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Programa Médicos pelo Brasil

EIXO 3 | CUIDADO A GRUPOS POPULACIONAIS ESPECÍFICOS


E SITUAÇÕES ESPECIAIS

MÓDULO 10

Saúde
do homem
Programa Médicos pelo Brasil
EIXO 3 | CUIDADO A GRUPOS POPULACIONAIS ESPECÍFICOS
E SITUAÇÕES ESPECIAIS

MÓDULO 10

Saúde do homem

Ministério da Saúde
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
2022
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Ministério da Saúde

Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)

Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS)

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Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Departamento de Saúde Pública (UFSC)

Universidade Aberta do SUS da Universidade Federal de Santa Catarina – (UNASUS-UFSC)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B823s

Brasil. Ministério da Saúde.


Saúde do homem [módulo 10] / Ministério da Saúde, Universidade Federal de
Santa Catarina. Brasília: Fundação Oswaldo Cruz, 2022.

Inclui referências.
112 p. : il., gráfs., tabs., organogs. (Programa Médicos pelo Brasil. Cuidado a
grupos populacionais específicos e situações especiais ; 3).

978-65-84901-05-6

1. Saúde do homem. 2. Saúde sexual e reprodutiva. 3. Acesso à saúde. 4. Sistema Único


de Saúde. 5. UNA-SUS. I. Título II. Universidade Federal de Santa Catarina. III. Série.
CDU 610

Bibliotecária: Juliana Araujo Gomes de Sousa | CRB1 3349


Ficha Técnica
© 2022. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz.
Universidade Federal de Santa Catarina.

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em parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos
Educacionais em Saúde (ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada a sua utilização comercial.

Referência bibliográfica
MINISTÉRIO DA SAÚDE. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Saúde do Homem
[módulo 10]. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Médicos pelo Brasil. Eixo 3: Cuidado a
Grupos Populacionais Específicos e Situações Especiais. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 112 p.

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Trilha de aprendizagem - UNA-SUS/UFSC


Deise Warmling
Sabrina Blasius Faust

Suporte de TI - UNA-SUS/UFSC
Tcharlies Dejandir Schmitz
Objetivo geral de aprendizagem
do módulo
O profissional estudante, ao completar os estudos deste módulo, deverá ser
capaz de reconhecer a Saúde do Homem como uma das ações programáticas da
Atenção Primária à Saúde (APS), problematizando as condições de atenção à
saúde dos homens e suas particularidades na sua área adscrita e propondo
ações ancoradas nas diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
do Homem (PNAISH).

Objetivo de ensino do módulo


Este módulo abordará aspectos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
do Homem (PNAISH), do acesso e acolhimento dos homens no serviços de
saúde, dos problemas prevalentes e perfil de morbimortalidade, bem como as
especificidades da atenção à saúde sexual e reprodutiva dos homens e estraté-
gias para promoção da paternidade ativa no contexto da Atenção Primária à
Saúde, a fim de subsidiar o especializando na realização destas ações no seu
contexto de trabalho.

Carga horária de estudo


recomendada para este módulo
Para estudar e apreender todas as informações e conceitos abordados, bem
como trilhar todo o processo ativo de aprendizagem, estabelecemos uma carga
horária de 15 horas para este módulo.
Apresentação do módulo
Olá, profissional estudante!

Boas-vindas ao módulo Saúde do Homem. Este conteúdo foi elaborado para


aprofundar conhecimentos sobre essa população com demandas tão específicas
e proporcionar reflexões sobre a atenção à saúde do homem em relação a dife-
rentes fases do curso da vida.

Nesse sentido, vamos conhecer os agravos mais incidentes e prevalentes em


pessoas do gênero masculino e as particularidades de sua apresentação nesse
grupo populacional, além de compreender as atitudes em relação à saúde geral
que prevalecem na população masculina bem como identificar situações de
violência em que o homem possa estar envolvido.

No decorrer deste estudo, também vamos abordar o tópico do rastreamento do


câncer de próstata, incluindo comunicação sobre a base de evidências, e sobre
outras neoplasias frequentes, construindo um ambiente propício para abordar
questões tanto de sexualidade quanto de doenças urogenitais.

Além disso, vamos conhecer melhor formas de organizar o serviço de modo a


oferecer acesso adequado à população masculina, inclusive no sentido de forta-
lecer o papel do homem durante a gravidez e promover a paternidade ativa,
saudável e responsável, utilizando este momento tão específico, a chegada de
um novo membro na família, para aproximar o homem do atendimento em
saúde na atenção primária.

Esperamos que este módulo contribua com sua prática profissional em relação à
atenção à saúde dessa população a fim de propor estratégias inclusivas!
Desejamos bons estudos a você!
Sumário
1. Políticas públicas e acesso aos serviços de saúde 12
1.1 Política nacional de atenção integral à saúde do homem (PNAISH) 13
1.1.1 Conhecendo a PNAISH 14
1.1.2 Promoção de um novo olhar sobre a
atenção à saúde do homem 17
1.2 Acesso do homem aos serviços de saúde 19
1.2.1 Reconhecimento da população masculina no território 20
1.2.2 Estratégias de acesso da população
masculina aos serviços de saúde 21
1.2.3 Humanização do cuidado 27
Encerramento da unidade 28
2. Doenças prevalentes e perfil de morbimortalidade 29
2.1 Panorama epidemiológico da saúde do homem 30
2.1.1 Principais doenças e agravos 30
2.1.2 Doenças cardiovasculares (DCV) 33
2.1.2.1 Hipertensão arterial sistêmica (HAS) 34
2.1.2.2 Infarto agudo do miocárdio (IAM) 35
2.1.3 Diabetes mellitus (DM) 38
2.1.4 Acidentes e violência 39
2.1.5.1 Reconhecimento e abordagem dos homens
em situação de violência 44
2.2 Condições de vulnerabilidade na saúde do homem 46
2.2.1 Gênero, masculinidades e cuidado com a saúde 46
2.2.2 Hábitos relacionados à saúde 48
2.2.2.1 Uso de álcool, tabaco e outras drogas 49
2.2.2.2 Obesidade e sedentarismo 57
Encerramento da unidade 61
3. Atenção a saúde sexual e saúde reprodutiva do homem 62
3.1 Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR) 63
3.1.1 Gênero, masculinidades e Saúde Sexual e
Saúde Reprodutiva (SSSR) 69
3.1.2 Importância do envolvimento dos homens com as questões
de SSSR (contraceptivos e demais tecnologias reprodutivas) 73
3.2 Neoplasias relacionados à saúde sexual e SAÚDE reprodutiva 75
3.2.1 Câncer de próstata 75
3.2.2 Câncer de pênis 79
3.3.3 Câncer de testículos 80
Encerramento da unidade 83
4. Promoção do cuidado e paternidade 84
4.1 Paternidade ativa 85
4.1.1 Envolvendo homens na paternidade e no cuidado 87
4.1.2 Promoção da paternidade ativa na APS 90
4.2 Pré-natal da parceria 97
4.2.1 Acolhimento e passo a passo do pré-natal da parceria 98
Encerramento da unidade 101
Encerramento do módulo 102
Referências 103
Biografia dos conteudistas 114
UNIDADE 01

Políticas públicas
e acesso aos
serviços de saúde
Objetivo de aprendizagem da unidade
Ao final desta unidade, o profissional deve conhecer a Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) bem
como reconhecer estratégias de promoção do acesso e acolhimento
dos homens nos serviços de saúde no âmbito da APS.

Objetivos específicos de aprendizagem da unidade


• Conhecer a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Homem (PNAISH).
• Reconhecer as estratégias de promoção do acesso e acolhimento
dos homens nos serviços de saúde no âmbito da APS.
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Introdução da unidade: Nesta unidade vamos estudar como as masculinidades


influenciam o processo saúde-doença dos homens e acompanhar como a Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) foi concebida para propor
estratégias para melhorar a assistência à saúde e promover a atenção à saúde do
homem. Abordaremos também a importância do acesso, do acolhimento e da hu-
manização do cuidado enquanto estratégias de aproximação dos homens às unidades
de saúde, bem como dos serviços de saúde aos homens da comunidade.

1.1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM (PNAISH)


A temática de saúde do homem surgiu no Brasil a partir da década de 1970 com os
primeiros debates relacionados ao modelo de masculinidade hegemônica na sociedade
e os agravos à saúde do homem (GOMES; NASCIMENTO, 2006). O termo masculinidade
hegemônica compreende os modelos culturais dominantes de gênero que estruturam
pensamentos e condutas relativas à identidade do que é ser homem. Esse modelo está
relacionado a uma posição de autoridade e liderança, a expressões de força, resistência
e invulnerabilidade. Tais aspectos levariam os homens a uma maior exposição a riscos
e seriam um empecilho para a adoção de cuidados em saúde (GOMES, 2008). No entanto,
enquanto priorização de grupos específicos nas políticas de saúde, já haviam ações an-
teriores promovidas por médicos, sanitaristas e profissionais de saúde nessa área.
A partir da década de 1990, a saúde do homem passou a ser pauta internacional em
dois acordos de reconhecida importância. Acompanhe uma linha do tempo sobre o tema.

Esses dois
eventos
Neste ano, ocorre a Conferên- demonstraram Neste ano, acontece a IV
cia Internacional sobre Popula- a importância Conferência Mundial sobre a
de inserir os
ção e Desenvolvimento, realiza- homens e suas Mulher, realizada em Pequim,
da na cidade do Cairo, no Egito. especificidades na China, em 1995.
nas políticas
de saúde.

1994 1995 2007 2008

No Brasil, a temática da saúde do homem Neste ano, ocorre a


enquanto política pública passou a ter visibilidade instituição formal da
em 2007, quando uma das metas prioritárias PNAISH. O Brasil, com
elencadas pela gestão federal foi a implantação de apoio da OPAS,tornou-se
uma política nacional para assistência à saúde do o primeiro país das Amé-
homem no âmbito do SUS (COELHO et al., 2018). A ricas e o segundo no
proposta dessa política resultou de uma parceria mundo, após a Irlanda, a
entre sociedades médicas e sociedade civil, gesto- ter formulado a sua
res estaduais e municipais, profissionais de saúde própria política destinada
e também do Ministério da Saúde (BRASIL, 2009a). à saúde do homem.

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EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

A população masculina passou, então, a se compor como foco de ações em saúde


junto com grupos específicos mais antigos, a saber: adolescentes, mulheres, idosos,
indivíduos institucionalizados, pessoas com deficiência, entre outros (CARRARA;
RUSSO; FARO, 2009).

REFLEXÃO

Você sabe do que se trata e qual o objetivo da PNAISH? O que


propõe e quais os desafios a PNAISH visa superar?

Vamos conhecer a seguir, nos próximos tópicos. Acompanhe.

1.1.1 Conhecendo a PNAISH


A PNAISH foi criada em 2008 pela Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da
Saúde. Você, profissional atuante na APS, sabe que a expectativa de vida dos homens
é menor que das mulheres, porém percebe que o atendimento às mulheres é mais
frequente que aos homens – principalmente, em relação aos homens trabalhado-
res, adolescentes ou adultos jovens. Por isso, é fundamental ficar atento a esta
política. Na PNAISH, destaca-se a necessidade de mudança de percepção dos
homens sobre a sua própria saúde. O objetivo desta política é organizar, implantar,
humanizar e qualificar a atenção integral à saúde do homem a partir dos princí-
pios e das diretrizes do SUS. Nesse sentido, a política tem por finalidade a melhoria
das condições de saúde dos homens e a redução das taxas de morbimortalidade
masculinas. Ainda, busca promover o acesso dos homens aos serviços de saúde
na atenção primária com escopo de ações mais abrangentes, incluindo ações pre-
ventivas e de promoção de saúde, além das curativas e de tratamento, asseguran-
do a atenção integral à saúde do homem (BRASIL, 2009a).
Para elaboração da PNAISH, inicialmente foram
identificados os principais agravos de saúde dos
homens, na faixa etária entre 20 e 59 anos, que cor-
respondiam à maioria (41%) da população masculina
brasileira em 2009. A partir do panorama encon-
trado, verificou-se que os homens tendem a acessar
os serviços de saúde pela atenção especializada,
quando já existem agravos e consequências insta-
ladas, reduzindo-se as possibilidades de resolução
e de forma mais onerosa aos serviços de saúde. O
estudo acima citado demonstra aquilo que vemos
na prática cotidiana das unidades: os homens bra-
sileiros têm dificuldades de reconhecer a APS como
locus do seu cuidado, procurando pouco as

14
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

unidades de saúde. Dessa forma, a PNAISH foi construída de maneira transversal


a outras políticas de saúde, tais como a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)
e a Política Nacional de Humanização (PNH), corresponsabilizando assim cada
segmento e gestores ou executor pela correta execução das ações (BRASIL, 2009a).
A política reafirma os princípios do SUS, tais como a “humanização, qualidade de
vida e promoção da integralidade do cuidado na população masculina promovendo
o reconhecimento e respeito à ética e aos direitos do homem, obedecendo às suas
peculiaridades socioculturais” (BRASIL, 2009a, p. 47). E, para o alcance desses prin-
cípios, alguns elementos foram listados a fim de serem considerados. Veja a seguir.

Princípios da PNAISH

Acesso da população masculina aos serviços de saúde hierarquiza-


dos nos diferentes níveis de atenção e organização em rede, possi-
bilitando melhoria do grau de resolutividade dos problemas.

Articular-se com as diversas áreas do governo com o setor privado e


a sociedade, compondo redes de compromisso e corresponsabilida-
de quanto à saúde e à qualidade de vida da população masculina.

Informações e orientação à população masculina, aos familiares e


à comunidade sobre a promoção de hábitos saudáveis, prevenção
e tratamento dos agravos e das enfermidades do homem.

Captação precoce da população masculina nas atividades de


prevenção promária relativa às doenças cardiovasculares e
cânceres, entre outros agravos recorrentes.

Capacitação técnica dos profissionais de saúde para o atendimen-


to do homem.

Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais educativos.

Estabelecimento de mecanismos de monitoramento e avaliação


continuada dos serviços e do desempenho dos profissionais de
saúde, com participação dos usuários.

Elaboração e análise dos indicadores que permitam aos gestores


monitorar as ações e serviços.

Fonte: adaptado de Brasil (2009a, p. 47-48)


15
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Considerando o público-alvo e os objetivos da PNAISH, é importante destacar que


a política veio despertar e sensibilizar tanto os homens quanto os profissionais da
saúde sobre a importância do cuidado da saúde do homem, buscando uma melhor
compreensão do processo saúde-doença masculino e o fortalecimento da atenção
primária (SEPARAVICH; CANESQUI, 2013).
Em uma política de saúde, as diretrizes funcionam como um norte que dá a direção
para a elaboração de planos, programas e ações em saúde. Diante disso, as dire-
trizes da PNAISH foram balizadas pela humanização e qualidade da assistência e
elaboradas considerando os elementos a seguir. Acompanhe no quadro abaixo.

Elementos para construção da PNAISH

A busca por assegurar acesso nos diferentes níveis


de saúde, sendo organizado pela dinâmica de refe-
rência e contrarreferência.
Integridade
A compreensão do indivíduo como um todo, nas
suas dimensões biológica, cultural e social.

A disponibilização de recursos, tecnologia, insumos


Factibilidade
e estrutura para que seja possível a implantação
das ações planejadas.

Coerência A coerência das diretrizes propostas com as demais


políticas de saúde e os princípios do SUS.

A implementação da política está relacionada aos


três níveis de gestão, ao controle social, a quem se
Viabilidade condiciona o comprometimento e a possibilidade da
execução das diretrizes.

A midiateca do módulo sugere uma leitura sobre a PNAISH, acesse e


confira o texto da política na íntegra.

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EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Entender as necessidades e a política destinada à população masculina é o ponto


chave para que a mesma se efetive de forma concreta, trabalhando com ações
conjuntas, inserindo esse homem na Estratégia de Saúde da Família (ESF) e facili-
tando o acesso às unidades de saúde com ações direcionadas a esse público, com
a finalidade de promover saúde, prevenir os principais agravos e também priorizar
a assistência respeitando suas singularidades, dando aos mesmos o direito à in-
formação, à participação na família e ao protagonismo no seu modo de vida e sendo
corresponsável pelo seu processo saúde-doença (SCHWARZ et al., 2012).

1.1.2 Promoção de um novo olhar sobre a atenção à saúde do homem


Ao considerar-se a expectativa de vida, verificou-se que homens brasileiros vivem
em média sete anos a menos que as mulheres. Algumas justificativas podem ser
aventadas para explicar essa diferença. Primeiramente, a falta de políticas públicas
de saúde, que historicamente não tiveram ações voltadas para as especificidades
da população masculina e pouco exploraram suas vulnerabilidades em saúde. Um
exemplo que tem estimulado a participação dos homens no autocuidado e no
cuidado e planejamento familiar foi a inclusão do parceiro no pré-natal, uma medida
simples que tem estimulado e gerado oportunidade para algumas ações de
prevenção e orientação ao homem na APS. Com relação às principais causas de
morte dos homens, as mesmas se relacionam a causas evitáveis, muitas delas re-
lacionadas a comportamentos atribuídos à adoção de um estereótipo tradicional
de masculinidade, ou a chamada masculinidade hegemônica. Acompanhe a seguir
algumas informações sobre a expectativa de vida dos homens.

Em relação à expectativa de vida, os homens


brasileiros vivem em média sete anos a
menos que as mulheres.

Algumas justificativas:
• Historicamente, falta de políticas públicas de saúde com ações
voltadas para as especificidades da população masculina ou
que pouco exploraram suas vulnerabilidades.
• Inclusão recente do parceiro no pré-natal.
• Homens têm como principais causas de morte as causas
evitáveis, muitas relacionadas a comportamentos atribuídos
ao estereótipo tradicional de masculinidade (masculinidade
hegemônica).

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EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Assim, também se destaca como possível justificativa para menor expectativa de


vida dos homens a masculinidade hegemônica, que está apoiada em uma crença
de invulnerabilidade que leva os homens a adotarem mais comportamentos de
risco (CONNEL, 1995). Nessa perspectiva, espera-se que os homens se afastem dos
comportamentos considerados femininos e adotem a norma masculina. Existe uma
pressão que se manifesta em diversos meios, nas famílias, escolas, mídias, por em-
pregadores, na sociedade em geral. Essa norma social passa a ser assumida pela
maioria dos homens, situação a qual exige que sejam suprimidos seus sentimen-
tos e, muitas vezes, leva a comportamentos violentos ou de exposição a riscos
(CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013).
Esta visão de masculinidade vem sendo criticada e questionada nos dias atuais,
bem como analisados seus efeitos desfavoráveis sobre a saúde. Neste sentido,
compreendemos que a dimensão de gênero pode auxiliar a traduzir as informa-
ções epidemiológicas relativas à morbimortalidade masculina. Ações multidiscipli-
nares na APS com temas específicos, como acidentes de trânsito e violência, dire-
cionados a escolares e à faixa etária em que a mortalidade por essas causas é mais
prevalente podem impactar na diminuição da morbimortalidade por tais causas.
Acompanhe algumas dessas ações a seguir.

Identificar as condutas varonis

As condutas varonis que contribuem para construir e reforçar essa


imagem identitária masculina onipotente de certo modo impedem de
cultivar a função essencial de autoconservação, pois os valores esperados
relativos a um “homem de verdade” não estimulam a manifestação do
afeto e do cuidar, tampouco do cuidado próprio. Os homens são educados
para responder às expectativas sociais de modo proativo, em que o risco
não é algo a ser evitado, mas sim superado. Assim, a noção de autocuida-
do dá lugar a comportamentos, em diversos sentidos, vulneráveis e de
risco (MEDRADO et al., 2009).

Legitimar as demandas

Como forma de melhorar o acesso do homem ao cuidado na APS,


podemos legitimar a demanda espontânea dos homens, facilitando o
acesso a esse tipo de atendimento e usando-o como oportunidade
para ações preventivas. É possível assim proporcionar o estímulo à
participação no serviço de saúde captando os homens em momentos
oportunos, tanto nos comparecimentos na unidade por qualquer
questão como também em visitas domiciliares ou em reuniões de
bairro, por exemplo (SBMFC, 2019).

Abordar a saúde do homem


18 Para abordar a saúde do homem, considerando a perspectiva de gênero e
a relevância das masculinidades sobre a saúde, é preciso alcançar a refle-
xão sobre o quanto os comportamentos ditos masculinos podem levá-los
a, muitas vezes, tornarem-se alvo de seus atos – os quais, em várias ocasi-
podemos legitimar a demanda espontânea dos homens, facilitando o
acesso a esse tipo de atendimento e usando-o como oportunidade
para ações preventivas. É possível assim proporcionar o estímulo à
participação no serviço de saúde captando os homens em momentos
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem
oportunos, tanto nos comparecimentos na unidade por qualquer
questão como também em visitas domiciliares ou em reuniões de
bairro, por exemplo (SBMFC, 2019).

Abordar a saúde do homem

Para abordar a saúde do homem, considerando a perspectiva de gênero e


a relevância das masculinidades sobre a saúde, é preciso alcançar a refle-
xão sobre o quanto os comportamentos ditos masculinos podem levá-los
a, muitas vezes, tornarem-se alvo de seus atos – os quais, em várias ocasi-
ões, envolvem amigos e familiares, direta ou indiretamente, como nos
acidentes automobilísticos ou episódios de violência. Contudo, o desafio
não é pequeno, haja vista que os valores da cultura masculina envolvem
comportamentos de risco à saúde.

A forma como os homens constroem e vivenciam suas masculinidades encontram-


-se vinculadas às matrizes dos modos de adoecer e morrer, conforme evidenciam
Levorato e colaboradores (2014) em um estudo transversal, realizado com 320
pessoas, em serviços de saúde do município de Ribeirão Preto, em São Paulo, ao
constatar que as mulheres buscaram os serviços de saúde quase duas vezes mais
do que os homens, e que ser do gênero feminino foi um fator preditor de maior
busca por assistência à saúde. A conclusão corrente é que a internalização, a re-
produção e o culto a determinados modelos de masculinidades e a certos estere-
ótipos de gênero em toda a sociedade e, inclusive, neste segmento populacional,
têm sido responsáveis por uma alta exposição a riscos desnecessários, taxas
elevadas de morbimortalidade e, sobretudo, exclusão da expressão genuína do
cuidado, da sensibilidade e do afeto na vida desses homens, tanto em família como
nas comunidades de destino onde encontram-se inseridos, dificultando o autocui-
dado com a saúde e o acesso deles às ações desempenhadas pelos serviços da
atenção primária.
A principal estratégia para lidar com a complexidade que este campo apresenta
consiste em incluir os homens nas pautas centrais do planejamento das macro e
micro ações do setor saúde e de outras políticas transversais (Segurança Pública,
Transporte, Trabalho, Desenvolvimento Social, etc.), com o intuito inequívoco de
melhorar os indicadores sociais e de saúde desta população, gerando melhor
qualidade de vida para todos. Vamos conhecer a seguir mais sobre os desafios e
estratégias para qualificar o acesso dos homens aos serviços de saúde.

1.2 ACESSO DO HOMEM AOS SERVIÇOS DE SAÚDE


A PNAISH enfatiza a necessidade de mudanças de paradigmas relativos à percepção
da população masculina a respeito do cuidado com a sua saúde e o papel dos
serviços de saúde em se aproximar e facilitar o acesso desta população. Assim, é
essencial que os profissionais de saúde estejam sensibilizados e os serviços públicos
de saúde organizados para acolher e fazer com que o homem se sinta parte inte-
grante dos serviços.

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EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

1.2.1 Reconhecimento da população masculina no território


Embora, segundo registro do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 45%
dos domicílios brasileiros já sejam comandados financeiramente por mulheres, o
homem no contexto sociocultural brasileiro ainda possui importante papel no pro-
vimento financeiro da família (BARBOSA; PHELIPE, 2020). Em função da relevância
do trabalho para os homens em geral, eles têm medo de descobrir alguma doença
que os impossibilite de exercer suas atividades como “chefe de família”, como tra-
dicionalmente é visto. Logo, eles passam a não considerar a possibilidade de adoecer,
motivo o qual os deixa menos sensíveis ao autocuidado e às políticas de saúde.
Dessa forma, tanto a promoção da saúde como o tempo de diagnóstico precoce e
prevenção são muitas vezes perdidos, ocasionando necessidades em saúde mais
complexas, devido ao agravamento dos quadros iniciais, no momento da busca.
A baixa frequência da população
masculina nos serviços de saúde, em
especial na atenção primária, além de
onerar a sociedade pela maior procura
aos níveis de atenção especializada, com
maior custo, sobrecarregam também
emocionalmente as famílias que estão
envolvidas. Para ampliar o olhar sobre
essa questão, a saúde do homem precisa
ser destacada também como relevante,
num movimento de promoção da
igualdade de gênero, enquanto direito
humano. A taxa mais elevada de morbi-
mortalidade masculina é apenas um parâmetro a ser observado para o cuidado
na saúde do homem. É importante que outros aspectos sociais e culturais sejam
considerados e se tornem visíveis as vulnerabilidades em saúde, com vistas à con-
solidação de um modelo de atenção integral (LEVORATO et al., 2014).
A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade destaca a importân-
cia de pensar nos diversos tipos de corpos masculinos, isso proporcionará um olhar
integral sobre o indivíduo. As questões de gênero devem, ao mesmo tempo, con-
siderar as intersecções entre gênero e raça/cor, renda, procedência, religião/credo
que determinam lugares de fala e posições sociais distintas, e que trazem especi-
ficidades às experiências e comportamentos masculinos. Você e sua equipe de
saúde devem estar atentos às suas atuações na produção social de gênero e das
masculinidades, que podem ser mais inclusivas e promoverem maior equidade ou
reforçarem estruturas excludentes e desiguais, tanto entre homens e mulheres
quanto entre os vários homens (SBMFC, 2019).
Para que seja possível qualificar a atenção à saúde do homem, é preciso que os pro-
fissionais estejam atentos ao contexto social e epidemiológico, e também articulados
como equipe, para planejarem ações específicas às necessidades em saúde que os
homens apresentam. Deve-se reconhecer que há também desafios relativos à atuação
dos profissionais de saúde na saúde do homem. No processo de captação da população
20
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

masculina, os profissionais devem ter clareza sobre as ações propostas com vistas à
integralidade, e não somente a oferta de serviços de saúde. Inclusive, destaca-se uma
importante reflexão acerca do consumo excessivo de exames. É importante disso-
ciar-se o conceito de prevenção da realização de procedimentos médicos, direcio-
nando-o para um contexto mais amplo que envolva autocuidado e informações em
saúde que subsidiem a promoção de comportamentos saudáveis, sempre se consi-
derando o contexto e valorizando-se a autonomia do usuário (FAUST et al., 2018).

