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CAPA

FOLHA DE ROSTO
SUMÁRIO
RESUMO

Neste trabalho buscou-se analisar a condição dos serviços assistenciais em saúde


materna oferecidos às mulheres e seus filhos em cárcere dentro das Penitenciárias
Femininas do Brasil. O estudo teve uma abordagem qualitativa e utilizou o
levantamento de dados secundários nas bases de dados: Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic Library
Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e no Google Académico, de
acordo com os objetivos da pesquisa. Verificou-se, a partir da análise das
bibliografias, que existe uma grande quantidade de violações de direitos durante a
prestação dos serviços em saúde às mães privadas de liberdade durante a gravidez,
parto e puerpério. Conclui-se que é preciso a criação de novas estratégias em saúde
dentro dos estabelecimentos penais voltados à humanização e a integralidade da
atenção, envolvendo o trabalho em conjunto dos gestores em saúde e da segurança
pública.

Neste artigo, procuramos analisar a situação dos serviços de saúde materna


oferecidos às mulheres e seus filhos em presídios femininos no Brasil. O estudo
utilizou uma abordagem qualitativa e utilizou um levantamento de dados secundários
nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(Lilacs), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS) e no Google Acadêmico, segundo para fins de pesquisa. Com base na análise
da bibliografia, constatou-se que no decorrer da prestação de serviços de saúde às
mães privadas de liberdade durante a gravidez, parto e puerpério ocorrem muitas
violações de direitos. Afirma-se que é preciso criar estratégias de saúde nas prisões,
voltadas para a humanização e integralidade da atenção, a partir do trabalho
conjunto dos gestores da saúde e da segurança pública.
1. INTRODUÇÃO

A população prisional feminina no Brasil cresceu rápida e significativamente


ao longo dos anos. Segundo os últimos dados do Sistema de Informações
Estatísticas do Departamento Penitenciário Nacional (SISDEPEN), o total de
mulheres presas no sistema prisional brasileiro entre janeiro e junho de 2021 foi de
30.199 (4,48% da população carcerária total), o que corresponde a um aumento de
6,61% em relação a 2010 1. No mesmo período, os números mostram que esse
grupo de mulheres era predominantemente de negras (pardas e pretas), com idade
entre 18 e 29 anos e com baixo nível de escolaridade, não tendo concluído o ensino
fundamental.
Portanto, afirma-se que “apesar deste processo de feminização dos presídios
ser evidente, os espaços e as políticas para as pessoas presas desconsideram as
particularidades e especificidades das mulheres, inviabilizando suas diferentes
experiências e direitos”2. Portanto, deve-se refletir sobre os direitos dessas mulheres
negligenciadas, principalmente no que diz respeito à saúde materna nessa
população.
A vida no cárcere acompanhada da gestação é um momento bastante
peculiar, exigindo cuidados médicos amplos e tornando a mulher mais vulnerável,
pelo que se justifica uma maior atenção às suas necessidades e particularidades.
Consequentemente, o aumento da população prisional feminina trouxe questões
relacionadas à saúde da gestante, que começam a ser incluídas nas políticas
públicas nacionais, como a Lei de Execução Penal 3. Este e outros regulamentos
serão descritos com mais detalhes.
Para esse grupo (mulheres encarceradas), poucas leis foram previstas,
porém, desde as primeiras leis, os cuidados com a gravidez, lactação e
amamentação foram elencados como direitos a serem assegurados 2.
A Lei de Execução Penal (LEP) de 11 de julho de 1984 regulamenta em seu
artigo 14, parágrafo 3º, que as mulheres privadas de liberdade recebam
acompanhamento médico, prioritariamente, pré-natal e pós-parto, estendendo-se
aos recém-nascidos; e os artigos 83 e 89 garantem que as prisões devem ter seções
para gestantes e parturientes, berçário e creche onde possam cuidar e amamentar
seus filhos por um período mínimo de 6 meses e máximo de 7 anos, com o objetivo
de auxiliar crianças indefesas cujos responsáveis estejam encarcerados 4.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) também
editou a Resolução nº 03, de 1º de junho de 2012, orientando as parturientes e
puérperas a não usarem algemas em situações de parto e pós-prato 5. A Política
Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas
do Sistema Prisional – PNAMPE – tem por objetivo capacitar a presença de
acompanhantes de maternidade devidamente cadastrados nas instituições prisionais
durante todo o período de trabalho de parto, parto e puerpério, conforme disposto no
Artigo 19-J da Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990, e a inclusão da gestante na
rede Cegonha do SUS, desde a confirmação da gravidez até os dois primeiros anos
de vida do bebê6. Além disso, as normas da Organização das Nações Unidas (ONU),
conhecidas como Regras de Bangkok, tratam de instalações especiais para o
tratamento de presidiárias grávidas ou puérperas e seus filhos 7.
Todas essas medidas foram desenvolvidas para proteger os direitos das mães
e de seus filhos na prisão, especialmente o direito à saúde, e para protegê-los da
ação disciplinar e do isolamento durante e após a gravidez, com foco em suas
necessidades específicas.
Com relação aos últimos registros referentes à população total de presídios
femininos do Distrito Federal, o número de mulheres presas em 2021 é de 573,
representando 3,68% da população total de presídios femininos do Distrito Federal.
A maioria dessas mulheres tinham entre 35 e 45 anos, cor/raça/etnia parda, solteira
e com ensino fundamental incompleto. Nessa população, o número de presas
lactantes é 2, enquanto o número de gestantes/parteiras é 19 1.
No Distrito Federal (DF), há apenas uma instituição com celas/dormitórios
próprios para gestantes, creches e/ou centros de orientação materno-infantil e
nenhuma com creche. Esta única instituição não possui equipe própria para cuidar
do berçário e/ou creche, os serviços são prestados externamente 1. Segundo a
Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAPE):

A Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF) é um Estabelecimento Prisional


de segurança média destinado ao recolhimento de sentenciadas a cumprimento de
pena privativa de liberdade em regime fechado e semiaberto com e sem benefícios
externos, bem como de presas provisórias que aguardam julgamento pelo Poder
Judiciário8.
Nesta penitenciária há uma ala de 24 vagas destinada a gestantes e outra de
22 vagas para recém-nascidos de até 6 meses, que contam com as estruturas
necessárias para que as mães encarceradas cuidem de seus bebês. Além disso, o
próprio presídio conta com atendimento pré-natal pela equipe do posto de saúde,
com exceção das gestantes de alto risco, que são encaminhadas para a rede
hospitalar pública. Assim, as mães detidas recebem todo o apoio necessário
imediatamente após a descoberta da gravidez, até que a criança complete 6 meses,
assim como as mães que são presas já com filhos menores de 6 meses 8.
Todas as informações geraram discussões sobre como essas mulheres
encarceradas e seus filhos estavam sendo realmente assistidos durante a gravidez e
o puerpério, e como estava sendo feito o cuidado em saúde diante de todas as
vulnerabilidades dessa população. Assim, surge a seguinte questão de pesquisa:
Qual é a condição do atendimento pré-natal e pós-natal para mulheres privadas de
liberdade no Brasil?
Portanto, a hipótese inicial foi a seguinte: (1) as mães privadas de liberdade
não têm acesso a todos os serviços de pré-natal e puerpério garantidos por lei; (2)
as estruturas prisionais dificultam a promoção de atendimento de qualidade pelos
profissionais de saúde; (3) o desrespeito aos direitos das mães está vinculado ao
isolamento social dessa população.
Por fim, destaco que ao longo da revisão integrativa de literatura, foram
identificados os seguintes termos: mulheres encarceradas, mulheres privadas de
liberdade, detentas e presas. Analisamos que o termo "mulheres privadas de
liberdade" era mais adequado a esse grupo e seu contexto, e por meio dessa
escolha buscou-se o respeito mais amplo aos seus direitos, embora também tenha
sido utilizado o termo "mulheres encarceradas", enfatizando sua importância social e
política, ainda que temporária, de vida em uma instituição fechada.

1.1. JUSTIFICATIVA

Nesse contexto, as mulheres encarceradas e seus filhos foram identificados


como demandantes de ações de saúde na base das instituições prisionais, com
referências de média e alta complexidade para atender às necessidades específicas
das mulheres. Os presos recebem atendimento direcionado por meio de uma série
de operações no Sistema Único de Saúde (SUS) 9.
Ressalta-se a importância de se promover um acompanhamento pré-natal e
pós-parto de qualidade nas unidades prisionais para detecção precoce e intervenção
em situações de risco, bem como a garantia de referência hospitalar para o parto,
pois melhora a saúde e evita a mortalidade relacionadas ao parto 10.
Diante disso, a falta de estruturas prisionais adequadas pode dificultar o
atendimento pré-natal e pós-parto de qualidade e aumentar ainda mais a
vulnerabilidade dessas mulheres e seus filhos. Além disso, os profissionais de saúde
devem estar qualificados para atender de acordo com as particularidades dessa
população.
Portanto, este estudo teve como objetivo testar a aplicação dos pilares do
Sistema Único de Saúde (SUS): universalidade, equidade e integralidade, e o papel
dos gestores na tomada de decisões relacionadas às condições de saúde materna
em unidades prisionais femininas no Brasil.
Infelizmente, ainda há pouca literatura científica discutindo a saúde materna
nessa população. Portanto, faz-se necessário que este estudo chame a atenção da
comunidade acadêmica de saúde coletiva para este tema e agregue novas
informações que auxiliem os gestores na tomada de decisões e formulação de
novas políticas públicas. Assim, contribuirão para a promoção de uma assistência de
qualidade a essas mulheres e seus filhos, fortalecendo seus direitos.

1.2. OBJETIVOS

1.2.1. Objetivo Geral

Analisar os serviços assistenciais em saúde materna oferecidos às mulheres


e seus filhos em situação de privação de liberdade.

