Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
1
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
SUMÁRIO
MÓDULO I
*EDUCAÇÃO INCLUSIVA SOB O ENFOQUE DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
* CONSIDERAÇÕES FINAIS
MÓDULO II
MÓDULO III
2
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
MÓDULO IV
BIBLIOGRAFIA
MÓDULO I
3
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
de Diretrizes e Bases da Educação – LDB todo o embasamento jurídico para a
elaboração de políticas públicas necessárias que possibilitam a efetiva consecução final
de todo o aparato educacional.
Para tanto, os Órgão Públicos responsáveis pela educação, quer seja nas
esferas estaduais e municipais, deverão disponibilizar os recursos financeiros
necessários para viabilizar o atendimento aos sujeitos de direito, proporcionando a
adequação nos espaços físicos das escolas, recursos materiais e humanos, revisão de
convênios, dentre outros.
Importante salientar que a escolarização do aluno com deficiência nas
escolas comuns e sua permanência durante o ensino fundamental é um direito
indisponível, não se permitindo olvidar que as escolas especiais sempre deverão fazer o
papel de atendimento especializado, quando se fizer necessário para o atendimento
complementar à educação do aluno, nunca porém, substituí-la.
Entretanto, entendemos que cabe também à sociedade, que respeita as
diferenças, a busca por uma escola integradora, reconhecendo a necessidade de se
refletir sobre novos paradigmas, novos mecanismos, que a escola reveja suas práticas
em todos os níveis, concepções, aperfeiçoando seu projeto pedagógico, considerando
sempre a diversidade do aluno, pois como é cediço, segundo o postulamento global não
basta para mudar, a edição de normas legais se não mudar posturas de preconceito e
discriminação.
4
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
avançada dos direitos.”
5
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de
bem-sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam
desvantagens severas. O mérito de tais escolas não reside somente no fato de que elas
sejam capazes de prover uma educação de alta qualidade a todas as crianças: o
estabelecimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes
discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade
inclusiva.”
Posteriormente, o Brasil mais uma vez reafirmou sua opção de construir
um sistema educacional inclusivo, por ocasião da Convenção Interamericana para a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Pessoa Portadora de
Deficiência, na Guatemala, em 28/05/1999, na qual, em linhas gerais, contém o
significado do que seja o termo deficiência: “uma restrição física, mental ou sensorial de
natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais
atividades essenciais da vida diária, causada ou agrava pelo ambiente econômico e
social.”
Com o objetivo de contribuir para o campo das políticas públicas de educação especial
6
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
na perspectiva inclusiva, procuramos conhecer o sentido, caráter, discurso, interesses e
estratégias das propostas de implementação das políticas educacionais pelos agentes
financeiros e pelo Estado.
Nesse sentido, a iniciativa deste estudo sobre as políticas públicas de educação inclusiva
em documentos já produzidos é pertinente pela relevância do conhecimento dos
objetivos, propostas, intervenções, progressos e inadequações contempladas nas
diretrizes nacionais e internacionais das políticas de educação inclusiva, as quais têm
gerado constantes discussões e significativas mudanças no âmbito escolar através das
relações entre a escola dita normal e os deficientes.
7
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS: CONCEITOS E CONCEPÇÕES
o termo “política” prenuncia uma multiplicidade de significados, presentes nas múltiplas fases históricas do
Ocidente. Em sua acepção clássica, deriva de um adjetivo originado de polis – politikós – e refere-se à
cidade e, por conseguinte, ao urbano, ao civil, ao público, ao social.
8
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Silva (2002, p. 7) também contribui afirmando:
Geralmente o desejo de muitos gestores, educadores, alunos e seus pais para com a
educação não é correspondido pela proposta dos organismos financeiros internacionais,
nacionais e os governos Estadual e Federal ao imprimirem a direção desejada sem
contextualização da prática e das vivências que existem no atual paradigma educacional.
9
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
[...] não caberia ao Estado assumir a perspectiva ético-política de uma comunidade promovendo um bem
comum relacionado com uma tradição local (como, por exemplo, definir a identidade e a cultura de um
grupo específico como componente obrigatório do currículo da educação pública) ou com os valores
nacionais, em nome dos quais certas políticas públicas deveriam ser promovidas. O Estado deve proteger
os indivíduos de imposições comunitárias, ou de uma maioria no poder, de uma forma de vida ou valor
específico a ser seguido. Atrelado a uma concepção de democracia formal, cabe ao Estado, sobretudo,
garantir os direitos civis, entre os quais estão a liberdade de escolha cultural e educacional.
A educação não deve ser pensada de forma abstrata e a implementação das políticas
educacionais são necessárias à sensibilização e à qualificação de todos os sujeitos
envolvidos no processo, para que, então, sejam criadas as políticas de Estado e não
10
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
políticas de Governo, lembrando que nem tudo que serve para o Governo, serve para a
escola, para a educação.
Cabe ressaltar a presença do Banco Mundial (BM) através de suas políticas estratégicas
e suas intervenções educacionais, principalmente no que refere às políticas para a
Educação Básica pública. O Banco Mundial surgiu em 1944, no contexto do término da II
Guerra Mundial, com o objetivo imediato de cuidar da reconstrução das economias
devastadas e como credor dos países afetados pela guerra. Desde esse período, exerce
participação de prestígio na implementação das políticas educacionais, sendo o Brasil
um dos países em que a educação é financiada e sofre a intervenção dessa organização
financeira.
Em vista disto o Banco Mundial vem trabalhando de maneira direta na educação há mais
de quatro décadas, tanto que se transformou, nos últimos anos, no organismo com maior
visibilidade no cenário educativo mundial e acabou por ocupar espaços antes conferidos
à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),
organismo especializado em educação. Atualmente, é a “principal agência de assistência
técnica em matéria de educação para os países em desenvolvimento e, ao mesmo
tempo, a fim de sustentar tal função técnica, em fonte e referencial importante de
pesquisa educativa no âmbito mundial”. (TORRES, 2003, p. 126).
Toda proposta de política educacional não é definida como sendo fixa e imutável. Nesse
11
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
sentido, conforme ressaltam Ball e Mainardes (2011, p. 14):
12
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
325.316 em 2006.
Quando houver políticas públicas educacionais que respeitem o ser humano em suas
diferenças, que possibilitem a eles estar na escola, interagir, socializar-se e aprender,
podemos acreditar que as políticas estarão cumprindo o seu papel. Para tanto, não basta
o aumento das matrículas em escolas comuns e em classes especiais, pois mesmo
sendo satisfatórios os dados quantitativos, eles não substituem o atendimento
especializado a esses alunos. Quando em uma proposta política o direito ao acesso e ao
acompanhamento educacional for para todos os que possuem necessidades
educacionais especiais, a implementação dessa política não deve acontecer somente em
algumas realidades, para um pequeno contingente de alunos e de forma fragmentada,
principalmente na ausência de professores-monitores com especialização para auxiliar o
professor titular e o aluno, sendo que o primeiro não está preparado para atuar com o
aluno com necessidade especial e este deseja aprender.
