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PSICOLOGIA

SOCIAL:
UMA
HISTÓRIA
Prof. ª Rachel Marinho Aquino Cavalcanti
RAÍZES DA
Embora as raízes da psicologia social possam
ser encontradas no solo intelectual de toda PSICOLOGIA
tradição ocidental, seu atual florescimento é
reconhecido como sendo um fenômeno
caracteristicamente americano. É desse modo
SOCIAL
que Gordon Alport (1954, p. 3-4) apresentou
a disciplina para uma nova geração de
estudantes de pós-gradução na América, no
início do que chamo aqui, a era moderna na
psicologia social. Essa teve início, no fim da
segunda guerra mundial (FARR, 1998).
A PSICOLOGIA SOCIAL ENQUANDO
CAMPO DE CONHECIMENTO

• QUAL SEU OBJETO DE


ESTUDO?

• QUAIS SÃO SEUS


MÉTODOS?
HÁ QUASE TANTAS DEFINIÇÕES DE
FENÔMENOS OBSERVÁVEIS
PSICOLOGIA SOCIAL QUANTOS SÃO OS
DO COMPORTAMENTO
PSICÓLOGOS SOCIAL.
SOCIAL?
(ARONSON, 1972)

RELEÇÕES
INTEREPESSOAIS E
A NATUREZA SOCIAL DO
AINFLUÊNCIA SOCIAL NO
HOMEM?
HOMEM?
Na vida anímica individual
aparece integrado
sempre,efetivamente, “o
outro”, como modelo, objeto, A afirmação de Freud suscita uma
auxiliar ou adversário, e, importante questão para reflexão
sobre a natureza da ciência
deste modo, a psicologia psicológica: é possível uma
individual é ao mesmo tempo psicologia que não seja uma
e desde um princípio psicologia social já que não tem
psicologia social,em um sentido conceber um indivíduo
sentido amplo e plenamente isolado de seu contexto social?
justificado
(SIGMUND FREUD).
É possível uma psicologia que não seja uma
psicologia social, já que não tem sentido conceber um
indivíduo isolado de seu
contexto social?
• Lane (1984):

“Toda psicologia é social. Esta afirmação não significa reduzir


as áreas específicas da Psicologia à Psicologia Social, mas
sim cada um assumir dentro de sua especificidade a
natureza histórico-social do ser humano”.
ALGUMAS DEFINIÇÕES.....

O enfoque da Psicologia Social é A Psicologia Social Psicológica, segundo a


estudar o comportamento de indivíduos definição de G. Allport (1954), que se tornou
clássica, procura explicar os sentimentos,
no que ele é influenciado socialmente. pensamentos e comportamentos do indivíduo
E isto acontece desde o momento em na presença real ou imaginada de outras
que nascemos, ou mesmo antes do pessoas (FERREIRA; OLIVEIRA, 2010).
nascimento, enquanto condições
históricas que deram origem a uma
família, a qual convive com certas
pessoas, que sobrevivem trabalhando
em determinadas atividades, as quais [...] a Psicologia social é a ciência dos
já influenciam na maneira de encarar e fenômenos da ideologia (cognição e
cuidar da gravidez e no que significa representações sociais) e dos
ter um filho fenômenos da comunicação
(LANE, 2006). (MOSCOVICI apud ROCHA, 2014).
ALGUMAS DEFINIÇÕES.....
A Psicologia Social, segundo
Stephan e Stephan (1985),
tem como foco o estudo da Conceito que enfatiza
experiência social que o principalmente os
fenômenos que
indivíduo adquire a partir emergem nos grupos e
sociedades.
de sua participação nos
diferentes grupos sociais
com os quais convive.
OBJETIVO DA
PSICOLOGIA
SOCIAL

(...) ela continua tendo por objetivo conhecer o indivíduo no


conjunto de suas relações sociais, tanto naquilo que lhe é
específico como naquilo em que ele é manifestação grupal e
social. Porém, agora a Psicologia Social poderá responder à
questão de como o homem é sujeito da história e
transformador de sua própria vida e da sua sociedade,
assim como qualquer outra área da Psicologia (LANE, 2013).
PROCESSO HISTÓRICO-EPISTEMOLÓGICO DA
PSICOLOGIA SOCIAL
Uma breve história...
• A Psicologia Social se consolida como ciência no século XX;

