Você está na página 1de 66

Curso de capacitação em atenção integral

à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2


UNIDADE - 02

CURSO DE CAPACITAÇÃO
EM ATENÇÃO INTEGRAL
À SAÚDE MATERNA:
MÓDULO 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
Reitor – Natalino Salgado Filho
Vice-Reitor – Antonio José Silva Oliveira
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – Fernando de
Carvalho Silva

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE - UFMA


Diretora – Nair Portela Silva Coutinho
unidade - 02

Curso de capacitação
em atenção integral à
saúde MATERNA:

MÓDULO 1

São Luís - MA / 2013


Copyright @ UFMA/UNASUS, 2011
Todos os direitos reservados à Universidade Federal do Maranhão

Créditos:
Universidade Federal do Maranhão - UFMA
Universidade Aberta do SUS - UNASUS
Praça Gonçalves Dias No 21, 1º andar, Prédio de Medicina (ILA)
da Universidade Federal do Maranhão – UFMA
Site: www.unasus.ufma.br

Normalização:
Bibliotecária Eudes Garcez de Souza Silva
(CRB 13ª Região Nº Registro – 453)

Revisão Ortográfica:
João Carlos Raposo Moreira

Revisão Técnica:
João Carlos Raposo Moreira
Judith Rafaelle Oliveira Pinho
Manoel Oliveira Filho
Vinícius Mendes Albuquerque

Universidade Federal do Maranhão. UNASUS/UFMA

Curso de capacitação em atenção integral à saúde materna:


módulo 1/Ana Carolina Uruçu Rego Fernandes; Dayana Dourado de
Oliveira Costa; Mayra Pereira da Silva; Paola Trindade Garcia (Org.).
- São Luís, 2013.

66f. : il.

1. Curso de capacitação. 2. Saúde da mulher. 3. Saúde pública.


4. UNASUS/UFMA. I. Moreira, João Carlos Raposo. II. Pinho, Judith
Rafaelle Oliveira. III. Oliveira Filho, Manoel. III. Título.

CDU 613.9-055.2
APRESENTAÇÃO

IIniciamos o Curso de Capacitação em Atenção Integral à


Saúde Materna, composto por dois módulos que discutem
questões essenciais para a assistência à saúde materna. Para
facilitar a compreensão do conteúdo, cada um dos dois módulos
está dividido em três unidades.
Começamos, agora, a 2ª unidade, em que abordaremos a
Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal e a Atenção ao
Pré-Natal. Bons estudos!
SUMÁRIO

UNIDADE 2

\
1- POLÍTICA DE NACIONAL DE ATENÇÃO OBSTÉTRICA E
NEONATAL .......................................................................... 07
1.1 - A Atenção Obstétrica e Neonatal..................................... 07
1.2 - Evolução histórica das políticas de atenção à saúde da
mulher................................................................................. 10
2 - ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL................................................ 16
2.1 - Acompanhamento da gestação de baixo risco.................. 17
2.2 - Diagnóstico e acolhimento............................................. 18
2.3 - Consultas e exames para a gestante................................ 22
2.4 - Atividades de educação em saúde.................................. 42
2.5 - Preparo das mamas para aleitamento.............................. 45
2.6 - Visita domiciliar……………………………………………………... 51
2.7 - Preparo para parto e nascimento humanizado................. 52
2.8 - A Estratégia Saúde da Família nas ações de saúde materna
............................................................................................ 57

REFERÊNCIAS...................................................................... 66
UNIDADE 2

1 - POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO OBSTÉTRICA E


NEONATAL
O Ministério da Saúde publicou a portaria nº 1067, de 06
de julho de 2005, instituindo a Política Nacional de Atenção
Obstétrica e Neonatal que propõe que a Política Nacional de
Atenção Obstétrica e Neonatal a ser executada conjuntamente
pelo Ministério da Saúde e as secretarias de Saúde dos Estados,
dos Municípios e do Distrito Federal (CONASS, 2005).
Ações de promoção, prevenção e assistência à saúde de
gestantes e recém-nascidos, promovendo a ampliação do acesso
a essas ações, o incremento da qualidade da assistência obstétrica
e neonatal, bem como sua organização e regulação no âmbito do
Sistema Único de Saúde, estão no escopo dessa política (BRASIL,
2005).
Nessa unidade, vamos compreender a importância dessa
política e sua articulação com as ações na Atenção Básica.

1.1 - A Atenção Obstétrica e Neonatal


A Atenção Obstétrica e Neonatal, prestada pelos serviços
de saúde, deve ter como características essenciais a qualidade
e a humanização. É dever dos serviços e profissionais de saúde
acolher com dignidade a mulher e o recém-nascido, enfocando-
os como sujeitos de direitos. O principal objetivo da Atenção
Obstétrica e neonatal é acolher a mulher desde o início da
gravidez, assegurando, ao fim da gestação, o nascimento de uma
criança saudável e o bem-estar da mulher e do recém-nascido
(BRASIL, 2005).

7
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Dessa forma, os estados e municípios, por meio das


unidades integrantes de seu sistema de saúde, devem garantir
uma atenção pré-natal realizada em conformidade com os
parâmetros estabelecidos a seguir:
1. Captação precoce das gestantes com realização da
primeira consulta de pré-natal até 120 dias da gestação;
2. Realização de, no mínimo, seis consultas de pré-natal,
sendo, preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no
segundo trimestre e três no terceiro trimestre da gestação;
3. Desenvolvimento das atividades ou procedimentos
durante:
§ Atenção pré-natal;
§ Atenção ao parto;
§ Atenção ao recém-nascido;
§ Acompanhamento da mulher e do recém-nascido no pós-
parto imediato;
§ Atendimento às principais intercorrências obstétricas e
neonatais;
§ Atenção no puerpério;
§ Atenção ao parto domiciliar.
Além dos parâmetros acima descritos, cabe ainda, através da
efetivação da Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal, a
colaboração para a redução da morbidade e da mortalidade femininas
no Brasil, especialmente por causas evitáveis, em todos os ciclos
da vida e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação
de qualquer espécie, na medida em que define diretrizes para a
Atenção Obstétrica e Neonatal em todos os níveis de complexidade.
Mesmo com a Política Nacional de Atenção Obstétrica e demais
políticas destinadas, direta ou indiretamente, a contribuir com a
saúde materna, permanecem alguns desafios (SANTOS, 2010):

8
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

§ Melhorar a qualidade da atenção ao pré-natal e parto em


todas as regiões e o acesso nas regiões NO, NE e CO;
§ Implementar a Lei do Acompanhante em todos os hospitais
com leitos obstétricos e em todas as maternidades;
§ Reduzir as taxas de cesáreas desnecessárias em todo país;
§ Qualificar o trabalho das parteiras tradicionais e melhorar
sua inserção no sistema de saúde;
§ Reduzir as taxas de aborto inseguro e humanizar o
atendimento nos hospitais.

REFLITA COMIGO!
Todas as gestantes de sua área
são captadas para realização da primeira
consulta de pré-natal até 120 dias da
gestação? Em caso negativo, quais motivos
causam o impedimento de tal ação? Quais
medidas a equipe tem tomado para que as
gestantes realizem a primeira consulta até
os 120 dias de gestação?

9
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Que tal agora saber um pouco mais sobre o histórico das


políticas de atenção à saúde da mulher?

1.2 - Evolução histórica das políticas de atenção à saúde da mulher.


Muita informação sem nenhuma indicação de responsa-
bilidade.
A saúde da mulher foi
incorporada às políticas nacionais de
saúde nas primeiras décadas do século
XX, sendo limitada, nesse período, às
questões relacionadas à gestação e ao
parto. Os programas materno-infantis,
elaborados nas décadas de 30, 50 e 70, traduziam uma visão
restrita sobre a mulher, baseada em sua especificidade biológica e
no seu papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação,
educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos e demais familiares.
Na década de 50, as ações de saúde sofriam forte influência
dos chamados ‘Estados de Bem-Estar’ (Welfare States), oriundos
da Europa, que se direcionavam a grupos vulneráveis. No Brasil,
especialmente em relação à saúde da mulher, o objetivo seria
fazer das mulheres “melhores mães”, assim, a maternidade era
o papel mais importante da mulher na sociedade; a criação dos
filhos era para a mulher o papel mais relevante em relação ao
desenvolvimento econômico. Dessa forma, nesse período foram
iniciadas medidas de combate à desnutrição e de planejamento
familiar.
Na década de 70, há um enfoque maior às questões
relacionadas à equidade, que foi tema na Conferência do Ano
Internacional da Mulher (1975) e do Plano da Década da Mulher
(1976 – 1985). Os objetivos eram integrar as mulheres no processo

10
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

de desenvolvimento, preocupando-se com sua autonomia


política e econômica e com a redução da desigualdade com os
homens. Pensando nessas e em outras questões, é criado em
1975 o programa materno-infantil, que continha delineamentos
gerais sobre proteção e assistência materno-infantil e buscava
englobar cuidados ao período pré-concepcional, pré-natal, parto
e puerpério.
O programa tinha forte ação de organismos internacionais
controlistas, como a Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar
no Brasil (BEMFAM) e assim como todo programa vertical,
fragmentado, reducionista e desarticulado de outras ações e
propostas mais amplas, apresentou baixo impacto nos indicadores
de saúde da mulher.
Na década de 80, por sua vez, no auge do movimento
feminista brasileiro, os programas iniciais destinados à saúde da
mulher são fortemente criticados, uma vez que a mulher tinha
acesso apenas a alguns cuidados de saúde no ciclo gravídico-
puerperal, ficando sem assistência na maior parte de sua vida.
Com forte atuação no campo da saúde, o movimento de mulheres
contribuiu para introduzir na agenda política nacional, questões
até então relegadas ao segundo plano, por serem consideradas
restritas ao espaço e às relações privadas.
Nesse sentido, o Ministério da Saúde cria em 1984, o
Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM),
marcando, especialmente, uma ruptura conceitual com os
princípios norteadores da política de saúde das mulheres e os
critérios para escolha de prioridades neste campo. O PAISM
incluía ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento
e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica
ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em

