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A LEGISLAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO À PESSOA COM TEA

LEGISLATION AS AN INSTRUMENT OF PROTECTION FOR PEOPLE WITH ASD

Aluna: Losilene Vicente Coelho


Orientador: Daniel Martins Sotelo

RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo de apresentar as principais vertentes da legislação


inerente de proteção à pessoa com Transtorno do Espectro Autista no ambiente escolar. Em
específico visa destacar a Lei Federal n. 12.764 do ano de 2012 e sua aplicabilidade como ferramenta
de proteção dos direitos do autista; esclarecer as políticas de inclusão do Brasil em prol do autista; e
evidenciar se o acesso do autista no ambiente escolar é garantido por lei e se a inclusão conta com o
preparo de educação especial, bem como do atendimento educacional especializado. A metodologia
que norteou a elaboração deste trabalho ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica, a qual partiu de
livros e doutrinas os assuntos mais relevantes sobre o tema. Bem como aplicou-se o método dedutivo
evidenciando as principais legislações que asseguram o autista no ambiente escolar. Destaca-se que
as políticas públicas que o governo tem apresentado não são suficientes, a Lei n. 12.764 de 2012,
tem surtido efeitos, pois se atém a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista”. Já no ambiente escolar, uma das formas de promover a igualdade,
foi a promulgação da Lei Brasileira de Inclusão, a qual garante a permanência do autista no ambiente
escola, só não tem eficácia na inclusão.

PALAVRAS-CHAVES: Ambiente. Autismo. Inclusão. Políticas. Leis.

ABSTRACT: The present work aims to present the main aspects of the legislation inherent to the
protection of people with Autistic Spectrum Disorder in the school environment. Specifically, it aims to
highlight Federal Law n. 12,764 of 2012 and its applicability as a tool to protect the rights of autistic
people; clarify the policies of inclusion in Brazil in favor of the autistic; and to show whether the access
of autistic people to the school environment is guaranteed by law and whether inclusion includes
preparation for special education, as well as specialized educational services. The methodology that
guided the preparation of this work was through bibliographical research, which departed from books
and doctrines the most relevant subjects on the subject. As well as the deductive method was applied,
highlighting the main laws that ensure the autistic in the school environment. It is noteworthy that the
public policies that the government has presented are not enough, Law n. 12,764 of 2012, has had
effects, as it adheres to the National Policy for the Protection of the Rights of Persons with Autistic
Spectrum Disorder”. In the school environment, one of the ways to promote equality was the
enactment of the Brazilian Inclusion Law, which guarantees the permanence of autistic people in the
school environment but is not effective in terms of inclusion.

KEYWORDS: Environment. Autism. Inclusion. Policies. Laws

INTRODUÇÃO

Diante da realidade jurídica e humana, este trabalho se justifica pela relevância do


Transtorno do Espectro Autista (TEA) que ganhou um espaço relevante no discurso
social à medida que os avanços das pesquisas começaram a compreender suas
características e reconhecer as dificuldades enfrentadas pelos indivíduos
diagnosticados. Vale salientar que, as mudanças comportamentais exibidas por
pessoas com autismo, em muitas vezes levam a certas deficiências como no
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ambiente escolar. Como resultado, inúmeras adversidades, incluindo discriminação


e exclusão social, são enfrentadas todos os dias. Dessa forma, proteger as
necessidades dessas pessoas é fundamental para seu bem-estar e para que haja a
inclusão social.
Nessa perspectiva, requer, a priori, demonstrar o papel do direito como ferramenta
de combate à desigualdade, a qual é importante para a garantia dos direitos
fundamentais, a exemplo disso o que assegura a Lei n. 12.764 do ano de 2012 (Lei
Berenice Piana) que preza sobre a “Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista”.
Nesse diapasão, conta-se ainda com a Lei n. 9.394 de 1996 que direciona um
capítulo específico a educação especial, sendo que no texto da lei é descrito que
sempre que necessário ocorrerá serviços de apoio especializado no ambiente
escolar, cujo objetivo é atender às peculiaridades de quem porta TEA, isto é, esse
público conta com uma legislação inerente de 27 anos para que seus direitos sejam
respeitados, sendo um deles o da inclusão no ambiente educacional.
Dessa maneira, é imprescindível apresentar a problemática em questão, a qual tem
o intuito de responder a seguinte pergunta norteadora: o governo tem apresentado
políticas públicas eficazes para atender os direitos do autista no ambiente escolar
segundo a legislação brasileira?
Assim, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar as principais vertentes da
legislação inerente de proteção à pessoa com Transtorno do Espectro Autista no
ambiente escolar. Em específico visa destacar a Lei Federal n. 12.764 do ano de
2012 e sua aplicabilidade como ferramenta de proteção dos direitos do autista;
esclarecer as políticas de inclusão do Brasil em prol do autista; e evidenciar se o
acesso do autista no ambiente escolar é garantido por lei e se a inclusão conta com
o preparo de educação especial, bem como do atendimento educacional
especializado.
Logo, levando em conta o tema a ser tratado, o trabalho foi realizado com base em
pesquisa bibliográfica e documental tendo em vista que foi elaborada a partir de
material já publicado em fontes que serviram de base teórica, a exemplo disso de
livros, legislações e documentos. Vale relatar que, após a definição do tema: a
legislação inerente como instrumento de proteção à pessoa com transtorno do
espectro autista no ambiente escolar foi realizada uma busca minuciosa em bases
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de dados virtuais e em livros publicados, sendo possível ter a definição do problema


com a elaboração da pergunta norteadora.

