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FICHAMENTO 1

SILVA, Júlio César Barros Da. Aborto: Direito ou crime. Disponível em:
http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/52878/aborto-direito-ou-crime Acesso
em: 20 out. 2022

Palavras-chave: Aborto. Crime. Direito. Liberdade. Vida.

No Código Penal Brasileiro de 1940, tipifica a punição da prática de aborto.


Esse ato, por mais que seja proibido na lei, é muito recorrente do que se imagina, pois
muitas das vezes não deve uma precaução na hora do sexo, muitas das vezes decorre
por falta de informação, estrutura financeira ou familiar. No artigo 124, tipifica o aborto
realizado pela gestante ou por outra pessoa com sua permissão, prevendo a pena de
detenção de 1 a 3 anos.

Aborto praticado por terceiro, previsto no artigo 125 do Código Penal, a pena é
de 3 a 10 anos, tendo uma punição maior, pois visa o não consentimento da gestante.

No artigo 126 do Código, mostra aborto provocado com o consentimento da


gestante, a pena é de 1 a 4 anos. No parágrafo único, caso essa conduta for praticada
em uma gestante menos de 14 anos, ou é alienada, doente ou débil mental ou seu
consentimento se dá por meio de grave ameaça, violência ou fraude, será aplicada a
pena do artigo 125.

O artigo 127 apresenta aborto praticado por terceiro de forma qualificada, o


aumento de 1/3 se em decorrência do aborto sobrevier lesão corporal à gestante e o
aumento de ½ se lhe sobrevém o óbito.

O aborto necessário, apresentado no artigo 128, mostra os casos que não


haverá punição quando a gravidez resulta de estupro, praticado por médico para
salvar a vida da gestante e a possibilidade do aborto de feto anencefálico.

As pessoas que é a favor do aborto ser um crime, tem seus argumentos


baseados ao direito à vida, assim, quando há concepção já existe uma vida, dessa
forma, deve preservar os direitos dessa vida.

Os argumentos baseados na lei são que no Código Civil, artigo 2º que a


personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei estabelece
os direitos do nascituro desde a concepção. Na Constituição Federal, artigo 5º: “Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida...” e o
artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente que a criança e o adolescente
gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Já as pessoas que é a favor do aborto ser fundamental, tem seus argumentos


baseados nos princípios da liberdade, igualdade, dignidade e a mínima intervenção
do Estado na escolha da mulher.

Dessa forma, refere-se a um assunto de como da meios seguros e confiáveis


para quem quer realizar o aborto e o Estado ter o controle de quantas mulheres teve
segurança ao realizar e quantas tiveram sequelas ou morreram no procedimento,
sendo assim, legalização não é um incentivo.

Além disso, ainda não se vê o direito ao aborto reconhecido, uma vez que os
debates sobre o tema ainda são veiculados precipuamente por homens,
juristas e religiosos no âmbito do Congresso Nacional, os quais, notoriamente
não representam o interesse da classe defendida por tal direito, quais sejam
mulheres, em sua maioria hipossuficiente econômica, cultural, social e/ou
organizacional. (SILVA, 2019)

Logo são homens debatendo e aplicando regras com seus pensamentos defasados
sobre o que as mulheres podem ou não fazerem com os seus corpos.

“[...]o ponto de vista científico, o que há dentro da mulher não é um bebê, mas sim um
conjunto de células, uma vez que enquanto não completo o sistema nervoso central,
não há falar em pessoa humana e direito à vida.” (SILVA, 2019)

Por fim, a mulher tem direito ao seu corpo, podendo decidir se quer ou não
ser mãe, não cabendo essa decisão ao Estado e somente No Brasil, 503.000
mulheres fizeram aborto no ano 2010 (dados fornecidos pela Pesquisa
Nacional sobre o aborto, citados num artigo assinado pelo Frei Beto, no jornal
O Globo, dia 1-VIII-2018). (SILVA, 2019)

Portanto, o aborto é um assunto que deve ser debatido, sem uma visão religiosa ou
masculina, já que versa sobre a liberdade da mulher, que muitas das vezes, não tem
nem religião.