REFLEXÃO

Para que a forma de organização dos serviços favoreça o acesso aos


homens nos serviços de saúde é importante refletir sobre algumas
questões. Você, enquanto profissional estudante, em conjunto com
sua equipe, realiza ações de vigilância em saúde, utilizando a com-
petência cultural, fazendo um trabalho em equipe e com abordagem
comunitária, voltados ao público masculino? Sua equipe está atenta
ao cuidado a todas as fases do ciclo de vida do homem, assim como
tem oferecido o cuidado para a mulher? A saúde reprodutiva dos
homens é abordada nos atendimentos prestados aos homens? Os
homens com filhos estão sendo incluídos na puericultura? A equipe
tem organizado grupos e atividades no território pensando no convite
e na inclusão dos homens? (SBMFC, 2019).

Muitas estratégias de aproximação da população masculina no território podem ser


utilizadas pelas equipes de saúde, elas podem incluir atividades em bares, padarias,
canteiros de obras, oficinas mecânicas, postos de gasolina, feiras e atividades despor-
tivas. Atividades como pré-natal do homem, controle da pressão arterial, peso e
diabetes dos caminhoneiros, grupos de pais/parcerias, por exemplo, podem facilitar
o acesso dos homens às unidades básicas de saúde (DANTAS; MODESTO, 2019). A fim
de colaborar com o enfrentamento do desafio de inclusão dos homens na pauta de
cuidado, o próximo tópico abordará o acesso como um instrumento potente para a
aproximação da população masculina e para a promoção da atenção integral à saúde.

1.2.2 Estratégias de acesso da população masculina aos serviços de saúde


Para que se possa construir, de forma compartilhada com os usuários, melhorias
na situação de saúde da população, o acesso e o acolhimento são dimensões es-
senciais do atendimento. O processo de saúde-doença faz parte do curso natural
da vida de todos os usuários e, em algumas situações, haverá necessidade de
procura pelo serviço de saúde. O modo como o usuário é recebido, a oferta de
atenção no ambiente da instituição de saúde, considerando os aspectos de estrutura,
acolhimento, informações repassadas, além da carta de serviços oferecidos e a
rede de atenção disponível, são elementos que favorecem a reorganização da as-
sistência e qualificam o atendimento (SOUZA et al., 2008).

21
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Lembre-se!
Para uma adequada adesão da população masculina, com idade
entre 20 e 59 anos, esta deveria acessar os serviços de saúde da
atenção primária sempre que necessário, de acordo com suas
demandas em saúde. Destaca-se que este acesso não deve ser
somente para realização de exames ou procedimentos, mas também
incluir ações de promoção da saúde e demais ações preventivas.

Reconhece-se que há diversos desafios que afastam os homens dos serviços de


saúde, tanto relativos aos usuários como aos profissionais e aos serviços. Vamos
conhecê-los, acompanhe a seguir.

Desafios para aproximação dos homens aos serviços de saúde


Desafios relacionados aos usuários
• O pensamento mágico
• O papel de provedor
• O papel de “cuidar”
• Barreiras Socioculturais
• Estratégias Institucionais de comunicação não privilegiam os homens
• Medo de identificar alguma doença grave
• Vergonha de expor o corpo
• Não pertencimento, devido à priorização de mulheres e crianças

Desafios relacionados aos profissionais de saúde


• Priorização de procedimentos em saúde reprodutiva
• Predominância de ações focadas em saúde sexual e reprodutiva em detri-
mento de ações ampliadas de promoção da saúde e preventivas
• Invisibilidade dos homens, ao priorizarem demais grupos populacionais
• Poucas ofertas de capacitação profissional e formação deficiente na graduação

Desafios relacionados aos serviços de saúde


• Horário de atendimento incompatível
• Sistema de agendamentos que exige marcações presenciais
• Espaço físico limitado para novas ações
• Falta de liberação do trabalho para educação continuada e permanente
(FAUST, 2018).
Sobre as barreiras de acesso aos serviços de saúde relativas aos usuários, estudo
conduzido na atenção primária, que investigou as causas da resistência dos homens
em aderir práticas de cuidado em saúde, identificou aspecto e sentimentos diversos,

22
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

como por exemplo: medo, vergonha e devido a questões comportamentais como


a impaciência, o descuido, outras prioridades de vida, além de fatores relaciona-
dos à organização dos serviços de saúde (TEIXEIRA, 2016).
Enquanto profissional atuante nas equipes de saúde, você já deve ter se questio-
nado sobre o acesso dos homens, uma vez que os serviços de saúde geralmente
estão lotados e com profissionais sobrecarregados: como, então, incluir e garantir
o acesso do homem na agenda de atendimentos? Para a melhoria do acesso do
homem aos serviços de saúde, faz-se necessária a reorganização do atendimento
de acordo com a lógica preconizada nas políticas públicas.
Para isso, são necessárias ações de fortalecimento e qualificação da atenção primária
que possibilitem a realização de atividades de promoção de saúde, prevenção de
doenças e agravos evitáveis, bem como a oferta de ações curativas e de reabilita-
ção. Vamos conhecer algumas ações que podem ser realizadas por você e poten-
cializar a atenção à saúde dos homens, relativas a abordagem no território, a criação
de vínculo e ao acolhimento. Veja a seguir.

Território

As ações que visam o acesso dos homens na atenção primária podem ocorrer
no território em que os homens circulam, de acordo com os contextos locor-
regionais, priorizando que os homens sejam protagonistas dos processos de
ações em saúde. O conhecimento do perfil da comunidade, com seus aspec-
tos socioculturais, político-econômicos e epidemiológicos, torna-se chave para
o serviço de saúde traçar estratégias de cuidado. A visualização do número de
homens entre 20 a 59 anos no território contribui para o levantamento de
demandas de morbimortalidade, por exemplo. O diagnóstico de demanda e a
estimativa rápida participativa são formas de instrumentalizar a equipe para o
planejamento de ações para os homens da área de abrangência.

Vínculo

Tanto as questões estruturais dos serviços como os aspectos sociais da


população, principalmente as questões de masculinidades, em que o
homem se considera “forte” em relação à saúde, interferem no acesso aos
cuidados adequados. E um dos caminhos possíveis para que os profissio-
nais possam reduzir essas barreiras nos serviços é a construção do vínculo
e da longitudinalidade do cuidado. O estabelecimento do vínculo entre
profissional e usuário é o primeiro passo a ser dado para se romper com a
invisibilidade do homem nos serviços, valorizando-se os princípios de equi-
dade e integralidade do SUS. É preciso que as equipes de saúde estejam
atentas para esse fenômeno a fim de promover práticas e estratégias de
cuidado que possam transcender esse paradoxo, promovendo a saúde e a
qualidade de vida dessa população.

23
Acolhimento

O espaço do acolhimento, sendo o primeiro contato do usuário com o


profissional e usuário é o primeiro passo a ser dado para se romper com a
invisibilidade do homem nos serviços, valorizando-se os princípios de equi-
dade e integralidade do SUS. É preciso que as equipes de saúde estejam
atentas
EIXO para esse
03 | MÓDULO fenômeno
10 Saúde a fim de promover práticas e estratégias de
do homem
cuidado que possam transcender esse paradoxo, promovendo a saúde e a
qualidade de vida dessa população.

Acolhimento

O espaço do acolhimento, sendo o primeiro contato do usuário com o


serviço de saúde, deve considerar as especificidades da saúde do homem,
tais como os fatos que o levam a acessar menos esse serviço. Existem
formas variadas de acolhimento, sendo um processo relacional, este se
definindo menos enquanto conceito e mais nas práticas concretas de saúde
pelas quais se consolida. Para o acolhimento, não se faz necessário profis-
sional ou horário específico, mas sim implica na escuta e nos saberes com-
partilhados, bem como no atendimento das demandas trazidas pelo usuá-
rio, de maneira resolutiva e responsável (BRASIL, 2013a). Nos serviços de
saúde, o acolhimento é um espaço fundamental, no qual pode haver infor-
mação e orientação sobre as ações disponíveis, de modo a atender o
homem integralmente (CAVALCANTI et al., 2014).

Atividades
Em consonância com aem grupo
PNH, o acolhimento parte de uma postura ética assumida
pelos profissionais da equipe que, ao terem contato com o usuário, devem colocá-la
Além do acolhimento individual, podem ser desenvolvidas atividades nas
em prática, compartilhando saberes, angústias e decisões sobre as intervenções
unidades de saúde, como ações nas salas de espera ou grupos de educação
de saúde a serem ou não adotadas. Acolher transcende a postura de ser educado
em saúde, com a finalidade de sensibilizar os homens para o cuidado com a
e receptivo ao usuário e pressupõe que seja assumida a responsabilidade de se
sua saúde, além de aproximá-los dos serviços de saúde. Também podem
adotar a melhor resolubilidade para o caso atendido.
ser identificados temas relevantes para abordagem em grupo com o público
masculino, também chamado “grupo de homens”, e algumas possibilidades
são: masculinidades e cuidado com a saúde, paternidade ativa e cuidado,
Lembre-se!
saúde no ambiente de trabalho, entre outros inúmeros temas que podem
O acolhimento
ser levantados por meio dosediagnóstico
diferencia da
da triagem,
situaçãopois tem como
de saúde local finalida-
bem
de a inclusão,
como da interação que vai além
entre profissionais da recepção.
e usuários. O ato de
Esses espaços acolher
são poten-
pressupõeda
tes para a promoção uma aproximação
saúde e disponibilidade.
e para a divulgação É nesse sobre
e sensibilização sentido
a
que a PNH propõe o acolhimento, ou seja, no compromisso
importância de ações preventivas e cuidados. As práticas integrativas e de
envolver-se
complementares, e potencializar
inclusive, são recursososrelevantes
protagonismos dos sujeitos.
que podem compor as
atividades de grupo.

Para a efetivação do acolhimento, todos


Envolvimento comunitário os membros da equipe devem estar
atentos e disponíveis para atuarem sobre
É importante que os profissionais, paraas que estejam preparados
demandas de saúde, sob para o pers-
uma
acolhimento e atendimento integral, além de capacitados, reconheçam e
pectiva centrada na pessoa, e respeitan-
problematizam a realidade da sua comunidade com usuários
do as competências e gestores,
específicas de acada
fim de propor estratégias inclusivas para esse público (VIEIRA et al., 2014).
profissional. Deve possibilitar aos homens
Reuniões com a comunidade organizadas a ação
pelodeserviço
transitar
deem diferentes
saúde ou emespaços
conjunto com organizações comunitárias da já
rede de saúde,
existentes sendotrazer
podem um processo
um de
estímulo, elaboração, investigação
novo olhar sobre o cuidado da população masculina com soluções adequa- e ne-
gociação daspodem
das para a realidade local. Lideranças comunitárias necessidades de saúde.
ser parceiras na
inclusão do homem na agenda de cuidado. Podem, ainda, contribuir para a
24 desnaturalização de comportamentos como o de violência.

Educação permanente
pelas quais se consolida. Para o acolhimento, não se faz necessário profis-
sional ouAcolhimento
horário específico, mas sim implica na escuta e nos saberes com-
partilhados, bem como no atendimento das demandas trazidas pelo usuá-
O espaço do acolhimento, sendo o primeiro contato do usuário com o
rio, de maneira resolutiva e responsável (BRASIL, 2013a). Nos serviços de
serviço
EIXO de saúde,
03 | MÓDULO deve do
10 Saúde considerar
homem as especificidades da saúde do homem,
saúde, o acolhimento é um espaço fundamental, no qual pode haver infor-
tais como os fatos que o levam a acessar menos esse serviço. Existem
mação e orientação sobre as ações disponíveis, de modo a atender o
formas variadas de acolhimento, sendo um processo relacional, este se
homem integralmente (CAVALCANTI et al., 2014).
definindo menos enquanto conceito e mais nas práticas concretas de saúde
pelas quais se consolida. Para o acolhimento, não se faz necessário profis-
sional ou horário específico, mas sim implica na escuta e nos saberes com-
Atividades em grupo
partilhados, bem como no atendimento das demandas trazidas pelo usuá-
rio, de maneira resolutiva e responsável (BRASIL, 2013a). Nos serviços de
Além do acolhimento individual, podem ser desenvolvidas atividades nas
saúde, o acolhimento é um espaço fundamental, no qual pode haver infor-
unidades de saúde, como ações nas salas de espera ou grupos de educação
mação e orientação sobre as ações disponíveis, de modo a atender o
em saúde, com a finalidade de sensibilizar os homens para o cuidado com a
homem integralmente (CAVALCANTI et al., 2014).
sua saúde, além de aproximá-los dos serviços de saúde. Também podem
ser identificados temas relevantes para abordagem em grupo com o público
masculino, também chamado “grupo de homens”, e algumas possibilidades
Atividades em
são: masculinidades grupo com a saúde, paternidade ativa e cuidado,
e cuidado
saúde no ambiente de trabalho, entre outros inúmeros temas que podem
Além do acolhimento individual, podem ser desenvolvidas atividades nas
ser levantados por meio do diagnóstico da situação de saúde local bem
unidades de saúde, como ações nas salas de espera ou grupos de educação
como da interação entre profissionais e usuários. Esses espaços são poten-
em saúde, com a finalidade de sensibilizar os homens para o cuidado com a
tes para a promoção da saúde e para a divulgação e sensibilização sobre a
sua saúde, além de aproximá-los dos serviços de saúde. Também podem
importância de ações preventivas e cuidados. As práticas integrativas e
ser identificados temas relevantes para abordagem em grupo com o público
complementares, inclusive, são recursos relevantes que podem compor as
masculino, também chamado “grupo de homens”, e algumas possibilidades
atividades de grupo.
são: masculinidades e cuidado com a saúde, paternidade ativa e cuidado,
saúde no ambiente de trabalho, entre outros inúmeros temas que podem
ser levantados por meio do diagnóstico da situação de saúde local bem
Envolvimento comunitário
como da interação entre profissionais e usuários. Esses espaços são poten-
tes para aPara
promoção da saúde e para sobre
a divulgação
criaçãoedesensibilização sobredoa
É importante conhecer uma experiência
que os profissionais, para quea estejam um grupo depara
preparados Saúdeo
importância
Homemde ações preventivas
na APS, acesse e cuidados.
o link: As práticas integrativas e
https://periodicos.ufjf.br/index.php/aps/
acolhimento e atendimento integral, além de capacitados, reconheçam e
complementares, inclusive, são recursos relevantes que podem compor as
article/view/15468
problematizam a realidade da sua comunidade com usuários e gestores, a
atividades de grupo.
fim de propor estratégias inclusivas para esse público (VIEIRA et al., 2014).

Reuniões com a comunidade organizadas pelo serviço de saúde ou em


conjuntoEnvolvimento comunitário
com organizações comunitárias já existentes podem trazer um
novo olhar sobre o cuidado da população masculina com soluções adequa-
É importante
das que os profissionais,
para a realidade para
local. Lideranças que estejampodem
comunitárias preparados para o na
ser parceiras
acolhimento e atendimento integral, além de capacitados, reconheçam
inclusão do homem na agenda de cuidado. Podem, ainda, contribuir para e a
problematizam
desnaturalização a realidade da sua comunidade
de comportamentos com
como o de usuários e gestores, a
violência.
fim de propor estratégias inclusivas para esse público (VIEIRA et al., 2014).

Reuniões com a comunidade organizadas pelo serviço de saúde ou em


Educação permanente
conjunto com organizações comunitárias já existentes podem trazer um
novo olhar sobre
A capacitação e aosensibilidade
cuidado da população
da equipe masculina com soluções
para o acolhimento adequa-
e para a
das para a realidade local. Lideranças comunitárias podem ser
construção da longitudinalidade do cuidado contribuem para que os parceiras na
inclusão do homem na agenda de cuidado. Podem, ainda, contribuir
homens se identifiquem como parte dos serviços de saúde, potencializando para a
desnaturalização
o seu acesso (SILVAdeet
comportamentos
al., 2012). como o de violência.

Contudo, além dos desafios pertinentes aos usuários e profissionais de


Educação
saúde, os permanente
serviços possuem papel fundamental na reestruturação das
ofertas em saúde para esse público, a fim de aproximá-lo das unidades de
A capacitação
saúde. e a sensibilidade
Vamos conhecer algumasda equipe
das para oaacolhimento
estratégias seguir. e para a
construção da longitudinalidade do cuidado contribuem para que os
homens se identifiquem como parte dos serviços de saúde, potencializando
o seu acesso (SILVA
Horário de et al., 2012). da unidade
atendimento
25
Contudo, além dos desafios pertinentes aos usuários e profissionais de
A viabilização deste acesso certamente é favorecida com a ampliação do
saúde, os serviços possuem papel fundamental na reestruturação das
horário de atendimento, voltando a organização dos locais de atendimento
ofertas em saúde para esse público, a fim de aproximá-lo das unidades de
Reuniões com a comunidade organizadas pelo serviço de saúde ou em
conjunto com organizações comunitárias já existentes podem trazer um
novo olhar sobre o cuidado da população masculina com soluções adequa-
das para a realidade local. Lideranças comunitárias podem ser parceiras na
EIXO 03 | MÓDULO
inclusão 10 Saúde
do homem na do homemde cuidado. Podem, ainda, contribuir para a
agenda
desnaturalização de comportamentos como o de violência.

Educação permanente

A capacitação e a sensibilidade da equipe para o acolhimento e para a


construção da longitudinalidade do cuidado contribuem para que os
homens se identifiquem como parte dos serviços de saúde, potencializando
o seu acesso (SILVA et al., 2012).

Contudo, além dos desafios pertinentes aos usuários e profissionais de


saúde, os serviços possuem papel fundamental na reestruturação das
ofertas em saúde para esse público, a fim de aproximá-lo das unidades de
saúde. Vamos conhecer algumas das estratégias a seguir.

Horário de atendimento da unidade

A viabilização deste acesso certamente é favorecida com a ampliação do


horário de atendimento, voltando a organização dos locais de atendimento
também para a necessidade do usuário. Estudos têm mostrado que locais
que disponibilizaram atendimento durante os finais de semana, horário de
almoço, no período noturno ou durante 24 horas alcançaram mais adesão
dos homens aos novos horários implementados (VIEIRA et al., 2013; LEVO-
RATO et al., 2014). Para a ampliação do horário de trabalho das unidades de
saúde, cada equipe deve avaliar, preferencialmente em conjunto com a
população, as necessidades de cada local e estabelecer horários alternati-
vos ao horário de trabalho da maioria dos homens da comunidade.

Reforça-se que a mulher também é trabalhadora e o horário ampliado pode


e deve beneficiar a ambos, mas que apenas a mudança de horário pode ser
insuficiente se o estímulo à presença, ao acolhimento e à inserção do públi-
co masculino não seja trabalhado com a equipe e comunidade. A oferta de
horários compatíveis com a disponibilidade do usuário associado a mudan-
ças na forma de agendamento (por aplicativos ou telefone, por exemplo)
podem facilitar o acesso. O teleatendimento vem sendo mais difundido,
especialmente após as restrições devido a pandemia de COVID-19, e pode
vir a ser incluído em práticas da unidade de saúde.

Ações conjuntas à saúde do trabalhador

O desafio do trabalho, que pode ser um impeditivo para o homem buscar


os serviços de saúde, também pode ser uma potencialidade. As ações de
saúde do trabalhador podem ser qualificadas no sentido de atender
também demandas de prevenção e cuidados, bem como promoção, gestão
do autocuidado, motivação que envolvam e sensibilizem os homens, trans-
cendendo o papel burocrático dos pontuais exames periódicos (GOMES;
NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).

26
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Ao abordar desafios e possíveis estratégias a serem adotadas pelos profissionais


e serviços de saúde na aproximação dos homens e sensibilização para a adoção
de cuidados, ressalta-se que se faz necessária a reorganização do acesso para ir
ao encontro das necessidades em saúde da população. Com a oferta de serviços
voltados às necessidades dos homens, as unidades de saúde podem tornar-se mais
convidativas também a esses usuários.

1.2.3 Humanização do cuidado


A partir da compreensão dos aspectos socioculturais e político-econômicos que
influenciam nas especificidades em saúde da população masculina, e em conso-
nância com as estratégias de humanização, a PNAISH emerge no sentido de reco-
nhecer as especificidades em saúde da população masculina enquanto uma questão
relevante e que precisa ser observada com a devida atenção pelos profissionais
das equipes de saúde.
A PNH é uma política transversal do SUS
e suas demais políticas, sendo incorpo-
rada na discussão da PNAB e da PNAISH,
por exemplo, buscando construir trocas
solidárias e comprometidas com a
produção de saúde. Segundo a PNH,
humanizar significa colocar-se no lugar
do outro, respeitar os sujeitos, sua
autonomia, garantir saúde e acesso à in-
formação e aos serviços. A humanização
é entendida também como a inclusão das diferenças nos processos de gestão e
cuidado, fatores que impactam em mudanças práticas. Mas estas não se constroem
a partir de uma pessoa ou de um grupo isolado; devem ser efetivadas de maneira
coletiva e compartilhada (BRASIL, 2013a).

Lembre-se!
Você, como profissional de saúde, pode promover a inclusão
dessas diferenças a partir da realização de rodas de conversa,
da atuação em rede e junto aos movimentos sociais, bem como
na gestão dos conflitos existentes nos serviços. A participação
dos trabalhadores na gestão qualifica seus processos de trabalho,
bem como a inclusão dos usuários e suas redes sociofamiliares,
uma vez que amplia a corresponsabilização do autocuidado
(BRASIL, 2013a).

Uma tecnologia relevante para o exercício da humanização é a escuta qualificada


pelo profissional de saúde. O termo “qualificada” indica que há um processo de
reflexão do profissional sobre os sentidos que essa escuta do outro têm na clínica.

27
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

A escuta qualificada tem potencial de evidenciar demandas que não estavam ex-
plícitas no motivo inicial da consulta, e que frequentemente são decisivas para a
melhora da condição de saúde do usuário. Inclusive, o diálogo e a escuta qualifi-
cada permitem identificar possíveis demandas e encaminhamentos para outros
profissionais, possibilitando o cuidado integral. A escuta qualificada também favorece
a formação de vínculo entre usuários e equipe, o que propicia a construção de
novas relações, melhorando o acesso aos serviços de saúde.
A humanização em saúde evidencia-se enquanto uma estratégia de enfrentamen-
to, por meio do acesso, do acolhimento, da comunicação significativa e do vínculo.
A humanização potencializa a relação entre profissionais e usuários e amplia a
adesão aos serviços de saúde, sendo uma tecnologia potente para a realização da
atenção integral à saúde do homem (CAVALCANTI et al., 2014).

ENCERRAMENTO DA UNIDADE
Nesta unidade conhecemos a PNAISH, seu contexto de criação, objetivos, diretri-
zes e principais desafios de implementação. Compreendemos que a política visa a
construção de estratégias de ampliação do acesso e do acolhimento dos homens
pelos serviços públicos de saúde, favorecendo a resolutividade de demandas em
saúde da população masculina.
Observamos que, para qualificar a oferta de serviços de saúde a essa população,
é preciso ir além do espaço físico da unidade de saúde e do seu horário tradicio-
nal. É preciso atuar no território de maneira ampliada a fim de alcançar a população
masculina nos espaços onde se encontra: o ambiente de trabalho, os espaços de
lazer, os domicílios, entre outros espaços sociais, bem como ampliar os horários
de atendimento. Faz-se necessário que os profissionais estejam sensibilizados para
a captação e identificação das demandas em saúde dos homens, bem como os
serviços de saúde organizados para recebê-los, além de ofertar serviços pertinen-
tes às especificidades desse público.
Abordamos alguns dispositivos e estratégias para a superação dos desafios encon-
trados para o acesso e acolhimento na atenção primária, como a escuta qualifica-
da, o vínculo e a humanização do cuidado. Essa abordagem contribui com a qua-
lificação das práticas dos profissionais de saúde, possibilitando a implementação
da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH).

28
UNIDADE 02

Doenças
prevalentes
e perfil de
morbimortalidade
Objetivo de aprendizagem da unidade
Ao final desta unidade, o profissional estudante deve identificar as
principais doenças e agravos prevalentes, as condições de vulnera-
bilidade e o perfil de morbimortalidade da população masculina.

