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Rafael do Nascimento
Tainá Madrini
2016
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Sumário
1. Introdução ................................................................................................................................ 3
2. Compra e Venda de Órgãos no Mundo ................................................................................... 4
3. Preço Zero x Legalização da Venda ........................................................................................ 5
4. Opinião dos Brasileiros ........................................................................................................... 6
5. Doação de Órgãos no Brasil .................................................................................................... 9
5.1. Condições para Doação e Transplante ........................................................................... 14
6. Entrevista ............................................................................................................................... 16
6.1. Transcrição do depoimento de Higor Colozzo Ramos, 18 anos .................................... 17
6.2. Transcrição do depoimento do Dr. Sckandar Mussi Junior ........................................... 17
7. Conclusão .............................................................................................................................. 18
Referências .................................................................................................................................... 19
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1. Introdução
O comércio ilegal de órgãos viola os direitos humanos fundamentais e é proibido pelo
Artigo 199, § 4.º da Constituição Federal Brasileira; neste dispositivo diz que a remoção de
órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante poderá ser realizada desde que
não haja comercialização. Apesar de ser proibido, o tráfico existe em vários países, dentre outros
motivos, por conta da ganância da população e a falta de ética dos profissionais da medicina.
O jornal The Washington Post diz que temos que estar cientes de que a venda de órgãos
causa danos tanto para as famílias dos vendedores quanto para a sociedade. A matéria diz que a
venda de rins é uma passagem (in)segura para a liberdade em países como a Síria, Índia, Sri
Lanca, Cazaquistão, Moldávia, Ucrânia, Brasil, Filipinas e Turquia. Em Manila, por exemplo, a
venda de rins visando a parte financeira é uma obrigação passada de pai para filhos.
A revista explica ainda que na China, no Paquistão, nas Filipinas, no Norte de África ou
na América Latina, é relativamente fácil obter uma peça vital. Pouco tempo depois, o
transplantado retorna ao seu país com um órgão novo e uma esperança de vida renovada. O que
ocorre aqui é o “turismo de transplantes”. Esse “turismo” é responsável por 5 - 10% dos órgãos
transplantados e grande parte dos “turistas” são dos Estados Unidos, Japão e de Israel, mas
existem europeus da Inglaterra, Alemanha e Holanda.
O tráfico de órgãos tem como objetivo o comércio ilegal de órgãos humanos, visando o
transplante; isso ocorre, dentre outros fatores, pela escassez de doadores. As vítimas dos
traficantes podem ser sequestradas, algumas vendem seus órgãos por necessitarem de dinheiro e
outras passam por intervenções cirúrgicas e têm algum órgão retirado sem seu conhecimento (a
córnea, por exemplo).
O jornalista norte-americano Scott Carney no livro The Red Market – On the Trail of the
World’s Organ Brokers, Bone Thieves, Blood Farmers, and Child Traffickers, diz que o tráfico
internacional de órgãos prospera em países como a Indonésia, o Paquistão e o Kosovo. Após
uma série de pesquisas, concluiu que cada parte do corpo tem um preço e que todos nós estamos
sujeitos às leis da oferta e da procura. Existem “corretores” que oferecem listas de comparação
de preços e de locais mais baratos para a compra. Segundo Scott, um negócio bastante rentável.
Todo mundo aceita que não há nada de errado em se tirar os órgãos de um morto para
salvar vidas. E muito embora doar órgãos depois de morto seja uma decisão sem custos reais,
mesmo assim muita gente não doa, por decisão própria ou da família. Famílias que não se dão ao
trabalho de permitir a doação interessariam em permitir a venda (FONSECA, 2015).
Outro aspecto positivo seria a diminuição da fila de espera do Sistema Único de Saúde
(SUS). Os menos abastados continuariam nessa fila, alimentada pelas doações voluntárias e pelo
repasse gratuito.
Cabe lembrar que estamos falando de um mercado que já existe. O comércio de órgãos
opera ilegalmente e, como toda atividade que é empurrada para a ilegalidade, tende para a
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Esse mercado tanto existe que em 2013, o juiz da 1ª Vara Criminal de Poços de Caldas
condenou quatro médicos envolvidos em esquema de compra e venda de órgãos humanos. De
acordo com a Justiça, os médicos possuíam uma equipe clandestina e faziam a retirada de
órgãos, bem como os transplantes, de maneira irregular. A Polícia Federal abriu inquérito após
receber denúncia de que a morte encefálica de um menino de 10 anos foi diagnosticada de modo
irregular.