1 RELEVANCIA SOBRE A INCLUSÃO DE PESSOAS AUTISTAS NO AMBIENTE


ESCOLAR
Muito se fala em inclusão, porém, o que se percebe é que esse assunto ainda se
apresenta obscuro, pois em alguns momentos o que faz sem perceber com as
pessoas com determinada patologia, como é o caso do autista, ou que apresente
certa deficiência, seja ela física, sensorial, mental, ou outros grupos em situações de
minorias não passa de integração. Ou seja, de acordo com a Carta Constitucional, o
aluno tem o direito de frequentar o espaço escolar, independe de qual seja a sua
patologia (ORRÚ, 2019).
Perante essa realidade, acredita – se, que refletir aprofundar teoricamente e analisar
essa concepção de Educação Inclusiva, é fundamental para resguardar os direitos
da pessoa com determinada deficiência como do portador de Transtorno do
Espectro Autista (TEA). Partindo dessa reflexão e de uma mudança de postura, na
qual a escola passa a ser agente transformador, entende-se que os alunos com
deficiências, ou de minorias seja ela qual for, são detentores de direitos, sendo a
primeira delas a escola inclusiva, a qual é assegurada por lei (CRUZ, 2021).
Diante desse contexto, vale relatar que é necessário que as pessoas vivenciem o
novo, busque ter relações de igualdade com equidade, é preciso ter uma visão
humana, colocar-se no lugar do outro, pois é de direito ser tratada igualmente,
independente de raça, sexo, crença, origem. Inclusão é respeitar as diferenças de
todos, e assim criar um espaço mais prazeroso, “A escola justa e desejável para
todos não sustenta unicamente no fato de os homens serem iguais e nascerem
iguais, mas sim tratar igualmente todas as pessoas” (FREIRE, 2020).
Para Cruz (2021) a inclusão é um processo com várias ações que permitem inserir e
promover aprendizagens e interações sociais de pessoas que sofrem preconceitos
provocados pela deficiência física e mental, preconceito social e racial, idade,
educação, diferença de classe social, religião entre outras. Ou seja, a inclusão
possibilita a oportunidade de diretos iguais com equidade ao acesso de serviços e
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bens a todos, adicionando coisas ou pessoas em grupos e núcleos que antes eram
excluídos.1
Segundo Smith (2019) visto que a inclusão necessita de um olhar diferente para
inserção dessas pessoas no meio social sendo assim, cabe aos envolvidos no
ambiente escolar ter a percepção e assim fazer com que haja mudanças
significativas procurando respeitar a pessoa detentora de certa patologia, como é o
caso do autista. Logo, é fundamental que as ações sejam pautadas na legislação
inerente, bem como na ética e habilidades para mediar o conhecimento científico a
pessoa, e desse modo ele possa participar e compreender entre várias e diferentes
situações ao que se deparam no seu cotidiano curricular e social.
Segundo Rego (2022) a exclusão ocorre no espaço escolar porque mesmo que
escola se esforce muitas estão despreparadas para receber as diferenças, pois
aquilo que está fora dos seus parâmetros de aprendizagem e desenvolvimento é
apresentado como uma dificuldade. Isso foge dos parâmetros da educação para
todos, pois a Constituição Federal de 1988 assegura a equidade entre as pessoas
no ambiente escolar, propriamente, menciona-se que todos devem receber a
educação, sem que haja distinção em decorrência da patologia.

2.1 Histórico de legislações em razão da educação especial na perspectiva da


inclusão no Brasil
Em 1854 inicia-se no Brasil a educação especial, não sendo ela ainda regularizada,
surge como pioneiras a instituição voltada para o atendimento de crianças cegas,
situada no Rio de Janeiro. Pelo decreto n. 1.428, sendo ela o Imperial Instituto dos
Meninos Cegos que tinha por atribuição ministrar a educação moral e religiosa,
ensino de música, bem como ofícios fabris (CUNHA, 2020).
O projeto de estabelecer uma escola com esse perfil no Rio de Janeiro foi de José
Álvares de Azevedo, jovem cego congênito, que havia estudado por seis anos na
renomada Institution Imperiale des Jeunes Aveugles, de Paris. Com o surgimento do
instituto nacional da educação dos surdos em 1857, no Rio de Janeiro, fundada por
Hernest Huet (SMITH, 2019).

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Inclusão: implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não atinge apenas alunos com
deficiência e os que apresentam dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham
sucesso na corrente educativa geral (MANTOAN 2018).
Exclusão: a exclusão manifesta-se das mais diversas e perversas maneiras, e quase o que está em
jogo é a ignorância do aluno diante dos padrões de cientificidade do saber escolar.
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Em 1926, surge o instituto Pestalozzi, funda pelos professores Thiago e Johanna