Objetivos específicos de aprendizagem da unidade


• Descrever o panorama epidemiológico da saúde do homem e suas
condições de vulnerabilidades.
• Identificar e abordar situações de violência em que o homem
possa estar envolvido.
• Estabelecer o perfil de morbimortalidade da população masculina.
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Introdução da unidade: Nesta unidade será apresentado um panorama das prin-


cipais doenças e agravos relacionados à saúde dos homens. Em seguida abordare-
mos como os acidentes e a violência também interferem na mortalidade dos homens
e como podem ser prevenidos. Ademais, pontuamos que o uso abusivo de álcool
e tabaco atuam como fatores de risco para a morbimortalidade nos homens, assim
como a obesidade e o sedentarismo. Destacamos que todos esses fatores citados
têm íntima relação com as questões de gênero, pois elas têm forte influência no
modo de como os homens cuidam da sua saúde.

2.1 PANORAMA EPIDEMIOLÓGICO DA SAÚDE DO HOMEM


A saúde dos homens vem ganhando um maior destaque à medida que surgem mais
evidências sobre tendências epidemiológicas diferenciadas entre homens e mulheres,
particularmente no que diz respeito à mortalidade prematura de homens por doenças
crônicas não transmissíveis (DCNT). Muitas vezes vinculada à busca tardia em relação à
procura de atendimento médico, saúde mental e violência, incluindo homicídios e lesões.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que aproximadamente 52%
das mortes por DCNT acontecem entre os homens. Entre os principais fatores de risco
para as DCNT estão dietas e estilo de vida pouco saudáveis, consumo de tabaco e consumo
abusivo de álcool (OPAS, 2019).

2.1.1 Principais doenças e agravos


As causas de morbimortalidade no Sistema Único de Saúde (SUS) são importantes
fontes de informações para o planejamento e a tomada de decisões dos gestores do
SUS. Entretanto, a análise do perfil de morbidade da população masculina fica pre-
judicada porque o DATASUS não fornece alguns dados de morbidade, sobretudo
aqueles que representam os problemas frequentes como os vistos na APS (DANTAS;
MODESTO, 2019). Ciente dessa ressalva, você poderá acompanhar a seguir dados
de morbimortalidade sistematizados pelo Ministério da Saúde em 2015 e o perfil das
principais DCNT, além de questões sobre a ocorrência de acidentes e violências.
Segundo dados de morbimortalidade
masculina no Brasil, em 2015 foram re-
alizadas 5,9 milhões de internações no
SUS, na faixa de 20 a 59 anos. Dessas,
excluindo as causas de gravidez, parto e
puerpério, 51% das internações foram
para o gênero masculino, sendo que 30%
das internações masculinas ocorreram
na faixa etária entre 50 e 59 anos. As
principais causas de internação para
homens na faixa etária de 20 a 59 anos
no Brasil foram as descritas a seguir
(BRASIL, 2015a).

30
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Internações por causas externas: com lesões,


envenenamentos e outras causas, há destaque


para as internações por traumatismo intracra-
niano, com 60.033 internações.

82% dessas internações ocorreram em homens.
31% dessas internações, entre os homens,
ocorreram na faixa etária de 20 a 29 anos.

Internações por doenças do aparelho digestivo:


destacam-se as internações por hérnia inguinal,
com 65.200 hospitalizações.

86% dessas internações ocorreram em homens.
36% dessas internações entre os homens ocor-
reram na faixa etária de 20 a 29 anos.

Internações por doenças do aparelho circulató-


rio: destacam-se as internações por infarto agudo
do miocárdio (IAM), com 40.780 hospitalizações.

69% dessas internações ocorreram em homens.
64% dessas internações entre os homens ocorre-
ram na faixa etária de 50 a 59 anos.

Internações por doenças infecciosas e parasitá-


rias: destacam-se as internações por doenças


decorrentes da infecção pelo vírus HIV, com
4º 30.185 hospitalizações.
65% dessas internações ocorreram em homens.
35% dessas internações entre os homens ocorre-
ram na faixa etária de 30 a 39 anos.

Internações por doenças do aparelho respirató-


rio: destacam-se as internações por pneumonia,
com 125.420 hospitalizações.

54% dessas internações ocorreram em homens.
37% dessas internações entre os homens ocor-
reram na faixa etária de 50 a 59 anos.

Óbitos por causas externas: destacam-se as


31 mortes devido à agressão por meio de disparo
de arma de fogo ou de arma não especificada,
1º com 29.297 óbitos.
95% desses óbitos ocorreram em homens.
ram na faixa etária de 30 a 39 anos.

Internações
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem por doenças do aparelho respirató-


rio: destacam-se as internações por pneumonia,
com 125.420 hospitalizações.

Ainda segundo dados do MS, emdessas
2014 houve 361.577 óbitos naem
faixa etária de 20
54% internações ocorreram homens.
a 59 anos no Brasil, sendo que 68% dessas mortes foram em homens. A maior
37% dessas internações entre os homens ocor-
proporção desses óbitos entre os homens ocorreu na faixa etária de 50 a 59 anos
reram na faixa etária de 50 a 59 anos.
(38%). As cinco primeiras causas de mortalidade em 2014, para homens na faixa
etária de 20 a 59 anos, são descritas a seguir (BRASIL, 2015a).

Óbitos por causas externas: destacam-se as


mortes devido à agressão por meio de disparo


de arma de fogo ou de arma não especificada,
1º com 29.297 óbitos.
95% desses óbitos ocorreram em homens.
54% desses óbitos entre os homens ocorreram
na faixa etária de 20 a 29 anos.

Óbitos por doenças do aparelho circulatório:


destacam-se as mortes por infarto agudo do
miocárdio (IAM), com 22.310 óbitos.
2º 70% desses óbitos ocorreram em homens.
61% desses óbitos entre os homens ocorreram
na faixa etária de 50 e 59 anos.

Óbitos por neoplasias (tumores): destacam-se as


mortes por neoplasia maligna dos brônquios e
dos pulmões, com 6.365 óbitos.
3º 54% desses óbitos ocorreram em homens.
77% desses óbitos entre homens ocorreram na
faixa etária de 50 e 59 anos.

Óbitos por doenças do aparelho digestivo: desta-


cam-se as mortes por doença alcoólica do fígado,
com 7.269 óbitos.
4º 88% desses óbitos ocorreram em homens.
44% desses óbitos entre os homens ocorreram
na faixa etária de 50 e 59 anos.

Óbitos por doenças infecciosas e parasitárias:


destacam-se as mortes por doença pelo HIV


resultante de doenças infecciosas e parasitárias,
5º com 8.162 óbitos.
67% desses óbitos ocorreram em homens.
34% desses óbitos entre homens ocorreram na
faixa etária de 40 e 49 anos.
32
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Lembre-se!
Novos dados que incluam a pandemia de Coronavírus, que iniciou
em 2019, seguramente trarão um rearranjo das causas de
morbimortalidade.

2.1.2 Doenças cardiovasculares (DCV)


Em 2019, ocorreram 1.179.317 internações por Doença do Aparelho Circulatório
(DAC) registrados no Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde
(SIH/SUS) no Brasil, sendo 608.913 em homens (51,6%), tornando-se a segunda maior
causa de internação na população masculina, com maior número na região Sudeste,
com 268.124 (44,1%) sendo que possui 41,8% da população masculina brasileira
(faz-se necessário ponderar que, nesta região, existe mais recurso disponível e o
acesso mais facilitado, e isso pode contribuir para um maior número de registro),
Sul 135.555 (22,3%) que possui 14,3% e Nordeste 133.912 (22,0%) que possui 26,9%,
seguidas da Centro-Oeste 42.239 (6,9%) que possui 7,8% e Norte 29.083 (4,7%) que
possui 9% (DATASUS, 2021). Confirma os dados no mapa a seguir.

Internações por DCV

Brasil - 608.913 em homens (51,6%)


Sudeste 268.124 (44,1%)
41,8% da população masculina

Sul 135.555 (22,3%)


14,3% da população masculina

Nordeste 133.912 (22,0%)


26,9% da população masculina

Centro-Oeste 42.239 (6,9%)


7,8% da população masculina

Norte 29.083 (4,7%)


9% da população masculina

Fonte: DATASUS (2021).

33
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Em 2019, a DAC representou 18,2% (50.952) do total de óbitos entre homens no


Brasil. O acidente vascular encefálico (AVE), insuficiência cardíaca e infarto agudo
do miocárdio (IAM) corresponderam, em conjunto, por cerca de 60% das mortes
em homens nesse grupo de doenças (DATASUS, 2021).
Destaca-se que as mortes decorrentes das DACs, muitas vezes, acontecem prema-
turamente, ou seja, atingem pessoas com menos de 60 anos de idade e poderiam
ter sido evitadas, uma vez que apresentam como principais fatores de risco o
tabagismo, o sedentarismo, os níveis elevados de colesterol e a obesidade, esses
dois últimos intimamente relacionados à alimentação não saudável. Desta forma,
vem à tona a importância de ações de prevenção para esses fatores de risco, que
podem ser realizadas na APS (MOURA, 2012).
Ressalta-se por meio desses dados epidemiológicos a importância das ações de
promoção da saúde e prevenção de doenças propostas pela PNAISH, no intuito de
diminuir a médio prazo a alta taxa de mortalidade masculina por DAC.

2.1.2.1 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)


A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial frequen-
temente associada a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estrutu-
rais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco (FR),
como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes mellitus
(DM). Mantém associação independente com eventos como morte súbita, acidente
vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca
(IC), doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal.
Os fatores de risco para a HAS são: idade, gênero e etnia, excesso de peso e
obesidade, ingestão de sal, ingestão de álcool, sedentarismo, fatores socioeconô-
micos e genéticos (SBC, 2017).
A HAS é considerada um dos principais
fatores de risco modificáveis e um dos
mais importantes problemas de saúde
pública. A mortalidade por doença car-
diovascular (DCV) aumenta progressiva-
mente com a elevação da pressão arterial
(PA) a partir de 115/75 mmHg de forma
linear, contínua e independente. Estima-
tivas do estudo Vigitel, que é um inquérito
telefônico realizado nas 27 capitais bra-
sileiras, anualmente, desde 2006, para
monitorar a frequência e a distribuição
dos principais determinantes das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT),
mostrou que a frequência de adultos com diagnóstico médico de HAS foi de 21,2%
entre os homens, essa frequência aumentou com a idade e diminuiu com o nível
de escolaridade (BRASIL, 2020a). Acompanhe as informações em todos os estados
na figura a seguir.

34
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Percentual de homens (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico


médico de hipertensão arterial, segundo as capitais dos estados
% brasileiros e o Distrito Federal. Vigitel, 2019
40
35
30
30
26 27
23 23 23 24
25
20 20 20 20 20 21 21 22 22 22
20 18 19 19 19 19
17 17 17
15 15
15

10
5
0
Rio Branco
São Luís
Curitiba
Manaus

Cuiabá
Salvador
Vitória
Boa Vista
Florianópolis
Aracaju
São Paulo
Belo Horizonte

Rio de Janeiro

Campo Grande
Palmas
Belém
Porto Velho
Fortaleza

João Pessoa
Goiânia
Teresina

Natal
Macapá

Maceió
Recife
Porto Alegre
Distrito Federal
Fonte: Brasil (2020a).

Quanto à frequência de HAS autorreferida nas unidades da federação, as maiores


frequências foram observadas no Distrito Federal (29,6%), em Porto Alegre (27,2%)
e Recife (26%); e as menores em Rio Branco (14,9%), São Luís (15%) e Curitiba
(16,7%).

2.1.2.2 Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)


O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), segundo a OMS, é a principal causa de óbito
no mundo, com 7,3 milhões de mortes em 2008, representando 46% dos óbitos
por DCV (WHO, 2011). Em 2019, ocorreram 131.199 internações por IAM, destas,
63,5% acometeram os homens, índice maior que entre as mulheres (36,5%), com
maior número na região Sudeste (49,8%), Sul (18,9%) e Nordeste (19,1%), seguidas
das regiões Centro‑Oeste (7,8%) e Norte (4,4%) (DATASUS, 2021). Veja na ilustração
a seguir.

35
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Proporção de internação por Infarto Agudo do Miocárdio (2019)

131.199 Norte
internações 4,4%
por IAM em 2019
Nordeste
19,1%
47.859
em mulheres 36,5%

Centro-Oeste
7,8% Sudeste
49,8%

Sul
83.340 18,9%
em homens 63,5%

Fonte: adaptado de DATASUS (2021).

Quanto à mortalidade nas diferentes regiões, uma recente pesquisa concluiu, por
meio da análise do efeito da idade-período e coorte entre os anos de 1980 e 2009,
que as diferenças observadas no risco de morte nas regiões brasileiras é fruto das
desigualdades socioeconômicas e de acesso aos serviços de saúde existentes no
território brasileiro, favorecendo a mortalidade precoce por essa causa sobretudo
em localidades mais pobres (SANTOS et al., 2018).
Tratando-se de mortes atribuíveis, a pressão arterial aumentada (13% das mortes
globais) é o principal fator de risco cardiovascular, seguido pelo uso do tabaco (9%),
glicemia elevada (6%), inatividade física (6%) e sobrepeso e obesidade (5%). Esses
fatores de risco comportamentais e metabólicos frequentemente coexistem na
mesma pessoa e atuam sinergicamente para aumentar o risco total do indivíduo
de desenvolver eventos vasculares agudos (WHO, 2011).
Entre os principais fatores de risco modificáveis está o colesterol elevado, princi-
palmente do nível do colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), e seu
controle traz grande benefício na redução de desfechos cardiovasculares como
infarto e morte por doença coronariana. As evidências indicam que a relação entre
sobrepeso/obesidade e o risco cardiovascular depende do acúmulo de gordura in-
tra-abdominal (obesidade central), a qual mostra alta correlação com a circunfe-
rência abdominal (SBC, 2015).

36
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

2.1.2.3 Acidente Vascular Encefálico (AVE)


O acidente vascular encefálico (AVE) é dividido em hemorrágico (AVEh), isquêmico
(AVEi) e ataque isquêmico transitório (AIT). Apenas 15% são hemorrágicos, respon-
sáveis por 40% das mortes. É a principal causa de incapacidade no mundo. Apro-
ximadamente 70% das pessoas não retornam ao trabalho após um AVE devido às
sequelas e 50% ficam dependentes de outras pessoas no dia a dia. A Organização
Mundial de AVE (do inglês World Stroke Organization) prevê que uma a cada seis
pessoas no mundo terá um AVE ao longo de sua vida (SBC, 2015).
Semelhante ao que ocorre no mundo, o AVE é uma das principais causas de interna-
ções e mortalidade no Brasil. Segundo dados do SIH/SUS, em 2019 ocorreram no
Brasil 163.114 internações por AVE não especificado, isquêmico ou hemorrágico, sendo
85.304 em homens (52,3%), com maior número na região Sudeste 35.100 (41,1%),
Nordeste 24.840 (29,1%), seguidas das regiões Sul 15.701 (18,4%), Centro-Oeste 5.344
(6,3%) e Norte 4.319 (5,1%) (DATASUS, 2021). No ano de 2019 ocorreram 24.593 óbitos
por AVE, sendo 12.599 em homens (51,2%) (DATASUS, 2021). Confira no mapa.

Segundo dados do SIH/SUS, em


2019 ocorreram no Brasil 163.114
internações por AVE não especifi-
cado, isquêmico ou hemorrágico,
sendo 85.304 em homens (52,3%).

Sudeste 35.100 (41,1%)

Sul 15.701 (18,4%)

Nordeste 24.840 (29,1%)

Centro-Oeste 5.344 (6,3%)

Norte 4.319 (5,1%)

No ano de 2019 ocorreram 24.593 óbitos


por AVE, sendo 12.599 em homens (51,2%)

Fonte: adaptado de DATASUS (2021).

Enquanto fator de risco estabelecido, a idade é uma importante variável. O risco


aumenta após os 50 anos, com alta prevalência na faixa etária acima de 80 anos
(DATASUS, 2021), relacionado ao maior comprometimento vascular em idosos. O
sexo masculino, a raça negra e a história familiar da doença apresentam maior
tendência ao desenvolvimento do AVE (SBC, 2015).
Todavia haja uma evolução no manejo clínico e cirúrgico da doença cerebrovascu-
lar, a prevenção ainda é a estratégia mais efetiva na redução da sua morbimortali-
37
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

dade. Neste sentido, é papel fundamental do médico de família e comunidade


conhecer todas as ferramentas disponíveis para seu manejo, em toda sua integra-
lidade. Pode-se destacar entre as ações preventivas: identificar precocemente e
manejar os fatores de risco, como hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia,
diabetes, doença coronariana, tabagismo e fibrilação atrial (FA) (DURO; ZELL, 2019).

2.1.3 Diabetes Mellitus (DM)


O diabetes mellitus (DM) é um transtorno metabólico de etiologias heterogêneas,
caracterizada por hiperglicemia e distúrbios no metabolismo de carboidratos,
proteínas e gorduras, resultantes de defeitos da secreção e/ou da ação da insulina.
Aproximadamente 6,9% (mais de 13 milhões de pessoas) possuem diabetes no
Brasil, e esse número vem aumentando com o passar do tempo. Em alguns casos,
o diagnóstico demora, favorecendo o aparecimento de complicações (SBD, 2019).
Dados do Vigitel mostram que 7,1% dos homens referiram diagnóstico médico de
diabetes, a frequência dessa condição aumentou intensamente com a idade e
diminuiu com o nível de escolaridade (BRASIL, 2020a). O aumento da prevalência
de DM e sua relação com renda e escolaridade pode ser reflexo da ampliação do
acesso aos serviços de saúde, envelhecimento da população e mudanças de estilo
de vida (FREITAS; GARCIA, 2012)
Segundo dados do DATASUS, em 2019
ocorreram no Brasil 136.245 internações
por DM: 68.365 em homens (50,1%), com
maior número na região Sudeste 26.013
(38,1%), Nordeste 20.906 (30,6%),
seguidas das regiões Sul 9.8528 (14,4%),
Norte 6.922 (10,1%) e Centro-Oeste 4.672
(6,8%) (DATASUS, 2021). Enquanto ações
relacionadas à redução de 91% na inci-
dência de novos casos estão a alimenta-
ção saudável, prática de atividade física,
cessação do tabagismo e redução do
excesso de peso (SBD, 2020).
Enquanto estratégias de prevenção primária e promoção da saúde, em 2013 a OMS
lançou o Plano de Ação Global para a Prevenção e Controle das Doenças Não Trans-
missíveis, período 2012-2025, com o objetivo de inserir nos países membros da
Organização das Nações Unidas (ONU) ações para intervir nas doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT), identificado como fundamental para o alcance das metas
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em especial aquelas relativas à
redução da pobreza e desigualdade (OPAS, 2013).

A midiateca do módulo sugere uma leitura sobre as ações para intervir


nas DCNT.

38
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

2.1.4 Acidentes e violência


As causas externas, categoria que contempla acidentes e violências, foram a primeira
causa de mortalidade entre homens em 2014 e a primeira causa de morbidade em
2015 (BRASIL, 2015b). Foram a segunda causa de mortalidade masculina de acordo
com o capítulo da CID-10 em 2015, mostrando-se um importante agravo à saúde
desse grupo. A prevenção de violências e acidentes está entre os cinco eixos temáticos
da PNAISH, uma vez que são responsáveis por boa parte da morbimortalidade da
população masculina. Acompanhe a seguir as características de cada uma delas.

Acidentes
Segundo o Relatório sobre a Situação Mundial da Segurança no Trânsito, a OMS
apresentou dados preocupantes sobre lesões e mortes resultantes de acidentes
de trânsito, apontando o Brasil no ranking entre os 10 países que apresentam os
mais elevados números de óbitos por acidentes de trânsito, com suas consequên-
cias como sequelas físicas e psicológicas, e que acomete principalmente a população
jovem e em idade produtiva (CONASS, 2019).
O perfil das vítimas de acidentes de trânsito indica que homens com idades entre
20 e 40 anos são os que se envolvem com mais frequência nos acidentes e a leta-
lidade tende a ser maior entre homens e mais elevada à medida que aumenta a
idade (BARROSO; BERTHO; VEIGA, 2019).
Em Minas Gerais, por exemplo, em série histórica dos óbitos por Acidentes de
Transporte Terrestre segundo gênero, verificou-se que 81% dos óbitos por acidentes
ocorreram entre os homens (MINAS GERAIS, 2021).
No Brasil, em 2016, aproximadamente
37 mil pessoas morreram vítimas de
acidentes de trânsito, das quais 6.400
(17%) vieram a óbito após ocorrências
em rodovias federais (BARROSO;
BERTHO; VEIGA, 2019). Os acidentes de
trânsito, segundo a Declaração de
Brasília sobre Segurança no Trânsito,
continuam a representar um grave
problema de saúde pública e uma das
principais causas de morte e lesões em
todo o mundo, uma vez que matam mais de 1,24 milhão de pessoas e lesionam e
incapacitam cerca de 50 milhões de pessoas por ano, sendo mais de 90% das vítimas
mortais de países de baixa e média renda (BRASIL, 2015b). A morte de motociclis-
tas já é considerada uma epidemia global e, apesar das diferenças regionais, possui
altas prevalências ao redor mundo.
A política responsável pela temática de acidentes e violência no Brasil é a Política
Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências (PNRMAV),
em vigor desde 2001. De acordo com a PNRMAV, acidentes são definidos como “o

39
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

evento não intencional e evitável, causador de lesões físicas e ou emocionais no


âmbito doméstico ou nos outros ambientes sociais, como o do trabalho, do trânsito,
da escola, de esportes e o de lazer” (BRASIL, 2005a, p. 8).
Conforme a PNRMAV, os transportes estão fortemente associados ao aumento dos
acidentes de trânsito e às mortes prematuras, assim como às incapacitações físicas
e psicológicas. Nos países de baixa e média renda, os usuários mais vulneráveis
são pedestres, ciclistas, motoristas de veículos motorizados de duas e/ou três rodas
e passageiros de transporte público inseguro. Nesse contexto, pedestres e ciclistas
são os que menos se beneficiam das políticas voltadas aos deslocamentos moto-
rizados, mas arcam com uma parcela desproporcional das desvantagens da mo-
torização, como as lesões, a poluição e a divisão das comunidades por rodovias,
dificultando a locomoção (BRASIL, 2015b).
Enquanto estratégias para prevenção de acidentes, as iniciativas precisam contem-
plar diversas perspectivas, como planejamento e segurança nas rodovias. A chamada
Lei Seca (Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008) é um importante exemplo de política
pública que gerou uma redução importante de mortalidade no Brasil, como um
todo e especificamente nas grandes capitais.
Acompanhando as tendências internacionais, o Ministério da Saúde vem adotando
o conceito de mortalidades evitáveis ou reduzíveis nas mortes no trânsito. Porém,
a responsabilidade pelos acidentes e a mortalidade no trânsito precisa ser parti-
lhada entre planejadores, gestores e usuários. Dentre as propostas largamente
debatidas está o Plano Nacional de Segurança no Trânsito para a Década 2011-
2020, formulado pelo Comitê Nacional de Mobilização pela Saúde, que se baseia
em cinco pilares, veja na figura a seguir.

Gestão da
segurança
no trânsito

Segurança Infraestru-
veicular tura viária
adequada

Comporta-
mento/ Atendimento
segurança pré e pós
do usuário hospitalar

Fonte: adaptado de Brasil (2010a).


40
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

O objetivo deste plano é reduzir os custos humanos sociais e econômicos dos


acidentes de trânsito no Brasil por meio de ações nacionais. Compartilhar as infor-
mações sobre essa importante causa de morbimortalidade com a população do
território e usar estratégias de sensibilização individual e comunitária como, por
exemplo, identificar áreas no território com alto risco de acidentes e então promover
desenvolvimento de ações de promoção da cultura da paz e prevenção de acidentes,
são alguns passos que a equipe pode seguir para diminuir os casos de acidentes
na população adscrita. A discussão com a comunidade pode identificar pontos de
maior risco para pedestres e ciclistas que podem ser compartilhadas com órgãos
intersetoriais para soluções conjuntas.
Vale registrar que o Brasil registrou uma queda anual de 7% nas mortes por acidentes
de trânsito no período entre 2015 e 2019. Os dados são do Departamento de In-
formática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), que mostrou uma redução de 43
mil para 30 mil mortes por ano. A queda do número de mortes no trânsito no Brasil
é o reflexo de uma série de ações implementadas pelo Governo Federal e pelos
governos estaduais e municipais, como as campanhas educativas, que englobam
o Maio Amarelo e a Semana Nacional de Trânsito; a intensificação na fiscalização,
como a blitz da Lei Seca; o aprimoramento da segurança dos veículos; e as medidas
de engenharia de tráfego, como a modernização das rodovias (BRASIL, 2020b).
Para dar continuidade aos estudos, acompanhe agora as informações sobre violência
relacionada aos homens.

Violência
A PNRMAV define a violência como “o evento representado por ações realizadas
intencionalmente por indivíduos, grupos, classes, nações, que ocasionam danos
físicos, emocionais, morais e/ou espirituais a si próprio ou a outros – por exemplo:
homicídio, agressão física, abuso sexual, violência psicológica, negligência e
abandono” (BRASIL, 2005a). Ainda assim, é possível encontrar na literatura diversas
definições de violência, as tipologias comumente utilizadas são da OMS, que clas-
sifica em três grandes categorias, veja a seguir.

