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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

GLEICE KELLY OZANAM SOARES

MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO: A REINCIDÊNCIA DO


ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

MARINGÁ
2019
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

GLEICE KELLY OZANAM SOARES

MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO: A REINCIDÊNCIA DO


ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Artigo apresentado à UNIFAMMA – Centro Universitário


Metropolitano de Maringá, como parte dos requisitos para
aprovação no curso de Graduação. Área de Concentração:
Direito.
Orientador: Prof. Esp.: Carlos Eduardo Pires Gonçalves

MARINGÁ
2019
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

GLEICE KELLY OZANAM SOARES

MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO: A REINCIDÊNCIA DO


ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Artigo apresentado à UNIFAMMA – Centro Universitário


Metropolitano de Maringá, como parte dos requisitos para
aprovação no curso de Graduação. Área de Concentração:
Direito.
Orientador: Prof. Esp.: Carlos Eduardo Pires Gonçalves

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Professor Orientador: Esp. Carlos Eduardo Pires Gonçalves

_____________________________________

Professor: Dr.

___________________________________

Professor: Me.

Data de Aprovação:_____ de ________ de______.


3

RESUMO

O presente artigo tratará sobre a Medida Socioeducativa de Internação e a Reincidência do


adolescente infrator, apurando se a medida punitiva de internação prevista no Estatuto da
Criança e do Adolescente é eficaz na ressocialização do adolescente. Estudar como se dá o
cumprimento da Medida Socioeducativa de Internação, e sua eficácia de ressocialização e assim
ter as considerações finais se conseguem ou não ressocializar o adolescente. O tema foi
escolhido pois é inegável o aumento de adolescentes que se envolvem com algum tipo de crime.
Este artigo tem extrema importância, pois busca esclarecer a sociedade sobre o tema escolhido.
Esse estudo será desenvolvido com base na pesquisa bibliográfica em livros, artigos, revistas
virtuais, documentos jurídicos e demais referências, realizando assim um levantamento
bibliográfico do assunto, procurando esclarecer os questionamentos ora suscitado.

Palavras-chave: Ressocializar. Medida Socioeducativa de Internação. Reincidência.


4

ABSTRACT

This article will deal with the Socio-Educational Admission Measure and the Repeat Offense
of the offending adolescent, determining if the punitive measure of hospitalization provided for
in the Child and Adolescent Statute is effective in the resocialization of the adolescent. Study
how compliance with the Socio-Educational Admission Measure, and its effectiveness in
resocialization, and thus have the final considerations on whether or not to resocialize the
adolescent. The theme was chosen because it is undeniable the increase of adolescents who are
involved with some type of crime. This article is extremely important because it seeks to
enlighten society about the chosen theme. This study will be developed based on bibliographic
research in books, articles, virtual magazines, legal documents and other references, thus
conducting a bibliographic survey of the subject, seeking to clarify the questions raised here.

Keywords: Re-socialize. Socio-Educational Admission Measure. Recurrence.


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INTRODUÇÃO

O Estatuto da Criança e do Adolescente é a lei que ampara, protege a criança e


o adolescente. Sendo dever da família, da sociedade e do próprio Estado garantir à criança e ao
adolescente com irrestrita prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, bem como garantir a segurança e deixá-los protegidos de toda
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Em seu artigo 98,
inciso II, o Estatuto discorre que se o adolescente tiver seu direito ameaçado ou violado em
razão da sua própria conduta deverá ser aplicado uma medida socioeducativa.
A medida socioeducativa é um procedimento aplicado ao adolescente infrator, e a
internação é dada como uma medida privativa de liberdade, sendo o adolescente quando
encaminhado para cumpri-la ficará privado do seu direito de ir e vir. Essa medida não deve
servir somente para o adolescente, mas também o seio familiar, a sua educação e o social, para
que o adolescente seja estimulado a estudar, fortalecer a família e mostrar os valores de ele ser
um bom cidadão.
Se a medida socioeducativa tem por objetivo para que o adolescente seja estimulado e
que ele venha a ser um bom cidadão e não volta a cometer um novo ato infracional, por que a
tanta reincidência?
Buscando esclarecer o questionamento acima, com base na pesquisa bibliográfica em
livros, artigos, revistas virtuais, documentos jurídicos e demais referências, realizando assim
um levantamento bibliográfico do assunto, o presente artigo busca responder aos senhores,
quais os motivos que podem levar a reincidência desses adolescentes.

