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15/02/2024, 12:35 Epistemologia e pesquisa em Psicologia Social

Epistemologia e pesquisa em Psicologia Social


Prof.ª Renata Casemiro Cavour

Descrição

A epistemologia da Psicologia Social, sua contextualização e os


métodos científicos, ao longo de sua história.

Propósito

Reconhecer a epistemologia da Psicologia Social, entendendo como a


contextualização histórica, filosófica e social influenciou sua teoria e
metodologia, ao longo dos anos, permite identificar fatores
fundamentais em intervenções e práticas do psicólogo tanto em grupos
e comunidades quanto em casos individuais.

Objetivos

Módulo 1

Epistemologia e contextualização da
Psicologia Social
Reconhecer a epistemologia da Psicologia Social.

Módulo 2

Pesquisa e métodos de investigação em


Psicologia Social

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Analisar o estilo de pesquisa em Psicologia Social.

Módulo 3

A Psicologia Social Psicológica e a


Sociológica
Distinguir as duas vertentes em Psicologia Social.

meeting_room
Introdução
Neste conteúdo você entrará no universo da Psicologia Social,
conhecendo a epistemologia deste assunto. Para isso,
contextualizar as influências da Sociologia, da Filosofia e os
acontecimentos históricos é de suma importância para entender
o desenrolar de todo o desenvolvimento da Psicologia Social.

Ao longo dos anos, o modelo experimental das ciências naturais


era considerado o estilo padrão de metodologia para que se
tivesse confiabilidade de ciência. Tanto a Psicologia como a
Psicologia Social tentaram se enquadrar nesse modelo positivista
para ganhar mais respaldo do meio científico.

Com o passar do tempo, esse modelo foi criticado por correntes


teóricas da Psicologia Social, especialmente por não levar em
consideração a ação do homem em seu grupo social, nem o
contexto socio-histórico. Por isso, na década de 1970, teve início
a crise da Psicologia Social, que trouxe uma mudança tanto
teórica quanto metodológica para a disciplina.

Vamos, então, conhecer um pouco sobre todo esse caminhar da


Psicologia Social para que, futuramente, você possa entender
melhor as diversas abordagens e os estudos envolvidos.

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1 - Epistemologia e contextualização da Psicologia Social


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a epistemologia da Psicologia Social.

Breve histórico da Psicologia Social


A Psicologia Social é uma disciplina relativamente nova, já que o
primeiro uso dessa expressão foi em 1908. Porém, muitos de seus
principais contribuidores fazem parte de outras disciplinas, como
Sociologia, Antropologia e Filosofia, uma vez que existia uma relativa
falta de clareza e consenso sobre o seu objeto de estudo. Entre os
principais nomes precursores, podemos citar:

Charles Darwin e a teoria da evolução (A Origem das Espécies,


1859), na qual descreve que o ser humano é o processo final de
um processo evolucionista de todas as espécies.
Herbert Spencer em 1870, inspirado pelas ideias de Darwin,
escreve os Princípios de Psicologia, no qual afirma que nações e
grupos étnicos deveriam ser classificados de acordo com seu grau
de desenvolvimento, poder, organização e capacidade de
adaptação.
A Psicologia dos Povos, de Wilhelm Wundt, no qual associa a
mente a um fenômeno histórico, um produto da cultura e da
linguagem de um povo, que deveria ser explicada de forma
coletiva, e não individual.
Em Representações Individuais e Representações Coletivas, de
Émile Durkheim, 1898, traz a ideia de que sentimentos privados se
tornam sociais quando ultrapassam a barreira do indivíduo e se
associam, dando origem à representação de uma sociedade.
As Leis da Imitação, de Gabriel Tarde, de 1890, que demonstra o
quanto a vida social tem como estrutura básica a imitação.
Gustav Le Bon, em 1895, publicou Psicologia das multidões, no
qual alega que, quando o indivíduo se junta à uma massa, perde
suas características pessoais e autonomia, e passa a ser regido
pelas características daquele grupo e do coletivo.

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Em 1908, William McDougall e Edward Ross lançaram seus livros Uma


introdução à Psicologia Social e Psicologia Social: uma resenha e um
livro-fonte, respectivamente, os quais marcaram a fundação da
disciplina. Cabe lembrar que os livros, apesar do título, falavam de
assuntos completamente diferentes. Enquanto McDougall, psicólogo
britânico influenciado pelas obras de Darwin, dissertou sobre o conceito
de instinto, enfatizando as características inatas, Edward Ross,
psicólogo norte-americano e influenciado pelas obras de Tarde e Le Bon,
definiu a Psicologia Social como o estudo que padronizava as formas de
pensamentos, valores, crenças e comportamentos, como, por exemplo,
a imitação, decorrentes das interações entre os seres daquele grupo.

McDougall (à esquerda) recebendo os psicólogos refugiados judeus-alemães Kurt Lewin (centro)


e William Stern (à direita) na Duke University, em meados da década de 1930.

Morton Prince, inicia em 1921, a publicação do Journal of Abnormal and


Social Psychology que passa a ser a principal fonte de publicação de
experimentos em Psicologia Social até 1965.

Somente em 1924, Floyd H. Allport publica o primeiro manual de


Psicologia Social, contendo experimentos relacionados a fenômenos
psicossociais que se contrapõem ao estudo da consciência coletiva e
considera a Psicologia Social como parte da Psicologia do indivíduo.
Assim, fica claro que a Psicologia Social deve ter como objeto de estudo
as influências do comportamento individual em outras pessoas e as
possíveis reações frente a essas ações.

Em 1927, inicia-se também os estudos de mensuração


das atitudes de Thurstone e seus colaboradores. Esses
estudos, aliados à sofisticação do método
experimental, darão um status científico à Psicologia
Social ao longo das décadas seguintes.

Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, há uma mudança de


concepção de behaviorismo para gestaltismo, trazendo propriedades
perceptivas e com os principais autores:

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(Kurt Lewin, 1890-1947)

Muzar Sheriff, que tinha o foco em estudar os fatores que


determinam a formação e a permanência das normas sociais.
Kurt Lewin, que direcionava seus estudos para pesquisas sobre
clima grupal e, diferentemente do colega behaviorista Allport,
acreditava que o grupo tem dinâmica própria.
Fritz Heider e suas duas linhas de pesquisa: teorias de atribuição e
teoria de consistência cognitiva.
Solomon Arch, que se opõe firmemente às ideias behavioristas e
aplica princípios gestálticos sobre a percepção e impressão de
pessoas e sua construção de um todo sobre elas.

No final dos anos 1950 e no decorrer das duas décadas seguintes,


houve uma mudança nos interesses de pesquisas, substituindo toda
linha de pensamento a respeito de mudanças de atitude e processos
grupais para teorias que tivessem sua base nos processos cognitivos.

A teoria mais marcante desse período é a Teoria da Dissonância


Cognitiva de Leon Festinger, que seria uma atitude contrária,
desconfortável e conflituosa à crença inicial, levando a mudá-la e
alcançar novamente a congruência.

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Leon Festinger (1919 – 1989)

Epistemologia em Psicologia Social


Epistemologia tem sua origem nos termos gregos episteme, que
significa conhecimento, e logos que significa estudo. Ou seja, estamos
nos referindo ao estudo do conhecimento ou até mesmo, da teoria da
ciência, como é mais conhecida.

Mas o que isso significa, na prática?

Resposta

Epistemologia é um conjunto de conhecimentos sobre a origem, a


natureza, os métodos e os resultados do conhecimento científico, dentro
de seus aspectos práticos e teóricos.

O valor da epistemologia se observa quando percebemos a importância


da cronologia não somente como uma simples passagem de tempo,
mas como uma forma de compreensão das novas perspectivas na
discussão do conhecimento, prevista por novos paradigmas ou
modelos, gerados ou geradores de novos tempos sociais e humanos.

A Psicologia Social, segundo Farr (2008), foi


fortemente influenciada pelo contexto em que se
formou como ciência, surgindo como disciplina
independente nos Estados Unidos e com raízes na
Europa.

As bases europeias estavam principalmente relacionadas aos estudos


de Gabriel Tarde sobre a imitação, a Psicologia das Massas, de Gustave
Le Bon e principalmente os estudos de Wilhelm Wundt sobre a
Psicologia dos Povos.