Violência coletiva

Inclui os atos violentos que acontecem nos âmbitos macrossociais,


político e econômicos e caracterizam a dominação de grupos e do
Estado. Nesta estão os crimes cometidos por grupos organizados,
os atos terroristas, os crimes de multidões, as guerras e os proces-
sos de aniquilamento de determinados povos e nações.

41
Violência autoinfligida

Subdividide-se em comportamentos suicidas e autoabusos. No


Inclui os atos violentos que acontecem nos âmbitos macrossociais,
político e econômicos e caracterizam a dominação de grupos e do
Estado. Nesta estão os crimes cometidos por grupos organizados,
os atos terroristas, os crimes de multidões, as guerras e os proces-
sos de aniquilamento
EIXO 03 | MÓDULO de determinados povos e nações.
10 Saúde do homem

Violência autoinfligida

Subdividide-se em comportamentos suicidas e autoabusos. No


primeiro caso, a tipologia contempla suicídio, ideação suicida e
tentativa de suicídio. Para o conceito de autoabuso nomeiam-se as
agressões a si próprio e as automutilações.

Violência interpessoal

Subdividide-se em violência comunitária e violência familiar, que


inclui a violência infligida pelo parceiro íntimo, o abuso infantil e
o abuso contra os idosos. Na violência comunitária incluem-se a
violência juvenil, os atos aleatórios de violência, o estupro e o
ataque sexual por estranhos, bem como a violência em grupos
institucionais, como escolas, locais de trabalho, prisões e asilos.

Fonte: adaptado de Krug e colaboradores (2002).

É relevante mencionar que a violência afeta a saúde individual e coletiva, provoca


lesões, traumas físicos e mentais, diminui a qualidade de vida, muitas vezes causando
mortes. Acarreta novas demandas para os serviços de saúde e apresenta a neces-
sidade de ações de prevenção e tratamento de base interdisciplinar, multiprofis-
sional e intersetorial. Apesar disso, é um tema relativamente pouco conhecido na
área do saber e de práticas do setor saúde (MINAYO et al., 2018).
A violência e a situação de pobreza são duas variáveis fortemente associadas, re-
sultantes das desigualdades sociais e da exclusão. A invisibilidade da violência vivida
na esfera doméstica tende a ser minimizada ou tratada como uma questão policial
e jurídica, algumas vezes criminalizando o autor mas, muitas vezes, marginaliza-
das pelo setor saúde, sobretudo aquelas que envolvem os homens.
Com a inclusão dos homens nas propostas de intervenção tentando interromper
o ciclo de violência entre os gêneros, que ocorreu a partir dos anos 2000 com a
PNRMAV citada acima, observou-se a necessidade de maior conhecimento acerca
do papel do homem nas violências ditas não fatais, com destaque as do tipo
doméstico.

42
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Violência doméstica e o papel do agressor

A violência doméstica, do homem no papel de agressor


contra a parceira, aponta a imposição de uma autoridade
sobre as mulheres e a submissão feminina nas relações
afetivas, o que reflete em atos de humilhação, maus
tratos, xingamentos e ameaças de outras agressões por
parte dos homens, quando não atendidos quanto aos
afazeres domésticos, obrigações com filhos ou nas rela-
ções de casal, por exemplo (MARQUE et al., 2018).

Esses casos normalmente chegam ao conhecimento da


equipe por meio da vítima ou do ACS e de vizinhos. Aten-
ção às vítimas e ações conjuntas com outros órgãos, como
o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), são
importantes. Com relação à abordagem dos homens que
perpetram a violência, pode-se considerar ações de grupo
para homens perpetradores de violência doméstica, como
sugere a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e
Comunidade (SBMFC, 2019).

A literatura aponta que os homens cometem mais violência sexual, ou seja, como
autores, contra as mulheres; e também são os que mais cometem violência física
entre seus pares, ou seja, entre os homens. Acompanhe, a seguir, as informações
sobre violência.
De acordo com o Atlas da Violência, publicado em 2019, a proporção de óbitos
causados por homicídios foi de 2,2% entre as mulheres, enquanto entre os homens
esse valor foi de 14,7%. Tal problema ganha contornos ainda mais dramáticos
quando levado em conta que a violência letal acomete principalmente a população
jovem. Do total de óbitos de homens entre 15 a 19 anos de idade 59,1% são oca-

43
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

sionados por homicídio – sua taxa por 100 mil habitantes chegou a 130,4 em 2017,
seguido das doenças infecciosas, neoplasias, DAC e doenças do aparelho respira-
tório. Esses dados mostram a necessidade de políticas públicas direcionadas na
redução de homicídios entre jovens (IPEA, 2019).

Proporção de óbitos por homicídio em 2019

Óbitos por homicídio:

Entre homens 14,7% Entre mulheres 2,2%

Entre homens Outras idades


de 15 a 19 anos entre os homens
(59,1%) (40,9%)

Taxa de 130,4 em
100 mil habitantes em 2017
Fonte: adaptado de IPEA (2019).

2.1.5.1 Reconhecimento e abordagem dos homens em situação de violência


A violência pode ser evitada, e seus riscos diminuídos, se for adequadamente
abordada e trabalhada. Mas, como?
Dia 6 de dezembro é o dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência
contra as Mulheres. A SBMFC nos lembra de que lidar com o tema de violência
contra a mulher envolve frequentemente ser responsável pelos cuidados em saúde
não só das vítimas de violência, mas também estar em contato direto com homens
agressores. Assim, nos conclama ao desafio de convocar homens e meninos de
nossas comunidades a repensar os padrões de masculinidade vigentes e a se res-
ponsabilizar por mudanças efetivas (SBMFC, 2020). Utilizar-se da longitudinalidade
e integralidade do cuidado, além dos atributos de competência cultural e abordagem
comunitária, são essenciais.

44
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

É imprescindível levar em consideração os aspectos das relações de gênero, ou seja,


a construção social e cultural do significado atribuído ao que é ser masculino ou
feminino em cada sociedade, que constitui diferentes papéis sociais aos homens e
às mulheres e que transforma diferenças de gênero em desigualdades sociais.
Sendo assim, os profissionais da saúde, sobretudo os médicos de família e comu-
nidade, precisam estar atentos a essas desigualdades no seu território, buscando
promover alternativas para as pessoas em situação de violência, sem excluir o
homem autor de violência desse cuidado (D´OLIVEIRA; SCHRAIBER, 2019).

Materiais que podem ser utilizados no trabalho de educação de homens


e meninos incluem:
• Materiais da campanha Eles por Elas (@elesporelasheforshe) conduzida
pela OMS, disponível em: http://www.onumulheres.org.br/elesporelas/
• Recursos como o livro “Como conversar com homens sobre violência
contra as mulheres”, disponível em: https://drive.google.com/file/d/1yR-
jViczdBWl9GSID-W9euEoGw3e_GjSb/view
Esses são alguns materiais que constituem ferramentas acessíveis às
equipes de saúde para iniciar debates e construir novos caminhos coletivos
rumo a um mundo livre de violência contra mulheres (SBMFC, 2020).

No que tange à violência urbana que atinge principalmente os homens, como apre-
sentamos anteriormente, é fundamental que se façam investimentos nos jovens,
com prioridade aos territórios mais vulneráveis socioeconomicamente, de modo a
garantir condições de desenvolvimento infanto-juvenil, acesso à educação, cultura
e esportes, além de mecanismos para facilitar o ingresso do jovem no mercado de
trabalho. Já foi evidenciado que investir na primeira infância e juventude para evitar
que a criança de hoje se torne um homicida de amanhã, é muito mais econômico
do que dispor de recursos nas infrutíferas e dispendiosas ações de repressão bélica
ao crime na ponta e no encarceramento (IPEA, 2019).

Lembre-se!
Ainda que a violência e os acidentes sejam multicomplexos, a
OMS defende que eles são evitáveis e que ações preventivas
precisam ser incentivadas e implantadas.

Cabe aos serviços de saúde, além de promover uma boa assistência às vítimas,
adotar uma postura mais proativa na elaboração de parcerias para atuar na
prevenção da violência e dos acidentes como, por exemplo, reconhecer nos seus
territórios os dispositivos para auxiliar nessas ações, como escolas, igrejas, centros

45
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

comunitários, que são espaços onde a equipe pode se inserir e realizar atividades
de educação em saúde, além de atividades de promoção da saúde e da cultura de
paz (SANTOS; SANTOS; CAIRES, 2019).
Para que possamos propiciar aos homens
a busca pela rede de atenção à saúde do
SUS, devemos compreender seu caminho
na busca pelo cuidado, ao invés de cul-
pabilizá-lo pelo panorama de morbimor-
talidade, sobretudo os acidentes e a
violência. Ainda, faz-se necessária uma
ampla discussão sobre a PNAISH, entre
todos os atores sociais envolvidos, de
modo a implementar estratégias que
promovam o adequado reajuste entre a
demanda e a oferta de serviços voltados às necessidades de saúde do público
masculino, no seu contexto social e familiar (MARQUES et al., 2018).
Algumas ações de abordagem comunitária podem ser utilizadas para se aproximar
desse público frequentemente negligenciado pelos serviços. Segundo Dantas e
Modesto (2019), uma estratégia de aproximação seriam ações educativas em sala
de espera e em locais da comunidade onde os homens estão, como bares, times
de futebol, padarias, oficinas mecânicas, canteiro de obras, festas, feiras e demais
atividades esportivas.

2.2 CONDIÇÕES DE VULNERABILIDADE NA SAÚDE DO HOMEM


A saúde dos homens está estreitamente relacionada com as construções e os papéis
sociais atribuídos ao masculino no mundo ocidental. Os homens, apesar de gozarem
historicamente de posições privilegiadas na sociedade, apresentam comportamen-
tos e atitudes que os distanciam do cuidado de si, dos serviços de saúde e os
colocam constantemente em situações de risco (COURTENAY, 2000; BRASIL, 2009a).
Para aprofundarmos este assunto vamos conhecer os conceitos de gênero e mas-
culinidades e sua relação com a saúde dos homens.

2.2.1 Gênero, masculinidades e cuidado com a saúde


Amplamente utilizado nos estudos feministas o conceito de gênero é compreen-
dido como os “atributos, papéis ou funções sociais culturalmente legitimados para
indivíduos do gênero masculino e feminino, estabelecendo-os com determinados
valores sociais diferentes e desiguais entre si” (COUTO; SCHRAIBER; AYRES, 2009,
p. 352). Ou seja, o gênero está relacionado às construções sociais e culturais atri-
buídas aos diferentes sexos, sendo uma categoria sociológica, mas também um
importante determinante social da saúde (SCOTT, 1986).
Deste modo, enquanto princípio ordenador do pensamento e das ações, o gênero
constitui atributos culturais aos sexos, a partir de uma perspectiva relacional. Tanto

46
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

a masculinidade quanto a feminilidade consistem em espaços simbólicos que es-


truturam a identidade dos sujeitos (homens e mulheres), forjando comportamen-
tos e emoções embasados em vivências prévias que vão tornando-se modelos a
serem seguidos (MACHIN et al., 2011; COURTENAY, 2000).
As masculinidades são compreendidas como configurações práticas relacionadas
com as posições dos homens na estrutura das relações de gênero (CONNELL, 1995).
Ou seja, as masculinidades não são identidades estáticas, mas sim práticas sociais
dos diferentes grupos de homens. Assim, existem diferentes práticas de masculini-
dades a depender do local em que se está atuando e do grupo de homens que se
está cuidando, sendo que elas impactam na saúde de forma distinta (CONNELL, 1995).

As diferentes manifestações e práticas de masculinidades


ocorrem entre os grupos de homens gays, homens bissexu-
ais, homens trans, homens heterossexuais ou mesmo quando
observamos o contexto rural e urbano. Essas diferenças
também ocorrem devido a fatores étnico raciais, culturais,
históricos, econômicos, educacionais e geracionais que in-
fluenciam na produção de diferentes versões (KIMMEL, 1998).

Apesar dessas diferenças e singularidades internas, percebe-se que os homens


constroem sua masculinidade apoiados na crença de características do “ser homem”
e provedor como a virilidade, a força e a invulnerabilidade, o que impacta no seu
envolvimento com práticas de risco à saúde, no trabalho e no lazer, e distancia-
mento de ações dos serviços de saúde e de autocuidado (MACHIN et al., 2011;
COURTENAY, 2000; BRASIL, 2009b).
Essas práticas de risco, bem como a busca da legitimação do poder perante outros
homens e mulheres, são denominadas masculinidade hegemônica. A masculini-
dade hegemônica não se refere à maioria dos homens, mas sim às formas soberanas
na sociedade, ou seja, que no conjunto de ideias vigentes apresenta-se como
dominante (CONNELL, 1995).
Em relação à saúde, os homens tendem a negar a existência/sentimento de dor
ou sofrimento e de vulnerabilidades, buscando reforçar o ideal de força atribuído
ao masculino, marcando sua diferença com o feminino. Isso é reflexo de um processo

47
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

de socialização dos homens, em que para corresponder aos códigos masculinos é


necessário distanciar-se de possíveis associações com as mulheres. Além disso,
neste processo de construção, embasado na masculinidade hegemônica, deve-se
constantemente provar sua masculinidade entre seus pares (MACHIN et al., 2011;
BRASIL, 2009a).

Lembre-se!
Os homens acabam sendo vítimas de comportamentos de risco
oriundos das construções de masculinidades hegemônicas, visto
que são mais acometidos de doenças e agravos que as mulheres,
além de apresentarem menor expectativa de vida.

Neste sentido, para os profissionais da saúde, entender o significado do “ser homem”


e das masculinidades, a partir de uma perspectiva relacional de gênero, auxilia na
compreensão do modo que os homens agem, pensam e lidam com riscos, possi-
bilitando o desenvolvimento de abordagens mais adequadas e assertivas no
cotidiano dos serviços de saúde (DANTAS; MODESTO, 2019).
Considerando esta necessidade, Creighthon e Ollife (2010) apresentam uma pro-
posição para atuação sobre este problema utilizando o conceito de “comunidades
de prática”. O trabalho consiste em investigar, no processo de trabalho, como as
práticas sociais ligadas ao masculino são aprendidas e reproduzidas nos diferen-
tes subgrupos de homens e locais presentes no território. Para isso, o profissional
da saúde deve considerar a relevância do discurso, da cultura e das instituições
envolvidas na formação local das masculinidades. Desta forma, é possível localizar
e relacionar as práticas de saúde dos homens com as identidades e práticas de
masculinidades que emergem na comunidade.
A partir disso, almeja-se que os profissionais envolvidos neste processo passem a
conhecer as formações das identidades nos subgrupos em que os homens da
população adscrita estão inseridos. Com isso, podem modificar e personalizar as
ações em saúde para os homens a depender das suas necessidades e das carac-
terísticas dos grupos que estão inseridos, atuando sobre a saúde dos homens e
também sobre as construções de masculinidades que são base para os problemas
(CREIGHTHON; OLIFFE, 2010).

2.2.2 Hábitos relacionados à saúde


Entre os comportamentos não saudáveis e fatores de risco geralmente relaciona-
dos ao ser homem destacam-se o uso de drogas, tais como o tabaco, o álcool e
outras drogas, a obesidade e o sedentarismo. Neste tópico, você vai aprofundar
conhecimentos sobre o uso dessas substâncias e sobre alguns comportamentos
da população masculina.

48
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

2.2.2.1 Uso de álcool, tabaco e outras drogas


O perfil de morbidade masculina aponta a necessidade de estabelecer estratégias
em relação ao tabagismo e ao abuso de álcool, fatores de grande impacto no ado-
ecimento dessa população. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo IBGE
em 2013 apontou que 19,2% dos homens maiores de 18 anos usam algum produto
derivado do tabaco e 21,6% faziam uso abusivo de álcool (DANTAS; MODESTO,
2019). Acompanhe mais sobre tais temas a seguir.

Uso de álcool
Cerca de 20% das pessoas que buscam um serviço de saúde na APS fazem uso de
álcool em um nível considerado de alto risco. Sendo o principal transtorno mental
nos diversos níveis assistenciais, alguns autores justificam estar em igual priorida-
de ao problema da hipertensão na APS. Inclusive, está mais relacionado ao gênero
masculino, em especial, a adultos jovens (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019).
O consumo de álcool é permitido em quase todas as culturas do mundo. Vale
mencionar que os fatores envolvidos na decisão de beber ou em problemas tem-
porários com a bebida são diferentes dos fatores que contribuem para os problemas
severos e recorrentes (SILVA et al., 2019).
Dentre as diferentes substâncias psico-
ativas e considerando todas as faixas
etárias, o uso abusivo de álcool tem
maior prevalência global, trazendo
graves consequências para a saúde
pública mundial. Em estudo sobre a
carga global de doenças, foi estimado
que o álcool seria responsável por cerca
de 1,5% de todas as mortes no mundo,
bem como por 2,5% do total de anos
perdidos ajustados para incapacidade
(BRASIL, 2003). Entre os problemas
físicos em decorrência do abuso do
álcool estariam a cirrose hepática e a
miocardiopatia alcoólica, além das lesões
decorrentes de acidentes (BRASIL, 2003).
Acompanhe a seguir algumas informações divulgadas no Vigitel 2020 sobre o
consumo abusivo de álcool, no conjunto de 26 capitais e no Distrito Federal. Para
homens, o consumo abusivo de bebidas alcoólicas corresponde à ingestão de cinco
ou mais doses, em uma mesma ocasião, dentro dos últimos 30 dias. Veja a repre-
sentação no mapa que demonstra alguns dados relacionados ao tema.

49
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

No Brasil, em 2019 a frequência do consumo


abusivo de bebidas alcoólicas variou entre:

14,2%, em Natal
24,3%, em Salvador

As maiores entre homens foram


observadas nas cidades de:

Cuiabá (33,1%)
Salvador (31,7%)
Distrito Federal (30,9%)

As menores frequências do consumo abusi-


vo de bebidas alcoólicas no gênero masculi-
no ocorreram em:

Natal (20,8%)
São Paulo (21,2%)
Porto Alegre (21,6%)

Fonte: adaptado de Brasil (2020a).

O uso de instrumentos de avaliação do consumo como o AUDIT e CAGE, além de


técnicas de intervenção breve, pode ser muito útil para a abordagem do tema em
consultas de rotina em que se suspeita da relação das queixas com o consumo de
substâncias como o álcool (BRASIL, 2013b).

Abordagem e manejo do alcoolismo


O diagnóstico e classificação psiquiátrica do transtorno por uso de álcool, atual-
mente, está classificado de acordo com o Diagnóstico e Estatística Manual de Trans-
tornos Mentais, Quinta Edição (DSM-5) (APA, 2013). O questionário CAGE é um im-
portante auxiliar na triagem da anamnese dos pacientes usuários de álcool para
estabelecer o padrão de consumo do álcool.

Questionário CAGE:
• Cut down: Alguma vez já tentou diminuir a quantidade de bebida alcoólica
(ou parar de beber)? S/N
• Annoyed: Alguém já chamou a sua atenção/criticou seu modo de beber? S/N
• Guilty: Já sentiu-se preocupado ou culpado pelo hábito de beber? S/N
• Eye opener: Já bebeu logo pela manhã para aliviar algum mal-estar? S/N

50
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Interpretação: Duas ou mais respostas afirmativas sugere abuso ou depen-


dência de álcool.
Dicas importantes antes de iniciar o tratamento:
1. Estabeleça metas:
a. Comumente o paciente apresentará abstinência: seu controle adequado
melhora a adesão ao tratamento;
b. Redução de danos com quantidade menor de doses/dia pode ser um
auxiliar importante no início da abordagem;
2. Motivação:
a. Contato contínuo da equipe e incentivo sem julgamentos;
3. Tratar abstinência:
a. Avaliar o potencial risco de abstinência e prevenir;
b. Avaliar a gravidade da dependência;
4. Não esquecer de possíveis comorbidades.

Abordagem do usuário
Temos inúmeras técnicas de abordagem do usuário de álcool. No entanto, a
prevenção constitui o principal elemento (ações educativas). A efetividade das ações
mistas (não farmacológica e farmacológica) obtém um melhor resultado.
• Não farmacológica: abordagem multiprofissional (psicossocial);
• Farmacológica: ação em relação às alterações agudas e crônicas da bebida.
Quando encaminhar?
• Necessidade de desintoxicação;
• Transtornos psiquiátricos graves associados;
• CAPS, AA, etc

Tabaco
Em todo o mundo, o tabagismo é a
principal causa de morte prevenível,
afetando mais de 1 bilhão de pessoas e
causando cerca de 8 milhões de mortes,
de acordo com informações da OMS
(WHO, 2020). A dependência ao tabaco
(nicotina) é considerada uma doença
crônica, que, com frequência, exige
repetidas intervenções e várias tentati-
vas para se obter uma abstinência pro-
longada (IAMONTI; LEITÃO FILHO, 2019).
Confira, a seguir, alguns dados brasilei-
ros sobre o tema.

51
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

De acordo com o Vigitel em 2019, no Brasil, a prevalência


de fumantes diários (≥ 18 anos) foi de 9,8%, sendo maior
no gênero masculino (12,3%) do que no feminino (7,7%).

Considerando toda a população, a frequência de fuman-


tes mostrou tendência de ser menor entre os adultos
jovens (antes dos 25 anos de idade) e entre os adultos
com 65 anos e mais.

A frequência do hábito de fumar diminuiu com o aumen-


to da escolaridade, e é particularmente alta entre homens
com até oito anos de estudo (16,8%).

Quanto aos fumantes passivos no domicílio, a frequência


é de 6,8%, proporção semelhante entre homens e mulhe-
res. Em ambos os sexos, a frequência dessa condição foi
maior na faixa etária de 18 a 24 anos.

Fonte: adaptado de Brasil (2020a).

Vale ressaltar que, apesar de o tabagismo ser uma doença crônica prevalente,
existe tratamento eficaz disponível. É necessário fazer uma abordagem adequada
do fumante, mas deve-se salientar o papel importante do médico de família e co-
munidade e dos demais membros da equipe multiprofissional no controle do
tabagismo na população que assiste, atuando seja na prevenção durante a pueri-
cultura, seja na identificação e no tratamento de tabagistas, assim como na educação
em relação ao tabagismo passivo (IAMONTI; LEITÃO FILHO, 2019).
São considerados como dependentes os indivíduos que tenham apresentado, no
ano anterior, pelo menos três dos critérios a seguir (BRASIL, 2020c):
• desejo forte e compulsivo para consumir a substância (fissura ou craving);
• dificuldade para controlar o uso (início, término e níveis de consumo);
• estado de abstinência fisiológica diante da suspensão ou redução, carac-
terizado por síndrome de abstinência e consumo da mesma substância ou
similar, com a intenção de aliviar ou evitar sintomas de abstinência (reforço
negativo);

52
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

• evidência de tolerância, ou seja, necessidade de doses crescentes da subs-


tância para obter os efeitos produzidos anteriormente com doses menores;
• a
 bandono progressivo de outros prazeres em detrimentos do uso de subs-
tâncias psicoativas;
• a
 umento do tempo empregado para conseguir ou consumir a substância
ou recuperar- se de seus efeitos;
• p
 ersistência no uso apesar das evidentes consequências, como câncer pelo
uso do tabaco, humor deprimido ou perturbações das funções cognitivas
relacionada com a substância.

Abordagem e manejo ao tabagismo


O envolvimento do médico aumenta a probabilidade de sucesso na cessação do
tabagismo. A abordagem básica (PAAPA – sigla para Perguntar e Avaliar, Aconse-
lhar, Preparar e Acompanhar) consiste em perguntar, avaliar, aconselhar, preparar
e acompanhar um fumante para que deixe de fumar. Também pode ser feita por
qualquer profissional da saúde durante a consulta de rotina, com duração mínima
de 3 minutos e máxima de 5 minutos em cada contato. O Teste de Fagerström, por
sua vez, é um importante auxiliar na triagem da anamnese dos pacientes usuários
de tabaco para avaliar o grau de dependência à nicotina.

Teste de Fagerström
1. Em quanto tempo depois de acordar você fuma o primeiro cigarro?
• Dentro de 5 minutos (3)
• 6-30 minutos (2)
• 31-60 minutos (1)
• Depois de 60 minutos (0)
2. Você acha difícil ficar sem fumar em lugares onde é proibido (por exemplo, na
igreja, no cinema, em bibliotecas, e outros.)?
• Sim (1)
• Não (0)
3. Qual o cigarro do dia que traz mais satisfação?
• O primeiro da manhã (1)
• Outros (0)
4. Quantos cigarros você fuma por dia?
• Menos de 10 (0)
• De 11 a 20 (1)
• De 21 a 30 (2)
• Mais de 31 (3)

53
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

5. Você fuma mais frequentemente pela manhã?


• Sim (1)
• Não (0)
6. Você fuma mesmo doente quando precisa ficar na cama a maior parte do tempo?
• Sim (1)
• Não (0)

Interpretação do resultado:
Dependência (soma dos pontos):
• 0-2: muito baixa
• 3-4: baixa
• 5: média
• 6-7: elevada
• 8-10: muito elevada

Dicas importantes antes de iniciar o tratamento:


1. Avalie o grau de motivação: A escala de Proschaska e DiClemente classifica o
usuário de tabaco em cinco estágios:
a. Pré contemplação; não cogita parar de fumar
b. Contemplação: começa a admitir que fumar é um problema
c. Preparação: a pessoa dá os primeiros passos em direção à cessação do
tabagismo;
d. Ação: adoção de atitudes específicas (fase em que o apoio é de fundamen-
tal importância, assim como reforços positivos);
e. Recaídas: importante a ciência da pessoa sobre as recaídas/lapsos.
2. Não esquecer de possíveis comorbidades: detalhamento da história e exame
físico e, caso necessário exames complementares em função de possíveis com-
plicações do tabagismo.