11
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de mama,


além de outras necessidades identificadas a partir do perfil
populacional das mulheres.
A partir de 1984, iniciam-se a distribuição junto às
secretarias estaduais de Saúde de documentos técnicos que
iriam nortear as “Ações Básicas de Assistência Integral à Saúde da
Mulher”. Em 2003, a Área Técnica de Saúde da Mulher identifica a
necessidade de articulação com outras áreas técnicas e de propor
novas ações para a atenção das mulheres rurais, com deficiência,
negras, indígenas, presidiárias, lésbicas e a participação nas
discussões e atividades sobre saúde da mulher e meio ambiente.
No ano de 2004, mais precisamente em 28 de maio de
2004, o Ministério da Saúde propõe diretrizes para a humanização
e a qualidade do atendimento. Toma como base os dados
epidemiológicos e as reivindicações de diversos segmentos sociais
para apresentar os princípios e diretrizes da Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde da Mulher.
No ano de 2011, o Ministério da Saúde, em parceria com
diversos setores da sociedade, em especial com o movimento
de mulheres, o movimento negro e o de trabalhadoras rurais,
sociedades científicas, pesquisadores e estudiosos da área,
organizações não-governamentais, gestores do SUS e agências
de cooperação internacionais elabora o documento com a 2ª
reimpressão desta política que traz uma série de diretrizes e
objetivos gerais, dentre os quais:

12
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Promover a melhoria das Contribuir para a redução Ampliar, qualificar e huma-


condições de vida e saúde das da morbidade e mortalidade fe- nizar a atenção integral à saúde
mulheres brasileiras, mediante minina no Brasil, especialmente da mulher no Sistema Único de
a garantia de direitos legalmen- por causas evitáveis, em todos Saúde.
te constituídos e ampliação do os ciclos de vida e nos diversos
acesso aos meios e serviços de grupos populacionais, sem dis-
promoção, prevenção, assistên- criminação de qualquer espécie;
cia e recuperação da saúde em
todo território brasileiro;

Fonte: BRASIL, 2011

No bojo da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da


Mulher ainda são descritos objetivos específicos e estratégias,
conforme abaixo descrito:
Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica, inclusive para
as portadoras da infecção pelo HIV e outras DSTs;
Estimular a implantação e implementação da assistência em
planejamento familiar, para homens e mulheres, adultos e
adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde;
Promover a atenção obstétrica e neonatal, qualificada e
humanizada, incluindo a assistência ao abortamento em
condições inseguras, para mulheres e adolescentes;
Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação de
violência doméstica e sexual;
Promover a prevenção e o controle das doenças sexualmente
transmissíveis e da infecção pelo HIV/AIDS na população
feminina;
Reduzir a morbimortalidade por câncer na população feminina;
Implantar um modelo de atenção à saúde mental das mulheres
sob o enfoque de gênero;
Implantar e implementar a atenção à saúde da mulher no
climatério,
Promover a atenção à saúde da mulher negra, na terceira idade,

13
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

das trabalhadoras do campo e da cidade, da mulher indígena, das


mulheres em situação de prisão, incluindo a promoção das ações
de prevenção e controle de doenças sexualmente transmissíveis
e da infecção pelo HIV/AIDS nessa população;
Fortalecer a participação e o controle social na definição e
implementação das políticas de atenção integral à saúde das
mulheres (BRASIL, 2011a).

Mesmo diante de uma política tão bem estruturada


permanecem alguns desafios que precisam ser superados, como as
elevadas taxas de morbimortalidade materna e infantil, sobretudo
a neonatal, a rede de atenção fragmentada e pouco resolutiva,
modelo inadequado de atenção, não respeitando as evidências
científicas, e desrespeito aos princípios de humanização e dos
direitos da mulher e da criança.
Considerando esses desafios, o Ministério da Saúde
cria em 2011 uma estratégia para reverter esse cenário, a Rede
Cegonha, que visa implementar uma rede de cuidados para
assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e
à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e às
crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao
desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011b).

Objetivos da Rede Cegonha:


- Fomentar um modelo de atenção com foco na atenção
ao parto, nascimento, crescimento e desenvolvimento
da criança;
- Organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil
garantindo acesso, acolhimento e resolutividade;
- Reduzir os índices de mortalidade materna e infantil
(BRASIL, 2011).

14
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

A Rede Cegonha prevê parto e nascimento seguros,


através de boas práticas de atenção, acompanhante no
pré - parto, parto e puerpério de livre escolha da gestante,
qualidade e resolutividade na atenção à criança de 0 a 24
meses e acesso ao planejamento reprodutivo, assegurando
um novo modelo de atenção ao parto, nascimento e à saúde
da criança, rede de atenção que garanta acesso, acolhimento
e resolutividade e redução da mortalidade materna e neonatal.

VAMOS PRATICAR?
• Identifique estratégias referentes
a cada um desses objetivos específicos
da Política Nacional de Atenção Integral
à Saúde da Mulher, considerando a
possibilidade de atuação da equipe da
Estratégia Saúde da Família.
• Quais são as ações de sua
unidade que estão contribuindo para o
fortalecimento da Política de Atenção
Integral a Saúde da Mulher?
• Como a Rede Cegonha está
implementada em seu município? Quais
ações estão presentes em sua unidade?

15
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

SAIBA MAIS:
Leia na íntegra as publicações:
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher:
princípios e diretrizes, publicada pelo Ministério da Saúde em
2011.
Acesse: http://goo.gl/JjwcEm
Manual prático para implementação da Rede Cegonha.
Acesse: www.saude.mt.gov.br/arquivo/3062

2 - ATENÇÃO AO PRÉ-NATAL
Embora, nas últimas décadas, a cobertura de Atenção
ao Pré-natal tenha crescido, garantir sua qualidade permanece
como o maior desafio. Essa melhoria da qualidade refere-
se, especialmente, a uma mudança sensível na atitude dos
profissionais de saúde e na eficiência e presteza dos serviços.
Para isso, é necessário que os profissionais envolvidos em
qualquer instância do processo assistencial estejam conscientes
da importância de sua atuação e da necessidade de aliarem
o conhecimento técnico específico ao compromisso com um
resultado satisfatório da atenção, levando em consideração o
significado desse resultado para cada mulher.
No que tange à Estratégia de Saúde da Família (ESF),
cabe à equipe, ao entrar em contato com uma mulher gestante,
na unidade de saúde ou na comunidade, procurar compreender
os múltiplos significados da gestação para aquela mulher. A
conversa franca, a sensibilidade e a “astúcia” de quem acompanha
o pré-natal são condições básicas para o acompanhamento dessa
mulher, assim como de sua família.

16
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

2.1 - Acompanhamento da gestação de baixo risco


O acompanhamento de gestantes de baixo risco é
imprescindível para melhor atuação da Estratégia de Saúde
da Família e está presente em seu escopo de ação. As rotinas
estabelecidas nas unidades de saúde devem respeitar as
peculiaridades locorregionais. É primordial buscar atender às
necessidades das mulheres nesse momento de suas vidas e
favorecer uma relação ética entre as usuárias e os profissionais
de saúde.
O Ministério da Saúde assegura que o atendimento
ou acompanhamento do pré-natal realizado nas unidades de
saúde da família implica em infinitas possibilidades de ações
que fomentem assistência de qualidade e atenção humanizada
à mulher e familiares, dando destaque para algumas das ações
primordiais:

Acolhimento;
Consultas e exames adequados;
Identificação, monitoramento e acompanhamento de fatores
de risco;
Imunização;
Atividades de educação em saúde;
Visita domiciliar;

Preparo para parto e nascimento humanizado (BRASIL, 2006).

VAMOS PRATICAR?
Reúna com sua equipe e elenque atribuições de cada
membro para cada um dos tópicos listados acima. Apresente as
propostas de sua equipe no fórum virtual de discussão.

17
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

2.2 - Diagnóstico e acolhimento


A dosagem da gonadotrofina coriônica humana (ßhCG)
para o diagnóstico precoce da gravidez, utilizando medidas
quantitativas precisas e rápidas, tornou-se mundialmente
reconhecido para confirmar a ocorrência de gravidez. O ßhCG
pode ser detectado no sangue periférico da mulher grávida entre
oito a 11 dias após a concepção (MELO; RIO, 2007).

A maioria dos testes tem


sensibilidade para detecção de
gravidez entre 25 a 30mUI/ml,
níveis menores que 5mUI/ml são
considerados negativos e acima
de 25mUI/ml são considerados
positivos. Em gestações mais
avançadas, o diagnóstico da
gravidez pode ser efetuado em 90%
das pacientes através dos sinais
clínicos, sintomas e exame físico
(BRASIL, 2011).

As queixas principais incluem o atraso menstrual, fadiga,


mastalgia, aumento da frequência urinária e enjoos/vômitos
matinais. Os sinais clássicos de confirmação de gravidez incluem:
ausculta de Batimento Cárdio Fetal (BCF), visualização fetal
através de exames de imagem (USG), percepção dos movimentos

18
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

fetais pelo examinador, sinal de Puzos (rechaço fetal intrauterino


durante toque vaginal, na 14ª semana de gestação).
Na figura abaixo, é possível verificar o fluxograma para
manejo da mulher durante o pré-natal, preconizado atualmente
pelo Ministério da Saúde:
Figura 1 – Fluxograma para manejo da mulher durante o
pré-natal.

19
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Mulher com suspeita de gravidez


Atraso menstrua l
Náuse a
Suspensão ou irregularidade do uso do contraceptivo
Desejo de gravide z

Consulta de acolhiment o
Deve-se avaliar:
o ciclo menstrua l – Dum,
a atividade sexual e
o uso de método contraceptiv o

Atraso Dum maior do


menstrual maior do que 12
que 15 dias? semanas?
Sim Sim

βHCG urinário, teste rápido Ausente Ausculta de BCF

Negativo Positivo Presente

Repetir βHCG Gravidez confirmad a


Captação da gestante para o pré-natal-
em 15 dias Solicite exames
Realize testes rápidos de HIV e sífilis
Preenchimento do SisPreNata l
Negativo Preenchimento do cartão da gestant e
Preenchimento do prontuário

Investigue outras
causas de irregularidade
menstrual
Avaliação de
risco gestacional

Encaminhe a gestant e
para o serviço de pré-natal
de alto risco

Avaliação do risco
gestacional pelo médico Afastado o risc o

Confirmado o risc o

Pré-natal de Pré-natal de
alto risco baixo risco

Garanta o atendimento no ambulatório de pré-natal de alto risco. Atendimento pela equipe da área de abrangência. É ideal que haja
Mantenha acompanhamento da equipe da área de abrangência. consultas alternadas com médico e enfermeiro .
Monitore os retornos no ambulatório de alto risco. Inclua o companheiro da gestante nas consultas .
Visitas domiciliares mensais pelos ACS e pela equipe, se necessário . Monitore os retornos .
Identifique o hospital de referência de alto risco para o parto . Visitas domiciliares mensais pelos ACS e pela equipe, se necessário.
Agende consulta de puerpério para a primeira semana pós-parto . Identifique o hospital de emergência de baixo risco para o parto.
Agende consulta de puerpério (para a mãe e o RN) para a primeira
semana pós-parto.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Atenção


ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de

Atenção Básica, 32).