Em 2017, foram feitos 1.636 abortos legais, segundo o Ministério da Saúde,


ao passo que, quando ao número de abortos ilegais, o governo federal não
apresenta informações precisas. No sistema de saúde, também não há dados
justamente porque o procedimento é crime quando está fora das 3 previsões
legais. Mas há indicativos que ajudam a mensurar a clandestinidade. (SILVA,
2019)
De acordo com o DATASUS (2017), em 2017, foram registradas 177.464
curetagens pós-abortamento, um tipo de raspagem da parte interna do útero.
Outro procedimento em casos de aborto é o esvaziamento do útero por
aspiração manual intrauterina (AMIU). Em 2017, foram registradas 13.046.
Juntas, foram 190.510 internações. (SILVA, 2019)
Segundo aponta o próprio Ministério da Saúde, no ano de 2017, a média de
gastos com a curetagem, como decorrência do aborto clandestino foi de
R$37,97 milhões de reais, a medida em que os gastos para a prática abortiva
legal, também no ano de 2017 foi em cerca de R$360 mil. (SILVA, 2019)

Ao analisar esses dados, observa que a proibição não faz a prática não ser realizada,
mas coloca em risco a vida da mulher e, ainda, atingindo o seu direito de liberdade e
dignidade. Outro fator, é que teria uma redução dos gastos do Estado e reduziria os
números de pacientes para atendimento urgente que ocorre nas complicações dos
abortos clandestinos.
[...] o Estado é laico, de modo que não pode sofrer qualquer influência
ideológica de cunho religioso. Assim, não se pode permitir que a prática
abortiva seja incriminada com base em valores primordiais, provenientes de
uma época em que a mulher sequer poderia votar e ser alguém
independentemente de seu esposo. (SILVA, 2019)

Assim, o Estado laico não deveria colocar bases religiosas, principalmente, a católica,
para debater sobre os direitos ou não das mulheres.
Em meados de 2010, a Pesquisa Nacional do Aborto (DINIZ e MEDEIROS,
2010) foi realizada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB) e
demonstrou que: 55% das mulheres precisaram de internação por
complicações decorrentes do aborto; 48% das pesquisadas referiu ter usado
medicamentos para abortar; 13% delas relatou ter feito aborto entre 16 e 17
anos; 16% entre 18 e 19 anos; 24% entre 20 e 24 anos. (SILVA, 2019)
Segundo balanço do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e do Cadastro
Nacional de Crianças e Adolescentes Acolhidos (CNCA), no país, cerca de
47 mil crianças e adolescentes crescem nos abrigos, mas, desses, apenas
7.300 estão aptos judicialmente para serem adotados. (BERTOLUCCI, 2017
apud Silva. 2019)

Nota-se a proibição do aborto não traz uma proteção e garantia a uma vida digna para
os que nascem, logo do que adianta nascer se não vai ser resguardado o direito a
uma vida com amor, carinho, educação, alimentação, atenção, afeto que são condutas
que somente uma família estável pode atribuir.
“Nesse sentido, o mesmo sistema que não dá meios à efetivação de uma adoção
célere e integral a todos que a buscam, não pode incriminar a conduta da mulher que
não se julga apta a gerir.” (SILVA, 2019)
Em síntese, o tema sobre aborto é uma conduta que dever ser tratado como direito
da dignidade, liberdade e a vida da mulher e não crime.
FICHAMENTO 2

NOCOLITT, André. BORGES, Charlene da Silva. VAZ Lívia Sant’Anna e MATTOS


Saulo. Aborto, racismo e patriarcado punitivo. 24 agosto 2022. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2020-ago-24/opiniao-aborto-racismo-patriarcado-punitivo
Acesso em: 08 de set. de 2022

Palavras-chave: aborto, patriarcado, racismo, Estado, punição.

