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CURSO DE DIREITO

REGINA TEIXEIRA SANTOS

TRÁFICO DE ÓRGÃOS HUMANOS

MARINGÁ
2019
REGINA TEIXEIRA DOS SANTOS

TRÁFICO DE ÓRGÃOS HUMANOS: ILICITUDE EM SUA PRÁTICA E COMO


AFETA AS VÍTIMAS

Artigo apresentado à UNIFAMMA – Centro


Universitário Metropolitano de Maringá, como parte
dos requisitos para aprovação no curso de
Graduação. Área de Concentração: Direito.
Orientador: Prof. Esp.: Carlos Eduardo Pires
Gonçalves
.

Aprovado em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

____________________________
Nome do Professor
Nome da Universidade

_____________________________
Nome do Professor
Nome da Universidade

____________________________
Nome do Professor
Nome da Universidade
DEDICATÓRIA

Dedico à minha mãe Dolores Aparecida Teixeira, pelo digno exemplo, apesar
de todas as dificuldades que passou sempre apostou nos meus sonhos e me ajudou
a chegar até o momento atual.
Dedico também à minha filha Ysis Emanuelly, é por ela que nunca desisti dos
meus sonhos.
AGRADECIMENTO

Agradeço ao meu orientador, por todo o incentivo e apoio, apesar de todos os


obstáculos enfrentados.
“Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa
ingratidão, e na concha vazia do amor a
procura medrosa, paciente, de mais e mais
amor. ”

Carlos Drummond de Andrade


RESUMO

A descoberta do funcionamento do corpo humano sempre foi o interesse do homem,


porém no decorrer da História houve vários avanços até que chegamos a era dos
transplantes de órgãos, com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos pacientes
que possuem órgãos debilitados e que não tem condições de se regenerar com o
tratamento, porém essa descoberta trouxe consigo alguns impactos negativos para a
sociedade, o tráfico de órgãos, que é feito no mercado negro. A procura surgiu pela
necessidade de alguns pacientes não puderem esperar por um doador e no outro lado
estão pessoas que possuem órgãos saudáveis e estão precisando de dinheiro e no
meio da situação estão profissionais que querem lucrar mais. O trabalho tem o objetivo
de abordar sobre o tráfico de órgãos, doação de órgãos, o mercado negro e as
consequências que ocorrer com os doadores que se submetem a venda de seus
órgãos no mercado negro.

Palavras-chave: Órgãos. Doador. Tráfico de Órgãos. Mercado Negro. Transplante.


ABSTRACT

The discovery of the functioning of the human body has always been the interest of
man, but in the course of history there were several advances until we reached the era
of organ transplants, in order to improve the quality of life of patients who have organs
weakened and unable to regenerate with treatment, but this discovery has brought with
it some negative impacts to society, organ trafficking, which is done on the black
market. The demand has come about the need for some patients not to wait for a donor
and on the other side are people who have healthy organs and are in need of money
and in the middle of the situation are professionals who want to profit more. The
objective of this work is to address organ trafficking, organ donation, the black market
and the consequences that occur with donors who submit to the sale of their organs
on the black market.

Keywords: Organs. Donor. Organ Trafficking. Black Market. Transplant.


LISTA DE ABREVIATURAS

ART Artigo
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8

1 DA COMPRA E VENDA DE ÓRGÃOS HUMANOS .............................................. 10


1.1 Aspectos legais, constitucionais e jusfilosóficos ............................................. 11
1.2 A dignidade humana e o tráfico de pessoas ................................................... 15
2 CONCEITUAÇÃO DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS .................................................... 16
3 HISTÓRICO DAS LEIS SOBRE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS ....................... 17
4 A REALIDADE DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS ........................................................ 19
5 DO CRIME DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS ............................................................... 24
5.1 Tipificações legais do Tráfico de Órgãos ....................................................... 27
5.2 Tráfico de Órgãos no âmbito brasileiro........................................................... 31

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 33
8

INTRODUÇÃO

O tráfico de órgãos é um tema pouco discutido, onde fala-se de tantas outras


coisas e esquecem que o tráfico de órgãos é um assunto, extremamente preocupante.
Talvez pela dificuldade financeira, as pessoas se sujeitam à pratica considerada
delituosa com a intenção de "salvar" suas vidas, para sair da situação deplorável que
se encontram. Contudo, por não terem o conhecimento adequado, aceitam vender
seus órgãos aos "facilitadores" com a promessa de mudança de vida não para si mas
para suas famílias, repassam às vítimas um determinado valor, e ao revender esses
órgãos, recebem uma bagatela com inúmeras vezes mais, ressalta-se que em muitos
casos, as vítimas dependendo da complexidade do procedimento, principalmente pela
forma irregular que são realizados os procedimentos, em muitas vezes essas vítimas
nem sobrevivem ao procedimento, assim, os traficantes de órgãos não tem a
necessidade de efetuar o pagamento ilícito e ainda receberá um valor muito maior
pela venda que inicialmente seria "apenas" um órgão, e com a morte da vítima até
mesmo forçada pelos facilitadores, estão "livres" para vender todos os demais órgãos,
lucrando muito mais do que estava previsto.
Atualmente no Brasil, é considerada uma prática de fácil acesso, sem maiores
empecilhos para a sua obtenção. Não podemos negar que o Brasil em uma das
melhores posições em transplantes na rede pública, assunto contraditório, vez que
está cada vez mais recorrente a busca pelo comércio ilegal de órgãos. Talvez, a
situação pode ser explicada resumidamente nas filas gigantescas que encontra-se o
SUS (Sistema Único de Saúde) fazendo com o que a busca em salvar suas vidas em
tempo hábil seja cada vez mais recorrente, e com isso, apenas facilita o trabalho dos
traficantes, de um lado, as vítimas que necessitam vender seus órgãos para, que não
havendo maiores complicações nos procedimentos, acreditam estar lucrando com a
situação e por outro lado, os pacientes que encontra-se em situação de desespero
extremo, aguardando a realização do procedimento, acabam recorrendo a tal prática
e pagando muitas vezes, valores absurdos com a intenção de cura.
Tal prática vem sendo cada vez mais corriqueira vista a escassez, órgãos
disponíveis para transplantes, a falta de profissionais competentes também contribui
para que nosso país seja um dos países que mais atuam nessa prática.
O rim é o órgão que mais é facilmente traficado (Naím, 2006). Isso porque é
facilmente retirado, visto que não é um órgão único, podendo a vítima se restabelecer
9

facilmente. No entanto, em alguns casos, quando realizado clandestinamente, a vítima


pode até mesmo não ter tempo de se restabelecer podendo facilmente vir à óbito, seja
por questões hemorrágicas ou até mesmo de saúde. Isso ocorre porque, além dessa
retirada ser realizada de forma ilícita, muitas vezes não há nenhum tipo de estrutura
básica, desde a higienização de como é praticado, até suas instalações estruturais
que infelizmente leva essas vítimas para a morte.
Como sabemos, cabe a família autorizar ou não após a morte de seu familiar,
a retirada dos órgãos que podem vir a salvar alguém que precisa justamente deste
órgão, mas como ainda trata-se de um assunto que pouco se discute a demora para
receber esses órgãos faz com que estes pacientes muitas vezes já debilitados
recorram a prática ilícita para obtenção dos órgãos necessários com a intenção de
salvar ou prorrogar seu tempo de vida.
10