1.2.2. Objetivos Específicos

Analisar o que, e como, as instituições penais prestam serviços de saúde às


mulheres encarceradas e seus filhos durante o período pré-natal e pós-parto.
Analisar as estruturas físicas das instituições penais que podem ser utilizadas
para abrigar e cuidar de mulheres encarceradas e seus filhos durante o período pré-
natal e pós-parto.
Analisar a qualidade da atenção pré-natal e pós-parto prestada por equipes
médicas em instituições penais às mulheres encarceradas e seus filhos.
Contribuir para a melhoria dos serviços de saúde oferecidos às mulheres na
prisão.
2. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICA

Este estudo foi organizado por uma revisão integrativa da literatura


complementada pela coleta e análise de dados secundários. O estudo teve
abordagem qualitativa, em consonância com os objetivos da pesquisa. Segundo
Maria Cecília Minayo, a pesquisa qualitativa “trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a
um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” 11.
Portanto, essa abordagem fornece um nível de realidade que vai além do que
pode ser quantificado, tornando o estudo ainda mais proveitoso. Como resultado, foi
realizada uma revisão integrativa da literatura, método que permite a síntese de
vários estudos já publicados, possibilitando a produção de novos conhecimentos de
acordo com o que foi apreendido a partir dos resultados 12.
Portanto, ao selecionar os artigos científicos sobre "Direitos reprodutivos e
atenção à saúde materna de mulheres privadas de liberdade no Brasil" a fim de
sintetizar os resultados obtidos em pesquisas sobre o tema, de forma sistemática,
ordenada e abrangente13. Dessa forma, foi possível fornecer mais informações sobre
esse assunto, que é um recurso de conhecimento.
As buscas de artigos foram realizadas nas bases de dados Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic Library
Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google Acadêmico, utilizando
descritores e palavras-chave, adicionando o operador "OR" da seguinte forma:
"mulheres privadas de liberdade" OR "mulheres encarceradas" OR "saúde materna"
OR "saúde materno-infantil" OR "saúde sexual e reprodutiva" OR "direitos à saúde"
OR "direitos sexuais e reprodutivos" OR "cuidados de saúde" OR "serviços de saúde
materna" OR "serviços de saúde reprodutiva".
Os critérios de inclusão foram: Estudos realizados no Brasil, escritos em
português, inglês ou espanhol, disponíveis na íntegra, publicados e/ou
disponibilizados entre 2012 e 2022, sobre o tema “Direitos reprodutivos e cuidados
de saúde materna para as liberdades privadas das mulheres no Brasil”. Foram
utilizados os seguintes critérios de exclusão: artigos duplicados, indisponíveis na
íntegra, fora do prazo e sem relação com o tema da pesquisa.
Após essa seleção, foi elaborada uma tabela contendo as características dos
estudos selecionados, que foram dispostos conforme:

a) Ano de publicação;
b) Título do artigo;
c) Objetivo do artigo;
d) Metodologia utilizada;
e) Nome da revista em que foi publicado;
f) Base de dados em que foi encontrado pela pesquisadora.

Esta organização tem permitido sistematizar os principais temas que se


repetem e destacam neste conjunto de publicações, ampliando os dados que mais
se produzem nesta área de investigação e refletindo as lacunas de informação que a
Saúde Coletiva pode ajudar a complementar.
3. RESULTADOS ESTATÍSTICOS

Os critérios de seleção bibliográfica foram aplicados por meio da leitura do


título, resumo e palavras-chave de cada documento encontrado.
A pesquisa bibliográfica revelou muitos estudos relacionados ao tema deste
trabalho, com um total de 14 artigos científicos, conforme mostra a Tabela 1.

Base de
Ano Título Objetivo Metodologia Revista
Dados
Percepção das Descrever, do ponto
Pesquisa de
mulheres privadas de vista das
revisão
de liberdade sobre mulheres privadas Revista
integrativa da
a assistência à de liberdade, como Eletrônica Google
2022 literatura, com
saúde recebida no ocorre a assistência Acervo Acadêmico
análise
pré-natal, parto e à saúde durante a Saúde
sistemática dos
puerpério: revisão gestação, parto e
dados
integrativa puerpério.

Descrever a
importância e as
Assistência de
dificuldades dos Brazilian
Enfermagem na Revisão
profissionais de Journal of Google
2021 Gestação de integrativa da
enfermagem no Health Acadêmico
Mulheres Privadas literatura
cuidado às Review
de Liberdade
gestantes em
situação carcerária.

Saúde sexual e Analisar os desafios


reprodutiva no da saúde sexual e
Revista
cárcere: discussão reprodutiva
Revisão Eletrônica Google
2021 sobre os desafios enfrentados por
Bibliográfica Acervo Acadêmico
das mulheres mulheres privadas
Saúde
privadas de de liberdade no
liberdade Brasil.

