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Aborto

O que é?
"Aborto" ou "interrupção da gravidez" é a interrupção de uma gravidez
pela remoção de um feto ou embrião.
Tipos aborto:
• espontâneo
• aborto acidental
• aborto induzido
Atualmente apenas dois terços dos 195 países analisados pela ONU permitem o aborto
quando a saúde física ou psíquica da mulher está ameaçada. Aproximadamente 90
milhões de mulheres em idade reprodutiva vivem nos 26 países em que o aborto é
totalmente proibido, mesmo que a saúde ou suas vidas estejam ameaçadas. A maior parte
destes Estados se concentram na África, Oriente Médio e Sudeste Asiático.
Outros 39 países (a maioria localizados no Oriente Médio, América Latina e Caribe)
permitem a interrupção da gravidez em certas circunstâncias para salvar a vida de
gestantes, cerca de 359 milhões de mulheres em idade fértil vivem nesses lugares. Este
grupo inclui Afeganistão, Brasil, Chile, Guatemala, Irã, Mianmar Síria e Sudão, entre outros
países. Outra característica comum deles é que são todos países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento.
Por último, o direito ao aborto é legal sob a solicitação da mulher grávida em 56 Países,
situados principalmente em regiões desenvolvidas. Em sua maioria, como Rússia e Noruega,
permitem o procedimento até as 12 semanas de gravidez.
Conforme dados da OMS, entre 2010 e 2015 foram realizados 55 milhões de abortos em todo o mundo, destes
45% foram inseguros e em sua maioria, cerca de 97%, ocorreram nas regiões da América Latina, Ásia e África,
onde há legislações punitivas quanto ao procedimento.

