Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, afirma
que as neurociências e sua evolução atual possibilitam demonstrar que o cérebro
humano se desenvolve mais rapidamente nos primeiros anos de vida, estando muito
sensível aos cuidados e estímulos ambientais, sendo esse período denominado “janela
de oportunidades”, uma vez que a aprendizagem e o desenvolvimento de aptidões e
competências acontecem com maior facilidade1. Pesquisa e estudos divulgados pela
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal já revelam o entendimento de que a primeira
infância compreende os anos iniciais da vida de uma pessoa, incluindo também o
período de gestação, e trazem a clareza de que boa parte do perfil de um indivíduo
se define na primeira infância – da agilidade do pensamento à forma de se relacionar
com os outros, passando também pelas características emocionais. Essa fase do
desenvolvimento infantil está subdividida em duas etapas: a primeiríssima infância, que
vai da gestação aos 3 anos de idade, e a segunda, que vai dos 4 aos 6 anos de idade.
1. Fundação Maria Cecília Souto Vidigal – Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) (vide referências bibliográficas)
1
Proteção na primeira infância
Essa dinâmica relacional da criança com o mundo ao seu redor são exemplos de ações
a serem observadas e vividas de forma intensa com os pais, familiares, cuidadores
e toda a rede primária de cuidados.
2
Proteção na primeira infância
Para além de todas as conquistas advindas do ECA e das lutas travadas pelos
movimentos sociais na atualidade, deparamos com uma questão primordial e
desafiadora para a garantia dos direitos, proteção e saúde mental das crianças, que
muitas vezes são expostas às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), sem a
mediação e proteção de um adulto. Nesse sentido, o resgate das atividades recreativas
tradicionais, como amarelinha, esconde-esconde, pega-pega, jogos com bola, bicicletas
e demais atividades ao ar livre, são fundamentais para manter viva a infância e sua
ludicidade. Embora essas não sejam as atividades favoritas da infância moderna, pais,
cuidadores e educadores devem ofertar e participar ativamente com a criança no
resgate dessas brincadeiras, equilibrando-as com o uso saudável e protegido das TICs.
Giovanna Cornélio, autora do Blog Melhor Escola, aborda a questão de como usar
a tecnologia na educação infantil e questiona que o uso de diferentes dispositivos
eletrônicos, como jogos e outras ferramentas, influenciam diretamente na maturação
cognitiva, afetiva e social das crianças, podendo oferecer benefícios, quando esse uso
é direcionado e monitorado por um adulto, de forma pedagógica, ou trazer prejuízos,
quando o uso é intenso, sem mediação e sem propósitos educativos, influenciando
negativamente no desenvolvimento infantil. Ou seja, a utilização da tecnologia na
infância, cada vez mais precoce, provoca questionamentos polêmicos, uma vez que faz
com que as crianças substituam amigos e jogos reais pelos virtuais, os quais geralmente
as prejudicam na expressão de sentimentos, aflições e desejos por meio do mundo real,
favorecendo o isolamento em seus quartos, satisfazendo-se com a vida virtual.
De acordo com dados de pesquisa empírica realizada pela Secretaria Executiva da Rede
Nacional Primeira Infância (2014) sobre o tema “Tecnologias digitais no desenvolvimento
3
Proteção na primeira infância
Essa pesquisa ainda esclarece que o Brasil conta com mais de 22 milhões dos chamados
nativos digitais, nascidos e criados a partir da década 1980, na era dos games e da
internet. Contrariando prognósticos de que a tecnologia apenas ajudaria a multiplicar
informações e o círculo de amizades, muitas crianças e adolescentes nunca estiveram
tão desconectados do mundo. Parecem hipnotizados por seus aparelhos móveis,
perdendo a vontade de estudar, de brincar ao ar livre e até de conversar entre si e
com os familiares, sem intermediação das telas. Menciona que o uso patológico dos
videogames já é citado na quinta edição do Manual Estatístico e Diagnóstico dos
Transtornos Mentais, espécie de cartilha da psiquiatria, lançada em janeiro.
Sendo assim, a criança deve aprender hoje o que irá utilizar amanhã. Para que as
tecnologias digitais não sejam um “bicho de sete cabeças”, deve-se ter uma vigilância
na sua utilização e, ao mesmo tempo, buscar aliar o aprendizado com as relações
pessoais. Assim, elas deixam de ser vilãs e trazem oportunidades para o crescimento
e desenvolvimento saudável, passando a ser aliadas nesse processo, e não uma ameaça.
