações mediante a cassação de seus direitos e da sua cidadania?
Após refletir, leia a entrevista Medo e Insegurança a Vida com Carmem Silveira de
Oliveira, psicóloga e professora na Unisinos, São Leopoldo, RS, que aborda sobre os jovens em
situação de risco.
Para ampliar seu conhecimento sobre o tema, assista PROFISSÃO REPÓRTER “Jovens
em Perigo”, exibido no dia 01/09/2009, terça-feira.
Thaís Itaqui e Felipe Gutierrez passaram o fim de semana no Espírito Santo, estado com
três cidades incluídas entre as 10 mais perigosas para jovens.
E Caco Barcellos percorreu a Grande Recife e mostrou a rotina de medo e dor numa das
regiões mais violentas do Nordeste brasileiro.
1º Bloco | 2º Bloco
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
Objetivos do módulo
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:
Estrutura do módulo
Este módulo é formado por três aulas:
As primeiras discussões acerca dos direitos da criança se deram no início do século XX,
por parte da extinta Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
preocupadas com a situação da infância no mundo. Essas discussões provocaram a adoção de três
Convenções pela OIT com o objetivo de abolir ou regular o trabalho infantil em 1919 e 1920, e a
criação de um comitê especial pela Liga das Nações que tratava das questões relativas à proteção
da criança e da proibição do tráfico de crianças e mulheres. Da mesma forma, na Declaração de
Genebra, de 1924, já se nota a preocupação internacional em assegurar os direitos de crianças e
adolescentes (Mendes, 2009).
Entretanto, foi somente depois do fim da Segunda Guerra Mundial, com a criação da
ONU e sua subsidiária –UNESCO– a partir da década de 1950, que os países passaram a mais
detidamente debruçar-se sobre a situação das crianças e adolescentes.
2. Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de Medidas não Privativas
de Liberdade (Regras de Tóquio), adotadas pela Assembléia Geral das Nações
Unidas na sua resolução 45/110, de 14 de dezembro de 1990; e
Nesse campo considera-se que o avanço mais significativo para as Nações, em termos de
efetivação da garantia de direitos das crianças, ocorreu a partir da Convenção sobre os Direitos
das Crianças – Resolução nº. 44/25 da Assembléia Geral da ONU em 20/11/1989.
Importante – De acordo com Mendes (2009), sobre as conquistas da Convenção de 1989,
pode ser citada a consolidação da Doutrina da Proteção Integral da Criança, cuja origem se
encontra textualmente na Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959). No preâmbulo, a
Doutrina traz o reconhecimento da necessidade de um sistema de proteção diferenciado para a
criança, dando-lhe prerrogativas e privilégios concernentes à seguridade social, educação,
trabalho, convívio, a fim de proporcionar-lhe condições favoráveis ao seu desenvolvimento
saudável.
Essa autora destacou alguns artigos da Convenção sobre os Direitos da Criança que
trazem o conceito de criança (como é o caso do art. 1º) e estabelecem as responsabilidades da
proteção especial a esse sujeito em desenvolvimento:
Artigo 3º: Todas as decisões que digam respeito à criança devem levar em conta o
seu interesse superior. O Estado deve garantir cuidados adequados à criança,
quando os pais ou outras pessoas responsáveis por ela não tenham capacidade para
fazê-lo.
Artigo 6º: Todas as crianças têm o direito inerente à vida, e o Estado tem
obrigação de assegurar a sua sobrevivência e seu desenvolvimento.
Artigo 19: O Estado deve proteger a criança contra todas as formas de maus tratos
por parte dos pais ou de outros responsáveis pelas crianças e estabelecer
programas sociais para a prevenção dos abusos e para tratar as vítimas.
Ao romper definitivamente com a doutrina da situação irregular, até então admitida pelo
Código de Menores (Lei 6.697, de 10.10.79), e estabelecer como diretriz básica e única no
atendimento de crianças e adolescentes a doutrina de proteção integral, o legislador pátrio agiu
de forma coerente com o texto constitucional de 1988 e documentos internacionais aprovados
com amplo consenso da comunidade das nações.
