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Beer, P. & Ambra, P. (2021).

Perguntas que importam: o gênero e as fronteiras teóricas


da psicanálise. Recherches en psychanalyse, 32, 105-
125. https://doi.org/10.3917/rep2.032.0105

PERGUNTAS QUE IMPORTAM:


O GÊNERO E AS FRONTEIRAS TEÓRICAS DA PSICANÁLISE

Paulo Beer
Pedro Ambra

Resumo: Este artigo discute a introdução, aceitação e recusa de teorias de gênero na


psicanálise. A linha central de argumentação consiste em abordar a articulação entre
psicanálise e estudos de gênero de uma perspectiva ampla, mobilizando debates
específicos para investigar a maneira como essas questões são tratadas na teoria
psicanalítica. O problema inicial vem do reconhecimento de que debates psicanalíticos
sobre questões de gênero usualmente são desenvolvidos de maneira incipiente, se
concentrando em abordagens limitadas e, muitas vezes, caricaturais. Desse modo, a
seguinte questão serviu como guia: psicanalistas tomam questões ligadas a gênero em
todo seu potencial disruptivo ou a comunidade psicanalítica tem assumido posições
defensivas com o intuito de evitar um debate difícil? Esse tipo de questionamento leva a
uma reflexão que vai além do conteúdo de avanços teóricos realizados nas últimas
décadas, nos permitindo considerar a função que tais debates exercem na comunidade
psicanalítica. Isso significa que analisar o modo como essas discussões são propostas e
realizadas pode indicar sinais da tendência de abertura ou recusa da psicanálise em relação
a tais questões. Compreender as razões para esse posicionamento limitado frente um tema
tão crucial é uma tarefa essencial para psicanalistas comprometidos com a construção de
uma práxis psicanalítica que seja presente na cultura e implicada politicamente.

Introdução
Paul B. Preciado iniciou seu discurso no encontro de 2019 da Associação Mundial
de Psicanálise apontando a ausência, na própria reunião, de analistas que não se
identificam num sistema binário de nomeação sexual. Era o início de uma apresentação
focada em criticar a reprodução da violência pela psicanálise contra quem não
compartilha dos mesmos padrões e valores sociais em relação à identificação de gênero.
Em poucas palavras, Preciado afirmou que embora a teoria psicanalítica seja
frequentemente considerada inovadora e sua prática libertadora, sua discursividade
parece reproduzir padrões sociais antigos e conservadores, baseados na segregação do
dissidente.
O argumento de Preciado não se concentra em enunciados específicos sobre
libertação sexual, nem na possibilidade de identificações diferentes dentro da grade
teórica psicanalítica. Por outro lado, destaca que as bases que sustentam essa grade estão
tão profundamente arraigadas em ideias conservadoras que uma normatividade
tradicionalista tende a ser reproduzida, a menos que haja uma tentativa decidida e aguda
de superá-la. Algo semelhante ao que se verifica em relação a aceitação social de
mudanças de questões profundamente enraizadas de gênero: algumas limitações são tão
intrínsecas e solidárias a um certo modo de regulação social que discursos libertadores
superficiais facilmente acabam reproduzindo aquilo que supostamente estavam
criticando.
Em relação à psicanálise, pode-se imaginar que, mesmo que fosse possível
sustentar que há características revolucionárias em sua teoria e que alguns praticantes
realmente ofereceriam cuidados clínicos libertadores, sua inscrição cultural ainda
apresentaria um discurso conservador em relação às teorias de gênero. Esse caráter
conservador é encontrado para além de ideias pontuais que possam ser superficialmente
progressistas ou libertadoras, visto que os pressupostos que fundamentam sua teoria do
sujeito, junto com suas reivindicações estruturais de universalidade ou mesmo sua
linguagem carregam a já mencionada segregação da dissidência. Como diz o Preciado:

