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Proteção na primeira infância

I. Desenvolvimento Infantil (de 0 a 6 anos)


A primeira Infância, de acordo com o seu Marco Legal, instituído pela Lei 13.257/2016,
garante os direitos relacionados a essa etapa da vida e compreende que essa fase
abrange os primeiros 6 (seis) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida da
criança. É considerada uma etapa fundamental na vida do ser humano, para que ele
possa realizar o seu potencial, ao longo de sua existência. A diferença entre os termos
“infância” e “criança” segundo, Santos (1996), consiste em conceber a “infância” como
sendo um constructo social sobre as idades da vida, e a “criança” como sujeito empírico,
concreto, que vivencia suas experiências na sociedade.

O Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, afirma
que as neurociências e sua evolução atual possibilitam demonstrar que o cérebro
humano se desenvolve mais rapidamente nos primeiros anos de vida, estando muito
sensível aos cuidados e estímulos ambientais, sendo esse período denominado “janela
de oportunidades”, uma vez que a aprendizagem e o desenvolvimento de aptidões e
competências acontecem com maior facilidade1. Pesquisa e estudos divulgados pela
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal já revelam o entendimento de que a primeira
infância compreende os anos iniciais da vida de uma pessoa, incluindo também o
período de gestação, e trazem a clareza de que boa parte do perfil de um indivíduo
se define na primeira infância – da agilidade do pensamento à forma de se relacionar
com os outros, passando também pelas características emocionais. Essa fase do
desenvolvimento infantil está subdividida em duas etapas: a primeiríssima infância, que
vai da gestação aos 3 anos de idade, e a segunda, que vai dos 4 aos 6 anos de idade.

Na primeiríssima infância, contempla-se a fase intrauterina, período em que acontece a


interação mãe/bebê, relação primordial, quando se inicia o desenvolvimento dos laços
afetivos. Nessa tenra etapa do desenvolvimento, o bebê é capaz de ouvir e interagir
com o ambiente externo na barriga da mãe e desenvolver a memória. Sendo assim, os
três primeiros anos de vida (incluindo a vida intrauterina) são determinantes para o
desenvolvimento emocional, psicossexual e cognitivo do bebê. De acordo com estudos
da neurociência, o cérebro da criança passa por uma intensa fase de amadurecimento
entre a gestação e os dois primeiros anos de vida, o que determina uma grande
capacidade de aprendizados, relativa ao ambiente em que vive. Nesse sentido, a criança
está muito suscetível aos estímulos familiares e ambientais, especialmente aos riscos e
as consequências advindas de traumas e situações negativas.

1. Fundação Maria Cecília Souto Vidigal – Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) (vide referências bibliográficas)

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Na segunda etapa da primeira infância, que se estende entre os 4 e 6 anos, a criança


possui maior autonomia. Isso quer dizer que, além de conseguir se expressar, ela consegue
desenvolver diversas atividades sozinha, como brincadeiras relacionadas às práticas
esportivas, desenvolvimento da cognição (ou seja, a busca de conhecimento sobre o
mundo) e, a partir dos cinco anos, a criança já pode ser estimulada a seguir rotinas.

Visando prevenir, cuidar e proporcionar um desenvolvimento saudável e protegido


na primeira infância, é de suma importância compreender quais são as necessidades
e os desejos da criança que se encontra nessa fase. A seguir explanaremos sobre
o comportamento, as interações e as diferentes formas de expressão das crianças
de 0 a 6 anos.

0 a 3 anos de idade – Estabelecem interação com o mundo e com as pessoas ao seu


redor, a partir da exploração sensorial, do toque nos objetos e da relação estabelecida,
com o seu primeiro objeto de amor, a mãe e ou quem venha a exercer essa função.
A partir do segundo ano de vida, a criança começa a se comunicar por meio da
linguagem verbal repetindo palavras, formulando frases e cantarolando – esse período
de aquisição da linguagem é fundamental para a interação e compreensão do mundo
ao seu redor. Nessa fase, também acontece o controle do corpo, no âmbito interno
e externo, ou seja, a criança começa a perceber que tem necessidades, tais como:
comer, fazer xixi e cocô, dormir, sentir dor, etc.