É nesse sentido que a Constituição Federal de 1988, pela primeira vez na história
brasileira, aborda a questão da criança como prioridade absoluta, tornando sua proteção dever da
família, da sociedade, do Estado.
2.1. O ECA
Como você estudou na aula anterior, a CF/88 proclamou a doutrina de proteção
integral,estabelecendo a co-responsabilidade entre: família – sociedade – Estado.
Mas o país clamava por um texto específico, infraconstitucional que traduzisse essa
doutrina. Nesse sentido nasceu a Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), elaborada por uma comissão formada por representantes da sociedade civil,
juristas e técnicos dos órgãos governamentais, com a participação fundamental do Movimento
Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) e da Pastoral da Criança.
“Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.”
O direito à vida possibilita a concretização dos outros direitos, como direito à educação,
ao esporte e ao convívio familiar. Assim, a proteção à vida e à saúde permeia todas as políticas
públicas voltadas à criança e ao adolescente.
I. advertência;
Importante – O ECA (Lei nº. 8069/1990) prevê a aplicação das medidas protetivas,
mediante a ameaça ou violação a direitos, pela ação ou omissão da sociedade ou do Estado, por
falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis pelas crianças e adolescentes. O acionamento do
sistema secundário de prevenção, enquanto medida de proteção da criança ou adolescente
vitimizado tem caráter preventivo da delinqüência.
As medidas específicas de proteção também são aplicáveis à conduta conflitante com a
lei, nas hipóteses previstas no art. 98 do ECA. Contudo, tais medidas devem levar em conta as
necessidades pedagógicas, visando o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, o que
comumente tem se distanciado da prática das instituições responsáveis e do poder público.
Procure saber em seu estado e município quais ações e projetos estão sendo realizados
para implementação dessa política.
Diante da legislação mais avançada acerca dos direitos da criança e do adolescente, o que
se observa é que há muito ainda o que fazer, em especial para a implementação dos dispositivos
contidos nos principais tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário e que orientaram a
legislação sobre os direitos da criança para a consolidação de políticas públicas que garantam a
proteção integral: a Declaração Universal dos Direitos da Criança e a Convenção Internacional
sobre os Direitos da Criança.
a) Mortalidade infantil:
b) Mortalidade juvenil:
Ampliando seu conhecimento – Apesar dos dados apresentados acima serem do Mapa
da Violência 2006, eles são bastante significativos, pois fazem parte da série intitulada “Os
Jovens do Brasil” que tinha como foco a mortalidade violenta da faixa jovem.
De 2006 a 2010 os dados, além de serem atualizados, ganharam outros recortes: os dados
são apresentados por unidades federativas, capitais, regiões metropolitanas e municípios,
conformando um dos capítulos do Mapa da Violência 2010 e possibilitando outras análises sobre
a questão.
A tabela abaixo aponta que, no período pesquisado, as mortes por acidentes de transportes
concentram os índices mais altos em todas as faixas etárias entre menores de um ano e 19 anos.
Entretanto, as causas externas não especificadas acometeram um percentual considerável de
crianças menores de um ano (58,24%). A falta de especificação se deve à forma da apresentação
e classificação e não à irrelevância dos dados.
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Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
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Fonte: UNICEF (2005)
Apesar da priorização absoluta dos direitos das crianças e dos adolescentes, da
clareza das regras da proteção integral no sistema jurídico brasileiro, a atenção do
Estado dada a esses sujeitos ainda é deficitária e, por vezes, incongruente com o
arcabouço normativo construído no âmbito nacional e internacional.
Módulo 3–Adolescentes em Conflito com a Lei
Apresentação do módulo
Neste módulo, você estudará sobre o que é ato infracional, a questão da inimputabilidade
penal, além de refletir sobre o tema da redução da maioridade penal.
Objetivos do módulo
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:
Estrutura do módulo
Este módulo é formado por três aulas:
Ocorre que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi concebido com o objetivo
de garantir legalmente as condições necessárias para o desenvolvimento pleno das crianças e dos
adolescentes que necessitam de proteção diferenciada, especializada e integral. Todavia, o ECA
contém os mecanismos de responsabilização penal dos infratores, de modo pedagógico e
retributivo, por intermédio das medidas socioeducativas. Esse modelo de responsabilização penal
do adolescente possibilita a aplicação de sanções aptas a interferir, limitar e até suprimir
temporariamente a liberdade com um caráter socioeducativo e uma essência retributiva.