Eu, enquanto corpo trans, enquanto corpo não binário — a


quem nem a medicina, nem o Direito, nem a psicanálise,
nem a psiquiatria reconhecem o direito de falar, nem a
possibilidade de produzir um discurso uniforme de
conhecimento sobre mim mesmo —; eu aprendi, como
Pedro Vermelho, a linguagem do patriarcado colonial: a
língua de vocês. Eu estou aqui para me dirigir a vocês.
(Preciado, 2019)
Esse trecho é particularmente interessante por expor o conflito entre uma forma
de existência divergente (a não binaridade sexual, no caso) e o quadro epistemológico
estabelecido, que determina as normas de produção do conhecimento. Essas normas
incluem determinações sobre quem tem ou não o direito de falar e produzir conhecimento,
assim como a linguagem aceita — a qual deve ser empregada para que se tenha
legitimidade epistemológica. No entanto, essa consideração só é possível a partir de uma
abordagem epistemológica particular.
Nesse sentido, o caminho escolhido para avançar essa discussão passa por autores
contemporâneos da filosofia da ciência. No entanto, esses autores não serão utilizados
para lidar com a perene questão da cientificidade da psicanálise ou qualquer coisa
semelhante; o foco principal é, de fato, discutir a relação entre os fundamentos
epistemológicos de um campo e como suas teorias são empregadas. Mais
especificamente, a filosofia da ciência contemporânea oferece duas contribuições
interessantes: em primeiro lugar, fornecer instrumentos para a compreensão de que
existem diferentes formas de se fazer um debate, assim como as consequências
produzidas a partir de tal posicionamento; em segundo lugar, disponibilizar uma
possibilidade de avanço nas articulações entre a psicanálise e as teorias de gênero, por
meio do embasamento desse debate em uma perspectiva epistemológica mais aberta —
ou menos normativa —, que dê mais espaço a questões políticas dentro de suas bases
epistemológicas.
A primeira contempla ideias de Ian Hacking, enquanto a segunda apresenta
desenvolvimentos de Isabelle Stengers. Ambas serão articuladas com as discussões da
teoria psicanalítica e dos estudos de gênero, produzindo o seguinte arranjo: após uma
breve introdução ao debate entre a psicanálise e os estudos de gênero, serão apresentadas
as observações de Hacking sobre a dimensão contingente presente em teorias científicas
bem-sucedidas; isso nos permitirá abordar algumas respostas psicanalíticas comuns a
questões de gênero de outro ponto de vista, na seção seguinte. Para concluir o artigo, as
proposições de Stengers serão empregadas para apontar os ganhos que a teoria e a prática
psicanalíticas teriam ao empregar uma base epistemológica mais informada pela política.
Essa abordagem metodológica consiste, de fato, numa maneira de tratar questões
epistemológicas considerando seus limites para definir o que é conhecimento verdadeiro
e o que não é. É o que autores como Ian Hacking ou Isabelle Stengers chamariam de
fundamento epistemológico não normativo para a filosofia da ciência, visto que qualquer
produção teórica resulta de elementos que não podem ser reduzidos a uma dimensão
epistemológica pura. Além disso, o trabalho de Hacking também nos permite pensar sobre
o que ele chama de “efeitos ontológicos” do conhecimento, considerando que os discursos
produzidos sobre os indivíduos impactam suas possibilidades de existência. Nesse
sentido, a forma como determinada questão é tratada por um campo teórico e clínico pode
produzir violência e segregação, conforme afirma Preciado. Vejamos isso em detalhes.