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G. Tarde acreditava que os efeitos da sociedade sobre o comportamento


individual não são os resultados de processos psicológicos
independentes e situados fora dos indivíduos, mas sim decorrência das
influências recíprocas entre as consciências em um contexto de
interações espontâneas.

Le Bon tem como cerne de seus estudos o reconhecimento da massa


como uma associação psíquica independente de seus membros e,
portanto, quando os sujeitos se reúnem para formar uma aglomeração,
surgem processos psicológicos que não estão presentes nos indivíduos
isolados. Isso inclui, inclusive, os aspectos negativos dessa
aglomeração, como a capacidade de transformar qualquer ideia em atos
de barbárie. É como se estando em multidão, o sujeito perdesse sua
identidade e mostrasse somente um caráter compartilhado.

Já o fortalecimento real da Psicologia como disciplina científica,


independentemente das bases sociológicas e filosóficas, ocorreu em
meados do século XIX, na Alemanha, e estava muito vinculada ao
desenvolvimento das ciências naturais.

Nesse contexto, Wilhelm Wundt deu um passo significativo sobre os


pressupostos epistemológicos da Psicologia, indo a favor de uma
Psicologia científica que segue os esquemas das ciências naturais. Ele
caracterizou a Psicologia como a ciência da mente e reivindicou o uso
da experimentação como a forma válida de estudar os processos
mentais de maneira científica.

Atenção!

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Tempos depois, o próprio Wundt, percebendo as limitações da


Psicologia experimental para os processos mentais mais complexos,
resolveu dividir a Psicologia em duas áreas: a Psicologia experimental,
que teria o seu foco em processos mais básicos e a Völkerpsychologie,
centrada em processos mentais superiores para os quais a
compreensão individualista não seria adequada.

A Völkerpsychologie ou Psicologia dos povos tem como ideia central


que o desenvolvimento individual depende do contexto mental
(constituído por linguagem, costumes e crenças) no qual a pessoa está
inserida. Ou para melhor compreender, a Psicologia experimental estuda
o comportamento possível de ser observado e quantificado,
pertencendo às ciências naturais.

Já a Psicologia dos povos foca a origem da mente pela língua e cultura,


pertencentes às ciências humanas e sociais. Daqui observamos uma
dicotomia na identidade da Psicologia como ciência que permanece até
os dias de hoje. Em alguns contextos observamos um certo debate que
procura delimitar a Psicologia como uma ciência pertencente à área da
Saúde, por exemplo, ou à área das Ciências Humanas.

A origem da Psicologia norte-americana foi extremamente influenciada


pela Psicologia experimental de Wundt, mas sua duração foi curta,
devido às teorias evolucionistas e ao desenvolvimento do pragmatismo,
cuja figura mais marcante foi William James, com sua ideia de que a
Psicologia deveria ter como objeto a decomposição da consciência em
seus elementos constituintes.

Foi também na Alemanha que surgiu a Psicologia da


Gestalt, como uma alternativa à teoria experimental de
Wundt, devido às suas bases na fenomenologia, e
exerceu grande influência no desenvolvimento da
Psicologia Social.

Entretanto, a principal linha de influência no desenvolvimento da


Psicologia Social na etapa inicial foi resultado das teorias
evolucionistas. Grande parte do comportamento humano passou a ser
explicada, recorrendo a fatores como instinto ou herança genética,
apoderando-se da Psicologia Social do início do século até o
aparecimento do behaviorismo na Psicologia Social introduzido por
Floyd Allport.

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Psicologia Social no contexto da


Psicologia
O marco do surgimento da Psicologia Social como disciplina
independente e moderna foi a publicação de dois manuais:

Do sociólogo Edward A. Ross, com o Social Psychology: an outline


and a source book, que tinha suas bases nas ideias de Gabriel
Tarde e estuda os fenômenos de imitação, de sugestão e da
simpatia.
Do psicólogo Willian McDougall e o An introduction to social
psychology, que está dentro da tradição evolucionista da
Psicologia britânica e tem como base a análise das bases
instintivas do comportamento humano.

A proposta de McDougall foi bem acolhida pelo contexto da época, pois


coincidiu com o movimento da eugenia, que visava à melhoria da
espécie humana mediante a intervenção no processo de seleção.
Porém, logo as críticas a esse modelo começaram a aparecer, como, por
exemplo, a validação do termo “instinto” no âmbito da Psicologia, devido
à variedade de teorias e classificações dos instintos. E em 1924, virou
alvo principal de John Watson e dos behavioristas, entre eles, Floyd
Allport.

Floyd Allport e o behaviorismo na Psicologia Social


Nos Estados Unidos, surge um novo marco para a Psicologia Social.
Floyd Allport começa a introduzir o behaviorismo na Psicologia Social a
partir de seu livro Social Psychology, de 1924, definindo-a como uma
especialidade da Psicologia dedicada ao estudo do comportamento
social. Apesar de admitir e considerar a importância do conceito de
consciência, ele a reduz a um papel secundário no estudo do
comportamento.

Delimita o campo da Psicologia Social, relacionando o behaviorismo e o


individualismo, opondo-se à concepção da Psicologia Social que se
concentrava no estudo de grupos, justificando que o grupo não pode ser
considerado uma entidade psicológica independente. Allport acreditava
que o grupo era somente um aglomerado de indivíduos diferentes que
reagem uns diante dos outros ou de uma situação comum. E, com isso,
a Psicologia Social deveria ser entendida como a Psicologia individual,
levando a uma proposta metodológica objetiva e, assim, uma influência
decisiva para o rápido desenvolvimento da experimentação Em
Psicologia Social.

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O apogeu e a queda do positivismo


Durante as décadas de 1930 e 1940, o desenvolvimento tanto teórico
quanto metodológico da Psicologia Social foi muito influenciado pelo
positivismo lógico, que defendia que todo conhecimento, fosse ele
derivado das ciências naturais ou das ciências sociais, tinha que ter
como requisito a verificabilidade e deveria se submeter à aplicação
rigorosa do método hipotético-dedutivo da física.

Nesse período, também foi gerada a corrente do neobehaviorismo, cujas


contribuições mais representativas na Psicologia Social foram:

A teoria da frustração-agressão
Que dizia que o aparecimento de um comportamento agressivo sempre
significava a existência de frustração e a frustração sempre levava a
alguma forma de agressão.

A teoria da aprendizagem por imitação de


Miller e Dollard
Que afirmava que a aprendizagem acontece quando a imitação do
comportamento é reforçada.

Nos anos 1950 e 1960, os estudos estavam voltados para a percepção


social, a influência social e a consistência cognitiva. Um dos estudos
destacados nessa época é a teoria da dissonância cognitiva, de Leon
Festinger, que trata da situação em que a pessoa percebe a existência
de uma contradição entre dois elementos da cognição. A dissonância
tem um efeito psicológico negativo e, portanto, a pessoa tenderá a
eliminá-la para restabelecer a congruência.

A partir dos anos 1970, a queda do positivismo lógico acelerou a crise


do behaviorismo. O estudo dos processos cognitivos se tornou um dos
principais temas de interesse para a Psicologia Social. A pesquisa da
dissonância cognitiva perde espaço para as teorias da atribuição, e esse
fato foi um importante ponto de interseção entre a Psicologia Social e a
Psicologia cognitiva, que deu como frutos a consolidação da pesquisa
sobre cognição social.

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A Psicologia Social no contexto da


Sociologia
Como já falamos, dois manuais de Psicologia Social deram origem ao
termo em 1908. Concomitante ao livro de William McDougall, surgiu o
manual de Edward A. Ross como um exemplo do processo de
consolidação simultânea da Psicologia Social tanto na Psicologia como
na Sociologia.

Ross definia a Psicologia Social como uma especialidade da Sociologia,


que deveria ignorar as uniformidades no comportamento determinadas
por fatores biológicos e se concentrar somente nas uniformidades, com
explicações em causas sociais. Seus principais mecanismos
explicativos são a invenção, a sugestão e a imitação.