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ECA

Antes de adentrarmos ao tema principal da medida socioeducativa de internação, faz-se


necessário uma breve explanação da origem histórica do direito da criança e do adolescente
surgiu e a evolução do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Na idade antiga, o elo familiar era fundado a partir da religião e não pela relação afetiva
e consanguínea. O poder paterno (aquele de sangue ou por matrimônio) era a maior autoridade
familiar na época, onde era seu dever que todos cumprissem os deveres religiosos. A religião é
quem estabelecia o direito, as regras a serem seguidas pela família, sendo então a família uma
associação religiosa.
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O Cristianismo trouxe uma grande contribuição para o início do reconhecimento de


direitos para as crianças: defendeu o direito à dignidade para todos, inclusive para os menores.
(AMIN, 2019, p. 50).

Assim, destaca Andréa Rodrigues Amin:

Como autoridade, o pai exercia poder absoluto sobre os seus. Os filhos


mantinham-se sob a autoridade paterna enquanto vivessem na casa do pai,
independentemente da menoridade, já que àquela época não se distinguiam
maiores e menores. Filhos não eram sujeitos de direitos, mas sim objeto de
relações jurídicas, sobre os quais o pai exercia um direito de proprietário.
Assim, era-lhe conferido o poder de decidir, inclusive, sobre a vida e a morte
dos seus descendentes. ” (AMIN, 2019, p. 50).

Neste tempo, as crianças eram “patrimônios” do Estado. Os pais transferiam o poder ao


tribunal do Estado o poder sobre a criação e vida dos filhos, para prepara-los como guerreiros.
(AMIN, 2019, p. 50).
Ainda no contexto, Andréa Rodrigues Amin relata:

Em segundo momento, alguns povos indiretamente procuraram resguardar


interesses da população infantojuvenil. Mais uma vez foi importante a
contribuição romana, que distinguiu menores impúberes e púberes, muito
próxima das incapacidades absoluta e relativa de nosso tempo. A distinção
refletiu em um abrandamento nas sanções pela prática de ilícito por menores
púberes e impúberes ou órfãos. Outros povos, como lombardos e visigodos,
proibiram o infanticídio, enquanto frísios restringiram o direito do pai sobre a
vida dos filhos”. (AMIN, 2019, p. 50).

Já na idade média, o cristianismo começa a ter grande força na jurisdição da época. As


ordens, leis, e monarquia se cumpria por um poder divino.
O Cristianismo trouxe uma grande contribuição para o início do reconhecimento de
direitos para as crianças: defendeu o direito à dignidade para todos, inclusive para os menores.
(AMIN, 2019, p. 51).
A igreja então foi começando a determinar certa proteção aos menores, prevendo e
aplicando penas corporais e espirituais para os pais que abandonavam ou expunham os filhos.
Em contrapartida, os filhos nascidos fora do manto sagrado do matrimônio eram discriminados,
pois indiretamente atentavam contra a instituição sagrada. Segundo doutrina traçada no
Concílio de Trento, a filiação natural ou ilegítima deveria permanecer à margem do Direito, já
que era a prova viva da violação do modelo moral determinado à época. (AMIN, 2019, p. 51)
7

Já no direito brasileiro, na época do Brasil colônia, mantinha-se o respeito ao pai como


autoridade máximo no seio familiar. Assim, como na idade antiga, o pai era autoridade máxima
e a religião ainda era de grande importância.
Para resguardo da autoridade parental, ao pai era assegurado o direito de castigar o filho
como forma de educá-lo, excluindo-se a ilicitude da conduta paterna se no “exercício desse
mister” o filho viesse a falecer ou sofresse lesão. (AMIN, 2019, p. 51).
Ainda comenta Amin:

Durante a fase imperial tem início a preocupação com os infratores, menores


ou maiores, e a política repressiva era fundada no temor ante a crueldade das
penas. Vigentes as Ordenações Filipinas, a imputabilidade penal era alcançada
aos 7 anos de idade. Dos 7 aos 17 anos, o tratamento era similar ao do adulto
com certa atenuação na aplicação da pena. Dos 17 aos 21 anos de idade, eram
considerados jovens adultos e, portanto, já poderiam sofrer a pena de morte
natural (por enforcamento). A exceção era o crime de falsificação de moeda,
para o qual se autorizava a pena de morte natural para maiores de 14 anos”.
(AMIN, 2019. p. 51).

Com o Código Penal do Império, de 1830, foi acrescentado que houvesse o exame de
capacidade de discernimento do menor para aplicação da pena, sendo os menores de quatorze
anos inimputáveis, mas aqueles que tivessem algum discernimento e tivessem idades entre sete
e quatorze anos sofreriam “punição” por seus atos, sendo encaminhados para casas de correções
onde poderiam ficar até os dezessete anos.
Quando não haviam ato infracional, o Estado agia por meio da Igreja. Então no ano de
1551 foi fundada a primeira casa de recolhimento de crianças no Brasil, liderada por jesuítas
para apartar crianças índias e negras das más influencias do pais, dando então início a política
do recolhimento.
No século XVIII, o número de órfãos e crianças abandonadas começou a crescer. Essas
crianças eram abandonadas em portas de igreja, conventos, casas e nas ruas. Para tentar ter uma
solução para esse conflito o Estado importou da Europa a Roda dos Expostos (local onde
deixavam os recém-nascidos para cuidado em instituições de caridade), que poderiam ser
encontradas nas Santas Casas de Misericórdia.
Com o aumento da população que chegavam de todos os lugares, o pensamento social
do Estado começou a se dividir entre assegurar a os direitos ou se “defender” dos menores.
Foram então inauguradas novas casas de recolhimento em 1906, onde construíram escolas de
prevenção para aqueles que foram abandonados com o objetivo de reabilitar os menores que
infringiram a lei.
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Em 1912, o Deputado João Chaves apresenta projeto de lei alterando a perspectiva do


