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23 de setembro de 2023
Livro mostra que certas atitudes e percepções são diferentes entre homens e mulheres
não por meros contextos e pedagogias
O próprios hormônios e estruturas cerebrais de cada sexo assim programam os indivíduos | Foto:
Foto: Divulgação/iStock
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gênero às causas identitárias e às filosofias parciais advindas da Escola de Frankfurt e
de outras escolas de ideias agregadas.
Onde fincar convicções e se balizar se nem mesmo a mais factual das percepções, se
nem mesmo a realidade mais patente, está a salvo da desintegração causada pelas
ideologias relativistas? Se não há certezas fundamentais a que se agarrar, quem tem a
melhor retórica vence no momento, mas vencer, nesse caso, não é garantia de verdade.
Eis, pois, o imbróglio moderno que reveste esse debate.
É isso que se propõe Leonard Sax em Por que gênero importa?; lançado em 2019 pela
LVM editora, sob o ótimo trabalho de tradução de Paulo Polzonoff, o livro já foi
recomendado por grandes nomes tanto no exterior como no Brasil. O autor é formado
em biologia pelo MIT e doutor pela Universidade da Pensilvânia em psicologia clínica.
Ele se especializou em educação familiar e acredita piamente que a educação deveria
tratar as diferenças sexuais como parceiras para o desenvolvimento integral e
responsável dos indivíduos, e não o contrário. Os contextos sociais e familiares deveriam
facilitar os desenvolvimentos psíquicos e biológicos dos indivíduos, e não atrapalhar ou
confundir.
Mulheres e homens são diferentes não porque querem, não porque assim foram
instruídos e doutrinados, mas são assim num aspecto mais basal e profundo, num
terreno estruturante que vem antes da própria política e apreensão contextual.
O que o autor faz, assim, é mostrar que, ao contrário do que o mainstream afirma ‒
incluam-se aqui as grandes universidades e muitos respeitados órgãos científicos
supostamente independentes ‒, existe sim uma vasta literatura científica que apoia não
somente a percepção comum e óbvia das diferenças inatas entre os sexos feminino e
masculino, como tais pesquisas sérias, muitas vezes, colocam os desenvolvimentos
cerebrais e psicológicos em linhas paralelas, sem jamais se cruzarem.
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Sax mostra-nos que certas atitudes e percepções são diferentes entre homens e
mulheres não por meros contextos e pedagogias, mas porque os próprios hormônios e
estruturas cerebrais de cada sexo assim programam os indivíduos. Mulheres e homens
são diferentes não porque querem, não porque assim foram instruídos e doutrinados,
mas são assim num aspecto mais basal e profundo, num terreno estruturante que vem
antes da própria política e apreensão contextual. A suas constituições biológicas os
prepararam para agir, pensar e conjecturar de formas diversas ‒ e não há nenhum
problema nisso, afirma o psicólogo.
Ao ler Por que gênero importa?, entretanto, percebemos que não se trata de uma obra
combativa, isto é, uma resposta pública e afrontosa ao movimento identitarista. É, na
verdade, de uma busca por explicitar de forma clara que as diferenças entre os sexos
não são como o mainstream tenta fazer crer hoje: uma questão de contexto e política, de
dominação e sujeição, as diferenças entre os sexos são profundas, arraigadas,
constituintes e, se trabalhadas de forma sadia e equilibrada, elas são necessárias e
excelentes para a sociedade.
É óbvio que um livro desses, que emprega uma linguagem acessível e apresenta textos
científicos que raramente chegariam ao conhecimento do homem comum, acaba
naturalmente por se tornar uma obra de apoio aos conservadores que combatem ‒ aí
sim ‒, no campo do debate público, as histerias progressistas de gênero. Mas não é seu
intuito declarado.
O próprio The New York Times classificou o livro como “um guia lúcido” sobre as
diferenças cerebrais entre os sexos.
O livro, dessa forma, tem um tom ponderado, escrito sobre uma estrutura científica e
acadêmica robusta que fez até mesmo progressistas sinceros se renderem às suas
conclusões. E, mesmo quando criticado por Mark Liberman, linguista americano formado
na mesma Universidade da Pensilvânia, pelas afirmações sobre as diferenças de
audição e visão, além das conexões cerebrais geradas por emoções em ambos os
sexos, Sax respondeu prontamente e, na segunda edição americana de Por que gênero
importa?, de 2017, reconhecendo que suas afirmações na 1ª edição de 2005 estavam
desatualizadas e imprecisas, reestruturou suas referências e, com acréscimos de dois
apêndices intitulados Diferenças de sexo na audição e Diferenças de sexo na visão,
respondeu a cada crítica de Libermam.
É difícil se tornar alheio à exposição de Sax ao finalizar a leitura, e, talvez, por isso,
tenha sido elogiado até mesmo por progressistas menos radicais. O próprio The New
York Times classificou o livro como “um guia lúcido” sobre as diferenças cerebrais entre
os sexos. A obra parece se justificar, assim, não como uma espada de combate, mas
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como um pressuposto para o conhecimento psicológico dos sexos, dando ao homem e à
mulher comuns um entendimento seguro e estruturado das diferenças inatas de cada
sexo, auxiliando assim os indivíduos no trato comum do dia a dia, na pedagogia familiar
e nos relacionamentos conjugais. Saber que somos estruturalmente diferentes pode nos
ajudar a compreender melhor cada ponto de vista, tomada de ação e reações
sentimentais de nossos parceiros e amigos.
Não tenho a ilusão de que o autor não tenha lá seus motivos políticos e convicções
ideológicas por de trás da obra, entretanto, fato é que não foi a sensação que ele deixou
ao encerrá-la. O livro é isento de rancores militantes e de cutucadas políticas ‒ ainda que
o faça indiretamente sempre que desmonta uma narrativa identitarista simplista e
confusa. Retirando, assim, de forma vigorosa, ainda que educada, o véu ideológico e
perturbado colocado por militantes progressistas durante anos sobre a temática de
gênero, Sax fez um dos favores mais urgentes ao debate contemporâneo: mostrou que o
fato ainda é fato, que a percepção da realidade ainda goza de fundamentos científicos,
pois ainda há ciência que se importa com a verdade para além da ideologia.
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