13
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Do exposto acima, referente a Lei 7.853/89, é mister salientar a continuidade dos direitos
básicos da pessoa com necessidades educacionais especiais, como ter a oportunidade
de ser, aprender e conviver socialmente, enfatizando a necessária e urgente formação e
qualificação do professor para atuar com esses alunos que desejam mostrar suas
habilidades e aprender vencendo suas limitações e estigmas.
No caso de uma formação inicial e continuada direcionada à inclusão escolar, estamos diante de uma
proposta de trabalho que não se encaixa em uma especialização, extensão ou atualização de
conhecimentos pedagógicos. Ensinar, na perspectiva inclusiva, significa ressignificar o papel do professor,
da escola, da educação e de práticas pedagógicas que são usuais no contexto excludente do nosso
ensino, em todos os seus níveis. A inclusão escolar não cabe em um paradigma tradicional de educação e,
assim sendo, uma preparação do professor nessa direção requer um design diferente das propostas de
profissionalização existentes e de uma formação em serviço que também muda, porque as escolas não
serão mais as mesmas, se abraçarem esse novo projeto educacional. (MANTOAN, 2006, p. 54-55).
15
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
especial dentro das escolas inclusivas (BRASIL, 1994).
[...] o dever das escolas acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas,
intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e
superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade,
crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos
desavantajados ou marginalizados. Tais condições geram uma variedade de diferentes desafios aos
sistemas escolares. No contexto desta Estrutura, o termo "necessidades educacionais especiais" refere-se
a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de
deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades de
aprendizagem e portanto possuem necessidades educacionais especiais em algum ponto durante a sua
escolarização. Escolas devem buscar formas de educar tais crianças bem-sucedidamente, incluindo
aquelas que possuam desvantagens severas. Existe um consenso emergente de que crianças e jovens
com necessidades educacionais especiais devam ser incluídas em arranjos educacionais feitos para a
maioria das crianças. Isto levou ao conceito de escola inclusiva. O desafio que confronta a escola inclusiva
é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de bem-
sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam desvantagens severa. O mérito
de tais escolas não reside somente no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de alta
qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de
modificar atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade
inclusiva. (BRASIL, 1994).
16
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
e sociedade desejam: o respeito a diversidade, aos interesses, habilidades e
necessidades de aprendizagem que são singulares e próprios de cada indivíduo. A
educação com princípios inclusivos está construindo sua trajetória e muito é devido à
estrutura de ação em educação especial anunciada pela Declaração Mundial de
Educação para Todos em Salamanca. Quando assumiu sua adesão à Declaração de
Salamanca, o Brasil o fez numa perspectiva de compromisso internacional junto à
Organização das Nações Unidas (ONU), Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e ao Banco Mundial (BM), que promoveram
o encontro, mostrando que esses compromissos “apontam mais para a necessidade de
se melhorar os indicadores nacionais da educação básica, priorizando os aspectos
quantitativos do acesso” (FERREIRA, 2004, p. 24).
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no art. 58 § 1º,
garante que haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. Neste artigo,
há a afirmação do dever do Estado de fornecer, quando necessário, serviços de apoio
especializado na escola regular, visando atender às necessidades especiais dos alunos,
sabendo que a efetivação desses serviços devem ser permanentes, visto as próprias
“peculiaridades dos alunos da educação especial”. Ainda o art. 59 preconiza que os
sistemas de ensino devem assegurar aos alunos com necessidades educacionais
especiais currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas
necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e
assegura a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa
escolar.
17
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
A Resolução CNE/CEB nº 2/2001, que institui Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica, no art. 1º, em seu Parágrafo único, determina que o
atendimento escolar desses alunos tenha início na educação infantil, nas creches e pré-
escolas, assegurando-lhes os serviços de educação especial sempre que se evidencie,
mediante avaliação e interação com a família e a comunidade, a necessidade de
atendimento educacional especializado. Também define, no art. 2º, que os sistemas de
ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o
atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as
condições necessárias para uma educação de qualidade para todos.
A inclusão escolar tem sido mal compreendida, principalmente no seu apelo a mudanças nas escolas
comuns e especiais. Sabemos, contudo, que sem essas mudanças não garantiremos a condição de
nossas escolas receberem, indistintamente, a todos os alunos, oferecendo-lhes condições de prosseguir
em seus estudos, segundo a capacidade de cada um, sem discriminações nem espaços segregados de
educação. (MANTOAN, 2006, p. 23).
18
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua
plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.
Segundo Mantoan (2006, p. 35), “é inegável que as ferramentas estão aí para que as
mudanças aconteçam e para que reinventemos a escola, desconstruindo a máquina
obsoleta que a dirige, assim como os conceitos sobre os quais ela se fundamenta, os
pilares teórico-metodológicos em que ela se sustenta”.
Dessa forma, buscamos abordar nesta breve discussão alguns documentos produzidos
referentes às políticas públicas de educação especial na perspectiva inclusiva, os quais
julgamos uns dos mais relevantes, sabendo que há outros que em outro momento
poderão contribuir na continuidade do debate.
Neste momento, podemos constatar, em relação aos apontamentos direcionados as
políticas públicas de educação especial inclusiva, que nossa tarefa e missão é grandiosa
e constante na busca do compromisso de acompanhar as ações e intervenções das
organizações financiadoras e dos governos Estadual e Federal para com a educação, e
que a implementação das políticas públicas educacionais vise uma escola que vivencie
em seu dia a dia uma educação especial na perspectiva inclusiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
19
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
pública efetiva de educação inclusiva, a que deve ser gradativa, contínua, sistemática e
principalmente planejada com o objetivo de oferecer aos alunos com necessidades
educacionais especiais educação de qualidade que proporcione na prática, na ação
docente, na aprendizagem e nas relações intersociais a superação de toda e qualquer
dificuldade que se interponha à construção de uma escola democrática.
A maioria dos documentos legislativos referentes às políticas públicas de educação
especial na perspectiva inclusiva presente neste artigo apresenta como princípios o
direito do aluno com necessidades educacionais especiais à educação, ao acesso e
permanência na escola, a formação e qualificação dos professores, currículo, métodos,
recursos, organizações e infraestrutura adequada para constituir uma educação
satisfatória. Mas, sabemos que sempre existirá entraves, como os citados por Mantoan
(2006, p. 24):
[...] a resistência das instituições especializadas a mudanças de qualquer tipo; a neutralização do desafio à
inclusão, por meio de políticas públicas que impedem que as escolas se mobilizem para rever suas práticas
homogeneizadoras, meritocráticas, condutistas, subordinadoras e, em consequência, excludentes; o
preconceito, o paternalismo em relação aos grupos socialmente fragilizados, como o das pessoas com
deficiência.