Wurth, localizada em canoas Rs. Inspirado no trabalho e Biografia do pedagogo
suíço Johann Heinrich Pestalozzi, teórico que associou junto a sala de aula a
importância do afeto entre professor e aluno, que os sentimentos tinham um imenso
poder de despertar na criança o interesse de aprendizagem e autonomia (REGO,
2021).
Na visão de Pestalozzi a criança se desenvolve de dentro para fora, e cabe ao
professor respeitar as fases de desenvolvimentos de cada uma delas, respeitando
as diferentes idades, observação da evolução de cada aluno e suas necessidades.
Em 1954 criou-se a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais infradotados e
superdotados se destaca pelo seu pioneirismo, constituída e integrada por pais e
amigos da comunidade que possuíam crianças com deficiências, que tinham o
apoio do comercio, das indústrias, dos políticos, da sociedade em geral que
acreditavam e lutava peca causa de pessoas com necessidades especiais.
No ano de 1961 surge a LDB 4.0241/61 com objetivo de classificar a educação
especial como modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente, na
rede regular de ensino, para educando de necessidades especiais. Em 1971 surge a
lei 5.692/71 reforçando a existência de escolas com atendimentos especial,
esclarecendo que não dispensa o tratamento o regular de ensino, onde o conselho
assumiu uma postura que a educação especial é vista como uma linhagem de
educação.
Posteriormente em 1973 o MEC cria o Centro Nacional de Educação Especial –
CENESP, responsável pela gerência da Educação Especial no Brasil, que, sob a
égide integracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com
deficiência e às pessoas com superdotação, mas ainda configuradas por campanhas
assistenciais e iniciativas isoladas do Estado.
Em 1988 surge a Constituição Federal do Brasil no art. 205 “diz que a educação, é
um direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A Lei n.
8069/1990 ECA operou uma verdadeira revolução no ordenamento jurídico nacional,
introduzido novos paradigmas na proteção e garantia dos direitos infanto-juvenis.
Entende-se que a adolescência é uma fase conflituosa da vida devido às
transformações biológicas e psicológicas vividas (CUNHA, 2020).
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Em 1990 criou-se um documento elaborado na Conferência Mundial sobre educação


para todos, realizada na cidade de Jomtien, na Tailândia, em 1990, também
conhecida como Conferência de Jomtien. No ano de 1994 aconteceu na Espanha a
Conferência que se refere a Declaração de Salamanca. Logo no ano de 1994
elaborou-se na Conferência Mundial um documento que visava a equidade das
pessoas com deficiências (CUNHA, 2020).
No decorrer da história, especificadamente no ano de 2007 surge o plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE). Decreto 6094 – Implementação dos planos
de metas “compromisso todos pela educação”, destacando a garantia do acesso e
permanência no ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais
especiais dos alunos, inclusive dos autistas, para que assim possa fortalecer a
inclusão educacional nas escolas públicas (CUNHA, 2020).
Logo, com o surgimento do Atendimento Educacional Especializado AEE é um
serviço da educação especial que identifica, elabora, e organiza recursos
pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena
participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas
(SEESP/MEC, 2021).
Em 2008 a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva. Decreto Legislativo 186 – aprova o texto da convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiências e de seu protocolo facultativo, assinados em Nova
Iorque, em 30 de março de 2007. Em 2009 o Decreto Executivo 6.949 Promulga a
Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência. No artigo 7,
fala sobre a criança com deficiência. Resolução MEC CNE/CEB 17/2001 Lei 9.394–
Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na
Educação Básica, modalidade Educação Especial.
Dessa maneira, convém prelecionar neste trabalho jurídico que o acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema
educacional inclusivo, de públicos ou conveniados. O entrave para a inclusão é
a palavra “preferencialmente”, que, segundo especialistas, abre espaço para
que as crianças com deficiência permaneçam matriculadas (CUNHA, 2020).
Em janeiro de 2016 marca o início de um novo olhar sobre os 45 milhões de
brasileiros com algum grau de deficiência. Entrou em vigor a Lei Brasileira de
Inclusão (LBI), também chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei
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13.146/2015), que afirmou a autonomia e a capacidade desses cidadãos para


exercerem atos da vida civil em condições de igualdade com as demais pessoas.
Agora começa também a batalha para tornar realidade o rol de direitos garantidos
pela nova lei.
De acordo com a Lei n. 13.146/2015 LBI toda pessoa precisa ser respeitada e ter
seus direitos garantidos. Ou seja, não é o fato dela ter deficiência que deve impedir
a mesma de ser um cidadão que goze de todos os direitos presentes na
Constituição. O fato de ser deficiente não pode anular a sua civilidade.

2 A PROTEÇÃO JURÍDICA À PESSOA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO: LEI N. 12.764 DE 2012
Desde a descoberta do autismo até 2012, quando os direitos das pessoas com
autismo e suas famílias foram oficialmente reconhecidos, o desamparo jurídico
exclusivo do autismo no Brasil persistiu. Após anos de luta e fracasso, a
implementação legal da lei foi finalmente alcançada. Pais reunidos em nome de seus
filhos, que estão legalmente indefesos, afirmam que, após anos de luta, foram
concedidos direitos específicos para pessoas com autismo (ALMEIDA, 2020).
No entanto, a Constituição Federal de 1988 e as leis e demais normas dos estados,
os órgãos da administração pública não deixam as pessoas com deficiência
desamparadas, elas sempre recebem o auxílio necessário. No entanto, as pessoas
com autismo não são identificadas como deficientes, por isso muitas garantias não
são oferecidas a elas, o que tem causado indignação por parte dos pais que
possuem filhos com necessidades reais e com deficiência e nem mesmo conseguem
usufruir dos direitos concedidos a outrem (CUNHA, 2020).
A mãe de um autista Berenice Piana luta há anos com outros pais para que seus
direitos sejam reconhecidos, mas só em 27 de dezembro de 2012 foi aprovada a Lei
n. 12.764 do ano de 2012, que reconhece o autismo como deficiência. Batizada de
“Lei Berenice Piana”, a lei homenageia não apenas as mães que defenderam a
causa, mas todos os pais que trabalharam incansavelmente para lutar por uma vida
melhor para seus filhos necessitados (ALMEIDA, 2020).
De acordo com a pesquisa doutrinária de Cunha (2020), reconhecer as
necessidades e características das pessoas com autismo é importante porque só
assim elas poderão acessar políticas de ação afirmativa que assegurem sua
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participação na sociedade em pé de igualdade com as demais independentemente


