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PSICOLOGIA SOCIAL:

ASPECTOS HISTÓRICOS E EPISTEMOLÓGICOS

PROF. EDUARDO FREITAS PRATES – MESTRE EM PSICOLOGIA SOCIAL PELA PUC/SP

CURSO DE PSICOLOGIA

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO, UNINOVE


AULA 3 – KURT LEWIN

MAILHIOT, Gérald Bernard. Dinâmica e gênese dos grupos: atualidades das descobertas de Kurt
Lewin. Tradução de Maria Ferreira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. 247 p.

• Cap. 1: A obra e o homem;


• Cap. 2: Uma etapa decisiva para a psicologia social;
• Cap. 3: As minorias psicológicas.
OBJETIVOS DA AULA

Objetivo: compreender a contribuição de Kurt Lewin para a Psicologia Social, assim como o
desenvolvimento de suas teorias nos estudos grupais.

Objetivos específicos:
• Reconstituir os precursores que abriram o campo do estudo da Psicologia Social;
• Compreender a obra de Kurt Lewin dentro das condições históricas em que ele a desenvolveu;

• Expor as contribuições de Lewin a partir da dinâmica dos grupos e seus desdobramentos com os
grupos minoritários.
KURT LEWIN E O SEU TEMPO

• Kurt Lewin (1890-1947);


• Dados biográficos escassos de sua vida pessoal;

• Realizou seus estudos universitários em instituições alemães (Friburgo,


Munique e Berlim);
• Antes da Psicologia, estudou Química, Física e Filosofia;

• Doutorou-se no Departamento de Filosofia na Universidade de Berlim,


“A psicologia do comportamento e das emoções” (1914).
UMA CARREIRA UNIVERSITÁRIA ENTRE AS DUAS
GUERRAS MUNDIAIS (1914-1933)
• Iniciaria sua carreira universitária como professor na Universidade de Berlim, mas a eclosão da
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), impede-o;
• Serve na guerra e retorna ileso para a Alemanha;
• Carreira docente na Alemanha (Instituto de Psicologia da Universidade de Berlim)
- professor assistente (1921-1926);
- professor titular (1926-1933);
• Experiências em laboratórios (estudos sobre a vontade, associação, percepção do movimento, etc.);
• É expulso pelos nazistas da Alemanha em 1933 (pouco antes da eclosão da Segunda Guerra, mas já
com o antissemitismo crescente), por ser judeu, migra para a Inglaterra e em seguida para os EUA.
CARREIRA NOS ESTADOS UNIDOS (1933-1947)

• Universidade de Stanford, Califórnia (1933 e 1939);


• Universidade de Cornell, Nova York (1934-1935);
• Universidade de Iowa (1935-1939);
- professor da cadeira de Psicologia da Criança;
- diretor do Child Welfare Research Center;
- publicação de “A dynamic theory os personality” e “Principles of topological psychology”.
• Nesta fase inicial dedica-se ao estudo do comportamento individual, propondo modelos de
experimentação para o estudo dos fatos psíquicos.
ÚLTIMO PERÍODO DE SUA CARREIRA (1940-1947)

• Universidade de Havard (1940-1947);


• Massachusetts Institute of Technology, MIT (1945-1947);

- instituição celebre em pesquisas sobre ciências nucleares;


- funda e dirige o Research Center for Group Dynamics;
- data dessa época a criação do termo “dinâmica de grupo”;

• A primeira definição de grupo como social engineering, proposta por Lewin levou aos alunos
interpretarem (e executarem) a teoria e técnica como manipulação dos grupos, gerando tendências
que preocuparam o criador da teoria.
ALGUNS TRAÇOS DE LEWIN E SEU TRABALHO

• Lewin estimulava discussões em grupos com os alunos, não era dogmático ou pretendia criar teorias
hegemônicas que o colocassem em destaque, era avesso a dogmatismos:
“[...] Na maioria das vezes não se comportava como chefe, adotando com todos atitudes mais
democráticas e estabelecendo com seus colaboradores relações autenticamente igualitárias. Era atento
às opiniões e às sugestões não importando de onde viessem, muito respeitoso com as pessoas, sempre
pronto a ajudar, às vezes com certa obsequiosidade, seus alunos em suas primeiras hesitações a
começar suas pesquisas.” (MAILHIOT, 2013, p. 16)