Conduta proposta ao usuário:


Temos inúmeras técnicas de abordagem do usuário de tabaco. No entanto, a
prevenção constitui o principal elemento (ações educativas). A efetividade das ações
mistas (não farmacológica e farmacológica) obtém um melhor resultado.
a. Não farmacológica: abordagem multiprofissional (psicossocial): abordagem
em grupos, reuniões, apoio do serviço de psicologia da rede (se
disponível);

54
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

b. Farmacológica: Os medicamentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde


para o tratamento do tabagismo na rede do SUS são os seguintes: terapia
de reposição de nicotina (adesivo transdérmico e goma de mascar) e o clo-
ridrato de bupropiona (Brasil, 2020c).
• Cloridrato de bupropiona: comprimido de 150 mg;
• Nicotina (de liberação lenta): adesivo de 7, 14 e 21 mg (uso
transdérmico);
• Nicotina (de liberação rápida): goma de mascar de 2 mg e
pastilha de 2 mg.

Neste site você encontrará a portaria que explana o detalhamento para


prescrição caso a caso. Não deixe de consultar!
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//
protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-do-tabagismo.pdf

Problemas do tabaco relacionados à saúde (CID-10):


• F17.1 Transtornos devido ao uso do fumo – uso nocivo para a saúde
• F17.2 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de fumo –
síndrome de dependência
• F17.3 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de fumo –
síndrome (estado) de abstinência
• T65.2 Efeito tóxico do tabaco e da nicotina
• Z72.0 Uso de Tabaco

Para avaliar o grau de dependência à nicotina, pode ser usado o Teste


de Fagerström. Saiba mais com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêu-
ticas - Tabagismo, disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.
inca.local/files//media/document//protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeu-
ticas-do-tabagismo.pdf (BRASIL, 2020c).

55
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Outras drogas

Com o objetivo de estimar e avaliar os parâmetros epidemiológicos do uso de


drogas, foi realizado em 2015 o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas
pela População Brasileira, o qual entrevistou cerca de 17 mil pessoas com idades
entre 12 e 65 anos, em todo o Brasil. Os resultados apontaram que 3,2% dos bra-
sileiros usaram substâncias ilícitas nos 12 meses anteriores à pesquisa, o que
equivale a 4,9 milhões de pessoas. Esse percentual foi maior entre os homens: 5%
(entre as mulheres cerca de 1,5%). Entre os jovens de 18 e 24 anos, 7,4% respon-
deram que haviam consumido drogas ilegais no ano anterior à entrevista. A subs-
tância ilícita mais consumida no Brasil é a maconha: 7,7%, seguida da cocaína em
pó, consumida por 3,1% dos brasileiros entre 12 e 65 anos (BASTOS et al., 2017).
É importante lembrar ao abordar o uso
de drogas ilícitas por homens a dificul-
dade na atenção à saúde desse grupo –
ao serem acusados de fracos e irrespon-
sáveis quando acontecem as recaídas,
eles precisam lidar com a ideia de
fracasso e com o rótulo de incapaz para
tomar suas próprias decisões, conflitan-
do com a forma com que foram
educados, tendo a força e a coragem
como sinônimos de masculinidade he-
terossexual (essas referências de mas-
culinidade – força e coragem – também
explicam o fato de os homens correrem mais riscos associados aos contextos de
uso e comércio de drogas) (MORAES; CASTRO; PETRUCO, 2011).
O caderno de atenção básica sobre transtornos mentais inclui detalhes da técnica
de Intervenção Breve (IB), que pode ser usada na abordagem das pessoas que
apresentam problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, especial-
mente nos serviços que compõem a APS (BRASIL, 2013b).
As IBs podem durar de cinco a 30 minutos, em um atendimento de rotina, ao
suspeitar da relação entre a queixa apresentada pela pessoa e uma possível asso-
ciação com o uso de alguma substância. A IB inclui as seguintes etapas:
• Identificação e dimensionamento dos problemas ou dos riscos, geralmen-
te por meio do uso de um instrumento padronizado de rastreamento,
como o AUDIT (para uso de álcool) e ASSIST.
• Oferta de aconselhamento, orientação e, em algumas situações, monito-
ramento periódico do sucesso em atingir as metas assumidas pela pessoa
(BRASIL, 2013b).

56
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Alguns exemplos de opções e estratégias de IB trazidos pelo Ministério da Saúde são:

• S
 ugira à pessoa que faça um diário sobre seu uso de substância, registran-
do, por exemplo, onde costuma (ou costumava) usar, em que quantidade,
em companhia de quem, por qual razão, etc. Isso ajudará a identificar as
possíveis situações de risco.
• Identifique com a pessoa algumas atividades que possam lhe trazer prazer,
por exemplo, alguma atividade física, tocar um instrumento, ler um livro,
sair com pessoas para atividades de lazer. Após essa identificação, proponha
a ela que faça alguma dessas atividades no período em que, geralmente,
estaria usando a substância.
• F
 orneça informações sobre os prejuízos associados ao uso de drogas e
sobre a rede de cuidados disponíveis em que a pessoa possa buscar ajuda
especializada, se for o caso.
• P
 rocure ter conhecimento dos recursos existentes na comunidade, para
ajudá-la a identificar atividades que seriam de seu interesse participar,
como centros de convivência, oficinas, atividades esportivas e outras.
• D
 escubra algo que a pessoa gostaria de ter e sugira que ela economize o
dinheiro que normalmente gastaria para obter a substância para adquirir
aquele bem. Faça as contas com ela sobre quanto ela gasta. Por exemplo,
um fumante que gaste R$ 10,00 por dia com cigarros, em um mês econo-
mizaria R$ 300,00 e em 6 meses R$ 1.800,00. Com este dinheiro, poderia
comprar uma TV nova, por exemplo, ou pagar mais da metade de um com-
putador completo. Contas simples como essa podem ajudar a perceber o
prejuízo financeiro, além dos problemas de saúde (BRASIL, 2013b).

2.2.2.2 Obesidade e sedentarismo

A obesidade pode ser definida como o acúmulo excessivo de gordura corporal


causada pelo balanço energético positivo, ou seja, a ingestão calórica excede o
gasto calórico. Isso traz graves repercussões à saúde, com perda importante na
qualidade de vida do indivíduo, bem como no aumento de comorbidades. O local
onde a gordura se acumula tem repercussões em suas complicações, sendo que
a obesidade abdominal é mais associada ao diabetes e à doença vascular. As causas
da obesidade incluem influências genéticas, ambientais e sociais. O acúmulo de
gordura pode ser mensurado por meio do índice de massa corporal (IMC), calculado
pela divisão do peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. O IMC
correlaciona-se com os fatores de risco à saúde e é utilizado para classificar se as
pessoas estão em seu peso ideal, com excesso de peso ou o grau de obesidade,
acompanhe na figura esquemática a seguir (NEUMANN; MARCON; MOLINA-BAS-
TOS, 2019).

57
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Classificação do Índice de Massa Muscular (IMC)

Baixo peso Peso normal Sobrepeso Obesidade


IMC < 18,5 kg/m2 IMC ≥ 18,5 e IMC ≥ 25,0 e IMC ≥ 30,5 kg/m2
< 24,99 kg/m2 < 29,99 kg/m2

Como calcular o Índice de Massa Corporal (IMC)


Peso (em quilos)
Altura x Altura (em metros)

Classificação de risco Como medir a circunferência


cardiovascular por meio abdominal
do perímetro da cintura

Homens Mulheres
• Meça sem roupa ou com
Adequado Adequado roupas leves
< 94 cm < 80 cm • Faça a medição ao final de
uma expiração normal
Risco Risco
cardiovascular cardiovascular • Localize a fita métrica à meia
> 102 cm > 88 cm altura entre o último arco
costal e o topo da crista ilíaca

Fonte: elaborado pelos dos autores.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) houve aumento gradual no


peso da população brasileira entre 2002 e 2013. Para os homens, a prevalência de
excesso de peso aumentou de 42,4% em 2002-2003 para 57,3% em 2013, e a
obesidade, de 9,3% para 17,5% (NEUMANN; MARCON; MOLINA-BASTOS, 2019).

58
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Dados provenientes do Vigitel (2019), mostram que as maiores frequências


de excesso de peso foram observadas, entre homens, em:

Campo Grande (63,7%)


Porto Alegre (63%)
Porto Velho (62,2%)

As menores frequências de excesso de


peso, entre homens, ocorreram em:

Salvador (47,2%)
Vitória (50,6%)
Macapá (53%)

No conjunto das 27 cidades pesquisadas, a frequência


de excesso de peso foi de 55,4%, sendo ligeiramente
maior entre homens (57,1%) do que entre mulheres
(53,9%). Entre homens, a frequência dessa condição
aumentou com a idade até os 44 anos e foi maior nos
estratos extremos, maior e menor escolaridade.

Fonte: adaptado de Brasil (2020a).

A obesidade é um dos mais importantes fatores de risco para outras doenças não
transmissíveis, especialmente diabetes e doenças cardiovasculares. Caracterizada
pelo excesso de peso, a obesidade está relacionada ao aumento da mortalidade e
morbidade, atuando como fator de risco para a ocorrência de outras doenças,
como a litíase biliar e a osteoartrite. E está, ainda, associada a alguns tipos de câncer,
como os de cólon, de reto e de próstata (BRASIL, 2014a).
Em relação ao sedentarismo, a inatividade física está relacionada ao aumento da
incidência de doença coronariana, infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial
sistêmica, entre outros agravos. Pessoas fisicamente ativas em geral têm um risco
de 25 a 30% menor de AVE ou morte, comparados aos menos ativos. No mundo,
a prevalência de sedentarismo é maior do que a de qualquer outro fator de risco
modificável, e isso é observado também no Brasil, onde o sedentarismo afeta em
torno de 70% da população (BRESOLIN-PINTO; DEMARZO, 2019).
Chama a atenção o fato de o sedentarismo ser menor entre os homens em relação
às mulheres, e pode ser uma das formas mais eficazes de aproximar os homens
da arena dos cuidados em saúde. Estudos mostram que, para homens, cuidados
com a saúde significam exercícios físicos e observância da alimentação (NASCIMEN-
TO et al., 2011; TONELI; SOUZA; MÜLLER, 2010).

59
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

De acordo com o Vigitel, entre as 27 cidades pesquisadas, a frequência de adultos


fisicamente inativos foi de 13,9%, com pouca diferença entre os sexos. Entre homens,
a frequência de pessoas fisicamente inativas mostrou tendência de aumentar com
a idade. Entre mulheres, ela diminui até os 54 anos e aumenta a partir dessa idade.
Em ambos os sexos, a inatividade física alcançou a maior frequência no estrato de
menor escolaridade (BRASIL, 2020a).

Lembre-se!
Para uma eficiente captação e acolhimento dessa demanda, a
sensibilização da equipe para esta temática é importante, enten-
dendo que o excesso de peso é um agravo à saúde, com grande
influência no desenvolvimento de outras doenças crônicas e que
a reversão desse quadro pode e deve ser, na maioria das
situações, realizada na APS (BRASIL, 2014a).

Seguindo instruções do Ministério da Saúde, a rotina da APS deve incluir a vigilân-


cia alimentar e nutricional no cuidado às demandas espontâneas e programadas.
As ações de pesar e medir, por exemplo, também podem ser realizadas na atenção
à demanda espontânea dos homens, que pode ser importante momento de captação
desses usuários com excesso de peso que não frequentam a UBS nas ações pro-
gramadas (BRASIL, 2014a).
A APS, por suas características, tem
grande potencial para estimular o
aumento da prevalência de pessoas fi-
sicamente ativas na população,
sobretudo quando promove acesso
universal e contato longitudinal no
cuidado às pessoas. Estudos demons-
tram que mesmo intervenções breves e
objetivas realizadas por médicos de
família e comunidade, como por exemplo
o estímulo de criação de grupos de ati-
vidades físicas, discutir com o paciente
o que traria mais prazer e menos des-
conforto para inserir essa prática no
cotidiano. Estabelecer juntos, metas
modestas e progressivas para que não haja desestímulo, caso não sejam atingidas,
são ações efetivas para aumentar os níveis de atividade física da população em
geral (incluindo pessoas de todas as idades). A participação de outros profissionais
de saúde, atuando em equipe multiprofissional e interdisciplinar, potencializa o
efeito dessa intervenção (BRESOLIN-PINTO; DEMARZO, 2019).

60
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Para os usuários que já apresentam comorbidades, como hipertensão e diabetes,


você e sua equipe devem estar atentos ao estado nutricional e aos hábitos alimen-
tares nas consultas de acompanhamento. Nesses casos, além de incluir os indiví-
duos nas atividades em grupo, é preciso avaliar a necessidade de prescrição dietética
individual pelo nutricionista. A discussão do caso com a equipe matricial que inclua
o nutricionista é recomendada. Os casos mais complexos ou com IMC > 40 kg/m²
deverão ser assistidos conjuntamente com serviços de outro nível de atenção,
quando disponíveis (BRASIL, 2014a).

ENCERRAMENTO DA UNIDADE
Nesta unidade, estudamos sobre as principais doenças que acometem os homens,
percebemos que os fatores de risco têm relação com as questões de gênero, as
quais influenciam na forma com que os homens cuidam de sua saúde. Essas
questões de gênero se refletem nos comportamentos, como, por exemplo, maior
frequência de uso de álcool, tabaco e violência, o que os torna mais vulneráveis a
determinadas doenças. Assim, também observamos as diferenças entre homens
e mulheres quanto aos aspectos epidemiológicos de morbidade, mortalidade e os
fatores de risco das doenças mais prevalentes entre os homens.

61
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

UNIDADE 03

Atenção a saúde
sexual e saúde
reprodutiva do
homem
Objetivo de aprendizagem da unidade
Ao final desta unidade, o profissional deve reconhecer os aspectos
da Saúde Sexual, Saúde Reprodutiva (SSSR) e identificar as princi-
pais neoplasias relacionadas à SSSR nos homens.

Objetivos específicos de aprendizagem da unidade


• Reconhecer os aspectos da Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva
(SSSR).
• Identificar as principais doenças relacionadas à SSSR nos homens.
• Comunicar o rastreamento de câncer de próstata baseado em
evidências.

62
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Introdução da unidade: Nesta unidade, vamos estudar como os profissionais da


saúde podem identificar e atuar sobre problemas da saúde sexual e saúde repro-
dutiva dos homens, reconhecendo as influências das relações de gênero e práticas
de masculinidades no enfrentamento dessas situações. Abordaremos também a
importância de conhecer e atuar para a prevenção e o tratamento das neoplasias
relacionadas à saúde sexual e reprodutiva dos homens nos serviços de saúde.

3.1 SAÚDE SEXUAL E SAÚDE REPRODUTIVA (SSSR)


A saúde sexual e a saúde reprodutiva são reconhecidas como Direitos Humanos
no contexto internacional e nacional, resultado de intensas reivindicações e con-
quistas históricas dos movimentos organizados e da população pela garantia da
cidadania (VILLELA; ARILHA, 2003).
No âmbito internacional, alguns marcos reforçaram a saúde sexual e reprodutiva
como direitos básicos para uma vida digna. Acompanhe a seguir!

IV Conferência
Declaração Conferência IV Conferên-
Internacional
Universal dos Mundial de cia Mundial
sobre Popula-
Direitos Direitos sobre a
ção e Desen-
Humanos Humanos Mulher
volvimento

1948 1993 1994 1995

Fonte: adaptado de Villela e Arilha (2003).

No Brasil, em consonância com os marcos internacionais, os direitos sexuais e repro-


dutivos são garantidos a toda população pela Constituição Federal de 1988. Os direitos
sexuais são compreendidos como a possibilidade de “viver a sexualidade com prazer,
sem culpa, vergonha, medo ou coerção, independentemente do gênero, estado civil,
idade ou condição física” (BRASIL, 2013c, p. 11; LOPES-JUNIOR; AMORIM; FERRON, 2019).
Na sua prática profissional, você já pensou como acontece a tomada de decisão
de ter ou não filhos? Em que momento da vida? Com quem? É disto que tratam os
direitos reprodutivos, que é compreendido como como a possibilidade de as pessoas
exercerem a sexualidade e a reprodução livre de qualquer forma de discrimina-
ção, imposição e violência, podendo decidir livremente e responsavelmente. Para

63
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

tal, deve-se garantir o acesso a informações, meios, métodos e técnicas corretas e


seguras para tomar a decisão, se quer ou não ter filhos, quantos deseja ter, com
quem quer tê-los e em qual momento da sua vida, de forma livre e com acesso a
serviços de saúde (BRASIL, 2013c; LOPES-JUNIOR; AMORIM; FERRON, 2019).
Como forma de operacionalizar esses direitos, o Ministério da Saúde, em 2005, lançou
a Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos (BRASIL, 2005b).
Veja as principais ações e diretrizes dessa política no quadro a seguir (BRASIL, 2013c).

Ampliar a oferta de méto-


Ampliar dos anticoncepcionais
reversíveis no SUS.

Incentivar a implementação de atividades


Incentivar educativas em saúde sexual e saúde
reprodutiva para usuários do SUS.

Ampliar o acesso à esterilização cirúrgi-


Implementar ca voluntária, como a laqueadura tubá-
ria e a vasectomia, no SUS.

Capacitar os profis-
sionais da APS em
Capacitar
saúde sexual e saúde
reprodutiva.

Implantar e implementar redes


integradas para atenção às mulhe-
Implantar
res e aos adolescentes em situação
de violência doméstica e sexual.

Ampliar os serviços de referência para a realização


Ampliar do aborto previsto em lei e a garantia de atenção
humanizada e qualificada às mulheres em situação
de abortamento.

64
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Apesar de muito próximas e relacionadas, a saúde sexual e a saúde reprodutiva


apresentam diferenças e especificidades que devem ser compreendidas para
abordagem no cotidiano da APS.

A saúde sexual está relacionada com a


satisfação de necessidades humanas
básicas, como desejo de contato, prazer,
intimidade, carinho e amor. No caso dos
homens, promover a saúde sexual visa
possibilitar que eles exerçam sua sexua-
lidade com maior autonomia, liberdade
e tranquilidade, reconhecendo que
existem normas sociais e construções de
masculinidades que podem atuar como
barreiras nesse processo (OLIVEIRA;
DELZIOVO; GOMES; SCHWARZ, 2016).

Acompanhe a seguir alguns aspectos centrais para a saúde sexual (BRASIL, 2013c):
• Viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações
e imposições e com respeito pleno pelo corpo da parceria.
• Escolher a parceria sexual.
• Viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças.
• Viver a sexualidade, independentemente de estado civil, idade ou condição
física, mental ou social.
• Escolher se quer ou não quer ter relação sexual.
• Expressar livremente sua orientação sexual: heterossexualidade, homos-
sexualidade, bissexualidade, entre outras.
• Ter relação sexual independente da reprodução.
• Realizar sexo seguro para prevenção de gravidez indesejada e de IST/HIV/Aids.
• Acessar serviços de saúde que garantam privacidade, sigilo e atendimen-
to de qualidade, sem discriminação.
• Acessar serviços que permitam prevenção e tratamento de todos os
problemas sexuais e de preocupações e distúrbios.
• Acessar informações sobre educação sexual e reprodutiva.
Uma abordagem da saúde sexual dos homens deve envolver o esclarecimento de
dúvidas sobre a anatomia, o funcionamento e as transformações do corpo nas di-
ferentes fases do curso da vida, bem como atuar sobre conflitos, expectativas, desejos,
comportamentos e satisfação com a atividade sexual. Além disso, deve contemplar

65
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

a orientação para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e saúde


reprodutiva, reconhecendo as influências culturais sobre esse tema (BRASIL, 2013c).
Confira, a seguir, como a saúde reprodutiva e a saúde sexual são descritas nessa
população.

Saúde Sexual Saúde Reprodutiva

Os homens devem ter vida


Os homens devem ter asse-
sexual segura e satisfatória,
gurado o bem-estar físico,
com autonomia para se
mental e social, em todos os
reproduzir e liberdade para
aspectos relacionados com o
decidir se querem ou não ter
sistema reprodutivo, suas
filhos, quando e quantos
funções e processos.
querem ter (BRASIL, 2013c).

Em relação a saúde reprodutiva, os profissionais da saúde devem diferenciar duas ex-


pressões, que podem ser equivocadamente usadas como sinônimo (CARCERERI, 2016):
• Controle de natalidade: relacionado ao controle da força reprodutiva de uma
parte da população de forma compulsória, sem a necessidade de autorização
prévia dos indivíduos, por meio de técnicas que impedem a reprodução como a
esterilização em massa. Geralmente associada a uma condenação moral dos
casais em vulnerabilidade socioeconômica e cultural que possuam mais de um
filho, esse termo não é adequado para a abordagem nos serviços de saúde por
ser considerada uma abordagem higienista.
• Planejamento familiar: política pública coordenada e direcionada para a garantia
da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos da população como um todo. Visa
orientar os usuários para prevenção de situações indesejadas, respeitando as ne-
cessidades e construções socioculturais dos indivíduos.
Para a garantia da saúde reprodutiva, homens e mulheres devem receber informa-
ções adequadas sobre planejamento familiar e métodos contraceptivos, com acesso
a métodos eficientes, seguros, permissíveis e aceitáveis para o contexto social e
cultural. Os profissionais da APS devem estar preparados para orientar os usuários

66
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

sobre o processo reprodutivo, destacando a necessidade da participação ativa dos


homens durante todo o processo. Nos casos em que se opta por ter filho, deve-se
disponibilizar serviços apropriados para que o casal passe por esse momento com
segurança e apoio dos profissionais (CIPD, 1994). A APS, por ser o primeiro contato
do usuário com o sistema, tem a potencialidade de envolver a população masculina
no tema da saúde reprodutiva. Isso pode acontecer nas consultas individuais e em
atividades de grupo que discutam a saúde reprodutiva e o planejamento familiar.
Devido às desigualdades de gênero vigentes na sociedade, desde 1994 é apontado
nas conferências internacionais que os países devem traçar estratégias que incluam
e envolvam os homens nas ações para promoção da saúde sexual e reprodutiva.
Ou seja, o envolvimento masculino deve ser estimulado principalmente em situações
associadas à saúde materno-infantil e à prevenção de ISTs, incluindo o HIV/Aids.
Além disso, deve-se abordar a prevenção de violência contra mulheres e crianças
com atenção especial (CIPD, 1994).
Esta inclusão e o envolvimento dos homens na discussão sobre saúde reproduti-
va deve ser estimulada em todos os contatos deles com a equipe da APS, seja em
atividades em grupos, em uma consulta individual de rotina, consultas para trata-
mento de ISTs ou mesmo em consulta puerperal quando os homens estão presentes.
Dessa forma, busca-se promover a qualificação da saúde sexual e reprodutiva da
população, fomentando a igualdade entre os gêneros. Especificamente entre os homens,
essas ações podem ser cruciais para a aproximação do serviço de saúde e qualifica-
ção do cuidado da saúde sexual e reprodutiva desse grupo (PROMUNDO et al., 2008).

Lembre-se!
As questões relacionadas à anticoncepção, em geral, são tratadas
como responsabilidade exclusiva das mulheres. Assim, na
abordagem da APS deve-se fomentar a construção de parcerias
mais igualitárias e baseadas no respeito, bem como a corespon-
sabilização de homens e mulheres pelo processo reprodutivo.

É importante que a equipe de saúde da APS, por ser o primeiro contato e acompa-
nhar longitudinalmente a população masculina, desenvolva ações para envolvê-
-los nos seguintes temas (BRASIL, 2009b; BRASIL, 2013c):
• Planejamento familiar
• Prática de sexo seguro
• Prevenção de gestações não desejadas e de alto risco
• Divisão de responsabilidades na criação dos filhos e afazeres domésticos
• Acesso a informações sobre os diferentes métodos contraceptivos
• Oferta de diferentes métodos contraceptivos com aconselhamento e acom-
panhamento da equipe
67
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

O atendimento às ISTs, bastante frequente na população masculina, é uma opor-


tunidade de abordar a saúde sexual e reprodutiva. O trabalho de orientação dos
profissionais da saúde deve enfocar a prevenção dessas infecções, bem como o
tratamento precoce nos casos já instalados, prevenindo complicações evitáveis na
saúde dos homens acometidos pelas ISTs, evitando a manutenção da cadeia de
transmissibilidade (BRASIL, 2009b; BRASIL, 2013c).
Nesta intersecção entre saúde sexual e saúde reprodutiva, deve-se pensar em uma
dupla proteção pelo uso combinado de um método de barreira, como o preserva-
tivo masculino ou feminino, com outro método anticoncepcional. Dessa forma, é
possível ao mesmo tempo prevenir a gravidez e as infecções pelo HIV/Aids e outras
ISTs (BRASIL, 2010b). Destaca-se a necessidade de considerar os diferentes grupos
de homens na abordagem com os usuários, evitando pressupor que todos sejam
cissexuais e heterossexuais, bem como considerando as especificidades de homens
gays, bissexuais e trans no que tange à saúde sexual e reprodutiva (OLIVEIRA;
DELZIOVO; GOMES, SCHWARZ, 2016).
Atualmente no SUS os métodos anticoncepcionais reversíveis ofertados à rede de
serviços são adquiridos pelo Ministério da Saúde e distribuídos aos estados e mu-
nicípios, podendo haver incremento por parte desses (BRASIL, 2013c). Acompanhe
a seguir os métodos disponibilizados:
• Preservativo masculino
• Preservativo feminino
• Diafragma
• Pílula combinada de baixa dosagem
(etinilestradiol 0,03 mg + levonorges-
trel 0,15 mg)
• Minipílula (noretisterona 0,35 mg)
• Pílula anticoncepcional de emergência
(levonorgestrel 0,75 mg)
• Injetável mensal (enantato de norestiste-
rona 50 mg + valerato de estradiol 5 mg)
• Injetável trimestral (acetato de medro-
xiprogesterona 150 mg)
• DIU Tcu-380 A (DIU T de cobre)
Lembre-se de que as informações sobre os métodos e riscos sempre devem ser
claras e objetivas, facilitando a tomada de decisão por parte dos usuários. Além
disso, no processo de escolha do método anticoncepcional para o planejamento
reprodutivo, deve-se considerar a preferência dos usuários envolvidos, as caracte-
rísticas dos métodos, os fatores individuais e o contexto de vida. É indispensável
uma escolha livre e informada dos usuários envolvidos, todavia isso não deve
acarretar em riscos para saúde.

