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INTRODUÇÃO
Discutir a garantia do direito à saúde no Brasil tem tornado-se sinônimo da luta pela
solidificação dos direitos humanos, haja vista sua dignidade e competência cidadã. Em
especial destaca-se o caso das pessoas privadas de liberdade, percebidas por uma
parcela da sociedade como "não cidadãos", indivíduos que perdem seus direitos diante
da entrada no mundo do crime. Estes homens e mulheres são vistos como não
portadores de direitos humanos e sociais, os quais não devem ser assistidos pelos
serviços de saúde.1 O Brasil possui a quarta maior população carcerária do mundo, com
cerca de 500 mil presos e um sistema prisional superlotado². A população carcerária é
de aproximadamente 31 mil mulheres e mais de 442 mil homens, distribuídos em
diferentes estabelecimentos que compõem o Sistema Prisional.3 Entretanto temos um
déficit de vagas (quase 200 mil), sendo um dos principais focos das críticas da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o desrespeito aos direitos humanos no
país.2 Tal conformação reflete a circunstância atual de vida e saúde das pessoas
privadas de liberdade, caracterizada pela insalubridade, superlotação e precariedade
das celas, pelas ações violentas constantes, negação do direito à saúde e/ou pela
carência de ações pelos serviços de saúde, apesar de existir diversos tratados, códigos
e leis que orientem melhores condições de vida e saúde no ambiente prisional.4
Entretanto apesar das tentativas de garantir o direito à saúde ainda há pouco impacto
no cenário do sistema prisional brasileiro. Haja vista que se aclara cotidianamente nos
jornais impressos, revistas e mídia televisiva uma população privada de liberdade
submetida a condições desumanas, verdadeiros cenários de exclusão social e
preconceitos.7 Atualmente existe a Politica Nacional de Atenção Integral à Saúde das
Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), instituída pela Portaria
Interministerial (MS/MJ) nº 1, em 2014. Até então apenas aquelas pessoas que se
encontram sob custódia, em qualquer regime tinham direito ao atendimento à saúde.
Com a política em prática, os beneficiários também serão aqueles em cumprimento de
medida de segurança que para isso, tem na rede de atenção à saúde, o responsável
direto para realizar ações primárias de saúde, com especial atenção, as assistências aos
portadores de transtornos mentais. Os trabalhadores do sistema prisional, os familiares
e demais pessoas que se relacionam com as pessoas privadas de liberdade, devem ser
envolvidas em ações de promoção da saúde e prevenção de agravos. Para isso, será
imprescindível à introdução de serviços e equipes multiprofissionais em todo o sistema
de saúde segundo as diretrizes do SUS.8 Pesquisar com vistas a compreender como
organiza-se a assistência à saúde a essa população na cidade de Pau dos Ferros/RN é
para enfermagem, a forma de melhor reconhecer o seu espaço de atuação e possibilitar
elaboração de ações especificas. Assim o estudo objetivou identificar as necessidades de
saúde e o perfil de adoecimento de homens privados de liberdade que cumprem pena
no Complexo Penal Regional (CPR) de Pau dos Ferros/RN.
Não podemos esquecer que estamos lidando da saúde dos homens e que estes possuem
um perfil diferenciado, marcado por legados sociais de gênero que cria o estereotipo
"machista". O imaginário de ser homem pode aprisiona-o em amarras culturais,
dificultando práticas de autocuidado, pois o homem é visto como viril, invulnerável e
forte. Os homens que se sentem invulneráveis estão em maior exposição, pois adoecem
em segredo e demoram a procurar assistência adequada, tornando-se mais vulneráveis.
São dois lados da mesma moeda.15 A disseminação de doenças contagiosas,
principalmente o HIV/AIDS estabelecem sérios risco à saúde dos homens privados de
liberdade, bem como os seus contatos e a comunidade em si.12 Outro perfil de
adoecimento merece realce, àquele ligado aos transtornos mentais, afinal o ambiente
da prisão é um meio promissor ao aparecimento de psicoses carcerárias e transtornos
mentais diversos, "muitas vezes causadas pela atmosfera opressiva e por doenças
existentes em razão das más condições de higiene, alimentação e vestuário".14
Apesar de se ter ciência das situações supracitadas, a atitude tomada pelos presos é
apropriada, pois uma vez estando desprovido de sua liberdade, cabe ao Estado a
obrigação de prover as condições mínimas, pois a custódia dos reclusos está sob sua
responsabilidade. O encarceramento não lhe tira os direitos promotores de sua
integridade física e moral.16 Alguns apenados possuem essa concepção e se atenta para
o fato de que a assistência oferecida carece de aprimoramento e demonstram
conhecimento dos seus direitos enquanto pessoa humana de usufruir da saúde.
Independente da razão de seus delitos preservam os demais direitos humanos inerentes
à sua cidadania.17 Entretanto, Diuana12 esclarece que: "muitas vezes são os agentes de
segurança penitenciária que julgam a necessidade de atendimento a partir do pedido do
preso e atuam facilitando ou dificultando este acesso". Partindo do pressuposto de que
as condições de vida e saúde são importantes, afetando seus comportamentos e sua
inserção na sociedade, sabe-se que o confinamento em prisões por si só, já afeta a
estabilidade do homem, quiçá quando a assistência à saúde perpassa por cenários de
descaso e exclusão social. Assim, é necessário compreender os relatos dos homens que
se encontram encarcerados para então aproximar-se da sua realidade demonstrando
parcial conformismo com a situação de descaso.
As limitações vivenciadas foram conseguir adentra no CPR de Pau dos Ferros/RN, com
necessidade de readequar o cronograma de pesquisa. A coleta de dados ocorreu com o
acompanhamento do agente penitenciário, o que pode ter influenciado os depoimentos
dos apenados ao discorrerem sobre suas necessidades e problemas de saúde. Os
sujeitos pesquisados possuem dificuldades em se expressar. Outros, notadamente
evidenciavam desconforto pelo uso das algemas, que não podiam ser retiradas sequer
no momento da assinatura do TCLE, de acordo com as normas de segurança do
Complexo Prisional.
REFERÊNCIAS
6. Pinheiro R, Mattos RA, Barros MEB (Editors). Trabalho em equipe sob o eixo da
integralidade: valores, saberes e práticas. Rio de Janeiro: Abrasco/Cepesc; 2007.
[ Links ]
11. Assis RD. A realidade atual do sistema penitenciário brasileiro. Revista CEJ.
2007; (39):74-8. [ Links ]
12. Diuana V, Lhuilier D, Sánchez AR, Amado G, Araújo L, Duarte AM et al. Saúde
em prisões: representação e práticas dos agentes de segurança penitenciária no Rio
de Janeiro, Brasil. Cad Saúde Pública. 2008; 24(8):1887-96. [ Links ]
13. Polak YNS, Kalegari DRG, Domingues DE, Yamasaki IS. A compreensão de
doença dos adultos da Grande Curitiba. Cogitare Enferm. 1996; 1(2):11-8.
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16. Brasil. Lei 2.848 de 07 de dezembro de 1940. Código Penal Brasileiro. São
Paulo (SP): Saraiva; 2002. [ Links ]
17. Souza MOS, Passos JP. A prática da enfermagem no sistema penal: limites e
possibilidades. Esc Anna Nery. 2008; 12(3):417-23. [ Links ]