Analisar as
publicações
Cuidado em
nacionais e
saúde das
internacionais Revisão Revista
mulheres grávidas Google
2020 acerca da integrativa da Baiana de
privadas de Acadêmico
assistência ao pré- literatura Enfermagem
liberdade: revisão
natal oferecida às
integrativa
mulheres privadas
de liberdade.
Revelar narrativas
de mulheres
Mulheres em
privadas de Estudo
privação de Reme
liberdade acerca da exploratório,
liberdade: Revista Google
2020 assistência qualitativo,
narrativas de Mineira de Acadêmico
obstétrica ofertada fundamentado
des(assistência) Enfermagem
durante a vivência na história oral.
obstétrica
do ciclo gravídico-
puerperal.

Avaliar a estrutura
Avaliação de
oferecida para a
estrutura prisional
realização do Pesquisa Brazilian
para assistência Google
2020 trabalho em saúde descritiva Journal of
de enfermagem à Acadêmico
em uma exploratória Development
saúde materno-
penitenciária
infantil
feminina.

Compreender a
Impactos na percepção de
assistência em mulheres privadas
Estudo
gestantes de liberdade, frente Global
transversal,
assistidas pelo a assistência Academic Google
2020 descritivo, com
sistema oferecida em uma Nursing Acadêmico
abordagem
penitenciário em penitenciária do Sul Journal
qualitativa.
tempos de covid- do Paraná durante
19 a pandemia da
COVID-19.
Objetiva-se analisar
Gestantes na literatura Revisão
privadas de nacional evidências integrativa da
liberdade: o sobre a assistência literatura, Nursing (São Google
2019
desafio da pré-natal oferecida constituída de Paulo) Acadêmico
assistência ao a gestantes artigos
pré-natal privadas de científicos
liberdade.

Analisar a ausência
A assistência da assistência
gestacional no gestacional no
sistema carcerário sistema prisional
Anuário
brasileiro: a brasileiro e a
pesquisa e
necessidade de necessidade de
Estudo extensão Google
2019 revisão desses revisão de
bibliográfico UNOESC - Acadêmico
estabelecimentos estabelecimentos
São Miguel
para o próprios para o
do oeste
atendimento às atendimento no
mulheres período gestacional,
encarceradas incluindo, também o
puerperal.
Analisar as
A saúde materno-
interferências sob Estudo
infantil em
as condições da descritivo, do Google
2019 ambiente GEPNEWS
saúde materno- tipo revisão Acadêmico
prisional: revisão
infantil dentro do integrativa
integrativa
ambiente prisional.

Descrever os
Revisão
desfechos,
Maternidade em integrativa de
identificados na
regime prisional: artigos Revista de Google
literatura, da
2018 desfechos científicos Enfermagem Acadêmico
gestação, parto e
maternos e publicados UFPE on line e BVS
puerpério em
neonatais entre 2007 a
mulheres privadas
2017
de liberdade.

Analisar a trajetória
de cuidado de
Trajetórias de mulheres de um
mulheres privadas Centro de
de liberdade: Referência a
Fenomenologia
práticas de Gestantes Privadas
sociológica e a Physis:
cuidado no de Liberdade Google
teoria do Revista de
2016 reconhecimento (CRGPL), no que Acadêmico
reconhecimento Saúde
do direito à saúde concerne às e SciELO
proposta por Coletiva
no Centro de práticas dos
Alex Honneth
Referência de trabalhadores no
Gestantes de reconhecimento do
Minas Gerais direito à saúde e
integralidade do
cuidado.

Identificar e discutir
violações e desafios
Direitos
à efetivação dos
reprodutivos das
direitos reprodutivos
mulheres no Estudo
das mulheres em Ciência & Lilacs,
sistema descritivo de
2016 situação de Saúde BVS e
penitenciário: abordagem
privação de Coletiva SciELO
tensões e desafios psicossocial
liberdade, com
na transformação
ênfase na saúde
da realidade
sexual e
reprodutiva.
Relatar a
experiência de
Assistência de
acadêmicos de
enfermagem na
enfermagem quanto Estudo
saúde sexual e Revista de Google
à assistência descritivo do
2015 reprodutiva de Enfermagem Acadêmico
prestada, na área tipo relato de
mulheres da UFPI e BVS
da saúde experiência
reclusas: relato de
reprodutiva e
experiência
sexual, a mulheres
reclusas.
Vale ressaltar que a maioria dos estudos foi publicada em 2020, 4 no total, e a
maior parte deles foi encontrada na base de dados do Google Acadêmico, 13 no
total. É importante ressaltar que alguns títulos foram identificados em múltiplas
bases de dados, mas essas duplicatas foram descartadas.
Os temas principais na leitura crítica desses textos são selecionados para o
trabalho final de curso e sistematizados nos seguintes tópicos:

1. Direito à saúda da mulher encarcerada


2. Assistência à saúde oferecida na estrutura prisional
3. Pré-natal das mulheres em privação de liberdade
4. Parto e puerpério das mulheres em privação de liberdade
5. Estigma, preconceitos e vulnerabilidades