• Gérald Bernard Mailhiot, autor dos textos desta disciplina foi orientando de doutorado de Kurt
Lewin, conhecendo tanto o intelectual como a pessoa que ali convivia com seus alunos.
UMA ETAPA DECISIVA PARA A PSICOLOGIA SOCIAL
(CAPÍTULO 2)
• Os precursores de Kurt Lewin foram responsáveis por definir o campo inicial da Psicologia Social;

• Auguste Comte (1793-1857), intelectual que desejava formalizar a Sociologia como campo
científico foi o primeiro a empregar o termo psicologia social e o fez criticamente:

“[...] a ciência da vida, a biologia; e a ciência da sociedade, a psicologia. Concluindo então,


imperturbavelmente, que seria inútil construir esta ciência intermediária que seria a psicologia social!”
(MAILHIOT, 2013, p. 19)
• Émile Durkheim (1858-1917), assim como seu antecessor, Comte, estava preocupado em consolidar
a Sociologia no campo científico, privilegiando-a em detrimento de outras vertentes, de modo que
ele também tinha uma visão negativa em relação à Psicologia Social;

“[...] A psicologia social é apenas uma palavra para designar toda espécie de generalidades, variadas e
imprecisas, sem objeto definido.” (Émile Durkheim Apud MAILHIOT, 2013, p. 19)

• A psicologia só poderia ser individual, tendo em vista que na França hegemonicamente o que
Durkheim observava era a psicofisiologia e estudos limitados a esse campo.
OUTROS PRECURSORES NA FRANÇA

• Gabriel Tarde (1843-1904), contemporâneo de Durkheim, postula a hegemonia da psicologia sobre


a sociologia: “[...] é o individual que explica em última análise o social e o coletivo: os instintos de
imitação das massas encontrariam sua explicação definitiva no instinto de invenção das elites.”
(MAILHIOT, 2013, p. 20)
• Félix Le Dantec (1869-1917), cientista biólogo, volta-se ao final da vida para a psicologia,
privilegiando o egoísmo como um instinto humano prevalecente: “[...] o social se explica pelos
instintos psíquicos primitivos. [...]” (idem, p. 20)
• Gustava Le Bon (1841-1931), ao dedicar-se a estudar as massas postula: “[...] todo fenômeno de
grupo [compara-se] a um fenômeno hipnótico, as massas sendo enfeitiçadas, dominadas e
manipuladas pelas elites.” (idem, p. 20)
PRIMEIRA FASE DA PSICOLOGIA SOCIAL (1908-1930)

• Se os franceses introduzem e popularizam o termo psicologia social no mundo acadêmico,


oferecendo as primeiras análises sociais, foram os anglo-saxões que sistematizaram e formalizaram
a psicologia social no campo científico como ciência autonôma;
• William MacDougall (1871-1929), psicólogo social e sociólogo inglês, teve um papel fundamental
inicialmente na Europa e em seguida e principalmente, a partir da década de 1920, nos Estados
Unidos de instituir o campo da Psicologia Social;

• John Dewey (1859-1952), pedagogo e filósofo norte-americano, influenciado por MacDougall


reinvindica a criação de cátedras de Psicologia Social, a Universidade de Havard é a primeira a
fazê-lo em 1917, tendo como primeiro professor Henry Holt e em seguida o próprio MacDougall.
WILLIAM MACDOUGALL, UM DOS PRECURSORES

• William MacDougall (1871-1929), psicólogo social e sociólogo inglês, publicou An introduction to


social psychology (1908);
- Professor da Universidade de Oxford;
- Professor de Psicologia Social na Universidade de Havard, a partir de 1920;
- Publica The group mind (1928), síntese de suas ideias sobre a Psicologia Social.
“[...] Para ele ‘tudo o que o sociólogo observa na ordem social resulta, consequentemente, de forças
mentais que compete ao psicólogo social determinar’. Estas forças mentais, constituídas pelos
instintos sociais, explicam, de acordo com MacDougall, tanto as condutas sociais ou comportamentos
em grupo quanto comportamentos coletivos. [...]” (MAILHIOT, 2013, 21)
• Nesta fase inicial, MacDougall distinguirá três fases na Psicologia:
- psicologia individual;

- psicologia coletiva;
- psicologia social.
“[...] a psicologia individual, que tem como objetivo revelar os traços fundamentais do indivíduo
humano; a psicologia coletiva, que trata especificamente do grupo e da mentalidade de grupo; a
psicologia social, que estuda a influência do grupo no indivíduo.” (MAILHIOT, 2013, p. 21)
• Essa primeira fase ficou marcada por duas tendências, podendo ser conhecida tanto como “fase
instintiva” como “fase psicopedagógica”, que podem respectivamente se remeter:

“[...] As condutas sociais e os comportamentos coletivos são interpretados primeiramente em termos


de forças sociais inatas, de instintos determinantes. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 22).