4
Proteção na primeira infância
Situações como essas são comuns nos dias de hoje, acontecem com muita frequência
e de maneira natural fazem parte das experiências digitais vivenciadas pelas famílias e
pela sociedade em geral, o que nos faz refletir sobre o desconhecimento de muitos pais,
famílias e cuidadores, dos riscos que essas ações podem causar às crianças. Para isso,
é fundamental construirmos estratégias para a prevenção de possíveis violações de
direitos das crianças e promoção de autoproteção no uso das novas tecnologias.
Sabemos que, na prática, não é simples estabelecer uma rotina na vida dos filhos,
ainda mais com a correria do dia a dia, horários irregulares e a falta de tempo. No
entanto, é muito importante que a família adote alguns hábitos e regras no cotidiano
dos pequenos. Uma rotina para criança, desde cedo, colabora para que ela cresça mais
confiante e independente. Saber o que vai acontecer durante o dia e a repetição desses
acontecimentos cria um ambiente saudável, fazendo com que os pequenos se sintam
confortáveis e seguros.
Crianças gostam de saber o que vai acontecer durante seu dia. Saber que, depois da
soneca, há o lanche; ou que, antes de dormir, há a história proporciona uma sensação
de segurança. Isso faz com que os pequenos se sintam menos ansiosos. Com o tempo, a
rotina pode até mesmo fazer com que se desenvolva certas manias, como dormir sempre
com o mesmo cobertor ou só fazer refeições de determinados pratos. É a maneira que
eles têm de se sentirem no controle, nesse mundo ainda tão estranho a eles.
3. Considera-se primeira infância o período de vida que vai do nascimento aos 6 anos de idade, de acordo com
o Marco Legal da Primeira Infância, lei que foi sancionada em 8 de março de 2016, estabelecendo princípios
e diretrizes voltadas para a formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm
5
Proteção na primeira infância
Primeiro, porque, por se sentirem mais seguras, as crianças tendem a aceitar melhor
os momentos de despedidas. Por exemplo, ao ir embora do parquinho ou de se
despedir quando os pais vão trabalhar não se tornam momentos tão difíceis, pois eles
sabem que vão voltar. Assim, desde cedo, vão entendendo e assimilando os horários
e as regras do cotidiano. Quando maiores, tornam-se crianças e adolescentes com
maior senso de organização e responsabilidade, conseguindo estabelecer horários
de estudos e obrigações, como ajudar a família nas atividades da casa. Além disso, as
rotinas também colaboram na organização da vida dos pais. Ter horários estabelecidos
para refeições, sono, banho e brincadeiras faz com que a família toda possa se organizar
melhor e tenha mais tempo para aproveitar os momentos juntos.
É importante lembrar que o excesso nunca é bom e, portanto, não vale a pena
transformar a casa em um quartel! É preciso saber a hora de ser flexível para que
a rotina não se torne algo imposto e negativo. Nos fins de semana, por exemplo,
é liberado dormir umas horinhas a mais ou almoçar mais tarde. O importante é
estabelecer horários e criar hábitos saudáveis que tornem o ambiente mais organizado
e confortável para todos, como hora de dormir, hora de se alimentar, estabelecer
horários para determinadas atividades, manter espaços organizados, entre outros.
Por meio da rotina, a criança desenvolve habilidades e aprende a lidar com as diversas
situações do dia a dia, o ambiente e as pessoas, habituando-se ao que lhe é exposto
e evoluindo socialmente e cognitivamente. Quando a criança desenvolve o hábito de
ter horários certos para comer, dormir e brincar, ela passa a entender a rotina e a criar
pequenas responsabilidades, crescendo mais confiante, independente e saudável.
A rotina implica em criar regras e estabelecer alguns limites. De certa forma, isso pode
gerar uma dose de frustração na criança, mas é importante aprender a conviver com
esse sentimento desde cedo. Além disso, ao longo do desenvolvimento dela, a rotina vai
ganhando complexidade, ensinando-a a agir em determinadas situações.
