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A ADOLESCÊNCIA, O JUDICIÁRIO E A SOCIEDADE

A adolescência é um período de transição muito importante no desenvolvimento do ser


humano como cidadão, nela o indivíduo passará situações que envolverão sua família, amigos
dentre outras relações sociais que, dependendo da forma como forem encaradas, afetarão
positiva ou negativamente no desenvolvimento de sua psique e as consequências desse
desenvolvimento serão levadas para a vida adulta influenciando em suas atitudes.

No direito brasileiro há uma preocupação em diferir tal fase das demais, observada
principalmente no ECA ( Estatuto da criança e do adolescente), pois nele se encontram
presentes normas que visam uma maior proteção do indivíduo que se encontra nessa fase tão
volátil do desenvolvimento humano. Ainda no ECA se encontram os procedimentos que
deverão ser aplicados nos casos de crimes, ou atos infracionais, praticados pelos indivíduos em
desenvolvimento, aplicando-lhes, neste caso,medidas socioeducativas.

Predecessora do ECA, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, da


qual o Brasil é signatário, veio assegurar às crianças e adolescentes tratamento diferente do
que é dado aos adultos, visando seu pleno desenvolvimento e inclusão na sociedade. Com esse
objetivo o alvo maior da Convenção é a família, núcleo onde o ser em formação receberá as
primeiras e principais influências na formação de sua psiqué.

"Reconhecendo que a criança, para o pleno e harmonioso desenvolvimento de sua


personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor
e compreensão."

Além do foco na família, a convenção busca proteger a criança e o adolescente de uma forma
bastante ampla gerando uma multidisciplinaridade que abrange da vida intrauterina até a sua
relação com o meio social fora do núcleo se sua família, o que acaba por criar uma proteção
que passa por todas as etapas da formação do indivíduo.

Voltando à legislação brasileira vale destacar a nossa Carta Magna de 1988, que em seu artigo
227, caput, apresenta base constitucional para a proteção dos direitos dos menores:

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao


jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.”

Segundo Fiorelli e Mangini (2015, p. 159) “Ressalte-se que, com estas diretrizes e as leis
pátrias, cria-se, no âmbito da infância e adolescência, em sua interface com o sistema jurídico,
um novo paradigma, ao se estabelecer que a cidadania e o respeito a direitos e deveres não se
alcançam com medidas coercitivas e sanções penais, mas, primordialmente, com medidas que
carecem da participação de toda a sociedade em todos os segmentos.”.
No âmbito da atuação prática da psicologia jurídica voltada para crianças e adolescentes o
conselho tutelar é órgão encarregado de estabelecer um link entre a sociedade e o judiciário.

Nele são tratados a maioria dos casos que envolvem o desrespeito a direitos da criança e do
adolescente utilizando, novamente, a característica da interdisciplinaridade no resguardo
deste direito, pois em alguns desses órgãos encontram-se a disposição da população não só os
conselheiros, mas advogados, psicólogos, administradores e outros profissionais que possam
auxiliar no resguardo de tais direitos.

Cabe também ao Conselho tutelar aplicar medidas de segurança nos casos envolvendo
crianças e adolescentes. Tais medidas vão desde encaminhamento aos pais, orientações até a
solicitação de exames médicos, abrigos em entidades e, nos casos mais graves, à colocação do
jovem ou da criança em família substituta.

Como já supracitado, o ECA possui normas que visam a aplicação de medidas socioeducativas
ao adolescente que comete atos infracionais:

“Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá


aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;”

A aplicação de tais medidas deve obedecer os princípios da proporcionalidade e da


razoabilidade devendo levar-se em conta a capacidade de cumprimento da medida pelo
adolescente e a gravidade do ato infracional cometido,não sendo passível de punição através
de trabalhos forçados.

Na aplicação de tais medidas não deve ser deixada de lado a educação, disciplina, o respeito às
diversidades (étnicas, de gênero e sexual), bem como a participação proativa da família dos
socioeducandos.

Segundo a legislação pátria, a criança torna-se adolescente aos 12 anos, porém como todos
sabemos essa transição opera de modo totalmente diferente na esfera biopsiclógica, onde
mudanças psicológicas e físicas principalmente vão gradativamente mudando a forma de agir e
pensar do indivíduo.

É nessa fase em que ocorre o choque entre os costumes de seus pais e os desse novo meio em
que o jovem passará a integrar, seus pais não mais conseguem acompanhar de maneira
satisfatória para eles seus novos modos de se expressar, novas tecnologias, o que leva o jovem
a buscar exemplos fora do seio familiar para se apoiar nesse momento de transição.

Segundo Fiorelli e Mangini (2015, p. 163) “Entretanto, nesse momento que


exige grande apoio emocional, é comum que se acentue a busca parental de
oportunidades, carreiras, recursos, posições e um sem-número de objetivos que
se interpõem entre pais e filhos; uns "fazendo tudo o que podem", outros
"exigindo tudo a que tem direito". Esta inequação socioeconômica-emocional
encontra pontos de equilíbrios instáveis, e mínimos descuidos engendram
conflitos e comportamentos inadequados de todos.”

Aos poucos os jovens se veem num limbo entre o mundo adulto e o infantil, onde buscam
pertencer a um grupo para se sentirem aceitos. Paralelamente a esta situação começam a
aflorar sentimentos nunca antes experimentados, principalmente os sexuais, o que traz
inquietação e insegurança aos novos adolescentes, que pressionados buscam as atitudes
“corretas” aos olhos da sociedade nas mais diversas situações que essa fase apresenta.

Tais mudanças levam o jovem a realizar ações nunca antes imaginadas, o que acaba por
fasciná-los, geralmente acarretando uma oposição aos tidos como opressores desses mesmos
sentimentos de poder e liberdade adolescente, os pais e professores, que devem estar
preparados para lidar com tais situações de maneira que proporcione o jovem uma transição
saudável.

Levisky (1998) “Refere que os critérios que definem a inserção do indivíduo na


sociedade adulta são maturidade, independência, autodeterminação,
responsabilidade e atividade sexual afetivamente adulta.”

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