1 DA COMPRA E VENDA DE ÓRGÃOS HUMANOS

O presente capítulo versa sobre a possibilidade de uma pessoa, absolutamente


capaz, dispor de seus órgãos com o intuito de obter ganhos financeiros. De acordo
com a Lei 9.434 de 1994, essas pessoas cometem ato típico e ilícito. Normalmente
essa prática (venda de órgãos) é realizada por pessoas de classes de baixa renda,
que não possuem uma instrução formal e não dispõem de condições dignas de
sobrevivência.
No Brasil, o primeiro caso registrado de tráfico de órgãos foi no ano de 2003
em Pernambuco. Na investigação constatou-se que a organização criminosa era bem
organizada e sofisticada, onde enviava cidadãos brasileiros para a África do Sul, onde
eram operados e tinham seus órgãos extraídos e vendidos para compradores
estrangeiros. (GUIBU, 2003)
O questionamento está na limitação legal quanto a venda de órgãos quando
feita de modo consentido pelos doadores. Parte-se do entendimento de Caio Mário da
Silva Pereira, que versa sobre o denominado direito ao corpo:

No conceito de proteção à integridade física inscreve-se o direito ao corpo,


no que se configura a disposição de suas partes, em vida ou para depois da
morte, para finalidades científicas ou humanitárias, subordinado à
preservação da própria vida ou de sua deformidade. A lei não pode placitar a
autolesão. (SILVA PEREIRA, 2004, p. 250)

Se o corpo fosse disponível totalmente, sendo um direito absoluto,


teoricamente não haveria nada que impedisse as compras e vendas de partes não
renováveis do corpo humano. No entanto, na mesma definição, é ressaltada a
relatividade desse direito, bem como nas doutrinas penal e constitucional.
A vida e a integridade física são partes do exercício da dignidade humana, e o
ordenamento jurídico brasileiro só admite a disposição de parte do corpo humano
diante do justo e específico motivo, como é o caso de transplantes terapêuticos
gratuitos.
Ademais, somente será jurídico caso não acarrete prejuízos além dos que
normalmente são esperados em uma cirurgia do tipo. O doador deve, sobretudo, ser
informado previamente acerca dos riscos pela equipe cirúrgica e o médico
responsável deve se recusar a operar se entender que o procedimento é prejudicial
ao interesse do doador e contrário a saúde e bem-estar.
11

1.1 Aspectos legais, constitucionais e jusfilosóficos

Levando em consideração o caráter fundamental que possuem o direito à vida


e à integridade física, os mesmos encontram seu lugar próprio dentro do sistema
jurídico, partindo do Direito Constitucional. A relevância é tamanha que se dissemina
pelos demais ramos da Ciência Jurídica, como o Direito Penal e o Direito Civil.
Quanto a disponibilidade das partes do corpo em face do direito à vida, o
constitucionalista José Afonso da Silva assim dispõe:

É que a vida, além de ser um direito fundamental do indivíduo, é também um


interesse que, não só ao Estado, mas à própria Humanidade, em função de
sua conservação, cabe preservar. Do mesmo modo que a ninguém é legitimo
alienar outros direitos fundamentais, como a liberdade, por exemplo, também
não se lhe admite alienar a própria vida, em nenhuma de suas dimensões.
(SILVA, 2004)

Observa-se que o autor considera a vida de cada indivíduo como sendo um


direito que não se vincula somente a um indivíduo determinado que tem a pretensão
de dispor da própria integridade física, e sim como sendo um bem jurídico pertencente
à Humanidade, como sendo forma de sua atuação. Sendo assim, entende-se que não
há razão para assegurar o direito ao corpo com caráter de disponibilidade absoluta,
no qual seria regido somente pela vontade das partes envolvidas no processo.
Os argumentos que defendem a possibilidade de venda dos órgãos humanos
possuem dois interesses que seriam atendidos via contrato. De um lado estaria o
receptor do órgão que passaria a ter a saúde melhorada de forma sensível e não
dependeria de uma linga espera em fila de transplante, o que por vezes se prolonga
de modo que a vida deste sujeito venha acabar antes mesmo da recepção do órgão.
Por outro lado, tem-se o interesse do doador, que seria remunerado em face
do sacrifício que lhe seria proposto. De certa forma esse argumento esbarra na
inverdade dos seus pressupostos, uma vez que equipara uma simples prestação
pecuniária à entrega de um bem indisponível, portanto, fora de comércio. O corpo
humano deve ser preservado pela sociedade como sendo um todo, por ser a vida
humana titular da Humanidade, em todas as suas dimensões.
Sendo assim, a alienação de partes do corpo em troca de prestação de dinheiro
é totalmente desproporcional do ponto de vista lógico, haja vista que trata de forma
semelhante bens essencialmente diversos. Ainda que houvesse a admissão de um
12

pacto de venda de órgãos como sendo objeto de contrato de direito privado, não seria
acolhido pelo ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que haveria uma enorme
desproporção entre as prestações de cada parte envolvida, o que causaria a
incidência de figuras como a lesão, o erro ou o estado de perigo, ensejando até
mesmo a alegação da violação da norma de ordem pública, que não admite contratos
contrários à moral e aos bons costumes.
Cabe mencionar que atualmente o Direito Privado sofre a incidência direta dos
valores consagrados constitucionalmente, especialmente pela influência da cláusula
geral de tutela da pessoa humana (PERLINGIERI, 2002). Acerca disso, entende
Gustavo Tepedino:

Os atos de disposição do corpo são vedados quando ocasionam uma


diminuição permanente da integridade física ou quando sejam contrários ao
bom costume. Ressalva-se, contudo, a hipótese de necessidade médica,
como no caso de mudança de sexo. O Código protege ainda a autonomia do
paciente, no caso de tratamento médico ou intervenção cirúrgica com risco
de vida. (TEPEDINO, 2004)

O Direito Penal é outro ramo da Ciência Jurídica que protege o ser humano e
a vida em todos os aspectos, especialmente os penais. No ordenamento jurídico
brasileiro só é permitida a disposição de partes do corpo humano através do
transplante entre vivos, onde tem sua legitimação no princípio da solidariedade
humana. Nesses casos o transplante é admitido, de modo gratuito, mediante iniciativa
de doares sensibilizados pela dor dos enfermos.
Nas circunstâncias acima mencionadas, o intuito não é a remuneração e não
há um comércio com partes humanas. A prioridade é a necessidade da doação e a
possibilidade de auxílio ao próximo, atendendo à dignidade de ambos os envolvidos.
O doador satisfaz sua necessidade de solidariedade em prol do próximo,
proporcionando ao necessitado a chance de sobrevivência e de ter condições para
aproveitar novamente a saúde e o bem-estar.
Esta é a única forma legítima para retirada de órgãos de uma pessoa, uma vez
que atende a tutela da dignidade humana de ambas e não permite comércio para com
esse meio.
Em face das várias normas proibitivas do comércio de órgãos, cabe o estudo
da fundamentação filosófica, indo-se além do âmbito dogmático. De acordo com o
entendimento apontando, a vida e a integridade física de cada indivíduo são de
13

titularidade da Humanidade. Quanto a humanidade de cada pessoa, Maria Celina


Bodin, de acordo com o pensamento de Kant:

Considera-se, com efeito, que, se a humanidade das pessoas reside no fato


de serem elas racionais, dotadas de livre arbítrio e de capacidade para
interagir com os outro e com a natureza – sujeitos, por isso do discurso e da
ação -, será ‘desumano’, isto é, contrário à dignidade humana, tudo aquilo
que puder reduzir a pessoa (o sujeito de direitos) à condição de objeto.
(BODIN, 2003)

