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Universidade Federal da Bahia

Curso Ciências Biológicas


Disciplina Bioética- BIOA66

Ana Vitória Lima Pereira


Bruna Bispo Oliveira
Camila d’Afonseca Correia
Sara Alana Ferreira Rios
Vanessa Sanderli Farias da Silva

Análise do Trafico de Órgãos no Brasil

Salvador-BA
2023
1- Introdução;

O transplante de órgãos é um processo cirúrgico baseado na transferência de órgãos ou


parte destes para serem utilizados em procedimentos terapêuticos nos seres humanos
visando melhorar as condições de vida (SANTOS; NOVAIS, 2022). O surgimento de tal
prática data tempos mais antigos, registrados desde a Idade Média com as primeiras
tentativas de transportar ossos e estendida até o contexto hodierno com a evolução da
medicina ligado ao avanço tecnológico científico (SANTOS; NOVAIS, 2022).
se
O principal controle e monitoramento de doação de órgãos de dá pelo Sistema Nacional
de Transplantes (SNT), que fiscaliza - em cada unidade federativa - as centrais de
receptação de doadores. Os protocolos seguidos vão desde a correta verificação da
cadeia de doação - em casos de transplantes inter vivos - e da constatação da morte
encefálica do paciente - em casos de transplante post mortem -, ao transporte do
órgão/tecido e ao acompanhamento do paciente depois de transplantado.

Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a espera na fila


para receber o órgão transplantado é alta - em comparação com outros países - e está
longe de ser um sistema ideal. Apesar dos protocolos rígidos, o tráfico de órgãos no
Brasil é uma realidade constantemente combatida pela Polícia Federal e o judiciário.

No Brasil, a lei de n. 9.434 de 04 de fevereiro de 1997 - conhecida como Lei de


transplantes - é responsável por regulamentar a doação de órgãos no país. O Sistema
Único de Saúdent (SUS) é, atualmente, o único canal de transplantes legalmente
regularizado e permitido em território brasileiro, e é vedada a comercialização de
tecidos e órgãos humanos no Brasil.

A carência de órgãos resultante da procura superior à oferta devido a quantidade


limitada de doadores existentes está relacionada ao tráfico de órgãos, crime de alta
incidência à escala mundial (ROCHA, 2022). O tipo penal da comercialização de órgãos
humanos é descrito no artigo 15 da da lei 9.434, em que a compra ou venda de tecidos,
órgãos ou parte do corpo humano pode levar a pena de três a oito anos de prisão
(MIRANDA, 2004).

2- Desenvolvimento;

Moraes (2008) relata que o processo da decisão da doação de órgãos pelos familiares se
inicia já na internação do paciente, a compreensão do estado grave do familiar internado
é importante, os profissionais da saúde devem prestar atendimento à família ao relatar
de forma esclarecedora a gravidade do quadro; O mau esclarecimento do estado do
paciente pode tornar o processo familiar mais complicado, a família pode acreditar
numa recuperação irreal. O autor revela que os familiares devem ser informados de
todos os processos da morte encefálica (ME) , desde a suspeita até o diagnóstico;
Depois da comprovação clínica e gráfica da ME, a equipe médica do hospital solicita a
doação dos órgãos para os familiares que respondem legalmente pelo potencial doador.

As intercorrências durante a assistência familiar no esclarecimento do quadro do


potencial doador são fatores agravantes na recusa da doação (FLORES; 2023). A falta
de informação ou compreensão do diagnóstico da ME , o medo do tráfico de órgãos, a
discordância entre os membros da família, desconhecimento sobre a vontade do
potencial doador e o desejo de manter o corpo íntegro também são fatores a considerar
durante a análise dos motivos da recusa ( ROSÁRIO; 2003).

A doação de caráter presumido e consentido entra em conflito ético a respeito de


transplante de órgãos uma vez que a doação consentida é vista como garantia de um
processo seguro que resguarda a família do falecido e os profissionais, no entanto, a
doação de caráter presumido preserva a autonomia e combate a recusa familiar,
otimizando o aumento da taxa de doação no país (VICTORINO, VENTURA; 2017).
Assim, modificações na legislação atual baseadas na teoria principialista da bioética que
possibilitasse o falecido exercer sua vontade a partir de conhecimento prévio da situação
seria uma forma de garantir execução e respeito à sua autonomia.
(VICTORINO,VENTURA; 2017).

A falta de informações sobre a doação que ocorre devido à ineficácia das atuais
agente pertinente na
campanhas exibidas, se torna um relevante agente da recusa dos potenciais doadores e
seu núcleo familiar, o público demonstrou considerar as campanhas “ruins” e
“emotivas”, apesar da compreensão sobre a importância do incentivo ( REZENDE ;
2015)

O principal problema quanto ao transplante de órgãos está no desequilíbrio entre a


oferta e demanda, que com o déficit do sistema na esfera mundial acaba favorecendo a
atuação do tráfico. As populações mais vulneráveis acabam se submetendo a situações
de perigo em troca de compensações financeiras que as ajudem a melhorar suas
condições de vida. Por outro lado, os que se beneficiam são aqueles mais afortunados,
com o poder aquisitivo maior, capazes de “comprar” sua saúde(SANTOS; NOVAIS,
2022). Seguindo esse ponto, os principais países que atuam na importação e exportação
são representados na figura abaixo.
Figura 1. Principais países e rotas relacionadas ao tráfico de pessoas.