20
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

No geral, 90% das gestações evoluem sem complicações,


sendo então chamadas de gestação de baixo risco, somente uma
pequena parcela das gestantes (10%) podem ter intercorrências
desfavoráveis durante a gestação (FREITAS, 2011).
Considerando-se que 11% a 42% das idades gestacionais
estimadas pela data da última menstruação são incorretas, deve-se
oferecer à gestante, na primeira consulta, exame ultrassonográfico
para determinar a idade gestacional. Idealmente, o exame deve
ser realizado entre 10 e 13 semanas, utilizando-se o comprimento
cabeça-nádega para determinar a idade gestacional. A partir da
15ª semana, a estimativa da idade gestacional será feita por meio
da medida do diâmetro biparietal (BRASIL, 2012).

Após confirmação
da gravidez, a gestante
O cartão da gestante, com
deverá receber as orientações
a identificação preenchida,
necessárias referentes ao
o número do SISPRENATAL,
acompanhamento pré-natal –
o hospital de referência e as
sequência de consultas, visitas
orientações para o parto;
domiciliares e reuniões educativas.
Deverão ser fornecidos (BRASIL, Calendário de vacinas e suas
2006): orientações;
A solicitação dos exames de
rotina;
As orientações sobre a
participação nas atividades
educativas – reuniões e visitas
domiciliares.

21
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

SAIBA MAIS:
Leia a publicação: Atenção à gestante e à puérpera no SUS
– SP: manual técnico do pré-natal e puerpério. São Paulo: SES/SP,
2010. Disponível em: http://www.abenfosp.com.br/mt/manual_
ses.pdf

LEMBRETE:
A Lei Nº 11.634, de 27 de dezembro de 2007, dispõe sobre o
direito da gestante ao conhecimento e a vinculação à maternidade
onde receberá assistência no âmbito do Sistema Único de Saúde
(BRASIL, 2007).

2.3 - Consultas e exames para a gestante


Para o pré-natal de baixo risco, está proposto um mínimo
de seis consultas (uma no primeiro trimestre, duas no segundo e
três no terceiro trimestre), considerando as consultas médicas e
de Enfermagem. Em uma situação ideal, o acompanhamento pode
ser mensal até 28 semanas, quinzenal até 36 semanas e semanal
até o parto (BRASIL, 2006; BRASIL, 2012). A maior frequência de
visitas no final da gestação visa à avaliação do risco perinatal e das
intercorrências clínico-obstétricas mais comuns nesse trimestre,
como trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia e eclâmpsia,
amniorrexe prematura e óbito fetal.

Lembre-se: Não existe “alta”


do pré-natal antes do parto!

22
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

A primeira consulta de pré-natal contempla três


dimensões: história clínica, exame físico e condutas. Deve ser
realizada anamnese, abordando aspectos epidemiológicos,
além dos antecedentes familiares, pessoais, ginecológicos e
obstétricos e a situação da gravidez atual. O exame físico deverá
ser completo, seguido por exame ginecológico e obstétrico. Nas
consultas seguintes, a anamnese deverá ser sucinta, abordando
aspectos do bem-estar materno e fetal, destacando-se a revisão
da ficha de pré-natal e verificação do calendário vacinal. Em todos
os momentos, deve-se dar atenção para as dúvidas e ansiedades
da mulher e de quem a acompanha.
Veja abaixo um roteiro detalhado sobre a sequência
adequada na primeira consulta de pré-natal que deve ser realizada
na Atenção Básica:

23
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Identificação
Investigando Nome, número do SISPRENATAL, idade, cor
a história clínica naturalidade, procedência, endreço

Antecedentes Motivos da
pessoais consulta:
Hipertensão arterial crônica; cardiopatias,
inclusive doença de Chagas; diabetes Dados socioeconômicos:
mellitus; doenças renais crônicas; anemias e Grau de instrução, profissão / ocupação, estado
deficiências de nutrientes específicos; desvios civil/união, número e idade de dependentes, renda
nutricionais, (baixo peso, desnutrição, familiar, pessoas da família com renda, condições
sobrepeso, obsidade); epilepsia; doenças da de moradia (tipo, nº de comôdos) condicões de
tireoide e outras endecrinopatias; malária; saneamento (águar, esgoto, coleta de lixo),
viroses (rubéola, hepatite); alergias; distância até a unidade de saúde.
hanseníase, tuberculose ou outras doenças
infeccioas;
portadora de infecção pelo HIV (em uso de
retrovirais? quais?); doenças neurológicas e
psiquiátricas; cirurgia (tipo e data); transfusão
de sangue.

Antecedentes obstétricos
- número de gestações (incluindo Antecedentes Familiares
abortamento, gravidez ectópica, mola Hipertensão arterial; diabetes mellitus; doenças
hidatiforme); congênitas; gemelaridade; câncer de mama e/ou
- número de partos ( domiciliares, do colo uterino; hanseníase; tuberculose e outras
hospitalares, vaginais espontâneos, fórceps, contatos domiciliares (anota a doença e o grau de
cesáreas – indicações); parentesco); doença de Chagas; parceiro sexual.
- número de abortamentos (espontâneos,
provocados, causados por DST, complicados
por infecções, curetagem pós-abortamen- Gestação atual
to); - data do primeiro dia /mês/ ano da ultima
- número de filhos vivos; menstruação – DUM (anotar certeza ou dúvida);
- idade na primeira gestação; - peso prévio e altura;
- intervalo entre as gestações (em meses); - hábitos alimentares;
- isoimunização Rh; - medicamentos usados na gestação;
-número de recém-nascidos: pré-termo - internação durante essa gestação;
(antes da 37ª semana de gestação), - hábitos: fumo (número de cigarros/dia), álcool
pós-termo (igual ou mais 42 semanas de e drogas ilícitas;
gestação); -ocupação habitual (esforço físico interno,
- número de recém-nascidos de baixo peso exposição a a agentes químicos e físicos
(menos de 2.500 g) e com mais de 4.000 g; potencialmente nocivos, estresse).
- natimortos (morte fetal intraútero e idade
gestacional em que ocorreu); Sexualidade:
- recém-nascidos com icterícia, transfusão, - Início da atividade sexual (idade da primeira
hipoglicemia, ex-sanguíneotransfusões; relação);
- intercorrências ou complicações em - desejo sexual (libido / orgasmo / prazer)
gestações anteriores (especificar); - dispareunia (dor ou desconforto durante o ato
- complicações nos puerpérios (descrever); sexual);
- história de aleitamento anteriores - prática sexual nessa gestação ou em gestações
(duração e motivo do desmame). anteriores;
- número de parceiros;
- uso de preservativos.

Antecedentes ginecológicos:
- ciclos menstruais (duração, intervalo e regularidade);
- uso de métodos anticoncepcionais prévios (quais, por
quanto tempo e motivo do abandono);
- DSTs (tratamentos realizados, inclusive pelo parceiro);
- doença inflamatória pélvica; cirurgias ginecológicas (idade e
motivo);
- mamas (alteração e tratamento);
- última colpocitaologia oncótica (data e resultado).

24
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

EXAME FÍSICO

Específicos
Geral
(gineco-obstétrico):

– Determinação do peso e da altura; – Exame clínico das mamas (ECM);


– medida da pressão arterial; – palpação obstétrica, principalmente no
– inspeção da pele e das mucosas; terceiro trimestre, identificação da
– palpação da tireoide e de todo o situação e apresentação fetal;
pescoço, região cervical e axilar – medida da altura uterina;
(pesquisa de nódulos ou outras – ausculta dos batimentos cardíacos
anormalidades); fetais;
– ausculta cardiopulmonar; – inspeção dos genitais externos;
– exame do abdômen; – exame especular e toque vaginal de
– exame dos membros inferiores; acordo com a necessidade, orientados
– pesquisa de edema (face, tronco, pela história e queixas da paciente, e
membros). quando for realizada coleta de material
para exame colpocitológico;
– o exame físico das adolescentes deverá
seguir orientações específicas.

CONDUTAS

– Cálculo da idade gestacional e data provável do parto;


– orientação alimentar e acompanhamento do ganho de peso gestacional;
– fornecimento de informações necessárias e respostas às indagações da mulher ou da
família;
– orientação sobre sinais de riscos e assistência em cada caso;
– referência para atendimento odontológico;
– encaminhamento para imunização antitetânica (vacina dupla viral), quando a
gestante não estiver imunizada;
– referência para serviços especializados na mesma unidade ou unidade de maior
complexidade, quando indicado. Entretanto, mesmo com referência para serviço
especializado, a mulher deverá continuar sendo acompanhada, conjuntamente, na
unidade básica.

25
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

No que diz respeito aos exames da gestante, o Ministério da


Saúde recomenda que sejam solicitados desde a primeira consulta
pré-natal (BRASIL, 2006), os exames conforme abaixo descrito:

Dosagem de hemoglobina e hematócrito (Hb/Ht);


Grupo sanguíneo e fator Rh;
Sorologia para sífilis (VDRL): repetir próximo à 30ª
semana;
Glicemia em jejum: repetir próximo à 30ª semana;
Exame sumário de urina (Tipo I): repetir próximo à
30ª semana;
Sorologia anti-HIV, com consentimento da mulher,
após o “aconselhamento pré-teste”. Repetir próximo
à 30ª semana, sempre que possível.