De 4 a 6 anos – É uma fase em que as crianças começam a usar o imaginário e a


brincar de faz de conta, relacionando-se também com outras crianças. Por meio da
transformação da realidade, elas realizam os desejos delas e conseguem expressar
medos e angústias, ou seja, a atividade lúdica adquire caráter simbólico. Dessa forma,
brincar é essencial na vida da criança para que adquira conhecimentos e construa a
identidade dela.

A primeira infância está intrinsecamente ligada às interações e relações familiares.


Sendo assim, os toques e as conexões estabelecidas com os cuidadores, são referenciais
e se complementam com a capacidade de a criança olhar, movimentar o corpo, expressar
sons repetitivos, engatinhar, “jogar-se” no colo das pessoas significativas, bem como
esconder e encontrar objetos.

Essa dinâmica relacional da criança com o mundo ao seu redor são exemplos de ações
a serem observadas e vividas de forma intensa com os pais, familiares, cuidadores
e toda a rede primária de cuidados.

   

II. A criança como Sujeito de Direitos e as Novas Tecnologias


Com a promulgação da Lei 8.069/90 – ECA, foi estabelecido um novo reordenamento
institucional, uma nova forma de organização nos aspectos legais e estruturais da
política de proteção à infância, atingindo os três níveis de governo e, também,
é sociedade civil organizada. O ECA estabelece: “criança, para os efeitos desta Lei, a
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente entre 12 (doze) e 18 (dezoito)
anos de idade”, sendo diferente da Convenção de Genebra e do sistema de justiça de
outros países que consideram criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade.

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Por meio dos conselhos tutelares e de direitos, passou-se a ter instrumentos


fundamentais para a proposição e elaboração de políticas públicas e de controle social.
Segundo Costa (2005), a Proteção Integral é prioridade absoluta, e essa doutrina
e princípios são alicerçados na Convenção das Nações Unidas pelos Direitos da Criança,
na Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança e do Adolescente, no Código
Penal e a Lei 13.431, que reordenou o SGDHCA2 e estabeleceu a escuta especializada e
o depoimento especial de crianças e adolescentes que tenham seus direitos violados
e onde se encontram tipificados os crimes, dentre eles, aqueles praticados contra a
criança e o adolescente.

Para além de todas as conquistas advindas do ECA e das lutas travadas pelos
movimentos sociais na atualidade, deparamos com uma questão primordial e
desafiadora para a garantia dos direitos, proteção e saúde mental das crianças, que
muitas vezes são expostas às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), sem a
mediação e proteção de um adulto. Nesse sentido, o resgate das atividades recreativas
tradicionais, como amarelinha, esconde-esconde, pega-pega, jogos com bola, bicicletas
e demais atividades ao ar livre, são fundamentais para manter viva a infância e sua
ludicidade. Embora essas não sejam as atividades favoritas da infância moderna, pais,
cuidadores e educadores devem ofertar e participar ativamente com a criança no
resgate dessas brincadeiras, equilibrando-as com o uso saudável e protegido das TICs.

O uso indiscriminado das TICs contribui para a desconstrução e ou não formação


de vínculos afetivos entre os membros da família e geram inúmeras dificuldades no
âmbito escolar, social e emocional, por falta de equilíbrio entre a cognição da criança
e a estruturação de vínculos afetivos, que nessa fase da vida são referenciais. Quando
a criança se expõe às TICs precocemente e de forma imoderada, geralmente irá
apresentar comprometimento no desempenho global e nas competências para a vida.
Na atualidade, o mundo vivencia um crescimento significativo de diagnósticos de
crianças com autismo e outros transtornos do desenvolvimento, que prescindem de
socialização, contato e estímulos para o estabelecimento de relações sociais, familiares,
afetivas, saudáveis e protegidas.