• Surge sem um consenso sobre seu objeto de estudo;

• No século XX os limites entre Psicologia e Sociologia ainda não


eram claros;

• Vários estudos publicados contribuíram para seu


desenvolvimento.
PROCESSO HISTÓRICO-EPISTEMOLÓGICO DA
PSICOLOGIA SOCIAL
Uma breve história...
• A Psicologia Social tem se caracterizado pela pluralidade e
multiplicidade de abordagens teóricas adotadas como referenciais
legítimos à produção de conhecimentos sociopsicológicos.

• Tal contexto tem dificultado sobremaneira a delimitação do objeto de


estudo ou mesmo dos vários objetos de estudo dessa disciplina.

• Em seus primórdios a Psicologia Social foi progressivamente adotando


níveis mais moleculares de análise e se tornando mais individualista, ao
se focalizar cada vez mais na investigação de processos intraindividuais.
DICOTOMIA
PROCESSO HISTÓRICO-EPISTEMOLÓGICO DA
PSICOLOGIA SOCIAL
• De acordo com Lane (2002) é na década de 50 que se iniciam as
sistematizações em Psicologia Social;

• A Psicologia Social surge com duas vertentes predominantes:


pragmática nos EUA que tinha como objetivo alterar e/ou criar
atitudes e interferir nas relações grupais para que fossem
harmônicas e garantir a produtividade dos grupos;

• A segunda vertente da Psicologia Social procura conhecimentos


que evitem novas catástrofes sociais e segue a tradição
europeia, com raízes na fenomenologia, buscando modelos
científicos totalizantes como a teoria de campo de Kurt Lewin.
PROCESSO HISTÓRICO-EPISTEMOLÓGICO DA
PSICOLOGIA SOCIAL

MODALIDADES DE PSICOLOGIA SOCIAL

• Psicologia Social Psicológica

• Psicologia Social Sociológica


PSICOLOGIA SOCIAL AMERICANA (PSA)
• Surge nos EUA, na metade século XX;

• A publicação de duas obras no ano de 1908, irão marcar a fundação oficial da Psicologia Social
moderna na América do Norte: o livro Uma introdução à psicologia social, de autoria de William
McDougall, e o livro Psicologia social: uma resenha e um livro-texto, de autoria de Edward Ross;

• Pragmática e voltada para o funcionalismo, pois impõe que a ciência serve para ter funções
práticas e sociais;

• Empírica;

• Individual e comportamental;

• O behaviorismo é o modelo predominante;

• Interessa saber o motivo pelo qual os “homens fazem o que fazem”.


PSICOLOGIA SOCIAL AMERICANA (PSA)
• Paradigmas: Behaviorismo;
Positivismo;

• Positivismo: Empirismo;
Busca de leis universais;
Descrição;
Controle;
Explicação;
Generalização.
PSICOLOGIA SOCIAL AMERICANA (PSA)
Estudiosos e suas contribuições:

Asche (polonês): conformismo;


Sherif (turco): formação de normas sociais;
Heider (austríaco): relações interpessoais;
Lewin (alemão): dinâmica de grupos;
Bartlet (inglês): memória.
UM PASSEIO PELA PSICOLOGIA SOCIAL NO
OCIDENTE

Pontos importantes para a história da psicologia


social:

• “Repúdio positivista de Wundt”;

• A perspectiva histórica da psicologia social


apresentada por Farr (1996);
PROCESSO HISTÓRICO-EPISTEMOLÓGICO DA
PSICOLOGIA SOCIAL
É considerado o pai da Psicologia ao torná-la uma ciência independente
com a criação do Laboratório em Psicologia em 1879 em Leipzig.

Seu objeto de estudo definido é a experiência imediata à consciência (os


processos mentais) e seu método é o experimental-introspectivo.

Wundt publicou a primeira edição de sua Psicologia


fisiológica (Physiological Psychology) em 1874 e em 1881a revista Estudos
Filosóficos (Philosophische Studien).

