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HERMENÊUTICA

JURÍDICA – AULA 01 –
CASOS PRÁTICOS
PROFA. CAMILA MENEZES
1 – ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA

• Na hermenêutica jurídica, não se pode utilizar de argumentos morais, religiosos,


econômicos e políticos para se fazer um julgamento justo.

• Só se pode utilizar argumentos jurídicos.


1 - ESCOLHAS MORAIS

• 1º - Você está em um trem que tem pela frente cinco pessoas... mas tem um desvio que pode ser feito, onde está um gordinho... O
que você faz? Salva as cinco pessoas, matando o gordinho?
• 2º - E se você está em uma plataforma do trem e este matará cinco pessoas... Mas você pode salvá-las, derrubando um gordinho
sobre os trilhos, parando, assim, a trajetória do trem.
• No primeiro, as pessoas dizem que matariam o gordinho; na segunda, não, porque teriam que empurrá-lo?... Ou não. O que isso tem a
ver (diretamente) com o direito? Serve, sim, para discutir filosofia moral e correlatas; mas, para o direito, interessa você não
escolher aleatoriamente, mas decidir conforme os princípios jurídicos.
• 3º - Em uma cidade do interior cinco pessoas importantes e queridas correm risco de vida e aguardam por um transplante de
órgãos. Um andarilho da cidade se for morto, poderá salvar estas 5 vidas. Se você fosse o médico da cidade, você mataria o andarilho?
• 4º - Caso do 11 de setembro. Você acha que um avião das forças aéreas americanas poderia atingir o segundo avião do atentado,
matando a tripulação que era composta por 200 pessoas e salvando as 5 mil pessoas que se encontravam na segunda torre do world
trade center?
2 - ABORTO

• Audiências públicas marcadas no segundo semestre de 2018 pelo Supremo Tribunal


Federal (STF – Convocação da ministra Rosa Weber, relatora de uma ação que
pretende que o aborto, até o terceiro mês de gestação, deixe de ser considerado crime,
pois a Ministra acredita que a proibição viola direitos fundamentais).
2 - ABORTO

• ARGENTINA – uma lei aprovada passou a permitir a realização do procedimento até a 14.ª semana de
gestação em qualquer caso e ainda estabelece que, se a gestante for menor de 16 anos, ele deverá ser feito
com o consentimento dela. Na Argentina, o aborto era proibido por uma lei de 1921 e punido com pena de
prisão.
• Na América Latina, o aborto sem restrições é legal no Uruguai e em Cuba. Também é permitido na
Cidade do México.
• Em quase todos os demais países da América Latina é permitido apenas no caso de risco para a mulher,
quando não há chance de sobrevivência do feto ou se a gravidez for resultado de um estupro.
• legislação brasileira: o aborto só é permitido em caso de estupro, de feto anencéfalo e em casos em que a
vida da mãe está em risco
2 – ABORTO – STF - HABEAS CORPUS 124.306 RIO
DE JANEIRO RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
• Para parte dos ministros do STF são inconstitucionais os artigos do Código Penal que
criminalizam o aborto, conforme decisão de 2016.:
• “A criminalização é incompatível com os seguintes direitos fundamentais: os direitos
sexuais e reprodutivos da mulher, que não pode ser obrigada pelo Estado a manter
uma gestação indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de fazer
suas escolhas existenciais; a integridade física e psíquica da gestante, que é quem sofre,
no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade da mulher, já que
homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de gênero depende de se respeitar
a vontade da mulher nessa matéria.
2– STF - HABEAS CORPUS 124.306 RIO DE
JANEIRO RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
• A tudo isto se acrescenta o impacto da criminalização sobre as mulheres pobres. É que
o tratamento como crime, dado pela lei penal brasileira, impede que estas mulheres, que
não têm acesso a médicos e clínicas privadas, recorram ao sistema público de saúde
para se submeterem aos procedimentos cabíveis. Como consequência, multiplicam-se os
casos de automutilação, lesões graves e óbitos.
2– STF - HABEAS CORPUS 124.306 RIO DE
JANEIRO RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
• A tipificação penal viola, também, o princípio da proporcionalidade por motivos que
se cumulam: (i) ela constitui medida de duvidosa adequação para proteger o bem jurídico
que pretende tutelar (vida do nascituro), por não produzir impacto relevante sobre o
número de abortos praticados no país, apenas impedindo que sejam feitos de modo
seguro; (ii) é possível que o Estado evite a ocorrência de abortos por meios mais eficazes
e menos lesivos do que a criminalização, tais como educação sexual, distribuição de
contraceptivos e amparo à mulher que deseja ter o filho, mas se encontra em condições
adversas; (iii) a medida é desproporcional em sentido estrito, por gerar custos sociais
(problemas de saúde pública e mortes) superiores aos seus benefícios.
2– STF - HABEAS CORPUS 124.306 RIO DE
JANEIRO RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
• Anote-se, por derradeiro, que praticamente nenhum país democrático e desenvolvido
do mundo trata a interrupção da gestação durante o primeiro trimestre como crime,
aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália, Espanha,
Portugal, Holanda e Austrália
2 – STF - HABEAS CORPUS 124.306 RIO DE
JANEIRO RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
• Deferimento da ordem de ofício, para afastar a prisão preventiva dos pacientes,
estendendo-se a decisão aos corréus.”
2 - ABORTO

CONTRÁRIOS À LEGALIZAÇÃO DO ABORTO A FAVOR DA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO


• A bancada religiosa do Legislativo é contrária à • Dados estatísticos comprovam o elevado índice de
legalização do aborto com justificativas em textos mortalidade por procedimentos de aborto clandestinos, pelo
sagrados e na vontade de Deus. Argumento não-jurídico. que sustentam que a legalização reduziria essa estatística.
• O Direito Constitucional (e natural) à vida do feto precisa mais de 25 milhões de abortos inseguros (45% do total)
ser respeitado. Argumento jurídico. ocorrem anualmente, segundo estudo da Organização
• A vida de cada indivíduo merece proteção desde seu Mundial da Saúde (OMS). A maioria é realizada em países
momento biológico inicial, a concepção. Argumento em desenvolvimento de África, Ásia e América Latina.
Jurídico. Argumento não-jurídico.
• Todo ser humano tem dignidade intrínseca, que não é • Defendem que descriminalizar o aborto não é incentivá-lo.
dada nem retirada por ninguém, desde a concepção até a Argumento não-jurídico.
morte. Argumento Jurídico. • A mulher faz jus ao direito à dignidade humana, ao direito
• Responsabilidades do Estado frente à dignidade humana. de escolha. Argumento jurídico.
Argumento Jurídico. • A titularidade civil inicia com o nascimento com vida.
• Há diversos casos no mundo em que os números mostram Argumento jurídico.
que a legalização do aborto não tem uma correlação • Autonomia da vontade da mulher. Argumento jurídico.
segura com baixos índices de mortalidade materna ou com • Direito à intimidade – direito à escolher como conduzir a
a redução destes. Argumento Não-Jurídico. sua vida. Argumento jurídico.
3 - EUTANÁSIA

• De acordo com o Código Penal brasileiro, a pena para quem causa a morte de um doente
podem variar de dois a seis anos, quando comprovado motivo de piedade, a até 20 anos de
prisão.
• quando o paciente tem sua medicação ou tratamentos suspensos (por já não serem
efetivos ou até prejudicarem o paciente), ele opta pela ortotanásia, uma prática não prevista
por lei, mas permitida no Brasil por uma resolução do Conselho Federal de Medicina.
• Holanda, Suíça, Canadá, Colômbia e Estados Unidos, por exemplo, permitem a morte
dependendo do caso. Na Bélgica, a eutanásia é permitida desde 2002.
3 - EUTANÁSIA

• A PRIMEIRA QUESTÃO É: UMA PESSOA TEM DIREITO DE PEDIR PARA MORRER E ABREVIAR
SEU SOFRIMENTO DIANTE DE DOENÇA INCURÁVEL?
• Para alguns especialistas, sim. Isto seria um argumento suficientemente forte para diferenciar a eutanásia de um
assassinato e evitar a caracterização de um crime.
• Um juiz ao decidir sobre a eutanásia deve julgar não com base em ideologias religiosas ou moral, nem
ética, nem pragmática, mas sim com base em direitos fundamentais: autonomia da vontade; direito ou não à
vida; dignidade da pessoa humana; direito fundamental à liberdade; direito social ao bem-estar; direito à
existência digna, livre e igual x direito à vida é inviolável e intransponível, tipificação do crime de homicídio.
• diante da escassa regulamentação acerca do tema no ordenamento pátrio, é preciso buscar um equilíbrio jurídico
e doutrinário.
3 - EUTANÁSIA

• Apesar do atual estágio de criminalização da eutanásia, está em tramite no Senado o


Anteprojeto de Reforma do Código Penal, buscando-se uma releitura do sistema
penal à luz da Constituição de 1988 e dos tratados e convenções internacionais, fixando
sanções mais brandas para a eutanásia ativa direta.
3 - EUTANÁSIA

• O art. 122 do referido anteprojeto faz menção expressa a eutanásia de maneira que no
caput, é tipificada a conduta imputando pena de prisão de dois a quatro anos para o
agente e no parágrafo primeiro, consigna-se que o juiz deixará de aplicar a pena
avaliando as circunstâncias do caso e ainda a relação de parentesco ou estreitos laços
de afeição do agente com a vítima. A reforma em análise ainda elenca como causa
excludente de ilicitude a prática da eutanásia passiva, ou ortotanásia.
2 - EUTANÁSIA

• Contrários à Eutanásia - para aqueles que não defendem a eutanásia, o seu ato é
considerado abominável e tipificado como um crime e afronta o direito à vida, conforme
prescrição em lei.
3- EUTANÁSIA

CONTRÁRIOS FAVORÁVEIS

ATO TIPIFICADO COMO CRIME AUTONOMIA DA VONTADE;


DIREITO OU NÃO À VIDA;
O DIREITO À VIDA É INVIOLÁVEL E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA;
INTRANSPONÍVEL DIREITO FUNDAMENTAL À LIBERDADE; DIREITO
SOCIAL AO BEM-ESTAR;
= ARGUMENTOS JURÍDICOS DIREITO À EXISTÊNCIA DIGNA, LIVRE E IGUAL

= ARGUMENTOS JURÍDICOS
1V – DIREITO AO VOTO

• A Constituição monárquica, de 1824, não trazia a proibição expressa ao voto


feminino. Limitava-se a conceder o sufrágio, inicialmente, no primeiro grau, com as
restrições de renda, à “massa dos cidadãos ativos, em assembléias paroquiais” (art. 90) e,
em segundo grau, a todos os que podiam votar naquelas assembléias (art. 94), mas não se
deveria concluir, daí, fosse possível, por lei ordinária, a concessão do sufrágio às
mulheres.
1V - VOTO

• Na Constituinte de 1890, a discussão sobre o voto feminino foi intensa. O anteprojeto


de Constituição, mandado elaborar pelo governo provisório, não concedia o sufrágio à
mulher mas, na chamada Comissão dos 21, no Congresso, três deputados propuseram
que ele fosse concedido “às mulheres diplomadas com títulos científicos e de
professora, desde que não estivessem sob o poder marital nem paterno, bem como às que
estivessem na posse de seus bens.
• A emenda não foi aceita, bem como outras, que possibilitavam o sufrágio “às cidadãs,
solteiras ou viúvas, diplomadas em direito, medicina ou farmácia” e às que dirigissem
“estabelecimentos docentes, industriais ou comerciais”
1V – VOTO: ARGUMENTOS DOS ADVERSÁRIOS
DO VOTO FEMININO

Adversários do voto feminino declaram:


• que, com ele, se teria decretada “a dissolução da família brasileira” (Moniz Freire. Anais. v.
II, p. 233. In: ROURE, Agenor de, ob. cit. p. 233);
• que a mulher não possuía capacidade, pois não tinha, “no Estado, o mesmo valor que o
homem”.
• Se indagava: “A mulher pode prestar o serviço militar, pode ser soldado ou marinheiro?”
(Lacerda Coutinho. Anais. v. II, p. 285. In: ROURE, Agenor de. ob. cit., p. 283.)
1V - VOTO

• O texto final da Constituição de 1891 considerou eleitores “os cidadãos maiores de 21


anos”, que se alistassem na forma da lei.
• O fato de não ter sido aprovada qualquer das emendas dando direito de voto às
mulheres importava na exclusão destas, em definitivo, do eleitorado.
• Contudo, a CF de 1891 não declarou que a mulher não poderia se alistar, nem a incluiu
entre os inelegíveis. Lei Ordinária poderia regular a matéria?
1V - VOTO

• O Senado aprovou em 1921, em primeira discussão, projeto de lei apresentado pelo


Senador Justo Chermont dispondo sobre a capacidade eleitoral da mulher, maior de 21
anos, admitindo, assim, que uma lei ordinária poderia consagrar o direito político da
mulher.
• O projeto Chermont, no entanto, não logrou ser convertido em lei, como não chegara a
ser discutido projeto, apresentado em 1917, por Maurício de Lacerda, no mesmo sentido.
• No plano estadual, o Rio Grande do Norte iria se antecipar à União, notabilizando-se com
o pioneirismo na concessão, por lei, do direito de voto à mulher.
1V - VOTO

• A Constituição promulgada em 16 de julho de 1934, e também a de 1937, veio dispor


que eleitores seriam “os brasileiros de um ou de outro sexo, maiores de 18 anos”, que
se alistassem na forma da lei (art. 108).
• Mas determinava em seu art. 109: “O alistamento e o voto são obrigatórios para os
homens, e para as mulheres, quando estas exerçam função pública remunerada, sob
as sanções e salvas as exceções que a lei determinar.”
1V - VOTO

• Constituição de 1946 - Art. 131. São eleitores os brasileiros maiores de dezoito anos
que se alistarem na forma da lei.
• Art. 133. O alistamento e o voto são obrigatórios para os brasileiros de ambos os
sexos, salvo as exceções previstas em lei.”
1V - VOTO

• Constituição de 1988 - Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante: (...)

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