A pesquisa abaixo foi realizada com brasileiros de diferentes faixas etárias e níveis
sociais. Percebe-se que metade dos pesquisados não são doadores.
mercado negro. Os pesquisados também apontaram para a desigualdade social porque somente
os ricos teriam poder de compra, e atualmente, ricos e pobres estão no mesmo patamar na fila de
espera. Por fim, acham uma atitude imoral visto que muitos não terão possibilidade de comprar o
órgão que necessitam; as pessoas deixariam de doar e passariam a vender.
Quem opinou pelo SIM disse que a compra e venda ajudariam muitas pessoas, mas é
necessário que haja fiscalização, organização e documentação.
Os 41% que não comprariam, apesar de legalizado, disseram que esta é uma forma de
contribuir para a desigualdade e vai de encontro ao valor pessoal. Outros afirmaram que n ão é
justo selecionar pessoas que receberão um órgão pela sua condição financeira; isso é salvar uma
vida em detrimento de outra.
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O sistema atual de doação não é aprovado por 53,8% dos entrevistados. Estes dizem que
os receptores acabam morrendo em decorrência de rejeição e infecção. Alguns opinaram que a
vontade do doador deveria prevalecer, e não a da família. Outros acreditam que todos deveriam
ser doadores. Também foi lembrado que falta informação à população e muitos têm medo de
doar por causa de certos mitos.
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Um dos problemas que mais obstruem as doações ainda são as negativas dos familiares.
Apesar do número ter caído conforme já abordado, ainda é alta a taxa de rejeição da solicitação
da doação por parte das famílias dos falecidos. Para combater estar situação, o Ministério da
Saúde e a ABTO promovem ações de conscientização para informar a todos da importância da
doação bem como desmistificar receios criados e que nada possuem de veracidade.
Abaixo podemos encontrar alguns mitos sobre doação e transplante de órgãos que a
ABTO esclarece em seu site:
O fluxograma abaixo exibe o processo de doação de órgãos que acontece hoje no Brasil:
localidade, entre outros. Como a lista é nacional, se um órgão necessário para um receptor em
São Paulo for conseguido no Amazonas, o mesmo será encaminhado para a localidade do
receptor onde será realizado o transplante. Este é um dos pontos que ainda dificultam para que
todas as doações sejam um sucesso, pois as distâncias percorridas para que o órgão chegue ao
receptor demanda toda uma estrutura nacional de transporte aéreo e comunicação eficiente e
eficaz.
Com exceção dos órgãos que podem ser doados em vida, a doação só ocorre quando o
paciente é diagnosticado com morte cerebral que, na medicina, é irreversível. O diagnóstico de
morte encefálica é definido como “morte baseada na ausência de todas as funções neurológicas”.
A morte encefálica é a morte prevista legalmente para o indivíduo, onde todas as funções do
cérebro são paradas e não há procedimento para reverter esta situação.
Os exames para diagnosticar a morte encefálica são conduzidos por médicos através de
sólidas e reconhecidas normas da medicina. Em muitos casos os testes são realizados por várias
vezes em intervalos de diversas horas para assegurar um resultado exato e definitivo. Os
familiares podem solicitar que os médicos expliquem e mostrem como a morte encefálica do
falecido foi declarada.
Abaixo temos relacionados os órgãos que podem ser doados entre os seres humanos:
Córneas;
Coração;
Pulmão;
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Rins;
Fígado;
Pâncreas;
Ossos;
Medula óssea;
Pele;
Valvas Cardíacas.
Em vida, uma pessoa pode doar um rim, a medula óssea, o fígado (parte dele, em torno de
até 70%) e o pulmão (apenas parte dele e em situações excepcionais). Os demais órgãos só
podem ser doados após o óbito do doador.
Passar por dois exames neurológicos que avaliem o estado do tronco cerebral.
Esses exames devem ser realizados por dois médicos não participantes das
equipes de captação e de transplante;
Submeter-se a exame complementar que demonstre morte encefálica,
caracterizada pela ausência de fluxo sanguíneo em quantidade necessária no
cérebro, além de inatividade elétrica e metabólica cerebral;
Estar comprovada a morte encefálica. Situação bem diferente do coma, quando as
células do cérebro estão vivas, respirando e se alimentando, mesmo que com
dificuldade ou um pouco debilitadas.
Não podem doar órgãos os indivíduos que apresentem alguma das características abaixo:
6. Entrevista
Como forma de levar dois pontos de vista de pessoas envolvidas com a doação e o
transplante de órgãos, colhemos o depoimento de duas pessoas. A primeira é Higor Colozzo
Ramos, estudante, que realizou o transplante de uma córnea e aguarda na fila para transplantar a
outra. A segunda é o Dr. Sckandar Mussi Junior, cirurgião cardíaco, que atua em São João da
Boa Vista em cirurgias cardíacas e implantes de marca passo.