As mulheres sempre tiveram dificuldades para ter sua independência e seus


direitos, principalmente, a liberdade aos corpos serem preservados. “Ao analisar o
sistema de Justiça sob um prisma estrutural, é possível afirmar que as mulheres
enfrentam graves dificuldades para obter a tutela dos seus direitos, seja no âmbito
cível, seja no penal.” (NOCOLITT, BORGES, VAZ e MATTOS, 2020).
Assim, ao longo dos anos mulheres sofreram, e ainda sofrem, em busca dos
seus direitos, sendo que uma da maior busca é a legalização ao aborto, logo, ter
atitude sem ser criminalizada, pois já basta a sociedade ter um olhar machista para
essa questão.
“A cultura jurídica do Direito Penal, seja material ou processual, é composta por
uma estrutura normativa produzida por homens e para homens, na qual a experiência
masculina é apresentada como central à experiência humana.” (NOCOLITT,
BORGES, VAZ e MATTOS, 2020). Dessa forma as mulheres são deixa em segundo
plano, assim, deixando de tratar questões importante para a dignidade da mulher,
como o aborto, pelo qual ainda é criminalizado. Por esse fato, muitas delas buscam o
abortamento clandestino, que por consequência mulheres são internadas e podendo
chegar ao óbito.
O controle de natalidade — consistente na escolha individual de métodos
contraceptivos seguros, bem como a realização de abortos, quando
necessários — é um pré-requisito fundamental para a emancipação das
mulheres, como pontua Angela Davis
Além disso, Davis quando expressivos números de mulheres negras e latinas
recorrem ao aborto, as histórias relatadas não dizem respeito, propriamente,
ao desejo de ficarem livres da gravidez, mas, principalmente, às condições
sociais miseráveis que as levaram a desistir de trazer novas vidas ao mundo,
o que aponta para uma relação histórica entre a prática do aborto e a
escravidão. (apud. NOCOLITT, BORGES, VAZ e MATTOS, 2020, texto
digital)
Logo esse controle de natalidade, está ligado aos direitos reprodutivos, assim
não corresponde apenas ao abortamento, mas as questões de saúde publicam como
doenças sexualmente transmissível, um parto de qualidade e uma maneira de ter um
planejamento familiar, assim, a criança poderá ter uma infraestrutura e cuidado
necessário no seu crescimento.
Assim, observa-se que mulheres negras tem menos acesso as questões
política públicas se for comparar com mulheres brancas, assim, possuindo uma
grande violação aos direitos reprodutivos.

Nesse sentido, violações aos direitos reprodutivos assumem formatos


diferentes em relação a mulheres brancas e negras, quando se entrecruzam
as dimensões de classe, gênero e raça, por exemplo. No Brasil, para
mulheres negras, o cenário do aborto clandestino assume feições dantescas.
(NOCOLITT, BORGES, VAZ e MATTOS, 2020, texto digital)
Nota-se que a questão de criminalizar tem um foco prejudicial e ofensivo a
um determinado gênero, raça e sexo. “A opção estatal em criminalizar a
conduta relacionada ao ato de interromper a gravidez revela o perfil
androcêntrico, classista e racista do Direito Penal” (NOCOLITT, BORGES,
VAZ e MATTOS, 2020).
É o que se percebe dos artigos 124 e 126 do Código Penal, que tratam do
aborto, sem considerar a autodeterminação existencial da mulher. São
dispositivos penais anacrônicos, que favorecem a continuidade do
patriarcado que, aliado ao racismo e ao classismo, violenta mais
intensamente mulheres negras e pobres. (NOCOLITT, BORGES, VAZ e
MATTOS, 2020).

Contudo, além de ter esse machismo entrelaçado no meio da legislação, ocorre


um constrangimento social, com o desejo de punir o corpo feminino, como e feito a
milhares de anos, que insulta uma criança de 10 anos e menina de 11 anos impedida
de realizar o abortamento pela promotora, essas vítimas têm em comum, além de
serem crianças, foram estupradas. Observa-se que no Brasil julga e condena mais o
abortamento do que, no caso que advém de um estupro, o estuprador. Isso está ligado
a uma questão social e, principalmente, religiosa, ainda que se viva em um Estado
laico.
Veja-se que, historicamente, os critérios religiosos e morais
estiveram muito próximos da abordagem punitiva da transgressão
feminina ao desempenho dos papéis sociais que lhe são postos
pelo patriarcado. Não por acaso, a maioria dos argumentos
contrários à descriminalização da interrupção da gravidez até a
12ª semana são de ordem moral e religiosa. (NOCOLITT,
BORGES, VAZ e MATTOS, 2020).
O óbito por aborto caracteriza uma situação de iniquidade em saúde devido ao
maior número de óbitos nos grupos de maior vulnerabilidade (baixa escolaridade e
raça/cor negra).

Conclusão

O acesso ao aborto como um direito humano é devido ao fato de várias


mulheres terem acesso somente ao clandestino de má qualidade, por consequência,
levando muitas a óbito e em sua maioria são negras e pobres.
Logo, as mulheres perdem a autonomia da própria vida, tendo sua dignidade
massacrada por um Estado machista que utiliza o código penal de 1940 para
criminalizar seus corpos.
Nessa perspectiva, o não acesso ao aborto seguro é intensificado por ser
criminalizado, assim, o processo para fazer o abortamento, mesmo que ilegal, é
ressalvado a uma parcela da sociedade e as que mais sofrem, são mulheres pretas e
pobres que não tem condição de pagar, assim, sofre o seu corpo, sua dignidade, seu
psicológico.
O fato é que a criminalização não faz diminuir a procura pelo abortamento, mas
causa uma opressão psicológica na mulher tanto pelo Estado quando pela sociedade.
Portanto o pensamento retrógado e patriarcal consegui influenciar nos corpos
das mulheres.