Segundo relatório organizado pela Lancet Global Health, uma das revistas de publicações científicas mais
renomadas do mundo, nos países em que as leis são mais restritivas e é mais difícil obter medidas
anticoncepcionais adequadas e seguras, a proporção de gestações indesejadas que resultam em aborto é alta,
com variação de 32/48 a cada 1000 mulheres, à medida que em locais de maior renda e interrupção legal da
Contudo, conforme prevê o artigo 128 do texto legal, é permitida a interrupção da gravidez
no em dois casos específicos: quando a gravidez é resultante de estupro ou para salvar a vida
da mulher. Há ainda uma terceira situação a qual, embora não esteja expressa no
regulamento pois deriva de um entendimento do Supremo Tribunal Federal, é autorizada o
aborto.
No entanto, devido a prática ser considerada crime com pena de reclusão, muitas mulheres
que não se enquadram nas categorias de interrupção da gravidez protegida por lei recorrem
a clínicas clandestinas ou efetuam o processo em suas próprias casas, sem nenhuma
assistência ou instrução de segurança. Neste último caso, muitas delas recorrem a indicações
de medicamentos e soluções caseiras que podem ser facilmente encontrados em uma
rápida pesquisa no Google.
Como resultado, segundo dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 4 mulheres
morrem por dia no Brasil em consequência de um aborto que deu errado. Contudo, o órgão
informa que não é possível atribuir todos os óbitos ao abortamento provocado feito em boa
parte dos casos clandestinamente.
Além disso, mesmo aquelas que recebem a tutela legal para realizar o procedimento,
enfrentam desafios para ter acesso ao aborto seguro. Como demonstra a Pesquisa sobre os
Serviços de Aborto Legal no Brasil de 2016, a distribuição dos pontos de atendimento às
gestantes em tal situação é irregular em todo o país, cerca de 7 estados não apresentavam
sequer um serviço ativo.
Somado a isso, em 95% dos hospitais não havia equipe específica para o suporte, e muitos
O estupro de vulnerável é caracterizado pela conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso
com menores de 14 anos, seja com ou sem consentimento.
Previsto no artigo 217-A do Código Penal, criado pela Lei 12.015/2009, o crime de estupro
contra vulnerável é um crime hediondo, ou seja, um crime inafiançável, portanto, não
contempla a possibilidade de graça ou indulto.
O aborto não é uma realidade distante na vida reprodutiva das brasileiras.
Desde a época colonial, registram-se práticas abortivas utilizadas demasiadamente por mães
solteiras e de filhos ilegítimos. Tal fato levou as primeiras legislações sobre o assunto a punirem
com severidade o procedimento. Nos dias de hoje, conforme relata a OMS, 3 em cada 10
grávidas abortam no nosso país.
Conforme mostra a Pesquisa Nacional sobre Aborto no Brasil de 2016, aproximadamente
20% das mulheres de até 40 anos já abortou. Os resultados do levantamento mostram que o
procedimento atinge todas as idades, tendo principal relevância na faixa etária dos 20 a 29
anos. De outro lado, como concluiu um estudo financiado pela Fiocruz, as adolescentes são
as maiores vítimas do abortamento, pois são as que mais morrem devido ao procedimento.
Além disso, a taxa é superior entre as que habitam nas regiões Norte, Nordeste e Centro-
Oeste (15% a 18%) e possuem menor escolaridade, o percentual daquelas que estudaram
até a quarta série (26%) é de pouco mais que o dobro de quem concluiu o ensino médio
e/ou o superior (11%). Quanto a religião, 56% professam a fé católica e 25% são evangélicas.
Um dos pontos que mais aquecem os debates que envolvem o aborto certamente é a sua
descriminalização, uma vez que frente a dimensão do tema a opinião pública pode variar
De um lado, figuram principalmente os grupos mais conservadores da sociedade. Muitas
religiões condenam a prática por considera-la uma espécie de assassinato, o que vai
contra os princípios da maior parte delas. Segundo o Pew Research Center, o Espiritismo, o
Hinduísmo e alguns grupos do Cristianismo, opõe-se ao direito ao aborto, com poucas ou
quase nenhuma exceção. Por outro lado, como principal voz no debate a favor da
descriminalização, destaca-se os movimentos feministas que militam a favor do direito ao
abortamento como uma garantia dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher.
❖ Partes desfavoráveis à descriminalização
O aborto geralmente decorre de uma gravidez indesejada. Como afirma a OMS, entre 2015
e 2019 mais da metade das gestações não intencionais terminaram em aborto. Dessa
forma, é preciso haver políticas públicas para o planejamento familiar e educação sexual
entre os jovens e adultos. Além disso, existem algumas maneiras de ajudar mulheres a evitar
gravidezes indesejadas sem usar anticoncepcionais, muitos das quais são recomendadas
por grupos religiosos. Por exemplo, podemos citar o Método de Ovulação Billings (MOB)
recomendado pela Igreja Católica.
❖ Partes favoráveis à descriminalização
O aborto, deve ser tratado como um problema de saúde pública. Muitas mulheres para
realizar a interrupção da gravidez recorrem a clínicas clandestinas ou a medicamentos
abortivos sem orientação médica ou sem eficácia comprovada. Esses procedimentos
realizados de modo não seguro podem comprometer a saúde da mulher, causando
infecção, hemorragia, lesão interna, traumas psicológicos e na pior das alternativas deixa-la
estéril ou leva-la a morte. Conforme dados da OMS, dos 55 milhões de abortos que
Proibir a prática não significa que ela deixará de acontecer. Segundo o Instituto Guttmacher
que pesquisa o acesso à saúde reprodutiva da mulher em todo mundo, 88% dos abortos
ocorrem em países em desenvolvimento. Nestes locais, concentram-se a grande maioria de
legislações que negam o aborto em qualquer circunstância ou só o permitem em caso de
ameaça a vida da mãe. Aliás, como mostra o estudo, a taxa de aborto nos Estados que
permitem a interrupção da gravidez é 34 a cada 1000 mulheres. Por outro lado, onde o
procedimento é proibido o índice sobe para 37 a cada 1000.
Obrigar a permanência de uma gestação por meio da lei é violar os direitos sexuais e
reprodutivos da mulher. Por mais que biologicamente ela nasça preparada para gerar e
parir uma criança, nem todas estão necessariamente aptas ou desejam lidar com as
responsabilidades de cuidar, proteger e arcar com os custos de um filho. Tratar a
maternidade como destino é estigmatizar a possibilidade de escolha feminina e torna-la
criminosa diante da lei, pecadora perante a religião e sem sentimentos frente à sociedade.
A legislação brasileira que pune o aborto é antiga. Um dos principais objetivos de uma lei é
corresponder aos costumes da sociedade em que ela vigora. Hoje, diante dos avanços e
reconhecimentos dos direitos das mulheres, criminalizar a interrupção da gravidez é defasar
uma prática que ocorre com frequência, mesmo com as punições da norma legal.
O problema do aborto é interseccional, mulheres que se encontram em situação de
vulnerabilidade – como negras e de baixa renda- também são as que mais realizam o
procedimento. Na maior parte das situações, por não terem condições financeiras ou até
mesmo psicológicas para criarem seus filhos.
O acesso a políticas de prevenção à gravidez ainda é muito restrito, principalmente em
países em desenvolvimento como o Brasil. Assim, a interrupção da gravidez se apresenta a
essas gestantes como um modo de contracepção. De acordo com a Pesquisa Nacional
sobre o aborto, muitas delas estão em um relacionamento estabelecido, dependem
economicamente da família ou do companheiro e não planejam a gestação.
O aborto é consequência de um problema maior, a violência sexual. Estima-se que 94% das
mulheres que procuram ajuda foram vítimas de estupro, 29% destas tinham entre 12 e 19
anos. Devido a dificuldade de acesso a interrupção legal, 4.262 adolescentes mantiveram
a gravidez decorrente de abuso por não serem atendidas. Os dados são do Ministério da
Saúde.

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