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APONTAMENTOS SOBRE A DESCRIMINALIZAÇÃO DO
ABORTO: AS MULHEREM DEVEM TER LEGALIZADO O DIREITO
DE INTERROMPER A GRAVIDEZ?

11 de abril de 2019. O Tribunal Constitucional da

Coreia do Sul declarou inconstitucional a proibição
do aborto no país e invalidou uma lei de 1953 que
criminaliza a prática. De acordo com uma matéria Se homem engravidasse, aborto teria sido resolvido
há tempos.
publicada pelo DW, a corte se posicionou no
sentido de que "A proibição ao aborto limita os - Luis Roberto Barroso (ministro do STF)
direitos das mulheres de perseguir seus próprios
destinos e viola seus direitos à saúde ao restringir
seu acesso a procedimentos seguros e pontuais". A
Conferência dos Bispos da Coreia do Sul afirmou
lamentar profundamente a opinião da corte. "A
decisão nega aos embriões, que não têm a
capacidade de se defender, o direito à vida",
disseram os bispos. Afinal, as mulheres devem ter
o direito de interromper a gravidez? É sobre isso
que vamos falar agora, tomando como referência
principalmente o cenário brasileiro.
Foto: Pixabay
Falar sobre o aborto envolve uma postura que seja favorável ou contra.
série de DIFERENTES CONFLITOS, Ouvir esses argumentos é importante,
sejam eles filosóficos, ideológicos, principalmente quando o diálogo é
religiosos ou morais. Até mesmo pautado no respeito e no
uma divergência política é profissionalismo. Enquanto agentes
perceptível em relação ao tema, sociais e membros de uma mesma
visto que, em sua grande maioria, sociedade, é preciso aprender a
aqueles que defendem a conviver com diferentes pontos de
descriminalização compactuam vistas e, a partir disso, chegar a um
com uma certa corrente partidária, consenso. Tal consenso é alcançado,
enquanto aqueles que são contra geralmente, com a análise de estudos,
se identificam com o lado oposto, pesquisas, dados, opiniões de
mais conservador. O fato é que, especialistas e desconstruções
para se discutir algo com a errôneas a respeito de determinada
complexidade que esse assunto coisa. Chegar a um consenso não
exige, o ideal seria que os significa necessariamente que todos
indivíduos se desvinculassem de vão concordar com ele, mas é algo
qualquer crença pessoal e se importante para manter a ordem
debruçassem naquilo que é o mais social. A princípio, vale ressaltar que
importante: o foco do problema. É seria impossível trazer todo o
natural que pontos de vistas arcabouço bibliográfico referente ao
diferentes surjam. Eles são sempre aborto para este espaço. Todavia,
baseados em argumentos que, a pretende-se levantar reflexões
depender de quem esteja interessantes, buscando expor fatos
defendendo, vai levantar uma que gerem indagações contundentes
kkkkkkk e anencefalia fetal.
e instigue você, leitor, a pensar e se
posicionar. O aborto existe. Ele é
uma realidade. O fato de você
concordar ou não com a prática do
aborto, não faz ele deixar de existir.
No Brasil, é considerado crime e
está regulado no Código Penal
Brasileiro entre os Artigos 124 a
128. É punida a gestante que
pratica, nela mesma, as manobras
abortivas ou então consente para
que outra pessoa assim o faça.
Nesse mesmo diploma normativo,
estão também descritas as
HIPÓTESES LEGAIS DO
PROCEDIMENTO, nas quais a
prática deixa de ser considerada
crime devido a algumas
circunstâncias. São os casos em que
a gravidez representa risco de vida
para mulher ou a gestação é
resultante de estupro. Em 2012,
uma decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF) fez somar às duas
exceções anteriores os casos de
Mesmo diante desses casos em que
o aborto é permitido, ainda são
inúmeras as dificuldades
enfrentadas por mulheres que
buscam realizar o procedimento de
forma legal. Pesquisa
da International Women's Health
Coalition, organização que atua
globalmente pelos direitos
reprodutivos, mostra os impactos
da chamada "OBJEÇÃO DE
CONSCIÊNCIA". O termo é usado
quando profissionais alegam
questões morais ou religiosas para
não trabalhar em um abortamento
ou em procedimentos que
envolvam métodos contraceptivos.
Uma norma técnica do Ministério
da Saúde e o Código de Ética