O sucesso de uma teoria


Ian Hacking é um filósofo da ciência que discutiu sobre a questão da necessidade
ou da contingência do conhecimento científico a partir de uma posição intermediária.
Procurou, assim, pensar a contingência ao mesmo tempo que sempre defendia o valor da
produção científica, o que pode ser visto principalmente em seus trabalhos sobre
construcionismo social (1999, 2000).
Esse tipo de questão é mobilizado desde o início de seu “projeto dos estilos”
(1982), e se mostrou ainda mais importante quase duas décadas depois, quando se engajou
no debate sobre construcionismo social de forma explícita. Em seu livro The Social
Construction of What? [A construção social de quê?] (Hacking, 1999), a contingência é
discutida de duas maneiras diferentes, que podem ser compreendidas como uma posição
internalista e outra externalista.
Na primeira, Hacking retoma uma velha indagação sobre a necessidade
epistemológica do desenvolvimento de uma teoria. A questão central nessa discussão diz
respeito à possibilidade de uma teoria se desenvolver espontaneamente em diferentes
direções, uma vez que seus potenciais teóricos seriam variados. Nesse sentido, haveria
uma dimensão contingente presente no fato de que essa mesma teoria teria se
desenvolvido de uma forma e não de outra, já que esse direcionamento não era necessário.
Hacking afirma que mesmo pensando que uma teoria pode levar a resultados diferentes
(considerando apenas seu próprio desenvolvimento autônomo), o alcance dessas
possíveis diferenças seria relativamente pequeno. Em outras palavras, o filósofo não
pensa que teorias específicas poderiam produzir, espontaneamente, resultados muito
diferentes.
Por outro lado, pode-se pensar a contingência enquanto ligada a elementos
externos. Sua forma mais imediata coloca a questão sobre o que faria algumas teorias ou
ideias estarem em vigor e serem legítimas dentro de uma determinada comunidade. Nesse
sentido, Hacking está lidando com questões como a pertinência de uma teoria, ou mesmo
sua estabilidade. O autor sempre explicitou seu ceticismo em afirmar que a estabilidade
de uma teoria se restringe a fatores internos como coerência ou elegância; pelo menos
desde 1982, quando a influência de Alistair Crombie ganha relevância em seu trabalho, o
canadense é direto ao afirmar que a empregabilidade cultural de uma teoria é um fator
chave para sua sobrevivência (Hacking, 1982; 2012). Desse modo, uma abordagem
puramente epistemológica estaria longe de ser suficiente para explicar a legitimidade de
uma teoria ou mesmo de ideias, uma vez que um referencial teórico estaria sempre inscrito
em um estilo de raciocínio; e qualquer estilo de raciocínio necessariamente carece de uma
referência externa para determinar seu valor. Portanto, além de afirmar o caráter circular
de um estilo de raciocínio (1982), o filósofo também afirma que a estabilidade de uma
teoria abarca fatores externos e não epistemológicos (1999). Retomando o problema da
necessidade, significa que o caráter epistemológico necessário de uma teoria (que, como
mencionado antes, não é total, embora seja relevante) é inseparável de elementos sociais
e históricos contingentes.
No entanto, o filósofo vai além. Em seu artigo “How inevitable are the results of
successful science?” [Quão inevitáveis são os resultados de uma ciência bem-sucedida?]
(Hacking, 2000), a querela recai sobre o questionamento de se um resultado científico
rigoroso e sólido seria necessariamente encontrado, ou se outro procedimento "correto"
poderia levar a resultados diferentes. Sua resposta afirma que diversos procedimentos
podem ser considerados "corretos", portanto, resultados diferentes sobre a mesma
investigação podem ser considerados bem-sucedidos. Isso significa que se pode pensar
num caráter necessário de processos científicos, o qual seria encontrado em
procedimentos particulares. Nesse sentido, uma vez definidos os critérios
epistemológicos e metodológicos (incluindo parâmetros de veracidade, arcabouço
epistemológico, construção de objetos etc.), a gama de resultados de sucesso possíveis
seria muito limitada. Entretanto, a contingência seria encontrada naqueles aspectos
fundamentais para qualquer investigação, como a linguagem ou mesmo o interesse que
uma comunidade tem em fazer perguntas de um tipo ou de outro. Neste ponto, uma
proximidade com a crítica de Preciado pode ser apontada.
Referindo-se à afirmação de Evelyn Fox-Keller de que uma linguagem menos
belicosa provavelmente produziria uma biologia diferente da disciplina que todos
conhecemos hoje (Fox-Keller, 1985), Hacking concorda que existem diversos elementos
culturais que definem o espectro de possibilidades e os interesses de pesquisa. Fazer um
certo tipo de pergunta pode ser significativo em uma comunidade e absolutamente
irrelevante em outra, enquanto a própria possibilidade de formular uma pergunta de uma
maneira é restrita aos limites da linguagem e do pensamento. Línguas diferentes, culturas
diferentes e estilos de pensamento diferentes podem produzir questões diferentes e, além
disso, fazer essas questões serem relevantes ou não. Como diz o Hacking, há questões
que estão vivas, outras que não estão.
O elemento crucial a ser levado dos desenvolvimentos de Hacking para o nosso
debate é evitar pensar em uma teoria como um corpo isolado. Existem teorias e perguntas
vivas, isto é, ideias pertinentes e outras que não o são e, portanto, caem no ostracismo.
Em outras palavras, existem questões e teorias que importam, e questões e teorias que,
por qualquer motivo, não importam. Uma dimensão importante da pertinência de uma
teoria é para que ela pode ser usada, como pode ser entendida e, finalmente, quais efeitos
ela produz. Isso traz à tona que cada ideia dentro de uma teoria pode ser entendida de
maneiras diferentes, e que ideias diferentes terão papéis distintos dentro de um corpo
teórico. Uma parte disso pode ser considerada necessária do ponto de vista da coerência,
mas há uma parte que é contingente. Isso não significa que algo será esquecido
instantaneamente, porém algumas ideias podem ser tratadas de uma certa maneira para
serem silenciadas, para serem deslegitimadas.
Pode-se tomar, como exemplo, as possibilidades atuais de abordagem da teoria da
sexualidade de Freud, presentes em seus “Três ensaios sobre a sexualidade infantil”
(Freud, 1905). É possível afirmar que nele há ideias mais conservadoras ou mais
libertadoras (Van Haute e Geyskens, 2012). Alguns autores focam nas primeiras, outros
nas últimas. Isso depende de vários elementos, incluindo o debate específico em que estão
sendo empregadas, o referencial teórico a partir do qual são apreendidas e as motivações
dessa mobilização. Há mesmo autores que rejeitam totalmente essas ideias, pelos mais
diversos motivos e sob diferentes pontos de vista. O mesmo pode ser aplicado às
articulações entre a psicanálise e os estudos de gênero: há trocas complexas e frutíferas ,
e outras que são impactadas por posicionamentos limitados, que impedem debates
interessantes. Nos focaremos no último caso.