A partir da sistematização destas temáticas afins que se organizou a a


discussão deste TCC.
4. DISCUSSÃO

4.1. DIREITO À SAÚDA DA MULHER ENCARCERADA

A incorporação da população feminina ao ambiente prisional enfrenta


dificuldades como infraestrutura insuficiente, falta de insumos básicos, falta de
estratégias de reintegração e insuficiência de políticas públicas voltadas para a
proteção da saúde das mulheres privadas de liberdade 10.
O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP) enfatiza a
proteção do direito à saúde de toda a população brasileira, inclusive dos presos.
Outra norma importante incluída na revisão decenal da implementação do PNSSP é
a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade no
Sistema Prisional (PNAISP), esta tem como objetivo garantir o acesso das pessoas
privadas de liberdade no sistema prisional ao cuidado integral no Sistema Público de
Saúde – SUS14. Dessa forma, torna-se um instrumento de integração da mulher
privada de liberdade ao SUS e um meio de aproximar ações, serviços e profissionais
de saúde à unidade prisional15.
As ações e serviços públicos de saúde que compõem o SUS seguem alguns
princípios básicos. As que se destacam são:

I - Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de


assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; IV –
igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer
espécie16.

No entanto, dadas as históricas desigualdades de poder entre homens e


mulheres, a saúde destas últimas sofre muito, principalmente em ambientes
prisionais. Diante disso, gênero e raça devem ser considerados como um dos
determinantes da saúde na formulação de políticas públicas em instituições penais 17.
Identificar e divulgar esses condicionantes e determinantes da saúde auxiliará
no desenvolvimento de políticas de saúde para essas mulheres e na promoção da
saúde materna por meio de ações de promoção, proteção e restauração e
implementação integrada de ações de enfermagem e medidas preventivas ativas
para essa população.
Segundo Egler2, “a discussão sobre gravidez, maternidade e maternagem de
mulheres presas está inserida em um eixo maior, sobre seus direitos sexuais e
reprodutivos”. Esses direitos devem, portanto, estar em pauta quando se discute
como e quando a maternidade deve ser exercida e que tipo de assistência à saúde
deve ser prestada.
Foi realizada uma pesquisa com profissionais, gestores e mulheres do Centro
de Referência para Gestantes Gratuitas (CRGPL) e do Hospital Sofia Feldman
(HSF) intitulada “Trajetórias de mulheres privadas de liberdade: práticas de cuidado
no reconhecimento do direito à saúde no Centro de Referência de Gestantes de
Minas Gerais” constatou que, mesmo em ambiente prisional, o direito à saúde
precisa ser reconhecido e desenvolvido por funcionários e gestores, com atenção
especial das equipes que trabalham com mulheres encarceradas, desde a chegada
ao hospital até o puerpério18.
Segundo o Ministério da Saúde, o ciclo gravídico-puerperal desenvolve-se de
acordo com as fases do pré-natal, parto e puerpério, o que reduz a morbimortalidade
de gestantes e crianças. Durante o pré-natal, as gestantes são consultadas por
profissionais capacitados para detectar e intervir em situações de perigo. O parto
requer atenção especializada19, 20, 21. O puerpério, 6–8 semanas pós-parto, dividido
em períodos imediato, intermediário e tardio, requer consulta binomial, manejo de
complicações pós-operatórias, amamentação, cuidados infantis e planejamento
familiar19, 20, 21.
Portanto, os autores relatam que há necessidade dos profissionais de saúde e
demais profissionais do sistema prisional repensarem a forma como as operações
de saúde são planejadas e implementadas nessas prisões, a fim de oferecer a
melhor assistência possível a essas gestantes, a fim de garantir seus direitos 22.
A atuação das equipes da atenção básica e das equipes de saúde prisional
garantiu que a assistência necessária fosse efetivamente prestada às gestantes
privadas de liberdade. Esses serviços exigem mais do que um comportamento
técnico qualificado, por isso é importante que os profissionais ampliem suas
habilidades e promovam a escuta ativa, sem preconceitos e julgamentos, para criar
vínculo desde a concepção até a entrega23.
No SUS, as normas constitucionais são os princípios utilizados pela rede
Cegonha para melhorar a eficiência do pré-natal, onde estão inseridas as mulheres
encarceradas, com o objetivo de reduzir a mortalidade e ampliar a assistência para
garantir a qualidade da assistência materno-infantil. Diante disso, o Ministério da
Saúde buscou ampliar a assistência pré-natal, ao parto e ao puerpério, propondo na
rede Cegonha uma cartilha sobre a inclusão da mulher privada de liberdade,
afirmando que todas as gestantes e crianças presas com suas mães devem ter
acesso a atendimento médico23.
Dados do Sistema de Informação do Departamento Penitenciário Nacional
(SISDEPEN) mostram que, no primeiro semestre de 2021, havia 189 gestantes e 86
lactantes1. Portanto, atenção deve ser dada a essa população para aumentar sua
visibilidade nas políticas públicas de saúde e minimizar possíveis influências e
vulnerabilidades no contexto das mães prisionais.

