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CURSO DE PSICOLOGIA
MAILHIOT, Gérald Bernard. Dinâmica e gênese dos grupos: atualidades das descobertas de Kurt
Lewin. Tradução de Maria Ferreira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. 247 p.
Objetivo: compreender a contribuição de Kurt Lewin para a Psicologia Social, assim como o
desenvolvimento de suas teorias nos estudos grupais.
Objetivos específicos:
• Reconstituir os precursores que abriram o campo do estudo da Psicologia Social;
• Compreender a obra de Kurt Lewin dentro das condições históricas em que ele a desenvolveu;
• Expor as contribuições de Lewin a partir da dinâmica dos grupos e seus desdobramentos com os
grupos minoritários.
KURT LEWIN E O SEU TEMPO
• A primeira definição de grupo como social engineering, proposta por Lewin levou aos alunos
interpretarem (e executarem) a teoria e técnica como manipulação dos grupos, gerando tendências
que preocuparam o criador da teoria.
ALGUNS TRAÇOS DE LEWIN E SEU TRABALHO
• Lewin estimulava discussões em grupos com os alunos, não era dogmático ou pretendia criar teorias
hegemônicas que o colocassem em destaque, era avesso a dogmatismos:
“[...] Na maioria das vezes não se comportava como chefe, adotando com todos atitudes mais
democráticas e estabelecendo com seus colaboradores relações autenticamente igualitárias. Era atento
às opiniões e às sugestões não importando de onde viessem, muito respeitoso com as pessoas, sempre
pronto a ajudar, às vezes com certa obsequiosidade, seus alunos em suas primeiras hesitações a
começar suas pesquisas.” (MAILHIOT, 2013, p. 16)
• Gérald Bernard Mailhiot, autor dos textos desta disciplina foi orientando de doutorado de Kurt
Lewin, conhecendo tanto o intelectual como a pessoa que ali convivia com seus alunos.
UMA ETAPA DECISIVA PARA A PSICOLOGIA SOCIAL
(CAPÍTULO 2)
• Os precursores de Kurt Lewin foram responsáveis por definir o campo inicial da Psicologia Social;
• Auguste Comte (1793-1857), intelectual que desejava formalizar a Sociologia como campo
científico foi o primeiro a empregar o termo psicologia social e o fez criticamente:
“[...] A psicologia social é apenas uma palavra para designar toda espécie de generalidades, variadas e
imprecisas, sem objeto definido.” (Émile Durkheim Apud MAILHIOT, 2013, p. 19)
• A psicologia só poderia ser individual, tendo em vista que na França hegemonicamente o que
Durkheim observava era a psicofisiologia e estudos limitados a esse campo.
OUTROS PRECURSORES NA FRANÇA
- psicologia coletiva;
- psicologia social.
“[...] a psicologia individual, que tem como objetivo revelar os traços fundamentais do indivíduo
humano; a psicologia coletiva, que trata especificamente do grupo e da mentalidade de grupo; a
psicologia social, que estuda a influência do grupo no indivíduo.” (MAILHIOT, 2013, p. 21)
• Essa primeira fase ficou marcada por duas tendências, podendo ser conhecida tanto como “fase
instintiva” como “fase psicopedagógica”, que podem respectivamente se remeter:
“[...] a psicologia social deve antes se preocupar em definir qual seria o meio social ideal mais
apropriado para favorecer a socialização do ser humano e sua ascensão à maturidade social. [...]”
(idem, p. 22)
SEGUNDA FASE DA PSICOLOGIA SOCIAL
(1930-1940)
• Após 1930, a Psicologia Social passa por uma crise do individualismo;
• As obras de Freud voltadas ao campo social são traduzidas para o inglês nesse período, provocando
novos estudos e polêmicas, são elas:
- Totem e tabu (1914);
- Psicologia das massas e análise do eu (1920);
- Mal estar da civilização (1930).
• A psicologia social nessa nova fase sob influência da Psicanálise e das condições históricas do
período (ascensão do fascismo e nazismo na Europa na década de 1930), passa a voltar-se para o
estudo da liderança (leadership).
• A Psicanálise cresce como campo de influência nos departamentos de Psicologia das universidades
inspirando pesquisas, mas também logo se torna objeto de crítica com os estudos culturais
comparados promovidos pela nascente Antropologia Cultural que dá ênfase nas particularidades
culturais de cada povo, discordando do modelo universal proposto pelos psicanalistas;
• Psicanálise e Antropologia Cultural acabam por ser encaradas respectivamente como reducionistas
(reduzem demasiadamente a análise a determinados conceitos e/ou pontos de vista) ou anexionistas
como promovendo interpretações restritas à pressões e/ou coerções socioculturais.