Entre 1900 e 1920, Wundt elabora sua Psicologia do povo ou Psicologia


das massas. Uma obra de 10 volumes, onde aborda sua psicologia social,
tendo como objeto de estudo, principalmente, temas como a Linguagem,
Pensamento, Cultura, Mitos, Religião, Costumes e fenômenos correlatos.
Para Wundt, tais temas são fenômenos coletivos que não podem ser
explicados nem reduzidos à consciência individual.
A PERSPECTIVA HISTÓRICA DE ROBERT
FARR...
Contexto norte-americano para O Tribunal de Nurenberg sobre crimes de guerra
o surgimento da Psicologia foi decisivo para apresentar os principais
procedimentos éticos em pesquisas
Social: segunda guerra experimentais com seres humanos e foi também
mundial; decorrente do período entre guerras. O Tratado
de Nurenberg extraído do Tribunal teve peso
fundamental no desenvolvimento de pesquisas
A publicação do The American em psicologia social, principalmente com
Soldier (O soldado Americano, relação aos experimentos com humanos.

1949), após a Segunda Guerra,


sob a editoração geral do
sociólogo Stouffer). A migração de cientistas europeus, como dos
gestaltistas da Áustria e Alemanha para os Estados
Unidos. E foi este fato que possibilitou o surgimento
da psicologia social cognitiva.
Universidade de Yale com o Núcleo do Programa de Pesquisa do Pós-
Guerra, com temática central em comunicação e mudança de atitude.

Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), com Kurt Lewin, onde ele


fundou em 1945 o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupo. Foi o
grupo, por excelência, que refletiu na América toda a influência da
Psicologia Gestalt para a psicologia social. Seu papel foi vital no
desenvolvimento de uma psicologia social cognitiva.

Publicação dos manuais de Psicologia: Na primeira edição do


Handbook em 1954, Lindzey diz provocar o rompimento com o que
chama de “Psicologia social metafísica” presente nas raízes(europeias) da
psicologia social.
BREVES TÓPICOS SOBRE A HISTÓRIA DA
PSICOLOGIA SOCIAL
• O advento da psicologia social nos Estados Unidos ocorreu no período do pós-guerra.

• O que deflagrou a sistematização do estudo de fenômenos psicossociais foi o contexto


histórico e social vivido após a Primeira Guerra Mundial, o qual impulsionou a necessidade de
compreender as crises presentes para permitir a reconstrução e preservação das sociedades.

• Tradição americana: na década de 50 predominam os estudos pragmático com pesquisas


experimentais que buscavam consolidar procedimentos e técnicas de intervenção nas
relações sociais, visando garantir uma boa qualidade de vida aos homens, permeada pela
produtividade do grupo.

• A partir da década de 1960, na Europa - principalmente na França -, surgiram críticas mais


incisivas a esse modelo de conhecimento, denunciando uma ciência ideológica afastada dos
problemas sociais, cujas teorias não eram capazes de explicar as novas demandas postas
pela sociedade.
A CRISE DA PSICOLOGIA SOCIAL NA
DÉCADA DE 70
• A Psicologia Social norte-americana evidencia que, com o passar do tempo, o modelo de
pesquisa-ação orientado para a comunidade e para o estudo dos grupos, introduzido por
Lewin ainda nos anos de 1930, foi sendo paulatinamente abandonado e substituído pela
investigação de fenômenos e processos eminentemente intraindividuais, de natureza
cognitiva.

• Estudos dos processos intraindividuais: a meta última é a investigação das leis universais
capazes de explicar o comportamento social, a Psicologia Social Psicológica estrutura-se
progressivamente como uma ciência natural e empírica, que desconsidera o papel que as
estruturas sociais e os sistemas culturais exercem sobre os indivíduos.

• A crise da Psicologia Social se caracterizou, sobretudo, pelo questionamento das bases


conceituais e metodológicas da Psicologia Social Psicológica até então dominante, no
que tange à sua validade, relevância e capacidade de generalização.
PSICOLOGIA SOCIAL EUROPEIA

1. Crise da Psicologia Social

2. Desenvolve-se uma Psicologia


Social Sociológica que se
caracteriza em inserir a explicação
num contexto social e estuda
representações sociais,
identidade.
DESDOBRAMENTOS.......

