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Três pontos importantes para a história da psicologia social: primeiro, (a) resgataremos alguns
pontos fundamentais da história que foram, senão deliberadamente, ao menos ingenuamente
“esquecidos” da história da psicologia social. Dentre outros, destacaremos, o que foi chamado
de o “repúdio positivista de Wundt”. Em segundo lugar, (b) tentaremos mostrar que a história
da psicologia social narrada até o momento, excessivamente trabalhada nos cursos de
graduação em Psicologia no país e no mundo, são permeadas por uma filosofia da ciência
claramente vinculada ao positivismo. Decorre daí que a própria perspectiva histórica dos
acontecimentos levam de forma indelével a marca do positivismo. Finalizamos este tópico (c)
com a perspectiva de narrativa histórica da psicologia social apresentada por Farr (1996),
apontando para a importância e influência de determinadas instituições e fatos históricos no
desenvolvimento da psicologia social. Com isto, enfocamos a história da psicologia social
através de um olhar crítico sobre o desenvolvimento da própria psicologia social.
Wilhelm Wundt (1832-1920), que é por muitos considerado o pai da psicologia, era um filósofo
e estudioso extremamente metódico. Por volta de 1860, estabeleceu três objetivos para sua
carreira profissional:
Seu primeiro objetivo era a construção de uma psicologia experimental ou também conhecido
como o projeto wundtiano de estabelecer um projeto de psicologia como ciência
independente. Objetivo este alcançado pela criação do Laboratório em Psicologia em 1879 em
Leipzig, através da criação de uma psicologia experimental da mente, com seu objeto de
estudo definido: a experiência imediata à consciência; assim como seu método: experimental-
introspectivo.
Seu segundo objetivo, elaborado entre 1880 até 1900, era a criação de uma metafísica
científica ou uma filosofia científica. Aqui Wundt elabora três obras que compõem sua
metafísica científica: uma de Lógica (conjunto de estudos que visam determinar quais são os
processos intelectuais ou as categorias racionais para a apreensão do conhecimento), uma de
Ética (conjunto de estudos dos juízos de apreciação da conduta humana) e uma de Sistemas
Filosóficos (conjunto de estudos das principais concepções filosóficas para Wundt).
O terceiro objetivo wundtiano era a criação de uma psicologia social. Entre 1900 e 1920,
Wundt elabora sua Volkerpsychologie (Psicologia do povo ou Psicologia das massas). Uma obra
de 10 volumes, onde Wundt elabora sua psicologia social, tendo como objeto de estudo,
principalmente, temas como a Linguagem, Pensamento, Cultura, Mitos, Religião, Costumes e
fenômenos correlatos. Para Wundt, tais temas são fenômenos coletivos que não podem ser
explicados nem reduzidos à consciência individual. Não somente seu objeto de estudo
primeiro (consciência) era incapaz de fornecer subsídios para suas explicações, como seu
método (experimental-introspectivo) também era limitado a pequenos experimentos de
laboratório.
Ao invés de tratarmos da história da psicologia social através das teorias e autores da Era
Moderna, preferimos lidar com a perspectiva adotada, principalmente, por Robert Farr (1996),
quando releva a importância de fatos, instituições e pesquisas publicadas para o surgimento e
desenvolvimento de um determinado conhecimento. Neste sentido, procuraremos destacar a
influência do positivismo, provocando distorções na historiografia da psicologia social no
mundo ocidental. Assim, o próprio Farr (1996), de imediato, destaca a importância, por
exemplo, das guerras para a psicologia social, ao afirmar que a psicologia social está para a
Segunda Guerra Mundial assim como os testes psicométricos estão para a Primeira Guerra
Mundial.
Farr (1996) acredita que a psicologia social na Era Moderna é um fenômeno tipicamente
americano, embora suas raízes sejam europeias.
Finalizamos este terceiro tópico resgatando seu objetivo: o de mostrar ao menos duas formas
diferentes de história da psicologia social: uma primeira com forte influência positivista,
centrada em ideias e determinados autores, e uma segunda, apresentada por Farr (1996),
centrada em instituições e fatos históricos.
No Brasil assim como em quase toda a América Latina, nas décadas de 1960 e 1970, a
psicologia social seguia um rumo muito próximo à forma de psicologia social importada dos
Estados Unidos.
A Abrapso surge em 1980 no Brasil através da mão de alguns pesquisadores, dentre tantos
outros, Silvia Lane. Lane e Codo organizam em 1984 a obra marco da ruptura da psicologia
social brasileira: “Psicologia social: o homem em movimento”. Aqui o rompimento com a
psicologia social norte-americana está claramente colocado. A discussão de fundo é como
extrair entidades psicológicas de fenômenos sociais.