direito de crianças e adolescentes, afastando-o da área penal e propondo a especialização de
tribunais e juízes, na linha, portanto, dos movimentos internacionais da época. (AMIN, 2019,
p. 53).
Levando assim o surgimento de uma Doutrina do Menor. Entendia-se de que o Estado
teria o dever de proteger os menores, mesmo que esses cometessem delitos.
Dando a devida importância ao tema Andréa Rodrigues Amin destaca:

Em 1926 foi publicado o Decreto n. 5.083, primeiro Código de Menores do


Brasil que cuidava dos infantes expostos e menores abandonados. Cerca de
um ano depois, em 12 de outubro de 1927, veio a ser substituído pelo Decreto
n. 17.943-A, mais conhecido como Código Mello Mattos. De acordo com a
nova lei, caberia ao Juiz de Menores decidir-lhes o destino. A família,
independentemente da situação econômica, tinha o dever de suprir
adequadamente as necessidades básicas das crianças e dos jovens, de acordo
com o modelo idealizado pelo Estado. Medidas assistenciais e preventivas
foram previstas com o objetivo de minimizar a infância de rua.” (AMIN, 2019,
p. 53).

Com a Constituição da República do Brasil de 1937, o Serviço Social passa a integrar


programas de bem-estar, valendo destacar o Decrete-Lei n. 3.799/41, que criou o Serviço de
Assistência do Menor (SAM), que atendia menores delinquentes e desvalidos, redefinindo em
1944 pelo Decreto-Lei n. 6.865. (AMIN, 2019, p.53).
Em 1943, com Comissão Revisora do Código Mello Mattos, foi diagnosticado que o
problema das crianças era principalmente social, a comissão trabalhou no propósito de elaborar
um código misto, com aspectos social e jurídico. (AMIN, 2019, p. 54).
Salienta Andréa Rodrigues Amin:

No projeto, percebia-se claramente a influência dos movimentos pós-Segunda


Grande Guerra em prol dos Direitos Humanos que levaram a ONU, em 1948,
a elaborar a Declaração Universal dos Direitos do Homem e, em 20 de
novembro de 1959, a publicar a Declaração dos Direitos da Criança, cuja
evolução originou a doutrina da Proteção Integral”. (AMIN, 2019, p. 54).

Na década de 60, a SAM recebeu severas críticas, que não cumpria e até se distanciava
do seu objetivo inicial. Algumas adversidades, como, desvio de verbas, ensino precário e
incapacidade de recuperação dos internos, foram alguns dos problemas que levaram à sua
extinção em novembro de 1964, pela Lei n. 4.513, que criou a Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor (Funabem). (AMIN, 2019, p. 54)
9

Andréa Rodrigues Amin, relata que:

Legalmente, a Funabem apresentava uma proposta pedagógico-assistencial


progressista. Na prática, era mais um instrumento de controle do regime
político autoritário exercido pelos militares. Em nome da segurança nacional,
buscava-se reduzir ou anular ameaças ou pressões antagônicas de qualquer
origem, mesmo se tratando de menores, elevados, naquele momento histórico,
à categoria de `problema de segurança nacional`”. (AMIN, 2019, p. 54).

No cume do regime militar, foi publicado o Decreto-lei n. 1.004, de 21 de outubro de


1969, que instituiu o Código Penal e reduziu a responsabilidade penal para 16 anos se
comprovada a capacidade de discernimento acerca da ilicitude do fato. Então o dispositivo foi
revogado pela Lei n. 6.016, de 31 de dezembro de 1973, que restabeleceu a idade de 18 anos
para alcance da imputabilidade penal. (AMIN, 2019, p. 55).
No dia 10 de outubro de 1979 foi publicada a Lei n. 6.697, o novo Código de Menores.
Durante todo esse período, a cultura da internação, para carentes ou delinquentes, foi a tônica.
O isolamento era visto, na maioria dos casos, como única solução. Então em 1990, já
completamente desgastada pelos mesmos sintomas que levaram à extinção do SAM, a Funabem
foi substituída pelo Centro Brasileiro para Infância e Adolescência (CBIA). Havendo assim a
mudança da palavra menor, para “criança e adolescente”, expressão consagrada na Constituição
da República de 1988 e nos documentos internacionais. (AMIN, 2019, p. 55).
Portanto, nota-se a grande conquista em todo o período de como a criança e o
adolescente ganharam a proteção para si. Mas não somente para protegê-los, mas também para
que saibam cumprir a lei e que não o fazendo haverá punição. Assim como a lei os defende
também tem o objetivo de fazer com que arquem com seus atos.