Vale sempre enfatizar que são promissores os discursos presentes nas políticas
educacionais inclusivas. Houve avanços, como o elevado número de matrículas na rede
de ensino regular de alunos com necessidades educacionais especiais, o que é
significativo, porém permanecemos em dados quantitativos, e urgente é a qualidade da
educação. Mesmo sabendo que há interferência, controle, supervisão e avaliação de
organismos financeiros internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional, também o consentimento por parte do Estado, continuamos desejando e
almejando novas políticas, caminhos e ações promissoras, coerentes e transformadoras
dos sistemas educacionais inclusivos, onde a escola seja um espaço fundamental na
valorização da diversidade e garantia da cidadania de cada um que, em momentos,
apresenta limitações, mas em outros, muito potencial e habilidade.
20
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
e propostas que possam ser discutidas, aprofundadas, reinventadas e de preferência
bem sucedidas no cenário educacional especial inclusivo, pois as discussões não se
limitam neste texto que pretende instigar novas leituras, análises, considerações e
atitudes favoráveis a uma política de educação para todos sem estigmas, discriminação e
segregação.
MÓDULO II
21
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
as Disposições Transitórias não se sobrepõem às definições da LDB. Por isso, o artigo
62 revogou o disposto nas Disposições Transitórias. Assim, continua-se admitindo
professores formados em cursos de nível médio, na modalidade normal, para a educação
infantil e as quatro primeiras séries do ensino fundamental. Literalmente:
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério
na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio, na modalidade Normal.
Nesse artigo, a LDB reafirma o ensino superior como nível desejável, apesar de admitir a
formação mínima em curso normal para a atuação na educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental. Essa deliberação foi confirmada por meio do parecer n.º 1
do Conselho Nacional de Educação (CNE), aprovado em 19 de fevereiro de 2003,
segundo o qual todo professor concursado que atue em turmas de educação infantil ou
séries iniciais do ensino fundamental tem assegurado o seu cargo, mesmo que não
freqüente curso em nível superior.
Por outro lado, investimento na formação docente em nível superior por si só não
resolverá a complexidade dos problemas educacionais brasileiros historicamente
reproduzidos, como, por exemplo, o analfabetismo. É preciso compreender que
mudanças na educação para atender ao paradigma vigente de inclusão educacional
dependem de diversos fatores, como, por exemplo, o contexto social, econômico e
22
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
cultural em que se insere a escola, as concepções e representações sociais relativas à
deficiência e, por fim, os recursos materiais e os financiamentos disponíveis à escola
(MENDES, 2002). Ou seja, a formação deve atender às necessidades e aos desafios da
atualidade. Para tanto, sugerimos que o professor seja formado de maneira, a saber,
mobilizar seus conhecimentos, articulando-os com suas competências mediante ação e
reflexão teórico-prática.
O documento acima referido aponta para uma revisão urgente do processo de formação
inicial de professores, de modo a superar problemas em nível institucional e no campo
curricular. No que se refere ao âmbito institucional, o documento assinala, entre outros,
dois problemas centrais: a) a segmentação da formação dos professores, da qual a
descontinuidade na formação dos alunos da educação básica é uma expressão; b) o
distanciamento entre os cursos de formação e o exercício da profissão de professores no
ensino fundamental e médio. Ambos os aspectos reforçam o fato de que a formação vem
se dando sem uma maior articulação entre teoria e prática (MEC, 2000, p. 21-24).
23
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
relacionamento com alunos e com a comunidade; e) a ausência de estímulo para se
desenvolver uma postura investigativa, capaz de relacionar teoria e prática; f) a ausência
de conteúdos relativos às novas tecnologias da informação e comunicação; g) a
desconsideração das especificidades próprias dos níveis e/ou modalidades de ensino em
que são atendidos os alunos da educação básica; h) a desconsideração das
especificidades das áreas do conhecimento que compõem o quadro curricular na
educação básica (MEC, 2000, p. 24-34).
Diagnóstico semelhante também foi traçado por Castro (2002) numa pesquisa realizada
na rede municipal de educação de Santa Maria/RS, que analisou representações e
sentimentos de professores da rede regular de ensino diante da inclusão de alunos com
24
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
necessidades especiais em "suas" salas de aula. Castro mostrou que os professores, de
modo geral, não se sentem capacitados para receber um aluno com deficiência, apesar
de acreditarem nos méritos da inclusão. É o que se pode depreender das seguintes falas,
proferidas por diferentes professores:
Eles [alunos especiais incluídos] exigem uma atenção que não temos condição de dar.
[...] Não temos condição de oferecer o que eles realmente necessitam, pois não somos
educadoras especiais, apesar de termos boa vontade.
[...] Não temos preparo suficiente para fazer um trabalho com muitos resultados positivos.
[...] Há muito despreparo nas classes regulares e nos cursos de formação do magistério.
[...] Desde que não atrase muito o ritmo do grupo em geral pode acontecer.
Outrossim, devemos destacar o estudo desenvolvido por Carneiro (1999), que investigou
professores que atuavam em turmas de pré-escola à 4.ª série do ensino fundamental da
rede regular de ensino de Juiz de Fora/MG. Os resultados evidenciaram a necessidade
de uma formação continuada em serviço desses professores para a efetivação com
qualidade da educação inclusiva. Já a pesquisa de Magalhães (1999), realizada na rede
municipal de educação do Rio de Janeiro, ouviu a opinião de professores e diretores
sobre a inclusão educacional de alunos especiais em rede regular de ensino, segundo a
qual a formação de professores foi destacada como um aspecto relevante para a
implementação da proposta inclusiva. Esses resultados foram confirmados pela pesquisa
de Tonini e Costas (2005) realizada em uma escola pública estadual de Santa Maria/RS.
25
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
diretamente relacionados com a formação ou capacitação recebida. Além disso,
podemos afirmar que existe um grande descrédito sobre a capacidade do aluno especial
se desenvolver e agir de forma autônoma (GOFFMAN, 1988; GLAT, 1998).
Neste sentido, advertimos que, num primeiro momento, são comuns sentimentos de
incapacidade e até mesmo de medo frente ao ingresso de um aluno com algum tipo de
deficiência ou distúrbio de comportamento em sala de aula regular, podendo afastar o
professor daquilo que não conhece e lhe suscitar estranheza (CORREIA, 1999;
NAUJORKS, 2002 e 2003; BEYER, 2003). Em outras palavras, muitas vezes a falta de
preparo e informação impede o professor de desenvolver uma prática pedagógica
sensível às necessidades do aluno especial incluído.