Quando houver disponibilidade em sua


região, solicite que seja realizado:

§ Sorologia para hepatite B (HBsAg),


de preferência próximo à 30ª semana de
gestação;
§ Sorologia para toxoplasmose:
recomenda-se, sempre que possível, a
triagem para toxoplasmose por meio de
detecção de anticorpos da classe IgM (Elisa
ou imunofluorescência), em caso de IgM
positiva significa doença ativa e tratamento
deve ser instituído, referir esta mulher para
o pré-natal de alto risco.

26
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Outros exames podem ser acrescentados aos exames


mínimos:
§ Protoparasitológico: solicitado na primeira consulta;
§ Colpocitologia oncótica: muitas mulheres frequentam os
serviços de saúde apenas para o pré-natal, assim, é imprescindível
que, nessa oportunidade, seja realizado esse exame, que pode ser
feito em qualquer trimestre, sem a coleta endocervical, seguindo
as recomendações vigentes;
§ Bacterioscopia da secreção vaginal: em torno da 30ª
semana de gestação, particularmente nas mulheres com
antecedente de prematuridade;
§ Sorologia para rubéola: quando houver sintomas
sugestivos;
§ Urocultura para o diagnóstico de bacteriúria assintomática;
§ Eletroforese de hemoglobina: quando houver suspeita
clínica de anemia falciforme;
§ Ultrassonografia obstétrica: onde houver disponibilidade.
Vejamos agora algumas das principais ações da equipe de
saúde no que diz respeito ao acompanhamento pré-natal (BRASIL,
2006; BRASIL, 2011; BRASIL, 2012).

• Avaliação do estado nutricional e ganho de peso durante a


gestação
É o procedimento realizado que busca avaliar o estado
nutricional e o ganho ponderal da gestante. Tem como objetivo
avaliar e controlar o ganho de peso ao longo da gestação. O peso
deve ser aferido em todas as consultas do pré-natal.
Abaixo estão descritas condutas conforme diagnóstico
nutricional realizado a partir do cálculo do Índice de Massa
Corpórea (IMC):

27
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Investigue a história alimentar, a hiperêmese gravídica,


Baixo peso: as infecções, as parasitoses, as anemias e as doenças
debilitantes. Dê a orientação nutricional, visando à promoção
do peso adequado e de hábitos alimentares saudáveis.
Remarque a consulta em intervalo menor do que o fixado no
calendário habitual. Caso necessário, é interessante discutir
o caso com os profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (NASF).
Siga o calendário habitual. Explique à gestante que seu peso
Adequado:

está adequado para a idade gestacional. Dê-lhe orientação


nutricional, visando à manutenção do peso adequado e à
promoção de hábitos alimentares saudáveis.

Investigue a obesidade pré-gestacional, casos de edema,


Sobrepeso e obesidade:

polidrâmnio, macrossomia e gravidez múltipla. Dê


orientação nutricional à gestante, visando à promoção
do peso adequado e de hábitos alimentares saudáveis,
ressaltando que, no período gestacional, não se deve perder
peso, pois é desejável mantê-lo. Remarque a consulta em
intervalo menor do que o fixado no calendário habitual.
Caso necessário, é interessante discutir o caso com os
profissionais do NASF.
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção ao pré-natal de baixo risco.

Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, 32).

• Cálculo da Idade Gestacional


Consiste em calcular o tempo da gravidez,
estabelecendo, assim, condutas baseadas na
idade gestacional (IG) obtida, e tem como
objetivo estimar o tempo gestacional em
semanas. Como calcular (BRASIL, 2012):

28
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

• Quando a data da última menstruação é conhecida:


- Uso do calendário: somar o número de dias do intervalo
entre a DUM e a data da consulta, dividindo o total por sete
(resultado em semanas);
- Uso de disco (gestograma): colocar a seta sobre o dia e mês
correspondente ao primeiro dia da última menstruação e observar
o número de semanas indicado no dia e mês da consulta atual.
• Quando a data da última menstruação é desconhecida, mas se
conhece o período do mês em que ela ocorreu:
- Se o período foi no início, meio ou final do mês,
considerar como a data da última menstruação os dias 5, 15 e
25, respectivamente, e proceder, então, à utilização de um dos
métodos anteriormente descritos.
• Quando a data e o período da última menstruação são
desconhecidos:
- Medir a altura uterina e posicionar o valor encontrado na
curva de crescimento uterino;
- Verificar a IG correspondente a esse ponto. Considerar IG
muito duvidosa e assinalar com interrogação na ficha perinatal e
no cartão da gestante. A medida da altura uterina não é a melhor
forma de calcular a idade gestacional.

FIQUE ATENTO!
Nos casos descritos acima é imprescindível a solicitação da
ultrassonografia.

29
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Veja alguns exemplos:


Data da última menstruação (DUM): 13/09/04
Data provável do parto (DPP): 20/06/05 (13+7=20/9 - 3 = 6)

Data da última menstruação (DUM): 20/09/04


Data provável do parto (DPP): 17/11/04 (10+7=17/2 - 9 =11)

Data da última menstruação (DUM): 27/02/04


Data provável do parto (DPP): 03/11/04 (27+7=34/34 - 31 = 03/1 + 9 - 1 = 11)

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília:

Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, 32).

ATENÇÃO: Nos casos em que não for possível estimar a IG


clinicamente, solicitar o exame de ultrassonografia obstétrica o
mais breve possível.

TOME NOTA:
A não realização de ultrassonografia durante a gestação não
constitui omissão, nem diminui a qualidade do pré-natal. As evidências
científicas atuais relacionam sua realização no início da gravidez com
uma melhor determinação da idade gestacional, detecção precoce de
gestações múltiplas e malformações fetais clinicamente não suspeitas. Os
possíveis benefícios sobre outros resultados permanecem ainda incertos.
Vale lembrar que em casos de indicação do exame ultrassonográfico
mais tardiamente na gestação, por alguma indicação específica
orientada por suspeita clínica, é notadamente válida como complemento
da avaliação da vitalidade fetal ou outras características. gestacionais ou
do feto. Além disso, está comprovado que, em gestações de alto risco,
a ultrassonografia com dopplervelocimetria possibilita a indicação de
intervenções que resultam na redução da morbimortalidade perinatal.

30
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

VAMOS PRATICAR?
Pesquise os 10 passos para o Pré-natal de Qualidade
na Atenção Básica e aponte, a partir desse conhecimento, as
potencialidades e fragilidades de sua equipe para uma assistência
de qualidade.

SAIBA MAIS!
Para saber mais sobre interpretação de resultados e
condutas a serem adotadas, acesse:
http://goo.gl/YvlVM5

• Data provável do parto


Consiste em estimar o período provável para o nascimento,
considerando a duração média da gestação normal de 40
semanas. Uma gestação normal pode durar entre 38 a 42 semanas
incompletas. Como verificar?
§ Com o disco (gestograma), colocar a seta sobre o dia e mês
correspondente ao primeiro dia da última menstruação
e observar a seta na data (dia e mês) indicada como data
provável do parto;
§ Regra de Näegele: somar sete dias ao primeiro dia da
última menstruação e subtrair três meses ao mês em que
ocorreu a última menstruação. Nos casos dos meses de
janeiro a março, adicionar nove meses em vez de subtrair
três. Caso o número de dias encontrado for maior do que
o número de dias do mês, passar os dias excedentes para
o mês seguinte, adicionando 1 ao final do cálculo do mês.

31
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

• Medida da altura uterina


É a mensuração do espaço que vai da borda superior da
sínfise púbica até ao fundo uterino, com o objetivo de identificar o
crescimento normal do feto, detectar seus desvios e diagnosticar
as causas do desvio de crescimento fetal encontrado e orientar
oportunamente para as condutas adequadas a cada caso.
Figura 1 – Medida da altura uterina.

Figura 1 – Medida da altura uterina

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e

humanizada: manual técnico. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2006.

• Palpação obstétrica
Procedimento realizado com a finalidade de avaliar a
situação e a apresentação fetal, procurando identificar os polos
cefálico ou pélvico, o dorso fetal, o grau de encaixamento e o local
de ausculta do foco máximo do Batimento Cardíaco Fetal (BCF).
O feto poderá estar em situação longitudinal - a mais comum -
ou transversa. As apresentações mais frequentes são as cefálicas
e pélvicas. A situação transversa e a apresentação pélvica, ao
final da gravidez, podem significar maiores cuidados no parto.
Deverão ser orientados exercícios para favorecer a mudança da
apresentação. São etapas da ação:

32
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

1º tempo: palpação do fundo uterino, buscando seus


limites;
2º tempo: palpação da região lateral do abdômen,
buscando identificar as partes fetais e do dorso do feto;
3° tempo: determinação do polo que se apresenta ao canal
de parto;
4º tempo: determinação do grau de penetração deste polo
no estreito superior da bacia (BRASIL, 2006).

• Ausculta dos Batimentos Cardíacos Fetais (BCF)


A ausculta dos batimentos cardíacos do feto pode ser
realizada com estetoscópio de Pinard (após 20 semanas), ou
Sonar Doppler (após 12 semanas). O objetivo é constatar a cada
consulta, a qualidade do BCF, por meio da avaliação de seu ritmo
e frequência. É considerada normal a frequência cardíaca fetal
entre 120 a 160 batimentos por minuto.

• Verificação da presença de edema


É a constatação da presença anormal de líquidos nos
tecidos, com o objetivo de detectar precocemente a ocorrência
do edema patológico. A presença de edema ocorre em 80% das
gestantes e ele é pouco sensível e específico para o diagnóstico de
pré-eclâmpsia.