4.2. ASSISTÊNCIA À SAÚDE OFERECIDA NA ESTRUTURA PRISIONAL

Segundo o PNSSP, as equipes de saúde atuantes no sistema penal são


compostas por médicos, enfermeiros, dentistas, assistentes sociais, psicólogos,
auxiliares de enfermagem e auxiliares de dentista, cada um responsável por até 500
presos24.
A falta de estruturas no ambiente prisional para acolher as puérperas e seus
recém-nascidos é um dos principais fatores que colocam em risco a relação mãe-
filho. Um ambiente mal planejado não favorece a amamentação e não favorece o
bom desenvolvimento da criança. Esse ambiente improvisado, cercado de celas,
desperta ansiedade e medo nas crianças e, com isso, algumas mães desistem de
estar com seus filhos. Portanto, é muito importante reconstruir o ambiente prisional
para criar relações familiares entre mães e filhos25.
Ao analisar o encarceramento feminino, deve-se atentar para as
especificidades relacionadas às mulheres. A maioria das prisões é projetada para
homens, com banheiros inadequados para mulheres, distribuição inconsistente de
absorventes e roupas íntimas e regras que não são específicas para mulheres.
Essas questões acabam por exacerbar ainda mais as desigualdades de gênero
existentes26, 27, 28, 29.
No que diz respeito às estruturas físicas oferecidas às mães encarceradas,
estudo de Amanda Bertinetti Tres no Presídio de Florianópolis e seu alojamento
“Materno-Fetal” observou que as condições em que as mães e seus bebês estavam
abrigados eram inapropriados, as mulheres privadas de liberdade não recebiam
alimentação diferenciada, água filtrada, além de banho de sol constante, em
comparação com outras detentas. Além disso, as normas internas não são seguidas,
por exemplo, algumas mulheres tiveram seu alojamento negado por cometerem atos
"inaceitáveis" para seus pares devido à hierarquia dentro do crime. Com isso,
algumas pessoas acabam confinadas em espaços pequenos e não podem tomar sol
o dia todo26, 27, 28, 29.
No que diz respeito à estrutura assistencial, as prisões são deficitárias nos
serviços que prestam, pois não possuem equipes multiprofissionais completas. A
realidade é que apenas os profissionais de enfermagem são responsáveis pelo
acompanhamento diário de toda a população carcerária. A falta de profissionais e o
espaço físico insuficiente dificultam o cuidado efetivo da equipe 23.
Estabelecer parcerias com outras agências para abordar essas questões
centrais do direito da mulher à saúde, de modo que abordar, referenciar e
contrarreferenciar em seu contexto específico possa salvaguardar o direito à saúde
e o direito à atenção integral18.

4.3. PRÉ-NATAL DAS MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

Um estudo intitulado “Gestação durante a privação de liberdade: um estudo


misto”30 observou que as mulheres grávidas e puérperas privadas de liberdade
careciam de conhecimentos básicos sobre gravidez e puerpério assim como
exames, métodos preventivos, alimentação e pré-natal. Além disso, afirmou que o
atendimento prestado era superficial, com pouca ou nenhuma rede de apoio
profissional no ambiente prisional.
O mesmo é relatado no artigo intitulado “Percepção das mulheres privadas de
liberdade sobre a assistência à saúde recebida no pré-natal, parto e puerpério:
revisão integrativa”, em que as mulheres relataram que não foram instruídas sobre
parto, amamentação e cuidados com o recém-nascido, mas foram auxiliadas por
colegas com experiência com bebês19, 20, 21.
Da mesma forma, o artigo intitulado “a saúde materno-infantil em ambiente
prisional: revisão integrativa” aponta que a esta falha na troca de informações dentro
da unidade prisional, influência como indicador da baixa qualidade do pré-natal, por
motivos de atrasos nas consultas e procedimentos que não são feitos 36.
Outro estudo intitulado “Situação socioeconômica e reprodutiva de mulheres
presidiárias”, realizado com 47 mulheres privadas de liberdade no Piauí, refletiu
sobre a frequência de abortos ocorridos nos estabelecimentos penais como
resultado de um pré-natal negligenciado e, por consequência da falta de informação
e suporte para as mulheres que se encontram gestantes carecendo de suporte
básico26, 27, 28, 29.
A captação precoce de gestantes para início e continuidade do pré-natal é
fundamental para a promoção da saúde materna e do recém-nascido, mas verificou-
se que mulheres encarceradas são captadas mais tarde, muitas vezes após o
primeiro trimestre. A falta de apoio familiar e as complicações obstétricas, bem como
a vulnerabilidade social são fatores que influenciam a não adesão ao pré-natal. O
desenvolvimento de educação em saúde, com foco na importância do pré-natal e
seus benefícios, facilita a adesão à vigilância pré-natal 25.
Em relação aos serviços de pré-natal foi possível identificar a equipe médica
responsável pelo atendimento e até marcar uma consulta, mas não havia tempo
suficiente, falta de profissionais e necessidades com desconhecidos critérios 26, 27, 28,
29
.
Em alguns casos, as gestantes são transferidas para unidades prisionais mais
próximas de serviços médicos para atendimento pré-natal fora do Presídio. No
entanto, relataram que essa logística lhes causava grande sofrimento, pois eram
afastados de outros internos com os quais já tinham contato, e o transporte e a
chegada ao posto de saúde também eram penosos. Por sofrerem constrangimento e
humilhação por parte das equipes e usuários dos serviços de saúde 32.
Além disso, quando eles (mãe e/ou filho) precisam ser encaminhados para
centros de saúde fora do presídio, existem obstáculos como a falta de escolta e
funcionários para acompanhá-las. Na ausência dessas escoltas, veículos e recursos
para atender às solicitações das administrações prisionais, as emergências e
consultas sofrem muito, pois são de responsabilidade da polícia, supostamente com
falta de pessoal33.
Se for possível ir ao hospital, mesmo com todas as dificuldades acima, a
mulher tem “prioridade” na avaliação do pronto-atendimento, pois é acompanhada
escolta, geralmente um agente armado, mas isso acabará por causar curiosidade
entre as pessoas da unidade, e colocá-la em situação constrangedora 18.
A demora inicial e a baixa qualidade do atendimento no pré-natal podem gerar
insegurança, ressentimento e medo. São necessárias interfaces entre prisões e
sistemas de saúde para garantir assistência adequada e programação para
atendimento pré-natal de qualidade19, 20, 21.