• Movimento de internacionalização da Psicologia Social,
responsável pelo desenvolvimento de uma Psicologia Social
Europeia.

• Psicologia LatinoAmericana, voltada prioritariamente para os


problemas sociais.
TEORIAS EM PSICOLOGIA SOCIAL

PSICOLOGIA SOCIAL NA AMÉRICA DO NORTE

• COGNIÇÃO SOCIAL;
Novas vertentes da Psicologia Social
que, mais recentemente, vêm também se
• ATITUDES; mostrando promissoras. Entre elas,
merecem destaque a Neurociência Social
e a Psicologia Social Evolucionista.

• PROCESSOS GRUPAIS.
COGNIÇÃO SOCIAL
• Subárea da Psicologia;
• Desenvolveu-se no contexto da Psicologia Social
para explicar os modos pelos quais as pessoas
pensam sobre si mesmas e sobre as coisas e
formam impressões;
• Apoia-se no modelo de processamento de
informação;
• Interessa os modos pelos quais as impressões,
crenças e cognições sobre os estímulos sociais (o
próprio indivíduo, bem como outras pessoas, grupos
e eventos sociais) são formadas e afetam o
comportamento.
ATITUDES
• As atitudes podem ser conceituadas como avaliações gerais e
duradouras, que variam de um extremo positivo a um extremo
negativo, dos objetos presentes no mundo social, o que
abrange pessoas, grupos, comportamentos etc;

• Interessa explicar os processos psicológicos responsáveis


pela formação e mudança de atitudes, bem como pela
consistência entre atitudes e comportamento;

• Metodologicamente recorre-se cada vez mais à adoção de


medidas que captam as avaliações mais automáticas e não
conscientes (medidas implícitas, como os testes de
associações de palavras, por exemplo).
ATITUDES
Diferentemente do senso
comum, que a compreende
como comportamento, ação, ou
seja, nós tomaríamos atitudes,
para a Psicologia Social nós
desenvolvemos atitudes
(crenças, valores, opiniões,
sentimentos) em relação ao que
nos rodeia.
PROCESSO GRUPAL
• Teóricos: Lewin, Sheriff e Asch;

• As investigações nessa área tenderam a se concentrar em


níveis cada vez mais micros de análise, que se focalizavam
sobremaneira nas qualidades, características e ações dos
membros individuais, quando na presença de um grupo;

• Os estudos atuais sobre grupo têm sido recorrentes e mostram


análises de dados que consideram o grupo uma unidade
autônoma e não uma soma de indivíduos têm propiciado
avanços consideráveis no estado atual do conhecimento sobre
os processos grupais.
NEUROCIÊNCIA SOCIAL
• A área de Neurociência Social, assim cunhada pela primeira
vez por Cacioppo e Berntson (1992);

• Interesse de investigar as possíveis associações existentes


entre a cognição social e as funções cerebrais, com o intuito
de compreender o papel desempenhado pelas estruturas
neurais no processamento da informação social (Adolphs,
2009);

• Alguns mecanismos neurocerebrais são responsáveis pelo


raciocínio social, isto é, que existem determinadas estruturas
cerebrais especializadas nas atividades de autopercepção e
percepção dos demais indivíduos e grupos sociais, bem como
nas ações que permitem a vida em sociedade.
PSICOLOGIA SOCIAL EVOLUCIONISTA
• Teoria da evolução genética de Darwin;
• Os psicólogos sociais evolucionistas defendem que processos
similares à evolução genética operam na transmissão da cultura;
• Os diferentes grupamentos humanos variam em suas crenças e
valores culturais, e que, em função de recursos cognitivos limitados,
algumas dessas variantes culturais são mais prováveis de serem
aprendidas e lembradas, em geral aquelas transmitidas por modelos
mais proeminentes (pais, celebridades etc.);
• A transmissão da cultura se dá por meio de processos de imitação e
aprendizagem social, por meio dos quais ocorre a seleção natural
dos valores a serem transmitidos à outra geração (Mesoudi, 2009).;
• Mecanismos biológicos que interagem de forma dinâmica com
processos psicológicos e de aprendizagem, no interior de uma
determinada cultura.
IDENTIDADE SOCIAL
PSICOLOGIA SOCIAL NA EUROPA