Médica garantem que, no Brasil,
médicos têm o direito individual de
recusa. Entretanto, isso só pode
acontecer se não houver risco à
saúde da mulher e se houver outro
médico disponível para fazer o
procedimento. Tal fato deixa claro
como o assunto ainda é
delicado,kkkkk
tratado muitas vezes como tabu e opinião favorável ou contra. Ressalte-se
trazendo sérias CONSEQUÊNCIAS ainda, que, mesmo gerando controvérsias
PSICOLÓGICAS para a mulher, a a respeito da noção de estado laico, a
qual, mesmo diante das hipóteses Igreja Católica e, mais recentemente, as
legais mencionadas anteriormente, Evangélicas, são atores sociais com
sofre JULGAMENTOS MORAL E participação ativa nos debates dentro e
SOCIAL. Mas, o que impede que o fora do Congresso e ações estratégicas
aborto seja legalizado no Brasil, a para influenciar a legislação. É fácil
exemplo do que aconteceu com a identificar essa relação entre Igreja e
Coreia do Sul, exposto na Estado, principalmente em alguns
introdução do tema? São vários os pronunciamentos, nos quais são usados
contornos por trás dessa resposta. referências e trechos bíblicos.
Como já dito, ao falar sobre isso, há
todo um arcabouço filosófico,
religioso e moral, não apenas por
parte daqueles que compõem o
Congresso Nacional, os quais se
sentem muitas vezes intimidados e
com medo de desagradar a
eleitores, como também da própria
população em si. Apesar de já
sentir mudanças significativas
nesse cenário, é difícil presenciar
em conversas rotineiras a pauta do
aborto. Pelo contrário, muitas Foto: Pixabay
pessoas evitam falar a respeito,
resumindo apenas em emitir uma
kkkk
Com a última eleição, por exemplo, Em contrapartida, cumpre
a bancada evangélica é composta evidenciar que não está em
atualmente por 91 congressistas - questão apenas o embrião (ou
antes tinha 71. Mas por que essa feto), mas também a VIDA DAS
informação é importante? Porque MULHERES. A criminalização e os
de uma forma ou de outra, o obstáculos para o acesso ao aborto
debate sobre aborto está não impede que as mulheres o
intimamente ligado à religião. Isso realizem, recorrendo, na maioria
não significa que, para você adotar das vezes, a clínicas clandestinas,
uma posição favorável ou contra, automedicação por conta própria
você precisa necessariamente estar ou métodos rudimentares, os quais
vinculado a um grupo religioso ou colocam em risco a vida e a
alguma comunidade de fé. Não integridade da mulher. Quem
significa também que essa recorre a esse caminho são aquelas
associação seja uma coisa boa. No que não têm condições financeiras
entanto, existe toda uma e estruturais de realizar o
mobilização desse setor para que a procedimento de forma segura; são
prática não seja descriminalizada, aquelas que estão sozinhas ou
alegando principalmente a desamparadas pelos parceiros. Isso
INVIOLABILIDADE À VIDA como faz refletir também sobre uma
principal argumento, instituto que QUESTÃO SOCIAL: ricas pagam,
possui previsão jurídica na própria pobres morrem. O fato é que o
Constituição Federal. A aborto deve ser encarado além de
inviolabilidade consiste numa uma perspectiva jurídica e penal,
proteção do direito à vida contra visto que a lei a existe, mas não é
violações por parte do Estado e de eficiente para impedir a prática.
terceiros.
O debate abrange questões de
SAÚDE PÚBLICA, DIREITO DE
DECIDIR SOBRE SUAS VIDAS e
AUTONOMIA SOBRE O PRÓPRIO
CORPO. O Governo Federal não
tem informações sobre o número
de abortos ilegais no país. No
sistema de saúde, também não há
dados, justamente porque o
procedimento é crime quando está
fora das 3 previsões legais. De
acordo com o Datasus, em 2017,
foram registradas 177.464
curetagens pós-abortamento, um
tipo de raspagem da parte interna
do útero. Os números incluem
tanto atendimentos após abortos
clandestinos, quanto alguns
abortos espontâneos, mas a
estimativa é que dois terços do
total sejam ilegais. Enquanto a
sociedade e o poder público se
omitem do debate, retardando o
real enfrentamento do problema,
mulheres morrem de forma cruel e
anônima ao tentar realizar aborto.
 Foto: Fernando Frazão / Agencia Brasil