Psicanálise e gênero
Voltando ao discurso de Preciado e à questão do gênero na psicanálise, é
imperativo considerar não apenas o que o cânone teórico revela, mas também como é
assimilado e quais os efeitos que produz. Isso pode ajudar a avançar o debate, uma vez
que essa abordagem mais ampla reúne os efeitos discursivos de uma teoria e pode superar
posições excessivamente internalistas, que usam malabarismos teóricos como um escudo
para esconder suas posições. Pode-se notar que a psicanálise historicamente buscou
articulações com diferentes campos como forma de aprimoramento, uma vez que uma
postura externalista leva a debates mais francos. Ignorando este ponto, no entanto, muitos
psicanalistas responderam rapidamente à crítica de Preciado tentando defender a
psicanálise por meio de "esclarecimentos" teóricos que corrigissem eventuais erros e
leituras errôneas do lado de Preciado e de outros pensadores de questões de gênero e
queer.1
Personalidades psicanalíticas francesas como Éric Laurent e Erik Porge, entre
outras, montaram apressadamente um escudo teórico baseado em conceitos lacanianos
tardios, que demonstrariam que a psicanálise não poderia segregar diferenças sexuais uma
vez que estas não fariam parte de sua teoria. Por exemplo, alguns autores argumentam
que o parlêtre [falasser] é unário e não binário, afirmação que se sustenta a partir do
enfoque na singularidade do sujeito e no fato de que a relação sexual não poderia ser
definida pelo sexo do sujeito (Zabala, 2019). Outros afirmam que a própria psicanálise é
tão construcionista quanto a posição de Preciado, embora ainda apontem à existência de
alguns “suplementos psicóticos que passam pela transexualização” (Maleval, 2019). Essa
linha crítica, portanto, subtende que a fala de Preciado, em seu todo, não faria sentido,
porque seria sustentada a partir de uma compreensão frágil da psicanálise lacaniana —
além de cometer outros pecados capitais como generalizar a psicanálise como se fosse
um corpo estável e homogêneo (Eidelsztein, 2019). O enxame de defensores expõe uma
rara unidade dentro da comunidade psicanalítica, o que coloca duas questões diretamente
ligadas aos objetivos deste artigo: 1) o que, afinal, está sendo defendido? 2) por que esse
tipo de crítica, aqui exemplificada pela fala de Preciado, mobiliza respostas tão
engajadas?
A resposta a ambas as questões orbita em torno da fratura entre a teoria
psicanalítica e a inscrição política dessa teoria, a qual parece ser uma questão muito
sensível e que exige respostas fortes sempre que é colocada. Isso será desenvolvido na
próxima seção, mas primeiro gostaríamos de oferecer alguns outros exemplos para
esclarecer essa posição.