Giovanna Cornélio, autora do Blog Melhor Escola, aborda a questão de como usar
a tecnologia na educação infantil e questiona que o uso de diferentes dispositivos
eletrônicos, como jogos e outras ferramentas, influenciam diretamente na maturação
cognitiva, afetiva e social das crianças, podendo oferecer benefícios, quando esse uso
é direcionado e monitorado por um adulto, de forma pedagógica, ou trazer prejuízos,
quando o uso é intenso, sem mediação e sem propósitos educativos, influenciando
negativamente no desenvolvimento infantil. Ou seja, a utilização da tecnologia na
infância, cada vez mais precoce, provoca questionamentos polêmicos, uma vez que faz
com que as crianças substituam amigos e jogos reais pelos virtuais, os quais geralmente
as prejudicam na expressão de sentimentos, aflições e desejos por meio do mundo real,
favorecendo o isolamento em seus quartos, satisfazendo-se com a vida virtual.

De acordo com dados de pesquisa empírica realizada pela Secretaria Executiva da Rede
Nacional Primeira Infância (2014) sobre o tema “Tecnologias digitais no desenvolvimento

2. SGDHCA – Sistema de Garantia de Direitos Humanos da Criança e do Adolescente.

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infantil – O exagero de tecnologia deixa crianças e adolescentes desconectados do


mundo real”, há uma preocupação muito grande de pais, especialistas, instituições
e toda a sociedade para com o uso de certas tecnologias na rotina infantil. A pesquisa
aponta que as tecnologias substituem silenciosamente os hábitos que envolvem a
interação física com as pessoas e o meio ambiente, podendo afetar o amadurecimento
nas relações e nos aspectos emocionais. O amadurecimento dentro dessas duas áreas
se faz na relação com o outro, no processo de empatia e nas vivências fornecidas pelas
trocas afetivas. Sendo importante que os familiares observem de perto e acompanhem
a rotina e o desenvolvimento da criança, pois ela pode estar isolada, não percebendo
a necessidade de se relacionar com o outro, referência imprescindível na constituição
psíquica do sujeito.

Essa pesquisa ainda esclarece que o Brasil conta com mais de 22 milhões dos chamados
nativos digitais, nascidos e criados a partir da década 1980, na era dos games e da
internet. Contrariando prognósticos de que a tecnologia apenas ajudaria a multiplicar
informações e o círculo de amizades, muitas crianças e adolescentes nunca estiveram
tão desconectados do mundo. Parecem hipnotizados por seus aparelhos móveis,
perdendo a vontade de estudar, de brincar ao ar livre e até de conversar entre si e
com os familiares, sem intermediação das telas. Menciona que o uso patológico dos
videogames já é citado na quinta edição do Manual Estatístico e Diagnóstico dos
Transtornos Mentais, espécie de cartilha da psiquiatria, lançada em janeiro.

A “dependência de internet” está a um passo de se tornar a mais nova classificação


psiquiátrica do século 21. “Na China, tornou-se problema de saúde pública, com a
abertura de 150 centros de tratamento para dependentes de games. No Brasil, muita
gente não sabe que a dependência virtual é um problema”, alerta Cristiano Nabuco,
coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Programa Integrado dos
Transtornos do Impulso (Pro-Amiti) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Nessa esteira, calcula-se
que, a cada cinco crianças e adolescentes, um sofra de algum transtorno que necessita
de tratamento especializado por se tornar antissocial, sofrer de insônia e apresentar
queda no rendimento escolar.

Em face ao exposto, faz-se importante relativizar a questão do uso das tecnologias,


sobretudo na primeira infância, desde que o seu uso seja monitorado, com fins
pedagógicos, lúdicos e educativos. Ou seja, quando aplicado com eficácia poderá
favorecer o relacionamento interpessoal entre os alunos, contribuindo para a
manutenção do foco nas atividades escolares, sempre mediadas pelos professores.
Cabendo aos pais, cuidadores e às instituições criar regras e consolidar um regime que
ajude obter o equilíbrio no uso das TICs. Privar a criança do uso não é o melhor caminho,
pois a cultura está sendo conduzida para um mundo cada vez mais virtual.