SAIBA MAIS!
Para mais informações sobre procedimentos técnicos,
acesse:
http://goo.gl/J46ed0

33
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

• Identificação, monitoramento e acompanhamento de fatores


de risco na gestação
É indispensável que a avaliação do risco seja permanente,
ou seja, aconteça em toda consulta. Em contrapartida, quando são
identificados fatores associados a um pior prognóstico materno
e perinatal, a gravidez é definida como de alto risco, passando a
exigir avaliações mais frequentes, muitas vezes fazendo-se uso
de procedimentos com maior densidade tecnológica (BRASIL,
2011).
O Ministério da Saúde determina que questões sociais,
antecedentes reprodutivos, doenças obstétricas na gestão
atual e intercorrências clínicas podem ser fatores de risco para
a progressão da gestação de forma saudável (BRASIL, 2006).
Descrevem-se abaixo os fatores de risco clássicos, divididos em
blocos:

Idade menor que 17 e maior que 35 anos;


Ocupação: esforço físico, carga horária, rotatividade de
horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos,
estresse;
Situação conjugal insegura;
Características
Baixa escolaridade (menos de cinco anos);
individuais e condições
sociodemográficas Renda familiar baixa;
desfavoráveis Condições ambientais desfavoráveis;
Altura menor que 1,45 m;
Peso menor que 45 kg e maior que 75 kg;
Dependência de drogas lícitas ou ilícitas;
Condições psicológicas alteradas.

34
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Morte perinatal explicada e inexplicada;


Recém-nascido com crescimento retardado, pré-termo ou
mal-formado;
Abortamento habitual;
História reprodutiva Esterilidade/ infertilidade;
anterior Intervalo interpartal menor que dois anos ou maior que
cinco anos;
Nuliparidade e multiparidade;
Síndrome hemorrágica ou hipertensiva;
Cirurgia uterina anterior.

Desvio quanto ao crescimento uterino, número de fetos e


volume de líquido amniótico;
Trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada;
Ganho ponderal inadequado;
Doença obstétrica na Pré-eclâmpsia – eclampsia;
gravidez atual
Amniorrexe prematura;
Hemorragias da gestação;
Isoimunização;
Óbito fetal.

Doenças infecciosas e autoimunes; cardiopatias; pneumo-


Intercorrências clínicas patias; nefropatias; endocrinopatias;hemopatias; hiper-
tensão arterial; epilepsia; ginecopatias.

Segundo orientações do Ministério da Saúde, a


caracterização de uma situação de risco, contudo, não
implica necessariamente referência imediata da gestante para
acompanhamento em pré-natal de alto risco. As situações que
envolvem fatores clínicos mais relevantes (risco real) e/ou fatores
evitáveis que demandem intervenções com maior densidade
tecnológica devem ser necessariamente referenciadas, podendo,
contudo, retornar ao nível primário, quando se considerar a
situação resolvida e/ou a intervenção já realizada. De qualquer
maneira, a Unidade Básica de Saúde deve continuar responsável
pelo seguimento da gestante encaminhada a um diferente serviço

35
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

de saúde (BRASIL, 2012). No quadro abaixo, é possível verificar os


fatores de risco que de fato demandem acompanhamento por um
serviço de alto risco (BRASIL, 2011a):

Quadro 1 – Fatores de risco que demandam acompanhamento.


Fatores relacionados às condições prévias à gestação
• Cardiopatias, pneumopatias graves (incluindo asma brônquica), nefropatias graves
(como insuficiência renal crônica e em casos de transplantados) e endocrinopatias
(especialmente diabetes mellitus, hipotireoidismo e hipertireoidismo);
• Doenças hematológicas (inclusive doença falciforme e talassemia);
• Hipertensão arterial crônica e/ou caso de paciente que faça uso de anti-hipertensivo
(PA>140/90mmHg antes de 20 semanas de idade gestacional – IG);
• Doenças neurológicas (como epilepsia);
• Doenças psiquiátricas que necessitam de acompanhamento (psicoses, depressão
grave, etc.);
• Doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico, outras colagenoses);
• Alterações genéticas maternas;
• Antecedente de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar;
• Ginecopatias (malformação uterina, miomatose, tumores anexiais e outras);
• Portadoras de doenças infecciosas como hepatites, toxoplasmose, infecção pelo HIV,
sífilis terciária (USG com malformação fetal) e outras DSTs (condiloma);
• Hanseníase; tuberculose;
• Dependência de drogas lícitas ou ilícitas.

Fatores relacionados à história reprodutiva anterior


• Morte intrauterina ou perinatal em gestação anterior, principalmente se for de causa
desconhecida;
• História prévia de doença hipertensiva da gestação, com mau resultado obstétrico e/
ou perinatal (interrupção prematura da gestação, morte fetal intrauterina, síndrome
Hellp, eclâmpsia, internação da mãe em UTI);
• Abortamento habitual;
• Esterilidade/infertilidade.

36
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Fatores relacionados à gravidez atual


• Restrição do crescimento intrauterino;
• Polidrâmnio ou oligoidrâmnio;
• Gemelaridade;
• Malformações fetais ou arritmia fetal;
• Distúrbios hipertensivos da gestação (hipertensão crônica preexistente, hipertensão
gestacional ou transitória);
• Infecção urinária de repetição ou dois ou mais episódios de pielonefrite (toda
gestante com pielonefrite deve ser inicialmente encaminhada ao hospital de
referência, para avaliação);
• Anemia grave ou não responsiva a 30-60 dias de tratamento com sulfato ferroso;
• Portadoras de doenças infecciosas como hepatites, toxoplasmose, infecção pelo HIV,
sífilis terciária (USG com malformação fetal) e outras DSTs (condiloma);
• Infecções como a rubéola e a citomegalovirose adquiridas na gestação atual;
• Evidência laboratorial de proteinúria;
• Diabetes mellitus gestacional;
• Desnutrição materna severa;
• Obesidade mórbida ou baixo peso (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante para
avaliação nutricional);
• NIC III (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante ao oncologista);
• Alta suspeita clínica de câncer de mama ou mamografia com Bi-rads III ou mais
(nestes casos, deve-se encaminhar a gestante ao oncologista);
• Adolescentes com fatores de risco psicossocial.

No tocante ao monitoramento, vale destacar que o


SISPRENATAL é o sistema de monitoramento e avaliação da
atenção ao pré-natal e ao puerpério prestadas pelos serviços
de saúde a cada gestante e recém-nascido, desde o primeiro
atendimento na unidade básica de saúde até o atendimento
hospitalar de alto risco. O sistema contribui, ainda, para
identificação de fatores que caracterizam a gravidez de risco,
com o objetivo de promover a segurança da saúde da mãe e da
criança, e possibilita a prevenção das complicações identificadas
como principais causas de morbidade e mortalidade materna e
perinatal (BRASIL, 2013).

37
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

O SISPRENATAL é a base de dados oficial para a concessão


do benefício às gestantes e a CAIXA é o agente pagador do
Programa REDE CEGONHA no que consiste às transferências
diretas de valores às beneficiárias gestantes, objetivando apoio
nos deslocamentos para as consultas de pré-natal e para o local
onde será realizado o parto, em conformidade com a Portaria GM/
MS nº 68 de 11 de janeiro de 2012.

VALE LEMBRAR!
O acesso ao sistema SISPRENATAL WEB é feito pelo
endereço eletrônico www.saude.gov.br/sisprenatal

• Imunização na gestante
A vacinação no período gestacional poderia ser uma ação
de proteção para a saúde das gestantes e dos bebês, evitando
algumas destas doenças através de vacinação. Em determinadas
situações, a vacinação de gestantes beneficiaria não apenas a
mãe, mas também protegeria seu filho por meio da passagem
de anticorpos pela placenta, pelo colostro e leite materno
(BRICKS, 2006). Todavia, somente alguns imunobiológicos são
recomendados para mulheres grávidas, devido ao temor de que
as vacinas possam causar danos à gestante e ao feto.
A administração em gestantes de vacinas de vírus
inativados, de vírus e bactérias mortas, e de vacinas constituídas
por componentes de agentes infecciosos não é evidenciada na
literatura como possível de acarretar qualquer risco para o feto.
Entretanto, as ‘vacinas vivas’, tais como contra sarampo, rubéola,
caxumba, febre amarela e BCG, são contraindicadas, exceto em
situações onde o risco de adoecimento sobrepuja o risco teórico

38
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

vacinal (FUNASA, 2001). Vacinas inativas são seguras e podem ser


utilizadas, quando necessário, nas gestantes, como por exemplo:
difteria, tétano, influenza, hepatite B e outras.
No quadro abaixo, foram sumarizadas as orientações
vacinais para gestantes:
Quadro 2 – Orientações vacinais para gestantes.

VACINAÇÃO DE GESTANTES1,2
Vacinas recomendadas Vacinas indicadas em Vacinas em Vacinas contraindicadas
rotineiramente situações especiais investigação

dT Pólio (oral ou inativada) Pneumocócica Sarampo


conjugada
Influenza Pneumocócica Caxumba
polissacarídea (Pn23) Meningocócica
conjugada Rubéola
Meningocócica
polissacarídea Pertussis acelular Varicela

Febre amarela VSR BCG

Coqueluche Estreptococo grupo B

Hepatite A Parainfluenza 3

Hepatite B Herpes simplex

Raiva Vacina atenuada contra


influenza
Encefalite Japonesa

Fonte: http://www.vacinapromatre.com.br/pdf/vacinacao_gestantes.pdf

Segundo orientações da Associação Brasileira


de Imunizações (2010) contidas no Calendário
de vacinação da mulher, deve-se evitar a
aplicação de vacinas no primeiro trimestre
de gravidez. Vacinas de vírus vivos (tríplice
viral, varicela e febre amarela), se possível
e de preferência, devem ser aplicadas pelo
menos um mês antes do início da gravidez e
nunca durante a gestação.

39
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

A imunização das gestantes faz parte do acompanhamento


do pré-natal e deve fazer parte da rotina desse serviço nas UBS.
Muitas vezes nos deparamos com gestantes em situações de risco
para algumas doenças e que necessitam ser imunizadas. Vale
ressaltar que o puerpério é excelente momento para atualização
do calendário vacinal da mulher, propiciando imunidade contra
várias doenças imunopreveníveis.

VAMOS PRATICAR?
Como está a situação do calendário
vacinal das gestantes de sua área adscrita?
Já ocorreu alguma situação especial em que
houve necessidade de recomendar uma
vacina não frequentemente indicada na
gestação? Como é feito o rastreamento das
faltosas?