Por que a rotina na educação infantil é tão importante? Apesar de parecer algo simples,
construir uma rotina para as crianças é fundamental para o desenvolvimento delas
como pessoas responsáveis e conscientes. Portanto, falar de rotina na educação infantil
não significa preencher o dia das crianças com várias atividades para que fiquem
ocupadas na escola. Cada atividade proposta no planejamento tem como objetivo
educar, cuidar e utilizar o tempo como aprendizado.
De modo geral, a ideia de rotina está associada à organização de tempo. Na vida adulta,
o tempo é organizado para cumprimento de obrigações ou aumento de produtividade.
Quando se fala em rotina na educação infantil, a organização vai além da otimização do
tempo e trata também de ações pedagógicas orientadas para o desenvolvimento do
que se espera da criança quando ela se tornar adulta. Os primeiros seis anos de vida da
criança são marcantes para o desenvolvimento físico e, portanto, determinantes para
a capacidade de atuar com liberdade na vida adulta. Em outras palavras, a rotina na
educação infantil ajudará a criança a se tornar um adulto autônomo e responsável.
6
Proteção na primeira infância
Organizar uma rotina escolar não significa planejar o máximo de atividades possível
para que a criança esteja ocupada durante toda sua permanência na escola. Maria
Carmen Barbosa e Maria da Graça Horn, autoras de “Organização do Espaço e do
Tempo na Escola Infantil”, afirmam que a rotina escolar deve ser planejada de modo
a incluir atividades que supram três tipos de necessidades das crianças: biológicas,
psicológicas e sociais-históricas. Por exemplo: acolhida, atividades educativas (direitos
de aprendizagem), alimentação, higiene, preparação para a saída.
Adotar uma rotina na educação infantil é importante porque beneficia vários aspectos
da vida da criança que se estenderão até a idade adulta. Entre essas vantagens,
podemos citar:
7
Proteção na primeira infância
A BNCC nos mostra que a tecnologia é fundamental para o processo educativo. O que
nos resta saber então é como usá-la da melhor maneira. Na educação infantil, todos
os momentos que a criança permanece na escola devem ser utilizados para a
aprendizagem. A rotina proposta para a criança tem como objetivo aproximar
o ambiente escolar do ambiente familiar. Portanto, a rotina na escola deve incluir
o uso de equipamentos que ela também utiliza em sua casa, como televisão,
computador, rádio e tablet.
Se por um lado esses aparelhos são usados para descontração quando a criança está
em casa, ela pode experimentar na escola uma segunda utilidade para eles. Dentro
da sala de aula, a tecnologia não representa apenas um recurso de descontração, ela
também é uma maneira divertida e diferente de aprender.
Referências bibliográficas
BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Art. 5º - Dos
Direitos e Garantias Fundamentais. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm.
Lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13431.htm.
Decreto:https://legislacao.presidencia.gov.br/
atos/?tipo=DEC&numero=9603&ano=2018&ato=5a7gXRE1keZpWTf1d.
BRASIL. LEI nº 13.257, de 8 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a
primeira infância. Brasília, 2016. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm.
CAMBI, F. História da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal - Primeira Infância fase mais
importante na vida da criança, M. Teresa V. de Carvalho, Psicóloga, psicanalista, mestre
em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo
(USP). Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.
8
Proteção na primeira infância
KORCZAK, J. Quando eu voltar a ser criança. São Paulo: Summas Ed., 1981.
MARINO, E.; PLUCIENNIK, G. A. (Orgs.). Primeiríssima infância da gestação aos três anos:
percepções e práticas da sociedade brasileira sobre a fase inicial da vida. São Paulo:
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2013.
NOVINSKY, Anita. Janusz Korczak e a esperança perdida. Tradução de Fanny Keffer. In:
ARNON, J. Quem foi Janusz Korczak. São Paulo: Perspectiva, 2005.
PEREIRA, P.; CORRÊA, M. (Org.). Que corpo é esse? (livro eletrônico – Kit crescer sem
violência), Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2021.
https://todospelaeducacao.org.br/noticias/perguntas-respostas-o-que-voce-precisa-
saber-sobre-primeira-infancia/ acesso em 5 de dezembro de 2021, às 14h.
http://primeirainfancia.org.br/exagero-de-tecnologia-deixa-criancas-e-adolescentes-
desconectados-do-mundo-real/ acesso em 5 de dezembro de 2021, às 16h.