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 A ARTE DO TEATRO COMO FERRAMENTA EDUCACIONAL:
INDO ALÉM DO ENSINO COMUM

Quantas vezes você foi ao teatro este ano?

Possivelmente a resposta para essa pergunta é A arte é a auto expressão lutando para ser absoluta.
“nenhuma” ou “poucas”. Embora a contemplação
de atividades teatrais não alcance um público tão Fernando Pessoa
grande atualmente, nem sempre foi assim. Na
Grécia Antiga, o teatro era um espetáculo bastante
popular, sendo utilizado também para a educação
de jovens. Os gêneros teatrais mais utilizados eram
a tragédia e a comédia. Hoje, compreender o
teatro como uma manifestação artística que
promove interação social e possibilita o
desenvolvimento do indivíduo se faz importante, a
fim de fomentar essa prática como uma
ferramenta educacional que possibilite novas
formas de aprendizagem.

Foto: Pexels
É mediante a INTERAÇÃO com o
ambiente que o ser humano se
desenvolve desde o seu
nascimento. O contato e as trocas
com o mundo possibilitam que a
criança receba uma série de
estímulos que fomentam os
desenvolvimentos físico, emocional
e cognitivo. De acordo com o
psicólogo Lev Vygotsky, é por meio
da interação social que a criança
acessa diferentes modos de pensar
e agir. Falar sobre isso é
importante ao se pensar na
inclusão do teatro no ambiente
escolar, uma vez que muitos
estudos entendem essa prática
como uma atividade que evidencia
a interação social e a ação dos
sujeitos. No teatro, há diversas
possibilidades de interação,
internalização da cultura e uso da
palavra e da expressão, o que pode
ser de grande valor para o
desenvolvimento de crianças e
kkkkk
adolescentes. O uso da linguagem
verbal e corporal, a memorização, a
atenção, entre outras atividades,
na prática teatral necessitam de
interação social e fazem parte da
cultura. A interação se estabelece
no contato entre atores, escritor,
diretor, técnico, entre outros.
Também na reação da plateia, que
reage de diferentes modos e cobra
do artista o dever de estar
conectado com as respostas do
público: se boceja, olha para o
lado, conversa, ri, chora. É também
uma ATIVIDADE COLETIVA, na qual
se seguem regras, sendo
fundamental respeitar o outro e
saber lidar com diferentes pontos
de vista. O teatro ainda trabalha a
imaginação e a CRIATIVIDADE,
além de ser extremamente
motivador, pois afeta o indivíduo
nos aspectos emocionais,
cognitivos, motores e sociais. Isso
se torna essencial no processo de
aprendizagem, pois kkkk
a criança precisa ser motivada, com
o intuito de que se interesse pela
escola e pelas atividades escolares.
No ambiente escolar, o teatro pode
ser trabalhado em pelo menos
duas possibilidades: como
ferramenta pedagógica dentro da
sala de aula ou como atividade
extracurricular. É preciso
considerar que ambas as formas
podem ser combinadas em um
mesmo espaço escolar, ou seja,
não há nenhum impedimento para
usá-las paralelamente. No que
tange ao uso do teatro como
ferramenta pedagógica, nota-se
que o objetivo é a fixação de
conteúdo, isto é, o professor
organiza atividades que permitem
o contato dos alunos com os
objetos de conhecimento, ao
mesmo tempo que os estimulam a
aprender. É válido pontuar que
não só na Grécia o teatro era usado
para promover educação, mas no