• Surge na literatura sociopsicológica com Henri Tajfel, da Universidade de Bristol,


na Inglaterra;

• (1) o autoconceito é derivado da identificação e pertença grupal;


PRESSUPOSTOS
• (2) as pessoas são motivadas a manter uma autoestima positiva;

• (3) as pessoas estabelecem uma identidade social positiva mediante a


comparação favorável de seu próprio grupo (in-group) com outros grupos sociais
(out-groups).
IDENTIDADE SOCIAL

É o que nos
caracteriza como
pessoa, é o que
respondemos
quando alguém
nos pergunta
"quem é você?“
(LANE, 2006).
IDENTIDADE SOCIAL
Identidade denota características peculiares que
dizem respeito à maneira de cada um se
relacionar com os outros, sendo características
que foram sendo apreendidas nas relações
grupais; sejam familiares e/ou de amigos,
através do desempenho de papéis
diversificados. E é nessa diversidade que eles
vão se descobrindo um indivíduo diferente,
distinto dos outros. Nossos amigos deixaram de
ser um, entre muitos da espécie humana e
passaram a ser pessoas com características
próprias no confronto com outras pessoas —
eles têm suas identidades sociais que os
diferenciam (LANE, 2006).
IDENTIDADE SOCIAL

Identidade é a denominação dada às


representações e sentimentos que o
indivíduo desenvolve a respeito de si
próprio, a partir do conjunto de suas
vivências. A identidade é a síntese
pessoal sobre o si-mesmo, incluindo
dados pessoais (cor, sexo, idade),
biografia (trajetória pessoal), atributos
que os outros lhe conferem, permitindo
uma representação a respeito de si
(BOOCK, 2002).
A CATEGORIA IDENTIDADE NO CONTEXTO
BRASILEIRO

• Antonio da Costa Ciampa é criador de uma teoria da identidade pioneira


na psicologia brasileira, intelectual e professor militante. A partir da PUC
de São Paulo, Ciampa desenvolve atividades que captam e traduzem o
movimento histórico e as mutações que influenciam e modificam a
formação e a atuação da identidade do indivíduo brasileiro (CRP).

• Ciampa inaugura os estudos sobre identidade no país,


especialmente nos anos de crítica às perspectivas naturalista e
utilitarista da psicologia social, preocupadas com as possibilidades
de ajustamento social.
A CATEGORIA IDENTIDADE NO CONTEXTO
BRASILEIRO

Em sua obra A estória do Severino e a História da Severina: Um ensaio de


Psicologia Social, Antonio da Costa Ciampa (2001) apresenta a ideia de
que o sujeito é uma representação de um momento histórico, é parte do
tempo, do lugar, da família de origem e da vida que vive. Nessa obra,
esse autor compreende de maneira idiossincrática o ser humano, pois
supõe que a identidade se constitui como metamorfose e dessa maneira
atribui certa dinamicidade a esse conceito demonstrando que a pessoa
não pode ser reduzida aos estereótipos que lhe são atribuídos. Com essa
lógica, Ciampa contraria as teorias vigentes até a década de 1980 que
entendiam a identidade como algo estático e/ou controlada por estímulos
e reforços positivos ou negativos (JUNIOR; LARA, 2017).
A CATEGORIA IDENTIDADE NO CONTEXTO
BRASILEIRO

Para Ciampa, a identidade é movimento de transformação, é


metamorfose. Esse movimento de transformação tem um sentido
para o indivíduo que se apresenta por meio de seus diversos
personagens, pois ele se apresenta sempre a outro do qual
espera o reconhecimento de suas personagens. A identidade
trata-se de uma sequência de formas de reconhecimento que
vem do outro (JUNIOR; LARA, 2017).
IDENTIDADE