de assistência especial.
Em relação às características das pessoas com Transtorno Espectro Autista, a lei
define claramente esses conceitos que devem ser seguidos em um possível
diagnóstico. Conforme estabelecido na Lei nº 12.764/2012 em seu artigo 1º: § 1º
Para os efeitos desta Lei, é considerada pessoa com transtorno do espectro autista
aquela portadora de síndrome clínica caracterizada.
Observou-se que os sintomas que essencialmente melhor caracterizam e distinguem
pessoas autistas de outras deficiências são a falta de comunicação, interação social
e padrões comportamentais. Logo, é necessário salientar que qualquer negligência
deve ser coibida com urgência e, caso não seja feito, deve ser feita uma reclamação
junto às autoridades para que sejam tomadas as medidas cabíveis no âmbito legal
(ALMEIDA, 2020).
Portanto, para todos os efeitos legais, as pessoas com autismo são consideradas
deficientes e possuem as devidas garantias, a que o despacho se refere no artigo 1º,
§ 2º, pois a lei estabelece a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas
com Transtornos do Espectro do Autismo e determina suas diretrizes de
conformidade.
Em seu artigo 2º, a lei faz referência às orientações que devem ser prestadas às
pessoas com autismo por meio da Política Nacional de Proteção dos Direitos das
Pessoas com TEA, para as quais os poderes públicos podem estabelecer contratos
de direito público, em que é exigido o devido cumprimento, bem como negociações
com pessoas jurídicas do direito privado, e que consequentemente torne o trabalho
de assistência a essa causa, de forma mais eficaz e principalmente célere, e claro,
de fácil acesso a coletividade (SOUZA; ANACHE, 2020).
Os direitos das pessoas com autismo estão elencados no artigo 3º da lei, divididos
em quatro categorias, alguns dos quais já são concedidos a todos,
independentemente de deficiência ou deficiência, que está pendente de aprovação
legal, e outros que tratam dos direitos das pessoas com autismo. autismo de tal
forma (SOUZA; ANACHE, 2020).
O incumprimento destas regras pode dar origem a reclamações e,
consequentemente, ao cumprimento coercivo por parte de agentes negligentes dos
direitos relevantes. E, quando diagnosticadas com Transtorno Espetro Autista, as
pessoas legalmente inseridas no currículo básico do ensino regular terão direito ao
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acompanhamento especializado independentemente de suas exigências, conforme


a legislação inerente o assegura (SOUZA; ANACHE, 2020).
Vale prelecionar que, diversos tipos de tratamento relacionados à vida de uma
pessoa autista são proibidos, são eles: tratamento desumano ou degradante e
discriminação por deficiência. Ainda, no que se refere aos planos de saúde privados,
as pessoas com autismo não estão impedidas de participar em razão de sua
deficiência, sob amparo legal da Lei do Autismo e da Lei dos Planos de Saúde (Lei
9.656/1998), em especial no artigo 14: "Não a pessoa pode ser impedida de
participar de um plano privado de saúde pela idade do consumidor ou pela situação
da deficiência” (BRASIL, 1998).
A Lei também prevê multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários-mínimos para o gestor
escolar ou qualquer outra pessoa com deficiência que se recuse a admitir uma
pessoa com TEA como aluno de sua instituição. No entanto, se tal ato ocorrer
novamente, esse fato será determinado por procedimentos administrativos e, se
comprovado positivamente, perderá seu cargo (ALMEIDA, 2020). Nessa
perspectiva, como relata Cunha (2020), é fundamental valorizar o ensino e todos os
profissionais que atuam no processo de formação de pessoas com autismo.
Diante disso, o acesso às garantias previstas em lei acaba por aumentar a
possibilidade de obtenção de educação de qualidade para a inclusão social das
pessoas com Transtorno Espectro Autista e o desenvolvimento de seu ensino e
educação.