26
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
pertencer a um grupo social, sentindo-se útil e valorizado, possibilita o agir e o crescer
com o outro; d) estimular a autonomia dos alunos mediante a construção de sua
aprendizagem; e) avaliar permanentemente as aprendizagens; f) avaliar o progresso de
cada aluno segundo seu ritmo, do ponto de vista da evolução de suas competências ao
resolver problemas de toda ordem e na participação da vida social; g) desenvolver a
cooperação entre os alunos e certas formas de ensino mútuo, pois toda pedagogia
diferenciada exige cooperação ativa dos alunos e dos seus pais, diminuindo a
discriminação entre eles; h) envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu
trabalho, despertando o desejo de aprender e propondo tarefas cognitivas de maneira
lúdica e interessante, a partir das quais deveria ser desenvolvido no educando a
capacidade de auto-avaliação; i) inserir-se no universo cultural dos alunos (VALLE;
GUEDES, 2003, p. 52-53).
Resumindo, podemos dizer que o professor deve valorizar a diversidade como aspecto
importante no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, necessita ser capaz de
construir estratégias de ensino, bem como adaptar atividades e conteúdos, não só em
relação aos alunos considerados especiais, mas para a prática educativa como um todo,
diminuindo, assim, a segregação, a evasão e o fracasso escolar.
27
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
aos investimentos necessários para o intercâmbio e a disseminação do conhecimento
produzido pela academia (GATTI, 1996). Atualmente, são poucos os intercâmbios de
experiências positivas de inclusão em âmbito nacional. Além disso, pouco se dissemina
em termos de pesquisas empíricas envolvendo a temática. Com certeza esse aspecto
fragiliza a implementação de políticas inclusivas (GLAT; SENNA; OLIVEIRA; FERREIRA,
2003; PLETSCH, 2005; PLETSCH; FONTES, 2006).
O fato é que, de maneira geral, as licenciaturas não estão preparadas para desempenhar
a função de formar professores que saibam lidar com a heterogeneidade posta pela
inclusão. Isso é preocupante, pois os alunos bem ou mal estão sendo incluídos e cada
vez mais as salas de aula se diversificam, embora, evidentemente, não no ritmo
desejado (GLAT; PLETSCH, 2004; PLETSCH; FONTES, 2006). Em outras palavras,
trata-se de uma inclusão precarizada.
Por outro lado, limitar-se a oferecer uma disciplina com conteúdos sobre crianças com
necessidades especiais, sem maior reflexão e aprofundamento acerca das capacidades
e individualidades humanas, pode acabar auxiliando a manutenção de práticas
segregacionistas. É o que destaca Bueno:
28
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
que possuam condições para se inserir no ensino regular e as que não as possuam, e a
manutenção de uma escola que, através de suas práticas, tem ratificado os processos de
exclusão e de marginalização de amplas parcelas da população escolar brasileira
(1999b, p. 18).
É oportuno lembrar que a própria LDB (1996), em seu artigo 59, reconhece a importância
de se formar professores especializados para atender pessoas com necessidades
especiais, sob quaisquer modalidades de ensino:
As linhas centrais dessa proposta constam do Plano Nacional de Educação (MEC, 2000),
que aponta a integração entre professores da Educação Especial e da educação regular
como uma das ações necessárias para efetivação da educação inclusiva. E acrescenta:
Partindo desse pressuposto, propõe-se, como uma das alternativas para a efetivação da
inclusão educacional na realidade brasileira o ensino itinerante (PLETSCH, 2005). Essa
proposta pode ser entendida como um desdobramento da ideia de Bueno sobre os
professores generalistas e especialistas, a qual, como se viu, tem fundamento na
legislação e em diretrizes de política educacional do MEC.
O ensino itinerante, de acordo com o MEC (MEC/SEESP, 1995), consiste num suporte
oferecido por um professor especializado ao professor regular que tem em sua classe
alunos especiais. Além disso, o professor itinerante deve também dar apoio ao educando
incluído, o qual pode ser individual ou em grupo, de acordo com as necessidades
específicas de cada caso e, se necessário for, o professor itinerante pode ainda trabalhar
com o aluno incluído em horário distinto do tempo de aula.
30
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
especiais. O estudo mostrou que as professoras itinerantes podem atuar como agentes
de mediação, sensibilização e mobilização pró-inclusão junto ao conjunto de
personagens - diretores, coordenadores pedagógicos, professores regulares e demais
funcionários - responsáveis pela dinâmica cotidiana das escolas. Seu trabalho, portanto,
não se limita à questão pedagógica stricto sensu, mas envolve a esfera da cultura e dos
valores constitutivos das relações intraescolares e da escola com a comunidade em seu
entorno (PLETSCH, 2005).
Essa situação reforça a ideia de investimentos no ensino itinerante, não apenas como
instrumento de suporte e capacitação aos professores regulares, mas também como
agente de "internalização" nas escolas da política de inclusão de pessoas com
necessidades especiais.
Por fim, para que ocorram mudanças efetivas no quadro educacional brasileiro em
relação à inclusão de alunos com necessidades especiais, nunca é demais lembrar a
necessidade de combater os problemas educacionais gerais, como, por exemplo, o
fracasso e evasão escolares e a deterioração da qualidade do ensino público. Incluir
pessoas com necessidades especiais no atual contexto de precarização, não rompe por
si só com o circuito da exclusão. Por isso, a proposta de inclusão não pode ser pensada
de maneira desarticulada da luta pela melhoria e transformação da educação brasileira
como um todo.
MÓDULO III
31
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
COMPLEMENTAM NO CONTEXTO DA ESCOLA ABERTA À DIVERSIDADE
Rosana Glat, Márcia Denise Pletsch, Rejane de Souza Fontes
Esse processo vem se acelerando, sobretudo, a partir dos anos 1990 com o
reconhecimento da Educação Inclusiva como política educacional prioritária na maioria
dos países, entre eles o Brasil. O princípio básico da Educação Inclusiva é que todos os
alunos, independente de suas condições sócio-econômicas, raciais, culturais ou de
desenvolvimento, sejam acolhidos nas escolas regulares, as quais devem se adaptar
para atender às suas necessidades, pois estas se constituem como os meios mais
capazes para combater as atitudes discriminatórias (UNESCO, 1994).
Portanto, mais do que uma nova proposta educacional, a Educação Inclusiva pode
ser considerada uma nova cultura escolar: uma concepção de escola que visa o
32
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
desenvolvimento de respostas educativas que atinjam a todos os alunos, independente
de suas condições intrínsecas ou experiências prévias de escolarização. Diferenciando-
se da escola tradicional que exige a adaptação do aluno às regras disciplinares e às suas
formas de ensino, sob pena de punição e/ou reprovação, a escola inclusiva preocupa-se
em responder às necessidades apresentadas pelo conjunto de seus alunos e por cada
um individualmente, assumindo o compromisso com o processo ensino-aprendizagem de
todos (GLAT, FERREIRA, OLIVEIRA e SENNA, 2003, GLAT; FONTES e PLETSCH,
2006; GLAT e BLANCO, 2007).