Como sendo parte essencial do ser humano, cada órgão de seu corpo não pode
ser tornado objeto, pois isso afetaria a própria norma fundante de nosso ordenamento
jurídico, que é a tutela da dignidade da pessoa humana.
É dessa vertente ético-filosófica que advém a disciplina legal do tema e não
pode ser afastada a análise da dignidade humana, sendo o balizamento imperativo,
frente à sensível problemática.
O valor do ser humano, que é refletido por dignidade e não por preço, é
essencial para se compreender a razão de que em nenhum país democrático se
permite que alguém disponha de seu corpo em troca de dinheiro, embora os fortes
interesses contrários a esta vedação.
Não se pode permitir que parcela da população tenha sua dignidade diminuída
devido à possibilidade de dispor de seu próprio corpo em troca de uma remuneração
(preço), pois preço e dignidade não podem ser objetos de confusão, sendo inaceitável
tratar parte do corpo humano como uma mercadoria qualquer.
Os interesses inerentes na legalização do comércio de órgãos tentam se
legitimar sob o argumento de que estariam beneficiando tanto pacientes terminais
quanto pessoas sem condições de prover o próprio sustento, que disponibilizam parte
do seu corpo e obtém condições materiais de uma vida digna.
O lucro é tão significativo que são constituídas organizações criminosas
sofisticadas com membros de diversas especializações, especialmente médicos, os
quais violam a ética profissional e se arriscam a não mais poder exercer licitamente a
profissão a que se preparam. Os riscos são suportados pela ganância gerada em parte
dos lucros espantosos que esses mercadores de órgãos humanos conseguem obter
a partir da situação de miserabilidade de suas vítimas.
14

De modo algum pode-se aceitar que pessoas tenham sua dignidade ofendida,
haja vista que os seres humanos são iguais em dignidade e esta ontologicamente
diversa do preço que atribuímos às mercadorias.
Os alvos da retirada de órgãos no “mercado” de partes do corpo humano
sempre serão os menos favorecidos. É ingenuidade pensar o contrário, não é
aceitável permitir que sua situação econômico-social os faça mais vulneráveis à
violação de seus direitos fundamentais, o que ocorreria com a legalização do tráfico
de órgãos humanos.
Diante da inequívoca proibição da ordem jurídica, os dogmatistas não podem
aceitar o comércio de partes de seres humanos; diante da lógica, não se podem
equiparar bens diversos como o preço e a dignidade humana; e diante da ética e da
solidariedade humana, não se pode admitir que, por fundamentos quaisquer, seja
permitido que determinados seres humanos sofram atentado em sua dignidade.
Afora esses aspectos, já amplamente demonstrados nos itens acima, valemo-
nos novamente dos ensinamentos da professora Maria Celina Bodin: “No entanto, na
área da biomedicina, é o interesse, o ponto de vista do indivíduo, que deve prevalecer
quando se trata de sua saúde, física e psíquica”. (BODIN, 2003)
Diante disso, não há se admitir que uma operação médica, em suas
consequências e com os sacrifícios em que importa, e a atuação ética do profissional
da medicina, sejam maculadas mediante interesses gananciosos.
Só se deve admitir transplantes de órgãos humanos quando extremamente
necessários e relevantes, se esses não estiverem pautados em busca por dinheiro e
sim, sejam fruto de altruísmo e fincados na vontade de contribuir para a melhora da
vida daquele que receberá o órgão: demonstração de um sentimento de humanidade
e solidariedade para com outros seres humanos.
O transplante de órgãos é um ato que deve ser protegido e incentivado pelas
autoridades públicas, já que é fundamental para que pessoas em estado precário de
saúde possam ter esperança de melhoria. Mas, para garantir a saúde dessas pessoas,
nunca se poderá permitir que sejam comprados órgãos humanos. Interesses
puramente financeiros, de traficantes modernos, que obtém lucro do desespero e da
pobreza de seres humanos, nunca poderão ser admitidos por países democráticos.
Um órgão humano não pode ser transformado em mercadoria, sujeito a
variação de preço em consequência do mercado, como se fora mero commodity. Seu
valor não é definido pelos mercados, pois é definido como igual para todo ser humano,
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já que é pelo reconhecimento do outro como igual, pela racionalidade, que nos
tornamos membros da Humanidade. Não é possível alguns seres humanos sejam
apartados dessa condição, permitindo-se que outros se aproveitem de suas carências
para lhes retirar o único bem que – todos - temos em comum: a dignidade. Portanto,
é inadmissível que em ordenamentos baseados na dignidade da pessoa humana,
como os dos países civilizados e democráticos, o comércio de órgãos humanos e os
negócios jurídicos dele derivados sejam aceitos pela Lei.

1.2 A dignidade humana e o tráfico de pessoas

A ilustríssima professora Maria Celina Bodin de Moraes, ao refletir sobre a


dignidade humana mediante a perspectiva kantiana, descreve como um dos
desdobramentos do imperativo categórico deste filósofo a regra moral de que age de
tal modo que sempre trate a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de
outrem, como um fim e nunca como um meio.
Segundo Moraes (2003) Kant diferencia duas formas de valores: o preço e a
dignidade, o primeiro como sendo um valor de mercado e o segundo como sendo um
valor moral ligado a pessoa.
No tocante ao tráfico de seres humanos, o que se passa é justamente a
utilização do indivíduo como um meio e não como o fim de aprimoramento da
humanidade em geral. No tráfico de órgãos, esse intuito é ainda mais exacerbado,
uma vez que uma parte do corpo de uma pessoa é vendida por um preço, tal como se
fosse uma mercadoria e não algo intrínseco à sua própria humanidade um preço em
parte de seu ser indisponível e ligado organicamente à sua própria integridade
psicofísica.
O vitimado é considerado como coisa e não como pessoa. Os traficantes se
aproveitam da precariedade econômica e educacional para violar sua dignidade e
submetê-lo à situação semelhante à da coisa que tem seu preço fixado pelo mercado.
O tráfico de pessoas, principalmente o de órgãos, é uma indisfarçável e completa
violação à dignidade, verdadeira derrogação da moralidade e que afasta o nível
civilizatório mínimo já atingido pela Humanidade. É um atentado ao princípio da
solidariedade e da integridade psicofísica, que servem como substrato do valor
jurídico da dignidade humana de acordo com a pesquisa da Dra. Maria Celina Bodin
de Moraes.
16

2 CONCEITUAÇÃO DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS

A conceituação de tráfico de órgãos parte da definição do que venha a ser o


tráfico de pessoas, que foi feito pelo Protocolo de Palermo em 2000, que prevê em
seu art. 3º:

a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a


transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à
ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao
engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à
entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de
exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de
outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços
forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a
remoção de órgãos;
b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista
qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente 29 Artigo será
considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios
referidos na alínea a);
c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o
acolhimento de uma criança para fins de exploração serão considerados
“tráfico de pessoas” mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos
da alínea a) do presente Artigo;
d) O termo “criança” significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito
anos.

