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Direitos e Deveres do Professor no

Ambiente das
Classes Hospitalares e Domiciliares

A OBRIGAÇÃO DO ESTADO E A GARANTIA


CONSTITUCIONAL AO DIREITO Á EDUCAÇÃO PARA
CRIANÇAS NAS CLASSES HOSPITALARES

RESUMO: Através de estudos de Políticas Educacionais de


inclusão nas classes hospitalares no Brasil, o ensino ampliado
da Educação no ambiente hospitalar é um Direito à educação
para crianças hospitalizadas ou afastadas do ambiente escolar
regular, por motivo de tratamento médico ou por um período
de internação. Nasce no ambiente hospitalar o acesso à
educação em um determinado espaço físico que irá
proporcionar a criança e ao adolescente o Direito e a Garantia à
educação de forma com que aconteça a inclusão psicossocial,
educacional e integral através do atendimento que ocorre na
Política Pública, associadas a esse segmento hospitalar sendo
uma forma com que crianças e adolescentes não sejam
excluídos do processo educacional. Este trabalho busca
analisar a legislação que ampara o acesso e a permanência das
crianças nos processos educativos nas classes hospitalares.
Palavras-chave: Legislação. Classe Hospitalar. Inclusão.
Politicas Publicas de Saúde e Educação.

1. INTRODUÇÃO

O surgimento das Classes Hospitalares ocorreu no século XX


na França, após a segunda Guerra Mundial. Nesse período
muitas crianças e adolescentes foram mutilados e feridos,
foram levados para hospitais para a estabilização do seu
quadro clinico, por consequência de um tratamento mais
prolongado a internação hospitalar por muitas vezes ocorria
por um longo período, e por este motivo em 1935 em Paris
surgiu as Classes Hospitalares, criada por Henri Sellier. Seu
objetivo principal foi que essas crianças que foram afetadas
drasticamente pela violência humana, não sofresse também
com interrupção de seus estudos, por este motivo o acesso à
educação no ambiente hospitalar iria possibilitar a
continuidade dos seus estudos, mesmo que dentro de um leito
hospitalar. Com isso diminuindo internamente o impacto
emocional que a Guerra havia causado em suas vidas. No início
eram realizados no ambiente hospitalar algumas atividades
educativas que hoje passou a se chamar de Classe Hospitalar.
(Oliveira, Tyara Carvalho, 2013).
O ambiente Hospitalar que é o cenário utilizado para se
realizar os processos educativos das crianças e adolescentes,
surgiu no final do século XVIII como um instrumento
terapêutico e de cura, espaço destinado ao atendimento à
saúde das pessoas. O Hospital possui como função principal, o
oferecimento à comunidade de uma assistência médica
completa, de forma preventiva e curativa de suas patologias.
De acordo com a OMS Organização Mundial de Saúde o
Hospital faz parte de um sistema coordenado da saúde, que
presta serviços às famílias em seu campo adequado, assim
como em seu domicilio. O conceito de Hospital foi definido
pelo Ministério da Saúde como:

O hospital é parte integrante de uma organização médica e


social, cuja função básica consiste em proporcionar à
população assistência-médico-sanitária completa, tanto
curativa como preventiva, sob quaisquer regimes de
atendimento, inclusive domiciliar e cujos serviços externos
irradiam até o âmbito familiar, constituindo-se também em
centro de educação, capacitação de recursos humanos e de
pesquisas em saúde, bem como de encaminhamentos de
pacientes, cabendo-lhes supervisionar e orientar os
estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente.
Assim o hospital é também um centro de investigação
biopsicossocial (BRASIL, 1977, p.3929).

E foi nesse ambiente Hospitalar, que se iniciou um trabalho de


ação especializada que deu início a mobilização de diversas
classes de profissionais, para a concretização do Ensino
Regular. Essa iniciativa contou com o incentivo e ajuda de
médicos, religiosos e voluntários que através de uma dimensão
maior, foi conquistando o seu lugar na sociedade e em diversos
países.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS CLASSES