3.1 A Lei n. 12.764 do ano de 2012 e suas contribuições a vida da pessoa com
Transtorno Espectro Autista
Desde que a lei foi aprovada e promulgada em 2012, surgiram alguns dos benefícios
no mundo do autismo. De todas as pessoas envolvidas, os pais são os mais
satisfeitos, e aqueles com a doença, pois sabe-se que antes o sofrimento de
enquadrar as pessoas com TEA na sociedade não era uma tarefa fácil, pois tinham
que enfrentar desafios e obstáculos todos os dias, além do mais eram os únicos
que, de certa maneira, telespectadores experientes das vivências de quem portava a
patologia do Transtorno Espectro Autista (TEA) (AMARAL, 2019).
Com a promulgação da lei, isso não significa que tudo foi resolvido e está
acontecendo satisfatoriamente, o que está longe da correspondência atual, pois
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vários fatores são necessários para contribuir para o apoio e inclusão das pessoas
com autismo. com a aplicação correta, os benefícios podem ser aumentados,
melhorando assim a qualidade de vida. Ressalta-se que é importante monitorar o
efetivo cumprimento da lei pelos envolvidos diretamente na causa e pela sociedade
como um todo.
O Decreto nº 8.368/2014, de 2 de dezembro de 2014, veio complementar a Lei nº
12.764/2012 na forma de decreto. O Decreto nº 8.368/2014 garante explicitamente o
direito das pessoas com autismo de usar o Sistema Único de Saúde (SUS) e passa
a atribuir funções mais diretivas ao Ministério da Saúde para apoiar pesquisas para
melhorar a qualidade das pessoas com autismo. O decreto também aborda mais
especificidades de administradores escolares recusando matrícula, delega
reclamações ao público em geral e define na carta do decreto que o Ministério da
Educação será responsável pela aplicação de multas (SOUZA; ANACHE, 2020).
As pessoas com autismo são amparadas legalmente diante de uma série de direitos:
jurídico, de saúde e de assistência social; direito à educação; direito ao trabalho;
direito à acessibilidade; direito ao esporte, cultura e lazer; direito à isenção de
impostos; Art. 4.317/ Lei Regional nº 2009 e Lei Regional nº 4.568/2011. Diante
disso, um dos direitos mais impactantes é o direito à isenção de impostos, pois em
2012, como as pessoas com autismo foram incluídas em todas as leis como
deficientes, passaram a ter novos benefícios. A isenção fiscal é conseguida através
de várias deduções fiscais na vida dos pais e pessoas com deficiência que adquirem
artigos usados e tratados por pessoas com autismo (FARIA; CUNHA; PINTO, 2018).
A isenção fiscal está prevista na Lei nº 12.764/2012. Destarte, para melhorar a
qualidade de vida dos deficientes, os legisladores instituíram tais medidas para
beneficiar também os pais. Diante disso, há uma chance maior de conseguir um
veículo para ajudar no tratamento fora de casa ou mesmo no dia a dia que não
esteja relacionado ao seu tratamento (SOUZA; ANACHE, 2020).
Outra medida inovadora na legislação vigente é a redução da jornada de trabalho
dos servidores públicos em até 50%, benefício que vem da criação da Lei
13.370/2016, mas esses compradores devem ter cônjuges, filhos ou dependentes
deficientes. Anteriormente, na Lei nº 8.112/1990 (Lei do Regime Jurídico do Serviço
Público), o benefício de redução da jornada de trabalho em até metade era
concedido apenas aos servidores com deficiência (CUNHA, 2020).
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Outra alteração atual da Lei nº 12.764/2012 ocorreu em julho de 2019, quando foi
aprovada a Lei nº 13.861/2019, referente à inclusão de pessoas com autismo no
censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para obter
estimativas do número de pessoas com autismo no Brasil e como elas são divididas
em regiões do país, antes não suportadas por dados, apenas estimativas. Essas
informações podem ajudar a direcionar melhor as políticas públicas de colaboração
para melhor aplicação em regiões apropriadas para melhor inclusão (FARIA;
CUNHA; PINTO, 2018).
A Organização das Nações Unidas (ONU) designou o dia 2 de abril como o Dia
Mundial da Conscientização do Autismo, um decreto destinado a incentivar governos
e sociedade a discutir as causas do autismo e repensar a situação dos portadores e
de quem convive com eles, tudo sob uma perspectiva de direitos humanos. Em
muitos lugares, desfiles de pais, profissionais e pessoas com autismo comemoram o
dia e, com o passar do tempo, todos o veem cada vez mais (SOUZA; ANACHE,
2020).
Ressalta-se que uma inovação recente na legislação é a sanção da Lei 13.977/2020,
conhecida como Lei Romeu Mion, nomeada em homenagem ao filho do
apresentador Marcos Mion, que é portador de ASD, o texto da nova lei foi revisado e
altera a Lei Berenice Piana Lei (Lei nº 12.764/2012). Tais medidas ajudariam a
identificar e, assim, agilizar o atendimento de pacientes com TEA. A nova lei
também determina: “Instituições públicas e privadas poderão usar a fita quebra-
cabeça, símbolo da conscientização global do TEA, para priorizar pessoas com
transtornos do espectro autista” (BRASIL, 2020).

3 PUNIBILIDADE NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA


A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 afirma no seu Artigo 26, que
todo ser humano tem direito à educação básica e gratuita. Esse direito deve ser
garantido e oferecido pelos governos. Logo, a Conferência Mundial sobre Direitos
Humanos reafirma que todos os direitos humanos e liberdades fundamentais são
universais e aplicáveis sem qualquer distinção às pessoas com deficiências. Que
todas as pessoas nascem iguais e com os mesmos direitos à vida e ao bem-estar, à
educação e ao trabalho, à independência e à participação ativa em todos os
aspectos da sociedade (LIMA, 2019).
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Qualquer discriminação direta ou outro tratamento discriminatório negativo de uma


pessoa com necessidade educacional especial constitui uma violação em seus
direitos. Logo, na conferência houve um apelo aos Governos no sentido de se adotar
leis ou modificarem sua legislação para garantir o acesso a estes e outros direitos
das pessoas com deficiências (SOUZA & ANACHE, 2020).
O Decreto n. 5. 296 do ano de 2004 salienta que as pessoas que apresentam
deficiências completa ou parcial, sendo auditiva, visual, mental ou múltipla, devem
receber proteção e ser enquadradas em todas as áreas da sociedade. A
Constituição Federal de 1988 afirma em seu Art. 205, que “a educação é direito de
todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Deste
modo torna se obrigatória a organização do sistema educacional pelo poder público
a garantia de espaços e recursos adequados para acolher sujeitos com
necessidades especiais.
Traz também no Art. 206 no seu inciso I que “o ensino será ministrado com base no
princípio de que deve existir igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola.” Ao mencionar sobre o ensino o texto constitucional deixa claro que os
profissionais da educação precisam oferecer um trabalho pedagógico para promover
aprendizagens e desenvolvimento independente da condição física, sensorial,
mental, cultural, social e econômica. Na busca da prática torna-se necessárias
constantes atualizações pedagógicas na formação inicial e continuada de
professores.
No Art. 208 que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de: “I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito a todos, inclusive para os
que a ele não tiveram acesso na idade própria”. Isso reflete que aqueles que ficaram
a margem como o caso de Jovens e Adultos fazem parte do processo de inclusão.
Enfatiza em seu inciso III que “o atendimento educacional aos portadores de
deficiência deverá ser preferencialmente na rede regular de ensino”. Um caráter
dúbio, entretanto, as filosofias que amparam o processo de inclusão não deixam
dúvidas sobre a presença de todos no mesmo espaço, ou seja, nas chamadas
escolas regulares (SELLA & RIBERIO, 2018).
Em 1994 surgiu um documento que marcou época, e que prescreve a transformação
das instituições educacionais em “Escolas para Todos”, tendo como primórdio
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orientador à inclusão de todo aluno, em seu contexto educacional. Por meio do


