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Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Autores Clássicos da Antropologia I
OBJETIVO
DE APRENDIZADO
• Definir os principais autores da Antropologia contemporânea.
UNIDADE Autores Clássicos da Antropologia I
Marcel Mauss nasceu em Epinal, França, em 1872, no seio de uma família judaica. Era
sobrinho de Émile Durkheim (1858-1917), que o
influenciou significativamente em suas escolhas
acadêmicas futuras. Para o aprofundamento das pesqui-
sas de Claude Levi-Strauss, recorra
Quando jovem, decide estudar Filosofia, espe- ao Material Teórico das unidades
anteriores.
cializando-se no estudo das religiões “primitivas”,
na Universidade de Bordeaux.
Concluído o Curso, Mauss vai para Paris trabalhar com Durkheim em sua revista,
Anné Sociologique.
O Jornal fundado por Émile Durkheim, em 1898. Foi publicado até 1925. O jornal sofreu algu-
mas alterações de nome, mas continua sendo publicado até hoje como L’Anné Sociologique.
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Político socialista francês (1859-1914).
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É no período entre guerras que Marcel Mauss escreve suas principais obras, como,
por exemplo, Ensaio sobre a Dádiva, de 1925, adquirindo reconhecimento internacio-
nal por suas pesquisas e dedicação à Antropologia.
Livro que aborda os métodos de troca entre as Sociedades primitivas. A obra é tida como
uma das mais importantes do gênero para a Antropologia e Sociologia.
O estudo estabelecido na obra torna-se conhecido por seu caráter etnográfico, antro-
pológico e sociológico, em que o papel das trocas (objetos) entre os grupos figura como
base para suas relações sociais na composição do que chamamos de Economia social
(doador-receptor, lógica do dom e contra-dom etc.).
Seu empenho profissional e estudos levam Mauss a se casar tardiamente, aos 62 anos.
O fim de sua vida é dedicado quase que integralmente à sua família, até sua morte em
Paris, de causas desconhecidas, em fevereiro de 1950.
Quando falamos de seu legado, Mauss seguiu os passos de Durkheim, no que tange
aos conceitos sobre Sociologia e fatos sociais. Porém, ele se distanciava de seu tio em
alguns pontos e propunha uma reformulação nas teorias durkheimianas.
Fato Social: Para Durkheim, social é todo o fato que é geral, que se repete para a maioria
dos indivíduos.
Partindo das três características dos fatos sociais: coerção (fatos psicológicos ou or-
gânicos que são impostos aos indivíduos), exterioridade (fatos sociais que independem
da vontade do indivíduo para existir) e generalidade (os fatos sociais não estão isolados
dentro de um contexto histórico), Mauss propõe uma reformulação desses conceitos.
Émile Durkheim dizia que os fatos sociais possuem três características: coerção,
exterioridade e generalidade; e que se distinguem dos fatos orgânicos ou psico-
lógicos (COSTA, 2010, p. 39).
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Mauss não enxerga o fato social como “coisa”-teoria sugerida por Durkheim, em que
o fenômeno é algo externo ao pesquisador e passível de observação objetiva –, ele pro-
punha um olhar mais abrangente, em que todos os aspectos do contexto e da realidade
(psicológico, físico e social) do objeto de estudo seriam avaliados e estudados, sendo
seus resultados compartilhados entre esses diferentes aspectos que compunham o fato
social. Esta, segundo Laplantine, é a concepção da teoria do fenômeno social total
(LAPLANTINE, 2003, p. 90).
Importante!
Nesse conceito, Mauss procura analisar, de forma integrada, os aspectos sociais com os
aspectos fisiológicos e psicológicos. O intuito é ampliar os estudos de forma a contem-
plar todas as dimensões reais do objeto de estudo.
Com um foco voltado para o indivíduo e sua relação com a Sociedade em que está in-
serido, Mauss propunha mais autonomia para a Antropologia e um olhar mais abrangente
a tudo que cerca o objeto de estudo, tornando-se um dos fundadores da autonomia social.
Ao mesmo tempo em que tenta elevar o status da Antropologia, ele também exige
uma pluridisciplinaridade no estudo do objeto de pesquisa.
Analisando os conceitos estabelecidos por Mauss, ele não desconecta suas novas
ideias das Teorias de função e consenso social, estabelecidas por Durkheim, não o
bstante
defenda uma nova morfologia social – a comparação de sociedades como um dos obje-
tivos da Sociologia.
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As sociedades, devido às diversas variáveis, são incomparáveis (para Mauss), sendo
fundamental um estudo empírico local.
O foco dos estudos de Mauss passou a ser o simbolismo “não só no plano das tran-
sações, como comunicação, onde era eficiente, mas a complexidade da eficiência destes
símbolos” (COSTILHA, 2011).
Dessa forma, Mauss poderia ir além dos dados estatísticos e comparativos, mas po-
deria ter acesso à essência dos fatos sociais, da sociedade e dos indivíduos.