kkkk
Brasil também tivemos
experiências semelhantes já no
Século XVI, com os missionários
jesuítas. Na época do Brasil
Colônia, eles inauguraram várias
escolas para servir como base às
missões e isso promovia a
educação. Escreveram vários
poemas e peças de teatros que
tinham como objetivo realizar a
conversão dos índios para o
Catolicismo. Um nome bastante
conhecido nessa época foi JOSÉ DE
ANCHIETA, missionário e autor das
primeiras peças de teatro
encenadas no Brasil. Como sabia da
íntima relação dos indígenas com a
representação das coisas, Anchieta
fez do teatro uma excelente
ferramenta de evangelização. Uma
de suas obras mais conhecidas é o
Auto de São Lourenço, possuindo
versos em três idiomas (Português,
Tupi e Espanhol). O caráter
pedagógico que Anchieta atribuía
kkk
às suas atividades teatrais mostra o outras formas de se conectar ao mundo
poder do teatro como ferramenta da arte. A desvalorização do profissional
pedagógica, principalmente ao de artes cênicas também é um desafio
considerar que o missionário no país, o que faz com quem muitas
conseguiu, em muitos casos, pessoas não escolham a licenciatura.
intermediar as relações Baixa remuneração e desvalorização em
conflituosas entre portugueses e relação a outras disciplinas são questões
indígenas. No Brasil, implementar o importantes a se considerar. Dessa
teatro nas práticas educativas, forma, a ausência de profissionais
dentro e fora da sala de aula, é um qualificados enfraquece a evolução da
desafio. São vários os fatores que área.
se apresentam como obstáculos.
Primeiro, é preciso considerar a
falta de conhecimento de muitos
gestores e coordenadores sobre o
valor desse tipo de aprendizado
artístico, o que faz com que muitos
prefiram implementar outras
formas de arte, como aulas de
Música, Artes Plásticas, História da
Arte. O argumento em questão não
nega a importância desses outros
saberes, mas evidencia que o Foto: Reprodução / Direção Cultura
teatro, muitas vezes, é excluído
quando colocado frente a essas
kkkkk
Paralelamente a isso, nota-se que o
brasileiro, em geral, tem
dificuldade de acesso ao teatro
como atividade cultural. Um
levantamento feito em 2018 pela
consultoria JLeiva Cultura &
Esportes em parceria com o
Datafolha mostra que quase um
terço da população (32%) depende
de acesso gratuito para ir a eventos
culturais. Quando precisam pagar,
o cinema aparece como atividade
de preferência. Ou seja, a falta de
DEMOCRATIZAÇÃO de atividades
culturais, como o teatro, distancia
o brasileiro do contato com essa
prática. Tal questão precisa ser
destacada, pois a ausência de
preocupação dos pais em relação à
implementação do teatro na escola
se dá devido à falta de conexão
com esse produto cultural.
Não só dos pais, mas dos próprios
estudantes também. Sendo assim,
democratizar o acesso a bens
culturais, como o teatro, pode ser
uma etapa importante para o uso
dessa ferramenta no âmbito
educacional. Vygotsky, que sentiu
os efeitos da arte na própria pele,
afirma que a expressão artística é
uma necessidade intrínseca do ser
humano. Trabalhar a atividade
teatral significa impulsionar
capacidades e habilidades para a
vida do aluno, o que trará
consequências positivas, não só
dentro da escola, mas fora dela.
 Foto: Pexels