Sendo assim, a criança deve aprender hoje o que irá utilizar amanhã. Para que as
tecnologias digitais não sejam um “bicho de sete cabeças”, deve-se ter uma vigilância
na sua utilização e, ao mesmo tempo, buscar aliar o aprendizado com as relações
pessoais. Assim, elas deixam de ser vilãs e trazem oportunidades para o crescimento
e desenvolvimento saudável, passando a ser aliadas nesse processo, e não uma ameaça.

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Como já abordado anteriormente, o uso das tecnologias e da internet na primeira


infância3 tem duas faces, ou seja, como recurso aliado à aprendizagem e à ludicidade,
mediado por um adulto, contribui para o desenvolvimento cognitivo da criança, porém
sem essa finalidade e sem a mediação de um adulto, traz riscos e coloca as crianças mais
vulneráveis à violação de direitos e violência online. Não estamos afirmando aqui que
essas crianças não possam ter acesso em tempo algum, mas que de acordo com o seu
desenvolvimento infantil, com os devidos cuidados e mediação, essas vivências sejam
possíveis de forma positiva e protegida.

III. Prevenção e autoproteção como aliadas na construção de rotinas


saudáveis na educação infantil
Em tempos de redes sociais e pessoas cada vez mais conectadas, o compartilhamento
de fotos e vídeos no feed e stories, por exemplo, passou a ser cada vez mais frequente.
Muitos pais empolgados com a chegada e o desenvolvimento dos filhos, envolvidos
pela emoção de registrar e mostrar para todo mundo seus primeiros passos, artes e
travessuras, passam a publicar imagens, fotos e vídeos com o cotidiano das crianças.

Situações como essas são comuns nos dias de hoje, acontecem com muita frequência
e de maneira natural fazem parte das experiências digitais vivenciadas pelas famílias e
pela sociedade em geral, o que nos faz refletir sobre o desconhecimento de muitos pais,
famílias e cuidadores, dos riscos que essas ações podem causar às crianças. Para isso,
é fundamental construirmos estratégias para a prevenção de possíveis violações de
direitos das crianças e promoção de autoproteção no uso das novas tecnologias.

Dicas sobre autoproteção e rotinas saudáveis

Sabemos que, na prática, não é simples estabelecer uma rotina na vida dos filhos,
ainda mais com a correria do dia a dia, horários irregulares e a falta de tempo. No
entanto, é muito importante que a família adote alguns hábitos e regras no cotidiano
dos pequenos. Uma rotina para criança, desde cedo, colabora para que ela cresça mais
confiante e independente. Saber o que vai acontecer durante o dia e a repetição desses
acontecimentos cria um ambiente saudável, fazendo com que os pequenos se sintam
confortáveis e seguros.

Crianças gostam de saber o que vai acontecer durante seu dia. Saber que, depois da
soneca, há o lanche; ou que, antes de dormir, há a história proporciona uma sensação
de segurança. Isso faz com que os pequenos se sintam menos ansiosos. Com o tempo, a
rotina pode até mesmo fazer com que se desenvolva certas manias, como dormir sempre
com o mesmo cobertor ou só fazer refeições de determinados pratos. É a maneira que
eles têm de se sentirem no controle, nesse mundo ainda tão estranho a eles.

Para os pais, as rotinas preestabelecidas também trazem muitos benefícios.