68
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

No próximo item vamos aprofundar os estudos sobre os aspectos de gênero e


masculinidades com vistas a compreender suas implicações na saúde sexual e
saúde reprodutiva dos homens.

3.1.1 Gênero, masculinidades e Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva (SSSR)


As construções de gênero e masculinidades influenciam na forma como os homens
constituem suas subjetividades, como se relacionam com mulheres e outros homens,
como cuidam da saúde e se relacionam com os serviços, os profissionais da saúde,
a família e a comunidade.
A abordagem de gênero deve ser utilizada a partir de uma perspectiva social e
histórica, bem como considerar que essas construções são mutáveis a depender
do contexto que se analisa ou atua. Embora tenhamos experimentado importan-
tes avanços nas últimas décadas, ainda vivenciamos uma sociedade com relações
de gênero desiguais em que as masculinidades hegemônicas ocupam um espaço
de superioridade quando comparadas à feminilidade e às masculinidades subal-
ternas (DANTAS; MODESTO, 2019).
As masculinidades, conforme Connell (1995), são “uma configuração de prática em
torno da posição dos homens na estrutura das relações de gênero”. Ou seja, um
conjunto de atributos e comportamentos associados a meninos e homens em de-
terminado contexto social. Nesta perspectiva, deve-se pensar em múltiplas mas-
culinidades, que modificam de acordo com características individuais e sociais.
No Brasil, os termos masculino e masculinidades, em geral, estão associados a invul-
nerabilidade, agressividade, insensibilidade, força, razão e ausência de emoção. Além
disso, relaciona-se com a violência, o interesse por esportes e atividades físicas, o
estímulo e cultivo de uma sexualidade ativa e sem limites, bem como a oposição a
características femininas como ternura, fragilidade, afetividade, sensibilidade e a uma
sexualidade segura. Isso faz com que os homens estejam muito mais envolvidos com
práticas de risco à saúde tanto no trabalho como no lazer (COURTENAY, 2000).

Essa noção geral permeia a construção do


imaginário social, logo impacta na forma
como os profissionais da saúde vislum-
bram e organizam as ações e os cuidados
de saúde, em especial, na saúde sexual e
reprodutiva (BRASIL, 2010b). Para mudar
essa percepção, deve-se compreender que
os homens possuem diferenças entre eles
e perceber que a hegemonia do masculino
e os estereótipos da masculinidade hege-
mônica paradoxalmente produzem e
perpetuam vulnerabilidades na saúde dos
homens, como vimos anteriormente.

69
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

As abordagens sobre gênero e masculinidades, além dos conceitos sociológicos,


devem ser utilizadas como determinantes sociais de saúde, visto que a partir desses
conceitos é possível abordar diferenças e especificidades entre os homens para além
dos aspectos biológicos. Deste modo, pode-se compreender de forma mais completa
e complexa os motivos e marcas sociais relacionadas aos comportamentos dos homens,
bem como as relações de poder presentes neste contexto (DANTAS; MODESTO, 2019).
Especificamente tratando-se da saúde
sexual e reprodutiva, pode-se relacionar
as construções de masculinidades com
muitos dos comportamentos prejudi-
ciais, por exemplo: a negociação ou não
do uso de preservativo nas relações
sexuais; a negativa em realizar o trata-
mento, quando na parceria é identifica-
da alguma IST que necessite da comple-
mentação do tratamento; ausência no
cuidado com as crianças quando se
tornam pais; utilização de violência contra sua parceria; despreocupação com pla-
nejamento familiar; despreocupação com métodos contraceptivos da parceria
(OLIVEIRA; DELZIOVO; GOMES, SCHWARZ, 2016). Acompanhe a seguir como podem
ser essas abordagens sobre gênero.

Não naturalizar determinados comportamentos

Deve-se cuidar para não naturalizar deter-


minados comportamentos relacionados à saúde sexual e
reprodutiva que são socialmente construídos, a partir de
pensamentos ou frases “isso é da natureza do homem” ou
“homem é assim mesmo”. Conforme vimos, a forma como os
homens tratam as parcerias, bem como seus comportamen-
tos respeitosos ou desrespeitosos, está relacionada com a
forma como foram ensinados pelos familiares e pela própria
sociedade como um todo (ECOS, 2001).

Enxergar as barreiras sociais

As barreiras sociais, principalmente relacionadas a


problemas de saúde atribuídos à sexualidade, fazem com
que os homens adiem sua ida aos serviços até o agravamento
do quadro. Além disso, mesmo quando buscam os serviços têm
dificuldade de expor problemas, dúvidas e inquietações relacio-
nadas a temas que coloquem em questionamento os ideais do
ser homem de “verdade” (CARNEIRO; ADJUTO; ALVES, 2019).

70
Reconhecer determinados riscos
à saúde e à qualidade de vida
As barreiras sociais, principalmente relacionadas a
problemas de saúde atribuídos à sexualidade, fazem com
que os homens adiem sua ida aos serviços até o agravamento
do quadro. Além disso, mesmo quando buscam os serviços têm
EIXO 03 | MÓDULO
dificuldade de10
expor
Saúdeproblemas,
do homem dúvidas e inquietações relacio-
nadas a temas que coloquem em questionamento os ideais do
ser homem de “verdade” (CARNEIRO; ADJUTO; ALVES, 2019).

Reconhecer determinados riscos


à saúde e à qualidade de vida

Em geral, percebe-se a redução da sexuali-


dade masculina ao órgão genital, valorizando padrões
corporais perseguidos por muitos homens. Percebe-se
aumento do número de homens de diferentes faixas etárias
utilizando drogas vasoativas orais para ereção sem orientação
médica, colocando em risco sua saúde e qualidade de vida
(GOMES, 2008; SCHWARZ, MACHADO, 2012).

Esses aspectos mencionados, bem como crenças e mitos sobre a sexualidade


masculina como o desempenho sexual e os cuidados de saúde sexual, devem ser
trabalhados com os homens no cotidiano, utilizando uma comunicação empática,
respeitosa e cuidadosa. É importante informar aos homens que hábitos ou abor-
dagens equivocadas prejudicam a sexualidade, visto que podem desencadear
ansiedade intensa, afetar a saúde física e psicológica (BRASIL, 2009b).
Essa abertura de diálogo é importante pois possibilita a compreensão de problemas,
crenças e necessidades dos homens, por parte da equipe de saúde, bem como
encoraja os homens da comunidade a se sentirem sujeitos de cuidado e a conver-
sarem sobre tais concepções sobre sexualidade, uso de drogas ou comportamen-
tos de risco, auxiliando-os a desnaturalizar as construções de masculinidade que
os pressionam socialmente.
Sendo assim, nos serviços de saúde, em especial na APS, o maior desafio é criar
condições para que a população masculina se aproxime dos serviços e profissio-
nais da saúde, seja ouvida de forma qualificada, sem julgamentos e preconceitos
e acesse orientações adequadas que garantam sua saúde sexual e reprodutiva
(SANTOS; PRA, 2015).

REFLEXÃO

Mediante a isso, você pode refletir sobre a existência de propostas


para o enfrentamento dessas conhecidas questões em sua unidade.

Sugere-se que o diálogo e a busca de oportunidades de contato com a população


masculina para abordagem desses temas possam ser feitos em consultas indivi-
duais, nas visitas domiciliares, na sala de espera, em atividades na comunidade e
em grupos. A SBMFC (2019) recomenda:
• Levar ações de saúde a locais comumente frequentados por homens, como

71
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

bares, oficinas mecânicas, salões de barbearia, canteiros de obra, fábricas,


lavouras, sítios, fazendas, etc.
• Promover a autonomia e responsabilidade do homem pela saúde repro-
dutiva, orientando sobre métodos anticoncepcionais, acesso a vasectomia
e direitos reprodutivos e orientando especificidades sobre direitos repro-
dutivos dos casais homoafetivos e homens trans.
•T
 rabalhar a questão da paternidade consciente, desmistificando o proce-
dimento de vasectomia e propondo como uma possibilidade no planeja-
mento familiar.
•P
 romover reflexão entre os homens sobre qual seu papel no combate ao
machismo, à misoginia e à LGBTfobia.
•R
 ealizar atividades de grupo com homens de forma longitudinal, e não
apenas durante o mês de novembro, na campanha do novembro azul para
prevenção do câncer de próstata.
• Entender, em consultas, reuniões e por meio de informantes-chave (incluindo
homens e mulheres) quais são as principais necessidades de saúde e
demandas dos homens na comunidade.
• Trabalhar em equipe temas relacionados aos homens trans, como o direito
e o respeito ao nome social (pactuando formas de identificá-lo de forma
fácil, evitando constrangimentos) e questões de promoção da saúde e
prevenção de doenças específicas dessa população.
• Promover a saúde sexual, realizando uma anamnese ampliada e que afirme
a diversidade das práticas sexuais, das orientações sexuais e das identida-
des de gênero.
• Orientar métodos de prevenção de IST/HIV adequados a cada prática sexual,
considerando, além do uso do preservativo, o uso de outras estratégias de
prevenção combinadas e de gestão de risco.
• Combater a sorofobia e promover cuidados aos homens que vivem com HIV.
• Realizar acompanhamento e cuidados relacionados ao uso de testostero-
na dos homens trans e estrogênio/progesterona por mulheres trans.

Utilizar o método clínico centrado na


pessoa e a longitudinalidade do cuidado
para esses temas pode ser bastante
promissor para a integralidade do
cuidado. A partir disso, no próximo item
abordaremos a importância de os
homens conhecerem os métodos con-
traceptivos e as tecnologias reproduti-
vas para o cuidado da saúde sexual e
reprodutiva.

72
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

3.1.2 Importância do envolvimento dos homens com as questões de SSSR


(contraceptivos e demais tecnologias reprodutivas)
Quantos homens você lembra de terem lhe procurado para orientação sobre a
saúde sexual e reprodutiva? Em geral, a baixa demanda da população masculina
por esse tipo de atenção reflete uma situação histórica dos homens no contexto
ocidental. A naturalização da ideia de que os homens são invulneráveis e não
adoecem bem como a percepção social e dos profissionais da saúde de que o pla-
nejamento reprodutivo e familiar são responsabilidades das mulheres são fatores
que afastam os homens dos serviços de saúde e geram desinteresse pelo cuidado
da saúde sexual e reprodutiva (BRASIL, 2009b).
Além disso, as barreiras de acesso relacionadas a forma de comunicação dos pro-
fissionais, horário de funcionamento dos serviços, presença predominante de
mulheres nos serviços da APS, assim
como a indisponibilidade de grupos ou
ações específicas para atenção à saúde
dos homens na APS, também constituem
grandes entraves (SANTOS; PRA, 2015;
DANTAS; MODESTO, 2019).
Apesar de haver algumas mudanças
nessa percepção, com o estímulo da
inclusão dos homens nos serviços de
saúde e a participação deles no planeja-
mento reprodutivo e familiar, tendo papel
ativo na contracepção, essa prática ainda não é comum em nossa sociedade. Entre-
tanto, para que os homens se sensibilizem com a saúde reprodutiva e passem a se
interessar pela contracepção é preciso que compreendam a importância da neces-
sidade dessa sensibilização, suas possibilidades e seus papéis nesse contexto, de-
senvolvendo uma consciência de sua vida reprodutiva (ECOS, 2001).
Como principais métodos contraceptivos disponíveis para a população atualmen-
te tem-se o preservativo masculino e a vasectomia.
Deve-se esclarecer que o coito interrompido, quando o homem não usa preserva-
tivo e ejacula fora do órgão genital feminino, embora seja relatado como um método
anticoncepcional comportamental utilizado pelos homens, não é um método seguro,
visto que a secreção presente antes da ejaculação apresenta espermatozoides e
pode gerar uma gravidez (DUNCAN, 2013).
O uso do preservativo, apesar de ser seguro, simples e disponível no SUS, ainda
encontra muita resistência por parte dos homens, especialmente aqueles que
acreditam estar fora dos grupos de risco, devido às características de comportamen-
to de risco ligadas às masculinidades hegemônicas. Associa-se também a baixa
adesão dos homens aos métodos de barreira com a crença de que o preservativo é
um entrave para a plena ereção do homem ou que reduz a sensibilidade do pênis
durante a penetração (BRASIL, 2009b; OLIVEIRA; DELZIOVO; GOMES, SCHWARZ, 2016).

73
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Já a vasectomia, um método anticoncepcional bastante efetivo e seguro, é realizado


por meio de um procedimento cirúrgico simples e definitivo, o que também afasta
alguns homens dessa escolha. Destaca-se que podem ocorrer falhas na vasecto-
mia, provenientes da oclusão inadequada no procedimento cirúrgico ou recanali-
zação. A associação equivocada da vasectomia com a impotência sexual ou ejacu-
lação a seco, por exemplo, é uma das razões pela baixa escolha dos homens por
esse procedimento. Deve-se lembrar o fato de ser uma intervenção praticamente
irreversível, o que faz com que esse método não seja adequado para todas as fases
do curso da vida (OLIVEIRA; DELZIOVO; GOMES, SCHWARZ, 2016).
Visto isso, é importante refletir sobre a relação dos homens com a saúde sexual e
reprodutiva, sendo que de um lado percebe-se uma despreocupação com o pla-
nejamento familiar e com o uso dos métodos contraceptivos disponíveis e de outro
uma grande preocupação com a performance sexual que os limita o exercício de
uma sexualidade plena. Nota-se assim conexões entre as construções de mascu-
linidades hegemônicas com as expressões corporais que impactam nas escolhas
feitas, bem como nos métodos que os homens utilizam para evitar a gravidez in-
desejada (DUARTE et al., 2003).

Lembre-se!
Esses exemplos nos ajudam a refletir sobre a importância de
desmistificar alguns aspectos do corpo e das corporalidades
masculinas que perpassam pela construção social dos homens.

Neste sentido, a proximidade e o contato constante com a população que a APS


tem torna-se uma ferramenta indispensável para a abertura de diálogos com os
homens para a interlocução acerca da importância da participação no planejamen-
to familiar e reprodutivo, bem como na prevenção de ISTs por meio de atividades
e grupos sobre o tema ou consultas conjuntas com as parcerias.
A educação em saúde para o homem sobre o corpo feminino e masculino também
é importante. Além de proporcionar um ato sexual mais satisfatório para ambos,
também ajudará a parceria a entender como funcionam os métodos anticoncep-
cionais de uso feminino. Ele pode se tornar um aliado para a aderência aos métodos
escolhidos pela parceria, desde lembrando o uso correto quanto compartilhados
os custos financeiros dos mesmos. Alguns homens passam a optar por vasecto-
mia quando entendem como o processo de esterilização feminina ocorre, vendo
que o procedimento de esterilização masculina tem menor risco de complicações
e uma recuperação pós cirúrgica mais rápida.
Avançando, no próximo item vamos conhecer as principais neoplasias relaciona-
das à saúde sexual e reprodutiva, bem como as possibilidades de intervenção para
prevenção e cuidado no contexto da APS.

74
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

3.2 NEOPLASIAS RELACIONADOS À SAÚDE SEXUAL E SAÚDE REPRODUTIVA


Neste item, você vai acompanhar informações relevantes para atuar na prevenção,
no diagnóstico precoce e no apoio ao tratamento das neoplasias relacionadas à
saúde sexual e reprodutiva da população masculina, dentre as quais o câncer de
próstata, o câncer de pênis e o câncer de testículo.

3.2.1 Câncer de próstata


A neoplasia mais comum entre os homens no Brasil é o câncer de próstata, com
exceção dos cânceres de pele não melanomas. O câncer de próstata é a segunda
causa de morte por neoplasia entre os homens (DANTAS; MODESTO, 2019; INCA,
2017a). Confira, a seguir, os fatores de risco e as complicações mais recorrentes.

Fatores de risco e complicações recorrentes do câncer de próstata

Fatores de risco Complicações mais recorrentes

Idade Metástases ósseas

Raça negra Linfonodos


No pulmão e hepáticas
História familiar
Sintomas obstrutivos
História de infecções do trato urinário
sexualmente
transmissíveis Hematúria

Dieta rica em gorduras Insuficiência renal


Paraplegia
Baixos níveis
de testosterona Manifestações neurológicas
Fonte: adaptado de Kolling (2019).

As maiores taxas brutas de incidência (número total de óbitos, por mil habitantes,
em determinado espaço geográfico, no ano considerado) do país ficam nas regiões
Sul e Centro-Oeste. Os principais fatores para isso são a melhoria na qualidade dos
registros, o aumento da expectativa de vida da população, a maior disponibilida-
de de métodos diagnósticos e o aumento do sobrediagnóstico da doença em razão
da disseminação do rastreamento com teste do antígeno prostático específico (PSA)
e toque retal (INCA, 2017b). O sobrediagnóstico diz respeito a detecção de lesões
que nunca seriam identificadas ao longo da vida dos indivíduos, que poderiam
morrer por outras causas antes da manifestação clínica das neoplasias.

75
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

No Brasil, a ocorrência de câncer


de próstata foi de 61.200 casos
novos em 2016. Ao avaliar a esti-
mativa de casos novos nas diferen-
tes regiões do Brasil, verifica-se:

Maior incidência

Sul (96,81/100.000)

Sudeste (69,83/100.000)

Centro-Oeste (66,75/100.000)

Menor incidência

Nordeste (56,17/100.000)

Norte (29,41/100.000)

Fonte: INCA (2017a).

O diagnóstico pode ser realizado a partir de biópsia a ser realizada em homens com
PSA ou toque retal alterado naqueles que não tenham queixa (rastreamento) ou
com queixas (investigação). Ao exame físico, é possível encontrar linfonodos palpáveis,
e o toque retal pode mostrar uma próstata endurecida ou um nódulo palpável,
apesar de esses achados terem variação entre os examinadores (KOLLING, 2019).
Em pacientes com queixa de Sintomas do Trato Urinário Inferior (STUI), ao inves-
tigar o câncer, é preciso lembrar que existem duas situações preocupantes: a grande
possibilidade de encontrar resultados falso-positivos no PSA, o que leva a uma in-
vestigação potencialmente desnecessária e com potencial de causar danos; e a
possibilidade de não conseguir prolongar a vida, ainda que o câncer seja diagnos-
ticado (KOLLING, 2019).
Como mencionado, o teste de PSA pode identificar o câncer de próstata localizado;
porém, existem limitações que dificultam a sua utilização como marcador desse
câncer (WATSON et al., 2002). Veja quais são suas principais limitações (BRASIL, 2010b):
• O PSA é tecido-específico, mas não tumor-específico. Logo, outras condições
como o aumento benigno da próstata, prostatite e infecções do trato urinário
inferior podem elevar o nível de PSA. Cerca de 2/3 dos homens com PSA
elevado NÃO têm câncer de próstata detectado na biópsia.
•A
 té 20% de todos os homens com câncer de próstata clinicamente signifi-
cativo têm PSA normal.
• O valor preditivo positivo desse teste está em torno de 33%, o que significa

76
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

que 67% dos homens com PSA positivo serão submetidos desnecessaria-
mente à biópsia para confirmação do diagnóstico.
• O teste de PSA leva à identificação de cânceres de próstata que não teriam
se tornado clinicamente evidentes durante a vida do paciente. O teste de
PSA não vai, por si só, distinguir entre tumores agressivos que estejam em
fase inicial (e que se desenvolvem rapidamente) e aqueles que não são
agressivos.
No caso de o paciente e o médico entrarem em consenso (sabidos os riscos e be-
nefícios) de realizar a dosagem de PSA e toque retal, a pessoa deve ser informada
de que investigações com alterações devem ser acompanhadas de outros exames,
tais como ultrassonografia, ressonância e biópsias. Além disso, o paciente deve estar
ciente de que a confirmação de um câncer desencadeará uma série de tratamen-
tos como prostatectomia, quimioterapia e/ou radioterapia, e que esses tratamen-
tos podem deixar sequelas, como dor pélvica, incontinência urinária (IU), estenose
da uretra, impotência sexual, ejaculação retrógrada, entre outras (KOLLING, 2019).
Os pacientes assintomáticos são o grupo que mais gera controvérsia sobre seu
rastreamento. Segundo Steffen (2018), não há redução significativa da mortalida-
de entre pacientes que realizaram rastreamento e os que não realizaram. Kolling
(2019) informa que, no ano de 2017, a United States Preventive Services Task Force
(USPSTF) realizou uma consulta pública de um documento que mudou o grau de
recomendação de D para C. Essa alteração enfatiza que a decisão de rastrear ou
não deve ser feita após discussão individualizada.

Lembre-se!
Não se recomenda a solicitação de PSA com intuito de rastrea-
mento populacional do câncer de próstata. Leve em considera-
ção as preferências individuais dos usuários acompanhados in-
formando-os sobre potenciais benefícios e malefícios do
rastreamento. Para homens com sintomas do trato urinário
inferior, o PSA deve ser solicitado conforme suspeita clínica.

E qual seria a recomendação sobre o rastreamento do câncer de próstata?


O câncer de próstata é raro antes dos 50 anos e sua incidência aumenta com o
avanço da idade. O INCA, em 2013, a exemplo de outros países, manteve sua posição
de não recomendar programas de rastreamento do câncer de próstata, evitando
o sobrediagnóstico. Embora haja uma recomendação contrária ao rastreamento
do câncer de próstata, os homens brasileiros assintomáticos ainda são constante-
mente submetidos a exames de rotina (INCA, 2017a).
Diante de evidências ainda insuficientes ou evidências pobres e conflitantes e as
recomendações da OMS, a organização de ações de rastreamento para o câncer

77
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

de próstata não é recomendada. Entretanto, caso o homem queira realizar espon-


taneamente o exame de rastreamento, ele deve ser informado pelo médico sobre
os riscos e benefícios do procedimento e juntos definirem por realizar ou não o
rastreamento (BRASIL, 2010b). Além disso, não se recomenda rastreamento de
câncer da próstata em homens assintomáticos com idade superior a 75 anos, pois
as evidências demonstram que essa estratégia é ineficaz e que os danos superam
os benefícios. Grau de recomendação D.
Quanto ao prognóstico, é heterogêneo e dependente das características histológi-
cas. Em sua fase inicial, tem evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam
nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento
benigno da próstata (dificuldade de urinar, necessidade de urinar mais vezes durante
o dia ou à noite). Na fase avançada, pode provocar dor óssea, sintomas urinários
ou, quando mais grave, infecção generalizada ou insuficiência renal (INCA, 2021).
Não há consenso quanto à abordagem para o câncer de próstata. Boa parte dos
casos têm sido tratados com vigilância ativa, postergando-se o emprego de medidas
mais agressivas, buscando reduzir o impacto de intervenções médicas a pessoas
com pouca expectativa de benefício. A modalidade de tratamento dependerá do
estadiamento do tumor e dos recursos disponíveis. Estão disponíveis diferentes
modalidades de radioterapia e cirurgia. A observação dos sintomas e conduta em
tempo oportuno é fundamental (KOLLING, 2019).
No caso de suspeita ou confirmação de
neoplasia de próstata e a decisão for en-
caminhar para o urologista é importan-
te descrever claramente no encaminha-
mento os pontos abaixo conforme o
Protocolo de Encaminhamento da APS
para Urologia (BRASIL, 2016a):
1. Sinais e sintomas (descrever o
toque retal com tamanho
estimado da próstata, consis-
tência, presença de assimetria
ou nódulo).
2. R
 esultado de biópsia prostática, se realizada.
3. Resultado de PSA total, com data (se PSA total < 10 ng/ml em paciente as-
sintomático ou PSA elevado para sua idade em pessoa com sintomas de
infecção urinária/prostatite, descreva dois exames com intervalo mínimo
de um mês).
4. Resultado de EQU/EAS/Urina tipo 1, com data.
5. N úmero (ou cópia) da teleconsultoria, se caso discutido com
Telessaúde.

78
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Os pacientes com suspeita ou diagnóstico de neoplasia no trato geniturinário (lesões


sólidas no trato geniturinário ou cisto com classificação de Bosniak superior a 3)
deverão ter a preferência no processo de encaminhamento ao urologista, em
relação a outras condições clínicas previstas nos protocolos. Lembre-se de adaptar
os critérios conforme a necessidade da regulação local (BRASIL, 2016a).

