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RELAÇÃO AUTISMO E EDUCAÇÃO A PARTIR DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Historicamente a trajetória de um indivíduo com algum tipo de deficiência espectro


autista é marcada por profundos traços de exclusão social, e assim, notadamente não ocorre
assistência a esse público que perde a sua inclusão no ambiente escolar e esferas da sociedade.
Após a declaração de Salamanca em 1994 pela Unesco, o Brasil vê a necessidade de adequar
suas políticas em relação as pessoas com TEA- Transtorno do Espectro Autista, criando
educação inclusiva partindo da necessidade de educar cada indivíduo a partir das diferenças,
promovendo a equidade na educação. Assim, as instituições de ensino regular tiveram que se
aperfeiçoar, e apresentar adaptações para poder oferecer melhores condições, além do
comprometimento do funcionamento intelectual desses alunos.
O Brasil vem discutindo a problemática da inclusão escolar desde a Constituição
Federal de 1988, onde, em seu artigo 208, explana a garantia da educação em nosso país
oferecendo estabilidade e atendimento especializado aos portadores de deficiência em escolas
de ensino regular, incluindo as crianças com transtorno do espectro autista (TEA).
No ano de 1994, foi elaborado pelo Ministério da Educação (MEC), o documento
Política Nacional de Educação Especial (PNEE,1994), onde apresentava novos princípios
para a educação especial em todo o país, tendo como intuito a consolidação de um sistema de
ensino que acolhesse alunos com deficiência, porém, ainda na visão de integração. Estes
conteúdos contidos na PNEE, foram reafirmados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN) – Lei de nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), que
integra, em um capítulo, as diretrizes para a Educação Especial como uma modalidade de
educação escolar oferecida nas redes regulares de ensino para alunos com deficiência,
transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, então, vejamos o
que infere alguns artigos da supracitada lei:

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de
educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
(Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para
atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados,
sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua
integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput deste artigo, tem início na educação
infantil e estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do
art. 60 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)

Observamos que a referida lei já assegurava um ensino de qualidade para pessoas com
deficiência, precisando oferecer currículos e métodos que atendam às suas necessidades com
um ensino igualitário, desde a educação infantil e ampliando ao longo da sua carreira
acadêmica.
Já nos anos 2000, a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da
Educação Inclusiva, foi publicada para acender os direitos das pessoas com deficiências,
garantido a inclusão no sistema educacional em todos os seus níveis. O Decreto nº 7.611, de
17 de novembro de 2011, dispõe sobre a educação especial e atendimento educacional
especializado, e segue a garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem
discriminação e com base na sua igualdade de oportunidades. E, finalmente, a Lei Brasileira
da Inclusão nº 13.146, de 6 de julho de 2015, foi instituída para promover a inclusão e garantir
os direitos e liberdades para pessoas com deficiências, propagando inclusão social e
representando um marco importante na proteção dessa parcela da população.
Assim, existe mais de um nível de autismo, e por isso nem todos os indivíduos com
espectro tem a capacidade de se expressar facilmente.
Com isso, a Lei nº 13.977, sancionada em 2020, determina a emissão de Carteira de
Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CipTEA), garantindo que todo
indivíduo com espectro obtenha atenção especial em diversas áreas como saúde, assistência
social e educação, dispensando o dever da família em explicar-se a todo momento sobre a sua
condição, garantindo na educação uma identificação especial para esses indivíduos.
Essas legislações representam um avanço significativo na promoção da inclusão e no
reconhecimento dos direitos das pessoas com Espectro Autista. No entanto, é importante
ressaltar que a implementação efetiva das referidas leis ainda enfrenta desafios, e a
conscientização e o comprometimento de todos os setores da sociedade são fundamentais para
assegurar a plena inclusão desses indivíduos.
Nesta direção do movimento inclusivo, atualmente, a Lei nº 12.764, de 27 de
dezembro de 2012, estabelece a proteção aos direitos das pessoas com Transtorno do Espectro
Autista, representando um importante marco na garantia dos direitos das pessoas autistas no
Brasil, uma vez que estabelece medidas para a promoção da inclusão e da igualdade de
oportunidades para as pessoas com autismo em diversos aspectos da vida social, incluindo a
educação, a saúde, o trabalho, a acessibilidade e a proteção contra a discriminação.
Segundo o artigo 3º são direitos da pessoa com transtorno do espectro autista: I - a vida
digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o
lazer; II - a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III - o acesso a ações e
serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) a
diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) o atendimento multiprofissional; c) a
nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; e) informações que auxiliem
no diagnóstico e no tratamento; IV - o acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante; b)
à moradia, inclusive à residência protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social
e à assistência social. No parágrafo único. Portanto, assim quando comprovada a necessidade,
a pessoa com TEA terá direito de ter acompanhamento especializado em sala de aula.
Além disso, ela reconhece que as pessoas com autismo possuem direitos fundamentais,
como qualquer outro cidadão, e que é dever do Estado garantir esses direitos, por meio de
políticas públicas efetivas e de ações coordenadas em todas as áreas de atuação. A Lei nº
12.764, de 27 de dezembro de 2012, também traz proteção contra a discriminação e o
preconceito, por meio da punição de práticas discriminatórias e da promoção da
conscientização da sociedade em relação aos direitos das pessoas autistas como consta em seu
artigo 7º a responsabilização de gestores escolares.