Entretanto, dos autores que tiveram seus textos publicados no início do


século XX, devemos destacar aqueles que tiveram formação na Escola
de Chicago, universidade fundada em 1890, e principal núcleo de
desenvolvimento das ciências sociais norte-americanas, nas primeiras
décadas do século XX.

Atenção!

A Escola de Chicago tinha como premissa fazer ciência para a resolução


dos problemas sociais, o que acabou criando o clima propício para o
desenvolvimento da pesquisa sociológica. A principal característica da
universidade foi a ausência de uma orientação predominante e a
diversidade tanto teórica quanto metodológica de suas pesquisas.

Do ponto de vista teórico, os sociólogos formados na instituição tiveram


grandes influências do pragmatismo de John Dewey e a
microssociologia de Georg Simmel. Porém, como destaque na influência
do desenvolvimento em Psicologia Social, temos William I. Thomas e
George Herbert Mead.

Thomas contribuiu de duas formas para a Psicologia Social: utilizando


uma metodologia com diversas fontes de dados e o caráter empírico do
conceito de atitude, central para a constituição e o desenvolvimento da
área.

George Mead foi o autor da Escola de Chicago que mais exerceu


influência em Psicologia Social. Crítico do individualismo, que era o
enfoque característico da Psicologia na época, propôs uma mudança
para que a experiência individual fosse tratada do ponto de vista da
sociedade.

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Portanto, a ideia era explicar a determinação social do comportamento,


afastando-se das concepções individualistas das teorias psicológicas,
colocando ênfase no social, mas sem deixar de destacar a participação
do indivíduo como agente ativo e não como passivo diante as
influências do meio.

Para isso, trouxe o conceito de interacionismo simbólico que visa à


compreensão do modo como os indivíduos interpretam os objetos e as
outras pessoas com as quais interagem e como tal processo de
interpretação conduz o comportamento individual em situações
específicas.

Durante as décadas de 1930 e 1940, a dificuldade em


realizar o estudo do comportamento social de forma
que este rejeitasse a intervenção da consciência ou
dos processos mentais superiores em suas ações
abriu o caminho para que a Psicologia Social fosse
influenciada pela Escola da Gestalt, que trouxe, como
seus mais importantes princípios, a teoria de campo e
os estudos experimentais sobre o comportamento
grupal de Kurt Lewin.

Na teoria do campo, Lewin dá importância aos fatores ambientais na


determinação do comportamento sem renunciar às variáveis de caráter
cognitivo, como o behaviorismo fazia. O grupo não se definia pela
proximidade ou semelhança que seus membros poderiam apresentar,
mas pelas relações de interdependência entre eles. Com relação aos
experimentos de Lewin, suas contribuições mais conhecidas são no
campo da dinâmica de grupos, destacando seus estudos sobre os
processos intragrupais. Além disso, o trabalho de Lewin alcançou
também o campo da metodologia, sendo fundamental para a Psicologia
Social como uma ciência experimental. Ele defendeu a adequação do
método experimental para os estudos dos pequenos grupos e destacou
a necessidade de desenvolver também técnicas de pesquisa que
permitissem realizar experimentos reais nos grupos sociais naturais
existentes, sendo, portanto, um dos primeiros a introduzir o experimento
de campo em Psicologia. Também teve uma contribuição importante à
Psicologia Social com o conceito de pesquisa-ação, situando a pesquisa
dentro do contexto do planejamento e da ação social.

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A Psicologia Social chega às décadas de 1950 e 1960 apresentando um


crescimento espetacular, consolidando-se como uma disciplina
diferenciada na Psicologia. A Psicologia Social europeia foi perdendo
espaço para a Psicologia Social norte-americana. Tanto os psicólogos
sociais neobehavioristas como os gestaltistas assumiram princípios
metodológicos da corrente da Psicologia à qual estavam vinculados,
dando mais ênfase à experimentação e ela se tornou o principal método
de pesquisa de Psicologia Social Psicológica.

Entretanto, mesmo que a Psicologia Social Psicológica tenha vivenciado


maior desenvolvimento, a Psicologia Social não se desligou totalmente
da Sociologia, que durante a década de 1960 teve tendência aos
estudos dos processos microssociológicos, que deram origem às
correntes teóricas psicossociológicas, como as teorias do intercâmbio
de George Homans, o desenvolvimento do interacionismo simbólico das
Universidades de Chicago e Iowa, a Sociologia fenomenológica de
Schutz, o enfoque dramatúrgico de Goffman e a etnometodologia de
Garfinkel. Essa abordagem deu origem à Psicologia Social Sociológica.

A crise da Psicologia Social


Após esse apogeu da Psicologia Social durante a década de 1960, os
anos 1970 apresentaram um cenário bem diferente. Iniciou-se uma
grande e importante crise que afetou as bases teóricas, metodológicas
e epistemológicas da disciplina.

A crise ocorreu devido a um reflexo das mudanças que


estavam acontecendo na época, no âmbito da Filosofia
da ciência, com a diminuição da influência do
positivismo lógico e a crise do behaviorismo.

Nessa época, como consequência da crise, surgiram outras propostas


teóricas e metodológicas, que ao se consolidarem, contribuíram para
mudar a fisionomia da Psicologia Social. Os psicólogos sociais
europeus passaram a reivindicar uma identidade própria e diferente da
Psicologia Social norte-americana, defendendo a realização de
pesquisas mais relevantes do ponto de vista social.

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Exemplo
A teoria da identidade de Henri Tajfel, as teorias das representações e
as minorias ativas de Serge Moscovici e os trabalhos sobre o
desenvolvimento cognitivo de Willem Doise e seus colaboradores da
Escola de Genebra foram exemplos dessa mudança de cenário.

Também surgiu, no mesmo momento, na América Latina, o


desenvolvimento da Psicologia Social, que procurava maior
compromisso com a realidade social dos países que a compõem, com
propostas mais voltadas ao trabalho com comunidades e com a
mudança social. Nessa área, merecem destaque os aportes da
Psicologia Social da liberação e da Psicologia Social comunitária, que
tem como seu maior contribuidor Ignacio Martín-Baró.

A obra de Baró foi orientada pelo seu compromisso com a mudança


social necessária devido aos problemas sociais existentes nos países
latino-americanos, tendo como temas: a aglomeração, o machismo, o
fatalismo, a saúde mental, a violência e a guerra. Portanto, sua
contribuição à Psicologia Social está voltada para a construção de uma
teoria crítica da realidade social, propondo inverter um processo de
raciocínio hipotético-dedutivo da epistemologia positivista para um
realismo crítico.

Baró propõe substituir a concepção universalista alheia à história e


totalmente individualista da Psicologia Social hegemônica por um
modelo mais contextual, histórico e mais sociológico, com um
compromisso com as classes mais marginalizadas, a partir de um viés
de uma Psicologia Social crítica e libertadora. Para ele, é fundamental
levarmos em consideração as condições socio-históricas, o que faz com
que o conhecimento da realidade não possa ser nem universal nem
atemporal.

A Psicologia Social comunitária, na América Latina, surgiu por causa da


necessidade de responder aos enormes problemas sociais que atingiam
a todos os países da região, buscando, assim, contribuir para melhorias
nas condições de vida dos grupos mais desfavorecidos.

A partir desse raciocínio, a Psicologia Social comunitária acredita que os


problemas que afetam os grupos sociais não têm sua origem nas
características pessoais de seus membros, mas na estrutura social em
que se situam, e o seu enfoque está em intervir psicossocialmente para
promover uma mudança na situação desses grupos.

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Pode-se verificar o desenvolvimento mais aprimorado da Psicologia


Social pós-moderna, na qual se agrupam diversas correntes articuladas
em torno de um relativismo epistemológico que questiona as bases da
Psicologia Social tradicional e propõe uma nova forma de entender a
disciplina. A Psicologia Social pós-moderna traz como suas principais
objeções:

A adoção de um enfoque relacional e não representacionalista da


linguagem.
A crítica a uma concepção naturalista e à Psicologia Social
experimental.
A ênfase na construção social do conhecimento científico.
A rejeição da crença em critérios universais de validação do
conhecimento.
A aceitação de que a ciência não é superior a outras formas de
conhecimento.