“[...] a psicologia social deve antes se preocupar em definir qual seria o meio social ideal mais
apropriado para favorecer a socialização do ser humano e sua ascensão à maturidade social. [...]”
(idem, p. 22)
SEGUNDA FASE DA PSICOLOGIA SOCIAL
(1930-1940)
• Após 1930, a Psicologia Social passa por uma crise do individualismo;
• As obras de Freud voltadas ao campo social são traduzidas para o inglês nesse período, provocando
novos estudos e polêmicas, são elas:
- Totem e tabu (1914);
- Psicologia das massas e análise do eu (1920);
- Mal estar da civilização (1930).
• A psicologia social nessa nova fase sob influência da Psicanálise e das condições históricas do
período (ascensão do fascismo e nazismo na Europa na década de 1930), passa a voltar-se para o
estudo da liderança (leadership).
• A Psicanálise cresce como campo de influência nos departamentos de Psicologia das universidades
inspirando pesquisas, mas também logo se torna objeto de crítica com os estudos culturais
comparados promovidos pela nascente Antropologia Cultural que dá ênfase nas particularidades
culturais de cada povo, discordando do modelo universal proposto pelos psicanalistas;

• Psicanálise e Antropologia Cultural acabam por ser encaradas respectivamente como reducionistas
(reduzem demasiadamente a análise a determinados conceitos e/ou pontos de vista) ou anexionistas
como promovendo interpretações restritas à pressões e/ou coerções socioculturais.
UM RESUMO

• Precursores (Comte, Durkheim, Tarde, Le Bon, etc.)


• Primeira fase (1908-1930): individualismo;

• Segunda fase (1930-1940): culturalismo.

• O principal objetivo nesse período inicial era buscar as leis fundamentais que pudessem explicar a
vida em sociedade:
UM BREVE QUADRO DA ÉPOCA

“MacDougall e os psicólogos sociais que lhe sucederam, de 1930 a 1940, nos Estados Unidos, não
tiveram outra preocupação dominante. Eles também buscam incansavelmente descobrir as leis
fundamentais que nos tornariam inteligíveis toda conduta social em qualquer contexto sociocultural.
Romperam com toda abordagem especulativa e filosófica. Trabalharam em laboratório, talvez de
forma demasiado exclusiva; suas preocupações mentais, seus esquemas de referência, sua
metodologia, suas hipóteses de trabalho são especificamente científicas. [...]” (MAILHIOT, 2013, P.
25)
ENFIM, LEWIN!

• Kurt Lewin ao iniciar suas pesquisas em Psicologia Social em 1936, rompe desde o início com os
seus precursores, fixando novos objetivos para o campo:

“[...] Suas pesquisas e seus trabalhos servirão desde o ponto de partida para clarear e elucidar a
dinâmica dos fenômenos de grupo muito circunscritos, com dimensões concretas e existenciais, nos
contextos de reestruturação ou de reorientação de uma ação social que se quer mais funcional, mais
eficaz, mais criativa.” (MAILHIOT, 2013, p. 26)
O INÍCIO DAS PESQUISAS DE GRUPO

• Lewin dirige seus estudos aos pequenos grupos ou microgrupos, classificando-os como face-to-face
groups;
• Ele acreditava não ter ferramentas para estudar grupos maiores, privilegiando o desvendamento dos
fenômenos psicológicos nos microgrupos, redirecionando a metodologia de pesquisa:
“[...] Ele mesmo demonstra, com suas próprias pesquisas e ilustra com suas descobertas pessoais, que
a exploração válida e fecunda dos fenômenos de grupo deve acontecer no próprio campo psicológico
em que se inserem e não ser reconstituídos, em escala reduzida, em laboratório. As variáveis de
qualquer fenômeno de grupo, em razão de sua essencial complexidade, não podem ser identificadas e
manipuladas a não ser no próprio campo, em uma perspectiva de ‘pesquisa-ação’.” (MAILHIOT,
2013, pp. 26-27)
• Lewin não estava em busca das leis fundamentais que pudessem explicar o indivíduo na sociedade,
como os seus antecessores;

• Interessava a ele estrategicamente compreender o funcionamento dos microgrupos para no futuro


criar condições e recursos metodológicos para estudar os macrogrupos;