HOSPITALARES
No Brasil a Classe Hospitalar surgiu em 1950 no Hospital Jesus
no Rio de Janeiro, porém há relatos que a Classe Hospitalar já
era realizada ainda no Brasil Colônia em 1600, ao qual havia
atendimento escolar para deficientes físicos na Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo. As Classes Hospitalares teve início
em 14 de Agosto de 1950 pela portaria de nº 634, havia em
média 80 crianças internadas, as aulas eram preparadas de
acordo com aquilo que a criança estava apreendendo no ensino
regular, para dar uma continuidade ao aprendizado. Surgindo
assim a necessidade de se ter um amparo legal, com legislação
especifica que tratasse do acesso e da permanência da criança
nos processos educativos, em 1961 foi oficializado o
atendimento às crianças hospitalizadas, pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educacao Nacional, CNE (2002), que regulamenta
a atuação do profissional da educação no ambiente
hospitalar, que visa melhorar o quadro clínico e
emocional da criança/adolescente hospitalizado,
através de uma equipe multiprofissional que atua de
forma integralizada, e pela Constituição do Estado da
Guanabara que em seu artigo nº 83 parágrafo 5º diz: “A
Educação dos excepcionais será objeto de especial cuidado e
amparo do Estado assegurando ao deficiente a assistência
educacional, domiciliar e hospitalar” (Rio de Janeiro, 1969).
Logo após a criação da Lei de Diretrizes e Bases, em 1969 foi
criado o Decreto Lei nº 1044 de 21 de Outubro de 1969, que
trata do Direito a Educação para os alunos portadores
de afecções. Esse decreto ampliou o atendimento
escolar para além do ambiente escolar, estendendo a
educação para o ambiente hospitalar e domiciliar da
criança. (Teixeira, et.al, 2017).
O decreto tratou dos alunos enfermos ao qual seria destinada a
educação, cuidando da forma como tudo ocorreria e os
responsáveis em conduzir e garantir o Direito à Educação para
aos hospitalizados:

Art. 1º São considerados merecedores de tratamento


excepcional os alunos de qualquer nível de ensino, portadores
de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo
ou outras condições mórbidas, determinando distúrbios
agudos ou agudizados, caracterizados por: a) incapacidade
física relativa, incompatível com a frequência aos trabalhos
escolares; desde que se verifique a conservação das condições
intelectuais e emocionais necessárias para o prosseguimento
da atividade escolar em novos moldes; b) ocorrência isolada ou
esporádica; c) duração que não ultrapasse o máximo ainda
admissível, em cada caso, para a continuidade do processo
pedagógico de aprendizado, atendendo a que tais
características se verificam, entre outros, em casos de
síndromes hemorrágicos (tais como a hemofilia), asma,
carótide, pericardites, afecções osteoarticulares submetidas a
correções ortopédicas, nefropatias agudas ou subagudas,
afecções reumáticas, etc. Art. 2º Atribuir a esses estudantes,
como compensação da ausência às aulas, exercício domiciliares
com acompanhamento da escola, sempre que compatíveis com
o seu estado de saúde e as possibilidades do estabelecimento.
Art. 3º Dependerá o regime de exceção neste Decreto-lei
estabelecido, de laudo médico elaborado por autoridade oficial
do sistema educacional. Art. 4º Será da competência do Diretor
do estabelecimento a autorização, à autoridade superior
imediata, do regime de exceção. Art. 5º Este Decreto-lei
entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário. (Decreto-lei nº 1.044, de 21 de
outubro de 1969).

Através das Classes Hospitalares a educação se torna um meio


para que a criança hospitalizada seja reinserida no meio social,
educacional e até mesmo profissional com o acesso à educação
no ambiente hospitalar. Pelo acometimento de uma
enfermidade a criança é afastada de seu ambiente de
convivência familiar, social e educacional de acordo com as
privações que a sua patologia a obriga, por este motivo o
período de internação hospitalar por muitas vezes é longo e
com isso acontece a sua exclusão do ambiente escolar,
acarretando a assim sua vida a um grande dano em seu
desenvolvimento. O papel da educação no hospital, e
com ela, o do professor, é propiciar à criança o
conhecimento e a compreensão daquele espaço,
ressignificando não somente a ele, como a própria
criança, sua doença e suas relações nessa nova
situação de vida. (FONTES, 2005).

4. O DIREITO E A CLASSE HOSPITALAR


4.1. A GARANTIA CONSTITUCIONAL NA
OBRIGATORIEDADE DA EDUCAÇÃO PARA TODOS

O Senado Federal criou o projeto de Lei nº 548, de 2015 que


alterou a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que dispõe
sobre as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor
sobre o atendimento educacional especializado em classes
hospitalares ou mediante atendimento pedagógico domiciliar,
em seu Art. 60.