Observa-se que esse crime se configura mediante uma ação, que ocorre
através de fraude, engano, sequestro, com o intuito de exploração. Cabe mencionar
que ao tocar nesses assuntos, estamos diante de uma questão moral, migratória,
criminal e de ordem pública. (CORREA DA SILVA, 2013)
Na tentativa de conceituar o tráfico de órgãos, a partir da conceituação do
Tráfico de Pessoas fornecido pelo Protocolo de Palermo, a Organização Mundial da
Saúde fez uma interpretação para a definição do Tráfico de Órgãos, definindo que:

O tráfico de órgãos consiste no recrutamento, transporte, transferência,


refúgio ou recepção de pessoas vivas ou mortas ou dos respectivos órgãos
por intermédio de ameaça ou utilização da força ou outra forma de coação,
rapto, fraude, engano, abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade,
ou da oferta ou recepção por terceiros de pagamentos ou benefícios no
sentido de conseguir a transferência de controlo sobre o potencial doador,
pra fins de exploração através da remoção de órgãos para transplante. (OMS,
2008)
17

Observa-se que ainda resta omissão quanto a correta definição do que venha
ser o Tráfico de Órgãos Humanos. Na tentativa de preencher essa lacuna, a
pesquisadora Simon Fellows estabeleceu a seguinte analogia para se pensar na
temática:

Se uma parte de corpo for usada ou vendida num local diferente do local de
onde foi removida do corpo, então terá ocorrido movimento da parte do corpo.
Tráfico é o ato de movimentar e comercializar algo ilegal. Uma vez que estar
na posse de partes de corpo para fins comerciais é considerado ilegal, este
relatório argumenta que o movimento de uma parte de corpo para venda ou
transação comercial é tráfico de partes de corpo. (2008, p. 10)

Sendo assim, considera-se tráfico de partes de corpo o transporte ou


movimento de uma parte do corpo, seja por uma fronteira ou dentro de um país para
venda ou transação comercial.

3 HISTORICO DAS LEIS SOBRE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS

A primeira Lei a versar sobre questões inerentes de transplante de órgãos


surgiu no Brasil em 1963, a Lei Ordinária nº 4.280, de 06, a qual foi sancionada pelo
presidente João Goulart, decretada no Congresso Nacional (AMARAL, 2017). Ocorre
que, a respectiva Lei versava sobre a extirpação de órgão ou tecido de pessoa
falecida, ou seja, tutelava e regulava a disposição de órgãos e tecidos para fins de
transplante somente de pessoas já falecidas.
Dada a evolução social e as lacunas na Lei anterior, em 1968 foi sancionada a
Lei nº 5.479 no dia 10 de agosto. Ocorre que a Lei ainda só mencionava a disposição
de órgãos de pessoa falecida. Em 1992 houve uma alteração na Lei, mediante a
aprovação da Lei nº 8.489 de 18 de novembro, mas que em pouco mudou as
concepções já anteriormente previstas.
Somente em 2001, com a promulgação da Lei nº 9.434 que ordenamento
jurídico brasileiro admitir o transplante entre vivos, com finalidade tão somente de
tratamento, onde passou a determinar a exigência de testes de triagem para
averiguação de infecções e demais doenças.
O art. 10 da Lei nº 9.434/2001 determina que para ocorrer a doação é
necessário o consentimento expresso do receptor, que deve estar previamente
inscrito em uma lista de espera. (BRASIL, 2001)
18

No mesmo ano de publicação da Lei de Transplante, fora publicado o Decreto


Regulamentador nº 2.268, de 30 de junho de 1997, que trouxe diversas disposições a
respeito do transplante de órgãos e criou o Sistema Nacional de Transplante (SNT)
em seu art. 2º e seguintes. O SNT possui como órgão central o Ministério da Saúde,
como pode ser observado em seu art. 4º. Não obstante, é perceptível o fato de que o
SNT é concentrado e centralizado no âmbito federal, tendo o Ministério da Saúde
condições para controlar todos os procedimentos de transplante realizados no país.
Porém, o Decreto previu também uma forma de desconcentrar as atividades do SNT
para o âmbito estadual. Assim foram criadas as CNDO’s (Centrais de Notificação,
Captação e Distribuição de Órgãos), estando previstas no art. 6º, com atribuições
determinadas no art. 7º.
É importante delinear as funções de cada órgão e em cada âmbito para
identificar a atuação deles em caso de irregularidades nos transplantes e atribuir-lhes
as devidas responsabilidades. Aludido Decreto também trouxe outros aspectos
importantes como demonstra a Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico de
Órgãos da Câmara de Deputados:

• detalha os requisitos exigidos para a autorização pelo Ministério da Saúde


dos estabelecimentos de saúde das equipes especializadas envolvidos na
retirada e transplante de tecidos;
• prevê o envio de cópia do documento de doação de tecidos entre vivos “ao
órgão do Ministério Público em atuação no lugar de domicílio do doador, com
protocolo de recebimento na outra, como condição para concretizar a
doação”;
• aborda o tema da comprovação da morte a ser baseada em Resolução do
CFM, exigindo que um dos dois médicos que atestarem a morte encefálica
tenha título de especialista em neurologia reconhecido no País; (2004, p. 211-
213).

A norma prevê também que os estabelecimentos devem requerer autorização


ao Ministério da Saúde para que possam realizar os transplantes (art. 8º), sendo esta
concedida após a verificação dos requisitos previsto no art. 9º do referido Decreto.
Além disso, os médicos que desejam poder realizar os transplantes necessitam
solicitar autorização, juntando, dentre outros, documentos como certidão negativa de
infração ética, passa pelo órgão de classe em que forem inscritos, conforme artigo
11º.
Apesar da lei n.º 9.434, de 04 de fevereiro de 1997, regulamentar de forma
exaustiva o procedimento cirúrgico de transplante de órgãos obstando ao máximo a
comercialização, a prática vem se mostrando diferente. O sistema implantado no país
19

não supre a necessidade dos receptores em potencial, e vem se mostrando ineficaz


em cumprir com suas finalidades. É o que demonstra, por exemplo, as operações
referentes a transplante de fígado.
Definido o conceito de transplante de órgãos, a própria lei estabelece quando
o mesmo será permitido. Após a análise de seus artigos 9º e 10, é possível perceber
que existem os requisitos gerais, que sempre são necessários, e os requisitos
aplicáveis no caso de o transplante ser antes ou após a morte do doador.

Requisitos gerais:
• Deve ser de forma gratuita;
• Para fins de tratamento;
• Só poderá ser realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado,
e por equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante previamente
autorizados pelo órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde;
• Só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes
de triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos em normas
regulamentares expedidas pelo Ministério da Saúde;

Em caso de transplante após morte:

• A retirada deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica,


constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de
remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e
tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina;
• Dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade,
obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive,
firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à
verificação da morte;
• Se for de pessoa juridicamente incapaz só poderá ser feita se permitida
expressamente por ambos os pais, ou por seus responsáveis legais;
• É vedado transplante de órgãos de pessoa morta não identificada.

No caso do transplante de pessoa viva:

• Somente quando se tratar de órgãos duplos; Ou quando as partes de


órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do
doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não
represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental;
• O transplante não pode causar mutilação ou deformação inaceitável, e deve
corresponder a uma necessidade terapêutica comprovadamente
indispensável à pessoa receptora;
• Somente é permitido para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge
ou parentes consanguíneos até o quarto grau, autorizando mediante
testemunhas especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da
retirada; Ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial,
também com autorização e mediante testemunhas especificando o tecido,
órgão ou parte do corpo objeto da retirada.
20

Em linhas gerais, esses são os principais requisitos para a realização do


transplante de órgãos de forma legal, além de outras especificidades previstas nessa
norma em seus artigos 11 e seguintes.
Observa-se que com o passar do tempo a legislação passou a tratar as
questões inerentes ao transplante e doação de órgãos humanos de modo mais severo
e taxativo. Nessa mesma linha de pensamento, o Conselho Federal de Medicina, a
fim de combater e evitar o tráfico de órgãos por meio do mercado negro, bem como
visando proteger os doadores e os profissionais da área da medicina, elaborou a
Resolução nº 1.391/09, onde passou a prever que as condutas médicas devem ser
dotadas de ética profissional e respeito aos pacientes, o que determina que consiste
em ilegalidade a atuação do médico ou profissional da área em colaborar com esse
tipo de ilícito.