4.4. PARTO E PUERPÉRIO DAS MULHERES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE

Destaca-se a forma como as mulheres privadas de liberdade dão à luz, elas


são amarradas ou algemadas sob justificativa de custódia, mas isso não tem base
legal, pois a Resolução CNPCP 3, de 1º de junho de 2012, proíbe o uso de algemas
e qualquer outro meio de contenção antes, durante e no pós-parto imediato 26, 27, 28, 29.
Devido às precárias condições estruturais das instituições penais brasileiras,
a Lei nº 13.257 de 2016 garante a mudança do regime quando as mulheres
estiverem grávidas ou mães de filhos menores de 12 anos 34.
O Supremo Tribunal Federal em 2018 reconheceu o direito de converter a
prisão preventiva em prisão domiciliar, classe de habeas corpus que beneficia
gestantes ou mães de filhos menores de 12 anos que estejam em prisão preventiva,
mas o benefício tem limitações. Acredita-se que mulheres privadas de liberdade que
cometam crimes envolvendo violência ou grave ameaça a ou contra familiares não
se beneficiem desse instrumento, exceto em circunstâncias consideradas “muito
excepcionais”. Vale lembrar que a lei nº 12.403 de 2011 já propõe a prisão domiciliar
como alternativa à prisão preventiva a partir do 7º (sétimo) mês de gestação ou, em
situações de gravidez de alto risco35.
O encaminhamento tardio para a maternidade é um fator que contribui para o
risco de parto em local inapropriado, como em cela ou a caminho do hospital. No
encaminhamento das gestantes para o parto, as ambulâncias são o meio de
transporte mais utilizado, seguidas das viaturas. As mulheres destacaram o
despreparo dos agentes penitenciários envolvidos no transporte 19, 20, 21.
Outra dificuldade identificada no acesso à prática assistencial é a falta de
humanização do parto. Os estudos apontam que há gestantes sem permissão para
um acompanhante durante o parto mas a Lei nº 8.080 determina a presença deste
junto à parturiente durante todo o período de trabalho de parto e pós-parto imediato.
Além da forma como são tratados de forma desigual pelos profissionais de saúde 32.
Embora poucos estudos tenham abordado o puerpério, focando o recém-
nascido e sua relação com a mãe, alguns estudos constataram que o número de
consultas pós-parto relatadas é baixo, resultando em falta de orientação sobre risco
de infecção e cuidados com feridas. Sabe-se que este é o momento ideal para
orientar sobre o planejamento reprodutivo por meio de ações preventivas e
educativas19, 20, 21.
Vários estudos têm mostrado que o trabalho parto está associado à violência
física, psicológica e obstétrica, incluindo desrespeito às escolhas da mulher, como
procedimentos invasivos sem consentimento. Portanto, é de extrema importância
que essas mulheres tenham acesso a informações sobre seus direitos com base em
evidências científicas. Além disso, os profissionais atuantes devem ser capacitados
para acolher a gestante e construir relações de confiança, reduzindo o impacto e
melhorando a qualidade de vida19, 20, 21.

4.5. ESTIGMA, PRECONCEITOS E VULNERABILIDADES

O conceito de vulnerabilidade adentrou o campo da saúde pública e assim


coloca em análise a situação das mulheres nas instituições penais. É importante que
as equipes de saúde desenvolvam estratégias para reduzir o impacto das
vulnerabilidades nesses espaços. Também é importante notar que:

Entre as vulnerabilidades a que precisa estar atento, com relação às mulheres no


sistema prisional, estão a dificuldade de acesso a cuidados de higiene adequados, a
uma atenção ginecológica e obstétrica eficiente e humana, a prevenção e
diagnóstico precoce de câncer de colo uterino e mama, a doenças sexualmente
transmissíveis, bem como a doenças e agravos mais comuns nessa população em
geral10.