1
Após o envio do presente artigo, o psicanalista Jacques-Alain Miller publicou uma relativamente tardia
resposta a Preciado, denominada "Dócil ao trans" (2021). No texto, o executor testamentário de Lacan
explicita de o problema aqui posto: uma resistência a qualquer tipo de debate, tomando as pontuações do
filósofo espanhol como meros ataques oriundos de uma suposta lógica do cancelamento. Valendo-se de
ironias, de uma bizarra comparação de sua vivência parisiense com a de pessoas trans, Miller se esquiva do
coração do debate, a saber, a relação entre epistemologia e política, que buscaremos desdobrar aqui.
O tipo de resposta teórica às ideias de Preciado apresentadas anteriormente,
sustentadas por uma perspectiva estabelecida em um momento tardio do ensino de Lacan,
é apenas um entre as respostas usuais dirigidas a questões originadas nas teorias de gênero
(Baitinger, 2019; Fajnwaks, 2015 e 2019; Quinet, 2018). De fato, é um tipo de resposta
mais consistente quando comparado a outros, mesmo que não leve em consideração a
divisão entre a teoria e seus efeitos. A importância dessa cisão é revelada, por exemplo,
no fato de que embora as chamadas 'fórmulas de sexuação' possam carregar uma crítica
antiessencialista e não binária, não se pode negligenciar os efeitos políticos e
epistemológicos de considerar o homem como 'todo' e a mulher (inexistente) como 'não-
toda'. Tampouco pode-se ignorar os efeitos discursivos de suposições como a
transexualidade é um sinthome (Chiland, 2008).
Para começar com uma das críticas habituais que os psicanalistas dirigem aos
estudos de gênero, deve-se ter atenção na afirmação de que a clínica psicanalítica deve se
apoiar exclusivamente em questões relacionadas ao contexto clínico. A noção lacaniana
de sujeito é um bom exemplo desse tipo de orientação, especialmente quando concebida
como uma construção conceitual restrita à aparição de uma cisão subjetiva sob
transferência. Nesse sentido, questões como “o sujeito tem gênero?” ou “a ideia de falo é
heterocêntrica?” seriam inevitavelmente impróprias, por ignorar que as construções
conceituais em psicanálise são restritas à experiência clínica (Goldenberg, 2017a).
Além disso, essa forma de pensar leva ao entendimento de que empregar gênero
como categoria conceitual promoveria uma “sociologização” da psicanálise (Lamas,
2013), ignorando, por exemplo na crítica de Fraser (1992), que o sujeito é simbolicamente
desenhado, para além de qualquer configuração histórica específica. O Complexo de
Édipo, o significante, o desejo, as identificações sexuais etc. são, nesse sentido, efeitos
lógicos da linguagem, que não poderiam nada ter a ver com realidades (ou reivindicações)
políticas específicas, visto que são estruturais.
No entanto, compreender a psicanálise a partir de uma ideia de pureza clínica de
seus conceitos só é possível por meio de uma leitura extremamente específica de obras
psicanalíticas, para não dizer da história da psicanálise. Além disso, ao negligenciar que
a presença da psicanálise na cultura e na política excede sua prática clínica (Frosh, 1987;
Checchia, 2015), tal posição também subtende que seria possível produzir teoria de forma
totalmente autônoma, independente da política ou de outros campos do conhecimento.
Isso também foi objeto de críticas no campo psicanalítico (Frosh, 1987; Checchia, 2015;
Beer & Franco, 2017), mas parece manter sua popularidade. Voltando às observações
anteriores sobre a teoria de Hacking, pode-se considerar que esta posição internalista que
sustenta uma ideia de pureza clínica da teoria psicanalítica consiste em um procedimento
que exclui todo um grupo de questões possíveis. Afinal, se afirmar que uma ideia não está
relacionada à experiência clínica pode funcionar como uma ferramenta de
reconhecimento ou deslegitimação (e se apenas um grupo selecionado tem o direito de
fazer essa diferenciação, ou seja, os próprios psicanalistas), há uma possibilidade clara de
descartar ideias por sua origem, desconsiderando sua real relevância.
Outra crítica frequente afirma que os defensores das teorias de gênero, além de
ignorarem que a identidade de gênero é apenas um semblante imaginário, cometeriam um
pecado maior: negar o “real da diferença sexual” e a inexistência da relação sexual. O
argumento refere-se ao fato de que o “Real” lacaniano - considerado como o encontro
impossível entre “o homem e uma mulher” (André, 1987) e a abertura na universalidade
fálica implícita na noção de gozo feminino suplementar - é concebido para além de
qualquer teoria de gênero. Pode-se encontrar exemplos dessa postura em vários
comentários lacanianos sobre a não consideração da teoria da sexuação do Seminário XX
por Judith Butler (Copjec, 1994; Žižek, 2002; Zupančič, 2012; Teixeira, 2016),
negligenciando, no entanto, que a própria Butler comentou e contestou esses mesmos
argumentos há mais de 20 anos (Butler, Laclau & Žižek, 2000). O reconhecimento da