4 A REALIDADE DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS

A área da medicina sempre foi um campo de pesquisas e descobertas para o


homem no intuito de evitar e curar doenças, proporcionando uma vida mais longa e
com qualidade, porém algumas doenças chegaram a debilitar os órgãos, que
passaram a ter a necessidade de ser substituído por outro saudável, foi quando surgiu
a necessidade de transfusão de sangue e transplante de órgãos, que por alguns
momentos foram frustradas até se chegar na descoberta da forma ideal de realizar tal
procedimento, porém foi realmente na década de 50, que se iniciou a era dos
transplantes, por causa da descoberta da importância da compatibilidade genética
entre o doador e o paciente. Na década de 80, foram descobertos os medicamentos
imunossupressores, para evitar a rejeição dos órgãos transplantados nos pacientes e
a partir daí houve mais avanços para evitar cada vez mais a rejeição dos órgãos.
(AMARAL, 2018)
Com toda a descoberta na área de transplante veio surgir o tráfico de órgão,
pois muitos pacientes estavam tão debilitados que não podiam esperar por um doador
e se aventurava no mercado negro. (SILVA, 2015)
Quando falamos em tráfico de órgãos primeiramente temos que saber que
trata-se de crime que envolve a coleta e a venda de órgãos de doadores involuntários
(no caso de indivíduo falecido) ou voluntários, estes devendo ser de forma gratuita,
porém como já descrito acima e que no decorrer do trabalho iremos discutir, muitas
21

vezes esses “doadores voluntários”, acabam vendendo seus órgãos por estarem em
situações extremas e necessitando de recursos. (GOMES, 2014)
Assim define o Tráfico de Pessoas e a modalidade de Tráfico de Órgãos pelo
protocolo de Palermo em seu artigo 3º:

a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a


transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à
ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao
engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à
entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de
exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de
outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços
forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a
remoção de órgãos;
b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista
qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente 29 Artigo será
considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios
referidos na alínea a);
c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o
acolhimento de uma criança para fins de exploração serão considerados
“tráfico de pessoas” mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos
da alínea a) do presente Artigo;
d) O termo “criança” significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito
anos. (SILVA, SOUZA, 2013, p.2)

Destaca-se desta forma, que estamos diante de uma questão moral, criminal,
migratória, de ordem pública, relacionada com o trabalho e com a vulneração de
direitos humanos (SILVA, 2013b, p. 344).
Diante deste conceito, ocorreram diversos debates acerca de tal definição e de
qual forma o tráfico pode se concretizar:

Os meios coercitivos devem estar presentes para caracterizar a situação de


tráfico de pessoas. São eles a ameaça, o uso da força ou outras formas de
coerção, o rapto, a fraude, o engano, o abuso de autoridade, a situação de
vulnerabilidade, a entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para
obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra.
(ALENCAR, 2007, p. 30)

A medicina evoluiu muito e com isso, doenças que antes era considerado uma
sentença de morte, com o avanço da medicina, hoje podem ser curadas muitas vezes.
No entanto, para que isso ocorra, em muitos casos é necessário um transplante do
órgão que está debilitado.
Na maioria dos casos, o tráfico de órgãos ocorre justamente no momento mais
crítico dessas vítimas, onde estão desesperados financeiramente, e não encontram
22

outra saída para resolver a situação. A questão mais preocupante a respeito do tema,
além de todos os demais aspectos, algo relevante é a forma que esse "mercado" se
tornou altamente lucrativo. (BRASIL, 2013)
Primeiramente não podemos deixar de citar que infelizmente, a fila para realizar
os transplantes no Brasil ainda é altíssima. De acordo com a revista Veja (2009), mais
de 70.000 brasileiros estão aguardando por um órgão, quanto mais grave a doença
está, mais prioridade terá na fila de espera.
Segundo a OMS, a cada ano, no mundo são executados cerca de 22 mil
transplantes de fígado, 66 mil transplantes de coração. Cerca de 5% dos órgãos
utilizados nessas intervenções provêm do mercado negro, com um volume de
negócios estimado entre 600 milhões e 1,2 bilhão de dólares. (PELLEGRINI, 2013)
Infelizmente, não temos a fiscalização necessária para monitorar de que forma
são realizados esses transplantes. De acordo com dados da OMS, Organização
Mundial da Saúde, há cinco principais países que lideram o tráfico de órgãos:
Paquistão, China, Filipinas, Colômbia e Brasil. Informa ainda que, só no Irã existem
aproximadamente, 137 agências e 23 clínicas ilegais, focados somente no transplante
de rins. (SALVADORI, 2013)
De acordo com HAYLEY (2013), a cena do crime envolve os seguintes
elementos: um doador, um médico especializado, uma sala de operações e, na
maioria das vezes, também, um receptor próximo, visto que os órgãos não sobrevivem
se ficarem por muito tempo fora do corpo.
Para que ocorra um transplante de uma forma satisfatória é necessário
respeitar o tempo de isquemia, que consiste o tempo de retirada do órgão do doador
para o transplante no receptor. Os órgãos têm tempo de isquemia diferenciado: o
coração é de 4 horas, o pulmão é de 4 a 6 horas, o rim é de 48 horas, e o fígado e o
pâncreas são de 12 horas. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019)
A Constituição Federal no seu artigo 1º, inciso III garante a dignidade da pessoa
humana, a proteção de direitos e garantias fundamentais. A dignidade é a base da
Constituição, vedando qualquer tipo de comercialização de órgãos e tecidos ou corpos
inteiros. (SILVA, 2015)

Art. 1, inc. III da Constituição Federal de 88


Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
23

uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia


social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;

O Brasil vive uma angústia muito grande quando se trata de transplantes de


órgãos. Há milhares de pessoas na fila por um órgão e o número cresce todos os dias.
(SILVA, 2015)
De acordo com dados da ABTO, Associação Brasileira de Transplante de
Órgãos, o rim é disparado o órgão mais transplantado, com 1.287 cirurgias feitas só
neste primeiro trimestre de 2016, enquanto logo depois está o fígado com 419
cirurgias de transplante. Isso ocorre, pois é mais fácil encontrar doadores, já que o ser
humano possui dois rins. Porém, maior que o número de cirurgias é o número de
pessoas na lista de espera, visto que, no Brasil, existem cerca 19.800 inscritos para
transplante de rim e 1.400 para fígado, sendo que totalizam 33.237 pessoas à espera
por um órgão, entre pacientes adultos e pediátricos. (BITTENCOURT, PAZÓ, 2017)
Talvez pela sua "praticidade" em efetuar tal irregularidade, ou melhor,
considera-se crime qualquer tipo de tráfico de órgão, no entanto a facilidade na
retirada de um rim por farsantes é muito realizada. Isso não quer dizer que não exista
médicos por trás desses esquemas, como já se esclareceu em todo decorrer do
presente trabalho e não são poucos os casos. Ressalta-se que para os traficantes,
pouco importa o que irá acontecer com os "doadores", o importante é preservar no
máximo, o referido órgão para que posteriormente, possa ser repassado aos
compradores, prática muito adotada em decorrência de sempre ter um comprador
apto a receber tal órgão. (SILVA, 2015)
De acordo Silva, Souza (2013), o tráfico de órgãos no Brasil e a lei nº 9.434/97,
que a comercialização de órgãos atingiria diretamente o Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, pois aqueles que possuem melhores condições econômicas e
sociais, jamais venderiam seus órgãos.
A Lei nº 9.434/97, que cuida da disposição de tecidos e órgãos do corpo
humano, elenca nos artigos 14 à 20 vários tipos penais referentes a condutas
relacionadas com remoção, compra, venda transporte, guarda ou distribuição de
24