Por consequência desse movimento, o desenvolvimento das correntes


da Psicologia Social Sociológica, que antes era marginalizada pelo
positivismo lógico, passa a trazer novas ideias para o enriquecimento do
interacionismo simbólico.

video_library
A Psicologia Social pós-moderna
Neste vídeo, a especialista reflete sobre a crise da Psicologia Social,
destacando o relativismo epistemológico que questiona as bases da
Psicologia Social tradicional e propõe uma nova forma de entender a
Psicologia Social pós-moderna.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Martín-Baró alega que o papel do psicólogo na sociedade deve ser


extremamente ativo, como um agente de mudança. Assinale a
alternativa correta:

A Psicologia não tem uma especificidade como área


A
de conhecimento científico e prático.

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O trabalho do psicólogo deve buscar a alienação

B das pessoas e grupos, para que isso os ajude a


chegar a um saber crítico sobre si próprios e sobre a
realidade.

A conscientização constitui-se no horizonte


C
primordial do “que fazer” psicológico.

O psicólogo deve transformar sua prática


profissional, despojando-a de pressupostos teóricos
D
adaptacionistas e de suas formas de intervenção a
partir de posições de passividade.

O psicólogo deve ficar despreocupado com as


E consequências históricas concretas que sua
atividade esteja produzindo.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Estar consciente do que acontece com o ambiente histórico-social


é fundamental para saber fazer o psicológico.

Questão 2

Observe as afirmativas a seguir, inspiradas na Psicologia Social de


orientação positivista.

I. Propõe-se a descrever os processos observáveis dos encontros


sociais.
II. Seus objetivos estão voltados para a procura de formas
adequadas de ajustamento de comportamentos individuais ao
contexto social.
III. O social é entendido apenas como a relação entre pessoas, e
não como um conjunto de produções humanas que constroem a
realidade social e, ao mesmo tempo, o indivíduo.
IV. É uma Psicologia Social comprometida com a transformação
das condições de desigualdade e injustiça social.

Pode-se afirmar que

A apenas I e III estão corretas.

B apenas I, II e III estão corretas.

C
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apenas a I e a IV estão corretas.

D apenas a I está correta.

E apenas II, III e IV estão corretas.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A Psicologia Social Psicológica propõe que os encontros sociais


devem ser processos observáveis. Como foco principal se tem o
comportamento do indivíduo em meio social e o social é passivo
perante a ação do indivíduo.

2 - Pesquisa e métodos de investigação em Psicologia Social


Ao final deste módulo, você será capaz de analisar o estilo de pesquisa em Psicologia Social.

A pesquisa em Psicologia Social


Já está claro para você que a Psicologia Social estuda a relação do
indivíduo e seu meio social, ou seja, o sujeito sendo agente ativo em seu
meio e sofrendo os impactos que o meio pode causar em seus
comportamentos, cognições e emoções.

Para isso, a Psicologia Social tem uma gama enorme de assuntos a


serem estudados e analisados, utilizando diferentes tipos de
abordagens metodológicas, visto que o objeto de estudo pode orientar a
melhor metodologia a ser aplicada.

Mas nem sempre a história foi essa. Segundo Tittoni e Jacques (2013),
até o século XVIII, a definição do ser científico era tornar o
conhecimento o mais objetivo possível, trazendo a ideia de que o

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conhecimento científico detinha o poder de construir uma verdade sobre


a “vida real”. Essa concepção positivista da ciência se impôs no âmbito
das Ciências Sociais durante as primeiras décadas do século XX,
induzindo a ideia de que existia um método único científico, ao qual
todas as ciências deveriam se ajustar.

Essa concepção da ciência, presente nos momentos


iniciais da Psicologia, propôs que os processos
psicológicos fossem passíveis de experimentação,
objetivação e generalização e, assim, seriam
qualificados como científicos.

A Psicologia Social em seus primórdios teve como sua base a


Psicologia norte-americana, que tinha o seu forte na experimentação,
tanto na concepção do objeto quanto nas estratégias metodológicas
para abordagem dos processos sociais. O objetivo era entender de
forma lógica como os objetos estudados influenciam ou são
influenciados pelos comportamentos das pessoas.

Após esse período, teve início um tempo de crítica ao modelo de ciência


predominante na época, definindo a pesquisa como algo maior do que o
senso comum, um recurso que possui vários métodos de produzir
conhecimento e história de suas legitimações.

Na Europa do final dos anos 1960, começam a surgir as críticas mais


incisivas à Psicologia Social norte-americana, denunciando seu caráter
ideológico. Nos países da América Latina, que tinham sua base toda
inserida nos ensinamentos da Psicologia Social norte-americana, a
crítica estava associada à distância dos estudos à realidade social.

Mais especificamente após a década de 1970,


instaura-se a crise em Psicologia Social, dada
justamente pelo questionamento da hegemonia da
forma de conceber a ciência, tanto no objeto quanto
nos objetivos e estratégias metodológicas.

Um dos pressupostos de pesquisa era o de mostrar que não existia essa


neutralidade afirmada pelo experimentalismo e demonstrar o quanto o
sujeito é um agente ativo de conhecimento. Essa visão de mundo e de
homem como produto e produtor da história vai de encontro à ideia de
gerar um conhecimento neutro, que o outro não interfira na existência.

Pesquisador e pesquisado se
definem por relações sociais que
tanto podem ser reprodutoras como
podem ser transformadoras das
condições sociais onde ambos se

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inserem; dessa forma, conscientes


ou não, sempre a pesquisa implica
em intervenção, ação de um sobre
os outros.

(LANE, 1985, p. 18)

A Psicologia Social, portanto, passa a trazer também como objeto de


estudo, os cenários históricos, sociais, econômicos e culturais dos
sujeitos examinados.

Para simplificar o entendimento, podemos dividir em três principais


caminhos para entender o comportamento humano no contexto da
Psicologia Social:

1. Observar o comportamento em seu ambiente natural.


2. Criar situações artificiais e monitorar o comportamento diante de
tarefas definidas para essas situações.
3. Fazer questionamentos aos sujeitos sobre suas percepções, os
comportamentos, pensamentos e as experiências acerca de algo
de sua história pregressa, atual ou futura.

A Psicologia Social passa a ter a concepção de ciência que propõe


complexidade, pluralidade teórico-metodológica, a interseção de
diferentes áreas do conhecimento, a prática interdisciplinar e uma
preocupação ética com os laços sociais e políticos.

Algumas observações ao fazer a


pesquisa
De acordo com Günther (2011), podemos estudar os fenômenos sociais
a partir do referencial teórico e com métodos de diferentes áreas do
conhecimento.

A pesquisa começa com um palpite ou uma hipótese que o pesquisador


queira testar e, a partir dela, o pesquisador tem que coletar os dados
para submeter sua hipótese a teste. Quanto mais detalhada e específica
for a hipótese, maior a chance de ter sucesso nos resultados.

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Todos os passos de uma pesquisa precisam estar claramente expostos,


como, por exemplo, a descrição dos participantes para saber como
foram recrutados e quais são seus aspectos; a descrição bem definida
dos instrumentos utilizados e dos procedimentos para que outros
pesquisadores possam replicá-la.

A análise de dados deve ser clara e explícita. Caso a escolha seja por
métodos quantitativos, o detalhamento deve estar no procedimento
estatístico escolhido. Se a escolha for por procedimentos qualitativos, a
explicitação e a documentação de procedimentos analíticos são
indispensáveis.

A escolha de uma abordagem quantitativa ou qualitativa está muito


relacionada com o objeto da pesquisa e não necessariamente são
mutuamente excludentes.

Os procedimentos quantitativos tendem a ser mais dedutivos e


confirmatórios, partindo de uma teoria. Geralmente, utiliza-se
questionários com perguntas fechadas, e a escala Likert de avaliação.
Não se utiliza somente os métodos observacionais, mas sempre se
realiza a coleta de dados de maneira sistemática e de forma que seja
possível analisá-los estatisticamente, como modo de avaliar se esses
dados e os resultados são fidedignos ou foram encontrados ao acaso.

Já os métodos qualitativos tendem a ser mais intuitivos e exploratórios.