VOCÊ SABIA que as

mulheres não podiam
atuar em apresentações
teatrais na Grécia
Antiga?
 ANOTA AÍ
 A obrigatoriedade do ensino da arte na
educação só aconteceu no Brasil durante a
ditadura militar. O problema é que a lei
aprovada no período ignorou a falta de cursos
universitários para a formação de profissionais
qualificados. Sendo assim, a falta de
investimento prévio na formação de
professores fez com que as escolas
atribuíssem as aulas de artes a professores
especialistas em outras áreas, não estando
estes completamente habilitados;
 Na Grécia Antiga, os principais gêneros
teatrais eram a tragédia e a comédia. Os
atores atuavam utilizando máscaras, com a
finalidade de transmitir ao público as
mensagens que estavam sendo encenadas. As
tragédias normalmente possuíam temas
míticos e discutiam problemas do indivíduo,
como a questão do destino, as paixões e
justiças;
 Por outro lado, as comédias eram bastante
satíricas em relação aos costumes e ao
comportamento da sociedade da época. Não
havia limites para o riso. Até mesmo os Deuses
eram ridicularizados. O autor desse gênero
mais conhecido é Aristófanes, que escreveu As
Nuvens, As Rãs e As Vespas;
 Atividades teatrais também podem ser
utilizadas como ferramenta de inclusão social.
O teatro pode ser usado para ajudar crianças e
jovens em comunidades carentes a ter uma
nova perspectiva e exercitar a imaginação.
Muitas vezes isso é fundamental para que o
indivíduo, que vive em situações adversas, em
ambientes com altos índices de pobreza e
violência, por exemplo, não acabe se
envolvendo com o mundo do crime.
 DIALOGANDO
“O teatro… Como falar dele? Não tem como falar, só fazer. Desde o
homem primitivo, temos a necessidade de nos mostrar em público e
alguns seres, conhecidos como atores, desfrutam desse privilégio.
Depois de muitas etapas de evolução e criação, o teatro chega ao
contemporâneo com diversas linguagens que discutem a vida. Eu
trabalho como ator criador. Iniciei meu fazer teatral em 1997, fiz alguns
cursos livres e acabei me interessando por procurar uma faculdade de
Artes Cênicas. Em 2002, ingressei no curso no Centro Universitário
Barão de Mauá, de Ribeirão Preto/SP. Depois de formado, procurei me
profissionalizar ainda mais. Então passei a trabalhar em companhias e
dar aulas, cursos e oficinas no meio acadêmico. Quando alguém me diz
para não tentar teatro porque vai passar fome, sempre digo: fome
nunca passei… Mas tem que ter muita vontade de trabalhar para
ganhar dinheiro. Teve mês que estava em três trabalhos para conseguir
ganhar uma grana bacana e teve mês de não entrar absolutamente
nada. A gente tem que ser igual à formiga operária e trabalhar o ano
inteiro enquanto tem, para garantir quando não tem nada para ganhar.
No meio da minha carreira, encontrei os apoios culturais que, de início,
não ‘botavam fé’ – mas fui aprender como fazia o projeto para captar
recursos e, quando consegui, acabei vendo que é, sim, um grande meio
de apoio a grupos que querem fazer a arte acontecer. Muitas vezes
temos boa ideias no papel, mas precisa de dinheiro para levantar.”
As falas acima são do professor e ator Guilherme Hernandes para o site
Fala Universidades. Para conferir a matéria completa realizada com
Hernandes é só acessar o link a seguir: https://bit.ly/2TXdegY
MOMENTO FILOSÓFICO
A palavra teatro, theatron em grego, possui o seguinte significado: o
lugar de onde se vê. Para o filósofo grego Aristóteles, o teatro
permitia conhecer além da superfície. Ou seja, enxergar além do
discurso, além das aparências. Isso não ocorre de uma hora para
outra, mas é uma construção lenta. No livro “A arte Poética”, o
filósofo analisou a epopeia, a tragédia e a comédia. “Ele não foi o
primeiro a escrever sobre teatro. Platão já tinha se interessado sobre o
tema. Aristóteles, como discípulo de Platão, de certa forma, mantém
um diálogo com Platão acerca disso, mas o tratado dele foi o primeiro
que vingou, que chegou praticamente na íntegra para nós e que exerceu
uma influência enorme sobre tudo o que se escreveu sobre teatro e
sobre a poesia posteriormente”, diz a professora de Língua e Literatura
Grega, Adriane da Silva Duarte. A Grécia é considerada o berço do
teatro. Duarte explica: “Além de os gregos serem tidos como inventores
do teatro, eles também são os inventores da reflexão sobre o teatro. A
‘Poética’ é documento que marca essa reflexão e, por ser um
documento inicial, serve como paradigma para tudo o que foi feito
depois. Então, tem um papel de autoridade, por ser grego, por ser
representante de uma escola filosófica importante e por ser inclusive
fonte sobre algumas obras que se perderam na atualidade. Aristóteles
também inova a partir do momento que considera a recepção e a
função da obra de arte. Para ele, a tragédia deveria suscitar algumas
emoções, no caso, o terror e a piedade, através das quais, quando o
espectador as experimentasse, seria levado a uma espécie de
purificação, que ele chama de catarse, e isso seria a fonte do prazer
estético. Essas questões da recepção e da função da obra de arte ainda
continuam sendo muito relevantes”.
 BIBLIOGRAFIA
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<http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2011/10/reflexoes-de-aristoteles-sobre-o-teatro-e-poetica-continuam-pertinentes.html>. Acesso em:
31/03/2019

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ALVES, Alexandre; DE OLIVEIRA, Letícia Fagundes. Conexões com a História. São Paulo: Moderna. 2010.

ABAURRE, Maria Luiza M. Literatura Brasileira: Tempos, Leitores e Leituras. São Paulo: Moderna, 2005.

ELIZABETH, Campos; CARDOSO, Paula Marques; DE ANDRADE, Silvia Letícia. Viva Português - Vol. 1 - Editora Ática.

VICENTINO, Claudio. História Geral: volume único. São Paulo: Scipione, 2000.

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