2 ATO INFRACIONAL

Ato Infracional é o nome dado pelos legisladores a conduta delituosa do adolescente. O


adolescente recebe um tratamento diferenciado, sendo que, mesmo cometendo um ato
infracional, ainda sim, ele é protegido por lei e sempre optado pelo melhor interesse para eles,
observado sempre a situação fática.
Assim como diz os doutrinadores Ildera de Amorin Digiácomo e Murillo José
Digiácomo,

Toda conduta que a Lei (Penal) tipifica como crime ou contravenção, se


praticado por criança ou adolescente é tecnicamente denominada ‘ato
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infracional’. Importante destacar que esta terminologia própria não se trata de


mero ‘eufemismo’, mas sim deve ser encarada com uma norma especial do
Direito da Criança e do Adolescente, que com esta designação diferenciada
procura enaltecer o caráter extrapenal da matéria, assim como do atendimento
a ser prestado em especial ao adolescente em conflito com a lei”.
(DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorin; DIGIÁCOMO, Murillo José.
Curitiba,2013. P. 135)

O tratamento especial não se dá somente no Estatuto da Criança e do Adolescente, mas


primeiramente pela nossa Constituição Federal, de forma clara em seu artigo 227, caput e no
parágrafo 3º do mesmo artigo é utilizada a palavra proteção especial.

Artigo 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,


ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
§3º. O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: (...).
(GRIFO NOSSO) (OBRA COLETIVA COM A COLABORAÇÃO DE
LÍVIA CÉSPEDES E FABIANA DIAS DA ROCHA. ANO 2019. P. 69)

O termo ato infracional está amparado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente em


seu artigo 103, cita que o ato infracional é a conduta descrita como crime ou contravenção
penal, estas cometidas pelo adolescente.
Assim como diz Saraiva, é a própria definição da espécie inclui a garantia da
observância do princípio da tipicidade, que exige subsunção da conduta àquela descrita pela
norma penal. Assim só há ato infracional se houver figura típica penal que o preveja.
Roberto João Elias afirma então,

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, somente os


adolescentes que cometerem atos catalogados como o crime ou contravenção
penal é que são passíveis de sofrer medidas socioeducativas.
Há de se observar, portanto, se, à época da prática do ato, a conduta era típica
(...). (ELIAS, Roberto João. 2008. P. 110).

Compreende-se por crime, para diferenciá-lo de ato infracional, quando for cometido
por pessoa adulta que não seja adolescente amparado pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, mas sim aquelas que cometem ato antijurídico e que não sejam alcançadas pela
lei mencionada. E quando se tratar de ato infracional é para se referir aos atos praticados pelo
adolescente infrator, atributo dado por ser amparado pela lei especial.
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A importância de se diferenciar ato infracional de crime é que muitas pessoas se


confundem. A lei especial do Estatuto da Criança e do Adolescente foi justamente criada para
tratar de forma diferenciada o adolescente infrator para que responda por seus atos delituosos.
A prática do ato infracional leva o adolescente a uma sanção totalmente diferente do que
por quem comete um crime e não esteja amparado pela lei retro mencionada. O adolescente
infrator irá cumprir por seu ato infracional uma medida socioeducativa, obedecendo a lei que o
rege e os princípios que os alcançam.
Há uma diferença entre a criança e o adolescente ao cumprir sua medida. Enquanto o
adolescente irá cumpri uma medida socioeducativa, a criança irá cumprir uma medida
específica de proteção. Ocorre essa diferença, porque entende-se que a partir dos doze anos
completos o menor já tem um conhecimento, um discernimento, maior de como tudo acontece
e, portanto, ele é capaz de entender o ato que ele está praticando, capaz de ter maturidade
suficiente de agir licitamente ou não.
Dessa regra não cabe exceção. Portanto quando um adolescente comete um ato
infracional, será aplicada a ele uma das medidas socioeducativas do artigo 112 do ECA e
quando o ato infracional for praticado pela criança corresponderá as medidas previstas no artigo
101 do ECA.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I – encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporário;
III – matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV – inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à
criança e ao adolescente;
V – requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento alcoólatras e toxicômanos;
VII – acolhimento institucional;
VIII – inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX – colocação em família substituta”. (OBRA COLETIVA COM A
COLABORAÇÃO DE LÍVIA CÉSPEDES E FABIANA DIAS DA ROCHA.
ANO 2019. P. 1018).

“Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente


poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I – advertência;
II – obrigação de reparar dano;
III – prestação de serviços a comunidade;
IV – liberdade assistida;
V – inserção em regime de semiliberdade;
VI – internação em estabelecimento educacional;
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VII – qualquer uma das previstas no art. 101,I a IV.” (OBRA COLETIVA
COM A COLABORAÇÃO DE LÍVIA CÉSPEDES E FABIANA DIAS DA
ROCHA. ANO 2019. P. 1020).

Observa-se então que o Estatuto faz uma distinção entre criança e ao adolescente, é mais
acentuada essa observância quando se tratar o modo de aplicação das medidas quando o
adolescente comete algum ato infracional.

3 MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO

A medida socioeducativa é um procedimento aplicado ao adolescente infrator, e a


internação é dada como uma medida privativa de liberdade, sendo o adolescente quando
encaminhado para cumpri-la ficará privado do seu direito de ir e vir. Essa medida é aplicada
nos casos de atos infracionais cometidos com violência contra a pessoa e/ou grave ameaça, e
os juízes aplicam em último caso.
No seu artigo 121 o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê alguns princípios que
norteiam essa medida, sendo eles, o princípio da brevidade, excepcionalidade e respeito a
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Dispõe então sobre o assunto o artigo 121, da Lei 8.069/90:

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos


princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe
técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção
ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis
meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três
anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente
deverá ser liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade
assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização
judicial, ouvido o Ministério Público.
§ 7 o A determinação judicial mencionada no § 1 o poderá ser revista a
qualquer tempo pela autoridade judiciária”.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm, acessado em 25
de nov de 2019).

Em sua obra Nucci destaca sobre o princípio da brevidade:


13

A brevidade exige a internação por curto período de tempo, razão pela qual o
teto de três anos é o limite, mas não a regra. Justifica-se a busca pela
exiguidade em face do desenvolvimento contínuo da formação da
personalidade do adolescente. Se já é contraproducente manter o adulto em
cárcere, pois constitui fator desagregador dos bons valores de sua
personalidade, sem dúvida, o jovem terá a tendência negativa de se ver inibido
quanto aos seus verdadeiros anseios. A segregação da família e da comunidade
o lançará num mundo particular, formado da vida intramuros, cujos valores
jamais serão os mais adequados”. (NUCCI, Guilherme de Souza. 2018, p. 488)

Também destaca Guilherme de Souza Nucci, sobre o princípio da excepcionalidade:

A excepcionalidade determina que o magistrado somente opte pela internação


como ultima ratio (última alternativa), passando por outras medidas
socioeducativas antes, se viável. O grande problema da segregação é piorar o
que já se encontra ruim, pois o adolescente cometeu ato infracional, que
se pode considerar o ápice do conflito com a lei. Se o objetivo da medida
socioeducativa é, primeiramente, educar, o mais certeiro método para isso é
alheio ao claustro, pois os efeitos desse isolamento forçado são nefastos. Sem
dúvida, pode-se argumentar que o jovem praticou algo grave, vitimando um
inocente, mas, sendo alguém em pleno processo de formação físico-
intelectual, também é uma vítima do próprio sistema social. Em nosso
entendimento, crianças não falham, mas, sim, seus pais e, ato contínuo, o
poder público. Lançando a pessoa em tenra idade na mais absoluta miséria,
sem condições de alimentação condizente, estudo adequado, morada
respeitável e orientação adulta responsável, a tendência é inserir a criança num
universo perigoso, no qual pode invadir a seara do ilícito, sem nem mesmo
entender do que se trata. Crescendo sem o amparo pertinente, atinge a
adolescência, época de questionamentos e vulnerabilidades interiores naturais,
para, novamente, ver-se desorientado, sem estudo e/ou trabalho digno. Seu
comportamento pode lesionar terceiros inocentes, mas não se pode perder de
vista que tal inocência não cabe nem à sociedade nem ao Estado, bastando
lembrar o dever imposto a todos de zelar pela infância e juventude, nos termos
do art. 227, caput, da Constituição Federal. ” (NUCCI. 2018, p. 488).