3. Considera-se primeira infância o período de vida que vai do nascimento aos 6 anos de idade, de acordo com
o Marco Legal da Primeira Infância, lei que foi sancionada em 8 de março de 2016, estabelecendo princípios
e diretrizes voltadas para a formulação e a implementação de políticas públicas para a primeira infância.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm

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Primeiro, porque, por se sentirem mais seguras, as crianças tendem a aceitar melhor
os momentos de despedidas. Por exemplo, ao ir embora do parquinho ou de se
despedir quando os pais vão trabalhar não se tornam momentos tão difíceis, pois eles
sabem que vão voltar. Assim, desde cedo, vão entendendo e assimilando os horários
e as regras do cotidiano. Quando maiores, tornam-se crianças e adolescentes com
maior senso de organização e responsabilidade, conseguindo estabelecer horários
de estudos e obrigações, como ajudar a família nas atividades da casa. Além disso, as
rotinas também colaboram na organização da vida dos pais. Ter horários estabelecidos
para refeições, sono, banho e brincadeiras faz com que a família toda possa se organizar
melhor e tenha mais tempo para aproveitar os momentos juntos.

É importante lembrar que o excesso nunca é bom e, portanto, não vale a pena
transformar a casa em um quartel! É preciso saber a hora de ser flexível para que
a rotina não se torne algo imposto e negativo. Nos fins de semana, por exemplo,
é liberado dormir umas horinhas a mais ou almoçar mais tarde. O importante é
estabelecer horários e criar hábitos saudáveis que tornem o ambiente mais organizado
e confortável para todos, como hora de dormir, hora de se alimentar, estabelecer
horários para determinadas atividades, manter espaços organizados, entre outros.

Por meio da rotina, a criança desenvolve habilidades e aprende a lidar com as diversas
situações do dia a dia, o ambiente e as pessoas, habituando-se ao que lhe é exposto
e evoluindo socialmente e cognitivamente. Quando a criança desenvolve o hábito de
ter horários certos para comer, dormir e brincar, ela passa a entender a rotina e a criar
pequenas responsabilidades, crescendo mais confiante, independente e saudável.

A rotina implica em criar regras e estabelecer alguns limites. De certa forma, isso pode
gerar uma dose de frustração na criança, mas é importante aprender a conviver com
esse sentimento desde cedo. Além disso, ao longo do desenvolvimento dela, a rotina vai
ganhando complexidade, ensinando-a a agir em determinadas situações.

A importância da rotina na educação infantil

Por que a rotina na educação infantil é tão importante? Apesar de parecer algo simples,
construir uma rotina para as crianças é fundamental para o desenvolvimento delas
como pessoas responsáveis e conscientes. Portanto, falar de rotina na educação infantil
não significa preencher o dia das crianças com várias atividades para que fiquem
ocupadas na escola. Cada atividade proposta no planejamento tem como objetivo
educar, cuidar e utilizar o tempo como aprendizado.

De modo geral, a ideia de rotina está associada à organização de tempo. Na vida adulta,
o tempo é organizado para cumprimento de obrigações ou aumento de produtividade.
Quando se fala em rotina na educação infantil, a organização vai além da otimização do
tempo e trata também de ações pedagógicas orientadas para o desenvolvimento do
que se espera da criança quando ela se tornar adulta. Os primeiros seis anos de vida da
criança são marcantes para o desenvolvimento físico e, portanto, determinantes para
a capacidade de atuar com liberdade na vida adulta. Em outras palavras, a rotina na
educação infantil ajudará a criança a se tornar um adulto autônomo e responsável.

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Nesse momento, a escola ocupa um papel de cuidado e educação. A Base Nacional


Comum Curricular (BNCC) normatiza que, na educação infantil, educar e cuidar são
tratados como duas diretrizes que se fundem. Isso porque, nos primeiros anos de
vida, os pequenos estão abertos às descobertas do mundo e ainda se encontram
dependentes do adulto. A educação se faz pelo cuidado, uma vez que, nesse período, a
imitação também é um mecanismo usado para aprendizagem, seja no ato da fala, seja
no fazer, e até mesmo no comportamento.