fragilidade desse tipo de crítica leva, consequentemente, à conclusão de que se trata de
uma resposta defensiva e não de uma abertura ao debate.
Em terceiro lugar, deve-se considerar que o último argumento apresentado é
frequentemente associado à ideia de um “caso de linguesteria”. Não é difícil encontrar,
na comunidade acadêmica francesa, discursos que ainda tratam o gênero como uma “coisa
americana”. Isso geralmente é acompanhado por acusações da existência de uma tentativa
higienista de colonizar a linguagem comum do sexo ou de silenciar a diferença sexual. O
debate que seguiu o “Manifesto Francês Anti #MeToo”, assinado por várias mulheres,
incluindo a atriz Catherine Deneuve e a psicanalista Sarah Chiche (Le Monde, 2018),
expõe o tipo de argumento mobilizado para definir o que seria um feminismo puritano
(supostamente americano) e um feminismo sexual (supostamente francês). Nessa
montagem há, de um lado, a “ideologia de gênero” (Soares, 2017) — apresentando o risco
de uma “sociologização da psicanálise” —, o voluntarismo (Goldenberg, 2017b) e o
“feminismo histérico” (Cottet, 2018): eles todos (e alguns outros, é claro) supostamente
visam apagar a “diferença entre os sexos” e, em última instância, apagar a própria
sexualidade. Algo que, para quem denuncia, deve ser combatido. Do outro lado,
inspirando a orientação dos combatentes, pode-se encontrar a defesa de ideias como a
liberdade de “cantar” mulheres, a pulsão “ofensiva e selvagem por natureza” (Le Monde,
2018), a insistência não performativa de que o falo não é o pênis (Gallop, 2001) e “a”
diferença sexual (Copjec, 1994).
Essa diferença é erigida ao posto de “o” fundamento da teoria psicanalítica, uma
base fundamental, única e imutável. A reiteração dessa diferença produz uma
performance discursiva que, além de estabelecer uma verdade sobre o sexo, também tenta
resolver essa diferença de gênero no cerne da epistemologia da psicanálise. Uma das
principais expressões dessa operação reside no emprego da tão frequente máxima
(embora o próprio Lacan nunca a tenha dito ou escrito) “O real da diferença sexual”. A
evocação dessa expressão em contextos de debates de gênero realiza silenciosamente um
curioso achatamento dos três registros que Lacan tentou insistentemente destacar.
Quando o “real da diferença sexual” é evocado, implica-se uma indistinção entre 1) a
percepção imaginária das diferenças anatômicas; 2) a binaridade diferencial da
linguagem, como proposta por uma base estruturalista do simbólico; e 3) a diferença
irredutível entre os dois campos do gozo e a inexistência da relação sexual.
Essa amálgama está muitas vezes ligada à ideia de “a-historicidade do sujeito”,
que também é uma ideia que não deve ter suas consequências subestimadas. Essa ligação
começa com a crítica das teorias de gênero, tensionando a universalidade da "diferença
sexual" contra a contingência de qualquer expressão sexual. Já existe um problema aí,
uma vez que tomar as teorias de gênero enquanto posições ingênuas — que defenderiam
uma substancialização ontológica forte de todas as formas específicas de sexualidade e
identidade sexual — indica uma leitura equivocada. Ignora — para apontar apenas o erro
mais imediato e claro — o potencial desconstrucionista próprio à inclusão de novas
denominações no movimento LGBTQ, além da consciência e das críticas internas dos
limites de políticas identitárias. Afirmar uma contradição entre isso e a concepção
psicanalítica do sujeito também incorre em outra leitura equivocada (ou generalização
frágil), uma vez que a suposta a-historicidade do sujeito pode ser contestada por várias
passagens do próprio Lacan.
Por exemplo, quando afirma a necessária (e negativa) articulação entre a
emergência do sujeito da ciência moderna e o sujeito da psicanálise, em seu célebre “A
ciência e a verdade” (Lacan, 1966). Isso não deve ser tomado como uma relação de
igualdade, mas de oposição: o sujeito da psicanálise é o que resta do sujeito da ciência.
Entretanto, não deixa de ser uma afirmação da historicidade do sujeito. A ideia de um
sujeito de ciência vem da leitura de Koyré sobre a emergência da ciência moderna, e é
profundamente sustentada nos efeitos da filosofia cartesiana e da física galileica. Além
disso, a história é um dos conceitos mais importantes em “Função e Campo da Fala e da
Linguagem na Psicanálise”, e Lacan é literal ao afirmar que o anti-historicismo seria o
“oposto diametral da experiência psicanalítica” (1953/1998, p. 246). Mesmo em seu
ensino tardio, o psicanalista francês nunca diminuiu a importância da história como uma
articulação simbólica do Real pela écriture [escrita] (Ambra & Paulon, 2018, p. 415).
Considerando a fragilidade conceitual das críticas psicanalíticas habitualmente
dirigidas aos estudos de gênero, necessário questionar qual seria a função de realizar
debates potentes de forma tão superficial e reduzida.