Após sua formação, seus trabalhos e sua dedicação à adaptação dos conceitos de
Durkheim às novas propostas de pesquisas sociais o levaram para a docência.
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Não se limitou à sala de aula, atuando também em campo. Sua primeira pesquisa de
campo foi nas Ilhas Andamam, no Golfo de Bengala, próximo à Mianmar.
Em seus estudos, Radcliffe baseia parte de suas ideias em Durkheim, de quem adap-
tou os métodos de estudo de civilizações primitivas, também acreditava que essas civili-
zações possuíam Instituições sociais integradas com a finalidade de satisfazer as neces-
sidades dos membros do grupo no qual elas se inseriam.
Em Síntese
Função de um costume ou hábito numa dada sociedade pode ser entendida como sua
contribuição para o todo social, pensando-se como um conjunto integrado de partes.
Funcionalismo é uma Escola desenvolvida nas Ciências Sociais, tendo por modelo as
ciências naturais e biológicas. Transposto para o estudo das sociedades, esse princípio
pretendia entender a função das instituições, das crenças e da cultura na manutenção,
no equilíbrio e na conservação da sociedade (COSTA, 2010, p. 194).
Criança Padong, nativos da Tailândia. As argolas são adornos para embelezamento das
mulheres. Disponível em: https://bit.ly/3kggYaE
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Seguindo métodos análogos aos de Durkheim, a comparação de civilizações inicia
um combate, modesto evidentemente, a preconceitos e a estereótipos com os quais o
senso comum europeu analisava as culturas diferentes das deles e que, por intermédio
dos antropólogos, estavam chegando ao velho continente.
De acordo com Costa: [...] foram eles, Radcliffe e Malinowski, que desenvolveram
um método científico eficiente-e ao mesmo tempo responsável-de estudo das diferentes
culturas, respeitando suas especificidades (grifos nossos) (COSTA, 2010, p. 196).
Importante!
A principal Teoria de Sociedade, desenvolvida por Radcliffe-Brown, baseia-se na com-
preensão do significado que uma instituição ou estrutura possui dentro de uma socie-
dade, que pode estar ligado ou não à sua função social. Esse significado, para Radcliffe,
é a razão da manutenção da estrutura e da integração social, sendo crucial para a sobre-
vivência dos grupos sociais (MARCONI; PRESOTTO, 2014, p. 258).
Marconi e Presotto ressaltam, nesse sentido: sua abordagem pode ser considerada
estrutura-funcional, isto é, uma instituição social tem a função de contribuir para a manu-
tenção e continuidade da estrutura da sociedade (MARCONI; PRESOTTO, 2014, p. 258).
Radcliffe-Brown tem obras importantes para Antropologia como Ciência. Entre elas,
destacam-se: Sistemas políticos africanos de parentesco e casamento (1950) e Es-
trutura e função na sociedade primitiva (1952).
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James Frazer (1854-1941), professor e antropólogo escocês.
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Vale notar que a influência de Frazer daria origem ao grupo de estudiosos da Univer-
sidade de Cambridge, conhecido como os “Ritualistas de Cambridge”, sob a liderança
de Jane E. Harrison, e participação de importantes estudiosos da Filosofia, Filologia,
História e Letras Clássicas dessa Universidade.
Conheça o livro que inspirou Malinowski: O ramo dourado, Sir James George Frazer, Oxford:
Zahar, 1982.
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Charles Gabriel Seligman (1873-1940), professor e antropólogo, pioneiro britânico no estudo de civilizações na
Melanésia, Ceilão e Sudão.
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Na década seguinte, fixa residência em Londres, onde leciona na London School of
Economics (LSE), sendo, posteriormente, reconhecido como professor de Antropologia
Social pela Universidade de Londres e, em 1924, torna-se reitor da LSE, permanecendo
no cargo até 1938, quando vai para os Estados Unidos.
Bronislaw Kasper Malinowski morre aos 58 anos, em maio de 1942, na cidade ame-
ricana de Connecticut.
Malinowski tem como tema central de seus estudos a cultura. Partindo desse ponto,
estabelece alguns conceitos sobre a natureza humana.
Importante!
A cultura é o instrumento pelo qual o homem satisfaz essas necessidades. Ela (cultura)
é dividida em partes e cada uma dessas partes desempenha uma função social, sendo
todas elas independentes e interligadas, configurando uma estrutura social. Essas es-
truturas, ou instituições, são os meios pelos quais o homem e seu grupo alcançam a
satisfação de suas necessidades.
Para adaptar seus novos conceitos aos conceitos de funcionalismo e de função so-
cial, Malinowski desenvolve o conceito metodológico de observação participante, que
revolucionou os estudos antropológicos ao substituir uma investigação laboratorial, ou
seja, (dentro de um Laboratório ou Escritório) afastada de seu objeto de pesquisa, por
uma investigação local, em que esteja inserido, como partícipe, no contexto social de
seu objeto, conceito também sugerido por Marcel Mauss.