A infância é o momento em que a criança está formando sua personalidade,


construindo seu caráter e adquirindo a concepção de sociedade. A escola permite que
ela saia do círculo em que está sua família e interaja com pessoas novas, que muitas
vezes não vivenciam a mesma realidade que ela. A educação infantil representa o
primeiro momento em que a criança vai interagir com o mundo, com o outro, com
o conhecimento e com diferentes adultos. Todas as formas de interação vão lhe
possibilitar uma aprendizagem.

Dessa maneira, as estratégias pedagógicas utilizadas pelo professor em cada


detalhe do planejamento escolar são fundamentais para a formação da criança
em um ser consciente. Essa organização garante vários benefícios, dentre os quais
destacamos: autonomia, senso de responsabilidade, interação e segurança. Maria Alice
de Rezende Proença, mestre em didática, afirma que:

“A rotina estruturante é como uma âncora do dia a dia, capaz


de estruturar o cotidiano por representar para a criança e para
os professores uma fonte de segurança e de previsão do que vai
acontecer. Ela norteia, organiza e orienta o grupo no espaço
escola, diminuindo a ansiedade a respeito do que é imprevisível ou
desconhecido e otimizando o tempo disponível do grupo.”

Organizar uma rotina escolar não significa planejar o máximo de atividades possível
para que a criança esteja ocupada durante toda sua permanência na escola. Maria
Carmen Barbosa e Maria da Graça Horn, autoras de  “Organização do Espaço e do
Tempo na Escola Infantil”, afirmam que a rotina escolar deve ser planejada de modo
a incluir atividades que supram três tipos de necessidades das crianças: biológicas,
psicológicas e sociais-históricas. Por exemplo: acolhida, atividades educativas (direitos
de aprendizagem), alimentação, higiene, preparação para a saída.

Adotar uma rotina na educação infantil é importante porque beneficia vários aspectos
da vida da criança que se estenderão até a idade adulta. Entre essas vantagens,
podemos citar:

• Desenvolvimento da autonomia: a criança cresce procurando independência


e liberdade, sem depender dos responsáveis para tarefas que ela mesma pode
realizar sozinha. Se ela tem noção dos horários e da sequência de atividades,
organiza seu tempo e espaço e não fica a mercê dos adultos para saber o que vai
acontecer;

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• Desenvolvimento da linguagem e da motricidade: a capacidade de argumentação


caminha junto à responsabilidade. Isso porque, ao sofrer as consequências de suas
ações, o indivíduo aprende a dialogar e a se defender. A movimentação da criança
também se desenvolve quando ela não tem à mão tudo o que deseja;

• Interação com os colegas e com o ambiente: como fruto da responsabilidade


adquirida, também é desenvolvida a capacidade de interagir, de forma respeitosa,
com os colegas e com o espaço que dividem.

A BNCC nos mostra que a tecnologia é fundamental para o processo educativo. O que
nos resta saber então é como usá-la da melhor maneira. Na educação infantil, todos
os momentos que a criança permanece na escola devem ser utilizados para a
aprendizagem. A rotina proposta para a criança tem como objetivo aproximar
o ambiente escolar do ambiente familiar. Portanto, a rotina na escola deve incluir
o uso de equipamentos que ela também utiliza em sua casa, como televisão,
computador, rádio e tablet.

Se por um lado esses aparelhos são usados para descontração quando a criança está
em casa, ela pode experimentar na escola uma segunda utilidade para eles. Dentro
da sala de aula, a tecnologia não representa apenas um recurso de descontração, ela
também é uma maneira divertida e diferente de aprender.

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GUIA DE VISITAS DOMICILIARES – Programa Primeira Infância Plantar Amor, Realização


United Way Brasil. Coordenação: Sofia Rebehy. Supervisão: Camila Aragón. Consultoria
técnica local: Maria Gorete Oliveira Medeiros Vasconcelos e Roseane Fátima de Queiroz
Morais. Edição e Revisão: Fernanda Portela. Projeto Gráfico, Ilustração e Diagramação:
Rafael Rafic.

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