• As contribuições de Kurt Lewin permitiram que da década de 1940 em diante a Psicologia Social
consolidasse sua identidade, distinguindo-se das outras Ciências Sociais
CONTRIBUIÇÕES DE KURT LEWIN QUE
INFLUENCIARAM SEUS SUCESSORES
• As contribuições de Kurt Lewin permitiram que a Psicologia Social se distinguisse da Antropologia
Social e da Sociologia:

“[...] a sociologia está habilitada e equipada experimentalmente para extrair das realidades sociais seus
aspectos formais ou suas estruturas; por seu lado, a antropologia cultural preocupa-se em perceber o
social nas suas dimensões históricas ou seus antecedentes, e a psicologia social, enfim, em suas
dimensões funcionais ou dinâmicas. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 29)

• As três áreas são interdependentes e complementares entre si.


CONTRIBUIÇÕES DE KURT LEWIN QUE
INFLUENCIARAM SEUS SUCESSORES
• Desde as contribuições de Lewin, explicitam-se duas abordagens da Psicologia Social:
• Condutas sociais:
“[...] A primeira [...] compreendia em seu sentido mais estrito, consiste em observar, identificar, definir
e interpretar as condutas sociais ou comportamentos de grupos. [...] elas [as condutas sociais] são
constituídas pelo tipo de comportamento que o ser humano adota ou não, segundo seu grau de
socialização, simplesmente porque vive em sociedade. A presença do grupo não é requisito para que
estes comportamentos surjam. Mas é por referência ao seu pertencimento a um grupo que eles são
adotados ou não. Pertencem a esta categoria de comportamentos o conjunto dos comportamentos por
meio dos quais o ser humano exprime ou não sua adesão às normas, aos valores, às convenções e às
coerções sociais. [...]” (MAILHIOT, 2013, pp. 29-30, grifos do autor)
CONTRIBUIÇÕES DE KURT LEWIN QUE
INFLUENCIARAM SEUS SUCESSORES
• Comportamentos de grupo:
“[...] Para que haja comportamento de grupo é preciso é preciso que vários indivíduos sintam as
mesmas emoções de grupo, que estas emoções de grupo sejam suficientemente intensas para integrá-
los e fazer deles um grupo, que, finalmente, o grau de coesão alcançado por estes indivíduos seja tal
que se tornem capazes de adotar o mesmo tipo de comportamento. Estes comportamentos de grupo
podem variar, em termos de duração, conforme sejam desencadeados por um agente externo, por um
agente provocador ou por um líder. A este tipo de comportamento pertencem entre outros fenômenos
de pânico, de rebelião, de multidão ou de populacho. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 30)
CONTRIBUIÇÕES DE KURT LEWIN QUE
INFLUENCIARAM SEUS SUCESSORES
• O avanço das pesquisas de Kurt Lewin atualizou o sentido de dinâmica dos grupos que passou a ser
compreendido restritamente ao estudo dos microgrupos, ao passo que a psicologia coletiva passou a
ser encarada como o estudo dos macrogrupos.

• Dinâmica dos grupos


“[...] Seu objetivo tornou-se o de oferecer uma compreensão científica de tudo o que a formação, o
crescimento ou a desintegração destes microfenômenos trazem como problemas ao psicólogo social.”
(MAILHIOT, 2013, p. 31)
CONTRIBUIÇÕES DE KURT LEWIN QUE
INFLUENCIARAM SEUS SUCESSORES
• Kurt Lewin distingue sociogrupo de psicogrupo.
• Sociogrupo

“[...] para ele, era o grupo de tarefa, isto é, o grupo estruturado e orientado em função da execução ou
da realização de uma tarefa. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 31)
• Psicogrupo
“[...] ao contrário, era definido como um grupo de formação, no sentido amplo da palavra, isto é, um
grupo estruturado, orientado e polarizado em função dos próprios membros que o constituem. [...]
(idem, p. 31)
AS MINORIAS PSICOLÓGICAS

• Kurt Lewin prioriza inicialmente estudar o seu próprio grupo étnico: os judeus;

• Expulso da Alemanha e testemunhando os eventos do antissemitismo antes, durante e depois da


Segunda Guerra Mundial, seu trauma pessoal se combina com seus interesses em pesquisa em
microgrupos;

• Os estudos iniciais com a comunidade judaica são generalizados para outros grupos a partir da
teorização das minorias psicológicas.
O CONCEITO DE MINORIA

