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EDUCAÇÃO ESPECIAL E LEGISLAÇÃO VIGENTE

A nova LDB dedica um capítulo especial a Educação Especial, definindo as


formas de organização, estruturas, preferencialmente, na rede regular de ensino. A
importância do tema foi emergindo à medida que a própria sociedade descobriu que
pessoas com necessidades educacionais especiais são educandos e devem ser
educados. Diante desse contexto, a sociedade posicionou-se fortemente em favor
da inclusão de pessoas, desde que haja a adequação das escolas às
especificidades de cada caso.
Onde há sociedade humana, há direitos e esses são essenciais para o
indivíduo, portanto, o respeito ao cidadão cabe a todos que fazem parte da
sociedade em geral. São essenciais por serem derivados da própria essência do
homem e tornam-se fundamentais porque fazem parte dos fundamentos da ordem
social.
É necessário destacar que a presença da educação especial na Lei
demonstra que houve ao longo de anos certo crescimento da área, face à
mobilidade de diversos órgãos e setores que, significativamente, buscaram discutir
uma forma de incluir no sistema regular de ensino os deficientes.
Há a constatação da necessidade, na prática, do estreitamento de acesso à
escola comum da rede regular de ensino, de alunos considerados de educação
especial. Porém, não se pode falar propriamente em descumprimento de lei, o que
implicaria em um ato deliberado de vontade contra a ordem legal, caracterizando
assim com um crime. Não se pode dizer que as instituições educativas e escolas
comuns são criminosas, pois, face às precárias condições de funcionamento da
escola pública pondera-se haver limitações nas possibilidades de adequação para
atendimento escolar a esses alunos. No caso de alunos com deficiência mais
severa, a preocupação das escolas traduz o seu alto nível de responsabilidade
sócio-educativa, uma vez que 90% das escolas estaduais e municipais não contam
com equipes técnicas e clínicas para uma ação de acolhimento a pessoas com
essas especificidades.
As pessoas que atuam na educação especial dentro dos sistemas de ensino
buscam desenvolver programas especiais para, de forma distorcida, atender aos
deficientes. Estão longe de promover a acessibilidade desses alunos com
necessidades educacionais especiais nas escolas em turmas regulares de ensino.
O Brasil demonstrou traços de uma política educacional inclusiva já na
promulgação da Constituição Federal em 1988 no TÍTULO VIII capítulo Da Ordem
Social:
Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a
garantia de:
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de
idade.
Art. 227
II §- 1º criação de programas de prevenção e atendimento especializado
para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de
integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento
para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços
coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
§ 2.º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos
edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
Desde então nosso país vem reunindo esforços para assegurar o direito à
educação de qualidade a todos os portadores de necessidades especiais
preferencialmente em escolas regulares. Em 1989 a lei N. 7.853, de 24 de outubro
de 1989 foi implantada e em linhas gerais dispõe sobre o apoio às pessoas com
deficiências , sua integração social, assegurando o pleno exercício de seus direitos
individuais e sociais.
Ao participar em 1990, em Jomtien, na Tailândia o Brasil optou pela
construção de um sistema inclusivo concordando com a Declaração Mundial de
Educação para todos . Também em1990 a lei n º8.069/90 – ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - de 13 de julho de 1990 estabelece entre outras
determinações :
Art. 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais.
Art. 11.
§ 1º. A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão
atendimento especializado.
E o caminho aberto para a mudança na educação especial não para por
aqui, o Brasil esteve em consonância com as propostas da conferência Mundial
sobre Necessidades Educacionais Especiais em Salamanca(Espanha, 1994).
Propostas denominadas DECLARAÇÃO DE SALAMANCA que tiveram a
participação de delegados de 88 governos e 25 organizações internacionais e o
objetivo de estabelecer princípios, políticas e práticas na área das necessidades
educativas especiais. O documento oficial foi adaptado à terminologia educacional
brasileira onde foi alterado o termo “necessidades educativas especiais“ por
“necessidades educacionais especiais” e da mesma forma, a expressão “integrada”
ou “integradora” foi também substituída por “inclusiva”.
A expressão necessidades educacionais especiais é utilizada para referir-
se a crianças e jovens cujas necessidades decorrem de sua elevada capacidade ou
de suas dificuldades para aprender. Está associada, portanto, a dificuldades de
aprendizagem, não necessariamente vinculada a deficiência(s).
As Necessidades educacionais podem ser identificadas em diversas
situações representativas de dificuldades de aprendizagem, como decorrência de
condições individuais, econômicas ou socioculturais dos alunos: crianças com
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e sensoriais diferenciadas;
crianças com deficiência e bem dotadas; crianças trabalhadoras ou que vivem nas
ruas; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias
lingüísticas, étnicas ou culturais; crianças de grupos desfavorecidos ou
marginalizados.
Nesta perspectiva a atenção dada à diversidade cultural colabora para a
melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos.
A educação especial como modalidade da educação escolar ganha mais um
dispositivo legal e político-filosófico a seu favor a lei Nº 9.394 de 20 de dezembro de
1996 - LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – capítulo V –
Da educação especial :
Art. 58 . Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.
§1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial.
§2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não
for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular.
§3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado, tem
início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Art. 59 . Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específica, para atender às suas necessidades;
II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os
superdotados;
III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior,
para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na
vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem
capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os
órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade
superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares
disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 60 . Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão
critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos,
especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio
técnico e financeiro pelo Poder público.
Parágrafo único. O poder Público adotará, como alternativa preferencial, a
ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria
rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições
previstas neste artigo.
Através do censo escolar podemos observar o crescimento de 640% das
matrículas do ensino especial em escolas regulares/classes comuns de 1998 a
2006 resultados claros do sucesso da política inclusiva no Brasil.
Com objetivo de organizar a modalidade de educação especial e aproximá-
la cada vez mais dos pressupostos e da prática pedagógica social da educação
inclusiva, em 20 de dezembro de 1999 o decreto nº. 3.298 regulamenta a lei nº.
7.853 , dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências.
A lei n 10.172/01 – aprova o Plano Nacional de Educação que estabelece
vinte e oito objetivos e metas para a educação das pessoas com necessidades
educacionais especiais que de forma sintética tratam:
a) Ampliação da oferta de atendimento desde a educação infantil até a
qualificação profissional dos alunos partindo do desenvolvimento de
programas educacionais em todos os municípios com parcerias nas
áreas de saúde e assistência social;
b) Atendimento preferencial na rede regular de ensino e atendimento
extraordinário em classes e escolas especiais;
c) Estabelecimento de ações preventivas e parcerias necessárias ao pleno
desenvolvimento do portador de necessidades educacionais especiais
em escola inclusiva;
d) Promoção da educação continuada de professores em exercício;