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Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às
normas estabelecidas na legislação especial.
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Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da
legislação especial.
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Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas
previstas nesta Lei. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato.
condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. Nessa linha, as
medidas deveriam ser aplicadas para recuperar e reintegrar o jovem à
comunidade, o que lamentavelmente não ocorre, pois ao serem
executadas transformam-se em verdadeiras penas, completamente
inócuas, ineficazes, gerando a impunidade, tão reclamada e combatida por
todos.
Em relação aos estudos sobre o perfil do adolescente infrator, Colpani (2003) afirma que
“depreende-se assim que os motivos que levam o adolescente a cometer atos infracionais
resultam dos problemas econômicos, sociais e culturais, bem como pela influência de amigos, a
evasão escolar, o uso de drogas e a pobreza, indicando assim as áreas que as políticas públicas
devem atuar com maior urgência”.
Assim, de acordo com o art. 105, do ECA, às crianças (menores de 12 anos – art. 2º) que
cometerem ato infracional serão aplicadas as medidas protetivas previstas no art. 101, que
implicam num tratamento, através da sua própria família ou da comunidade, sem que ocorra
privação de liberdade. São elas:
Importante – Se uma criança for acusada de cometer um ato infracional, deve ser
encaminhada ao Conselho Tutelar. Caso este não exista, ela deve ser conduzida ao Juiz da
Infância e da Juventude ou aquele que exerça essa função.
Quando um ato infracional for atribuído a um adolescente (de doze a 18 anos – art. 2º, Lei
8.069/90), nos termos do art. 112do ECA, este ficará sujeito às medidas socioeducativas previstas
no capítulo IV desse diploma legal e, cumulativamente, às medidas de proteção do artigo 101.
Reveja o que dispõe o art. 112:
Advertência– Pode ser conceituada como a admoestação verbal aplicada pela autoridade
judicial e reduzida a termo. Nesse ato devem estar presentes o juiz e o membro do Ministério
Público. Na advertência, o juiz normalmente conversa com o adolescente sobre os atos cometidos
e produz um documento sobre o ocorrido.
Liberdade assistida – É uma medida que será adotada sempre que a autoridade
responsável entender seja a alternativa mais viável para o acompanhamento, auxílio e orientação
do adolescente. Nesse caso, o adolescente e sua família serão acompanhados por um profissional
por, no mínimo, seis meses. Nesse período, se necessário, eles poderão ser inseridos em projetos
sociais e o adolescente terá sua frequência e rendimento escolar acompanhados, além de receber
incentivo para o ingresso no mercado de trabalho formal, caso sua idade seja compatível.
Importante – O período máximo de internação deverá ser de três anos. Atingido esse
limite de tempo, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semiliberdade ou de
liberdade assistida.
Ampliando seu conhecimento – Antes de continuar seus estudos, leia a entrevista com
Mário Volpi, gerente de projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e
coordenador do programa Cidadania dos Adolescentes no Brasil,sobre a medida de internação.
1.3. Os mecanismos legais a que adolescentes em conflito com a lei podem ser submetidos
Percebe-se que os adolescentes autores de ato infracional, ao contrário do que o senso
comum por vezes imagina, não ficam impunes. Estes são julgados e considerados responsáveis
pelos atos tipificados como crime ou contravenção no Código Penal e na Lei de Contravenções
Penais. Os artigos 100 a 125 do ECA apresentam os mecanismos legais a que crianças e
adolescentes em conflito com a lei devem ser submetidos. Entretanto, do ponto de vista jurídico,
criança e adolescente nunca cometerão crime, que é, junto com ato infracional e contravenção
penal, espécie do gênero infração penal.
Quanto à utilização de algemas, esta também não se aplica indistintamente aos adultos
autores de crime. Seu uso deve ser restrito a situações especiais que as exijam. Nesse sentido o
próprio Supremo Tribunal Federal já se manifestou editando a Súmula Vinculante n. 11, que
dispõe:
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Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido
ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua
dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de
responsabilidade.
