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AULA 2

A constituição da psicologia científica

Crítica à psicologia enquanto ciência: ciência ou ideologia pseudocientífica?

 Marco histórico: Laboratório de Wundt em Leipzig, 1879


 Aparente falta de unidade teórico-metodológica: inúmeras escolas

Crítica à psicologia enquanto ciência: ciência ou ideologia pseudocientífica? Justificativa:


juventude da ciência psicológica

 Homogeneidade definidora de sua natureza e de seu papel social: ideologicamente as


abordagens não são tão diferentes, tem uma unidade

A psicologia como ciência independente:

 Crítica a essa unidade (existente) ideológica da psicologia


 Dois autores como referência: Deleule (1972) e Sastre (1974)
 Duas tarefas são necessárias: distinguir ciência e ideologia e revisar a história da
psicologia

Historicamente a história da psicologia é contada de forma descritiva (datas, nomes). Maria


Patto propõe contar a história da psicologia situando o conhecimento: ‘’ir à sua raiz, definir
seus compromissos sociais e históricos, localizar a perspectiva, descobrir maneiras de pensar e
interpretar a vida social da classe que apresenta esse conhecimento como universal’’. Ou seja,
nessa perspectiva de situar, ela consegue visualizar a unicidade da psicologia.

 ‘Toda ciência é ideologicamente determinada’. Se ciência e ideologia se confundem, como


determinar qual conhecimento é científico?? Todo discurso que se pretende científico é
válido
 O discurso científico refere-se à realidade que soam alheias à vida cotidiana, produz
conhecimentos que rompem com a experiência e o senso comum, discorre sobre o ser.
Opõe-se à concepção de mundo dominante (exemplo Copérnico e o heliocentrismo em
oposição à concepção dominante, o geocentrismo)
 Ideologia (a princípio, depois negada): linguagens e discursos que representem o real e
que mantêm com seu objeto uma relação ilusória, inversora, antiética de
desconhecimento e uma relação perceptiva, reprodutora, tética, eficaz de
reconhecimento.
 Proximidade entre ideologia e o senso comum
 Reconhecimento: reconhecer o que do senso comum realmente é
correto
 Desconhecimento: mostrar outro aspecto do senso comum
 Nega esse conceito de ideologia, pois assim qualquer coisa poderia ser
determinada como ideológico
 Ideologia (Marilena Chauí, que foi definição usada por Patto) como ocultação do real e não
como conjunto de ideias. Ideologia como ideias que instrumentam a dominação, pois
ocultam os interesses em conflito, a divisão da sociedade em classes e o exercício de uma
classe sobre outra (o discurso de uma classe é transformada em discurso de uma
sociedade inteira)
 Ideologia pseudocientífica (Sastre): representações de mundo que articulam os interesses
dos setores hegemônicos e que são convertidas de discursos de uma classe a discursos de
uma sociedade inteira
 Isso não significa que a ciência seja neutra, mas sim ligada a algum interesse histórico

As ciências conquistam o status de ciência a partir da ruptura com discurso ideológico. Isso não
é verdade para a psicologia (a psicologia não surge como para iluminar o oculto), que não só
não rompe com o discurso ideológico, como também lhe respalda teórica e tecnicamente. A
psicologia surge como ideológica, mas Patto identifica um caminho a seguir.

A psicologia surge cimo ciência independente no século 19 numa sociedade europeia


capitalistas que quer aumentar a produtividade. Isso exige que se selecione, oriente, adapte,
racionalize indivíduos e recursos. Isso parece ter ocorrido principalmente em 2 áreas no início
da história da psicologia: a educação e o trabalho

Contexto histórico da psicologia

 Wundt: não há mudança do objeto da filosofia (continuidade do estudo de ‘’alma’’, com


dualismo corpo e alma), o que muda são os métodos de analisar isso (introspecção),
criando uma ciência objetiva, mas sem rompimento.
 Para liminar o dualismo, surge psicologia experimental (passível de observação e
mensuração): com Ribot e Sobone na França e Watson e Cattell nos EUA. Da mensuração
de sensação (Wundt), a psicologia passa à mensuração de faculdades mentais (inteligência
e personalidade) a partir dos famosos testes. É um rompimento, mas ainda há
continuidades, então não é um rompimento completo.
 Behavorismo: primeira grande concepção coerente da psicologia moderna e que apresenta
os conceitos chave dominantes na psicologia, de acordo com Deleule. Rompe com o objeto
tradicional da psicologia (alma), com novo dualismo: organismo e meio.

 As relações entre organismo e meio natural são transportadas para analisar a relação entre
homem e sociedade. Isso mascara a existência de classes, de ideologia, do poder e da
dimensão histórica dos fatos sociais. Ou seja, não rompe com a ideologia dominante, mas
segue ocultando a divisão da sociedade em classes e as relações de poder (interesses das
sociedades industriais capitalistas).
 Deleule identifica esse discurso ideológico em outras abordagens: cognitivista, psicodrama,
psicologia social funcionalista, teoria da personalidade etc.
 Deleule conclui: a psicologia moderna é um fenômeno social democrata (democracia como
ideologia da burguesia)

Psicologia Escolar

As primeiras funções desempenhadas pelos psicólogos junto aos sistemas de ensino valeram
dos recursos para medir habilidades e classificar crianças quanto à capacidade de aprender e
progredir pelos vários graus escolares, além da aplicação de testes e diagnósticos (que não
contribuíam para a melhora do aluno).

‘A psicologia nasce com a marca de uma demanda: a de promover conceitos e


instrumentos científicos de medida que garantam a adaptação dos indivíduos à nova
ordem social. Assim, há o processo de seleção e orientação no trabalho e escola’

 Galton: mensuração e aprimoramento da espécie humana através da seleção dos mais


capazes, ou seja, há passagem do conceito biológico de adaptação para o universo da
psicologia. Há também instrumentos de medida de inteligência e personalidade-
percursor dos testes psicológicos
 Binet: primeira escala métrica de inteligência infantil; avaliação de crianças quanto às
capacidades mentais; primeiro método da psicologia escolar (psicometria)
 Simon
 Cattell: se preocupava com as diferenças individuais, criando o termo teste mental
(mental tests), e usando-os em escolas para explicar a existência de bons e maus
alunos (normais e deficientes)
 Binnet e Terman: teste de QI (‘sonho da sociedade industrial capitalista’)

Todos esses autores criaram formas de explicar o insucesso escolar, profissional e social e
garantir, assim, a crença no mito da igualdade de oportunidades. Vale lembrar que, a autora
não está desconsiderando a existência de condições históricas, econômicas (‘famílias
desestruturadas’) ou deficiências, mas sim afirmando que a psicologia por muito tempo
justificou o ‘’fracasso’’ escolar nesses discursos. No seu texto ‘’a produção do fracasso
escolar’’, ela diz que não é o aluno que está fracassando, mas que o fracasso está sendo
produzido

A orientação eminentemente clínica – no sentido de diagnóstico e tratamento de distúrbios


que este campo geralmente assume- é uma dar formas que a atividade do psicólogo tem
tomado no ambiente escolar; além de uso de princípios da psicologia da aprendizagem,
desenvolvimento e motivação com a intenção de aumentar eficiência da escola, tanto em
critérios internos (rendimento dos alunos e número de aprovados, por exemplo), quanto em
critérios externos (adaptação do ex-aluno ao mercado de trabalho e sua produtividade). Essa
prática ainda é muito comum no Brasil.

Esses testes, enquanto critérios discriminatórios, baseiam-se em noções ideológicas

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