Encontro de Salamanca (Espanha) e assinado por diversos países, resultou o
documento “Declaração de Salamanca”, no qual se acredita que toda criança possui
características, interesses, habilidades e necessidades da aprendizagem que são
únicas (SOUZA & ANACHE, 2020).
A Declaração considera a diversidade e necessidade específicas do aluno, e
preconiza a adoção de estratégias pedagógicas diferenciadas que busquem
beneficiar a todos os alunos. Com isso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira (LDB 9394/96) é a legislação que regulamenta o sistema educacional
(público ou privado) do Brasil (da educação básica ao ensino superior). A LDB
9394/96 reafirma o direito à educação, garantido pela Constituição Federal.
Estabelece os princípios da educação e os deveres do Estado em relação à
educação escolar pública, definindo as responsabilidades, em regime de
colaboração, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Mantoan (2018, p. 36) diz que, “Por outro lado às leis educacionais estão escritas,
mas não são colocadas em práticas, em sua extensão e especificidades”. Assim no
ano de 1996 entrou em vigor a atual Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da
Educação, que promoveu um avanço significativo para as pessoas com
necessidades especiais, em que traz em seu capítulo V, artigos que tratam a
particularidade da educação para as pessoas com necessidades educacionais
especiais.
Ressalta-se assim, que o artigo n. 59 da atual LDB é claro ao afirmar sobre a
organização pedagógica do trabalho na escola para atender os alunos com
necessidades educacionais especiais, isso requer um posicionamento de cada
equipe nas escolas, ou seja, há um respaldo legal e uma orientação pedagógica. As
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica de nº 2, de 11
de setembro de 2001 traz em seu Art. 5º Consideram-se educandos com
necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional,
apresentarem dificuldades patológicas, a exemplo disso o autismo (SELLA &
RIBERIO, 2018).
Nesse arcabouço destaca-se que o público-alvo da educação especial é os citados
na diretriz, entretanto é necessário destacar que se encontra no processo de
inclusão todos fazem parte inclusive aqueles com diferentes culturas, diferenças
sociais econômicas, entre outras. Em 2015, surge a Lei Brasileira de Inclusão da
14

Pessoa com Deficiência, Lei 13.146. Ela trata da inclusão da pessoa com deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em
condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por
pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Em alguns
momentos destaca se os sujeitos que apresentam condições especiais, ora por
apresentarem deficiência sensorial, mental ou física, entre outras (SELLA &
RIBERIO, 2018).
O Art. 27 enfatiza o respeito à educação e constitui direito da pessoa com
deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo
desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais,
intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de
aprendizagem. Parágrafo único. “É dever do Estado, da família, da comunidade
escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência,
colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação”.
Está claro que há uma abundante legislação para respaldar o processo de inclusão,
entretanto percebe se que há entrave inclusive a falta de conhecimento, o que deve
ser amplamente discutido na formação de professores e na sociedade. Por fim, o
Estado tem como dever oferecer uma educação de qualidade a qualquer pessoa
com necessidades especiais com professores capacitados e valorizados, escolas
adaptadas para atender as necessidades desses e de outros alunos. Por outro lado,
a escola deve cumprir com as legislações inerentes, como forma de promover o
acesso à educação ao aluno com certa patologia, como é o caso da criança com
Transtorno Espectro Autista (TEA) (SELLA & RIBERIO, 2018).
A escola tem a função de promover a socialização e aprendizagem científica dos
educandos com necessidades educacionais especiais e aqueles sem deficiências,
essa tarefa não é fácil, envolve boas atitudes pessoais e coletivas, caracterizadas
pelo diálogo, pelo respeito às diferenças e necessidades individuais, pelo respeito
compromisso e pela ação (FREIRE, 2020).
Nessa perspectiva relata-se que a escola deve responder as diversas necessidades
que os alunos apresentam, identificando os estilos e os ritmos de aprendizagem,
oferecendo uma educação de qualidade a todos, sempre por meio de currículo
apropriado, de modificações organizacionais e de procedimentos de ensino,
conforme citação do artigo 59 da LDB/96 (SELLA & RIBERIO, 2018).
15