[...]o Brasil, devido a intensa influência das religiões no Estado, está longe de
pensar assim. A criminalização do aborto é essencial para o patriarcado
exercer o controle sobe corpo feminino, tratando as mulheres como seres
incapazes de fazer escolhas. Ocorre uma sub-valorização do corpo feminino,
na qual acredita ser a sua única função é a reprodução, portanto, o feto
merece mais proteção do a mulher (SCHREINER, 2022, texto digital).

Assim, o direito ao aborto está ligado à liberdade, o fato de a mulher conseguir


planejar sua própria vida, sem precisar ferir sua dignidade e seu direito à saúde e à
vida que é uma garantia Constitucional.
Portanto, mulheres só terem seus direitos garantidos, quando poderem fazer
ou não fazer com os seus próprios corpos, sem influência negativas do Estado,
sociedade e do patriarca brasileiro. Assim, terá acesso a sua dignidade de ser mulher
como quiser.
PERGUNTAS:

O autor levanta uma polêmica entre a comunidade jurídica por causa de algum
problema/questão implicado na sua delimitação sobre incompletude e
inconsistência do direito em face de discurso de referencial para sua análise de
outra ciência? Qual e por quê?

Sim, Júlio César não cita outras ciências, mas aborda a questão do Código Penal e
Civil, demostrando o que a lei aborda sobre o tema, tirando o aborto legalizados, o
meio jurídico julga e condena as mulheres pelos seus atos, já que o Código Civil,
artigo 2º, demonstra que os direitos do nascituro estão assegurados desde a
concepção. Apresenta o ponto cientifico, o que tem dentro mulher não é um ser humano ainda,
mas sim um conjunto de células, uma vez que enquanto não completo o sistema nervoso central,
não há falar em pessoa humana e direito à vida.

O autor levanta uma polêmica entre a comunidade jurídica por causa de algum
problema/questão decorrente de divergência quanto ao referencial teórico da
outra ciência utilizado na comunidade científica e sua implicação no direito?
Qual e por quê?

Sim, Júlio César demostra como a sociedade patriarcal (sociologia) e a teologia,


está ligada a uma vertente de proibição e punição nos corpos das mulheres, onde
eles ditam o que pode ser feito ou não. Demostra também os países onde o aborto
não e considerado crime, entre eles pega o Uruguai, para fazer um direito comprado
com o Brasil.

O autor levanta uma polêmica entre a comunidade jurídica por causa de algum
problema/questão acerca da incompletude e inconsistência do direito em face
de determinantes sócio-estruturais? Qual e por quê?

Sim, Júlio César, demonstra argumentos contrários ao aborto que estão a Teoria
Concepcionista do Direito Civil, os Direitos e deveres individuais e coletivos. Artigo 5:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida...”
e Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), artigo 3: “ A criança e o
adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei
ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade
e de dignidade.
Demostrando, também, os argumentos favoráveis ao aborto, assim, fala que
defender essa prática é fundamenta, pois está ligada princípios da dignidade,
liberdade, igualdade, proporcionalidade e intervenção mínima do Estado. Assim, o
Estado deve dar acesso seguro para realização, pois essas práticas seriam contra o
direito de saúde da mulher. Logo, a questão do Estado e da cultura patriarcado,
demostra q a mulher deve ter direito sobre seu corpo, podendo decidir se que ou
não ser mãe.

O autor levanta uma polêmica entre a comunidade jurídica por causa de algum
problema/questão sobre a (in) efetividade de alguma norma ou política pública
de corrente de determinantes sócio-estruturais? Qual e por quê?

Sim, Júlio César, demostra o Direito Penal que criminaliza os atos da mulher em
relação ao seu corpo e a questão do Código Civil, que traz o direito do feto desde a
concepção, por outro lado demostra a violação acesso a saúde da mulher para
conseguir um abortamento seguro e a falta de respeito sobre a dignidade à vida da
mulher, pois acaba violando a integridade física, psíquica e moral, bem como sua vida,
para consegui o seu direito de escolha.

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