UM RESUMO
• O principal objetivo nesse período inicial era buscar as leis fundamentais que pudessem explicar a
vida em sociedade:
UM BREVE QUADRO DA ÉPOCA
“MacDougall e os psicólogos sociais que lhe sucederam, de 1930 a 1940, nos Estados Unidos, não
tiveram outra preocupação dominante. Eles também buscam incansavelmente descobrir as leis
fundamentais que nos tornariam inteligíveis toda conduta social em qualquer contexto sociocultural.
Romperam com toda abordagem especulativa e filosófica. Trabalharam em laboratório, talvez de
forma demasiado exclusiva; suas preocupações mentais, seus esquemas de referência, sua
metodologia, suas hipóteses de trabalho são especificamente científicas. [...]” (MAILHIOT, 2013, P.
25)
ENFIM, LEWIN!
• Kurt Lewin ao iniciar suas pesquisas em Psicologia Social em 1936, rompe desde o início com os
seus precursores, fixando novos objetivos para o campo:
“[...] Suas pesquisas e seus trabalhos servirão desde o ponto de partida para clarear e elucidar a
dinâmica dos fenômenos de grupo muito circunscritos, com dimensões concretas e existenciais, nos
contextos de reestruturação ou de reorientação de uma ação social que se quer mais funcional, mais
eficaz, mais criativa.” (MAILHIOT, 2013, p. 26)
O INÍCIO DAS PESQUISAS DE GRUPO
• Lewin dirige seus estudos aos pequenos grupos ou microgrupos, classificando-os como face-to-face
groups;
• Ele acreditava não ter ferramentas para estudar grupos maiores, privilegiando o desvendamento dos
fenômenos psicológicos nos microgrupos, redirecionando a metodologia de pesquisa:
“[...] Ele mesmo demonstra, com suas próprias pesquisas e ilustra com suas descobertas pessoais, que
a exploração válida e fecunda dos fenômenos de grupo deve acontecer no próprio campo psicológico
em que se inserem e não ser reconstituídos, em escala reduzida, em laboratório. As variáveis de
qualquer fenômeno de grupo, em razão de sua essencial complexidade, não podem ser identificadas e
manipuladas a não ser no próprio campo, em uma perspectiva de ‘pesquisa-ação’.” (MAILHIOT,
2013, pp. 26-27)
• Lewin não estava em busca das leis fundamentais que pudessem explicar o indivíduo na sociedade,
como os seus antecessores;
• As contribuições de Kurt Lewin permitiram que da década de 1940 em diante a Psicologia Social
consolidasse sua identidade, distinguindo-se das outras Ciências Sociais
CONTRIBUIÇÕES DE KURT LEWIN QUE
INFLUENCIARAM SEUS SUCESSORES
• As contribuições de Kurt Lewin permitiram que a Psicologia Social se distinguisse da Antropologia
Social e da Sociologia:
“[...] a sociologia está habilitada e equipada experimentalmente para extrair das realidades sociais seus
aspectos formais ou suas estruturas; por seu lado, a antropologia cultural preocupa-se em perceber o
social nas suas dimensões históricas ou seus antecedentes, e a psicologia social, enfim, em suas
dimensões funcionais ou dinâmicas. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 29)
“[...] para ele, era o grupo de tarefa, isto é, o grupo estruturado e orientado em função da execução ou
da realização de uma tarefa. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 31)
• Psicogrupo
“[...] ao contrário, era definido como um grupo de formação, no sentido amplo da palavra, isto é, um
grupo estruturado, orientado e polarizado em função dos próprios membros que o constituem. [...]
(idem, p. 31)
AS MINORIAS PSICOLÓGICAS
• Kurt Lewin prioriza inicialmente estudar o seu próprio grupo étnico: os judeus;
• Os estudos iniciais com a comunidade judaica são generalizados para outros grupos a partir da
teorização das minorias psicológicas.
O CONCEITO DE MINORIA
• O conceito de minoria é diferente para a Demografia (área das Ciências Sociais que estuda a
dinâmica populacional) e para a Psicologia;
• Demografia (quantitativo):
• Psicologia (qualitativo):
• Maioria psicológica: “[...] um grupo [...que...] dispõe de estruturas, de um status e dos direitos que
lhe permitem se autodeterminar no plano de seu destino coletivo, e isto independentemente do
número ou da porcentagem de seus membros. Assim, minorias demográficas podem constituir
maiorias psicológicas. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 34);
• Minoria psicológica: “[...] um grupo [...que...] seu destino coletivo depende da boa vontade ou está
à mercê de outro grupo. Tal grupo, mais ou menos conscientemente, percebe-se como menor, isto é,
não possuindo direitos completos [...] percebem-se e se reconhecem em estado de tutela. E isto
independentemente da porcentagem de seus membros em relação à população total onde vivem.