De acordo com Nascimento (2019), é preocupante o fato de muitas escolas não


proporcionarem uma educação de qualidade. A maioria das escolas não apresenta
estrutura adequada, nem didático-pedagógica para atender todos os alunos,
tornando-se mais excludente do que includente. É preciso que haja uma
transformação e isto depende de todos, principalmente dos colaboradores no âmbito
escolar, pois é importante para que o aluno se sinta bem acolhido na sala de aula.
Toda criança é capaz de aprender, mesmo aquelas que possuem algum tipo de
deficiência. O ambiente escolar torna-se o mais recomendado, o mais adequado
para o aprendizado e ainda mais importante para o aluno com TEA. É nele que o
aluno aprende a confiar em si mesmo, que se descobre capaz de desenvolver as
atividades, mesmo que isso demande um tempo maior. Caracteriza-se por contribuir
na formação do indivíduo, no seu desenvolvimento cultural, social, intelectual e
físico. A escola promove os valores sociais, morais e culturais indispensáveis à
formação do cidadão (SOUZA & ANACHO, 2020).
De acordo com Lima (2019), inserir alunos com TEA e outras necessidades
específicas na escola convencional, é um modo de possibilitar igualdade de
oportunidades e permitir que estes alunos possam se relacionar com outros e
estabelecer trocas para construir uma sociedade mais igualitária e consciente da
necessidade de inclusão.
A escola não deve oferecer apenas instalações físicas aos alunos, é preciso também
oferecer práticas pedagógicas coletivas, multifacetadas, dinâmicas e flexíveis.
Requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das escolas, na
formação humana dos professores e nas relações família-escola. Todas as pessoas
que participam de um mesmo ambiente, incluídas nele, vão se sentir igualmente
importantes naquela comunidade. Quando acontece considerando as diversidades e
as diferenças no âmbito escolar, com isso se torna culturalmente rico. Faz com que
pessoas com deficiência ou pessoas que por qualquer motivo não se adaptam ao
sistema escolar e são excluídas, aprendam com mais facilidade (SELLA & RIBERIO,
2018).
Segundo Lima (2019), nesse caso para o aluno com TEA, a inclusão é ideal, garante
igualdade de oportunidades, além de permitir que alunos com deficiência possam
estabelecer trocas e se relacionar com outros, para que não interrompa o
desenvolvimento. Surge a partir daí, uma sociedade mais igualitária e consciente da
necessidade de inclusão.
16

É fundamental destacar que a igualdade nos relacionamentos permite trocas e


dentro de um amplo projeto de educação, os princípios da inclusão vão além de
inserir crianças com deficiência na rede regular de ensino. Por fim, o sistema de
ensino escolar sofre influência quando existe uma adaptação para uma cultura de
inclusão, já que todos os alunos são afetados diretamente e não apenas os que
possuem necessidades especiais. ’’As escolas inclusivas propõem um modo de se
construir o sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos
e que é estruturado em virtude dessas necessidades’’ (MANTON, 2018, p. 145).
Percebe-se a importância da escola regular, em que a inserção do aluno com
necessidades especiais em instalações preparadas e professores capacitados para
recebê-lo, acaba por tornar o ambiente mais receptivo, para que este aprenda com
mais segurança, não apenas com o seu conteúdo programático, mas também
quando estabelecer relações entre todos os alunos (LIMA, 2019).

3.1 Decisões jurisprudenciais em relação a pessoa portadora do


Transtorno Espectro Autista
Como já mencionado anteriormente, a inclusão da criança portadora de TEA no
ambiente escolar é a garantia de um direito fundamental. O artigo 7º da Lei n. 12.764
prevê penalidades administrativas caso a administração escolar ou as autoridades
competentes não admitam a matrícula de alunos com transtorno do espectro do
autismo ou qualquer outro tipo de deficiência. É fundamental salientar neste trabalho
que a multa poderá ser de 3 a 20 vezes o salário-mínimo (SELLA & RIBERIO, 2018).
A objeção de administradores ou autoridades escolares à admissão de pacientes
com transtorno do espectro do autismo não pode ser apenas o simples fato de não
haver vagas ou mesmo atendimento especial, pois a jurisprudência entende que os
motivos acima não são suficientes para constituir entidades públicas que se
esquivam da responsabilidade da educação inclusiva (SOUZA & ANACHO, 2020).
As escolas muitas vezes alegam que há vagas limitadas para alunos especiais em
cada classe, mas não há base legal para essa afirmação. De fato, a lei não impõe
esse limite, nem a jurisprudência o aceita. Segue trecho da decisão do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo de 08 de novembro do ano de 2017: Apelação –
ação indenizatória – recusa na matrícula de criança com necessidades especiais –
número máximo de alunos por sala –danos morais verificados.
17