3.2.2 Câncer de pênis


O câncer de pênis é considerado um tumor raro, com incidência maior em homens
com 50 anos ou mais, todavia pode atingir também os mais jovens. Esse tipo de
câncer representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem o homem no Brasil,
com maior frequência nas regiões Norte e Nordeste. Em 2018, houveram 454
mortes devido ao câncer de pênis (INCA, 2020).
Praticamente todos os carcinomas penianos são de origem de células escamosas
(95%) chamado de carcinoma epidermoide, já os sarcomas e melanomas são mais
raros (POMPEO, 2010). Confira alguns fatores de risco a seguir.

Fatores de risco
para o câncer de pênis

Baixas condições socioeconô-


micas e de instrução.
Principais sinais e sintomas

Má higiene íntima.
Feridas e úlceras persistentes.

Estreitamento do prepúcio. Tumoração na glande (cabeça


Homens não circuncisados que do pênis).
apresentam estreitamento do
prepúcio têm maior predisposi-
ção ao câncer de pênis. Tumoração na pele que cobre a
cabeça do pênis.
Estudos científicos sugerem asso-
ciação entre a infecção pelo vírus Tumoração no corpo do pênis.
HPV (papilomavírus humano) e o
câncer de pênis.
Secreção branca (esmegma).

Aumento anormal do tecido da


cabeça do pênis.
Fonte: adaptado de Brasil (2020d).

79
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

O diagnóstico precoce é de extrema importância, pois se trata de uma doença que


pode resultar em devastadoras alteração no órgão, e possui uma taxa de sobrevida
em 5 anos de aproximadamente 50% (mais de 85% para pacientes sem linfonodos
palpáveis e 29% a 40% para pacientes com linfonodos palpáveis, com as taxas de
sobrevivência mais baixas, menores que 1% em 0% para paciente com linfonodo
pélvico) (NCCN, 2019).
Para diagnosticar esse tipo de câncer é necessário realizar biópsia incisional (retirada
de um fragmento do tecido) da lesão peniana suspeita para se diferenciar as lesões
malignas, assim como seus subtipos, das lesões pré-cancerosas e das benignas.
Quando diagnosticado em estágio inicial, tem alta taxa de cura; porém, uma grande
proporção de homens demora até um ano após o aparecimento das primeiras lesões
para buscar auxílio médico, o que acarreta em complicações de doença, até mesmo
metástase, aumentando as chances de morte (BRASIL, 2020d). Não há evidência
científica, até o momento, de que o rastreamento do câncer de pênis traga mais be-
nefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado.
Por outro lado, o diagnóstico precoce propicia melhores respostas ao tratamento
e deve ser utilizado com a investigação de sinais e sintomas como (BRASIL, 2020d):
• Tumor ou úlcera em pênis na ausência de uma doença sexualmente trans-
missível ou persistente após seu tratamento.
• Espessamento ou mudança na cor da pele do pênis ou prepúcio.
O tratamento depende da avaliação da extensão local do tumor e do comprome-
timento dos gânglios inguinais. As alternativas são cirurgia, radioterapia e quimio-
terapia. A cirurgia é o tratamento mais eficaz e frequentemente realizado para
controle local da doença. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar o cres-
cimento desse tipo de câncer e a posterior amputação total do pênis, que traz con-
sequências físicas, sexuais e psicológicas ao homem. Sendo assim, tão logo se inicie
o tratamento, maiores são as chances de cura e menos traumático é o tratamen-
to (INCA, 2020).

Lembre-se!
Deve-se observar também, além da tumoração no pênis e das
feridas, a existência da presença de gânglios inguinais e/ou
nódulos, pois podem indicar metástase.

3.3.3 Câncer de testículos


O câncer de testículos corresponde a apenas 5% do total de casos de câncer em homens,
porém sua maior incidência é em homens em idade reprodutiva (15 e 50 anos). Muitas
vezes é confundido, ou até mesmo mascarado, por orquiepididimites (inflamação dos
testículos e dos epidídimos, canais localizados atrás dos testículos e que coletam e
carregam o esperma) geralmente transmitidas sexualmente (INCA, 2020).

80
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Entre os principais sinais e sintomas do câncer de testículo estão (INCA, 2020):


• Aparecimento de nódulo duro, geralmente indolor.
• Aumento ou diminuição do tamanho dos testículos.
• Endurecimento dos testículos.
• Dor abdominal na parte inferior do abdome.
• Hematúria.
• Aumento ou sensibilidade dos mamilos.

Detecção precoce
Como estratégias principais para a detecção precoce do câncer tem-se o diagnós-
tico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença)
e o rastreamento (aplicação de teste ou exame numa população assintomática,
aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões sugestivas de câncer
e, a partir daí, encaminhar os pacientes com resultados alterados para investiga-
ção diagnóstica e tratamento) (BRASIL, 2020d).

Diagnóstico precoce
Esta estratégia de diagnóstico contribui para a redução do estágio de apresenta-
ção do câncer. Salienta-se a relevância de a população e dos profissionais estarem
aptos para reconhecer os sinais e sintomas suspeitos de câncer, além de haver
acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde (BRASIL, 2020d).

Diagnóstico
O câncer de testículo é um câncer com boa
resposta ao tratamento, geralmente
curável, que se desenvolve com mais fre-
quência em homens jovens e de meia-ida-
de. A maioria dos cânceres testiculares são
tumores de células germinativas. Para o
planejamento do tratamento, os tumores
de células germinativas são amplamente
divididos em seminomas e não seminomas,
pois possuem diferentes algoritmos de
prognóstico e tratamento. Para pacientes
com seminoma (todos os estágios combi-
nados), a taxa de cura excede 90%. Para
pacientes com seminoma ou não
seminoma em estágio baixo, a taxa de cura
se aproxima de 100% (PDQ, 2020).

81
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Entre os fatores de risco para câncer de testículo estão:


• Testículo não descido (criptorquidia).
• História familiar de câncer de testículo (especialmente pai ou irmão).
• História pessoal de câncer de testículo.
O diagnóstico se dá por meio do exame físico (nódulo palpável), do exame ultras-
sonográfico da bolsa escrotal, que evidencia lesões homogêneas (mais preditivas
de tumores seminomatosos) ou heterogêneas (mais preditivas de tumores não se-
minomatosos), geralmente com hiperfluxo ao doppler e por meio da dosagem
sanguínea dos marcadores tumorais (alfafetoproteína, beta-HCG e LDH). A tomo-
grafia computadorizada do tórax, abdômen e pelve é de fundamental importância
para o correto estadiamento da doença e definição da necessidade de conduta te-
rapêutica complementar à terapêutica pós-orquiectomia.
O tratamento do tumor testicular é cirúrgico com biópsia para confirmação diag-
nóstica e do tipo celular. O profissional da atenção primária deve acompanhar o
atendimento do seu paciente em conjunto com urologista e oncologista garantin-
do o acompanhamento especializado necessário. É importante o seguimento pós-
-tratamento, que inclui discussão sobre a fertilidade futura (em geral diminuída),
o risco de recorrência e as complicações do tratamento (leucemia e aumento do
risco cardiovascular, por exemplo).

Rastreamento
O rastreamento do câncer é uma estratégia voltada para grupo populacional es-
pecífico em que o balanço entre benefícios e riscos dessa prática é mais favorável,
com maior impacto na redução da mortalidade. Os benefícios são: melhor prog-
nóstico da doença, tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Dentre
os riscos ou malefícios, têm-se: resultados falso-positivos, que geram ansiedade e
excesso de exames; resultados falso-negativos, que causam falsa tranquilidade;
sobrediagnóstico e sobre tratamento, relacionados à identificação de tumores de
comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma
ameaça à vida); possíveis riscos do teste elegível (BRASIL, 2020d).

Lembre-se!
Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de
testículo traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o
momento, ele não é recomendado.

Já o diagnóstico precoce desse tipo de câncer deve ser buscado com a investiga-
ção dos seguintes sinais e sintomas mais comuns: aumento de tamanho (não
doloroso), de forma ou textura de testículo.

82
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Pacientes que foram curados de câncer testicular têm um risco cumulativo de apro-
ximadamente 2% de desenvolver um câncer no testículo oposto durante os 15 anos
após o diagnóstico inicial. Dentro dessa faixa, homens com tumores primários não
seminomatos parecem ter um menor risco de tumores testiculares contralaterais
subsequentes do que homens com seminomas (PDQ, 2020).

ENCERRAMENTO DA UNIDADE
Nesta unidade, estudamos aspectos relevantes da saúde sexual e reprodutiva dos
homens, considerando a influência das construções de gênero e masculinidades.
Conhecemos alguns caminhos e possibilidades para que você, junto aos profissio-
nais da saúde de sua equipe, possa identificar e atuar sobre problemas da saúde
sexual e saúde reprodutiva dos homens. Além disso, foram apresentadas as prin-
cipais neoplasias relacionadas à saúde sexual e reprodutiva dos homens, bem
como as possibilidades para promoção da saúde e intervenção para prevenção e
tratamento delas nos serviços de saúde da atenção primária.

83
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

UNIDADE 04

Promoção
do cuidado e
paternidade
Objetivo de aprendizagem da unidade
Ao final desta unidade, o profissional deve reconhecer os principais
aspectos da paternidade ativa e do pré-natal do parceiro, identifi-
cando as estratégias para sua realização na APS.

Objetivos específicos de aprendizagem da unidade


• Conhecer o conceito de paternidade ativa.
• Estabelecer uma relação entre a participação do pai/parceria, o
sucesso do pré-natal da parceira e o bom desenvolvimento da
criança.

84
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Introdução da unidade: Nesta unidade, vamos estudar aspectos históricos e atuais


sobre a paternidade e a paternidade ativa, reconhecendo a importância da parti-
cipação dos homens no processo reprodutivo e no cuidado com os filhos. Além
disso, conheceremos estratégias para promoção de uma paternidade ativa, bem
como os passos para realização do pré-natal da parceria de forma adequada no
contexto da APS.

4.1 PATERNIDADE ATIVA


Os pais e a paternidade não eram tratados como temas dos serviços de saúde no
Brasil até a década de 1980. Desta forma, as ações direcionadas para esses homens
não eram abordadas nos currículos dos cursos de graduação nem em programas
e políticas públicas. Entretanto, a partir desse período, principalmente com as dis-
cussões de igualdade de gênero e masculinidades, o assunto passou a atrair a
atenção de pesquisadores, profissionais da saúde e gestores que atuam com direitos
sexuais e reprodutivos na área da saúde infantil e saúde do homem (RIBEIRO;
GOMES; MOREIRA, 2017).
Um marco para este tema no Brasil foi a Política Nacional de Atenção Integral e Saúde
do Homem (PNAISH), que enfatiza a necessidade da inserção dos pais e da paterni-
dade pelos serviços, gestores e profissionais do SUS com a finalidade de trazer be-
nefícios para a saúde das mulheres, das crianças e dos homens (BRASIL, 2009a).

Paternidade é o “ser pai”, independen-


temente de como se tornou pai. Está
relacionada à condição de ser pai,
bem como dos vínculos biológicos,
jurídicos e de parentesco entre pais e
filhos. Já a paternidade ativa são as
ações, o cuidado físico e emocional
que se dá ao filho. É uma maneira
única de olhar, de falar, de cuidar da
criança (BRASIL, 2018a).

Como vimos, as barreiras socioculturais representadas nas construções das mas-


culinidades hegemônicas limitam as possibilidades dos homens no exercício de
uma paternidade plena (BRASIL, 2018b).
Historicamente, as atividades de cuidado são atribuídas ao feminino – sendo assim,
trabalhar paternidade ativa depende da quebra dessa percepção, considerando
que homens devem ser cuidadores tanto quanto mulheres. Neste sentido, a pa-
ternidade ativa diferencia-se da paternidade, visto que visa fomentar o envolvi-
mento ativo dos homens em todos os momentos do processo reprodutivo como
o planejamento, a gestação, o parto, o puerpério e o desenvolvimento infantil.

85
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Dessa forma, pretende-se oportunizar a criação de vínculos fortes e saudáveis entre


os pais ou parcerias com os filhos e filhas (BRASIL, 2018a).

Uma paternidade ativa pressupõe


que os homens

Criem de maneira parti- Participem do cuidado


cipativa e com liberda- diário, da criação e do
de, dando limites, mas desenvolvimento do
sempre com respeito. seu filho ou filha.

Sejam corresponsáveis pela criança, compartilhan-


do com a sua parceria as tarefas domésticas e de
cuidado, tais como: alimentar, vestir, passear,
colocar para dormir, brincar, dar banho e ensinar.

Sejam pais/parcerias Estimulem o desen-


presentes, sabendo que volvimento de sua
isso envolve também filha ou filho em cada
prover financeiramente. etapa de sua vida.

Tenham uma relação afetuosa incondicional com


ele ou ela.

A paternidade ativa pode representar uma mudança significativa dos afetos dos
homens, promovendo uma introdução ou aprofundamento em direção a sensibi-
lidade, delicadeza e cuidado, sendo que esse movimento pode transformar as
relações dos homens na sociedade. Porém, o exercício da paternidade ativa exige
uma disposição de “atitude”, prontidão e proatividade dos homens no papel de pai
(SCHWARZ; LIMA, 2018).
Todavia, assim como é fundamental o apoio e envolvimento das mulheres no
processo gestacional, visto que este é um momento singular na vida das mulheres,
também deve-se ter esse olhar para as parcerias. A paternidade ativa é um processo
complexo e multifacetado, que requer dispositivos e atitudes dos profissionais de
saúde da APS para a inserção e envolvimento das parcerias no processo gestacio-
nal que deve ser incentivado.
No próximo item vamos conhecer alguns desafios para o exercício da paternida-
de ativa, bem como estratégias e caminhos para o envolvimento dos homens na
paternidade e no cuidado.

86
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

4.1.1 Envolvendo homens na paternidade e no cuidado


O envolvimento dos homens com a paternidade e o cuidado é um processo que
exige uma série de adaptações e mudanças psicológicas, biológicas e sociais. Neste
sentido, o planejamento familiar bem como os meses de gestação ou do processo
de adoção devem ser utilizados para que a parceria se prepare para todas as mudanças
que ocorrerão. A chegada do novo ser trará a necessidade de realização de cuidados
com a criança, novos sentimentos e responsabilidades que deverão ser assumidas
pela parceria. O pai, exceto no caso dos homens trans que optam por ter a gestação,
não vivencia em seu corpo os efeitos da gestação e podem sofrer com sentimentos
como ansiedade, dúvida e insegurança, entre outros (PICCININI et al., 2004).
Entretanto, destaca-se que esse envolvimento dos homens ainda possui alguns
entraves. Mesmo que haja uma gradual mudança nos padrões de masculinidade,
que possibilitam o desenvolvimento de uma paternidade em nossa sociedade, podem
ser destacados alguns obstáculos de nível individual, relacional, comunitário e social.
Acompanhe a seguir as características de cada um deles (SCHWARZ; LIMA, 2018).

Obstáculos individuais: ausência de pai biológico ou de referên-


cia paterna; violência física ou psicológica por parte do pai, pre-
senciar violências contra a mãe e outros familiares; educação
muito rígida em relação aos “padrões de gênero” e sexualidade;
uso abusivo de álcool ou outras drogas; desemprego, trabalho
precário ou que distancie dos filhos; estar privado de liberdade;
estar com depressão ou outros transtornos mentais.

Obstáculos relacionais: não estar ou nunca ter


estado em um relacionamento afetivo com a mãe
da criança; vivenciar situação de violência entre
parceiros íntimos com a mãe da criança; ausência
de incentivos de familiares e amigos para assumir
uma paternidade ativa e corresponsável.

Obstáculos comunitários: reforço aos estereótipos


de papéis masculinos e femininos por parte das
instituições da comunidade (serviços de saúde,
creches, escolas e instituições religiosas); inexistên-
cia de grupos de pais; impossibilidade de liberação
do trabalho para acompanhar consultas de pré-na-
tal, parto, consultas da criança e reuniões na escola.

87
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Obstáculos sociais: licença paternidade curta de cinco dias ou


de 20 dias para funcionários das empresas que participam do
Programa Empresa Cidadã; dificuldade de respeito à Lei nº
11.108/05 – Lei do Acompanhante no parto – por diversos pro-
fissionais ou instituições de saúde; manutenção do machismo e
patriarcado no contexto cultural, reforçando os papéis tradicio-
nais de gênero; reprodução e reforço das construções tradicio-
nais de masculinidade e feminilidade pela mídia e publicidade.

Visando não correr o risco de criar estigmas ou fortalecê-los, deve-se saber que
nenhum desses obstáculos deve ser compreendido como determinante para o não
envolvimento com a paternidade por parte dos homens – como se houvesse um
perfil estabelecido de pai ausente. Em um outro caminho, eles devem ser utiliza-
dos como alertas para os profissionais da saúde, mostrando os cenários que
precisam ser observados e abordados de forma mais atenta, inclusiva e humani-
zada. As equipes podem potencializar a paternidade ativa por meio da orientação
clara durante o pré-natal, orientando as mães e suas parcerias acerca dos benefí-
cios que podem advir de um envolvimento dos homens com a gestação, o parto,
o pós-parto e os cuidados posteriores com a criança.
Para um envolvimento paterno adequado, Lamb (2000) sugere uma abordagem
baseada em três dimensões denominadas interação, disponibilidade e responsa-
bilidade. Acompanhe a seguir cada uma delas.

Observar e estimular o aumento do


tempo em que o pai está ou pode estar
com a criança, seja no auxílio nas tarefas
Interação escolares, alimentando-a ou brincando.

Observar e recomendar que, mesmo


em momentos em que os pais e
Disponibilidade filhos não estejam em um mesmo
ambiente, haja uma comunicação
clara de que o pai está disponível e
acessível caso haja necessidade.

Responsabilidade
Estimular que os pais se percebam, assu-
mam e pratiquem em seu dia a dia ações
que garantam o bem-estar dos seus filhos.

88
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Lembre-se de que o envolvimento dos homens em uma paternidade ativa é um


fenômeno psicológico, entretanto relacionado com o contexto social, histórico e
cultural. Assim, deve-se analisar o contexto em que se atua para conhecer as carac-
terísticas e as necessidades dos homens que compõem sua população adscrita, pro-
movendo ações adequadas para o exercício de uma paternidade ativa. Veja a seguir
algumas atitudes que devem ser estimuladas com os homens (SCHWARZ; LIMA, 2018).
1. Estar envolvido desde a decisão de ter filhos até o cuidado com a criança.
2. Compartilhar as tarefas domésticas e de cuidados com a parceria.
3. Assumir e ter orgulho da paternidade.
4. Estar atento e cuidar da saúde dos filhos.
5. Brincar e se divertir com as crianças.
6. Atuar no processo de educação em casa e na escola.
7. Demonstrar afeto com seus filhos.
8. Não utilizar a violência para a criação e educação.
9. Ensinar os valores da igualdade e do respeito.
10. Apoiar de forma integral a parceria em todos os momentos.

Nota-se que a literatura indica que homens que apresentam uma relação e imagem
positiva dos pais na infância participam mais ativamente no cuidado e na relação
emocional com seus filhos. Assim, percebe-se a importância intergeracional na
transição para a paternidade ativa, bem como no rompimento de construções de
masculinidades embasadas em comportamentos retrógrados e prejudiciais à saúde
dos homens (BOLZE, 2016; BOUCHARD, 2012; CABRERA et al., 2000; TURCOTTE;
GAUDET, 2009).

Lembre-se!
O envolvimento dos homens no papel de cuidadores traz bene-
fícios para a sociedade, pois promove a criação de crianças mais
seguras, protegidas da violência, com mais sucesso e capacida-
de de lidar com as tensões da vida com maior facilidade do que
aquelas com um pai ausente ou sem qualquer modelo de mas-
culinidade saudável para se espelhar.

Além disso, uma paternidade ativa, bem como o estímulo ao cuidado, pode ser
utilizada como uma forma de aproximar e inserir os homens na agenda dos serviços
de saúde da APS. A aproximação dos homens por meio do planejamento familiar,
do período pré-natal e da puericultura atua como uma “porta de entrada positiva”,

89
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

podendo ser utilizado para a promoção da atenção integral à saúde desses homens,
melhorando a qualidade de vida e a saúde familiar (BRASIL, 2018a).
Mediante a isso, no próximo item vamos conhecer algumas formas e exemplos de
como promover a paternidade ativa nos serviços da APS.

4.1.2 Promoção da paternidade ativa na APS


O trabalho de promoção da paternidade ativa na APS é um facilitador para a par-
ticipação dos homens no cuidado com os filhos e pode ser operacionalizado com
medidas simples (BRASIL, 2018a). Entretanto, é importante salientar que a desi-
gualdade de gênero e as construções violentas de masculinidades são processos
sociais mais amplos que dependem de mudanças estruturais. Neste sentido, muitas
vezes você encontrará barreiras no cotidiano, todavia lembre-se de que ao promover
a paternidade ativa com um pai de sua comunidade você estará contribuindo com
esse processo de transformação da sociedade (SCHWARZ; LIMA, 2018).
A proximidade dos profissionais da APS com as famílias e a comunidade faz com que
este seja um local ideal para criação de espaços para fomentar a paternidade ativa.
Medidas simples como o estímulo e o convite à participação dos homens no agenda-
mento das consultas de pré-natal e puericultura, a colocação de duas cadeiras no con-
sultório, a comunicação aberta com o casal e o envolvimento da parceria na consulta
podem contribuir para uma paternidade ativa (RIBEIRO; GOMES; MOREIRA, 2017).

REFLEXÃO

Você já observou no seu cotidiano de trabalho se os homens par-


ticipam do planejamento familiar, das consultas de pré-natal e
puerpério, exercendo uma paternidade ativa, ou já desenvolveu
alguma ação para estimular essa participação?

Deve-se atentar para as barreiras simbólicas, muitas vezes naturalizadas no processo


de trabalho do serviço de saúde, para a promoção de uma paternidade ativa. Por
exemplo, o foco histórico das instituições de saúde na atenção às mulheres, gestantes,
mães e crianças faz com que os profissionais da saúde muitas vezes desconside-
ram a necessidade de incluir as parcerias de forma integral, agravando o distancia-
mento dos homens do exercício de uma paternidade ativa (SCHWARZ; LIMA, 2018).
Neste sentido, como formadores de opinião na comunidade, é importante que os
profissionais da saúde da APS difundam a ideia de que os homens podem ser cui-
dadores, afetuosos e têm o direito e o dever de participar do planejamento repro-
dutivo, do pré-natal, da gestação, do parto, do pós-parto e do desenvolvimento
dos filhos e/ou filhas.

90
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Você pode disponibilizar para os homens de sua comunidade o material


construído pelo Ministério da Saúde direcionado para que os pais desen-
volvam uma paternidade ativa (BRASIL, 2018a). Veja a cartilha em: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_pais_exercer_paternidade_
ativa.pdf

Outro aspecto a ser considerado na abordagem dos homens na APS é a necessi-


dade de “ir onde o homem está”. Sabe-se que esse é um público que geralmente
não frequenta as unidades de saúde, sendo assim, recomenda-se aproveitar os
momentos de visitas domiciliares ou atividades em grupo na comunidade em que
os homens estão envolvidos para sensibilizá-los sobre a paternidade ativa e o
cuidado. Esse enfoque deve ser uma atribuição compartilhada e realizada por todos
os profissionais da equipe de saúde.
Considerando esse contexto, Aguayo e Kimelman (2012) apresentam algumas
sugestões para a realização dessa abordagem:
• Agendar visitas domiciliares ou em outros espaços da comunidade em
horários em que os pais ou figuras paternas e as mães que trabalham fora
possam estar presentes.
• Ao realizar orientações sobre saúde, cuidado e criação dos filhos direcio-
ne-os também para os pais ou figuras paternas promovendo a inclusão
deles neste processo.
•P
 romover a participação ativa do pai ou figura paterna no cuidado diário
e nas consultas de seus filhos ou suas filhas.
•A
 presentar e orientar os casais sobre ideias machistas ou sexistas e seus
prejuízos para a paternidade ativa.
• Identificar vínculos inseguros dos pais na relação com as mães e filhos pro-
movendo interações cooperativas, de diálogo, bem como reforçar os
aspectos positivos e as habilidades dos pais como cuidadores.
•E
 stimular as parcerias a participarem de oficinas e grupos sobre habilida-
des na paternidade ativa e, nos casos de inexistência, promover esses
espaços nas unidades de saúde.
Para aprofundar o olhar e conhecer mais possibilidades de como colocar em prática
as ações de promoção da paternidade ativa e do cuidado entre os homens, a seguir
serão apresentadas duas iniciativas articuladas com o trabalho na APS denomina-
das “Programa P: Manual para o Exercício da Paternidade e do Cuidado” e “Unidade
de Saúde Parceira do Pai”. A ideia é que você se inspire e adapte para sua realidade
essas atividades visando o estímulo e a inclusão dos homens de sua
comunidade.

91
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Programa P: Manual para o Exercício da Paternidade e do Cuidado


O Programa P, que usa esta letra devido
ao seu direcionamento para os “Pais” ou
“Padres” (espanhol), é parte da
Campanha Internacional de Paternida-
de MenCare. Inicialmente o Manual para
o Exercício da Paternidade e do Cuidado
foi publicado em inglês e espanhol,
sendo que sua versão em português foi
fruto de uma parceria entre Ministério
da Saúde, Instituto Noos, Instituto Papai
e GEMA. Além da tradução, foi realizada
uma adaptação para o Brasil e as espe-
cificidades dos homens no contexto bra-
sileiro (INSTITUTO PROMUNDO, 2014).
Dentre as principais mudanças e adaptações, destaca-se:
· Exemplos nacionais das melhores práticas.
· Enfoque na atenção à saúde e no autocuidado do homem.
· Discussão específica sobre masculinidades e violência de gênero.
· Informações nacionais a respeito do exercício da paternidade e do cuidado
no Brasil.
Neste sentido, o manual em português é baseado em evidências e contextualiza-
do para a realidade brasileira, norteado pelas melhores práticas que abordaram
o exercício da paternidade ativa por parte dos homens. Conheça a seguir algumas
recomendações para ações nessa temática no seu cotidiano de trabalho (INSTITUTO
PROMUNDO, 2014).