40
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

A seguir, você pode visualizar mais um quadro sobre a


imunização na gestação, segundo recomendações da Associação
Brasileira de Imunizações (2010), que inclui informações mais
detalhadas:
Quadro 3 – Imunização na gestação.
V a c ina E s q u em a s Indicação
Não gestante Gestante Puérpera
A vacina HPV deve ser indicada somente para o
sexo feminino, para a prevenção de infecções por
papilomavírus. A vacina do laboratório MSD (com
antígenos dos sorotipos 6, 11, 16 e 18), é indicada
HPV (1) para idades entre nove a 26 anos, em três doses SIM Contraindicada SIM
(esquema 0-2-6 meses). A vacina do laboratório
GSK (com antígenos dos sorotipos 16 e 18 e o
adjuvante AS04), é indicada para idades entre dez
a 25 anos, em três doses (esquema 0-1-6 meses).
Uma ou duas doses (com intervalo mínimo de 30
Tríplice viral dias) para mulheres com até 49 anos de idade, de
(sarampo, acordo com histórico vacinal, de forma que todas Contraindicada
SIM SIM
caxumba recebam no mínimo duas doses na vida. (1)
e rubéola) Dose única para mulheres com mais de 49 anos de
idade.
Hepatite A: duas doses, no esquema 0-6 meses. A ser considerada
SIM em situações de SIM
riscos especiais
Hepatite B: três doses, no esquema 0-1-6 meses. SIM Recomendada SIM
Hepatites A, B Hepatite A e B: três doses, no esquema 0-1-6
ou A e B (2) meses. A vacinação
A ser considerada
combinada contra as hepatites A e B é uma opção e
SIM em situações de SIM
pode
riscos especiais
substituir a vacinação isolada contras as hepatites A
e B.
Com esquema de vacinação básica completo:
reforço com dTpa (tríplice bacteriana acelular do
tipo adulto)
e, posteriormente, uma dose de dT (dupla
bacteriana do tipo adulto), de dez em dez anos. Vacina dT –
Vacinas Com esquema de vacinação básica incompleto: recomendada
contra difteria, uma dose de dTpa, seguida por duas doses de dT Vacina dTpa – a
SIM SIM
tétano e para ser considerada
coqueluche (3) completar o esquema 0-2-6 meses. em situações de
Durante a gestação: para a gestante, mesmo que riscos especiais
esteja com o esquema de vacinação contra o tétano
em dia, mas que tenha recebido a última dose há
mais de cinco anos: uma dose
de dT (vacina dupla bacteriana do tipo adulto).
Varicela A partir dos 13 anos de idade: duas doses com
SIM Contraindicada (1) SIM
(catapora) intervalo de dois meses.
Influenza (gripe) Dose única anual.
SIM Recomendada SIM
(4)
Uma dose (que deverá ser repetida de dez em dez Em geral
anos) para quem vive ou vai se deslocar para áreas contraindicada.
endêmicas. Deve ser
considerada em
Febre amarela
SIM situações em que SIM
(5)
o risco
da doença supere
o risco
da vacina
Dose única. A ser considerada
em
Meningocócica
SIM situações de SIM
C conjugada (6)
riscos
especiais

41
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

SAIBA MAIS:
Leia a publicação: Imunização na gestação e puerpério.
Disponível em: http://www2.ghc.com.br/GepNet/publicacoes/
atencaosaudedagestante.pdf

2.4 - Atividades de educação em saúde


O período pré-natal é uma ocasião
de preparação física e psicológica para o
parto e para a maternidade e, como tal, é
um momento de intenso aprendizado e
uma oportunidade para os profissionais da
equipe de saúde desenvolverem a educação
como dimensão do processo de cuidar
(XIMENES NETO, 2008).
Dessa forma, a assistência pré-natal não
deve se restringir às ações clínico-obstétricas,
mas incluir as ações de educação em saúde na rotina da atenção
integral, assim como aspectos antropológicos, sociais, econômicos
e culturais, que devem ser conhecidos pelos profissionais que
assistem as mulheres grávidas, buscando entendê-las no contexto
em que vivem, agem e reagem (MAZZINI et al., 2008).
Informações sobre as diferentes vivências devem ser
trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde. Essa
possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos
é considerada a melhor forma de promover a compreensão do
processo de gestação (BRASIL, 2006). Para isto, podem-se realizar
grupos de gestantes com a participação do casal e família, no
intuito de trabalhar as questões que envolvem todo o período de
gestação, parto e puerpério. Além disso, é sempre bom lembrar-
se dos familiares e acompanhantes.

42
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

No contexto das UBS, as atividades de educação em saúde


são de responsabilidade de toda a equipe da Estratégia Saúde da
Família. Durante o pré-natal, a mulher e a família devem receber
informações sobre os seguintes temas (BRASIL, 2006):
Importância do pré-natal;
Cuidados de higiene;
Realização de atividade física;
Preparação corporal e emocional para que a mulher possa
vivenciar a gravidez com prazer, permitindo-lhe desfrutar
plenamente seu parto;
Nutrição;
Desenvolvimento da gestação;
Modificações corporais e emocionais;
Medos e fantasias referentes à gestação e ao parto;
Atividade sexual;
Sintomas comuns na gravidez e orientações para as queixas mais
frequentes;
Sinais de alerta e o que fazer nessas situações;
Preparo para o parto;
Sinais e sintomas do parto;
Plano de parto considerando local, transporte, recursos
necessários para o parto e para o recém-nascido, apoio familiar
e social;
Orientações e incentivo para o parto normal, resgatando-se a
gestação, o parto, o puerpério e o aleitamento materno como
processos fisiológicos;
Incentivar o protagonismo da mulher, potencializando sua
capacidade inata de dar à luz;
Orientação e incentivo para o aleitamento materno.
Outras informações sobre educação em saúde voltadas
para o pré-natal também se fazem necessárias na medida em que
a mulher e a família são consideradas partes indispensáveis nesse
processo:

43
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Importância do planejamento familiar num contexto de escolha


informada, com incentivo à dupla proteção;
Cuidados após o parto com a mulher e o recém-nascido,
estimulando o retorno ao serviço de saúde;
Direitos da gestante: elas deverão ser orientadas como proceder
para obter a licença e salário maternidade; nesse caso, a parceria
com outros setores é indispensável;
Impacto e agravos das condições de trabalho sobre a gestação, o
parto e o puerpério;
Importância da participação do pai durante a gestação e o parto
para o desenvolvimento do vínculo entre pai e filho, fundamental
para o desenvolvimento saudável da criança;
O direito a acompanhante de sua escolha durante o trabalho de
parto, no parto e no pós-parto, garantido pela Lei Nº 11.108, de
7/4/2005;
Gravidez na adolescência e dificuldades sociais e familiares;
Importância das consultas puerperais;
Cuidados com o recém-nascido;
Importância da realização da triagem neonatal (teste do pezinho)
na primeira semana de vida do recém-nascido;
Importância do acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento da criança e das medidas preventivas
(vacinação, higiene e saneamento do meio ambiente) (BRASIL,
2006).

As atividades educativas para as gestantes, seus familiares


e rede de apoio, devem ser orientadas por um referencial
pedagógico voltado para o autocuidado e a sua problematização.
Deve-se evitar as atividades tipo “palestra”, que colocam o
profissional como responsável por dissertar todas as respostas
às questões das gestantes (BRASIL, 2011). Os profissionais devem
fazer um movimento participativo em que eles terão um papel

44
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

de mediador das realidades e experiências trazidas pelas


participantes. Em outras palavras, o grupo (tanto os técnicos
como as gestantes e sua família) vai construir suas perguntas e
respostas.

REFLITA COMIGO!
Você consegue identificar todos
os itens acima nas ações de educação
em saúde planejadas pela equipe
de saúde onde você atua? Em caso
negativo, o que fazer para que as ações
contemplem os itens acima?

2.5 - Preparo das mamas para aleitamento


Parte importante do pré-natal refere-se à preparação para o
aleitamento materno adequado. Nas atividades de educação em
saúde, por exemplo, uma das temáticas que deve ser abordada
fundamentalmente, refere-se à importância do aleitamento
materno. Veja as inúmeras vantagens sumarizadas no quadro
abaixo (DUNCAN; SCHMIDT; GIUGLIANI, 2006):
Quadro 4 – Vantagens do aleitamento materno.

45
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho;


Favorecimento da involução uterina;
Para a mãe: Contribui para o retorno do peso normal;
Contribui para o aumento dos intervalos entre os partos;
Previne osteoporose;
Reduz risco para câncer de mama.

Fortalecimento do vínculo afetivo;


Alimento mais completo;
Facilita a eliminação de mecônio e diminui incidência de icterícia
Para o bebê: no RN;
Protege contra infecções, diminui riscos para alergias, diarreias,
asma, bronquiolite, obesidade infantil;
Ocasiona um melhor desenvolvimento cognitivo e melhor
desenvolvimento motor-oral (mastigação, deglutição, fala,
respiração);
Reduz hospitalizações, doenças em geral e óbitos.

Para a família e O leite é limpo, pronto, na temperatura certa e gratuito;


sociedade: Diminui as internações hospitalares e seus custos.

O aleitamento materno é a primeira experiência nutricional


da criança, dando continuidade à nutrição iniciada na vida
intrauterina. A amamentação é um momento precioso para que
haja um fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê, promovendo
uma melhor qualidade de vida à criança no primeiro ano de sua
vida.
Apesar da excelência do leite humano, o desmame
precoce é muito frequente. No Brasil, a mediana de aleitamento
predominante foi de 72 dias. A região Nordeste apresentou a mais
baixa mediana de aleitamento materno, com 41 dias (BRASIL,
2009). A educação e o preparo das mulheres para a lactação
durante o período pré-natal comprovadamente contribui para o
sucesso do aleitamento materno.
SAIBA MAIS:

46
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Você terá mais informações sobre o


aleitamento materno em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/saude_crianca_nutricao_
aleitamento_alimentacao.pdf

É fundamental que durante as atividades educativas,


posições adequadas para o aleitamento sejam orientadas e
até mesmo treinadas, para maior segurança e conforto à mãe,
conforme abaixo descrito (BRASIL, 2009a):
“A mãe pode estar sentada, deitada ou em pé. O bebê pode
permanecer sentado, deitado ou até em posição invertida”,

47
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

conforme ilustra a figura abaixo. O fundamental é que ambos


estejam confortáveis e relaxados.

Figura 2 – Posições adequadas para o aleitamento materno.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde da


criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar.

Brasília: Ministério da Saúde, 2009a.