O Supremo Tribunal Federal (STF) tratou da questão das pessoas com deficiência
na educação formal no Acórdão n. 5.357 da Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI). Nesse sentido, julgou que as normas da Lei da Pessoa com Deficiência (Lei n.
13.146/2015) eram constitucionais, proporcionando as acomodações necessárias
para que as escolas particulares acolham as pessoas com deficiência no ensino
formal e sua adaptação no ambiente escolar, não transferindo o encargo financeiro
para propinas, anuidades e matrículas.
Outra análise a ser avaliada é que por muito tempo, foi negada ajuda às pessoas
com transtornos do espectro do autismo porque não se qualificavam como
deficientes e, portanto, não podiam ser mantidas por certos benefícios garantidos às
pessoas que se qualificam para essa condição. Então, após anos de luta, foi
promulgada a Lei 12.764/12, em 27 de dezembro de 2012, a primeira a reconhecer
os autistas como deficientes (SOUZA & ANACHO, 2020).
Entre os direitos adquiridos pela Lei 12.764/12 está o direito de ter acompanhante
dedicado em sala de aula, para alunos com TEA que apresentem grandes
dificuldades de interação social e conflitos comportamentais. No parágrafo único do
artigo 3º, diz: "Nos casos de comprovada necessidade, nos termos do art. IV, os
indivíduos com transtornos do espectro do autismo são incluídos nas classes de
educação geral.
Em segundo lugar, você terá direito a um acompanhante dedicado." Este dispositivo
único é certamente um grande passo para a educação inclusiva. Antes dessa lei, as
pessoas com autismo não tinham uma legislação específica que garantisse seu
direito à educação. A Lei 13.146/2015 garante a frequência escolar de alunos com
autismo ou outras condições que exijam tratamento especial. Além disso, a
instituição deve fazer adaptações que favoreçam o desenvolvimento da criança.
Materiais gratuitos também são fornecidos, se necessário (CESAR, 2018).
A doutrina de Cesar (2018) relata que os pares são essenciais no ambiente escolar
para atuarem como facilitadores das relações entre as crianças e os demais alunos,
ao invés de privar os professores de terem que estar com os pares no processo de
desenvolvimento do aluno. O acompanhante não pode ser considerado uma babá,
seu trabalho será totalmente voltado para a independência da criança autista, para
que futuramente ela possa controlar suas emoções e realizar as atividades diárias
com mais facilidade.
18

Aos poucos, os tribunais têm reconhecido cada vez mais o direito de não alcançar a
educação especial e inclusiva, conforme observado: Ementa: direito constitucional.
mandado de segurança. reexame necessário. menor portador de transtorno do
espectro autista. direito a acompanhamento especializado no horário escolar.
Observa-se que de acordo com a decisão acima, as pessoas com deficiência física
têm acesso às oportunidades educacionais, conforme estipulado no Projeto de Arte
III. O artigo 208 da CF/88 estabelece que o Estado é obrigado a prestar atendimento
especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede formal de
ensino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho atingiu o objetivo proposto, uma vez que apresentou as principais
vertentes da legislação inerente de proteção à pessoa com Transtorno do Espectro
Autista no ambiente escolar. Em específico destacou a Lei Federal n. 12.764 do ano
de 2012 e sua aplicabilidade como ferramenta de proteção dos direitos do autista;
esclareceu as políticas de inclusão do Brasil em prol do autista; e evidenciou se o
acesso do autista no ambiente escolar é garantido por lei e se a inclusão conta com
o preparo de educação especial, bem como do atendimento educacional
especializado.
Viu-se no decorrer deste trabalho jurídico que o Transtorno Espectro Autista (TEA)
foi inicialmente denominado por Kanner de Distúrbio Autístico do Contato Afetivo,
como uma condição com características comportamentais específicas: perturbações
das relações afetivas com o meio, inabilidade no uso da linguagem para
comunicação, presença de boas potencialidades cognitivas, aspecto físico
aparentemente normal, comportamentos ritualísticos e início precoce.
Assim, sendo, vale relatar que crianças com autismo já começam a apresentar
sinais nos primeiros meses de vida, visto que não olham para seus cuidadores
quando são chamadas e não possuem contato visual afetivo. A partir dos 12 meses,
geralmente, não apontam com o dedo a objetos, não sabem referir-se ao que
querem. Já no primeiro ano de vida, demonstram mais interesse nos objetos do que
nas pessoas e, quando os pais fazem brincadeiras de esconder, sorrir, podem não
demonstrar muita reação.
As manifestações do transtorno podem variar muito dependendo da gravidade da
condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica,
19

considerações que levaram a referir o transtorno como espectro. A partir do DSM-5


o Transtorno do Espectro Autista passou a englobar transtornos antes chamados de
Autismo Infantil Precoce, Autismo Infantil, Autismo de Kanner, Autismo de Alto
Funcionamento, Autismo Atípico, Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra
Especificação, Transtorno desintegrativo da Infância e Transtorno de Asperger.
Denota-se assim, que se observou nas pesquisas de saúde e bases doutrinárias que
o diagnóstico do autismo é clínico, sendo mais válido e confiável quando baseado
em múltiplas fontes de informação, incluindo observações do clínico, história do
cuidador e, quando possível, autorrelato.
As mudanças comportamentais exibidas por pessoas com autismo que muitas vezes
levam a certas deficiências como no ambiente escolar. Como resultado, inúmeras
adversidades, incluindo discriminação e exclusão social, é enfrentado todos os dias.
Dessa forma, proteger as necessidades dessas pessoas é fundamental para seu
bem-estar e inclusão social.
Nesse sentido, levando para os direitos inerentes do autista no ambiente escolar,
ressalta-se que existe a Lei n. 9.394 de 1996, que criou um capítulo dedicado à
educação especial, assegura no texto legal que, quando necessário, serão
prestados serviços de apoio especializado em ambientes escolares com o objetivo
de atender às particularidades do indivíduo com autismo.
Isso porque em relação a pergunta problema, tem-se que o governo tem
apresentado políticas públicas ainda não são suficientes para atender os direitos do
autista no ambiente escolar. A Lei n. 12.764 de 2012, a qual preza sobre a “Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista” é
fundamental para promover os direitos e garantias do autista, assim como os
aspectos da desigualdade.
Com isso, há no contexto escolar a Lei Brasileira de Inclusão (Lei n. 13.146 do ano
de 2015) visa garantir a permanência do autista na escola, contudo, a inclusão ainda
não foi atingida pela lei, visto que o intuito das políticas públicas hodiernamente não
tem foco no processo de aprendizagem, que de fato identifique e reforce as
potencialidades da pessoa autista.

REFERÊNCIAS
20

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