Cabe enfatizar, porém, que Educação Inclusiva não consiste apenas em matricular
o aluno com deficiência em escola ou turma regular como um espaço de convivência
para desenvolver sua ‘socialização’. A inclusão escolar só é significativa se proporcionar
o ingresso e permanência do aluno na escola com aproveitamento acadêmico, e isso só
ocorrerá a partir da atenção às suas peculiaridades de aprendizagem e desenvolvimento.
Ainscow (2004) sugere que a inclusão escolar deve ser ancorada em três aspectos
inter-relacionados, a saber: a) a presença do aluno na escola, substituindo o isolamento
do ambiente privado familiar pela sua inserção num espaço público de socialização e
aprendizagem; b) a sua participação efetiva em todas as atividades escolares, a qual não
depende apenas de ‘estímulos’ de colegas e professores, mas do oferecimento de
condições de acessibilidade e adaptações curriculares que se façam necessárias; e c) a
construção de conhecimentos, função primordial da escola, e meta a ser perseguida
durante o processo de inclusão.
Mas para que tal processo se efetive é preciso que sejam identificadas as
demandas que o aluno apresenta em sua interação no ambiente escolar, e proporcionar-
lhe as condições necessárias para sua aprendizagem. A Declaração de Salamanca
(UNESCO, 1994, p. 10) deixa claro esse aspecto quando afirma que “todas as crianças
[...] têm direito fundamental à educação e que a elas deve ser dada a oportunidade de
obter e manter um nível aceitável de conhecimentos”. No caso dos alunos com
deficiência, a presença de suportes pedagógicos especializados no ensino comum tem
se mostrado uma experiência favorável, senão fundamental, para que a inclusão se
efetue.
33
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Neste contexto, a Educação Especial encontra-se em processo de re-significação
de seu papel, para abranger, além do atendimento especializado direto, o apoio às
escolas regulares que recebem alunos que necessitam de propostas diferenciadas para
a aprendizagem. Não, como lembram Glat e Fernandes (2005), visando importar
métodos e técnicas especializadas para a classe comum, mas sim, constituindo-se em
um sistema de suporte permanente e efetivo à escola, para que esta possa promover a
aprendizagem dos alunos com deficiências ou outras características peculiares de
desenvolvimento. Em outras palavras, a Educação Especial não deve ser mais
concebida como um sistema educacional especializado à parte, mas sim como um
conjunto de metodologias, recursos e conhecimentos (materiais, pedagógicos e
humanos) que a escola comum deverá dispor para atender à diversidade de seu
alunado.
35
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
políticas públicas educacionais. Por iniciativa do CENESP, foram implantados
subsistemas de Educação Especial nas diversas redes públicas de ensino através da
criação de escolas e classes especiais. Também sob os auspícios desse órgão foram
implementados projetos de formação de recursos humanos especializados em todos os
níveis, inclusive com o envio de docentes para cursos de pós-graduação no exterior
(FERREIRA e GLAT, 2003), o que permitiu o desenvolvimento acadêmico e científico da
área.
36
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
os demais (GLAT, 1995; GLAT e FERNANDES, 2005). É importante ressaltar que a
proposta não era, como erroneamente criticada, ‘normalizar o deficiente’, mas sim
normalizar as suas condições de vida, fazendo os recursos e serviços a eles destinados
o mais próximo possível daqueles utilizados pelos demais indivíduos de seu grupo social
(GLAT e BLANCO, 2007).
Contudo, com o passar do tempo, este modelo foi amplamente criticado, por exigir
uma ‘preparação’ prévia dos alunos com deficiências para a sua integração no ensino
regular. A Integração mantinha, assim, o problema centrado no aluno,
‘desresponsabilizando’ a escola, a qual caberia apenas ensinar àqueles que tivessem
condições de acompanhar as atividades regulares, concebidas sem qualquer
preocupação com as especificidades dos que apresentavam necessidades especiais.
Conseqüentemente, a maior parte desses educandos manteve-se matriculada em
escolas ou classes especiais, por não apresentar condições de ingresso nas turmas
regulares. (BUENO, 2001; FERREIRA e GLAT, 2003; GLAT e FERNANDES, 2005;
GLAT e BLANCO, 2007).
37
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
É importante frisar que apesar de Educação Inclusiva ser o discurso dominante nas
diretrizes educacionais atuais, a inserção de alunos com deficiências ou outros
comprometimentos no cotidiano das escolas brasileiras tem ocorrido (às vezes
concomitantemente) sob os dois modelos educacionais discutidos: a Integração e
Inclusão Escolar. No primeiro caso os alunos com deficiências (geralmente oriundos do
ensino especial) são matriculados nas classes comuns, na medida em que demonstrem
condições para acompanhar a turma, recebendo apoio especializado paralelo. No
segundo caso, esses alunos, independente do tipo ou grau de comprometimento, são
incluídos diretamente no ensino regular, cabendo à escola desenvolver mecanismos para
atender às suas necessidades de aprendizagem no próprio contexto da classe comum.
38
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
necessidades educacionais especiais. Isto se refere tanto aos alunos com deficiências ou
outras condições peculiares de desenvolvimento — até então atendidos exclusivamente
pela Educação Especial — quanto para todos aqueles que, por alguma razão, para
aprender o que é esperado para o seu grupo referência, precisam de diferentes formas
de interação pedagógica e/ou suportes adicionais (recursos, metodologias e currículos
adaptados), bem como tempos diferenciados, durante todo ou parte do seu percurso
escolar (CORREIA, 1999; PLETSCH e FONTES, 2006; GLAT e BLANCO, 2007).
Como apontam Glat e Blanco (2007), necessidade educacional especial não é uma
característica intrínseca do aluno, nem muito menos uma condição sintomática típica de
um determinado grupo etiológico, supostamente homogêneo. É uma condição individual
e específica, um produto da interação do aluno com o contexto escolar em que a
aprendizagem deverá se dar. Assim, dois alunos com o mesmo tipo e grau de deficiência
podem requisitar diferentes adaptações de recursos didáticos e metodológicos. Da
mesma forma, um aluno que não tenha qualquer deficiência, pode, sob determinadas
circunstâncias, apresentar dificuldades para aprendizagem escolar formal que
demandem apoio especializado.
39
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Destacam Glat e Blanco (2007, p. 6, grifo nosso):
Para Glat e Pletsch (2004) este aspecto afeta tanto os professores do ensino
comum, quanto os da Educação Especial que lhes deveriam dar o suporte. No primeiro
caso, verifica-se que os mesmos não têm experiência com esse tipo de educando, e mal
dão conta, em suas classes lotadas, de um número grande de alunos que, embora não
tenham deficiências específicas, apresentam inúmeros problemas de aprendizagem e/ou
de comportamento. Os professores especializados, por sua vez, vêm construindo sua
competência com base no conhecimento das dificuldades específicas do alunado que
atendem, dando ênfase à diminuição ou compensação dos efeitos de suas deficiências.