órgãos humanos, bem como a realização de transplante ou enxerto sabendo que as


partes do corpo humano foram obtidas em desacordo com a lei. (JÚNIOR, 2016)
Por se tratar de uma lei especial, cuidando especificamente de uma conduta
humana, há relação de especialidade e, consequentemente, a lei especial afasta a
incidência da norma geral. É a regra lex specialis derrogat lex generali. O novo tipo
penal passa a ser mais completo e atende prontamente a necessidade legal.
“Considera-se especial, adverte e ensina Toledo, (lex specialis) a norma que contém
todos os elementos da geral (lex generalis) e mais o elemento especializado. Há, pois,
em a norma especial um plus, isto é, um detalhe a mais que sutilmente a distingue da
norma geral”. (JÚNIOR, 2014)
"Portanto, salienta Diniz (2006) que é possível juridicamente a disposição
gratuita do corpo humano, renováveis (leite, e sangue, medula, óssea, pele, óvulo,
esperma, fígado) ou não, para salvar a vida ou preservar a saúde do interessado ou
de terceiros ou para fins científicos ou terapêuticos."
Nesse mercado existe até uma tabela de preços que orienta a comercialização
de partes do corpo humano entre os países. Um coração vale R$ 100 mil, um rim R$
80 mil e as córneas chegam a custar R$ 20 mil. Vende-se de tudo. (RODRIGUES.
2009)
"Há ofertas de fígado, pulmão e até do cadáver inteiro", denuncia Elida. "Na
maioria dos casos, os traficantes comercializam na internet". (SANTOS, Elida, 2009).
Para Zaffaroni e Pierangeli: Os sujeitos podem ser ativos e passivos. Sujeito
ativo é o autor da conduta típica. Sujeito passivo é o titular do bem jurídico tutelado.
O sujeito passivo da conduta pode não ser o sujeito passivo do delito; aquele que
sofre os efeitos do ardil ou engano no estelionato pode não ser necessariamente o
que sofre os efeitos lesivos do patrimônio. (PIERANGELI, ZAFFARONI, 2002, p. 475).
Em se tratando especificamente sobre o crime de Tráfico de Órgãos,
considerando a doutrina clássica, pode-se afirmar que: Neste caso o sujeito ativo da
ação poderia ser qualquer pessoa. Desde pessoas físicas a funcionários públicos,
médicos, enfermeiros, familiares, enfim, qualquer pessoa. (SILVA, SOUZA, 2013)
O sujeito passivo neste caso poderia ser dois. Se tratarmos do tráfico de órgãos
intervivos será a própria pessoa que teve seu órgão retirado, porém se tratar do tráfico
de órgão post mortem, será a família do morto. (BUONICORE, 2011, p. 20).
25

5 DO CRIME DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS

Antes da análise do crime de tráfico de órgãos propriamente dito, faz-se


necessário fazer alusões sobre os crimes previstos na Lei nº 9.434/97. A referida lei
prevê como crime as condutas elencadas nos arts. 14º ao 20º, que são:

• remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em


descordo com as disposições da referida lei;
• comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano;
• promover, intermediar, facilitar ou auferir qualquer vantagem com as
transações do delito anterior; realizar transplante ou enxerto utilizando
tecidos, órgãos ou partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido
obtidos em desacordo com os dispositivos da lei;
• recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do corpo humano de que
se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta
da lei;
• realizar transplante ou enxerto em desacordo com o disposto no art. 10º da
lei e seu parágrafo único;
• deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto condigno, para
sepultamento ou deixar de entregar ou retardar sua entrega aos familiares ou
interessados; e
• publicar anúncio ou apelo público em desacordo com o disposto no art. 11º
da lei.

Cabe mencionar a necessidade de se observar cada delito de modo individual,


uma vez que da análise dos núcleos de cada tipo penal é notória a intenção em tutelar
o princípio basilar dos Direitos Humanos e dos Direitos Fundamentais: a dignidade da
pessoa humana, prevista no art. 1º, III da Constituição Federal e na Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948), a Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do homem (1948), o Pacto internacional sobre direitos civis e políticos (1966),
a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher
(1979), a Convenção das Nações Unidas sobre a tortura (1984) e na Convenção sobre
o direito das crianças (1989). (TONIAL, 2008)
Ao elencar condutas que só são, ou podem vir a ser, praticadas em cadáveres,
os quais em nada sentirão o peso dos referidos atos, e criminalização a disposição
voluntária e onerosa das partes do corpo humano, constata-se que o princípio
resguardado e garantido pela referida norma, que é o princípio da dignidade da pessoa
humana.
O filósofo que preconizou o conceito da Dignidade da Pessoa Humana foi
Immanuel Kant, defendendo a ideia de que as pessoas deveriam ser tratadas com um
fim em si mesmas, e não como meio, formulando o princípio de que "no reino dos fins,
26

tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser
substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo
preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade"
(KANT, 2004, p. 65). Nesse diapasão, aponta Ingo Wolfang Sarlet que a Dignidade
Humana “não pode ser definida de forma fixista, ainda mais quando se verifica que
uma definição dessa natureza não harmoniza com o pluralismo e a diversidade de
valores que se manifestam nas sociedades democráticas contemporâneas” (2012, p.
51-52). Para o referido autor:

“(...) temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e


distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando
neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e
desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas
para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa
e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão
com os demais seres.” (SARLET, 2012, p. 73).

Nesse sentido, o comércio de órgãos afetaria diretamente o princípio da


dignidade da pessoa humana, haja vista que os que possuem melhores condições
financeiras e sociais, jamais venderiam seus órgãos. Como já demonstrado acima, a
pessoas que vivem em países mais desenvolvidos recorrem aos subdesenvolvidos
para a compra de órgãos. Ou seja, a pessoa que dispõe de parte do seu corpo de
forma onerosa está em situação de vulnerabilidade que fere sua dignidade humana,
necessariamente menos digna que o do comprador/receptor.
A concepção de que o crime de Tráfico de Órgãos não ocorre somente de modo
esporádico ou espontâneo, trata-se de um crime que aproveita da condição
vulnerabilidade social alheia para a obtenção de alguma vantagem. De fato, é uma
exploração de outrem.
O art. 15 da Lei de Transplantes prevê como crime a conduta de compra e
venda de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, conferindo a pena de reclusão
de três a oito anos e multa de 200 a 360 dias-multa. Ademais, o parágrafo único
determina que incorrem nas mesmas penas as condutas de promover, intermediar,
facilitar ou auferir qualquer vantagem com a transação. Dessa forma, conforme a
redação do artigo, o sujeito que vende o próprio rim a outrem, consiste em ser
criminoso também, e não a vítima do delito. Sendo assim, é necessário saber que é
27

uma hipótese de crime sem vítima, ou sem ofendido. Portanto, é necessário analisar
o sujeito ativo e passivo no delito de tráfico de órgãos.
A posição doutrinária acerca da temática é bem escassa, tendo somente a
doutrina clássica penalista. Segundo Zaffaroni e Pierangeli os sujeitos podem ser:

[...] ativo e passivo. Sujeito ativo é o autor da conduta típica. Sujeito passivo
é o titular do bem jurídico tutelado. O sujeito passivo da conduta pode não ser
o sujeito passivo do delito; aquele que sofre os efeitos do ardil ou engano no
estelionato pode não ser necessariamente o que sofre os efeitos lesivos do
patrimônio. (PIERANGELI e ZAFFARONI, 2002, p. 475)

Levando em consideração somente o Tráfico de Órgãos, a partir da doutrina


clássica, afirma-se que:

Neste caso o sujeito ativo da ação poderia ser qualquer pessoa. Desde
pessoas físicas a funcionários públicos, médicos, enfermeiros, familiares,
enfim, qualquer pessoa. O sujeito passivo neste caso poderia ser dois. Se
tratarmos do tráfico de órgãos intervivos será a própria pessoa que teve seu
órgão retirado, porém se tratar do tráfico de órgão post mortem, será a família
do morto. (BUONICORE, 2011, p. 20).