Tenta-se coletar dados a partir de observações, registros de
comportamentos e outros materiais como documentos, diários, filmes e
gravações. Seus questionários tendem a utilizar perguntas abertas com
um roteiro semiestruturado, permitindo que o sujeito investigado
também consiga conduzir o rumo da investigação e dar mais explicação
e/ou informação sobre o fenômeno estudado. A análise desses dados
costuma ser mais interpretativa, usando-se de técnicas de análise do
discurso e de análise do conteúdo.

Outro aspecto que pode chamar atenção em alguns tipos de pesquisa


são as variáveis. Podemos verificar dois tipos:

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Variável independente
Com a qual o pesquisador altera algum ponto da pesquisa para provocar
consequências em outra variável.

Variável dependente
Que é afetada diretamente pela variável independente.

Geralmente, a hipótese é baseada no fato de que a variável dependente


sofrerá influência da variável independente.

A análise de conteúdo e pesquisa-


ação
Vamos conhecer alguns métodos de investigação utilizados em
Psicologia Social.

Análise de conteúdo
As características da análise de conteúdo são:

Descrever e organizar o conteúdo de comunicações escritas ou


verbais, podendo ser utilizados materiais visuais (filme, vídeo,
desenhos), materiais impressos (jornais, revistas, livros) e
registros verbais (entrevistas e questionários).
Os sujeitos não são necessariamente as pessoas propriamente
ditas, mas sim o material que foi produzido por elas.
O procedimento consiste na análise do conteúdo dos artigos.

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O instrumento pode ser um programa que sistematize e analise o


material coletado.

Veja a seguir suas vantagens e desvantagens.

Suas vantagens são:

Avaliar grandes quantidades de dados, podendo utilizar


dados brutos recolhidos no momento do estudo.
Utiliza procedimentos mais robustos e bem
documentados, a partir dos quais o pesquisador
estabelece como selecionar, organizar em unidades e
categorizar os dados brutos de pesquisa.
Tem a oportunidade de desenvolver dados históricos,
tendo como fontes entrevistas já realizadas, alguns
experimentos, dados observados e levantamentos
passados que estão condicionados ao presente.
Permite uma nova compreensão histórica/cultural por
meio da análise de texto.

Suas desvantagens são:

Os problemas de codificação na análise de conteúdo


dificultam a generalização.
Dificuldade de fazer uma única conclusão sobre os
estudos, pois a mesma variável pode ser utilizada de
forma diferente por diferentes pesquisadores.
Esse tipo de estudo, geralmente, está sujeito a algum
nível de interpretação subjetiva e, com isso, a confiança e
a validade estabelecida em seus resultados pode ser
afetada.
A demora na codificação manual de grandes volumes de
texto.

Pesquisa-ação
As características da pesquisa-ação são:

Fundamenta-se no materialismo histórico, tendo a hermenêutica


dialética como sua principal ferramenta de análise.
O foco do pesquisador é de solucionar algo por meio de uma ação
ou um comportamento e, com isso, ele ser o seu objeto de estudo.
Tanto o pesquisador quanto o grupo pesquisado interagem de
modo participativo, desenvolvendo as ideias propostas no plano
de pesquisa. O que pode resultar em alguma transformação
comportamental do grupo envolvido e a possibilidade de solução
para o objeto de estudo em questão.
Diversos ajustes podem acontecer de forma progressiva dentro
dos planejamentos de pesquisa, caso necessário, para que seja

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fortalecido o problema da pesquisa com ação.


Essa metodologia também tem como objetivos potencialmente
alcançáveis coletar os dados sobre o problema avaliado,
desenvolver conhecimentos teóricos e comparar as teorias sobre
o tema, e, finalmente, descrever os processos vivenciados em
pesquisa e as suas variáveis, de modo a produzir resultados
práticos sobre os problemas pertinentes à pesquisa.
O ambiente da pesquisa é o local natural em que as práticas
acontecem.

Veja a seguir suas vantagens e desvantagens.

Suas vantagens são:

É focada em mudança.
Na pesquisa-ação, a metodologia de pesquisa deve ter
sempre um olhar com relação à prática, de modo que não
se deixe de avaliar o que mudou, por não dispor de um
bom instrumento de medição ou de dados necessários.
Os cenários onde acontecem esse tipo de metodologia
não são manipulados como ocorre com a tradicional
pesquisa científica experimental. Assim, a pesquisa-ação
está mais dentro dos moldes intervencionistas.
A pesquisa-ação traz como forma de problematização o
apontamento sobre a quem cabe o problema. Esse é um
olhar crítico da Psicologia Social.

Suas desvantagens são:

A relação dos experimentos com grupo de controle, que


geralmente não se beneficiam das práticas de melhoria
prevista na pesquisa e acabam sendo desvantajosos para
eles.
Muitas vezes, não acontece o real empenho dos
participantes em fazer algumas atividades e, até mesmo,
alguns sacrifícios pessoais, principalmente com relação a
tempo e esforço, para melhorar sua prática.
O fato de ser socialmente crítico nem sempre é bem
aceito na instituição em que a pesquisa é aplicada.

Experimentos, levantamento de
dados e estudos de campo
Vamos observar mais alguns métodos de investigação apontados por
Rodrigues, Assmar e Jablosnski (2005):

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Experimento
O experimento pode ser de campo e de laboratório. Vamos ver cada um
deles, bem como suas vantagens e desvantagens.

De campo expand_more

Acontece a observação do fenômeno e é permitida a


manipulação da variável independente, que o pesquisador teria
interesse em verificar seu efeito em uma situação natural.

As suas vantagens são:

Analisar o fenômeno em estudo tal como ele ocorre no


ambiente natural.
Permite o estudo mais detalhado do objeto de estudo.
Possibilita a descoberta da importância de variáveis que
poderiam estar sendo negligenciadas pelo pesquisador, e
justamente pelo experimento ocorrer no ambiente natural
do fenômeno, pode vir à tona a sua relevância.

As suas desvantagens são:

Dificuldade em obter cooperação.


O experimentador é limitado em testar as variáveis que
julga serem importantes devido às restrições inerentes ao
ambiente natural.
Apreensão quanto a uma possível avaliação que os sujeitos
da experiência possam exibir.

De laboratório expand_more

O pesquisador cria uma situação com as condições exatas que


pretende ter e na qual ele controla e manipula outras variáveis.
Permite o estabelecimento de relações causais entre variáveis.
Permite o controle de variáveis capazes de se associarem à
variável independente gerando a possibilidade de atribuições
errôneas. Cria o realismo experimental, ou seja, a situação é
realista para o sujeito da experiência e para que ele se sinta
envolvido e seja atingido o impacto desejado.

O pesquisador tem a possibilidade de controlar possíveis


diferenças iniciais dos participantes que são incluídos nos
diferentes grupos experimentais.

As suas vantagens são:

Possibilidade que oferece o controle de variáveis estranhas


e manipulações das variáveis de interesse do pesquisador.
A variável independente se apresenta de forma mais pura
possível, sem outras que são controladas pelo
pesquisador.

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Criação de uma ordem temporal das variáveis

As suas desvantagens são:

A artificialidade faz com que a variável independente perca


parte de suas forças, quando comparada com a situação
da vida real.

Levantamento de dados
Possui um número elevado de pessoas que simbolizam uma amostra do
universo pesquisado. Os dados são coletados por meio de
questionários no ato da pesquisa ou para serem enviados
posteriormente.

Passo a passo da pesquisa de levantamento:

1. Determinação dos objetos gerais


2. Determinação dos objetivos específicos e possível formulação de
hipóteses
3. Escolha da amostra
4. Criação de um instrumento para coletar os dados da pesquisa
5. Trabalho de campo (coleta de dados)
6. Codificação dos dados
7. Análise dos dados
8. Relatório final

Veja a seguir suas vantagens e desvantagens.

Vantagens expand_more

Suas vantagens são:

Obtenção de informações que jamais seriam obtidas por


outros métodos de pesquisa social.
Permite o estudo de grandes áreas.

Desvantagens expand_more

Suas desvantagens são:

São demoradas e dispendiosas.


Requerem cooperação das pessoas entrevistadas e
treinamento adequado de entrevistadores para não causar
distorções nos dados coletados.
Cuidado na construção de instrumentos de coleta de dados
e verificação da honestidade dos entrevistados.
Precaução especial na eliminação de possíveis
tendenciosidades dos entrevistadores e dos efeitos que
certas características podem desempenhar.

