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EDUCAÇÃO INCLUSIVA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

Kêdes Calixto da Silva

As instituições de Ensino Superior são tipicamente espaços de construção e troca


de saberes, além disso o espaço onde se encontra uma imensa diversificação de pessoas. O
que, desta forma, torna a instituição de Ensino Superior [ IES] provedoras de cidadania e
inserção de culturas diversas, além de ser uma das principais fontes de transformação social,
difundido o conhecimento e proporcionando a criação de novos conhecimentos e tecnologias.
A relação entre alunos e professores, tem um fato extremamente significativo na
inserção e inclusão de pessoas com necessidades especiais, tendo em vista essa relação
harmoniosa pode fortalecer as relações e tornar o ambiente acadêmico acolhedor para aqueles
que, de certa forma, são deixados à margem da sociedade.
A inclusão das pessoas portadoras de necessidade especiais nas instituições de
ensino superior, tem sido alvo de grandes discussões, tanto do ponto de vista social onde se
procura a inserção e a garantia de direito sociais para as essas pessoas conforme preceitua a
legislação, quanto do ponto de vista estrutural das instituições para que consigam receber os
alunos com necessidades especiais. É importante que as instituições tenham condições de
receber as pessoas com necessidades especiais, seja de forma estrutural ou de forma
pedagógica, porém não basta apenas a inserção dessas pessoas no seio acadêmico, é
importante manter a qualidade e garantir a sua permanecia no mundo acadêmico, para que
consiga atingir seus objetivos.
Após a Declaração de Salamanca, documento este elaborado na Conferência
Mundial sobre a Educação Especial em 1994, em Salamanca, na Espanha, tendo como
principal objetivo tratar sobre os movimentos de inclusão social, passou-se a discutir de forma
ampla meios de colocar em pratica os termos desta declaração.
Segundo Menezes (2001) a Declaração de Salamanca é resultado de uma
tendência mundial de valorização dos direitos humanos e desinstitucionalização manicomial
que surgiram a partir das décadas de 60 e 70, e que desta forma consolidou a Educação
Inclusiva. Sendo considerada inovadora, conforme o próprio texto da declaração:
“…proporcionou uma oportunidade única de colocação da educação especial dentro
da estrutura de “educação para todos” firmada em 1990 (…) promoveu uma
plataforma que afirma o princípio e a discussão da prática de garantia da inclusão
das crianças com necessidades educacionais especiais nestas iniciativas e a tomada
de seus lugares de direito numa sociedade de aprendizagem”. (Declaração de
Salamanca, 1994)
Um dos principais pontos abordados na Declaração de Salamanca refere-se à
inclusão na educação. Conforme expresso no documento:

“o princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças deveriam


aprender juntas, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que
possam ter. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas
necessidades de seus alunos, acomodando tanto estilos como ritmos diferentes de
aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de
currículo apropriado, modificações organizacionais, estratégias de ensino, uso de
recursos e parceiras com a comunidade (…) Dentro das escolas inclusivas, as
crianças com necessidades educacionais especiais deveriam receber qualquer apoio
extra que possam precisar, para que se lhes assegure uma educação efetiva (…)”.
(Declaração de Salamanca, 1994)

A Declaração de Salamanca trata sobre diretrizes a serem seguidas pelas escolas


para a inclusão de crianças com necessidades especiais, e tais diretrizes foram base para as
discussões sobre a educação inclusiva nas instituições de Ensino superior, tendo em vista a
garantia da continuidade do ensino da pessoa com necessidades especiais.
Conforme expresso no Artigo 3 do decreto n° 3.298 de 1999, que regulamenta a
lei 7853/89, lei está que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência, considera-se:
I - Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;
II - Deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um
período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de
que se altere, apesar de novos tratamentos; e
III - Incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração
social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais
para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações
necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser
exercida.
(BRASIL, Decreto 3.298/1999)

Historicamente, no Brasil, as pessoas portadoras de necessidades especiais eram


deixadas as margens da sociedade e a educação dessas pessoas ficava a cargo de profissionais
e instituições especializadas. Bueno (1999) cita como o exemplo o Imperial instituo dos
Meninos Cegos, instalado em 1857, no Rio de Janeiro.
As políticas públicas de Ensino vêm sendo aos poucos implementadas no Brasil,
voltadas para os alunos com necessidades especiais, como por exemplo o decreto n° 6571 de
setembro de 2008 e posteriormente revogado pelo decreto n° 7.611 de novembro de 2011, o
qual determina que os alunos com necessidades especiais devem ser matriculados em escolas
de ensino regular, e as escolas de ensino especial terá o papel apenas auxiliar na demanda de
vagas, assim garantido um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem
discriminação e bom base na igualdade de oportunidades.
A educação inclusiva tem como objetivo tornar democrático o ensino, onde todos
independente de suas características tem acesso a um ensino digno e de qualidade, sendo
respeitado as diferenças entre as pessoas, e para que isso seja concretizado é necessário além
de políticas públicas, que as instituições de ensino se adaptem a essa realidade, tanto
arquitetônica quanto profissional.
É necessário o investimento em infraestrutura colaborando para o acesso cotidiano
dos portadores de necessidades especiais, sejam com a construção de rampas, corrimãos,
banheiros adaptados, computadores com mídias para mudos e deficientes auditivos, placas
com inscrições em braile, etc.
Muito além das mudanças físicas, é fundamental a formação de professores
qualificados para receber e ensinar os portadores de necessidades especiais. Nesse contexto
Guijarro (2005), em artigo no caderno de Ensaios Pedagógicos da SEESP/MEC, afirma que:
A nova perspectiva e a prática da educação inclusiva implicam mudanças substan-
ciais na prática educativa. Todos os docentes têm que ter conhecimentos básicos
teórico-práticos em relação – à atenção a diversidade, a adaptação do currículo, a
evolução diferenciada e às necessidades educacionais mais relevantes, associadas a
diferentes tipos de deficiência, situações sociais ou culturais (GUIJARRO, 2005,
p.11).

Por mais que existam Políticas Públicas de Ensino e legislação sobre o tema,
verifica-se que poucas sãos as Instituições de Ensino que atendem ao menos os mínimos
requisitos legais para atender aos portadores de necessidades especiais, seja tanto no âmbito
estrutural quanto no âmbito de profissionais capacitados. Existe, portanto, uma omissão tanto
das instituições de ensino, quanto do Estado em não cobrar e implementar políticas públicas
que viabilizam as pessoas com necessidades especiais tenham acesso à educação com
qualidade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999.

BRASIL. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011.

BUENO, J. G. S. – Educação especial brasileira: integração/segregação do aluno diferente. 2.


ed. São Paulo: EDUC, 1999.

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: sobre princípios, política e prática em educação


especial. Disponível : http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em:
15 mai. 2017.

ENSAIOS PEDAGÓGICOS – construindo escolas inclusivas: 1. ed. Brasília: MEC, SEESP,


2005.

MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Declaração de
Salamanca. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix,
2001. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/declaracao-de-salamanca/>. Acesso
em: 18 de mai. 2017.

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