E sobre o princípio do respeito ä condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,


explana Guilherme de Souza Nucci:

O respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento constitui,


exatamente, o que vimos desenvolvendo linhas acima. Não se pode, nem se
deve considerar o adolescente como se adulto fosse. Seria um contrassenso,
esbarrando até mesmo na pura opressão. Quem não se formou
integralmente, por dentro e por fora, tem imensa dificuldade de se adaptar em
sociedade, com suas várias regras, imposições e limites. Aliás, o adulto nem
sempre consegue seguir as normas postas pelo Direito, chegando a delinquir
de variadas maneiras, sujeito à aplicação da pena; o adolescente, por seu turno,
tem o direito de falhar, esperando pela postura ideal de quem é por sua pessoa
responsável: família ou poder público. Diante disso, é essencial respeitar a
condição do jovem, em formação da personalidade, para aplicar a internação
– ou medida socioeducativa diversa. Na doutrina: “o encarceramento de
jovens infratores é um tema difícil. Se por um lado é importante proteger a
14

sociedade de alguns agressores, para os jovens a decisão de segregação


provoca sérias implicações de longa duração, pois eles voltarão ao convívio
social. A natureza de seu confinamento pode ter um maior impacto na sua
aptidão para reentrar em sociedade sem reincidir”.

Os artigos 171 e 190 do Estatuto da Criança e do Adolescente mostram o procedimento


para que o magistrado aplique as medidas socioeducativas de forma correta a decretar uma
sentença justa ao adolescente infrator.
Rossato explica como se dará esse procedimento:

Contudo, nesse momento, é necessário deixar bem claro o roteiro e os


parâmetros que devem ser observados pelo magistrado para a aplicação de
qualquer medida socioeducativa por meio de sentença:
a) apuração da autoria e da materialidade da infração: deverá o magistrado
verificar se o ato infracional, de fato, se concretizou, bem como se o
adolescente foi o seu autor. Incidente qualquer hipótese das excludentes de
antijuridicidade e de culpabilidade, não poderá o magistrado seguir adiante
para aplicar medida socioeducativa”. (ROSSATO, 2017, p. 383)

Ainda cabe ressaltar a existência da internação provisória que é decretada durante o


processo de conhecimento, antes da sentença. Ela se encontra prevista nos artigos 108, 174, 183
e 184 do Estatuto da Criança e do Adolescente, onde a internação provisória pode ser
determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias, ocorre quando o ato infracional
praticado pelo adolescente for considerado grave e haja uma repercussão social (para garantir
a sua segurança e/ou manutenção da ordem pública) e então a autoridade judiciária irá decidir
sobre a decretação ou manutenção da internação.

Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo
máximo de quarenta e cinco dias. [..]
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será
prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e
responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público,
no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto
quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o
adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segurança pessoal
ou manutenção da ordem pública. [...]
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do procedimento,
estando o adolescente internado provisoriamente, será de quarenta e cinco
dias.
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará
audiência de apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, sobre a
decretação ou manutenção da internação, observado o disposto no art. 108 e
parágrafo”. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/18069.htm, Acesso
em: 28 nov. 2019).
15

Segundo Luciano Alves Rossato diz:

Em todas as modalidades de internação, há necessidade de implementação de


atividades pedagógicas. Por esse motivo, na internação com prazo
indeterminado, para o cômputo do prazo de 3 anos, inclui-se o período em que
o adolescente se encontrava internado provisoriamente.
Assim, se o adolescente permaneceu internado provisoriamente pelo período
de 1 mês, a internação decretada por sentença somente poderá ter duração de
2 anos e 11 meses. Deve ser considerado, destarte, o período total de
contenção (de restrição da liberdade) ”. (ROSSATO, Luciano Alves. 2017, p.
371)

O Adolescente infrator que é submetido a medida socioeducativa de internação, ficará


em uma casa de internação, onde será inserido em um projeto pedagógico, com a finalidade de
que este adolescente seja reinserido na sociedade e para evitar possível reincidência.
O Estatuto elenca também os direitos dos adolescentes que ficam privativos de sua
liberdade e Luciano Alves Rossato explica esses direitos:

a) Entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público: o


adolescente poderá solicitar ao diretor da unidade entrevista pessoal com o
promotor de justiça, com a finalidade de comunicar fatos relativos à rotina
diária da unidade, bem como em busca da tutela de qualquer direito
fundamental;
b) Peticionar diretamente a qualquer autoridade: o direito de petição é
assegurado constitucionalmente a todos, independentemente da idade. Em
particular aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de
internação, esse direito foi mais bem explicitado. A expressão “qualquer
autoridade” abrange o magistrado, o promotor de justiça, o defensor público,
a autoridade policial, o membro do conselho tutelar e outras autoridades que
lhe possam auxiliar;
c) Avistar-se reservadamente com seu defensor: a conversa reservada com o
defensor é muito importante, principalmente, para que estes possam traçar a
estratégia da defesa no processo de execução de medida socioeducativa, bem
como para que lhes sejam explicados os atos praticados;
d) Ser informado de sua situação processual, sempre que solicitado: deve a
entidade de atendimento inteirar-se da situação processual do adolescente,
como, por exemplo, se já se encontra em cumprimento de internação em razão
de sentença definitiva, ou se ainda aguarda julgamento de recurso; se já foram
apresentados relatórios ou os motivos pelos quais não foi possível a sua
liberação, entre outras informações;
e) Ser tratado com respeito e dignidade: o adolescente faz jus ao respeito,
assegurando-se a sua dignidade e a sua imagem, devendo ser colocado a salvo
de qualquer forma de negligência ou de abuso;
f) Permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao
domicílio de seus pais ou responsável: o processo pedagógico surtirá efeitos
se o adolescente puder permanecer próximo ao seu domicílio, logicamente,
atendendo aos padrões de razoabilidade e proporcionalidade na execução dos
serviços públicos. Essa previsão deve ser estudada em conjunto com o previsto
no art. 49, II, da Lei n. 12.594/2012, segundo a qual constitui direito do
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adolescente em cumprimento de medida ser incluído em programa de meio