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Estudo de campo

Permite ao pesquisador um olhar aprofundado sobre o tema em


questão. O estudo é realizado em local predefinido, em que ocorre o
fenômeno psicossocial no qual acontece o objeto de estudo. O
pesquisador observa o fenômeno ou coleta os dados sobre o objeto de
estudo de uma forma mais esmiuçada, mas ele não pode intervir sobre
o que está acontecendo. Veja a seguir suas vantagens e desvantagens.

Vantagens expand_more

As suas vantagens são:

Ser conduzido no ambiente natural em que acontece o


fenômeno estudado.
Permite o estudo mais detalhado do objeto de estudo.
Possibilita a descoberta da importância de variáveis que
poderiam estar sendo negligenciadas pelo pesquisador, e
justamente pelo experimento ocorrer no ambiente natural
do fenômeno, pode vir à tona a sua relevância.

Desvantagens expand_more

As suas desvantagens são:

Dificuldade em obter a colaboração dos responsáveis pelos


locais em que o estudo de campo será conduzido.
Dificuldade em evitar explicações alternativas por não ter
controle da variável independente e de possíveis
influências de uma variável desconhecida que pode ser a
responsável pela composição do grupo estudado.

video_library
Metodologias de pesquisa na
Psicologia Social
Neste vídeo, a especialista compara diferentes metodologias de
pesquisa usadas na Psicologia Social, destacando as suas
características, vantagens e desvantagens.

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A ética
Princípios éticos dos psicólogos para a realização de pesquisas,
segundo a American Psychological Association (2010):

Os psicólogos devem buscar promover a exatidão, a honestidade e


a veracidade na ciência, no ensino e na prática da Psicologia.
Os psicólogos devem ter como prioridade o respeito à dignidade e
ao valor das pessoas, os direitos individuais da privacidade,
confidencialidade e autodeterminação.
Quando os psicólogos vão realizar uma pesquisa pessoalmente,
via transmissão eletrônica ou outras formas de comunicação,
devem obter o consentimento informado da pessoa.
Para obter o consentimento informado, os psicólogos devem
informar aos participantes a respeito da finalidade da pesquisa,
tempo de duração esperado e procedimentos; o direito de se
recusar a participar e de se retirar da pesquisa quando já iniciada;
as consequências previstas de se recusar ou se retirar; os fatores
razoavelmente previsíveis que podem influenciar a decisão de
participar ou não, como riscos potenciais, desconfortos ou efeitos
adversos; quaisquer benefícios potenciais da pesquisa; limites de
confidencialidade; incentivos para participar; e do contato para
perguntar a respeito da pesquisa e dos direitos dos participantes.
Os psicólogos são os principais responsáveis e devem tomar as
devidas precauções para proteger a informação confidencial
obtida ou guardada em qualquer tipo de mídia.
A técnica do engano se refere a induzir o participante ao erro sobre
a verdadeira finalidade do estudo ou do que está acontecendo. Os
psicólogos não podem realizar uma pesquisa que envolva o
engano, a menos que comprovem que a técnica do engano é
justificada pelo potencial significativo do estudo com relação à
ciência, educação ou valor agregado e que as alternativas efetivas
que não envolvam o engano não sejam viáveis.
Os psicólogos devem deixar claro aos participantes qualquer tipo
de dúvida sobre os enganos, que eles fazem parte do projeto e da
realização de um experimento, assim que possível.
Os psicólogos devem fornecer uma forma de acesso imediato
para que os participantes possam obter informações a respeito da
origem, dos resultados e das conclusões da pesquisa e para
poderem saber quais são os passos para corrigir quaisquer
equívocos ocorridos, dos quais os psicólogos tenham
conhecimento.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

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Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Qual é o método de pesquisa em Psicologia Social que permite a


indagação dos efeitos da variável independente sobre a
dependente, com maior garantia de controle de variáveis externas?

A Análise do conteúdo.

B Pesquisa-ação.

C Experimento de campo.

D Experimento de laboratório.

E Estudo de campo.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A Psicologia Social é uma disciplina que possui múltiplos métodos


de avaliação. A escolha do método tem a ver com o tipo de
pesquisa que gostaria de realizar, quais resultados gostaria de
levantar, qual a vertente que irá seguir. O experimento de laboratório
permite a investigação dos efeitos da VI sobre a VD, controlando a
interferência de ruídos que possam ser causados por variáveis
estranhas ao estudo.

Questão 2

A Psicologia Social possui uma multiplicidade de métodos de


pesquisa possíveis de serem aplicados em seus estudos. A partir
disso, assinale a alternativa correta:

Une-se com o pressuposto da neutralidade do


A conhecimento ou apoia um conhecimento que não
interfira na realidade do outro.

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A abordagem qualitativa é a única possibilidade. A


B pesquisa quantitativa não é um recurso aplicado em
Psicologia Social.

A pesquisa-ação, por sua objetividade, possibilita


C
conhecer os diferentes fenômenos psicossociais.

Um ponto característico da pesquisa-ação é o


envolvimento da população pesquisada nas
D
diferentes etapas do desenvolvimento da
investigação.

A pesquisa-ação é o único modelo de pesquisa


E
aceitável em Psicologia Social.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A característica mais marcante da pesquisa-ação é o envolvimento


das pessoas analisadas no estudo, bem como o resultado do
estudo pode influenciar e modificar diretamente o
ambiente/cotidiano dessas pessoas.

3 - A Psicologia Social Psicológica e a Sociológica


Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir as duas vertentes em Psicologia Social.

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Diferenciação da Psicologia Social no


contexto da Psicologia
Como vimos, nas primeiras décadas do século XX, os Estados Unidos
foram os protagonistas da ascensão do behaviorismo, foco principal da
Psicologia verdadeiramente científica e que deveria estudar e explicar
apenas o comportamento humano e dispensava a importância de
aspectos mentais, cognitivos e emocionais.

A partir desse olhar, os psicólogos sociais progressivamente


abandonam os instintos humanos como uma explicação dos
comportamentos sociais e utilizam a experimentação com foco no
indivíduo como metodologia e teoria para a Psicologia Social, adotando
um viés muito mais próximo de uma ciência natural do que de uma
ciência social.

Floyd Allport, considerado um dos mais famosos


psicólogos sociais behavioristas da época, não
apoiava o estudo da consciência coletiva pela
Psicologia Social, por não acreditar na força da mente
grupal, e valorizava que o foco deveria ser o indivíduo.

Com esse raciocínio, a Psicologia Social não fazia parte da Sociologia, e


sim da Psicologia, devendo, portanto, dedicar-se ao estudo das
influências do comportamento que uma pessoa causa em sua
sociedade e quais reações a sociedade teria em relação a tais
influências. Com isso, a obra de Allport define os limites do que seria
conhecido como Psicologia Social Psicológica, que tem um olhar de
uma disciplina objetiva e de base experimental.

Com a Segunda Guerra Mundial, muitos psicólogos sociais foram


procurados com intuito de ajudar na resolução dos problemas sociais
provocados pela guerra e esses estudos deram ênfase à Psicologia
Social Psicológica no período que vai da década de 1930 à década de
1950. Novas demandas foram geradas pelos problemas sociais
causados pela Segunda Guerra Mundial.

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Os trabalhos de Fritz Heider foram responsáveis pelas bases


conceituais de duas linhas de pesquisa que dominaram as décadas
subsequentes: os fundamentos das teorias de atribuição, em 1944 e
1958, e o princípio do equilíbrio cognitivo, em 1946, que seria a base
das teorias da consistência cognitiva, defendendo que as pessoas
mantêm emoções e cognições consistentes sobre um mesmo objeto ou
pessoa, obtendo uma situação de equilíbrio. Porém, quando esse
equilíbrio se desfaz, dá-se início a uma situação de tensão e à busca
para restabelecê-lo, a partir da mudança de algum dos elementos da
situação.

Em 1946, tivemos a atuação de Solomon Asch, que se colocava em


oposição aos psicólogos sociais que defendiam a bandeira do
behaviorismo, passando a dar ênfase aos princípios gestaltistas no
campo da percepção de pessoas, um marco que até hoje é uma das
principais áreas de estudo que abarca a Psicologia Social Psicológica.