Fonte: Coimbra (2009)

A criminalidade cresce através dos traficantes de órgãos, fazendo com que o Tráfico de
Órgãos se torne, hoje, o terceiro crime mais rentável no mundo, perdendo somente para
o tráfico de drogas e de armas, segundo a Polícia Federal, conforme explica Celso Galli
Coimbra, em seu artigo “Tráfico de órgãos é terceiro crime organizado mais lucrativo
no mundo, segundo Polícia Federal”, afetando mais de 20 milhões de pessoas e
movimentando de US$ 7 milhões a US$ 12 milhões a cada ano (COSTA, 2017).

Apesar dos desafios para a doação de órgãos, o Brasil ocupa o posto de 2° maior
transplantador de órgãos do mundo, fato que não parece impedir a atuação das
organizações criminosas que vêem o tráfico de órgãos como uma nova nova modalidade
para comercializar pessoas (CASTRO, 2021). O tráfico de órgãos pode ser visto como
uma modalidade contemporânea do comércio de pessoas, que atinge as populações mais
pobres ao redor do mundo em face da saúde das pessoas que têm condições financeiras
para manter seu bem-estar (CASTRO, 2021).

3- Discussão

O caso considerado zero no Brasil foi o Caso Pavesi, segundo consta nos casos de
repercussão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), no qual uma criança de 10
anos teve os órgãos traficados após uma sucessão de erros de diagnóstico (COSTA,
2017).

Paulo Airton Pavesi em seu Blog: “A verdade. Nada mais que a verdade.” mostra a
dimensão do tráfico de órgãos: O tráfico de órgãos não só aquele que estamos
acostumados a pensar que existe, como por exemplo, o paciente que é levado à morte
em um hospital público para que os órgãos sejam vendidos, ou ainda uma criança
raptada para tais fins. Se um paciente está em primeiro lugar na fila,não há motivos para
que se prolongue a espera por meses. Significa que alguém pagou para obter um órgão
prejudicando aquele que tem direito. Isto também é tráfico de órgãos (COSTA, 2017).

A falta de impunidade no âmbito do tráfico de órgãos, precariza a segurança tanto dos


doadores quanto dos pacientes em geral. As medidas punitivas devem ser eficazes para
a redução do crime a longo prazo, assim, autores de crimes como o do caso Pavesi
sejam devidamente punidos e impossibilitados de atuar na área de saúde. Os casos
devem ser amplamente divulgados, para que sua frequência seja analisada, discutida e,
possivelmente, tranquilizar a população. E assim, no futuro, aconteça raramente.

A reestruturação das campanhas e divulgação para o incentivo da doação de órgãos é


essencial, especialmente através de ações educativas. Além disso, evidenciar o respeito,
a preservação da dignidade e a importância para com o doador e sua decisão, que deve
ser apresentada a todos os indivíduos a partir da renovação da identidade nacional aos
18 anos, sendo possível alteração durante todo o período de vida.

A capacitação da equipe hospitalar para com o paciente e os familiares determina a


decisão sobre a recusa ou aceitação da doação. O tato durante esta relação é um além de
solidário e empático, pode se tornar um fator determinante. A educação e incentivo da
doação de órgãos deve acontecer também no ambiente hospitalar, durante a internação,
com a cautela e paciência necessários para tranquilizar a família sobre a opção.

O desenvolvimento da prática do xenotransplante ( transplante de órgãos interespécie),


junto à tecnologia envolvida, pode ocasionar, a longo prazo prazo resolução para a
demanda irregular a quantidade de doadores humanos, desde que também de forma
ética e a preservar em maior escala, os ecossistemas e os seres vivos.

O texto está ótimo e muito bem argumentado.

Ainda na introdução, acho legal que vocês comecem falando do transplante de órgãos, a definição e legislação relacionada a isso.
Porém, no terceiro parágrafo, o assunto do tráfico de órgãos em si, acredito que possa ser melhor introduzido. Porque vocês tão
falando da fila de transplante e introduziram posteriormente as informações referentes ao tráfico ser uma realidade. Talvez seja
interessante pegar a informação do quinto parágrafo, que explica justamente que o tráfico está relacionado com a carência de
doadores, para em seguida falar dessa realidade, acho que fica mais coeso. Uma outra opção seria simplesmente tirar essa frase
que cita o tráfico desse terceiro parágrafo e jogar pro quinto, para que o assunto fique linear.

No desenvolvimento, no primeiro parágrafo, eu sugiro a retirada do ponto e vírgula no primeiro período, e trocaria por um ponto e
iniciaria a frase seguinte com um conectivo, por exemplo “Nesse sentido, por conseguinte, dessa maneira”. Também sugiro o uso
desses conectivos no início de alguns parágrafos ao decorrer do trabalho para ajudar a conectá-los.
REFERÊNCIAS

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em: https://doi.org/10.51891/rease.v8i11.7837. Acesso em: 24 nov. 2023.
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DONORS IN AN ADULT EMERGENCY ROOM: A CONVERGENT CARE
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ROSÁRIO, E. N. DO . et al.. Recusa familiar diante de um potencial doador de órgãos.
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