Conforme bem apontado por Bueno (1993, 2001), a prática pedagógica inclusiva
requer a formação de dois tipos de professores: a) os generalistas, regentes das classes
regulares que teriam algum conhecimento e prática sobre a diversidade do alunado; b) os
professores especialistas, capacitados para atuação com diferentes necessidades
educacionais especiais. Estes seriam responsáveis pelo suporte, orientação e formação
continuada dos professores do ensino regular visando à inclusão, bem como por atender
diretamente aos alunos em modalidades como classes especiais, salas de recurso,
ensino itinerante, de acordo com o prescrito no artigo 59 da Lei de Diretrizes e Bases
(BRASIL, 1996):
41
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
que a formação pedagógica deste último tenha uma dimensão de docência ampla, aliada
a aprofundamentos específicos que permitiriam o atendimento e suporte especializado.
De acordo com Glat e Nogueira (2002) a dicotomia hoje existente entre ensino
‘especial’ e ‘regular’ é um reflexo da formação clássica do professor que privilegia uma
concepção estática de desenvolvimento humano, com a conseqüente concepção de dois
tipos distintos de processo ensino-aprendizagem: o ‘normal’ e o ‘especial’. No ensino
‘normal’ (ou regular) o professor estaria frente aos alunos que seguem o padrão de
aprendizagem para o qual ele foi preparado durante sua formação; já no ‘especial’
estariam os alunos que apresentam os denominados ‘distúrbios ou dificuldades de
aprendizagem’ e/ou aqueles com deficiências ou demais necessidades educacionais
especiais, que constituíam (até então) o alunado da Educação Especial.
Defendemos, também, que a opção da inclusão em classe comum deve ser feita
com base na modalidade que, no momento, melhor proporcione ganhos ao sujeito com
necessidades especiais. Levando em consideração a realidade educacional brasileira
atual - número grande de alunos por turma, professores sem formação adequada,
42
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
poucos recursos de acessibilidade, entre outros aspectos já apontados -, a classe
comum nem sempre é a melhor alternativa para todos os alunos, sobretudo para os que
apresentam comprometimentos graves (LIBERMAN, 2003; GLAT e BLANCO, 2007).
MÓDULO IV
43
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
EDUCAÇÃO E SAÚDE NO ATENDIMENTO INTEGRAL
E PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS
Rosana Glat
Edicléa Mascarenhas Fernandes
Maria Luiza Pontes
Helio Ferreira Orrico
44
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
apresentam muitas vezes desconectadas, replicadas, ou até mesmo superpostas.
A mesma situação ocorre na esfera da formação profissional acadêmica, uma vez que na
grande maioria das universidades brasileiras, via de regra, não há troca de saberes e
experiências entre os diferentes cursos. Isso é muito grave, pois significa que haverá
pouca chance de mudança desse quadro a curto ou médio prazo, já que os futuros
profissionais continuarão se formando com uma postura fragmentada e “super-
especializada”.
Estas são algumas das questões a serem discutidas no presente artigo, tendo como foco
o atendimento e a prestação de serviços terapêuticos e educacionais aos portadores de
deficiências múltiplas e severas.
Ao refletirmos sobre a relação entre a Educação e a Saúde na atenção aos portadores
de deficiência, percebe-se que esse distanciamento deve-se, em parte, à própria
trajetória dessas duas áreas no atendimento a estes sujeitos. A história nos mostra que a
Educação Especial se constituiu como campo de saber e área de atuação a partir de um
modelo médico ou clínico, também denominado “centrado no cliente”, que prevaleceu até
meados dos anos 70. Como lembra Fernandes (1999), os médicos foram os primeiros
que despertaram para a necessidade de escolarização dessa clientela que se encontrava
“misturada” nos hospitais psiquiátricos, sem distinção de idade, principalmente no caso
da deficiência mental.
Sob esse enfoque, a deficiência era entendida como uma doença crônica, e todo o
atendimento a estes indivíduos, mesmo quando envolvia a área educacional, era
considerado pelo viés terapêutico: ênfase na recuperação ou instalação da linguagem
oral no surdo, a prontidão para escolarização para o deficiente mental, e assim por
diante.
Nas instituições especializadas, o trabalho era organizado com base em um conjunto de
terapias individuais: fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, psiquiatria, pedagogia
terapêutica, terapia ocupacional, entre outras. Até a escolarização, quando havia, era
vista como uma espécie de atendimento em pequenos grupos, sem as características de
uma classe escolar propriamente dita. Pesquisando o cotidiano de instituições
especializadas, Glat (1989) constatou “uma menor ênfase dada à atividade acadêmica,
45
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
que não ocupa mais do que uma pequena fração do horário dos alunos” (op. cit., p.52).
A educação formal desses indivíduos não era considerada como necessária, ou mesmo
possível, principalmente para aqueles com deficiências cognitivas e/ou sensoriais
severas.
O ensino escolar nessas instituições, portanto, não se constituía uma atividade prioritária,
e a sala de aula podia ser considerada, de uma certa forma, como um espaço para
ocupar o tempo livre entre um atendimento e outro. Os alunos eram retirados
constantemente da classe para comparecer aos atendimentos ou consultas, as classes
não tinham seus horários respeitados, nem havia um currículo mínimo a ser cumprido,
mesmo levando-se em consideração que as
dificuldades de aprendizagem e a defasagem escolar incluíam-se entre os maiores
problemas desses sujeitos. Nessas condições, não é de se espantar que, independente
do déficit orgânico, os ganhos acadêmicos fossem tão pouco significativos!
Nas instituições especializadas, as equipes multidisciplinares eram, majoritariamente,
coordenadas pelo médico, com a cultura e o olhar médico prevalecendo na análise
diagnóstica e no desenvolvimento do caso. Embora a área educacional fosse
contemplada nessas equipes através da figura do pedagogo, esse profissional também
adotava uma postura clínica, mantendo
acentuada diferenciação entre sua atuação “técnica” e o trabalho do professor de sala de
aula.
O paradigma predominante era o da “normalidade”, partindo-se como parâmetro de um
modelo ideal de ser humano “saudável”, buscando-se a “recuperação“ ou “compensação”
daqueles cuja deficiência levava à atenção dos especialistas.
Dessa forma, o pedagogo era o profissional que iria compensar ou recuperar as funções
intelectivas deficitárias, da mesma forma que o fonoaudiólogo compensaria ou
recuperaria a linguagem do surdo, e o fisioterapeuta, a mobilidade do deficiente físico. O
professor, por sua vez, era relegado a um trabalho de “socialização”, de interminável
“prontidão para a alfabetização” sem maiores perspectivas, já que não havia expectativas
quanto à capacidade desses alunos desenvolverem-se academicamente e ingressarem
na cultura escolar formal.