Política e demarcação
Trazer de volta nossas referências de filosofia da ciência é uma maneira
interessante de avançar nessa questão. Porém, neste ponto, nos concentraremos na obra
de Isabelle Stengers, uma vez que oferece ideias poderosas para potencializar esse debate.
Sabe-se que Stengers tem sustentado uma posição crítica em relação à psicanálise, no que
ela entende como uma disputa política por trás de um debate teórico (Chertok & Stengers,
1990). Nessa abordagem crítica da rejeição da hipnose pela psicanálise, os autores
argumentam que há uma clara intenção de demarcação em jogo, muito mais do que
questões clínicas ou teóricas. A ideia de demarcação é igualmente útil para o nosso debate
atual e pode ser definida como uma delimitação arbitrária do que é e do que não é
considerado conhecimento legítimo. Nesse sentido, a separação entre conhecimento
científico e “ficções” é justamente o que Stengers considera uma das características-chave
da ciência moderna e contemporânea (1993/2000). No entanto, afirma ela, é um traço
problemático que deve ser abandonado, principalmente porque a diferenciação entre
conhecimento científico e ficção não é possível a partir de uma base puramente
epistemológica — como tem sido tradicionalmente afirmado por vários filósofos da
ciência.
Assim, a incapacidade da epistemologia em definir sozinha o que é e o que não é
um conhecimento de valor poder ser articulada com uma ideia já mencionada, e fácil de
encontrar no campo psicanalítico: mais do que algo crucial para sua clínica, a teoria
psicanalítica também instrumentaliza uma disputa por poder que a psicanálise
inevitavelmente estabelece com outras disciplinas (e também internamente, é claro), dado
que a articulação entre o trabalho clínico e a teoria é habitada por outras dimensões
igualmente importantes. Um exemplo é a insistência de Ernest Jones em dissuadir Freud
de falar sobre telepatia (Roustang, 1978/2017): algo inseparável de um cálculo político,
pois além dos avanços teóricos que Freud veria nisso, estar relacionado a ideias obscuras
como transmissão de pensamentos poderia dar uma imagem ruim à psicanálise. Stengers
e Chertok (1990) afirmam que existe uma indissociabilidade semelhante em relação ao
afastamento da hipnose, uma vez que a diferença e suposta superioridade da psicanálise
(quanto à hipnose) seria mais do que uma questão clínica e teórica, na medida em que tal
diferenciação também foi crucial para reforçar o lugar da psicanálise na cultura e na
comunidade científica.
Em relação às críticas apresentadas anteriormente aos estudos de gênero, pode-se
reconhecer que elas se desfazem quando confrontadas com uma leitura mais rigorosa da
própria teoria psicanalítica. Podem, portanto, ser compreendidas enquanto esforços
demarcacionistas que ignoram um conjunto de precisões da própria teoria que afirmam
defender. Por exemplo, é sabido que, ao contrário das leituras ortodoxas da diferença
sexual, o próprio Lacan propôs a inexistência da relação sexual como alternativa à
centralidade ontológica da diferença sexual compreendida em termos binários. Pode-se,
de fato, ler a teoria da sexuação como uma crítica das “Consequências psicológicas da
distinção anatômica entre os sexos” de Freud (1925). Lacan tentava sublinhar o fracasso
de qualquer tentativa de plenitude no encontro sexual, independentemente de sexo ou
gênero. É justamente por isso que zomba da importância dada pelos psicanalistas ao que
é, na verdade, uma “petite différence” [uma pequena diferença] (Lacan, 1971-1972/2012,
p. 13), noção relacionada ao narcisismo das pequenas diferenças — uma crítica presente
no ensaio social de Freud Psicologia de Grupo e a Análise do Euo (1921).
Em comparação, o discurso de Preciado é muito mais robusto teoricamente (como
foram algumas das respostas — curiosamente, as menos defensivas): de fato, a teoria
lacaniana apresenta muitos pontos compatíveis com os estudos de gênero; como afirma
Preciado, a psicanálise lacaniana “já é uma primeira resposta a essa crise da epistemologia
da diferença sexual. Penso ser possível dizer que Lacan tenta, como John Money,
desnaturalizar a diferença sexual” (Preciado, 2019). No entanto, isso não impede os
psicanalistas de torcerem e distorcerem sua teoria para evitar a própria discussão. Do
quadro teórico de Stengers, é possível considerar que esse tom belicoso se deve ao fato
de que a crítica de Preciado não é apenas teórica, mas também sobre a discursividade da
psicanálise: a implementação de sua teoria na prática clínica e nos domínios cultural e
político. Ou seja, pergunta como sua teoria é absorvida e empregada, os motivos por que
foi considerada interessante, e quais são seus efeitos.
Stengers afirma que reconhecer a impossibilidade de definir o que é e o que não é
um conhecimento valioso apenas a partir de parâmetros epistemológicos e metodológicos
é uma questão crucial e importante, uma vez que expõe o caráter contingente da ciência
(1993/2000). Isso foi desenvolvido anteriormente em nossa apresentação do trabalho de
Hacking, no entanto Stengers vai além de afirmar que essa contingência existe: ela a
localiza enquanto um problema crucial. O problema reside no fato de que a ciência se
apoiaria em uma demarcação muito clara entre o que é e o que não é científico, pois isso
seria uma posição de poder: a existência de uma garantia puramente epistemológica ou
metodológica capaz de definir o valor de uma ideia produziria um valor de verdade