Art. 7º O gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar a matrícula de aluno com
transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido com multa
de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos.
§ 1º Em caso de reincidência, apurada por processo administrativo, assegurado o
contraditório e a ampla defesa, haverá a perda do cargo.

Podemos observar que a imputação aos gestores escolares que se recusem a realizar a
matrícula de aluno com transtorno do espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiência é
pago com multa e em caso de reincidência, quando, apurada, poderá haver até a perda do
cargo. Neste sentido vemos o seguinte precedente, que puniu a escola pela negligência em não
realizar a matrícula escolar. Eis a decisão:

Tribunal de Justiça do Estado da Bahia PODER JUDICIÁRIO QUINTA TURMA


RECURSAL - PROJUDI PADRE CASIMIRO QUIROGA, LT. RIO DAS PEDRAS, QD 01,
SALVADOR- BA ssa-turmasrecursais@tjba.jus.br - Tel.: 71 3372-7460 Ação:
Procedimento do Juizado Especial Cível Recurso
nº001566577.2019.8.05.0001 Processo nº 0015665-77.2019.8.05.0001 Recorrente (s):
CENTRO EDUCACIONAL HILDEBERTO CARDOSO Recorrido (s): LUIS HENRIQUE
ALVES PROTASIO PRISCILA SOARES PROTASIO EMENTA RECURSO
INOMINADO. DIREITO DO CONSUMIDOR. SERVIÇOS EDUCACIONAIS. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MORAIS. NEGATIVA DE REMATRÍCULA DE
CRIANÇA AUTISTA. OFENSA ÀS REGRAS CONSAGRADAS NO ESTATUTO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA E D LEI12.746/2012, QUE INSTITUI A POLÍTICA
NACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PESSOA COM TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA. SENTENÇA QUE ORDENOU A MATRÍCULA DA CRIANÇA,
CONDENANDO A DEMANDADA AO PAGAMENTO DE DANOS MORAIS
ARBITRADOS EM R$ 3.000,00. QUANTUM INDENIZATÓRIO RAZOÁVEL E
PROPORCIONAL, DE ACORDO COM AS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO.
MANUTENÇÃO INTEGRAL DO JULGADO. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95[1].
Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro, saliento que o
Recorrente CENTRO EDUCACIONAL HILDEBERTO CARDOSO, pretende a reforma
parcial da sentença lançada nos autos que JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTES os
pedidos formulados na exordial, para determinar a Ré que MATRICULE BRENO
HENRIQUE no ano letivo em curso, no prazo de 48 horas, sob pena de conversão da
obrigação em perdas e danos, em caso de descumprimento. Condeno a Ré a indenizar
moralmente a parte Autora no valor de R$ 3.000,00, a ser acrescida de correção monetária e
juros legais desta decisão até o efetivo pagamento, conforme Súmula 362 do STJ. Presentes
as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o, apresentando voto com a
fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais membros desta Egrégia Turma.
VOTO (Classe:Recurso Inominado,Número do Processo: 0015665-
77.2019.8.05.0001,Relator(a): ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA,Publicado em:
13/10/2019 )