(...) a identidade do indivíduo deixa de ser algo


estático e acabado, para ser um processo contínuo
de representações de seu “estar sendo” no mundo
(BOOCK, 2002).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
• O conceito de representação social tem suas origens na Sociologia e na
Antropologia, através de Durkheim e de Lévi-Bruhl;

• A teoria da RS Inicialmente foi chamada de representação coletiva;

• A teoria das RS pode ser considerada como uma forma sociológica de


Psicologia Social (FARR, 1994).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
• O conceito aparece pela primeira vez um estudo realizado por Moscovici
sobre a psicanálise;

• O que motivou Moscovici a desenvolver o estudo das RS dentro de um


trabalho científico foi, principalmente, sua crítica aos pressupostos
positivistas e funcionalistas das demais teorias que não davam conta de
explicar a realidade em outras dimensões, principalmente na dimensão
histórico-crítica.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

As representações sociais são um conjunto de conceitos,


imagens e explicações que se originam do senso comum, no
contexto das interações e comunicações interpessoais. Nesse
sentido, elas vão se modificando à medida que novos
significados vão sendo acrescentados à realidade. A função
das representações sociais é dar sentido ao desconhecido,
transformando o não familiar em algo familiar. MOSCOVICI
1925

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SE APOIAM EM DOIS PROCESSOS:

ANCORAGEM OBJETIVAÇÃO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
“[...] um conjunto de conceitos,
As representações sociais são
proposições e explicações saberes provenientes do senso
originado na vida cotidiana no comum. São formas de
curso de comunicações conhecimento elaboradas
coletivamente e, por isso,
interpessoais. Elas, o partilhadas por um mesmo
equivalente, em nossa conjunto social.
sociedade, aos mitos e
sistemas de crença das
sociedades tradicionais: podem “Uma forma de conhecimento, socialmente
elaborada e partilhada, tendo uma visão
também ser vistas como a prática e concorrendo para a construção de
versão contemporânea do uma realidade comum a um conjunto
senso comum” (FERREIRA, social” (JODELET, 1989, p. 36).
2010).
PSICOLOGIA SOCIAL NA AMÉRICA LATINA
• Terceiro mundo, dependente economicamente e culturalmente;

• A Psicologia Social se caracteriza por ser subdividir entre o pragmatismo norte-americano


e a visão filosófica e abstrata de homem;

• A partir de 1974 vão aparecer críticas a esses modelos e novas propostas de psicologia
social pelo grupo venezuelano que se organiza a partir da Organização Venezuelana de
Psicologia Social (AVEPSO);

• Críticas ao modelo de Psicologia Social predominante também surgem no contexto


brasileiro;

• Proposta de uma Psicologia Social de bases materialistas-históricas.


CRÍTICAS A PSICOLOGIA SOCIAL
• A teoria da Psicologia social tem recebido inúmeras críticas que se fundamentam em três
argumentos:

a. É uma Psicologia social baseada em um método descritivo, ou seja, um método que se


propõe a descrever aquilo que é observável, fatual. É uma psicologia que organiza e dá
nome aos processos observáveis dos encontros sociais;

b. Tem seu desenvolvimento comprometido com os objetivos da sociedade norte-


americana do pós-guerra, que precisava de conhecimentos e de instrumentos que
possibilitassem a intervenção na realidade, de forma a obter resultados imediatos,
garantindo o aumento da produtividade econômica. Os temas mais desenvolvidos foram
a comunicação persuasiva, a mudança de atitudes, a dinâmica grupal, voltados sempre
para a procura de “fórmulas de ajustamento e adequação de comportamentos
individuais ao contexto social.”
CRÍTICAS A PSICOLOGIA SOCIAL

c) É uma Psicologia social que parte de uma noção estreita do social, Este é considerado
apenas como a relação entre pessoas — a interação social —, e não como um conjunto
de produções humanas capazes de, ao mesmo tempo em que vão construindo a
realidade social, construir também o indivíduo. Esta concepção será a referência para a
construção de uma nova Psicologia social.
UMA NOVA PSICOLOGIA SOCIAL
• Com uma posição mais crítica em relação à realidade social e à
contribuição da ciência para a transformação da sociedade, vem sendo
desenvolvida uma nova Psicologia Social, buscando a superação das
limitações apontadas anteriormente;