Levando em consideração que o sujeito passivo do delito é o portador do bem


jurídico tutelado que fora ofendido, e que esse bem tutelado é a dignidade humana,
haja vista o indivíduo que vende o próprio órgão nos moldes do art. 15 da Lei nº
9.434/97 é sujeito ativo e passivo do crime ao mesmo tempo. Ou seja, o mesmo
comete um crime contra si mesmo.
Em contrapartida, a jurisprudência se posiciona de forma particular a depender
do caso concreto. Na conhecida Operação Bisturi, onde pessoas eram aliciadas para
venderem seus rins e foram indiciadas no art. 15. O Juízo de Primeiro Grau da Sessão
Judiciária de Pernambuco considerou que elas ostentavam somente a qualidade de
vítima. No julgado o juízo entendeu que o consentimento delas para que tivessem
seus órgãos removidos era viciado, em face da vulnerabilidade econômica que lhes
pertencia. (RECIFE, 13ª Vara da Seção Judiciária de Pernambuco, Ação Penal n.º
2004.83.00.1511-2, Juíza Federal: AMANDA TORRES DE LUCENA DINIZ ARAUJO,
2004, p. 11)
Ademais, o julgado entendeu ser a conduta atípica e antijurídica, baseado no
art. 23, I e 24 do Código Penal. Ainda, entendeu-se que a conduta não configurava
como criminosa, segundo a seguinte justificativa:
28

(...) a verdadeira mens legis, ao incriminar a conduta de quem vende órgão


do próprio corpo, é a de que deve ser responsabilizado aquele que voluntária,
livre e conscientemente, estando perfeitamente ciente das consequências de
seu ato e por iniciativa sua, faz de seu corpo objeto de mercancia,
"coisificando" a dignidade humana. 81. No caso em questão, com efeito, as
pessoas ora apontadas como sujeitos ativos do delito de vender partes do
corpo, na verdade, são apenas sujeitos passivos da conduta daqueles que
compraram seus rins valendo-se do consentimento viciado por eles emitido,
o qual, por conseguinte equivale à ausência de consentimento.
82. Tratam-se, pois, de vítimas do tráfico de seres humanos desbaratado no
caso, às quais não reservam os ordenamentos jurídicos dos países qualquer
punição, mas sim, ao revés, proteção. (RECIFE, 13ª Vara da Seção Judiciária
de Pernambuco, Ação Penal n.º 2004.83.00.1511-2, Juíza Federal: AMANDA
TORRES DE LUCENA DINIZ ARAUJO, 2004, p. 12).

Sendo assim, é possível concluir que em face da enorme ineficácia do


ordenamento jurídico brasileiro no que tange a tutela da venda de órgãos por parte de
vulneráveis, e a omissão deste no tocante ao tráfico de pessoas para fins de remoção
de órgãos, o julgador se vê obrigado a não aplicar a lei em seu sentido literal com a
finalidade de não apenar as verdadeiras vítimas do crime.

5.1 Tipificações legais do Tráfico de Órgãos

A atual desenvoltura dos traficantes faz com que os relatos e notícias sobre o
tráfico de órgãos pareçam mais críveis, já foram ouvidas testemunhas que narraram
a retirada de órgãos de paciente de hospital ocorrida em elevador, em operação que
durou poucos minutos. Certamente que isso não seria possível sem a participação
direta de médicos e de outros profissionais de saúde.
O tráfico de órgãos, no passado, era estruturado sobre doadores
imediatamente mortos. Fora da esfera da legalidade, havia notícias de pessoas
falecidas que tinham seus órgãos subtraídos clandestinamente para fins de pesquisa
científica, ou cadáveres de mendigos desviados de tumbas comuns e vendidos a
laboratórios e escolas de Medicina.
O comércio de órgãos humanos vale-se dos avanços da Medicina em relação
aos transplantes, assim como dos meios técnicos difundidos pela globalização. O
desenvolvimento da técnica cirúrgica não é mais monopólio de países desenvolvidos,
e isso facilita que profissionais ligados ao tráfico realizem transplante de órgãos entre
pessoas vivas.
Nesse contexto, pessoas de estratos sociais marginalizados são seduzidas a
venderem órgãos a preços módicos e em condições de risco que ignoram. Por sua
29

condição educacional e social, não têm consciência das consequências da disposição


de partes de seus corpos, o que agride a sua saúde e o seu bem-estar. A contrapartida
pecuniária tem utilidade provisória, embora permita lucro significativo e duradouro
para os criminosos que intermedeiam seus órgãos no meio internacional.
Quando tratamos do tema Tráfico de Órgãos, é importante atentar-se que no
Brasil, não há uma tipificação legal no Código Penal, isso quer dizer que, passa a ser
enquadrado no crime de Lesão Corporal o que não seria o correto visto que
enquadrado desta forma, os responsáveis respondem por um delito muito menor e
com a pena bem reduzida do que de fato deveria ocorrer. Assim prevê acerca de
Lesão Corporal no Código Penal (BASTOS, 2008):

Lesão Corporal Grave

§ 1º Se resulta:
I – Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II – perigo de vida;
III – debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV – aceleração de parto.

Pena – reclusão, de um a cinco anos.

§ 2º Se resulta:
I – Incapacidade permanente para o trabalho;
II – enfermidade incurável;
III – perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV – deformidade permanente;
V – aborto.

Pena – reclusão, de dois a oito anos.

Bem como o tráfico de drogas, o tráfico de órgãos também se trata de uma


prática ilegal. De acordo com a OMS – Organização Mundial de Saúde foi apurada
5% utilizados nas intervenções vêm do mercado negro e provêm das famílias mais
carentes que se veem obrigados a vender para sua subsistência. (SALVADORI, 2013)
De acordo com a imprensa de Minas Gerais, há médicos que formavam uma
equipe para realizar a remoção e transplante de órgãos irregularmente, ocorreu em
um dos casos um diagnóstico forjado de morte encefálica. (JUNIOR, 2014)
No Brasil, a doação de tecidos é realizada em inter vivos, sendo devidamente
autorizado pelo próprio doador desde que capaz, ou de representante legal que
autorize e que a doação seja de órgãos duplos, assim como é o caso dos rins que
atualmente é o órgão mais transplantado. Ainda prevê a possibilidade de doação de
tecidos renováveis do corpo humano, para fins terapêuticos ou para transplantes em
30