De acordo com Asch, quando temos uma impressão


sobre uma pessoa ou objeto, criamos um todo
estruturado e organizado sobre ela, uma impressão
que difere do somatório de todas as partes de suas
características pessoais.

As duas décadas seguintes do pós-guerra foram cruciais para a


produção de pesquisas inovadoras e mais sofisticadas
metodologicamente, organizadas pelos psicólogos sociais psicológicos,
com bases solidamente estabelecidas, que redirecionaram o surgimento
de novas formas de pensar sobre pesquisa e teorização.

Um dos focos do período pós-guerra foi o interesse pela pesquisa


experimental sobre mudanças de atitudes, sendo o tema central da
vertente psicológica da Psicologia Social durante os anos de 1960 e
ocupando o maior espaço nos livros-texto da época. No final dos anos
de 1960 e 1970, houve uma decadência na produção de pesquisas com
essa temática, dando espaço para as teorias de base cognitiva.

Atenção!
A teoria da dissonância cognitiva de Festinger deu margem para o
desdobramento, nas décadas seguintes, de um volume considerável de
pesquisas experimentais destinadas a testar seus pressupostos. Apesar
de ter sido também alvo de críticas, ela foi a principal responsável pelo
desenvolvimento da Psicologia Social Psicológica nas décadas
seguintes (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2005).

Nos anos de 1970 e 1980, houve um redirecionamento dos interesses


para as teorias da atribuição. Essas teorias representam também o
desenvolvimento do cognitivismo, que tem como essência os processos
cognitivos sendo responsáveis pelo processamento da informação
social, e essa perspectiva se tornou dominante dos anos 1980 até os
dias atuais na Psicologia Social Psicológica.

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A crise em Psicologia Social


A Psicologia Social Psicológica tinha encontrado seu auge do período
pós-guerra até o final dos anos 1960, visto que diversas teorias e
experimentos foram realizados.

Porém, no início dos anos 1970, houve uma mudança no foco de


pesquisa, que deixa de lado toda a linha de raciocínio criada sobre
comunidade e estudo de grupo e a substitui pela investigação de
fenômenos e pelo olhar sobre processos de natureza cognitiva.

Dá-se início a um período mais sombrio na história conhecido com a


Crise da Psicologia Social, no qual se tem muitos questionamentos a
respeito das bases conceitual e metodológica da Psicologia Social
Psicológica predominante, que tinha como o objetivo central a pesquisa
pelas leis universais capazes de explicar o comportamento social,
desconsiderando o papel que as estruturas sociais e os sistemas
culturais exercem sobre o sujeito. Esses questionamentos se
direcionavam, principalmente, com relação à relevância social, já que
essa vertente utilizava uma linguagem neutra e distante dos problemas
sociais reais, além da falta de comprometimento ético e excessiva
fragmentação dos modelos teóricos.

Martín-Baró (1942 – 1989)

A América Latina também vivencia esse movimento de oposição à


Psicologia Social Psicológica ao final dos anos 1970, com o intuito de ir
em busca de uma Psicologia Social mais voltada aos problemas
políticos e sociais que estavam passando, como a arbitrariedade dos
regimes militares e a grande desigualdade social do continente.

Um destaque dessa fase na América Latina é Martín-Baró, que defendia


a teorização em Psicologia Social contextualizada na história da região,

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marcada por problemas e conflitos vivenciados pelo povo latino-


americano.

Diferenciação da Psicologia Social no


contexto da Sociologia
Como vimos, a Psicologia Social Sociológica teve como sua principal
vertente o interacionismo simbólico, com base nas obras de Charles
Cooley e George Mead. Este último, apesar de ter recebido várias
críticas, exerceu forte influência no desenvolvimento de duas diferentes
correntes teóricas: a Escola de Chicago e a Escola de Iowa. Veja mais
sobre elas a seguir.

Escola de Chicago expand_more

Na Escola de Chicago, Herbert Blumer resgatou a expressão


“interacionismo simbólico de Mead”, trazendo uma visão mais
sociológica da Psicologia Social, e tinha como pressupostos:

A interpretação pessoal do mundo, dando um significado


próprio.
O comportamento entendido como uma construção
criativa oriunda da interpretação da situação e das pessoas
que nela se encontram.
A compreensão da conduta humana como imprevisível,
porque os significados e as ações dependem de cada
situação, enquanto a interpretação das situações e a
construção do comportamento são processos que ocorrem
durante a interação social.

A Escola de Chicago deu valor a um ecletismo metodológico,


fazendo um mix de abordagens, tanto quantitativas como
qualitativas, para estudar com mais eficácia a realidade social de
Chicago e cientificamente tentar resolver os problemas sociais
da cidade nos anos de 1930 e 1940, como, por exemplo, o
aumento da imigração, da criminalidade e da violência.

Escola de Iowa expand_more

A Escola de Iowa destacou-se pelo interacionismo simbólico nos


anos 1960, que tinha Manford Kuhn como seu principal
representante. Apesar de defender o uso dos mesmos métodos
de pesquisa das ciências naturais, Kuhn pressupunha que a
estrutura social era um fator importante para definir o self e a
sociedade.

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Desse modo, as interações sociais eram limitadas a respeito dos


julgamentos que as pessoas faziam sobre si e sobre os outros,
bem como o significado das situações que viviam, e isso era
causado devido aos níveis de expectativas da sociedade geradas
com relação ao desempenho dos papéis sociais.

O interacionismo simbólico passou a ser norteador das


pesquisas e tinha como principal método a observação
participante em conjunto com o uso de entrevistas. Esse tipo de
orientação levou os psicólogos sociais, adeptos da corrente
sociológica, a dar prosseguimento às suas pesquisas com temas
como processos de socialização, interação face a face (diferente
dos experimentos laboratoriais), e a dar início a uma temática do
que seria a formação e o desenvolvimento da Psicologia Social,
com tópicos como identidade, comportamento desviante e
comportamento coletivo.

Outras vertentes teóricas foram desenvolvidas com o tempo, como a


escola dramatúrgica de Goffman (1985) e a teoria da identidade de
Stryker (1980), que deram importância em colocar em um patamar
diferenciado a Psicologia Social Sociológica que, por muito tempo, vivia
às sombras da Psicologia Social Psicológica, dominante no cenário
acadêmico da Psicologia.

video_library
A Psicologia Social Sociológica
Neste vídeo, a especialista reflete sobre as principais características e
objetivos da Psicologia Social Sociológica, destacando a importância do
interacionismo simbólico e metodologias de pesquisa derivadas.

A Crise da Psicologia Social no Brasil


A Psicologia Social no Brasil começou mais tardiamente. Os primeiros
indícios foram na década de 1930, com algumas publicações em
relação à análise de questões psicossociais. Mas foi em 1962 que a
Psicologia Social foi institucionalizada, após a criação do Parecer de
número 403/62 do Conselho Federal de Psicologia, que obrigava a
entrada da Psicologia Social no currículo mínimo para os cursos de
Psicologia.

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Até os anos 1970, o Brasil, assim como a maioria do mundo, sofria


grandes influências da Psicologia Social Psicológica de origem norte-
americana, que tem o brasileiro Aroldo Rodrigues como seu maior
representante e o livro Psicologia Social sua principal obra, com sua
primeira edição publicada em 1972. Rodrigues também estava à frente
do desenvolvimento da linha de pesquisa em Psicologia Social
Psicológica e dos diversos artigos sobre o assunto publicados na
época. O autor também se opunha às novas vertentes que estavam
surgindo na Psicologia Social brasileira dos anos 1970 e 1980,
demonstrando que essas correntes tinham intenções unicamente
políticas e não tinham preocupação com a teoria ou metodologia.

Em contrapartida a esse grupo que considerava a Psicologia Social


Psicológica como vertente única, em 1970 outro grupo de psicólogos
sociais estava mais voltado ativamente ao movimento de ruptura com o
modelo tradicional, que aconteceu na América Latina, principalmente
devido ao sistema autoritário político e à falta de contextualização da
realidade na visão dos tradicionalistas.