• A Psicologia social mantém-se aqui como uma área de conhecimento da


Psicologia, que procura aprofundar o conhecimento da natureza social do
fenômeno psíquico;

• Deseja-se explicar/compreender a relação que o indivíduo mantém com a


sociedade e os processos subjetivos que vão ocorrendo.
O QUE É SUBJETIVIDADE?
A subjetividade humana
surge do contato entre os
homens e dos homens
com a Natureza, isto é,
esse mundo interno que
possuímos e suas
expressões são
construídas nas relações
sociais (BOOCK, 2002).
A SUBJETIVIDADE
• O objeto de estudo da Psicologia é a subjetividade;

• Subjetividade: “a síntese singular e individual que cada um de nós vai


construindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as
experiências da vida social e cultural;

• A subjetividade não é inata, ela é construída aos poucos no mundo cultural


e social, num determinado momento histórico (BOOCK, 2002);

• A subjetividade também é responsável pela transformação da realidade


social. Criando e construindo o mundo (externo), o ser humano constrói e
transforma a si próprio (BOOCK, 2002).
UMA NOVA PSICOLOGIA SOCIAL
• O objetivo da Psicologia deve ser o de compreender como se dá a
construção desse mundo interno (SUBJETIVIDADE) a partir das relações
sociais vividas pelo homem. O mundo objetivo passa a ser visto não como
fator de influência para o desenvolvimento da subjetividade, mas como
fator constitutivo;

• O comportamento deixa de ser “o objeto de estudo”, para ser uma das


expressões do mundo psíquico e fonte importante de dados para a
compreensão da subjetividade, pois ele se encontra no nível do empírico e
pode ser observado; no entanto, essa nova Psicologia social pretende ir
além do que é observável, ou seja, além do comportamento, buscando
compreender o mundo invisível do homem.
UMA NOVA PSICOLOGIA SOCIAL
• Psicologia social abandona por completo a diferença entre comportamento em situação
de interação ou não interação. O homem é um ser social por natureza. Entende-se aqui
que cada indivíduo aprende a ser um homem nas relações com os outros homens,
quando se apropria da realidade criada pelas gerações anteriores, apropriação que se dá
pelo manuseio dos instrumentos e pelo A Psicologia social, hoje, busca romper com uma
ciência que contribuiu apenas para a manipulação e massificação da sociedade.
aprendizado da cultura humana.

• O homem como um ser social, como um ser de relações sociais, está em permanente
movimento e se transformando, apesar de aparentemente parecer igual. Isso porque
nosso mundo interno se alimenta dos conteúdos que vêm do mundo externo e, como
nossa relação com esse mundo externo não cessa, estamos sempre como que fazendo a
“digestão” desses alimentos e, portanto, sempre em movimento, em processo de
transformação.
UMA NOVA PSICOLOGIA

HOMEM COMO SER CONCRETO O HOMEM É A MANIFESTAÇÃO DE UMA


TOTALIDADE HISTÓRICO SOCIAL
PSICOLOGIA SÓCIO HISTÓRICA

FUNDAMENTOS e PRINCÍPIOS
PSICOLOGIA SOCIAL SÓCIO HISTÓRICA
DEFINIÇÃO:

A psicologia sócio histórica é uma abordagem capaz de


contribuir para a compreensão da realidade a partir das bases
materiais da constituição da consciência, da subjetividade e da
dimensão subjetiva dos fenômenos sociais.
PSICOLOGIA SOCIAL SÓCIO HISTÓRICA
FUNDAMENTOS:

• Psicologia sócio-histórica caráter histórico dos fenômenos


sociais e humanos;

• Perspectiva crítica trabalha na direção de des-naturalização


dos fenômenos.
PSICOLOGIA SOCIAL SÓCIO HISTÓRICA

• Fundamenta-se no marxismo e adota o materialismo histórico e dialético


como filosofia, teoria e método.