Deitada:
- Ela pode deitar-se de lado, apoiando a cabeça e as costas em
travesseiros. O bebê deverá permanecer também deitado de lado,
proporcionando o contato abdome/abdome. Os ombros do bebê
devem ser apoiados com os braços da mãe para manter a posição
adequada.
- A mulher pode ainda deitar-se em decúbito dorsal (posição
útil para as primeiras horas pós-cesariana ou para aquela mulher
que tem excedente lácteo muito grande). A criança deve ficar
deitada em decúbito ventral, em cima da mãe.
Sentada:
- A mulher deve permanecer com as costas apoiadas na
cadeira ou cabeceira da cama. Ela pode cruzar as pernas ou ainda

48
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

usar travesseiros sobre as coxas. Colocar os pés em um pequeno


banco para dar mais apoio, pode ser útil.
- A criança pode ficar deitada, em posição invertida ou sentada
(posição muito utilizada em situações especiais, como crianças
prematuras, fissuradas ou sindrômicas).

• Preparando as mamas para o aleitamento:


§ Avalie as mamas na consulta de pré-natal;
§ Oriente a gestante a usar sutiã durante a gestação;
§ Recomende banhos de sol nas mamas por 15 minutos (até
as 10 horas da manhã ou após as 16 horas) ou banhos de luz com
lâmpadas de 40 watts, a cerca de um palmo de distância;
§ Esclareça que deve ser evitado o uso de sabões, cremes ou
pomadas no mamilo;
§ Oriente que é contraindicada a expressão do peito (ou
ordenha) durante a gestação para a retirada do colostro.
Na oportunidade, orientações sobre a extração do leite
(ordenha) devem ser oferecidas e repetidas no puerpério.

• Como retirar o leite do peito?


§ Prender os cabelos e usar uma touca de banho ou pano
amarrado;
§ Proteger a boca e o nariz com pano ou fralda;
§ Escolher um lugar limpo e tranquilo;
§ Preparar uma vasilha (de preferência um frasco com
tampa plástica) fervida por 15 minutos;
§ Massagear o peito com a ponta de dois dedos, iniciando
na região mais próxima da aréola, indo até a mais distante do
peito, apoiando o peito com a outra mão;
§ Massagear por mais tempo as áreas mais doloridas;

49
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

§ Apoiar a ponta dos dedos (polegar e indicador) acima e


abaixo da aréola, comprimindo o peito contra o tórax;
§ Comprimir com movimentos rítmicos, como se tentasse
aproximar as pontas dos dedos, sem deslizar na pele;
§ Desprezar os primeiros jatos e guardar o restante no
recipiente.

Figura 3 – Título.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde da


criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar.
Brasília: Ministério da Saúde, 2009a.

LEMBRETE:
São raras as situações, tanto maternas quanto neonatais,
que contraindicam a amamentação. Entre as causas maternas,
encontram-se as mulheres com câncer de mama que foram
tratadas ou estão em tratamento, mulheres HIV+ (só podem dar
o próprio leite se este for pasteurizado), mulheres com distúrbios
da consciência ou comportamento grave, entre outras. Os
impedimentos neonatais incluem: alterações da consciência da

50
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

criança de qualquer natureza, baixo peso com imaturidade para


sucção ou deglutição (dar leite materno por sonda orogástrica)
e fenda palatina que impossibilite o ato de sugar (oferecer leite
materno ordenhado).

2.6 - Visita domiciliar


A visita domiciliar (VD) é uma importante ferramenta de
trabalho para as equipes de Atenção Básica, especialmente ao
ACS. É um momento privilegiado de encontro entre o serviço
de saúde e a família. Implica em conhecer o mundo cultural da
comunidade, as relações e as complexidades que existem no
ambiente familiar. Este conhecimento vai desde as condições
socioeconômicas até as relações afetivas que se estabelecem nas
famílias (BRASIL, 2012).
O ACS é fundamental na identificação das gestantes
na área. Deverá estar atento na comunidade onde circula,
identificando gestantes no território. Necessitará questionar se a
gestante está em acompanhamento pré-natal; caso ela não esteja,
informá-la corretamente sobre como acessar o atendimento de
pré-natal na unidade de saúde e esclarecer sobre sua importância,
tanto para a mulher quanto para o bebê. Em seguida, comunicar à
equipe na UBS. É recomendável que o ACS realize uma nova visita
domiciliar já informando à gestante data e o horário da consulta
agendada na UBS (BRASIL, 2011).

Os objetivos de visitar as gestantes são:


• Identificar se há necessidade de algum auxílio para um adequado
acompanhamento;
• Avaliar se o pré-natal está sendo seguido, procurar entender os

51
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

motivos de uma possível falta de adesão às consultas ou realização


de exames;
• Auxiliar no fortalecimento do vínculo da família com o serviço de
saúde, ampliando desta forma a sua rede de apoio social.

No puerpério, o Ministério da Saúde recomenda uma visita


domiciliar na primeira semana, após a alta do bebê. Caso o recém-
nascido tenha sido classificado como de risco, a visita deverá
acontecer preferencialmente nos primeiros três dias após a alta.
O retorno da mulher e do recém-nascido ao serviço de saúde e
uma visita domiciliar, entre 7 a 10 dias após o parto, devem ser
incentivados desde o pré-natal, na maternidade e pelos agentes
comunitários de saúde na visita domiciliar (BRASIL, 2012).

Os objetivos de visitar as puérperas são:


• Avaliar o estado de saúde da mulher e do recém-nascido;
• Orientar e apoiar a família para a amamentação;
• Orientar os cuidados básicos com o recém-nascido;
• Avaliar a interação da mãe com o recém-nascido;
• Identificar situações de risco ou intercorrências e conduzi-las;
• Orientar o planejamento familiar;
• Agendar consulta de puerpério até 42 dias após o parto (BRASIL,
2012).

2.7 - Preparo para parto e nascimento humanizado


A humanização da assistência
em saúde surge como uma opção para
modificar o cenário existente no SUS, que
demanda mudanças nos diversos estágios
que o compõem, a exemplo da dificuldade

52
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

no acesso e da falta de qualidade nos serviços de saúde (BRASIL,


2011b).
Humanizar significa proporcionar um atendimento de
qualidade à população, articulando tecnologia com acolhimento
e ainda preocupar-se com as condições de trabalho dos
profissionais, o que resultou na Política Nacional de Humanização
da Atenção e Gestão no Sistema Único de Saúde (Humaniza SUS),
no ano de 2004, iniciativa criada para operar em toda rede do
sistema (BRASIL, 2009b).
Sabe-se que a atenção obstétrica e neonatal devem pleitear
características essenciais, como qualidade e a humanização do
serviço, que poderão ser materializadas através da incorporação
de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias, fácil
acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações que integrem
todos os níveis da atenção (BRASIL, 2006).
Conforme recomendações do Ministério da Saúde, para a
humanização do parto é fundamental uma adequada preparação
da gestante para o momento do trabalho de parto e o nascimento
do seu filho. Esta preparação envolve um acolhimento à mulher
e seu companheiro no serviço de saúde, fornecimento de
informações pertinentes, preparo físico e psíquico da mulher.
Além disso, deve incluir, também, um conjunto de cuidados
e atividades que tenham por objetivo oferecer à mulher a
possibilidade de vivenciar o trabalho de parto e o parto, como
verdadeira protagonista do processo (BRASIL, 2000).
A sistematização dessa assistência adequada tem seu ponto
de partida em 2011, pois, para reforçar a política de humanização
da assistência à saúde da mulher, é criada a Rede Cegonha,
uma rede de cuidados que assegura às mulheres o direito ao
planejamento reprodutivo, à atenção humanizada, à gravidez,

53
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

parto e puerpério e às crianças, o direito ao nascimento seguro,


crescimento e desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011b).

O acolhimento é elemento
importante para a qualidade e
humanização da atenção. Por acolher,
entenda-se o conjunto de medidas,
posturas e atitudes dos (as) profissionais
de saúde que garantam credibilidade e
consideração à situação de violência.
A humanização dos serviços demanda
um ambiente acolhedor e de respeito
à diversidade, livres de quaisquer
julgamentos morais.

Os profissionais de saúde são de suma importância no


processo da humanização do parto e nascimento e da assistência
em geral. Uma discussão profunda a respeito da reformulação do
modelo de assistência ao parto e nascimento se faz necessária
para reduzir o cunho intervencionista que este processo assumiu
(MALHEIROS et al., 2007). É necessário romper com o parto
institucionalizado ao qual muitos profissionais habituaram-
se, acabando por reproduzir técnicas sem comprovação de
benefícios pelas evidências científicas, em decorrência da
formação acadêmica recebida (BRASIL, 2004).

54
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

A Humanização compreende dois aspectos


fundamentais:

1. Convicção de que é dever das unidades de saúde receber com


Ç
dignidade a mulher, seus familiares e o recém-nascido. Isto requer atitude
ética e solidária por parte dos profissionais de saúde e a organização da
instituição de modo a criar um ambiente acolhedor e a instituir rotinas
hospitalares que rompam com o tradicional isolamento imposto à mulher;

2. Adoção de medidas e procedimentos sabidamente benéficos


para o acompanhamento do parto e do nascimento, evitando práticas
intervencionistas desnecessárias, que embora tradicionalmente realizadas,
não beneficiem a mulher nem o recém-nascido e que, com frequência
acarretam maiores riscos para ambos (BRASIL, 2004).

Vale ressaltar que durante as atividades de educação em


saúde, orientações sobre o parto, assim como sobre o puerpério,
devem ser ofertadas, a fim de esclarecer as futuras mães sobre
principais sinais, condutas e como proceder em cada uma das
fases.

LEMBRE-SE:
Os profissionais de saúde devem amplamente incentivar
o parto natural, pois os benefícios são inúmeros, tanto para a
mãe, como para seu bebê. Os benefícios vão desde uma melhor
recuperação da mulher e redução dos riscos de infecção hospitalar
até uma incidência menor de desconforto respiratório do bebê.

55
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Figura 4 – Parto seguro.