intrínseco a essa ideia, e também ao procedimento capaz de reconhecê-la enquanto tal.
Portanto, negar a possibilidade de existência de tal garantia reintroduziria uma dimensão
muitas vezes negligenciada desse processo: a política. Para Stengers, a maneira como a
ciência moderna se estabeleceu e perpetuou, carregando a ideia de pureza do
conhecimento em relação às lutas políticas é um problema, uma vez que a própria
consideração de uma parte inevitável de seu procedimento é vista como um sinal de
fraqueza, algo a ser negado.
A recusa dessa dimensão eclipsa o fato de que a própria ciência deve ser vista
como uma ação política — dado que se trata de uma atividade essencialmente pública —
, e também de que a produção de conhecimento científico é indissociável do poder, já que
se apresenta como mais confiável e próxima da verdade do que outros tipos de
conhecimento. Se, como ela diz, a ciência apresenta uma diferenciação entre “ficções” e
“conhecimento” — obviamente considerando que a ciência produz conhecimento e não
ficções —, todas as tentativas de enunciar essa diferença em argumentos puramente
epistemológicos fracassaram. A própria razão para isso é que a ciência também produz
ficções. No entanto, admitir essa impossibilidade de demarcação levaria à perda de uma
pretensão de neutralidade, da ideia de que a dimensão de poder que prevalece no
procedimento científico não é apenas um fato natural ou um elemento imanente, mas algo
ativo desde o início e que influencia nas decisões que são tomadas.
Essa ideia também pode ser aplicada à psicanálise, já que sustentar um ideal
epistemológico sem espaço para lutas políticas pode ser muito sedutor: por um lado,
porque reforça a ideia de pureza clínica, na medida em que pressupõe um objetivo direto
e uma relação exclusiva entre clínica e teoria. Nesse sentido, nada mais precisaria ser
considerado além da ética da psicanálise e da formalização clínica, numa postura quase
bioniana de "sem desejo, sem memória". Por outro lado, daria à teoria psicanalítica o
poder de decidir os debates de forma neutra e coerente, isentando os psicanalistas de
qualquer preocupação com as lutas carnais que pudessem surgir em discussões delicadas.
A psicanálise seria, portanto, capaz de se comportar como uma "ciência pura",
independente de questões mundanas como a política. O carnal existiria apenas na clínica
e do lado do analisando: a teoria psicanalítica e os teóricos não precisariam se preocupar
com isso.
O último parágrafo pode ser visto como um desenvolvimento extremo, mas há
uma ligação coerente entre a fragilidade de algumas das críticas usuais que os
psicanalistas dirigem aos estudos de gênero e esse tipo de abordagem epistemológica.
Essa ligação é clara ao considerar que essas críticas frágeis desempenham um tipo de
pensamento que exclui a dimensão política intrínseca ao emprego de uma teoria. O
resultado é o bloqueio de um debate crucial, por meio da rejeição de ideias importantes
que colocam questões delicadas para a clínica e para a teoria psicanalítica. Seguramente,
essa posição produz um ganho de poder, tanto na defesa do protagonismo e da
exclusividade no trato das questões relacionadas à clínica psicanalítica, quanto no reforço
de uma abordagem supostamente neutra e desinteressada. Em outras palavras, apagar o
poder e a política da equação é uma forma de defender o poder estabelecido.
A questão central é, então, como promover debates potentes. Certamente não se
trata de aceitar automaticamente todas as críticas e teorias, o que levaria a um relativismo
improdutivo. Disciplinas específicas têm objetivos particulares e as diferenças entre elas
devem ser sustentadas. No entanto, isso não significa que ninguém possa ser questionado
"de fora". O cerne, portanto, é ampliar a discussão para além das próprias teorias, levando
em consideração as razões pelas quais algumas coisas importam e outras não. A dimensão
política se apresenta numa ideia que é (ou deveria ser) muito compreensível para os
psicanalistas: nada se realiza sem ser animado por uma luta de interesses e desejos. No
limite, a dimensão política relaciona-se com essa luta inevitável.
Stengers oferece uma explicação interessante sobre o valor da ciência, que é útil
para concluir esta discussão. Deixando para trás os ideais epistemológicos normativos e
prescritivos, talvez a força e o valor do procedimento científico possam ser creditados à
sua abertura à crítica. Como afirma a autora: “não se trata de eliminar o poder da ficção,
trata-se, porém de o pôr à prova, de sujeitar as razões que inventamos a um terceiro capaz
de as pôr em risco. Por outras palavras, trata-se de inventar as práticas que tornarão as
nossas opiniões vulneráveis a algo de irredutível a uma outra opinião.” (Stengers,
1993/2000, p. 154). Talvez uma referência epistemológica mais informada politicamente
possa ajudar a psicanálise a expandir sua abertura para outros campos e teorias, como
tentamos fazer neste artigo. Isso não significa que qualquer ideia tenha o mesmo valor,
nem que as especificidades dos objetos de uma disciplina não devam limitar seu quadro
teórico. No entanto, afirma que, para tornar os debates produtivos, é preciso levar a sério
seus debatedores, reconhecendo-os com rigor e mantendo uma abertura mínima às
críticas. Conseguir isso ajudaria os psicanalistas a perceber que existem outras teorias
vivas, e perguntas diferentes devem importar.

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