Atenção!
Dois nomes de psicólogos sociais brasileiros se destacaram nessa
mudança de mentalidade: Silvia Lane e Wanderley Codo, que lançaram o
livro Psicologia Social: o homem em movimento, em 1984. Essa obra foi
um marco para que outros manuais brasileiros fossem criados, em um
viés mais crítico. Nesse período, dois eventos foram importantes e
influenciaram bastante a Psicologia Social Sociológica: congressos da
Sociedade Interamericana de Psicologia e o I Encontro Brasileiro de
Psicologia Social, que reforçavam ativamente as críticas à vertente
tradicional.

Além dos encontros citados, um marco para a Psicologia Social no


Brasil foi a fundação, em 10 de julho de 1980, na UERJ, da Associação
Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), que tinha como visão a
redefinição do campo da Psicologia Social, bem como a ideia de que o
ser humano é um produto histórico-social e agente sobre a sociedade
em que vive.

Com isso, a ABRAPSO ficou sendo a principal incentivadora dos


questionamentos a respeito da importação dos modelos norte-
americanos para o Brasil e como eles não estavam associados aos
problemas sociais locais, o que tirava a sua relevância e abria espaço
para uma Psicologia Social com um viés mais voltado à realidade social
e a sua busca para transformar o conhecimento científico em práxis.

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Silvia Lane estava à frente, na maior parte do tempo, desse movimento


contra o modelo norte-americano, discordando de Rodrigues em ao
menos dois aspectos:

1. Aroldo acreditava que a Psicologia Social era uma ciência básica,


já Lane abraçava a ideia de que a ciência básica e a sua aplicação
deveriam ser vistas como uma só e inseparáveis.
2. Rodrigues não concordava que a Psicologia deveria ter aspectos
políticos, mantendo-se neutra cientificamente e com a liberdade
acadêmica, já Silvia via que a Psicologia Social deveria ter como o
foco a transformação da realidade social, defendendo o aspecto
crítico e com viés político da disciplina.

Por fim, no que tange à breve história da Psicologia Social brasileira,


outro aspecto importante é o desenvolvimento dos cursos de pós-
graduação stricto‑sensu na área, na década de 1980.

A partir desses cursos, foram estruturadas diversas linhas de pesquisa


na área de Psicologia Social, com uma multiplicidade de paradigmas e
tendências, e novamente, um aumento na produção científica brasileira
em Psicologia Social.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Que fato(s) estimulou(ram) a chamada “Crise da Psicologia Social”,


na segunda metade do século XX?

I. Falta de mercado de trabalho para os psicólogos sociais.


II. Relevância social da área.
III. Baixa autoestima dos psicólogos.
IV. Perda de confiança nas abordagens clínicas.
V. Não aplicabilidade do conhecimento produzido.

Estão corretas as afirmativas:

A IV e V apenas.

B I, II e III apenas.

C II e V apenas.

D Apenas V.

E I, IV e V apenas.

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Parabéns! A alternativa C está correta.

Alguns pontos levaram à Crise da Psicologia Social nos anos 1970,


um deles foi a relevância social da área, pois não avaliavam o cunho
social dos fenômenos. Os psicólogos criticavam que os estudos
não tinham aplicabilidade na realidade social, pois não levavam em
conta os aspectos sociais, só se concentravam no aspecto
individual.

Questão 2

Como uma forma de classificar a Psicologia Social no


desenvolvimento histórico, foram criadas duas vertentes para a
Psicologia Social: a sociológica e a psicológica. O objetivo dessa
classificação é

separar a contaminação que a Sociologia produziu


A em parte da Psicologia Social e valorizar a vocação
psicológica da Psicologia Social moderna.

estabelecer um critério que permita ao leitor


especializado reconhecer uma Psicologia que sabe
B
equacionar os problemas relativos aos indivíduos
em situação social.

na realidade, trata-se apenas de um recurso


histórico para classificar a Psicologia produzida
C
antes de 1930 nos EUA, que precede a Psicologia
Social cognitivista.

a diferenciação entre George Mead e a


D
Völkerpsychologie de Wundt.

estabelecer critérios que permitam compreender a


influência da Sociologia e da Psicologia na produção
E da Psicologia Social, principalmente a partir do
conhecimento desenvolvido após a Segunda Guerra
Mundial.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A epistemologia das duas vertentes da Psicologia Social está


diretamente relacionada com as influências da Sociologia e da

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Psicologia Clínica na Psicologia Social.

Considerações finais
Neste conteúdo sobre a epistemologia e a pesquisa em Psicologia
Social, conseguimos perceber o quão é importante entender os
caminhos percorridos pela Psicologia Social durante sua história e
percebermos as linhas de raciocínio que temos hoje.

Suas duas principais vertentes, a Psicologia Social Psicológica e a


Psicologia Social Sociológica nos levam para olhares diferentes dentro
da mesma disciplina, sendo a primeira, os estudos sobre a relação entre
indivíduo e sociedade, utilizando como unidade de análise o indivíduo,
nos seus aspectos cognitivos ou comportamentais; e a segunda, os
estudos adotando o coletivo, o social, como unidade de análise.

Em torno dessas questões que entravam em discordância, junto à


interdependência entre teoria e prática, à relevância da contextualização
dos dados e da participação dos atores sociais, assim como da relação
da pesquisa científica com os problemas ético-políticos e sociais, foi
gestada a crise teórica da Psicologia Social, que teve profundas
consequências no conteúdo e na prática primeiro na Europa e depois no
contexto da América Latina. A crise da Psicologia Social veio juntar-se,
em nosso continente, ao elemento político, em virtude das ditaduras
militares, com a opressão social decorrente delas. Portanto, a partir
desse momento de crise, duas vertentes de pensamento da Psicologia
Social foram criadas: a Psicologia Social Psicológica, que trazia todo o
olhar positivista e das correntes da Psicologia Clínica, e a Psicologia
Social Sociológica, que trazia influência das correntes sociológicas e da
visão do ser humano como agente do meio social em que vive.

headset
Podcast
Neste podcast, a especialista discutirá as bases epistemológicas da
Psicologia Social na atualidade, apresentando as diferenças entre a
Psicologia Social Psicológica e a Psicologia Social Sociológica,
destacando origens, objetivos e metodologias de pesquisa de cada
vertente.

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15/02/2024, 12:35 Epistemologia e pesquisa em Psicologia Social

Explore +
Pesquise e saiba mais sobre os assuntos estudados neste conteúdo, no
livro Psicologia Social – Perspectivas psicológicas e sociológicas, de
José Luis Álvaro e Alicia Garrido, 2006.

Conheça um clássico da Psicologia Social Psicológica na visão de


autores que são referência na área: Psicologia Social, de Aroldo
Rodrigues, Eveline Assmar e Bernardo Jablonski, 2005.

Conheça um clássico da Psicologia Social Sociológica na visão de dois


autores: Silvia Lane e Wanderley Codo, Psicologia Social: Homem em
movimento.

Referências
ALVARO, J. L.; GARRIDO, A. Psicologia Social – Perspectivas
psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.

AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Ethical Principles of


Psychologists and Code of Condute. Consultado na Internet em: 10 abr.
2022.

FARR, R. M. As raízes da psicologia social moderna. 8. ed. Petrópolis,


RJ: Vozes, 2008.

FONSECA, T. M. G. Epistemologia. In: Psicologia Social Contemporânea


(livro-texto). STREY, M. N. N et al. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

GÜNTHER, H. Métodos de pesquisa em psicologia social. In: NEIVA, E.


R.; TORRES, C. V. Psicologia Social: principais temas e vertentes. São
Paulo: Artmed, 2011.

LANE, S. T. M.; CODO, W. (Org.). Psicologia Social - O homem em


movimento. São Paulo: Brasiliense, 1985.

NEIVA, E. R.; TORRES, C. V. Psicologia Social: principais temas e


vertentes. São Paulo: Artmed, 2011.

RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L.; JABLONSKI, B. Psicologia Social. 18.


ed. reform. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

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15/02/2024, 12:35 Epistemologia e pesquisa em Psicologia Social

TITTONI, J.; JACQUES, M. G. C. Pesquisa. In: STREY, M. N. et al.


Psicologia Social Contemporânea (livro-texto). 21. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2013.

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