• Concebe o homem como ativo, social e histórico; a sociedade, como


produção histórica dos homens que, através do trabalho, produzem sua
vida material; as ideias, como representações da realidade material; a
realidade material, como fundada em contradições que se expressam nas
ideias; e a história, no qual, a partir da base material, deve ser
compreendida toda produção de ideias, incluindo a ciência e a Psicologia.
PSICOLOGIA SOCIAL SÓCIO HISTÓRICA
Materialismo Histórico e dialético:

• A gênese dos fenômenos está na realidade material


contraditória;

• As representações sobre a realidade expressam as


contradições materiais da sociedade, que implicam um
conteúdo histórico.
PSICOLOGIA SOCIAL SÓCIO HISTÓRICA
O FENÔMENO PSICOLÓGICO:

• O fenômeno psicológico não é algo abstrato e descolado do nosso corpo;

• O fenômeno psicológico é algo que ao se desenvolve ao longo do tempo, é histórico;

• O fenômeno psicológico não é algo inerente à Natureza Humana, pois não é preexistente
no homem, mas reflete uma condição social, econômica e cultural em que vivem os
homens.

• O fenômeno psicológico, como qualquer fenômeno, não tem força motriz própria, pois é
na relação com o mundo material e social que se desenvolvem as possibilidades
humanas.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS
• Capacidades humanas se desenvolvem no processo histórico e não
natural;

• Construção no nível individual do mundo simbólico que é social;

• Subjetividade e objetividade: o indivíduo constrói o mundo material e social,


que somente existe pelos seus atos;

• Base material: o fenômeno psicológico não é algo súbito, que surge no


homem ou que estava lá, atualizando-se com o seu amadurecimento.
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
• Capacidades humanas se desenvolvem no processo histórico e não
natural;

• Construção no nível individual do mundo simbólico que é social;

• Subjetividade e objetividade: o indivíduo constrói o mundo material e social,


que somente existe pelos seus atos;

• Base material: o fenômeno psicológico não é algo súbito, que surge no


homem ou que estava lá, atualizando-se com o seu amadurecimento.
PRINCÍPIOS
PSH no Brasil:
• O homem visto como ser autônomo, responsável pelo seu próprio
processo de individuação.

• Uma relação de antagonismo entre o homem e a sociedade, em que


esta faz eterna oposição aos anseios que seriam naturais do homem.

• Uma visão de fenômeno psicológico, na qual este é tomado como uma


entidade abstrata que tem, por natureza, características positivas que
só não se manifestam se sofrerem impedimentos do mundo material e
social. O fenômeno psicológico, visto como enclausurado no homem, é
concebido como um verdadeiro eu.
PRINCÍPIOS
PSH no Brasil:
• O homem é um ser ativo, social e histórico. É essa sua condição humana.
O homem constrói sua existência a partir de uma ação sobre a realidade,
que tem, por objetivo, satisfazer suas necessidades. Mas essa ação e
essas necessidades têm uma característica fundamental: são sociais e
produzidas historicamente em sociedade. As necessidades básicas do
homem não são apenas biológicas; elas, ao surgirem, são imediatamente
socializadas. Por exemplo, os hábitos alimentares e o comportamento
sexual do homem são formas sociais e não naturais de satisfazer
necessidades biológicas.
• O trabalho transforma o meio e o próprio homem, ao produzir bens
necessários à satisfação de suas (novas) necessidades.
REFERÊNCIAS
.
BOOCK, A.M.B.; FERREIRA, M.R.; GONÇALVES, M.G.M.; Furtado, O. “Sílvia Lane e o Projeto do ‘Compromisso
Social da Psicologia”. Psicologia & Sociedade; 19, Edição Especial 2: 46-56, 2007.
BOCK, A.; FURTADO, O. & TEIXEIRA, M. L. Psicologias. 5.ed., S.P.: Saraiva, 1993.
FARR, R. As raízes da psicologia social moderna. Petrópolis, Vozes, 1998.
FERREIRA, M. C. A Psicologia Social Contemporânea: principais tendências e perspectivas nacionais e
internacionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 2010, Vol. 26 n. especial, pp. 51-64.
JUNIOR, N. L.; LARA, A. P. S. Identidade: colonização do mundo da vida e os desafios para a emancipação.
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