aberto quando inexistir vaga para o cumprimento de medida de privação da
liberdade, exceto nos casos de ato infracional cometido mediante grave
ameaça ou violência à pessoa, quando o adolescente deverá ser internado em
unidade mais próxima de seu local de residência. ” (ROSSATO, Luciano
Alves, 2017, p. 393).

O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo diz sobre as garantias aos adolescentes:

As entidades e/ou programas de atendimento socioeducativo deverão


oferecer e garantir o acesso aos programas públicos e comunitários (de
acordo com a modalidade de atendimento): escolarização formal; atividades
desportivas, culturais e de lazer com regularidade e freqüência dentro
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE 53 e fora dos
programas de atendimento; assistência religiosa; atendimento de saúde na
rede pública (atendimento odontológico; cuidados farmacêuticos; inclusão
em atendimento à saúde mental aos adolescentes que dele necessitem,
preferencialmente, na rede SUS extra-hospitalar; à saúde reprodutiva e
sexual, ao tratamento de doenças crônicas e cuidados especiais à saúde);
inserção em atividades profissionalizantes e inclusão no mercado de
trabalho, inclusive para os adolescentes com deficiência em conformidade
com o Decreto nº 3.298 de 20 de dezembro de 1999”.
(http://www.conselhodacrianca.al.gov.br/sala-de-
imprensa/publicacoes/sinase.pdf, Acesso em 28 nov. 2019)

O Estatuto da Criança e do Adolescente elenca em seu artigo 94, as obrigações das


entidades de internação para que seja garantido o direito do adolescente, diz:
“Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de internação têm as
seguintes obrigações, entre outras:
I - observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes;
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na
decisão de internação;
III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos
reduzidos;
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao
adolescente;
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos
familiares;
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se
mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares;
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade,
higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal;
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária
dos adolescentes atendidos;
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e
farmacêuticos;
X - propiciar escolarização e profissionalização;
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com
suas crenças;
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
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XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis


meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente;
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação
processual;
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes
portadores de moléstias infecto-contagiosas;
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes;
XVIII - manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de
egressos;
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania
àqueles que não os tiverem;
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do
atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes,
endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus
pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a
individualização do atendimento”.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 28 nov.
2019)

4 REINCIDÊNCIA

O Código Penal em seu artigo 63, traz o significado de reincidência. No caso do


adolescente em conflito com a lei, fala-se em reincidência quando ele volta a cometer um novo
ato infracional mesmo após ter cumprido uma medida socioeducativa.
O artigo 63 diz nos seguintes termos:

Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime,


depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o
tenha condenado por crime anterior”.
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm,
Acesso em: 28 nov. 2019)

A forma de execução das medidas socioeducativas e as questões sociais e familiares


estão interligadas para que haja a reincidência do adolescente.
A família e as questões sociais são as que mais motivam a reincidência. Com a falta da
prevenção no seio familiar, onde na maioria dos casos eles não tem nenhum apoio, e com a
aplicação da medida socioeducativa, é claro o motivo pelo qual eles voltam a reincidir. O
círculo vicioso que eles começam a encarar, a prática de novos delitos, e o retorno as casas de
internação.
Em seu artigo Silvia Tejadas realizou uma pesquisa junto a adolescentes para maior
conhecimento também em relação a reincidência e conforme pesquisa relata:
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Trata-se de famílias reconstituídas ou uniparentais e extensas, compondo o


arranjo familiar nuclear uma parcela menor. Revelou-se, assim, a vivência da
separação dos pais, ainda na infância, para um grupo significativo, bem como
iniciativas da família extensa em oferecer suporte, vindo 46 muitos avós a
criarem os netos sozinhos, com o auxílio de outros parentes ou com algum dos
pais. Nesse processo, verificou-se, ainda, a circularidade do jovem pela
residência de diversos familiares, amigos e até instituições”. (TEJADAS,
Silvia. 2005, p. 45 e 46).