Fonte: http://www.materiasespeciais.com.br/saude/info_parto_seguro.jpg

56
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

2.7 - A Estratégia Saúde da Família nas ações de saúde materna


Para toda e qualquer atividade na Atenção Básica se faz
necessário o planejamento de atividades. Na equipe de Saúde da
Família, isso não é diferente. Planejar não significa improvisar.
O planejamento refere-se a uma preparação e organização
sistemática do que se irá fazer, onde se deve acompanhar sua
execução, reformular decisões já adotadas, redirecionar sua
execução, se necessário, e avaliar o resultado durante todo o
processo e ao final. Na equipe da ESF, o planejamento deve ser
uma atitude permanente e não apenas pontual.
Em relação às ações de saúde, o planejamento participativo
mostra-se mais adequado, uma vez que envolve diversos atores.
Dessa forma, planejar é condição necessária para que as ações
possam ser desenvolvidas de forma mais qualificada, gerando
benefícios efetivos à população. Vale ressaltar que um dos
princípios do planejamento participativo refere-se à flexibilidade
que permite a reformulação das ações planejadas durante sua
execução.
Entendendo que esta unidade fomentará ações de
planejamento, sejam elas individuais e/ou coletivas, provocará
a construção de protocolos, diretrizes e linhas de cuidados para
sua atuação na unidade, é importante recordar as etapas de um
planejamento efetivo:

Diagnóstico

Elaboração de plano de ação

Execução

Acompanhamento e avaliação*

* Deve estar presente transversalmente nos demais momentos.

57
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

VALE LEMBRAR:
A Atenção Pré-natal deve ser prestada pela equipe
multiprofissional de saúde. As consultas de pré-natal e puerpério
podem ser realizadas pelo profissional médico ou de Enfermagem.
De acordo com a Lei de Exercício Profissional de Enfermagem
– Decreto Nº 94.406/87 -, o pré-natal de baixo risco pode ser
acompanhado pelo (a) enfermeiro (a).

O processo de trabalho das ESF é caracterizado, dentre


outros fatores, pelo trabalho interdisciplinar e em equipe, pela
valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de
uma abordagem integral e resolutiva e pelo acompanhamento
e avaliação sistemática das ações implementadas, visando à
readequação do processo de trabalho, independente da área
estratégica de atuação em questão.

• Sugestões de atividades que devem ser realizadas pela equipe


da ESF
- Grupo de casais grávidos;
- Grupos para melhor idade;
- Reuniões com a comunidade sobre Planejamento
Familiar;
- Sistematização da oferta de métodos contraceptivos
juntos aos usuários;
- Atividades permanentes de agendamento e realização
da coleta do Papanicolau e exame físico das mamas.

58
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

• Atenção para o calendário de datas importantes relacionadas


à saúde da mulher
Março 08 - Dia Internacional da Mulher

Abril 30 - Dia Nacional da Mulher

Maio 28 - Dia de Enfrentamento à Mortalidade Materna

Setembro 06 - Dia Internacional de Ação pela Igualdade da Mulher


23 - Dia Internacional contra a exploração sexual e o tráfico de
mulheres e meninas
26 - Dia Mundial de Prevenção à Gravidez na Adolescência

Novembro 25 - Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher

Desejamos que estes elementos, seguidos da construção


do seu estudo e planejamento possam trazer subsídios
importantes para sua prática, de modo, que você e toda a equipe
multiprofissional continuem atuando como ativadores do
processo de organização da assis­tência integral à saúde materna,
instrumentalizados por linhas de cuidados e protocolos aqui
discutidos e fomentados.
PARA MAIS INFORMAÇÕES, Leia:
COELHO, Suelene; PORTO, Yula Franco. Saúde da mulher. Belo
Horizonte: Nescon, UFMG, Coopmed, 2009.
ASSISTA AO VÍDEO da Especialização em Saúde da
Família a Distancia/UNASUS/UFSC: “Assistência e processo de
trabalho na ESF – Módulo Saúde da Mulher.
Disponível em: http://w w w.youtube.com/
watch?v=3nsuQv067KE

59
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

VAMOS PRATICAR?
Que tal fazer um fichamento final sobre a atenção à gestante
em sua UBS?
ü O cartão da gestante está sendo preenchido a cada atendimento
em sua unidade?
ü Como é realizado o acolhimento das gestantes que estão sob a
responsabilidade de sua equipe?
ü Como você e sua equipe têm prestado assistência à gestante?
ü Quantas consultas estão sendo disponibilizadas para cada
gestante?
ü Como tem sido o acompanhamento da saúde bucal das
gestantes pela sua equipe?
ü Como sua equipe tem desenvolvido as atividades educativas
com as gestantes do seu território e/ou município?
ü Como está a situação dos sistemas de informação?

Ao final de sua coleta de dados, sistematize planejamento


e plano de ações na direção da construção de protocolos e linhas
de cuidados que deverão ser implementadas em sua unidade.

60
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Síntese da
Unidade

É inegável que nas últimas décadas as políticas voltadas


para garantia de direitos à mulher têm maior representatividade
na sociedade brasileira. Conhecer essas políticas é fundamental
para que o profissional da saúde possa atuar de forma integral no
que se refere à saúde materna.
Vimos que as ações previstas na Política Nacional de
Atenção Obstétrica e Neonatal poderão contribuir sobremaneira
para a redução da morbidade e da mortalidade femininas no
Brasil, especialmente por causas evitáveis, em todos os ciclos
da vida e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação
de qualquer espécie, na medida em que define diretrizes
para a Atenção Obstétrica e Neonatal em todos os níveis de
complexidade.
Nessa unidade trouxemos informações diversas sobre
a atenção ao pré-natal, iniciando pelo diagnóstico da gravidez,
em seguida contemplamos ações clínicas indispensáveis para

61
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

condução do pré-natal de baixo risco e finalizamos com a


abordagem da equipe de saúde nas ações coletivas e individuais,
com foco na importância de ações estratégicas e bem planejadas.

62
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Humaniza SUS: Política Nacional


de Humanização: a humanização como eixo norteador das
práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS.
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004.

_____. _____. _____. Manual prático para implementação da Rede


Cegonha. 2011b. 45f. Disponível em: http://www.saude.mt.gov.
br/arquivo/3062. Acesso em: 20 set. 2013.

_____. _____. _____. Guia de preenchimento do sistema de


monitoramento e Avaliação do pré-natal, parto, puerpério e
criança –Sisprenatal web. 2013. 32f. Disponível em: http://portal.
saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Guia_PREENCHIMENTO_
SISPRENATAL_WEB.pdf. Acesso em: 20 set. 2013.

_____. _____. _____. Portaria Nº 1.067/GM, de 4 de julho de 2005.


Institui a Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal,
e dá outras providências. 2005. Disponível em: http://dtr2001.
saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2005/GM/GM-1067.htm.
Acesso em: 18 jul. 2013.

_____. _____. _____. Política Nacional de Humanização da Atenção e


Gestão do SUS: o HumanizaSUS na Atenção Básica. Brasília, DF:
Ministério da Saúde, 2009b.
_____. _____. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, 32).

_____. _____. Grupo Hospitalar Conceição. Gerência de Saúde

63
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

Comunitária. Atenção à saúde da gestante em APS. Porto Alegre:


Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2011a.

_____. _____. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da


Mulher: princípios e diretrizes. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2011a.

_____. _____. Portaria Nº. 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no


âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS a Rede Cegonha. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 jun.
2011b. Seção 1.

_____. _____. Portaria Nº. 569, de 1 de junho de 2000. Dispõe sobre


o Programa de Humanização ao Pré-Natal e Nascimento no
âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 8 jun. 2000. Seção 1, p.4.

_____. _____. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e


humanizada: manual técnico. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2006.

_____. _____. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde da criança:


nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação
complementar. Brasília: Ministério da Saúde, 2009a.

AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Red book: 2006 report


of the Committe on Infectious Diseases. 27. ed. Elk Grove Village,
IL: American Academy of Pediatrics, 2006.

64
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário


de vacinação da mulher. 2010. Disponível em: <http://www.
sbim.org.br/wp-content/uploads/2013/06/mulher_calendarios-
sbim_2013-2014_130610.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2013.

BRASIL 2013

COELHO, Suelene; PORTO, Yula Franco. Saúde da mulher. Belo


Horizonte: Nescon, UFMG, Coopmed, 2009.

CONASS. Política de Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal:


nota técnica 25/2005. Brasília: CONASS, 2005. Disponível em:
<http://www.conass.gov.br>. Acesso em: 18 set. 2013.

DUNCAN, B.; SCHMIDT, M. I.; GIUGLIANI, E. Medicina


ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em
evidências. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

FREITAS, F. et al. Rotinas em obstetrícia. 6. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2011.

FUNASA. Manual de normas de vacinação. 3. ed. Brasília:


Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde, 2001.72f.

MALHEIROS, P. A. et al. Parto e nascimento: saberes e práticas


humanizadas. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v.21, n.2,
p. 329-37, abr./jun. 2012.

MAZZINI, M. L. H. et al. Mães adolescentes: a construção de sua


identidade materna. Cienc Cuid Saude, v.7, n.4, p.493-502, out./
dez. 2008.
65
Curso de capacitação em atenção integral
à saúde MATERNA: módulo 1/unidade 2

MELO, V. H.; RIO, A.M.P. Assistência pré-natal: parte I. Rev


Assoc Med Bras, v.53, n.5, p. 377-88, 2007.

SANTOS, E. K. A. Políticas públicas em saúde da mulher:


panorama atual, avanços e perspectivas. In: JORNADA
CATARINENSE DA MULHER ADVOGADA, 2., 2010, Santa
Catarina, 2010.

XIMENES NETO, Francisco Rosemiro Guimarães. Qualidade da


atenção ao pré-natal na Estratégia Saúde da Família em Sobral,
Ceará. Rev. bras. enferm. [online], v.61, n.5, p. 595-602, 2008.

Leitura complementar:

BRASIL. Política nacional de atenção integral à saúde da


mulher: plano de ação 2004-2007. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2004.

BRICKS, L. F. Vacinação na gestação. In: COUTO, J. C. F.;


ANDRADE, T. E. Infecções perinatais. São Paulo: Guanabara
Koogan, 2006. p.653-70.

COELHO, S.; FRANCO, Y. Saúde da mulher: apostila de


Especialização em Saúde da Família. UNASUS. Belo Horizonte:
Nescon, UFMG, 2013.

66

Você também pode gostar