cônjuge, parentes consanguíneos até o quarto grau, ou qualquer outra pessoa, desde
que com autorização judicial, no entanto, no caso de medula óssea dispensa-se essa
obrigatoriedade. Lembrando que em qualquer hipótese, a prática deverá ser gratuita,
em razão do disposto no artigo 199, § 4º da Constituição Federal e ainda de acordo
com o artigo L. º da Lei 9.434/97. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019)
Por outro lado, a doação post mortem será realizada, mediante autorização do
cônjuge ou parente capaz, de linha reta ou colateral até o segundo grau em razão de
morte encefálica provocada pela cessação das células responsáveis pelo sistema
nervoso central. (BITTENCOURT, TORMIN, 2015)
Muitos parentes de pessoas falecidas não querem fazer a doação de órgãos
por falta de conhecimento. As famílias acham que só pelo fato de o paciente está com
o coração batendo existe a chance de ele sobreviver, o que é puro engano, é
declarada morte encefálica quando for constatada a morte do cérebro, por outro lado
pensam que por causa da retirada do órgão para doação pode deformar o corpo do
falecido, na verdade isso não acontece. (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2019)
Assim prevê o artigo 211 do Código Penal, in verbis: “art. 211 Destruir, subtrair
ou ocultar cadáver ou parte dele”.
De acordo com o autor Diniz (2006), que: “Portanto, é possível juridicamente a
disposição gratuita do corpo humano, renováveis (leite, e sangue, medula óssea, pele,
óvulo, esperma, fígado) ou não, para salvar vida ou preservar a saúde do interessado
ou de terceiros, ou para fins científicos ou terapêuticos. ”
Ainda observando o artigo 9.434/97, elenca vários tipos penais referente a
condutas relacionadas com remoção, compra, venda, transporte, guarda ou
distribuição de órgãos humanos, bem como a realização de transplante, enxerto
quando em desacordo com a lei. (JÚNIOR, 2016)
No Código de Ética Médica, no seu artigo 46, veda o médico de: “participar
direta ou indiretamente de comercialização de órgãos ou tecidos humanos”. Trata-se
este artigo referente ao ato de remoção do médico cirurgião. (BITTENCOURT,
TORMIN, 2015)
Quanto à questão ético-legal dos médicos que se envolvem nessas cirurgias,
contrapomos o regulamento profissional da área médica, Resolução CFM nº 1246/88
– “Código de Ética Médica”.
31

“Art. 6º - O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando
sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus conhecimentos para
gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para
permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.”

Os princípios ético-legais da profissão, contidos neste dispositivo, são


claramente opostos à conduta do médico participante de comércio de órgãos.
O benefício ao paciente a que alude a lei não é o econômico e, sim, relativo à
sua saúde e bem-estar, essa premissa está explícita em outro dispositivo:

“Art. 9º - A Medicina não pode, em qualquer circunstância ou de qualquer


forma, ser exercida como comércio”.

A participação no comércio de órgãos humanos é vetada aos profissionais da


medicina, sendo ilegal qualquer forma de fazer essa digna profissão atender a
interesses mercantis.

“Art. 42 - Praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela


legislação do País.”

Esses e outros dispositivos reforçam a norma proibitiva do auxílio de médicos


em transplantes de órgãos e sangue, quando fundados em contraprestações
monetárias, pois o art. 15 da lei 9.434/94 proíbe e penaliza, a conduta de comprar ou
vender tecidos órgãos ou partes do corpo humano; o parágrafo único dessa lei
prescreve que incorre no crime quem facilita ou aufere vantagem com a transação.
Mesmo que esses dispositivos proíbam os médicos de atuar comercialmente
com órgãos humanos, o Conselho Federal de Medicina, ciente da lesividade social
dessa conduta, dita norma específica ao caso:

“Art. 75 - Participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos ou


tecidos humanos”.

Observa-se, portanto, que toda a conjuntura normativa tende a tutelar a


dignidade da pessoa humana, ao proteger o corpo humano por completo, vedando a
disposição de seus órgãos como meio de obtenção de remuneração.
32

5.2 Tráfico de Órgãos no âmbito brasileiro

Aqui no Brasil só foi em 1964 que foi feito o primeiro transplante de rim de um doador
post mortem, na cidade do Rio de Janeiro, em um Hospital Publico e em 1965, ocorreu
o primeiro transplante de rim em doador inter vivo, no Estado de São Paulo, foi quando
houve a precisão de criar uma legislação para evitar o tráfico de órgão no pais.
(AMARAL, 2017)
De acordo com diversas investigações, há relações de boa parte dos
desaparecimentos ou homicídios de crianças e jovens com o tráfico de órgãos.
Recentemente, a ONU – Organização das Nações Unidas, de cinco a 10 por cento
dos cerca de 68 mil transplantes anuais de rins realizados, decorrem de ações
criminosas. Aqui no Brasil, as populações mais humildes cedem seus órgãos em troca
de dinheiro para suprir suas necessidades básicas e muitas vezes para manter suas
famílias. O país é o segundo maior país que mais realiza transplantes renais em todo
o mundo, consequentemente, é um grande fornecedor de órgãos no mercado
clandestino. (TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL, 1990)

"As pessoas pobres, por falta de condição econômica, por exemplo um pobre
que tenha um rim perfeitamente saudável, e tem um filho doente. Ele precisa
de dinheiro para tratar do filho, ele vende o seu rim para conseguir recursos,
ou pagar a hipoteca da casa etc. Isso é absolutamente inadmissível sob o
ponto de vista do filósofo Kant, que foi o grande filósofo da história da ética,
que o ser humano é um fim em si mesmo, jamais um meio para se chegar a
um fim. Isso vulnerabiliza. Jamais uma pessoa rica vai vender o seu rim para
um outro rico. Quem vai vender é o pobre. A legislação tem que proteger o
mais vulnerável, e não tornar mais vulnerável esse vulnerável" (CAMARA
DOS DEPUTADOS, 2006)

As pessoas chegam a ser ameaçadas de morte caso venha denunciar o tráfico


de órgãos, como também os próprios profissionais da saúde são ameaçados pelos
parentes das vítimas, de deixarem morrer para ter os órgãos para doar.
Sendo assim, o governo com o intuito de inibir criou o Sistema Nacional de
Transplantes, onde existe uma fila de espera para transplantes. São pessoas
cadastradas que possuem deficiência em algum órgão que precisa de transplante,
ficam na fila a espera de um doador. (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2019)
33

CONCLUSÃO

Diante de todo o exposto no presente trabalho, observa-se que por se tratar de


um “negócio” altamente lucrativo, os traficantes de órgãos estão mais interessados
em ingressar nessa atividade, aproveitando-se da fragilidade financeira das vítimas
que como podemos analisar muitas vezes ocorre a morte destas.
Jamais estaremos preparados para a morte de um ente querido, no entanto,
quando sabemos que este teria a vontade de doar seus órgãos pós morte com o
objetivo de ajudar a salvar vidas de outras pessoas que necessitam é gratificante. Isso
porque, desta forma é possível ajudar pacientes que estão há anos na fila de espera
e que muitas vezes não tem esperanças de conseguir um órgão para ser
transplantado.
A oferta de órgãos ainda é pequena frente aos altos números de pessoas
aguardando ansiosamente na fila de espera. Desta forma, os traficantes viram a
oportunidade para criar um mercado altamente lucrativo, aproveitando-se das
pessoas que mais necessitam e realizando procedimentos totalmente clandestinos,
colocando em risco a vida destes.
A melhor forma de combater o tráfico de órgãos seria a maior conscientização
da população que faz se necessário acerca da doação de órgãos, e assim, reduzindo
o alto número de compra e venda clandestina de órgãos.
34

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