• O conceito de minoria é diferente para a Demografia (área das Ciências Sociais que estuda a
dinâmica populacional) e para a Psicologia;

• Demografia (quantitativo) X Psicologia (qualitativo);

• Demografia (quantitativo):

- maioria: noção quantitativa em que maioria é 50% + 1;


- minoria é menos de 50% de uma amostra populacional.
O CONCEITO DE MINORIA

• Psicologia (qualitativo):
• Maioria psicológica: “[...] um grupo [...que...] dispõe de estruturas, de um status e dos direitos que
lhe permitem se autodeterminar no plano de seu destino coletivo, e isto independentemente do
número ou da porcentagem de seus membros. Assim, minorias demográficas podem constituir
maiorias psicológicas. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 34);
• Minoria psicológica: “[...] um grupo [...que...] seu destino coletivo depende da boa vontade ou está
à mercê de outro grupo. Tal grupo, mais ou menos conscientemente, percebe-se como menor, isto é,
não possuindo direitos completos [...] percebem-se e se reconhecem em estado de tutela. E isto
independentemente da porcentagem de seus membros em relação à população total onde vivem.
[...]” (idem, pp. 34-35)
O CONCEITO DE MINORIA

• Minoria discriminada X Minoria privilegiada

• Minoria discriminada: é o grupo que sofre discriminação, portanto, tem seus direitos e existência
ameaçado;

• Minoria privilegiada: é parte da maioria que se torna o grupo dominante que dirige os demais
(oligarquias, elites, etc.).
AS MINORIAS JUDAICAS

• Kurt Lewin dedica-se ao estudo das minorias focando inicialmente na comunidade judaica, o que
rende quatro estudos publicados:
- Psychosociological problem of a minority (1935);

- When facing danger (1939);


- Bringing up the jewish chilp (1940);
- Self-hatred among Jews (1941).

• O estudo de 1935 representa o esboço das primeiras formulações sobre o assunto que serão
desenvolvidas nos estudos seguintes.
AS MINORIAS JUDAICAS

• When facing danger (1939):


• Lewin realiza uma revisão histórica que compreende o contexto em que se inseria as comunidades
judaicas em diversos países;

• Neste estudo, ele observa que o povo judeu só teve direitos reconhecidos na Europa ocidental após a
Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789);
• A discriminação no passado partia de outras religiões e com o nazista e o fascista partia da ciência;
• Kurt Lewin inova ao propor em seu estudo que a questão judaica ou das minorias judaicas é
essencialmente social.
AS MINORIAS JUDAICAS

• When facing danger (1939):

“O problema judaico é um problema social. Mais explicitamente: o antissemitismo tem como


fundamento, toda vez que se manifesta, a necessidade para a maioria de um bode expiatório. É preciso
ainda deixar claro, segundo Lewin, que, quando se trata de maioria, seria preciso falar mais
exatamente de uma minoria privilegiada que consegue mobilizar e manipular para seus fins uma
massa ou uma multidão cuja agressão em relação a uma minoria rejeitada [ou discriminada] ela
canaliza. [...]” (MAILHIOT, 2013, p. 38)
AS MINORIAS JUDAICAS

• Bringing up the jewish child (1940):


• Os estudos de Kurt Lewin na área da Psicologia da Criança influenciam este estudo;

• O indivíduo se sente seguro quando as condições do grupo que pertencem, permitem segurança;
• Logo quando o grupo a que pertence não possui status social, produz-se insegurança;
• O meio familiar constitui um campo de forças [one dynamic field], cuja influência define o
indivíduo (normas, valores, tabus, mitos, etc.);
AS MINORIAS JUDAICAS

• Bringing up the jewish child (1940):


“Lewin conclui este estudo com a considerações de ordem pedagógica deduzidas daquilo que lhe
parece ser fundamental na socialização do ser humano: não é pertencer a vários grupos que é a fonte
de conflito, mas é a incerteza sobre seu próprio pertencimento a um grupo determinado. [...]”
(MAILHIOT, 2013, p. 40)
“[...] assim como é benéfico para a criança adotada conhecer logo sua condição, a criança que pertence
a um grupo minoritário deveria logo, assim que lhe for possível assimilá-lo emotivamente, que seu
grupo é objeto de humilhações, de discriminações em uma situação não privilegiada. Quanto mais os
pais e os educadores demoram a revelá-lo, mais eles arriscam comprometer sua adaptação social. [...]”
(idem, pp. 40-41
AS MINORIAS JUDAICAS

• Self-hatred among jews (1941):