Diz Tejadas também sobre como essa falta de estrutura familiar pode ter impacto na
socialização do adolescente:

Além disso, identificou-se a vivência de perdas, devido à morte do adulto


responsável pelos cuidados das crianças, algumas vezes de mais de um adulto
e até de irmãos. Tais eventos podem acarretar impacto no processo de
socialização do indivíduo, uma vez que se verifica certa rotatividade de
adultos cuidadores, instabilidade nos arranjos familiares e rupturas e perdas
de pessoas significativas no processo vincular. Experiências que remetem a
sentimentos como o medo, a insegurança, a tristeza e que podem corroborar
com uma identidade marcada pela idéia de inadequação, desqualificação,
inferioridade, não pertencimento”. (TEJADAS, Silvia. 2005, p. 46).

Percebe-se então que a família é o principal direcionador para que o adolescente não
cometa um ato infracional ou venha a reincidir caso cometa o ato. Mas o Estado também tem
sua parcial de culpa para que haja os atos e as reincidências, se ele investisse mais na educação,
saúde, lazer e nos demais setores que incentivassem os adolescentes a não irem para o mundo
do delito e para que as famílias pudessem ter um lar pudessem ampará-los, a realidade poderia
ser totalmente diferente.
Concluindo, que este artigo sirva de exemplo e alerta para que as pessoas responsáveis
se preocupem mais com os adolescentes infratores e os não infratores para que não venham
cometer algum ato infracional, e que haja um estudo mais aprofundado acerca do assunto para
futuramente minimizarmos este problema que gera consequências graves para o todo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo tem por objetivo verificar como se surgiu o Estatuto da Criança e do
Adolescente, a partir de relato histórico. Explicar o ato infracional, as aplicações das Medidas
Socioeducativas, a reincidência do menor infrator e por fim se com a aplicabilidade das
Medidas se é realmente fático a possibilidade de ressocializar o adolescente junto à sociedade.
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Segundo o Código Penal, menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, ou


seja, eles não respondem criminalmente por seus atos infracionais. O adolescente que comete
ato infracional é encaminhado então a uma medida socioeducativa em decorrência do ato
infracional praticado.
Os adolescentes que cometem ato infracional, antes de ser decretada a sua sentença ele
fica por um período de quarenta e cinco dias em internação provisória. O juiz da Vara da
Infância e Juventude têm esses quarenta e cinco dias como prazo para dar a sentença no
processo, comprovada a autoria o menor sofre as medidas de privação de liberdade, podendo a
internação durar no máximo três anos.
Está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e do Sinase que, quando o
adolescente cumpre a medida socioeducativa de internação tem o direito de se profissionalizar
e direito a educação.
O adolescente infrator é reavaliado a cada seis meses por psicólogo que define um
plano individual de atendimento (PIA), para verificar se o jovem tem condições de retornar a
sociedade ou não, caso retornar a sociedade irá acontecer uma regressão podendo ser colocado
em regime de semiliberdade ou liberdade assistida. Mas devido à falta de estrutura operacional
e física faz com que as medidas aplicadas não tenham a eficácia necessária para retornar o
jovem a sociedade, e com isso o índice de reincidência só aumenta.
Diante da pesquisa realizada, pode-se constatar que as medidas socioeducativas no
âmbito legislativo são bem elaboradas, que certamente se fossem cumpridas conforme prevista
no Estatuto seria possível sim a ressocialização do adolescente. Podemos verificar que, se na
prática for modificada a forma de prevenção e fiscalização das medidas e a mudança no seio
familiar, seria sim possível ocorrer a ressocialização do adolescente diminuindo o número de
reincidência no Brasil.
Observa-se então que se for mudada a realidade atual, aplicando medidas de prevenção
e para que houvessem mais oportunidades de que os adolescentes pudessem não ter essa opção
de cometer um ato infracional, mas sim de buscar uma vida digna em sociedade. Havendo
mudança no meio familiar, pois é o principal, onde o adolescente precisa encontrar amparo e o
Estado agir com maior intensidade, investindo mais na educação de qualidade, oferecendo
cursos preparatórios e outros meios para que esse adolescente venha a se preparar para viver
em sociedade e não cometer atos infracionais, e caso cometam investir na estrutura dos centros
socioeducativos de internação com a contratação de pessoas capacitadas para desenvolver e
materiais para que possam ser desenvolvidas as atividades assim como encontramos no Estatuto
e no Sinase.
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REFERÊNCIAS

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ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto
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Delinquência Juvenil. Disponível em:
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TEJADAS, Silvia. Juventude e Ato Infracional: O sistema socioeducativo e a Produção


da Reincidência. Disponível em:
file:///C:/Users/Master/Downloads/revista_digital_ed_01_3.pdf. Acesso em 28 de nov. 2019.

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