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I
EDUCAÇÃO TEATRAL NO ENSINO BÁSICO NO MUNICÍPIO DE MONTUPUEZ
RESUMO
O presente artigo visa analisar sobre “Educação Teatral no Ensino Básico no Município de
Montupuez”, além de suas aplicabilidades no ambiente escolar, cuja utilização constitui
importante ferramenta pedagógica. Para tanto optou-se pela abordagem qualitativa com a
direcção da escola no Município de Montepuez especificamente na Escola Primária Completa
de N’coripo. O instrumento utilizado para a colecta de dados nesta pesquisa foi á entrevista. Os
resultados mostram que na escola Primária Completa de N’coripo na Cidade Montepuez, não se
faz uso do teatro. A escola tem como a principal dificuldade a falta de professores formados para
trabalhar na área de teatro. Porém assumem que há necessidade de preparar os professores desta
escola em matéria de teatro para devido uso deste recurso pedagógico e incluir esta arte no plano
curricular no ensino básico.
ABSTRACT
Introdução
Este artigo aborda o teatro como uma actividade potencialmente muito produtiva no
universo escolar de Moçambique, capaz de promover habilidades essenciais para o
desenvolvimento integral do aluno, muitas vezes, negligenciadas pelo plano curricular
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obrigatório. Porém o teatro como forma lúdica de aprendizagem na educação no ensino básico,
pois este é um dos caminhos para que a escola e os professores possam interagir com as crianças
de forma criativa, produtiva e participativa. Nesse sentido busca-se responder a seguinte
pergunta neste artigo: “Como é feito a educação teatral no ensino básico no Município de
Montupuez Especificamente na Escola Primária de N’coripo?
Para responder ao problema e aos objectivos propostos na pesquisa, optou-se pela abordagem
qualitativa, na qual se limitou em fazer uma descrição precisa da situação e procurar descobrir
ideias e soluções na tentativa de obter maior clareza com o tema em análise. Como técnica para
colecta de dados utilizou-se instrumentos qualitativos (entrevistas semiestruturadas dirigida aos
membros da direcção, e pesquisa documental).
Dessa forma o texto ora apresentado pretende contribuir para a reflexão sobre o uso do teatro
como um recurso pedagógico em uma escola voltada para formação de um sujeito crítico-
reflexivo, provocando um debate sobre o papel que o teatro vem desempenhando no contexto
escolar, desenvolvendo a reflexão crítica sobre o homem e o mundo.
Particulariza-se as crianças pois são as que mais tempo passam jogando, assistindo mas mesmo
jovens e adultos se divertem-se tanto em expressão dramática, na sua linguagem diária usam
gestos e códigos na sua comunicação em jeito de tornar os assuntos mais singilosos aos outros.
o mundo e da sua participação na cultura. A realidade sempre será um objecto de reflexão crítica
do sujeito que actuará para modificá-la, aperfeiçoando as relações complexas entre sujeitos e
classes sociais. Por esta razão, Freire acredita que o processo de conscientização é interminável,
pois sempre o ser humano estará tecendo novos olhares e descobertas perante a vida e, de modo
inquieto, criando novas formas de aprimorar o mundo.
Em consonância com o posicionamento freireano, Boal afirma que o processo de conscientização
também se dá na relação acção-reflexão-acção. Para o autor, não é preciso simplesmente
compreender a realidade, é imprescindível transformá-la. E para isso, amparado nos pressupostos
teóricos libertadores, Boal apresenta uma proposta metodológica de teatro popular que dê conta
do processo de libertação social (defendido também por Freire) no bojo de movimentos
populares na América latina. Para compreender o pensamento e as contribuições de Boal para o
campo da cultura, é possível salientar o conceito de cultura tratado por Freire, como forma de
delinear a necessidade de investimento no campo da arte para toda a população. Assim,
Assumindo a cultura enquanto ‘aquisição crítica e criadora’, Boal também acentua a percepção
de que todo ser humano precisa de uma formação crítica e criadora, enquanto um dos pilares do
processo de conscientização. Para ele, a arte oferece relevantes mecanismos para o sujeito
conhecer a si próprio, reconhecer o outro e libertar-se conjuntamente por meio do acto teatral. A
conscientização, segundo Boal, perpassa pelo corpo, voz, geração de idéias, partilhas, dentre
outras formas de criação e expressão do sujeito. Segundo ele, historicamente as classes populares
vêm sendo reduzidas ao mero lugar da recepção passiva dos produtos, ideologias e modelos de
comportamento externos à sua classe, história e cultura.