A falta de conscientização e sensibilização da sociedade em relação ao autismo ainda é


um grande obstáculo para a inclusão e a valorização das pessoas autistas. Muitas vezes, as
pessoas autistas são vítimas de preconceito e discriminação, o que dificulta sua inclusão na
sociedade. Apesar dos avanços significativos trazidos pela Lei 12.764/2012, ainda há muitos
desafios a serem enfrentados na garantia dos direitos das pessoas autistas no Brasil.
Na área educacional, por exemplo, é fundamental que sejam criados programas de
capacitação e formação de professores, que promovam a inclusão das pessoas autistas em
todas as etapas da educação, desde a educação infantil até a universidade. Além disso, é
importante que sejam disponibilizados recursos e equipamentos adequados para a adaptação
dos espaços e recursos pedagógicos para as pessoas autistas.
A política Nacional de Proteção aos Direitos das Pessoas com Autismo, assegura que
pessoas com TEA, são oficialmente com deficiência, tendo o direito as políticas de inclusão
no País. Podemos comentar sobre uma destas políticas, o Plano Viver sem Limite, que é um
conjunto de ações para inclusão de pessoas com deficiência, garantindo um sistema
educacional inclusivo, estruturas públicas acessíveis, ampliação da participação das pessoas
com deficiência no mercado de trabalho, ampliação dos acessos às políticas de assistência
social. Ainda, podemos citar outras leis e decretos que resguarda ou já resguardaram as
pessoas com TEA, são elas: - Decreto 6.949/2009: Que discorre sobre a Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu protocolo facultativo, que
foi assinado em Nova York, em 30 de março de 2007; - Decreto 7.612/2011: que institui o
Plano Nacional da Pessoa com Deficiência - Plano de Viver sem Limite; - Lei 13.798/2011:
Que institui a “Semana Estadual do Autismo” no RS; - Lei 10.098/2000: Que estabelece
normas gerais e os critérios básicos para a acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência
ou com mobilidade reduzida; - Decreto 3.298 de 1999: Que regulamenta a lei no 7.853, de
24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência, que consolida as normas de proteção; - Decreto 3.956 de 2001: Que
promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as formas de discriminação
contra as pessoas portadoras de deficiência; - Lei 10.216/2001: Que dispõe da proteção e os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental; - Lei 8.548/2000: Que assegura o direito à prioridade de atendimento em
hospitais e postos de saúde, sediados no município de Porto Alegre, às pessoas idosas e aos
portadores de deficiência física, sensorial e mental; - Lei 13.438/2017: Que altera a lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990, para tornar obrigatória a adoção pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) de protocolo que estabeleça padrões para a avaliação de riscos para o desenvolvimento
psíquico das crianças; - Resolução nº 27 de 2012 (Portal FNDE): Que dispõe da destinação
de recursos financeiros, nos moldes e sob a égide da Resolução nº 7, de 12 de abril de 2012, a
escolas públicas municipais, estaduais e do Distrito Federal da educação básica, com
matrículas de alunos público alvo da educação especial em classes comuns do ensino regular,
que tenham sido contempladas com salas de recursos multifuncionais em 2010 e 2011 e
integrarão o Programa Escola Acessível em 2012. - Decreto 7.611 de 2011: Que dispõe sobre
a educação especial e o atendimento educacional especializado; - Portaria Normativa
Interministerial nº 18 (2007): Que cria o Programa de Acompanhamento e Monitoramento
do Acesso e Permanência na Escola das Pessoas com deficiência beneficiárias do benefício de
Prestação continuada de assistência social; - Portaria nº 13 do Ministério da Educação
(2007): Que dispõe sobre a criação do “Programa de Implantação de Salas de Recursos
Multifuncionais”; - Portaria nº 243 do Ministério da Educação (2016): Que estabelece os
critérios para o funcionamento, a avaliação e a supervisão de instituições públicas e privadas
que prestam atendimento educacional a alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação; - Lei 8.899/1994: Que concede o passe
livre às pessoas portadoras de deficiência no sistema de transporte coletivo interestadual.
Como pode ser verificado na política nacional de proteção a pessoas com Transtorno
do Espectro Autista, configura-se importantes conjunto de leis e normas, consagrando assim,
que esses direitos sejam garantidos.

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