Você sabia que muitas

mulheres acabam morrendo
em decorrência de suas
próprias atitudes para
abortar?

Entre os métodos mais rudimentares

está a introdução de objetos
pontiagudos, como agulhas de
costura. Também é comum a
ingestão de chás feitos com a
mistura de diversas ervas, além da
submissão ao atendimento em
clínicas clandestinas, que não
possuem licença para funcionar e
adotam procedimentos
extremamente arriscados para a
mulher.
 ANOTA AÍ
 Em 2018, nos dias 03 e 06 de agosto,
aconteceu no Supremo Tribunal Federal
uma audiência pública para debater a
descriminalização do aborto no Brasil. A
discussão foi conduzida pela ministra
Rosa Weber e teve como foco uma ação
impetrada pelo partido PSOL, o qual pede
que sejam considerados inconstitucionais
os artigos do Código Penal que
criminalizam o aborto até a décima
segunda semana de gestação;
 O partido argumenta que a criminalização
do aborto viola diversos direitos
fundamentais: da dignidade da pessoa
humana, da cidadania, da não
discriminação, inviolabilidade da vida,
liberdade, igualdade, proibição da tortura
ou tratamento desumano, saúde e
planejamento familiar de mulheres,
adolescentes e meninas;
 Hoje, no Brasil, a pena para uma grávida
que provoca a interrupção da gravidez é
de até três anos de prisão;
 Entre os fatores que levam brasileiras a
não terem o direito ao aborto garantido,
mesmo quando ele é legalizado, estão falta
de informação, precariedade no
atendimento na rede credenciada e recusa
de profissionais de saúde em realizar o
procedimento. Também estão envolvidas
questões ligadas ao estigma social,
especialmente nos casos de estupro;
 Segundo a última Pesquisa Nacional do
Aborto (PNA), realizada em 2016, 13% das
entrevistadas já haviam provocado um
aborto na vida. Entre as mulheres de 35 a
39 anos, uma em cada cinco alegou já ter
abortado;
 Pesquisas por pílulas abortivas na Internet
dobraram no mundo durante a última
década, de acordo com uma análise de
dados do Google feita pela BBC.
Comprando online e compartilhando
conselhos pelo WhatsApp, as mulheres
estão cada vez mais usando a tecnologia
para burlar as barreiras legais ao aborto.
DIALOGANDO MOMENTO FILOSÓFICO

Você pode ser contra ao aborto no seu íntimo e mesmo assim A filosofia existe, sobretudo, para estimular o pensar e fomentar
defender o aborto seguro? indagações a respeito de determinada coisa. Ao falar de um tema
sobre o aborto, vários são os questionamentos que podem surgir. A
Sim! Um dos pontos que se discute, quando o assunto é aborto, é
mulher e o feto são as figuras centrais do debate. Pouco se fala,
sobre ser contra ou a favor do ato de abortar. Não é coerente,
todavia, sobre a figura masculina. Quantos homens não “abortam”
todavia, fazer essa pergunta de forma direta e
seus filhos com o abandono, falta de assistência e ausência, tanto
descontextualizada. Dificilmente uma pessoa será a favor do
afetiva, quanto financeira? Simplesmente geram um indivíduo e não
aborto no sentido de estimular a morte de bebês, como apontam
arcam com as consequências e as responsabilidades desse ato, não
alguns movimentos mais radicais. O que se discute, bem como o
cumprindo seu papel de pai. Seria possível, nesses casos, falar em
que deveria ser o foco do debate, é a defesa do aborto seguro,
“aborto sentimental”? Por que deve recair apenas sobre a figura
visto que o procedimento ocorre mesmo sendo criminalizado.
feminina o estigma da decisão de abortar, bem como todo o
Mulheres entram em contato com traficantes para conseguirem
julgamento moral e social que é feito? Seria reflexo de uma
pílulas abortivas, realizam o procedimento sem auxílio, se
sociedade patriarcal e machista? Se é a mulher que vai suportar o
expõem a diversas vulnerabilidades e acabam morrendo em
grande ônus da gestação, com alterações no corpo e no seu estilo de
decorrência de suas próprias atitudes. Do total estimado de
vida, será que não caberia a ela o direito de decidir? Ao negar esse
abortos feitos entre 2010 e 2014 em todo o mundo (55,7
direito a uma mulher, não estaria também sendo negada a
milhões), 45% foram realizados em condições inseguras, afirma
autonomia sobre seu próprio corpo? Não seria menos doloroso
estudo da Organização Mundial da Saúde e do Instituto
interromper uma gravidez indesejada em seu período inicial do que
Guttmacher. Ainda segundo a OMS, um aborto é considerado
permitir que uma criança nasça para sofrer rejeição, abandono e
seguro quando feito com um profissional de saúde que seguiu
sofrimento? O direito à vida do feto deve se sobrepor ao direito à
todas as recomendações de segurança da instituição sobre
vida da mulher? E por que o casal não se preveniu? Não seria mais
abortamento - que inclui o uso de medicamentos,
prudente estimular o debate sobre prevenção, educação sexual e
preferencialmente, e de métodos menos invasivos, como a
consequências de uma maternidade/paternidade indesejada?
dilatação. Mesmo sendo contra o aborto no seu íntimo, você
Filosofar é um processo denso e que nem sempre resulta em
pode ser a favor do acesso ao aborto seguro sem que isso seja
respostas concretas e consensuais.
contraditório.
 BIBLIOGRAFIA
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OLIVEIRA, Mariana. STF faz audiência pública para debater ação que pede descriminalização do aborto até 12ª semana de gestação. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/2018/08/03/stf-faz-audiencia-publica-para-debater-acao-que-pede-legalizacao-do-aborto-ate-12a-semana-de-
gestacao.ghtml>. Acesso em: 07/04/2019.

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