• Estudo do sentimento de autodepreciação, partindo de dois livros, ambos de 1930:

- O ódio de si entre judeus, de Lessing;


- Island Within, de Ludwig Levisohn.
• Kurt Lewin se opõe às conclusões de ambos os autores, seja na perspectiva científica ou literária;

• Ele sustenta que as minorias judaicas devem ser estudados a partir de um ponto de vista social,
considerando-se seu desenvolvimento histórico e seus estudos posteriores, mas expande sua
investigação considerando-as sob três fenômenos: de grupo, individual e social.
AS MINORIAS JUDAICAS COMO
FENÔMENO DE GRUPO
• O ódio de si pode comparecer dentro da própria comunidade judaica;

• Judeus atacando membros de seu próprio grupo ou valores da comunidade;

• Judeus imigrantes atacando judeus alemães, como se estes fossem representantes do nazismo (na
época a Alemanha que assassinou e obrigou milhares de judeus a imigrarem era sinônimo de
nazismo).
AS MINORIAS JUDAICAS COMO
FENÔMENO INDIVIDUAL
• Existe uma variedade de casos neste grupo;

• Indivíduos que atacam o grupo judeu ou não se identificam com uma parte do grupo;

• Alguns atacam a si mesmos, recusando-se a se aceitarem como judeus e consequentemente cedendo


a mecanismos de autopunição e autoacusação;

• Ataque contra a instituição judaica (língua, costumes, tradição, etc.).


AS MINORIAS JUDAICAS COMO
FENÔMENO SOCIAL
• Lewin enfatiza a perspectiva do ódio de si como fenômeno social;
• Ele critica os trabalhos de Lessing e Levisohn, por basearem-se nas teses freudianas para classificar
o ódio de si dos judeus como sintoma neurótico, individualizando-o;

“[...] Kurt Lewin recusa-se a querer explicar desta maneira o ódio de si entre os judeus. Se assim fosse,
ele argumenta, estaríamos em presença de um dado da natureza e deveríamos então nos surpreender
por não encontrar no mesmo grau o ódio de si entre ingleses, italianos, alemães e franceses em relação
aos seus próprios compatriotas? [...] E Lewin acaba concluindo que, ao contrário, parece que este ódio
de si, não obstante os diversos graus segundo os quais ele se manifesta, depende muito mais das
atitudes que cada indivíduo adotou em relação ao problema judaico do que das estruturas mentais ou
emotivas de sua personalidade.” (MAILHIOT, 2013, pp. 43-44)
AS MINORIAS PSICOLÓGICAS

• Kurt Lewin generaliza suas teses desenvolvidas a princípio com as minorias judaicas para outros
grupos sujeitos a segregação, como os afro descentes norte-americanos e a segunda geração de
imigrantes nos Estados Unidos;

• Ressalta-se, Lewin, recusa-se a compreender o ódio de si como um fenômeno psicopatológico,


apesar do mesmo gerar sintomas e sofrimentos identificados com os componentes neuróticos, não
se deve ignorar os fatores sociais que o produzem e sua historicidade, trata-se de um fenômeno
sociopsicológico.
AS MINORIAS PSICOLÓGICAS

• Cultural Reconstruction (1943):

• Os estudos realizados na comunidade judaica são generalizados para outros grupos, estabelecendo-
se como tese fundamental:
“[...] As minorias psicológicas são sociais em sua origem, em suas estruturas e em sua evolução. Sua
dinâmica é essencialmente social. Por isso a sobrevivência dos grupos minoritários não pode ser
garantida senão a partir do momento em que eles tomam consciência deste dado fundamental e
consentem a aceita-lo.” (MAILHIOT, 2013, p. 47)
O DEVIR DAS MINORIAS

• Kurt Lewin compreende que o devir das minorias se compreende somente na dimensão de sua
sobrevivência:
• Assimilação: as minorias que perdem a fé em sua existência e cedem à maioria, permitindo ser
assimiladas por outros valores;
• Integração: as minorias que optam pela sobrevivência integrando-se com a maioria, cedendo à
valores comuns e evitando o que as distancia;
• Independência total: as minorias que apostam na separação total do grupo, justificando sua plena
emancipação na defesa de sua identidade, valores e tradições, visando conservar a integridade de
sua cultura.
REFERÊNCIAS ADICIONAIS

• A imagem de Kurt Lewin foi retirada da seguinte fonte:

https://psicoativo.com/

https://psicoativo.com/2016/09/quem-foi-kurt-lewin.html

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