Com a proposta de Teatro do Oprimido, Boal acentua o conceito de conscientização, afirmando
que esta é formada, permanentemente, em contacto directo com os meios de produção cultural da
humanidade. Ou seja, não basta ter consciência de classe ou de gênero, por exemplo, é preciso
proporcionar que outras pessoas e grupos entrem em contacto com suas formas de pensar e de
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produzir cultura. Este empoeiramento, por meio dos meios e dos instrumentos culturais,
educativos, artísticos, imagéticos, pode provocar mudanças na forma de produzir e consumir
bens culturais.
Ao participar dos processos criativos e políticos do Teatro do Oprimido, o sujeito torna-se
consciente de suas potencialidades integrais para a luta social. Conscientiza-se de que seu corpo
não é uma mera máquina de produção de capital; entende que sua voz (do educando e do espect-
ator) ou seja (ao sujeito que é, ao mesmo tempo, espectador e actor,) pode ser uma importante
arma para a mobilização social; percebe que, assim como ele, outras pessoas precisam se libertar,
uns com os outros, mediatizados pela própria cultura. Assim,
Para que se compreenda bem esta Poética do Oprimido deve-se ter sempre presente seu
principal objectivo: transformar o povo, “espectador”, ser passivo no fenómeno teatral,
em sujeito, em actor, em transformador da acção dramática (...). O espectador liberado,
um homem íntegro, se lança a uma acção. (BOAL, 2005, p. 182).
Destarte, Boal enfatiza que o povo ao apropriar-se dos meios de produção teatral, fala do lugar
do oprimido e não simplesmente recebe passivamente aquilo que é oferecido por grupos culturais
hegemónicos. O autor destaca que “o teatro é uma arma e é o povo quem deve manejá-la”.
(BOAL, 2005, p. 182). Com base no pensamento do autor, destacamos a necessidade de
democratização da produção cultural a todas as classes sociais, partindo do entendimento do
teatro enquanto linguagem capaz de humanizar e conscientizar o oprimido de suas
potencialidades fortes ferramentas para a luta social.
O teatro do Oprimido pode ser visto como formação para a actuação prática, com base no
conhecimento do corpo, da mobilização das formas de expressividade e de construção de debates
de cunho estético e político em diferentes meios sociais. Para Boal, a exclusão da população dos
conteúdos e práticas artístico-culturais é um modo de manipulação e exploração social, pois
retira do sujeito a sua capacidade de ler o mundo e de produzir saberes sensíveis na sua cultura.
O pensamento estético, que produz arte e cultura, é essencial para a libertação dos
oprimidos, amplia e aprofunda sua capacidade de conhecer. Só com cidadãos que, por
todos os meios simbólicos (palavras) e sensíveis (som e imagem), se tornam conscientes
da realidade em que vivem e das formas possíveis de transformá-la. (BOAL, 2009, p. 16).
Dessa forma, para os autores, o processo de tomada de consciência do sujeito enquanto produtor
de cultura é fundamental para a libertação social e se dá no bojo da práxis, no exercício do estar-
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Desta forma, não é difícil que por meio dos jogos dramáticos, ou de pequenas cenas
improvisadas, o aluno encontre uma oportunidade de liberação da agressividade e da
potencialidade da criação, “transportando” sua bagagem emocional para aquele o momento em
que coloca, ainda que sem consciência, em cada palavra e acção, traços de sua própria história e
personalidade.
A dramatização, ao atribuir sentimentos pessoais inconfessáveis a personagens, promove a
liberação da culpa e isso, de alguma forma, contribui para o desenvolvimento emocional e,
consequentemente, para o aprimoramento da relação vital do indivíduo com o mundo
contingente.
Por meio da liberação da criatividade promovida pelos jogos e dramatizações, o teatro colabora
para a humanização do indivíduo, fazendo com que sua sensibilidade se aflore, promovendo a
reflexão sobre os sentimentos e acções vividas pelos alunos-atores na “pele” de um personagem,
e , por fim, propiciando, de alguma forma, o “resgate do ser humano diante do processo social
conturbado que se atravessa na contemporaneidade” (KOUDELA, 2005, p.147).
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A criança, inserida nesse tipo de educação significativa, cria um senso de cidadania e um visão
amplificada do mundo. E é exactamente essa educação que se preocupa com a “[...] formação do
sentimento de cidadania a partir do nascimento e que se organiza para oferecer os meios pelos
quais pode tomar posse da cultura que pulsa ao seu redor” (SOUZA, 2008, p.22) é que traz
condições de criar adultos com consciência crítica das relações em geral, tal como afirma Souza,
no seguinte excerto:
A B
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Figura 1: A: Sala dos professores e Secretaria da Escola Primária de N’coripo. B: salas de aulas
da Escola primária de N’coripo C: Pátio da Escola primária de N’coripo
Para a descrição do trabalho realizado pelo Director da Escola Primária de N’coripo, realizou-se
uma entrevista no dia 24 de Março de 2021. O Director da Escola Primária Completa de
N’coripo é licenciado, exercendo funções de direcção a 9 anos nesta escola.