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Apesar dessas críticas, que o próprio Malinowski fez questão de fomentar, o seu
legado permanece e é inquestionável, ainda nos dias de hoje. Suas principais obras
foram: Argonautas do Pacífico Ocidental (1922), Crime e costume na sociedade
selvagem (1926), Sexo e repressão na sociedade selvagem (1927) e A vida sexual
dos selvagens (1929).
Instituição social é uma forma de organização social. A sociedade está repleta de institui-
ções sociais, concretas e abstratas: a família, a igreja, a escola e as Ongs são exemplos de
instituições sociais (LAKATOS, 2010).
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Evans-Pritchard direciona seus estudos etnográficos para a África, onde conhece o
povo Anzande, no Sudão egípcio.
Na década de 1930, muda o foco de seus trabalhos – que até então tinha um viés
social, inspirado em Malinowski, adquirindo um caráter mais cultural, inspirado pelos
estudos de Radcliffe-Brown.
Garota Nuer com suas cicatrizes decorativas, característica desta etnia: https://bit.ly/3kgb2OD
Nos anos 1940, Evans-Pritchar escreve suas principais obras, Os Nuer e o African
Political System.
Com a notoriedade adquirida em seus trabalhos, foi convidado a lecionar nos Estados
Unidos nas Universidades de Chicago e Stanford. Voltou para a Inglaterra na década de
1970, aposentando-se e, em seguida, pelo reconhecimento de sua obra, condecorado
Sir Evans-Pritchard, em 1971. Faleceu em Oxford, em setembro de 1973.
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Como afirma Adam Kuper, seus textos monográficos devem ser compreendidos no
contexto de um esforço consciente para desenvolver uma abstração estrutural na análise
etnográfica (KUPER, 1978, p. 89, apud STEIL; TONIOL, 2014.).
Segundo Evans-Pritchard, essa estrutura não é palpável, é uma estrutura abstrata que
deriva da análise do comportamento dos membros da Sociedade pesquisada. Relacio-
nando essas estruturas abstratas entre si, podem-se conhecer as essências culturais que
formam essa sociedade; assim como propôs Malinowski (EVANS-PRITCHARD, 1962,
p. 23, apud: STEIL; TONIOL, 2014).
Em Síntese
O método etnográfico de Evans-Pritchard se resume a três fases:
1) Compreender os principais aspectos culturais da Sociedade, traduzindo esses aspectos
para a cultura do antropólogo;
2) Decodificar as estruturas sociais e culturais, sendo elas resultantes do comportamento
dos membros da Sociedade analisada;
3) Comparar as estruturas sociais de diferentes Sociedades.
Uma dica cinematográfica é o filme Medicine Man, de 1992, dirigido por John Mac Tieman e
estrelado por Sean Connery. Apesar de antigo, o filme contempla uma boa abordagem da roti-
na e das circunstâncias envolvidas em um trabalho de campo. O pesquisador Robert Campbell
(interpretado por Connery) se isola em uma tribo indígena na Amazônia brasileira em busca da
cura para o câncer. A chegada de uma assistente (a bioquímica Rae Crane), expõe as dificulda-
des em sua ‘‘adaptação’’ aos hábitos e à cultura dos nativos, enquanto se veem às voltas com
suas próprias buscas científicas. Veja o trailer, disponível em: https://youtu.be/1kbjNmOxwIU
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
London School of Economics and Political Science
O sítio eletrônico da Biblioteca da London School of Economics and Political
Science disponibiliza as fotos tiradas pela Equipe de Malinowski durante sua
permanência nas Ilhas Trobrinad (em inglês. (COSTA, 2010, p. 223).
https://bit.ly/37s7rsL
Filmes
Lixo extraordinário
O documentário do renomado artista plástico Vik Muniz problematiza o que
fazemos com o nosso lixo, mostrando que o “lixo pode virar artigo de luxo”. Assista
e reflita nas questões que aborda no documentário levando em conta o combate aos
estereótipos de Radcliffe-Browm.
https://youtu.be/_pyR9qCd2F8
Leitura
Antropoliogia I
Para compreender melhor o método funcionalista de Malinowski, veja o blog.
https://bit.ly/37bPQVN
Os Nuer
Para entender melhor os nuer estudados por Evans-Pritchard, acompanhe o Artigo
de Rodrigo Petrônio e sua recente pesquisa da FAPESP. Lá você vai compreender
um pouco da Sociedade de grupo tão importante para os antropólogos.
https://bit.ly/37iSM30
“Os Nuer” ou “A responsabilidade da Antropologia”
Ainda sobre os Nuer, pesquise as perspectivas atuais da Antropologia no blog
de Felipe Angiolucci.
https://bit.ly/33lUa3y
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Referências
COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 4.ed. São Paulo: Moderna, 2010.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Sociologia Geral. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
STEIL, C. A.; TONIOL, R. In: ROCHA, E.; FRID, M. (org.). Os antropólogos. Local:
PUC-Vozes, 2014.
Sites Visitados
Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora, 2003-2015. Dispo-
nível em: <http://www.infopedia.pt/$observacao-participante>. Acesso em: 13/02/2015.
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