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Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade guarda ou vigilância a vexame ou
a constrangimento: Pena – detenção de seis meses a dois anos.
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio
de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena
de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e
de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo
da responsabilidade civil do Estado.
Também não se pretende que os profissionais de segurança pública deixem de tomar todas
as medidas necessárias a sua segurança, à segurança de terceiros e do adolescente infrator.
Entretanto, suas práticas devem ser pautadas no princípio de que esse adolescente é sujeito de
direitos e deveres, e os procedimentos previstos no seu tratamento são universais.
De acordo com dados da publicação “Porque dizer não à Redução da Idade Penal”, da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República – de uma lista de 54
países analisados, incluindo o Brasil, a maioria adota a maioridade penal aos 18 anos. Desse
universo de 53 países – excluído o Brasil – temos que 79%, ou seja, 42 países, adotam esse
referencial para a responsabilidade penal. Isso decorre das recomendações internacionais que
sugerem um sistema de justiça especializado para processar, julgar e responsabilizar os menores
de 18 anos.
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Ver o arquivo “Quadro comparativo” em anexo na plataforma.
- Há no mundo a tendência de implantação de legislações e justiças especializadas
para tratar de menores de 18 anos em conflito com a lei.
- Adotam a idade mínima de13 anos para responsabilização dez países: Argélia,
Estônia, França, Grécia, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Polônia, República
Dominicana e Uruguai.
- Cinco países fixam a idade inicial aos 15 anos: Dinamarca, Finlândia, Noruega,
República Checa e Suécia. E por fim, aos 16 anos, temos Argentina, Bélgica e
Romênia.
Cabe destacar que o direito brasileiro, quanto à idade inicial de incidência da justiça da
infância e juventude, fixada aos 12 anos em nossa legislação, encontra-se entre os países que
adotam idades relativamente precoces para responsabilização.
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Ver o arquivo “Responsabilização” em anexo na plataforma.
Aula 3 – Redução da maioridade penal
Em 1993, foi apresentada no Congresso Nacional a PEC 171/93 com o objetivo de alterar
o artigo 228 da Constituição da República de 88, reduzindo a maioridade penal para 16 anos. De
lá pra cá diversas PECs foram apensadas à PEC 171/93 (PEC 37/95; PEC 91/95; PEC 301/96;
PEC 531/97; PEC 386/96; PEC 426/96; PEC 633/99; PEC 321/01 e PEC 377/01). Em 2007, o
tema foi objeto de deliberação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal e
uma votação apertada, de 12 a 10, aprovou o substitutivo de autoria do Senador Demóstenes
Torres (DEM/GO), que reunia seis propostas de emenda à Constituição. Atualmente, tendo sido
aprovada na CCJ do Senado, a proposta se encontra no Plenário da Casa para discussão. Se
aprovada em dois turnos, por 3/5 dos senadores em cada um dos turnos, a matéria será
encaminhada à Câmara Federal.
O substitutivo do Senado prevê a redução da maioridade penal para 16 anos nos casos de
crimes hediondos e equiparados, como tráfico, tortura e terrorismo, desde que um laudo técnico
psicológico, elaborado por junta médica designada pelo juízo, ateste a plena capacidade de
entendimento do adolescente infrator.
Em que pese a PEC esteja tramitando no Congresso Nacional e dado o caráter polêmico
das várias propostas com esse mesmo teor, nenhuma destas foi efetivada nem debatida
seriamente com a sociedade.
Nesse sentido, você estudará a seguir alguns argumentos tanto favoráveis como contrários
à redução, para que tenha subsídios para realizar essa discussão de forma qualificada sobre a
questão.
3.1. Argumentos favoráveis à redução da maioridade
Os que defendem a redução da maioridade penal acreditam que os adolescentes infratores
não recebem a punição devida; que o Estado é condescendente demais com os menores de 18
anos. Para eles, o Estatuto da Criança e do Adolescente é muito tolerante com os infratores e não
intimida os que pretendem transgredir a lei. Eles argumentam que, se a legislação eleitoral
considera que o jovem de 16 anos tem discernimento para votar, ele tem também idade suficiente
para responder diante da justiça por seus crimes. Ainda, para os que são favoráveis à redução,
esta se impõe pela necessidade do Estado em dar uma satisfação à vitima e a seus familiares.