[...]” (idem, pp. 34-35)
O CONCEITO DE MINORIA
• Minoria discriminada: é o grupo que sofre discriminação, portanto, tem seus direitos e existência
ameaçado;
• Minoria privilegiada: é parte da maioria que se torna o grupo dominante que dirige os demais
(oligarquias, elites, etc.).
AS MINORIAS JUDAICAS
• Kurt Lewin dedica-se ao estudo das minorias focando inicialmente na comunidade judaica, o que
rende quatro estudos publicados:
- Psychosociological problem of a minority (1935);
• O estudo de 1935 representa o esboço das primeiras formulações sobre o assunto que serão
desenvolvidas nos estudos seguintes.
AS MINORIAS JUDAICAS
• Neste estudo, ele observa que o povo judeu só teve direitos reconhecidos na Europa ocidental após a
Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789);
• A discriminação no passado partia de outras religiões e com o nazista e o fascista partia da ciência;
• Kurt Lewin inova ao propor em seu estudo que a questão judaica ou das minorias judaicas é
essencialmente social.
AS MINORIAS JUDAICAS
• O indivíduo se sente seguro quando as condições do grupo que pertencem, permitem segurança;
• Logo quando o grupo a que pertence não possui status social, produz-se insegurança;
• O meio familiar constitui um campo de forças [one dynamic field], cuja influência define o
indivíduo (normas, valores, tabus, mitos, etc.);
AS MINORIAS JUDAICAS
• Ele sustenta que as minorias judaicas devem ser estudados a partir de um ponto de vista social,
considerando-se seu desenvolvimento histórico e seus estudos posteriores, mas expande sua
investigação considerando-as sob três fenômenos: de grupo, individual e social.
AS MINORIAS JUDAICAS COMO
FENÔMENO DE GRUPO
• O ódio de si pode comparecer dentro da própria comunidade judaica;
• Judeus imigrantes atacando judeus alemães, como se estes fossem representantes do nazismo (na
época a Alemanha que assassinou e obrigou milhares de judeus a imigrarem era sinônimo de
nazismo).
AS MINORIAS JUDAICAS COMO
FENÔMENO INDIVIDUAL
• Existe uma variedade de casos neste grupo;
• Indivíduos que atacam o grupo judeu ou não se identificam com uma parte do grupo;
“[...] Kurt Lewin recusa-se a querer explicar desta maneira o ódio de si entre os judeus. Se assim fosse,
ele argumenta, estaríamos em presença de um dado da natureza e deveríamos então nos surpreender
por não encontrar no mesmo grau o ódio de si entre ingleses, italianos, alemães e franceses em relação
aos seus próprios compatriotas? [...] E Lewin acaba concluindo que, ao contrário, parece que este ódio
de si, não obstante os diversos graus segundo os quais ele se manifesta, depende muito mais das
atitudes que cada indivíduo adotou em relação ao problema judaico do que das estruturas mentais ou
emotivas de sua personalidade.” (MAILHIOT, 2013, pp. 43-44)
AS MINORIAS PSICOLÓGICAS
• Kurt Lewin generaliza suas teses desenvolvidas a princípio com as minorias judaicas para outros
grupos sujeitos a segregação, como os afro descentes norte-americanos e a segunda geração de
imigrantes nos Estados Unidos;
• Os estudos realizados na comunidade judaica são generalizados para outros grupos, estabelecendo-
se como tese fundamental:
“[...] As minorias psicológicas são sociais em sua origem, em suas estruturas e em sua evolução. Sua
dinâmica é essencialmente social. Por isso a sobrevivência dos grupos minoritários não pode ser
garantida senão a partir do momento em que eles tomam consciência deste dado fundamental e
consentem a aceita-lo.” (MAILHIOT, 2013, p. 47)
O DEVIR DAS MINORIAS
• Kurt Lewin compreende que o devir das minorias se compreende somente na dimensão de sua
sobrevivência:
• Assimilação: as minorias que perdem a fé em sua existência e cedem à maioria, permitindo ser
assimiladas por outros valores;
• Integração: as minorias que optam pela sobrevivência integrando-se com a maioria, cedendo à
valores comuns e evitando o que as distancia;
• Independência total: as minorias que apostam na separação total do grupo, justificando sua plena
emancipação na defesa de sua identidade, valores e tradições, visando conservar a integridade de
sua cultura.
REFERÊNCIAS ADICIONAIS
https://psicoativo.com/
https://psicoativo.com/2016/09/quem-foi-kurt-lewin.html