§ 2º Os professores das classes hospitalares e do


atendimento pedagógico domiciliar deverão ser
habilitados nos termos do art. 62 desta Lei.

§ 3º O Conselho Nacional de Educação deliberará sobre as


diretrizes operacionais e curriculares para o atendimento
educacional especializado em classes hospitalares e no
atendimento pedagógico domiciliar.

Logo após a promulgação da Constituição Federal que trouxe


os Direitos fundamentais, o Direito ao acesso a Classe
Hospitalar foi inicialmente reconhecido pela Declaração dos
Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados,
através da resolução de nº 41 de 17 de Outubro de
1995, foi elaborada pela Sociedade de Pedagogia com
o intuito de orientar a conduta de profissionais da
saúde no tratamento de crianças em ambiente
hospitalar. Teve aprovação unanime na 27º Assembleia
Ordinária do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e do
Adolescente CONANDA, com sede no Ministério da Justiça em
Brasília. Esta resolução tratou de priorizar o Direito a
Educação e a saúde no ambiente hospitalar, possui 20 itens em
que cada um aborda o Direito a educação em determinados
aspectos. Busca-se o Direito à proteção a vida e a saúde como
prioridade ao indivíduo para que não sofra qualquer tipo de
discriminação ou ofensa ao seu Direito. (Teixeira, et.al, 2017)
A Resolução estabelece no Art. 9. O Direito de desfrutar de
alguma forma a recreação, assim como programas de Educação
para a saúde, como acompanhamento do curriculum escolar
durante a sua permanência no ambiente hospitalar.
(CONANDA) Como também trata da forma como o hospital
deverá agir em relação ao atendimento à Criança e ao
Adolescente. Art. 19 Direito a ter seus Direitos Constitucionais
e os contidos no Estatuto da Criança e Adolescente, respeitados
pelos hospitais integralmente. (CONANDA). Devido à
preocupação da Sociedade Brasileira de Pediatria, a resolução
foi concretizada com o intuito de observar todas as
necessidades das crianças e adolescentes hospitalizados, em
relação aos seus devidos cuidados para se obter uma melhora
evolução do seu quadro clinico. (Resolução nº 41,1995).
O Ministério da Educação e do Desporto em 1994 formulou a
Política Nacional da Educação Especial, que foi responsável
pela orientação ao processo de integração instrucional, que
condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular
àqueles que "(...) possuem condições de acompanhar e
desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino
comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”
(PORTARIA nº 948/2007). Esse processo de inclusão traz a
recuperação da socialização da criança no ambiente escolar, de
modo que mesmo hospitalizado terá a continuidade do ensino
escolar, tornando assim um vínculo importantíssimo ao mundo
exterior.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no artigo 5º traz


a proteção da criança e do adolescente em relação aos seus
direitos fundamentais, o artigo 54º que aborda a garantia ao
atendimento educacional especializado pelo Estado, no dever
de assegurar à criança e ao adolescente o acesso à rede regular
de ensino.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

5. O FUNCIONAMENTO DAS CLASSES


HOSPITALARES
Para entender a inclusão educacional, é preciso explanar sobre
a educação especial. Esta é o ramo da Educação que se ocupa
da educação de pessoas com deficiência e que possuem
necessidades educativas especiais (BRASIL, 2013).

Alguns estabelecimentos de ensino dedicam-se apenas a um


tipo de necessidade, nas chamadas “salas de recursos”,
enquanto outros se se dedicam a várias. Esse fato gera muitas
críticas por privar o aluno do convívio entre as crianças,
independentemente destas serem deficientes ou não. É preciso
admitir que a escola regular nem sempre oferece resposta
capaz de atender às necessidades dessas crianças. A
Educação Especial requer profissionais diversos, tais
como educador físico, professor especializado,
psicólogo, psicopedagogo, fisioterapeuta, terapeuta
ocupacional, entre outros, além de materiais e
equipamentos específicos. O sistema de ensino tem-se
adaptado, ampliando e melhorando o atendimento (PLETSCH,
2014).