Este modelo de hierarquização profissional até hoje é encontrado em diversos setores e
serviços de Educação Especial, em que cabe aos pedagogos das equipes centrais das
46
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Secretarias de Educação, ou das próprias escolas, “pensarem” as propostas curriculares
para os alunos com necessidades educativas especiais. Ao professor regente,
responsável direto pelo aprendizado do aluno, resta a mera execução de uma “receita”
pronta, sem qualquer ingerência sobre aquilo que ele deverá ensinar, mesmo quando
possuía formação em nível superior.
A Educação Especial6 entrou nas escolas através da avaliação diagnóstica, utilizada
como instrumento de classificação, seleção, segregação e exclusão das turmas regulares
daqueles alunos que não seriam capazes de aprender – os chamados “excepcionais”,
que eram enviados para escolas ou classes especiais. Estas, como lembra Glat (2000),
em grande parte das escolas,
acabaram se tornando “depósitos” de todos aqueles alunos que, por uma razão ou outra,
não se enquadravam no sistema regular. E a Educação Especial, assim, tornou-se
“cúmplice” do processo de “medicalização” do fracasso escolar (FONSECA, 1995;
FERNANDES, 1999; 2000; PATTO, 2000; entre outros).
Em sua progressiva afirmação como campo de atuação e área de conhecimento, a
Educação Especial absorveu os avanços da pedagogia e da psicologia da aprendizagem,
sobretudo de enfoque comportamental7. O desenvolvimento de novos métodos e
técnicas de ensino permitiu a aprendizagem de indivíduos até então alijados do processo
educacional. “O
deficiente pode aprender”, tornou-se a palavra de ordem, resultando numa mudança de
paradigma do “modelo médico” para o “modelo educacional” (GLAT, 1995).
Neste novo enfoque, a deficiência passou a ser vista não mais como uma doença, mas
sim como uma situação de vida. O atendimento educacional ao portador de deficiência
foi perdendo o viés de “tratamento”, sendo priorizada a aprendizagem de formas
adaptativas e funcionais de viver em sociedade. “Passou-se a enfatizar não mais a
deficiência intrínseca do indivíduo, mas sim a falha do meio (escola, clínica, família) em
proporcionar condições adequadas que promovam a aprendizagem e o desenvolvimento”
(GLAT, 1995, p. 11).
É interessante observar que, enquanto a Educação se subordinava conceitualmente à
Saúde, através dos processos de avaliação e atendimento já discutidos, essas áreas
caminhavam relativamente juntas. No entanto, no momento em que a Educação Especial
conquistou seu espaço específico de ação, a relação com a Saúde foi tornando-se cada
47
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
vez mais tênue e, pode-se
dizer, até mesmo conflituosa.
48
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
contribuíram para um distanciamento com a área da Saúde, impedindo a adoção de um
modelo integrado de atendimento às pessoas com deficiências. Como se a possibilidade
de educar essa clientela no sistema escolar tornasse desnecessário o desenvolvimento e
o cuidado com demais
aspectos de sua vida.
Entretanto, nas políticas públicas voltadas para o atendimento aos portadores de
deficiências, e em particular, de deficiências severas ou múltiplas, a sistemática de
intervenção com equipes multiprofissionais de Educação e Saúde é apontada e
reafirmada nos mais importantes documentos nacionais. Entre outros, destacam-se a
Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Lei 7853/89)9, o
Plano Nacional de Educação (Lei
10.83/01)10, a Política de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência no Sistema Único
de Saúde -- Planejamento e Organização de Serviços (MS, 1993)11, e os Subsídios para
a Organização e Funcionamento de Serviços de Educação Especial na Área de
Deficiência Múltipla (MEC/SEESP, 1995)12. No entanto, a realidade tem mostrado que
essa atuação integrada proposta na legislação tem deixado a desejar.
Esse descompasso é sentido pelas famílias, de forma bastante acentuada, desde o
momento em que seu filho é diagnosticado como portador de uma deficiência. A
experiência pessoal de milhares de pais, confirmada em diversos estudos (MARQUES,
1995; RUBIO; SANTOS, 1999; SANTOS; GLAT, 1999; FERNANDES, 2000; GLAT;
DUQUE, 2003), mostra que médicos e enfermeiros têm enorme dificuldade em
comunicar o diagnóstico, tomando uma
atitude considerada pelos pais como “pouco cuidadosa” ou “defensiva”, o que torna a
situação ainda mais desesperadora para a família.
Mesmo nos grandes centros diagnósticos ou de referência, a maioria dos profissionais se
restringe a transmitir a noção da deficiência como se fosse uma doença crônica, não
fazendo qualquer encaminhamento a opções terapêuticas e educacionais que auxiliem
as famílias no planejamento da vida de seus filhos. De modo geral, porém mais
acentuadamente no caso das deficiências graves, o diagnóstico é apresentado sempre
sob os aspectos da negatividade – o que o portador dessa condição não possui ou
possui apenas de forma incapacitante. Raramente a família é orientada no sentido das
possibilidades de aprendizagem e tratamento. Como analisa Fernandes:
49
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Há depoimentos de pais que recebem a comunicação do diagnóstico por atendentes de saúde, ou no pior
dos casos, o médico incita-os imediatamente a
investir em outro filho, como se o filho portador de deficiência fosse um caso
perdido. Outros pais em entrevistas de triagem nos informam que, ao relatarem
ao médico que percebiam algo diferente no desenvolvimento de seu bebê, foram rotulados de ansiosos e
orientados a terem calma e paciência. (FERNANDES,1999, p. 6)
50
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
O mesmo ocorre na Educação, em que ainda são raros os cursos de Pedagogia e das
demais licenciaturas que oferecem habilitação ou disciplinas voltadas às especificidades
de alunos com necessidades educativas especiais. Como apontam Glat e Pletsch (2004),
os poucos cursos que oferecem algum aprofundamento nesta área, em sua maioria,
seguem um modelo tradicional de formação “especializado”, com orientação clínica, tal
como adotado na Educação Especial dos anos 1970. Mesmo os cursos novos, ou com
reformulações curriculares recentes, não enfatizam os desenvolvimentos atuais do
campo, como por exemplo, a Educação Inclusiva.
Nas palavras dessas autoras:
51
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
programas federais compensatórios, como o Programa Nacional de Saúde do Escolar
(PNSE), que envolveu o repasse de recursos para duas campanhas nacionais de Saúde
desenvolvidas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE): “Olho no
olho” e “Quem ouve bem, aprende melhor”, dirigidas aos alunos de 1ª e 2ª séries das
redes públicas de municípios com menos de 40.000 habitantes. Esse programa incluía
material de divulgação, treinamento dos professores das redes – que realizavam os
exames de acuidade visual e auditiva nos alunos –, além de doações de aparelhos
auditivos e óculos (FERREIRA; GLAT, 2003).