Em 2006 os objetivos e metas traçados pelo Plano Nacional de educação


no que diz respeito à ampliação dos atendimentos da educação infantil até a
qualificação profissional em escolas regulares já podem ser vistos através do censo
escolar. Embora timidamente, os portadores de necessidades educacionais
especiais, estão sendo matriculados em quase todas as etapas e se concentram em
sua maioria no ensino fundamental.
A habilitação dos profissionais em exercício de 2002 a 2006 cresceu 33,3%
resultado da política de incentivo na formação continuada de professores do Plano
Nacional de Educação.
Enfim após a análise histórica da legislação brasileira podemos concluir
que todas garantem o direito de qualquer aluno à educação regular e que esta
política já vem dando resultados . O nosso papel neste momento é de reflexão
sincera, sem resistência às mudanças e inovações, a fim de promover a reforma
estrutural e organizacional das instituições de ensino e assegurar efetivamente a
inclusão dos portadores de necessidades especiais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,


nº. 9394, de 20/12/1996

BRASIL. Constituição de 1988.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de educação especial. Política


Nacional de Educação Especial. Brasília, Secretaria de Educação Especial, 1994.

UNESCO. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades


educativas especiais. Brasília,CORDE, 1994.

BRASIL, Decreto nº3.298 de 20/12/1999 . Regulamenta a lei nº. 7.853 , dispõe


sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência,
consolida as normas de proteção e dá outras providências. 1999.

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