As práticas pedagógicas desenvolvidas nas classes


hospitalares, de acordo com Fonseca (2002), seguem
duas linhas distintas: uma linha pedagógica
educacional, diferente de uma educação formal, pois
necessita de estratégias e currículo adaptado, e uma
linha de cunho lúdico-terapêutico. Os objetivos das
práticas pedagógicas desenvolvidas apontam para a
continuação dos conteúdos da escola regular que frequentava a
criança antes da internação; para a continuidade de conteúdos
necessários à faixa etária da criança; para a superação de
algumas dificuldades de aprendizagem que os alunos
apresentem em relação a sua escolaridade, e para a inclusão de
novos conteúdos e habilidades não necessariamente
relacionados ao contexto escolar. Essas necessidades apontam
para que haja cada vez mais diálogo entre profissionais da
educação e da saúde, para que possam colaborar na construção
de um espaço hospitalar mais humanizado e de qualidade, de
acordo com o que diz Fontes (2007, p. 279): “tanto a educação
não é elemento exclusivo da escola como a saúde não é
elemento exclusivo do hospital”. Assim, a classe hospitalar,
sendo um espaço de educação no hospital, constitui uma
ponte, um elo entre as instituições educativas e hospitalares,
promovendo colaborações mútuas no sentido de desenvolver
plenamente a criança e ao adolescente como educandos em
situação de pacientes.

A formação do Professor Hospitalar consiste em uma


formação profissional especializada. Para atuar em
Classes Hospitalares, o professor deverá estar habilitado para
trabalhar com diversidade humana e diferentes experiências
culturais, identificando as necessidades educacionais especiais
dos educandos impedidos de frequentar a escola, decidindo e
inserindo modificações e adaptações curriculares em um
processo flexibilizado de ensino/aprendizagem.

O professor deverá ter a formação pedagógica,


preferencialmente em Educação Especial ou em curso
de Pedagogia e terá direito ao adicional de
insalubridade.

Os procedimentos de observação direta em sala de aula,


desenvolvidos sob a perspectiva da análise comportamental,
ensinam o professor a identificar e a descrever as relações
presentes e, quando for o caso, alterar a maneira de se
relacionar em função da demanda presente neste local. A partir
dessas considerações a respeito do papel do professor que atua
no hospital, Ceccim e Fonseca (1998) enfatizam que a classe
hospitalar requer professores “com destreza e discernimento
para atuar com planos e programas abertos, móveis, mutantes,
constantemente reorientados pela situação especial e
individual de cada criança ou adolescente sob atendimento” (p.
35). Para realizar esse planejamento individualizado, levando
em conta a concepção comportamental do aprender, em que
cada aluno possa caminhar de acordo com seu próprio ritmo
para que as consequências reforçadoras sejam efetivas
(Zanotto, 2000), a investigação do repertório presente da
criança (oral, escrito, matemático) se coloca como prioridade
para o professor/pedagogo.

O trabalho do professor hospitalar é muito importante, pois


atende as necessidades psicológicas e sociais e pedagógicas das
crianças e jovens. Ele precisa ter sensibilidade, compreensão,
força de vontade, criatividade persistência e muita paciência se
quiserem atingir seus objetivos. Deverá elaborar projetos que
integrem a aprendizagem, de maneira especificas para crianças
hospitalizadas adaptando-as há padrões que fogem da
educação formal, resgatando e integrando-as ao contexto
educacional. O pedagogo Hospitalar no atendimento
pedagógico deve ter seus olhos voltados para o todo,
objetivando o aperfeiçoamento humano, construindo uma
nova consciência onde a sensação, o sentimento, a integração e
a razão cultural valorizem o indivíduo.

Assim, o processo “ensinar-aprender”, nesta perspectiva,


corresponde, respectivamente, ao que faz um professor e à
consequência que este fazer produz no comportamento do
aluno. O termo “ensinar” refere-se a um arranjo de
contingências sob as quais os alunos aprendem; diz respeito à
relação entre o que um professor faz e a aprendizagem de um
aluno (tendo um papel ativo nesse processo). Em síntese, as
situações formais de ensino-aprendizagem se particularizam
pelo fato de que alguém procura dispor condições ambientais
de forma a modificar as relações de outra pessoa com o
ambiente (Botomé2, 1998; Skinner, 1972; Zanotto, 2002).

https://julianaserafim.jusbrasil.com.br/artigos/688145986/a-obrigacao-do-estado-e-a-
garantia-constitucional-ao-direito-a-educacao-para-criancas-nas-classes-hospitalares

Sugestões para ampliar e fundamentar os Direitos e Deveres do Professor em Ambientes das


Classes Hospitalares e Domiciliares:
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/pedagogia-hospitalar-metas-desafios-
para-pedagogo.htm;

https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/o-papel-pedagogo-hospitalar.htm;

https://www.pedagogia.com.br/artigos/a_importncia_do_pedagogo/;

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