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Higor: “Desde 11 anos sofro de uma doença chamada ceratocone, onde a córnea vai
degenerando, ficando fina e pontuda. Isso vai dificultando o uso de lentes corretivas. (...) Com 17
anos eu não conseguia desempenhar mais nenhuma função porque minha acuidade visual
atrapalhava. Dia 13 de Janeiro de 2015 eu fiz minha primeira cirurgia do transplante de córnea.
Fiquei na fila por volta de 8 meses e tudo ocorreu muito bem. Hoje estou na espera do segundo;
estou há 6 meses na espera e creio que em algumas semanas irei realizar a nova cirurgia. Na
minha opinião a doação espontânea é a melhor opção, pois muitas pessoas estão em situação
mais grave que outra. Minha fila do transplante de córnea foi muito rápida perto dos outros
órgãos. (...) Se a compra fosse legalizada eu não compraria pois eu acho um desrespeito à vida
do próximo e do meu antecessor da fila de transplantes. Eu acredito que isso seja uma questão
que vai apenas aumentar a desigualdade social e o ódio entre as pessoas. Vai margear ainda mais
a distância que o rico tem do pobre. (...) Vai desincentivar as pessoas a doarem.”
Dr. Sckandar: “Essa questão de compra de órgão, da venda de órgão, eu vejo com bons olhos.
Existe certo pudor em cima; esse pudor em cima do doente que está esperando o transplante que
pode sobreviver e tem prognóstico bom e sobrevida boa com o transplante. Eu acho que tem que
ter uma legislação em cima disso sobre como será essa venda. Porque a gente não pode
banalizar. Daqui a pouco você está vendendo seu rim por um ipad. Eu vejo com bons olhos
porque você vai dar vazão a certas patologias; patologias mais complexas. A questão da ética
médica a gente tem que entender até um ponto: pra quem tá comprando e vendo seu familiar sair
bem da patologia, que raio de ética é essa? Pra quem tá de fora e não tá passando por isso, talvez
há uma crítica. Eu sempre falo isso, a gente tem que se colocar um pouco do outro lado. Outra
coisa que a gente tem que pensar é: você não pode sair vendendo sem critério nenhum. Temos
que projetar o que isso pode causar para o Sistema Único do país. Muita gente pode vendendo
um rim, depois de um tempo, entrar para a fila de transplante de novo. Quanto vai ser o custo?
Tá tirando o prejuízo de um bolso pra por em outro. É uma área que mexe muito com a pessoa,
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mexe muito com o familiar. A gente tem que pensar que a gente tem que preservar a vida. (...) Se
a venda vá beneficiar o doente, que é o principal, eu acho que é válido. Mas tem que ter uma
normatização. Um dos países que tem a maior venda de órgãos é o Irã e o índice dos pacientes
que venderam órgão e depois se arrependeram é alto. 80%, 70% se arrependem de terem vendido
o órgão. (...) Hoje nós estamos aí com 70.000/90.000 na fila de transplante; é muita gente”.
7. Conclusão
Com este trabalho podemos concluir que o Brasil hoje possui um dos melhores e mais
eficientes sistemas de doação e transplante de órgãos sendo referência internacional. O país, no
entanto, possui somente doações espontâneas e trata a compra e venda como crime. A
legalização da compra e da venda é um assunto delicado e polêmico que divide opiniões em
diversas áreas do conhecimento. Um ponto, porém, é essencial e unânime sobre o assunto: caso
isso venha a se tornar realidade, o país precisaria de um sistema rigoroso e atuante quanto a
fiscalização e normatização das circunstâncias onde a compra e venda seria autorizada e
equilibrando com as filas de receptores que não poderiam pagar pelo órgão para que não sejam
prejudicados por segregação financeira. Além da questão da compra e da venda, a própria doação
espontânea ainda necessita de maior adesão por parte das pessoas. Antes de partirmos para uma
discussão sobre compra e venda, seria pertinente aumentarmos e conscientizarmos a população
sobre a importância da doação espontânea sem interesse financeiro. Campanhas promovidas pelo
Ministério da Saúde são essenciais para atingirmos estes objetivos.
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Referências
G1. Justiça condena médicos por compra e venda de órgãos humanos. Disponível em
http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2013/02/justica-condena-medicos-por-compra-e-
venda-de-orgaos-humanos.html. Acesso em 28 de maio de 2016.