52
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
sistema DATASUS não tem um esquema de notificação compulsória dos atendimentos a
pessoas com deficiências, como ocorre com outras condições. E, apesar dos esforços
das representações de organizações não-governamentais envolvidas com a questão da
pessoa com deficiência no Conselho Nacional de Saúde, ainda não foi garantida a
instauração de uma política pública efetiva de atenção a esses indivíduos.
A proposta de descentralização, que levou à criação dos SUS, através da Lei 8080/90, e
conforme preconizado na Política de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência (MS,
1993), tem como uma de suas metas justamente favorecer esse atendimento,
implantando na rede ações de prevenção, detecção precoce, diagnóstico, tratamento,
reabilitação e integração social. Essa meta seria alcançada por meio da hierarquização
de serviços, tendo como ponto de entrada as Unidades Básicas de Saúde, passando por
Centros de pequena e média complexidade, até os Hospitais de Referência. Tal
proposta, se implementada, seria de grande eficácia em um país das dimensões do
Brasil, sobretudo fora dos grandes centros urbanos.
53
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
para pacientes crônicos, este modelo é bastante viável como uma alternativa de
atendimento e assistência a pessoas com deficiências, principalmente nos casos mais
comprometidos de deficiências severas e múltiplas, e suas famílias.
Similarmente, uma modalidade bastante promissora na área educacional para alunos
com deficiências severas e múltiplas é o atendimento domiciliar prestado por professor
itinerante.
Este profissional, além de trabalhar diretamente com o aluno, oferece orientação aos pais
no desenvolvimento da linguagem e nas atividades de vida diária de seu filho. Essa
modalidade de Educação Especial, prevista nos Subsídios para Organização e
Funcionamento dos Serviços de Educação Especial na Área de Deficiência Múltipla
(MEC/SEESP, 1995), tem sido adotada em vários municípios com resultados bastante
positivos.
54
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Educação Superior –, deve-se garantir a este cidadão os recursos e modalidades
previstas na legislação: capacitação dos professores, adaptações curriculares e demais
suportes necessários para seu acesso ao conhecimento acadêmico formal.
Quanto ao compromisso da Universidade, destacamos a necessidade da formação de
profissionais capacitados para lidar com pessoas com necessidades especiais em
situações de inclusão, bem como especializados para atendimento aos diferentes tipos
de deficiências, o que ainda é carente em nosso país. Cumpre também a produção de
conhecimento sob forma de pesquisas e desenvolvimento de metodologias inovadoras,
aliadas a um esquema de socialização destes saberes, para que repercutam no campo e
propiciem uma melhor qualidade de atendimento à esta população.
55
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
recuperar a noção do sujeito global, sem, no entanto, perder os avanços específicos de
cada uma das disciplinas e especialidades que a compõe, promovendo, assim, um
trabalho interdisciplinar e complementar de atendimento, investigação científica e
formação profissional. Se esta interface enriquece a atuação com os portadores de
necessidades especiais de modo geral, para aqueles com deficiências múltiplas e
severas, como a surdo cegueira, tal postura é imprescindível.
Neste sentido, vale refletir sobre o papel dos profissionais da Saúde e da Educação junto
às famílias de seus clientes e alunos. Deve fazer parte da sua atuação cotidiana ajudar
às famílias a minimizar os sentimentos de desesperança que ter um filho com uma
deficiência certamente trará. Para tal, é importante promover orientações e
esclarecimentos sobre as capacidades do filho especial, visando provocar um novo olhar
dos pais sobre si mesmos. Para Glat e Duque (2003):
Os profissionais --- mesmo não sendo da área “psi” – devem abrir espaço para
que os pais possam trazer suas dúvidas, frustrações e ansiedades, a fim de que esses
sentimentos sejam trabalhados e não os imobilizem. Ao mesmo tempo é necessário
também fornecer a essas famílias, independente de sua condição sócio-econômica e
cultural, informações precisas e atualizadas sobre a condição de seu filho, buscando
com eles alternativas de atendimento e orientando-os nas situações-problema do dia a
dia (op. cit., p. 19, grifo das autoras).
Um trabalho desse tipo deve ser parte integrante e prioritária das políticas sociais
preventivas, principalmente dos programas educacionais e clínicos. E este deve ter início
o mais cedo possível, de preferência já na hora de dar a notícia aos pais sobre o
nascimento do filho especial, para não ocorrerem as situações desalentadoras já
56
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
discutidas.
Vale enfatizar, também, a importância dos grupos de auto-ajuda e associações de pais e
familiares, que podem proporcionar, sobretudo às “novas famílias especiais”, uma rede
de apoio, troca de experiências e ajuda mútua de valor inestimável, e que deve ser
incentivada pelos profissionais.
Indo mais além, como sugere Fernandes (1999), é tempo de se abandonar o ideário de
que o profissional deve “trabalhar a família”, e transformá-lo em “trabalhar com a família”,
pois a família pode e deve fazer parte integrante, atuante e com poder decisório, de
qualquer equipe interdisciplinar de atendimento.
57
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
qualidade de vida para as pessoas com deficiências.
Nesse sentido, as palavras de Patrício (1999), refletem esse ideal:
REFERÊNCIAS
58
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Resolução CNE/CEB
nº 4, de 2 de outubro de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, 5 out. 2009, Seção 1, p.
17.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Igualdade e diferenças na escola: como andar no fio da
navalha. In: ______; PRIETO, Rosângela Gavioli. Inclusão escolar: pontos e
contrapontos. São Paulo: Summus, 2006, p. 15-29.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São
Paulo: Moderna, 2006.
SHIROMA, Eneida Oto; MORAES, Maria Célia Marcondes de; EVANGELISTA, Olinda.
(Org.). Política educacional. 4. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.
SILVA, Maria Abádia. Intervenção e consentimento: a política educacional do Banco
Mundial. Campinas, SP: Autores Associados, Fapesp, 2002.
SILVA, Sidney. Democracia, Estado e Educação: uma contraposição entre tendências.
Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE), v. 26, n. 1.
Porto Alegre: ANPAE, 2010.
TORRES, Rosa María. Melhorar a qualidade da educação básica? As estratégias do
Banco Mundial. In: TOMMASI, Livia De; WARDE, Mirian Jorge; HADDAD, Sérgio. (Org.).
O Banco Mundial e as políticas educacionais. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003, p. 125-
186.
GLAT, R.; ANTUNES, K. V. C.; OLIVEIRA, M.; PLETSCH, M. D.A educação especial no
paradigma da inclusão: a experiência da rede pública municipal de educação do Rio de
Janeiro. In: Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 13., 2006, Recife. Anais...
Recife, 2006. [ Links ]
AINSCOW, M.; PORTER, G.; WANG, M. Caminhos para escolas inclusivas. Lisboa:
Instituto de Inovação Cultural, 1997. [ Links ]
59
FCE - FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO
de Janeiro: LTC, 1988. [ Links ]
61