Essas situações marginalizam ainda mais as gestantes e puérperas em


situação de privação de liberdade, e esse grupo precisa ser olhado com mais
atenção.
A realidade do ambiente prisional no Brasil revela várias violações dos direitos
humanos das mulheres e suas famílias devido ao estado atual dos serviços de
saúde e ao que é percebido como rotina e discriminação não corrigida pelos
profissionais de saúde30.
No que diz respeito à atuação dos profissionais envolvidos no atendimento à
mulher, destaca-se a violência, principalmente nas formas verbal e psicológica. Além
de manipulações invasivas, foram relatados agressão física e negligência, falta de
humanidade e orientação durante o atendimento e o uso de algemas durante o
trabalho de parto e hospitalização19, 20, 21.
Múltiplos estudos têm revelado os medos e dúvidas de algumas mães
encarceradas durante a gravidez e parto em instituições prisionais. Esses
sentimentos estavam relacionados à falta de informação sobre o local do parto e ao
medo de que o parto acontecesse de forma inesperada dentro do presídio. Ressalta-
se também que é importante informar essas preocupações por meio de recursos
audiovisuais, como o encaminhamento de listas hospitalares, o que pode diminuir a
ansiedade dessas gestantes33.
O caráter muitas vezes punitivo do sistema prisional brasileiro, ao invés da
reintegração dos indivíduos à sociedade, tem resultado em mulheres grávidas
privadas de liberdade enfrentando violência e exposição quando procuram ajuda em
unidades médicas. Deve-se atentar para essa questão, pois ela não está em
consonância com as diretrizes da Política Nacional de Humanização do Sistema
Único de Saúde (HumanizaSUS), havendo, portanto, a necessidade de incorporar
práticas humanizadas no atendimento às mulheres privadas de liberdade e assim
durante sua ressocialização25.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das constatações feitas no estudo, pode-se constatar que são


inúmeras as violações de direitos durante a prestação de serviços de saúde às mães
privadas de liberdade durante a gravidez, o parto e o puerpério.
Destaca-se a inexistência de estruturas físicas e estruturas improvisadas de
instituições penais que ofereçam moradia para mães e seus filhos privados de
liberdade durante todo o período da maternidade. Além da falta de equipes
multiprofissionais na área, isso prejudica a assistência prestada às mulheres
privadas de liberdade, que deve privilegiar a integridade e a humanidade.
No que diz respeito ao pré-natal, destacou-se a demora no início desse
acompanhamento e a superficialidade dos serviços prestados, incluindo a falta de
troca de informações com as mulheres privadas de liberdade sobre os cuidados
durante a gravidez, parto e lactação. Com isso, acabam sem a rede de apoio do
próprio ambiente prisional.
Por outro lado, o parto e o puerpério caracterizam-se pela ansiedade da mãe
carente sobre o local do parto e a vida da criança após o período de amamentação.
Vale destacar também a falta de transporte e organização de algumas instituições
punitivas que transportam parturientes para unidades de referência e acabam com
seus bebês em situação inadequada. A violência obstétrica durante o parto tem sido
bastante interrompida por pesquisas devido ao viés apresentado por profissionais de
saúde que resgataram a importância de um parceiro legalmente garantido nesses
momentos para minimizar esses incidentes e proporcionar mais conforto às
gestantes.
Dessa maneira, a vulnerabilidade destas mulheres é notória e a discriminação
encontrada durante a oferta da assistência em serviços de saúde por parte dos
profissionais só aumentam esta situação, e a falta de humanização no atendimento
dificulta a oferta de serviços de saúde de qualidade, como também, negligência
vários direitos humanos.
Consequentemente, observa-se que há poucas pesquisas voltadas para esse
tema e que falta fiscalização no reconhecimento e punição dessas violações de
normas encontradas nos ambientes prisionais.
Por fim, afirmou-se que é preciso criar novas estratégias de saúde nas
prisões, voltadas para os objetivos do SUS, como identificar os determinantes da
saúde das mulheres privadas de liberdade, bem como prestar assistência a essas
populações por meio de atividades no campo da promoção, proteção e restauração
da saúde, enquanto implementação integrada de ações de cuidado e prevenção.
Dessa forma, deve-se atentar para os princípios do SUS de universalidade,
integralidade, equidade e direito à informação, pois é necessária a cooperação com
os gestores de saúde e segurança pública. Quando os gestores da saúde e da
administração penitenciária trabalham juntos, é possível encontrar soluções para
esses problemas, como a capacitação de profissionais e recursos para que as
mulheres presas tenham acesso justo e de qualidade ao pré-natal e pós-natal.
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