Mãe vai desacompanhada da parceria às consultas de pré-natal


•Q
 uestionar sobre a relação com a parceria, do interesse e da possibilida-
de de participação nas consultas e no parto. Levar em consideração o
interesse da mãe nesta inclusão.
• Nos casos em que a gestante optar em convidar a parceria, explicar os be-
nefícios do envolvimento e verificar se existe alguma necessidade de
adaptação para participação dele (horário da consulta, dispensa do trabalho,
etc.).
• Nos casos em que a gestante não quiser que a parceria participe, conversar
sobre as razões dela, verificar o interesse em incluir outro acompanhante,
explicando os benefícios da companhia neste momento.
•R
 espeitar a não inclusão da parceria como acompanhante, mas buscar in-

92
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

vestigar potenciais riscos do relacionamento para a gestação e para mulher.


Tentar aproximar o homem por outra via para uma abordagem com ele.
•N
 os casos em que a parceria estiver impossibilitada de participar por motivos
de trabalho, prisão, viagens, etc., orientar a mãe a passar todas as infor-
mações para ele.

Parceria presente nas consultas de pré-natal


• Envolva-a ativamente nas consultas de pré-natal. Jamais trate-a como uma
personagem secundária ou deslocada.
• Oriente-a sobre as doenças que podem acontecer durante este período
(diabetes gestacional, síndrome hipertensiva, infecção do trato urinário,
etc.) e sobre os sinais e sintomas para identificar uma emergência obsté-
trica e quais os passos a seguir.
•T
 rate sobre transmissão vertical das ISTs, como a sífilis e a Aids, e oriente a
realização dos exames voltados a esta questão. Relacione esses procedimen-
tos com as atividades de cuidado que a parceria irá exercer com seu filho.
•P
 ergunte sobre as preocupações do casal quanto à vida sexual durante a
gravidez e oriente com informações adequadas sobre sexualidade nessa fase.

• Incentive-a a dar apoio emocional


para a gestante, bem como
manter um estilo de vida
saudável no ambiente familiar
durante a gravidez. Por exemplo:
alimentação saudável, ambientes
livres de tabaco, consumo res-
ponsável de álcool, descanso,
recreação, entre outros.

• Convide a parceria para cursos de preparação para o parto (se houver) e


instrua sobre os seus direitos, como a licença paternidade e a Lei do Acom-
panhante nº 11.108/2005.

Orientações para o momento do pré-parto e do parto


•N
 os casos em que a parceria tiver acompanhando, reforçar a importância
da presença durante todo o processo de pré-parto e parto tanto para a
mãe quanto para o bebê.
• Orientar sobre violência obstétrica e como a presença da parceria é fun-
damental para evitar que ela ocorra durante o parto.

93
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

• Instruir a parceria sobre o que fazer nas situações em que pode e quer par-
ticipar, como ajudar a vestir a mãe, acomodar seus pertences, apoiá-la emo-
cionalmente, fazer contato físico, entre outros.
•O
 riente a parceria para entrar em contato com seu filho o mais cedo possível:
cortar o cordão, segurá-lo, pesá-lo, acompanhá-lo em procedimentos, etc.
Além dessas orientações específicas, o Programa P também recomenda a sensibi-
lização de gestores e profissionais de saúde para a criação de protocolos, indica-
dores e metodologias que possam avaliar o envolvimento e a participação dos pais
ou parcerias. Para isso disponibiliza no manual do programa um guia para ser
utilizado na avaliação sobre a paternidade nas unidades de saúde, para os momentos
do pré-natal, parto e pós-parto por meio de questões básicas e norteadoras para
os profissionais da saúde, como:

• Perguntamos pela parceira da gestante quando a mãe chega sozinha?


• Reforçamos a importância da presença da parceira no pré-natal?
• Registramos a presença ou a ausência da parceria em cada consulta?
• Temos horários adequados para as parcerias que trabalham em
tempo integral?
• Temos cursos para as parcerias durante a gravidez?

Unidade de Saúde Parceira do Pai


A Unidade de Saúde Parceira do Pai foi uma estra-
tégia criada no Rio de Janeiro para fomentar a pa-
ternidade por meio dos serviços de saúde da APS
no Rio de Janeiro. Esta estratégia está inserida em
um projeto mais amplo desenvolvido pela Prefeitu-
ra Municipal do Rio de Janeiro chamado Movimento
pela Valorização da Paternidade, que se propõe a
estimular a participação e o maior envolvimento
dos pais e das parcerias no planejamento familiar,
no período pré-gestacional e na criação dos filhos.
Conforme apresentado no material, envolver as parcerias nas atividades de cuidado
é um recurso importante para promoção da saúde de crianças e adolescentes e
dos próprios homens. Entretanto, a própria nomenclatura utilizada nos serviços
de saúde, denominados materno-infantis, contribuem para o afastamento dos
homens desse processo e reforçam a responsabilidade exclusiva das mulheres
(BRANCO et al., 2009).

94
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Mediante isso, a estratégia Unidade de Saúde Parceira do Pai apresenta como eixo
norteador os 10 Passos para ampliar a participação do pai e parcerias nas políticas
públicas:
1. Preparar a equipe de saúde.
2. Incluir pais/parcerias nas rotinas dos serviços.
3. Incluir pais/parcerias no pré-natal, parto e pós-parto.
4. Incluir pais/parcerias nas enfermarias.
5. Promover atividades educativas com os homens/parcerias.
6. Acolher e cuidar dos homens/parcerias.
7. Preparar o ambiente.
8. Dar visibilidade ao tema do cuidado paterno.
9. Criar horários alternativos.
10. Fortalecer a rede de apoio social.

A partir disso, destaca-se que a equipe de saúde necessita preparar-se para a


inclusão dos pais e parcerias na rotina assistencial. Esse deve ser um tema das
reuniões e atividades de planejamento da equipe de saúde. Além disso, é impor-
tante a sensibilização dos gestores para implementação das atividades para mudança
de concepções de gênero e de família no serviço de saúde.
A seguir serão apresentadas algumas recomendações propostas pela estratégia
Unidade de Saúde Parceira do Pai para diferentes contextos de abordagem (BRANCO
et al., 2009):

Na visita às famílias: busque o contato com as


parcerias das gestantes presentes na comunidade
para estimulá-las a comparecer às consultas e às
atividades grupais no pré-natal e na puericultura.

Durante o pré-natal: nos casos em que a futura mãe não


estiver acompanhada, pergunte sobre o envolvimento da
parceria na gestação e informe sobre os benefícios do envol-
vimento dos homens/parcerias com os cuidados com a família.
Ofereça apoio para ajudá-la a conversar com a parceria se for
necessário. Mantenha as informações sobre a participação da
parceria registradas no prontuário.

95
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Durante as consultas de pré-natal: nos casos em


que as parcerias estiverem presentes, inclua-as na
conversa, estimulando-as a tirarem suas dúvidas.
O exame de ultrassonografia é uma situação privi-
legiada para a vinculação da parceria com a criança,
pois é um momento que “cai a ficha” para elas.

Promover atividades educativas com os homens: oferecer


espaços para que as parcerias troquem experiências sobre
a paternidade ativa e atividades de cuidado. Sugere-se o
uso de metodologias participativas que fomentem a
expressão de sentimentos, a troca de experiências e o de-
senvolvimento de habilidades e competências.

Acolher e cuidar das parcerias: aproveitar a


presença das parcerias no serviço de saúde para
estimular o cuidado com a saúde, atualizar suas
vacinas e frequentar outros serviços da unidade.

Ajustar o ambiente e a agenda: estruturar o ambiente para que seja


acolhedor para a parceria, fazendo com que se sinta envolvida e cor-
responsável pelo cuidado familiar. Algumas medidas simples são:
acrescente cadeiras nos consultórios para que as parcerias possam
participar das consultas; expor na unidade de saúde cartazes, fotos e
revistas com imagens e conteúdos que valorizem a paternidade;
divulgar por folder e informativos sobre licença-paternidade e o direito
das parcerias de acompanharem o parto; avaliar com gestores e equipe
a possibilidade de flexibilizar o horário de atendimento para integra-
ção das parcerias que trabalham fora e não podem participar das
consultas em horário comercial.

Dar visibilidade ao tema do cuidado paterno:


promover atividades e eventos como o Mês da Va-
lorização da Paternidade, visando romper com o
preconceito quanto ao homem cuidar, frequente-
mente presente no meio social em que os pais vivem.

96
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Fortalecimento da rede de apoio social: no caso de


parcerias em vulnerabilidade social, estabelecer
parcerias com a assistência social e outros setores para
facilitar o acesso a emprego, profissionalização, ajuda
para obras, programas de distribuição de renda, etc.

Durante o trabalho de parto: estimule as parcerias a


manterem atenção constante à companheira durante o
trabalho de parto, não realizar conversas longas e tensas,
buscando compreender as necessidades da mulher neste
momento, permitindo uma imersão completa.

Pós-parto e primeiros momentos de vida da criança: estimule as


parcerias logo no primeiro momento a pegar o recém-nascido, cortar
o cordão umbilical e conduzir o bebê juntamente e com a mãe. Oriente
e estimule a prática do “Método Canguru”, caso o bebê seja prematuro
e este método esteja indicado. Informe as parcerias sobre a impor-
tância da amamentação para que a pessoa apoie e estimule a prática
juntamente com a mãe. Lembre-se também de informar sobre a Lei
nº 11.108/2005, que garante o acesso nos hospitais no pré-parto, parto
e pós-parto para a parceria.

Agora que conhecemos algumas estratégias para a promoção da paternidade ativa


e do cuidado na APS, vamos continuar os estudos no próximo item conhecendo
detalhadamente o pré-natal da parceria.

4.2 PRÉ-NATAL DA PARCERIA


O pré-natal é um momento importante para a criança, a mãe e a parceria, quando
são realizados exames para acompanhamento da saúde de todos. Esse procedimen-
to permite a prevenção de doenças e complicações que podem causar problemas
como parto prematuro, aborto, ganho de peso excessivo da mãe, entre outros. His-
toricamente, o pré-natal vem sendo pensado como um momento para as mães,
focando no binômio mãe/criança; entretanto, a proposta do pré-natal da parceria visa
modificar esse cenário, incluindo homens/parcerias nesse processo (BRASIL, 2016b).
Sendo assim, a PNAISH fomenta a estratégia do pré-natal do parceiro para inclusão
do tema da paternidade e do cuidado em debates e ações para o planejamento
reprodutivo, à atenção à gestação, ao parto e ao nascimento. A ideia é que por
meio do fortalecimento da relação entre profissionais da saúde e comunidade

97
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

sejam aprimorados os vínculos afetivos familiares dos usuários por meio dos
serviços ofertados pela equipe (BRASIL, 2009a).
Neste sentido, o pré-natal busca destacar
a importância do envolvimento conscien-
te e ativo de homens/parcerias nas
diversas ações que compõem o planeja-
mento reprodutivo. Além disso, de forma
concomitante, o pré-natal da parceria
pretende ampliar e qualificar o acesso
dos homens aos serviços de saúde da
APS. Ele visa ser uma das principais
portas de entrada para os homens nos serviços da APS, para que sejam realizadas
ações de prevenção, promoção, autocuidado e adoção de estilos de vida saudáveis
com este grupo populacional (BRASIL, 2016b).
Para isso, deve-se estimular a reflexão constante sobre as construções sociais de
gênero na sociedade, valorizando os diferentes arranjos de família como os casais
homossexuais, pais solteiros, adolescentes, idosos e também homens que fazem
a função paterna como avós, tios, amigos, padrastos, entre outros.
Dentro das políticas públicas que estão relacionadas com esse processo destaca-
-se a Rede Cegonha, instituída no país em 2011 (BRASIL, 2011a, 2011b) que visa
desenvolver uma rede de cuidados para que a mulher tenha direito e acesso a um
planejamento reprodutivo, atenção humanizada à gravidez, parto e puerpério, ga-
rantindo à criança um nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento saudável.
Sendo assim, a rede se constitui como um espaço que propicia a inclusão e parti-
cipação ativa de pais e parcerias em todos os momentos, inclusive no pré-natal,
fomentando o trinômio parceria-mãe-criança.

4.2.1 Acolhimento e passo a passo do pré-natal da parceria


Nos itens anteriores abordamos a importância de incluir a parceria na discussão
da saúde reprodutiva e agora no cuidado pré-natal. Na sua prática você costuma
incluir a parceria no pré-natal? Vamos falar um pouco sobre como podemos fazer
isso na prática.
Ao procurar o serviço de saúde com suspeita de gravidez, a mulher ou o casal
devem receber acolhimento adequado pela equipe, seguindo as orientações contidas
no “Teste rápido de gravidez na Atenção Básica: guia técnico” (BRASIL, 2014b). A
recomendação é a realização de Teste Rápido de Gravidez (TRG) para mulheres em
idade fértil que apresentem atraso menstrual, sendo em sua maioria igual ou
superior a sete dias. Para as adolescentes o acesso ao TRG deve ser facilitado,
devido às especificidades da faixa etária.
Este primeiro contato deve ser utilizado pelos profissionais da saúde para realizar
um acolhimento humanizado com enfoque nos homens. Nos casos em que o pai
ou parceiro não estiver presente, recomenda-se explicar para a mãe a importân-
cia do envolvimento deste (SCHWARZ; LIMA, 2018).

98
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Nos atendimentos, o profissional deve resgatar o histórico do usuário visando os


aspectos da paternidade, para identificar as experiências e expectativas quanto ao
desempenho da paternidade, bem como da sua relação com a afetividade. Isso
permitirá o mapeamento dos potenciais e das dificuldades dos homens, para di-
recionar as intervenções necessárias (BRASIL, 2016b).

Lembre-se!
Nem sempre será possível ter uma relação de intimidade com os
pais/parcerias, sendo que isso se desenvolve com o tempo.
Lembre-se de que o acolhimento não é um momento fixo, mas sim
uma postura política, ética e empática na abordagem das famílias.

O acolhimento e o fortalecimento do vínculo entre o pai ou parceria e os profissio-


nais da saúde abrem caminhos para acessar informações mais íntimas sobre se-
xualidade, práticas e eventuais comportamentos de risco evitáveis. E, mesmo nos
casos em que a gravidez não se confirme, esse contato pode ser aproveitado para
incluir o homem nas ações voltadas para o cuidado integral à saúde (MOREIRA;
GOMES; RIBEIRO, 2016).
Nos casos de resultado positivo, recomenda-se fazer os testes rápidos de sífilis,
HIV e o aconselhamento e iniciar a rotina de pré-natal, parto e puerpério da parceria,
conforme o fluxo apresentado a seguir.
Para a implementação do pré-natal, sugere-se um passo a passo descrito a seguir
(BRASIL, 2006). Acompanhe.

1
No primeiro contato, com postura acolhedora, deve-se incentivar o pai
ou parceria a participar das consultas de pré-natal e atividades educa-
tivas disponibilizadas no território. Informar que poderá tirar dúvi-
das e se preparar adequadamente para exercer o seu papel duran-
te a gestação, o parto e o pós-parto. Explicar a importância e
1º ofertar a realização de exames.
Passo

2
Solicitar os testes rápidos de sífilis, HIV, hepatites B e C e os exames de
rotina de acordo com a idade do homem/parceria e os fatores de
risco a que está exposto, bem como promover o acesso a exames e
aconselhamento para as infecções sexualmente transmissíveis e
outras doenças prevalentes na comunidade visando reduzir os
2º impactos dessas doenças na população adscrita.
Passo

99
Verificar e realizar a vacinação da parceria conforme situação atual,
visando a prevenção de doenças. Além disso, manter o Cartão de
Vacinação do pai ou parceria atualizado durante o período gestacio-
1
tivas disponibilizadas no território. Informar que poderá tirar dúvi-
das e se preparar adequadamente para exercer o seu papel duran-
te a gestação, o parto e o pós-parto. Explicar a importância e
1º ofertar a realização de exames.
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem
Passo

1
2
No primeiro contato, com postura acolhedora, deve-se incentivar o pai
Solicitar os testes rápidos de sífilis, HIV, hepatites B e C e os exames de
ou parceria a participar das consultas de pré-natal e atividades educa-
rotinaLembre-se!
de acordo com a idade do homem/parceria e os fatores de
tivas disponibilizadas no território. Informar que poderá tirar dúvi-
riscoLembre-se
a que estádeexposto, bem
respeitar os como promover
protocolos o acesso a exames e
das e se preparar adequadamente para estabelecidos
exercer o seu pelo
papelMinis-
duran-
aconselhamento
tério para
da Saúdeo para as infecções sexualmente transmissíveis e
te a gestação, partoaesolicitação desses
o pós-parto. exames.
Explicar Ao identificar
a importância e
1º outras
alguma doenças prevalentes
alteração na
nosdeexames comunidade visando reduzir ose
oferecer cuidado, tratamento
2º ofertar a realização exames.
Passo impactos dessas doenças
acompanhamento na população adscrita.
para a parceria.
Passo

2
3
Solicitar os testes rápidos de sífilis, HIV, hepatites B e C e os exames de
Verificar e realizar a vacinação da parceria conforme situação atual,
rotina de acordo com a idade do homem/parceria e os fatores de
visando a prevenção de doenças. Além disso, manter o Cartão de
risco a que está exposto, bem como promover o acesso a exames e
Vacinação do pai ou parceria atualizado durante o período gestacio-
aconselhamento para as infecções sexualmente transmissíveis e
nal, dando continuidade aos cuidados com os homens após este
outras doenças prevalentes na comunidade visando reduzir os
2º período. Estimular a participação no processo de vacinação de
3º impactos dessas doenças na população adscrita.
Passo toda a família, em especial da gestante e do bebê.
Passo

4
3
Verificar e realizar a vacinação da parceria conforme situação atual,
Manter durante todas as consultas e atividades realizadas na APS a opor-
visando a prevenção de doenças. Além disso, manter o Cartão de
tunidade de escuta e criação de vínculo dos homens/parcerias e profis-
Vacinação do pai ou parceria atualizado durante o período gestacio-
sionais da saúde para tirar dúvidas e realizar orientações sobre rela-
nal, dando continuidade aos cuidados com os homens após este
cionamento com a parceria, atividade sexual, gestação, parto e puer-
4º período. Estimular a participação no processo de vacinação de
3º pério, aleitamento materno, prevenção da violência doméstica.
Passo toda a família, em especial da gestante e do bebê.
Passo

4
Informar sobre os direitos das mulheres de permanência de acompanhan-
Manter Lembre-se!
durante todas as consultas e atividades realizadas na APS a opor-

5
te no pré-parto, parto e puerpério, bem como incentivar o pai ou parceria
tunidade de escuta e criação
O envolvimento de vínculo dososhomens/parcerias e profis-
a participar e dialogar ecom
a colaboração
a mãe sobreentre parceiros e
a possibilidade para o cuidado
forma da sua
sionais
comdaasaúde para
gestação e tirar
a dúvidas
criança e realizar
podem ocorrerorientações sobre rela-
independentemente
participação. Trazer exemplos para estimular e encorajar o pai ou par-
cionamento com a deparceria, atividade afetivo.
sexual, gestação, parto e puer-
4º ceriada existência
a cortar relacionamento
ou clampear o cordão umbilical; Sempre
levar consulte
o recém-nascido a
pério, aleitamento
gestante para sabermaterno,
qual a prevenção
melhor da violência doméstica.
abordagem.
Passo ao contato pele a pele; incentivar a amamentação; dividir os cuidados
da criança com a mãe, entre outros. Lembre-se sempre de apresen-
5º tar aos futuros pais/parcerias os benefícios de participar do parto.
Passo
Informar sobre os direitos das mulheres de permanência de acompanhan-

5
te no pré-parto, parto e puerpério, bem como incentivar o pai ou parceria
a participar e dialogar com a mãe sobre a possibilidade e forma da sua
participação. Trazer exemplos para estimular e encorajar o pai ou par-
ceria a cortar ou clampear o cordão umbilical; levar o recém-nascido
ao contato pele a pele; incentivar a amamentação; dividir os cuidados
da criança com a mãe, entre outros. Lembre-se sempre de apresen-
5º tar aos futuros pais/parcerias os benefícios de participar do parto.
Passo

100
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Ainda considerando esse passo, no caso de gestações de alto risco, com possibili-
dade de a criança nascer prematura ou com baixo peso, possibilitar que os pais/
parcerias conheçam a unidade neonatal da maternidade em que será realizado o
parto.

FECHAMENTO DA UNIDADE
Nesta unidade, você aprofundou seus estudos sobre a paternidade ativa, conhe-
cendo alguns aspectos históricos e das relações de gênero, bem como ferramen-
tas de inclusão e participação dos homens/parcerias em todas as etapas do plane-
jamento reprodutivo, da gestação, do parto, do pós-parto e do desenvolvimento
infantil. Além disso, você aprendeu sobre a promoção de uma paternidade ativa,
por meio do pré-natal dos parceiros e seu passo a passo indicado para uma
abordagem adequada no contexto da APS.

101
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Encerramento do módulo
Neste módulo estudamos a importância de reconhecer as particularidades na
atenção à saúde do homem, os dados coletados ao longo dos anos, as políticas
públicas direcionadas ao tema e como aprimorar a abordagem e o acolhimento
dessa população na APS. Também identificamos as ocorrências mais frequentes e
formas de aproximá-los aos serviços de saúde.
Vimos diferentes questões e conceitos, desde como funcionam as relações de
gênero e masculinidades até a promoção da paternidade ativa. Ao aprofundar seus
conhecimentos sobre o tema, em prol de fortalecer a participação social dos homens
no SUS, é possível facilitar e promover um maior acesso deles ao autocuidado e às
suas necessidades específicas.
Esperamos que este conteúdo impulsione você na melhoria e no aprimoramento
do seu cotidiano de trabalho na atenção à saúde dessa população na APS.

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EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

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113
Biografia dos conteudistas
Flávia Henrique
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina
(2003), residência em Medicina de Família e Comunidade (2006), mestrado
em Saúde Pública pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006), Pós-
-graduação no Curso de Qualificação de Gestores do SUS (2010) pela ENSP,
Especialização em Apoio Institucional pela UNICAMP (2013) e doutorado em
Saúde Pública pela ENSP (2017). É servidora efetiva da Prefeitura Municipal de
Florianópolis desde 2006, supervisora dos médicos do Mais Médicos desde
2014 e Professora efetiva da UFSC Araranguá desde 2016. Atuou como pro-
fessora substituta da UFSC por dois anos (2007/2009). Trabalhou como
apoiadora institucional descentralizada do Departamento de Atenção Básica/
Ministério da Saúde (2012/2016). Atuou como Gerente de Atenção Básica do
município de Criciúma (2016/2018). Tem experiência na área de Saúde da
Família e Saúde Coletiva, com ênfase em Avaliação, Planejamento e Gestão,
atuando principalmente nos seguintes temas: sus, avaliação na atenção
básica, programa saúde da família, medicina de família e comunidade, plane-
jamento, gestão pública e docência em saúde.
Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/9464910409500247

Giovana Bacilieri Soares
Médica de Família e Comunidade, mestre em Saúde Pública UFSC (2009).
Especialização em Preceptoria de Residência Médica no SUS - Hospital Sírio-
-Libanês (2016). Residência médica em Medicina de Família e Comunidade
UFSC (2006).
Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/1802452690555389

Carolina Carvalho Bolsoni


Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa
Catarina- UFSC (2009). Mestra (2012) e Doutora (2017) em Saúde Coletiva
(UFSC). Especialista em Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa pela Univer-
sidade Federal de São Carlos (2018). Pós-doutoranda no Programa de Pós-
-graduação em Saúde Coletiva. Atualmente desenvolve atividades junto à
Especialização em Atenção Básica em Saúde- UNASUS/UFSC. Membro da
Equipe de Produção Editorial do Curso de Violência doméstica contra as
mulheres e Enfrentamento do sobrepeso e obesidade. Coordenadora técnica
do Curso de Atenção Integral à Saúde das Mulheres. Área de pesquisa -
Violência e Saúde; Saúde do Idoso.
Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/6654871617906798.
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Dalvan Antônio de Campos


Nutricionista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, Mestre e
Doutor em Saúde Coletiva pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva (PPGSC). Trabalha com pesquisa em Saúde Coletiva, no Departamen-
to de Saúde Pública/UFSC, vinculado ao Núcleo de Estudos EPICENES, é
membro da equipe editorial da revista Saúde & Transformação Social e atua
no desenvolvimento e oferta de cursos de especialização, capacitação e au-
toinstrucionais na Universidade Aberta do SUS - UFSC.
Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/2272195512817044

115
EIXO 03 | MÓDULO 10 Saúde do homem

Programa Médicos pelo Brasil


EIXO 3 |CUIDADO A GRUPOS POPULACIONAIS ESPECÍFICOS
E SITUAÇÕES ESPECIAIS

MÓDULO 10

Saúde
do homem

REALIZAÇÃO

Ministério da Saúde
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
2022

116

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