Perguntado sobre a sua compressão a respeito do teatro e se trazia alguma contribuição na escola,
o director afirmou que o teatro é uma forma de comunicação através de uma peça teatral feito
por actores no público e traz alguma contribuição sobre tudo na aprendizagem rápida e fácil, auto
estima pelas crianças e no relaxamento da mente. Entretanto, este pensamento esta próximo ao
que Souza Argumenta: O interesse da prática teatral na educação infantil é “ recuperar, junto
com a criança pequena, por ela e para ela, o sentimento ancestral de magia e encantamento que a
arte apresentou na constituição da noção da humanidade, para que, ao adquirir o olhar estético, a
criança possa vivenciar o mundo que a rodeia com um profundo sentimento renovador e crítico
que, a qualquer época, é imprescindível para a evolução do que conhecemos hoje como uma
sociedade humana. A prática de teatro na educação infantil prepara a criança para compreender o
mundo, unindo-a ao primitivo. O teatro pode ser a ponte (SOUZA, 2008, p.16).
Questionado sobre como é feito o uso de teatro nesta escola, o director disse que não se faz teatro
a 4 anos nesta escola. Este resultado indica que na Escola Primária Completa de N’coripo não
usam o teatro no ambiente escolar como um recurso pedagógico.
O professor utilizando na sua prática o teatro estará estimulando a criança ao desejo de aprender
e nesta conjuntura REVERBEL (1997) fala da importância do uso do teatro no ensino:
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Questionado sobre as dificuldades encontradas para o uso de teatro nesta escola por onde ele
dirige, o director respondeu que a principal dificuldade encontrada diz respeito a falta de
professores capazes de trabalhar com o teatro. Este cenário indica que há necessidade de preparar
os professores desta escola em matéria de teatro para devido uso deste recurso pedagógico.
O entrevistado argumentou ainda que o teatro pode contribuir positivamente para a educação no
ensino básico, e é uma arte muito eficaz na interpretação de um tema.
Sobre a integração curricular do teatro no Ensino Básico, o director disse que o teatro faz parte
no plano curricular do ensino básico, sobre tudo na 7ª classe na disciplina de Português a penas.
Quanto aos factores da ausência do teatro no ensino básico, o director respondeu que não sabe
explicar porque não se inclui o teatro nas outras classes do ensino básico além da 7ªclasse,
todavia, na escola por onde ele dirige há falta de quadros formados para esta área. Este facto
mostra a falta de inclusão do teatro nas outras classes em particular no ensino básico
especificamente no 1ᵒ e 2ᵒ ciclo do ensino básico. Assim, há necessidade de preparar os
professores desta escola por onde ele dirige em todos ciclos de aprendizagem para que o uso de
teatro nesta escola possa ser aplicado com sucesso.
Considerações finais
Na escola primária completa de N’coripo na Cidade Montepuez, não se faz uso do teatro no
ambiente escolar. Mas reconhecem como sendo uma ferramenta que pode ajudar os alunos na
comunicação através de uma peça teatral feito por um conjunto de actores num público. A escola
tem como a principal dificuldade encontrada no diz respeito a falta de professores capazes de
trabalhar na área de teatro e a falta de inclusão do teatro em todos ciclos no ensino básico.
Todavia assumem que há necessidade de preparar os professores desta escola em matéria de
teatro para devido uso deste recurso pedagógico e incluir esta arte no plano curricular no ensino
básico.
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Referencias Bibliográficas
Costa, I. A. (2003). Desejo de teatro: o instinto do jogo teatral como dado antropológico. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian.
_______, _____. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo.
Editora UNESP, 2000.
Apêndices
Guião de entrevista a direcção da EPC de Mirige
Esta entrevista visa colher informações sobre educação teatral no ensino básico no município de
montupuez . A sua colaboração em relação ao estudo será de grande importância A gradecemos
desde já a sua participação.
Garantimos absoluto Sigilo
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3. O que entendes por teatro? Na sua opinião, ele pode trazer alguma contribuição para a
educação na escola? Se sim quais? Se não, porque?
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5. Quais são as maiores dificuldades encontradas para o uso de teatro na sua escola?
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6. Como gestor, de que maneira o teatro pode contribuir para a educação no ensino básico?
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