Nesse sentido, Sandro César Sell refuta com veemência a impossibilidade da redução da
maioridade penal nos seguintes termos:
Luiz Flavio Gomes, por sua vez, embora tenha posicionamento contrário à redução da
maioridade penal, entende que, quando necessário, devem ser extrapolados os limites de três anos
de internação ou dos 21 anos de idade:
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Exemplo disso é a problemática relativa ao consumo de drogas pelos adolescentes.
Por outro lado, é preciso não esquecer que os jovens e adolescentes não são os principais
autores de crimes violentos, em especial homicídios, no Brasil. Ao contrário, são as vítimas
preferenciais desse tipo de delito, conforme comprovam diversos estudos9, entre eles os dados do
Índice de Homicídios de Adolescente (IHA), o Mapa da Violência da Unesco e o estudo
Homicídios de Crianças e Jovens no Brasil (1980-2002), do Núcleo de Estudos da Violência da
USP, publicado em 2006.
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
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Segundo o estudo Homicídios de Crianças e Jovens no Brasil, publicado em 2006, no período
estudado (1980-2002), a participação dos homicídios de crianças e adolescentes cresceu
drasticamente para ambos os gêneros, especialmente na faixa da população entre 0 e 19 anos,
representando um incremento na taxa de mortes por causas externas dessa população de 254,4%
no período. No ano de 2002, os homicídios passaram a representar quase 40% das mortes por
causas externas de crianças e adolescentes no Brasil.
inimputáveis, ou seja, não podem ser condenadas pela prática de crimes ou
contravenções penais.
- De acordo com o art. 103do ECA, o ato infracional é a conduta descrita na lei
correlata a crime ou contravenção penal praticada por criança ou adolescente.
- Assim, de acordo com o art. 105do ECA, às crianças (menores de 12 anos – art.
2º) que cometerem ato infracional serão aplicadas as medidas protetivas previstas
no art. 101, que implicam num tratamento, através da sua própria família ou da
comunidade, sem que ocorra privação de liberdade.
- De acordo com art. 178 e 232do ECA, se houver flagrante, o adolescente deve ser
encaminhado a autoridade policial especializada, sem algema ou qualquer situação
vexatória, em veículo comum. A lei estabelece, de acordo com o sistema integrado
de proteção, que é o cerne do Estatuto da Criança e Adolescente, tratamento
diferenciado aos jovens infratores.
- Diferentemente do que tem sido divulgado nos meios de comunicação, a idade de
responsabilidade penal em nosso país encontra-se em consonância com a maioria
dos países do mundo. Cabe destacar que o direito brasileiro, quanto à idade inicial
de incidência da justiça da infância e juventude, fixada aos 12 anos em nossa
legislação, se encontra entre os países que adotam idades relativamente precoces
para responsabilização.
Apresentação do módulo
Neste módulo, você estudará sobre a rede de proteção social e o sistema de garantias no
contexto brasileiro.
Objetivos do módulo
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:
Estrutura do módulo
Este módulo é formado por duas aulas:
Esse artigo impõe à sociedade, às instituições, aos poderes, às pessoas físicas e jurídicas o
dever de evitar ameaças ou violações aos direitos da criança e do adolescente.
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Ver o arquivo “Órgãos de defesa dos direitos da criança e do adolescente” em anexo na plataforma.
3) Conselhos de Direitos: são órgãos públicos de controle social, fundamentados no
princípio de democracia participativa. Existem para garantir a participação da
sociedade na formulação de políticas públicas e são voltados para a defesa e
promoção dos direitos das crianças e adolescentes;
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
Para obter maior eficácia e atender as demandas sociais, as políticas sociais brasileiras
foram recentemente descentralizadas e estruturadas por meio do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), adotando um modelo de gestão participativa em respeito
ao pacto federativo. O SUAS foi implementado a partir dos seguintes níveis de
complexidade: Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE).
Em comemoração aos 16 anos da publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente,
a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e o Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente criaram, em 2006, o Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE).