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Legalização do aborto
Argumentação segundo código penal, constituição e propostas de lei não vigentes
Autonomia corporal
Em uma situação hipotética onde existe alguém correndo risco de vida e você é a
única pessoa que pode salvar essa pessoa com uma transfusão sanguínea, você não é
obrigado a doar seu sangue. Ninguém pode tirar do seu sangue sem a sua permissão,
mesmo que para salvar outra vida, mesmo que seja um filho seu já nascido. Não estou de
forma alguma dizendo que é ético, mas você não pode ser obrigado a doar sangue sobre
hipótese alguma. De forma semelhante ocorre com a doação de órgãos; você pode optar,
em vida, por não doar seus órgãos mesmo depois de seu falecimento; é uma decisão que,
se esclarecida em vida, não pode ser ignorada por parentes ou pelo hospital. Agora, a
grávida, em vida, não pode optar; sendo que a gravidez pode trazer riscos à vida da
mulher. A própria OMS considera que forçar uma gravidez é uma forma de tortura. Então
está em discussão a disponibilidade de um corpo inteiro de correr riscos durante 9 meses,
não uma agulha em seus braço, não a retirada de órgão pós óbito; mas, mesmo assim, dos
três casos, o único indivíduo que perde o direito de decidir sobre as ações tomadas sobre
o próprio corpo é a mulher grávida. Um corpo morto tem mais autonomia do que uma
mulher grávida no Brasil.
Responsabilização
A lei permite a ocorrência de um aborto em casos de estupro, o que é praticamente
um senso comum. O aborto, nesses casos, pode ser realizado porque a mulher “não tem
culpa” da ocorrência da gravidez, mas se ela “abriu as pernas” ela deve arcar com as
consequências. Então, no fim das contas, não é sobre a vida do embrião que está sendo
discutido, mas sim sobre culpa, punição e controle feminino; já que um homem não corre
riscos durante a gravidez e existem milhares de crianças sem um pai no registro, muitas
vezes apenas a mulher é responsabilizada. Se está sendo considerada que a mulher tem
culpa e por isso ela tem que pagar, a gravidez está sendo utilizada como uma ferramenta
de punição, o que deixa mais evidente ainda que o assunto discutido não é sobre a vida do
embrião, é sobre as pernas abertas
Dados
Um levantamento recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que
países ricos e em desenvolvimento, que atualizaram suas leis, deixando-as mais liberais,
tiveram uma redução nos casos. Em 1990, havia 85 casos para cada 1.000 mulheres. Esse
número reduziu para 64 em cada 1.000, em 2014. A Alemanha e a Noruega, por exemplo,
são mais liberais nesse sentido. Abortos ocorrem com a mesma frequência em duas
categorias de países: onde o aborto é proibido ou quando é permitido apenas para salvar a
vida da mulher - de 37 a 34 casos por mil mulheres, respectivamente.
Entre 2000 e 2014, o instituto estimou que 55,9 milhões de abortos foram feitos por
ano em todo o mundo. Destes, 49,3 milhões ocorreram em regiões em desenvolvimento e
6,6 milhões em países já desenvolvidos. Os países onde o aborto é liberado são
desenvolvidos.
Os paises com os menores indices de aborto são Suíça (5 a cada mil mulheres),
Cingapura (7 a cada mil mulheres) e Eslováquia (8 a cada mil mulheres). Na outra ponta,
com as maiores taxas, está o Paquistão (50 a cada mil mulheres), Quênia (48 a cada mil
mulheres) e india (47 a cada mil mulheres).
De acordo com um estudo publicado no site da ScienceDaily. pessoas que sofreram
abuso sexual na infância têm três vezes mais chances de cometer suicídio na vida adulta. Já
aqueles que sofreram abuso físico ou emocional têm duas vezes e meia mais chances de
cometer suicídio. No Brasil, o número de suicídios cresceu 11.8% em 2022 em comparação
com 2021, totalizando 16.262 registros, uma média de 44 por dia. No entanto, não há dados
disponíveis sobre a taxa de suicídio entre pessoas que sofreram abuso no país.
Pena vigente
O delito de autoaborto, com a mesma redação, encontra-se no artigo 125,
alterada apenas a penalidade, reduzida a detenção de 1 a 3 anos, para prisão de seis
meses a dois anos. Por outro lado, tem-se no artigo 125 a figura do aborto
consensual, provocado por terceiro, antigo artigo 126, sem o seu parágrafo único,
onde, também, se verifica uma redução de pena, de reclusão de 1 a 4 anos, para
prisão de seis meses a dois anos, mesma pena, portanto, do autoaborto ou do
aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento. O artigo 127 diz
respeito ao aborto provocado por terceiro, repetindo a redação do artigo 125 do
Código Penal vigente. Traz uma pena maior, pois de reclusão de 3 a 10 anos, passa-
se para prisão de 4 a 10 anos. Dentro do artigo 127, temos a inserção de dois
parágrafos.
O § 1º refere-se a uma causa de aumento de pena, de um a dois terços se, em
consequência do aborto ou da tentativa de aborto, resultar má formação do feto
sobrevivente. O § 2º traz outra causa de aumento de pena, pela metade se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante
sofrer lesão corporal grave; e até o dobro, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte, o que estava tipificado no Código Penal vigente em seu artigo
127 como forma qualificada, mas lá se aplicava ao aborto com e sem consentimento
da gestante e, aqui, se aplica tão somente ao aborto sem consentimento da
gestante, retirada a forma qualificada, eis o por quê do aumento de pena.
Por fim, o artigo 128 do Projeto, sob o título exclusão do crime, amplia as
causas de aborto legal ou permitido, aduzindo que não há crime de aborto quando:
houver risco à vida ou à saúde da gestante (na redação atual o aborto terapêutico
tutela somente a vida e não a saúde da gestante); se a gravidez resulta de violação
da dignidade sexual (ingressa, aqui, inclusive, o estupro de vulnerável, hoje artigo
217-A do Código Penal, praticado sem o emprego de violência ou grave ameaça à
pessoa, em que se presume pela idade ou condição da vítima a não concordância
com a realização do ato sexual), ou do emprego não consentido de técnica de
reprodução assistida (atualização da nomenclatura no aborto ético, humanitário,
inserido aí também a reprodução assistida); se comprovada à anencefalia (conforme
decisão do Supremo Tribunal Federal) ou quando o feto padecer de graves e
incuráveis anomalias que inviabilizem a vida extrauterina, em ambos os casos
atestado por dois médicos (evidente ampliação das hipóteses de realização do
aborto para além da decisão do Supremo Tribunal Federal, o que pode gerar para
alguns a inserção do aborto eugênico); ou, se por vontade da gestante, até a décima
segunda semana da gestação (veja-se que nessa hipótese é até quando o feto está
Tipos
O aborto natural não é crime e ocorre quando há uma interrupção espontânea da
gravidez. O acidental, também não é crime,
e pode ter por origem várias causas, como traumatismos, quedas etc.
O aborto criminoso é aquele vedado pelo ordenamento jurídico.
O aborto legal ou permitido se subdivide em:
a) terapêutico ou necessário: utilizado para salvar a vida da
gestante ou impedir riscos iminentes à sua saúde em razão de
gravidez anormal;
b) eugenésico ou eugênico: é o feito para interromper a gravidez em caso de vida
extra-uterina inviável.
O aborto miserável ou econômico social praticado por motivos de dificuldades
financeiras, prole numerosa. O aborto honoris
causa é feito para salvaguardar a honra no caso de uma gravidez
adulterina ou outros motivos morais.