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Métodos em Antropologia
Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Métodos em Antropologia
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Ver quais são os principais referenciais teórico-metodológicos e técnicas utilizados na pesquisa
antropológica, bem como as questões relativas à validação epistemológica da Antropologia;
• Verificar o que permite caracterizar o conhecimento produzido pela Antropologia como
“científico” e as possíveis caracterizações desta na área das ciências humanas e sociais, con-
forme seu aporte;
• Compreender melhor a Antropologia como área de conhecimento científico.
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Contextualização
Leia atentamente a notícia publicada no portal do jornal português “Expresso das Nove”,
de 12 de julho de 2011, disponível em: https://bit.ly/3iDfMx7
Algo que aparece muito claramente no texto veiculado é que, antes de os arqueólogos
se precipitarem a comunicar o que pensam ser um “achado” acerca de civilizações do
passado, é preciso ter certeza de que a informação com a qual trabalham é verdadeira.
Uma boa alternativa é utilizar e validar o método. São os métodos que orientam
rigorosamente os procedimentos de investigação científica, propondo diferentes técnicas
de abordagem dos objetos de interesse da ciência antropológica.
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A Dimensão Epistemológica
dos Estudos Antropológicos
Em termos epistemológicos, a Antropologia define-se como Ciência Humana, uma
vez que privilegia o estudo da dimensão cultural da existência humana (costumes, tradi-
ções, morais, indumentária, estética etc.), cujos caracteres são transmitidos por meio de
processos de aprendizagem; também como Ciência Social, já que aborda, ainda, a exis-
tência humana no âmbito dos grupos aos quais os homens pertencem ou com os quais
interagem, tecendo teias de relações sociais; e, por fim, como Ciência Natural, pois não
escapa ao seu escopo a dimensão biotípica do Homem, ou seja, suas características
físicas, hereditariamente determinadas ou influenciadas pelo meio natural.
Não se deve esquecer, também, de uma dimensão mais reflexiva, que tem como cer-
ne o intelecto do Homem, fazendo parte de uma Antropologia Filosófica que, associada
à Filosofia, é outra vertente do pensamento antropológico. É imprescindível dizer
que aquilo que permite que determinado campo de investigação seja efetivamente dado
como ciência é o recurso ao método. Por sua vez, o método consiste em etapas defini-
das do processo de investigação científica. Uma ciência também é a natureza de seus
objetos de investigação e, dependendo de sua constituição, um tipo de método é mais ou
menos adequado para o seu estudo. Desse modo, os métodos das ciências naturais são
tão distintos daqueles das ciências humanas, e os destas, por sua vez, dos das sociais.
Para qualquer ciência, é primordial um objeto sobre o qual será aplicado determinado
método de investigação. Vamos chamar esse objeto de fenômeno. Ora, facilmente po-
demos identificar que a Psicologia, por exemplo, investiga fenômenos do comportamento
humano; que a Economia estuda fenômenos econômicos; que a Climatologia estuda
fenômenos climáticos etc. E na Antropologia, qual ordem de fenômenos é estudada?
Sabemos que seu objeto, muito objetivamente, é a relação dos homens com ou-
tros homens e com o meio.
Poderia haver objeto mais amplo? Ou, como queiram, menos preciso?
Ocorre que as ciências, pelo rigor metodológico que direciona seus procedimentos,
carecem exatamente de objetividade. Como ser objetivo com um objeto tão complexo
ou mesmo subjetivo?
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Isso dito para que possamos compreender que, desde uma perspectiva epistemológica,
muitos e diversos são os métodos que constituem a ciência antropológica.
O que os conecta são as etapas e o rigor com o qual estas devem ser cumpridas: obser-
vação e classificação dos fenômenos, coleta empírica de dados, análise dos dados coleta-
dos, estabelecimento de correlações entre fenômenos distintos e, por fim, generalizações.
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A pesquisa antropológica, por constituir-se como científica, não apenas utiliza um mé-
todo e um conjunto de técnicas, mas, concomitantemente, pode valer-se de mais de uma
abordagem metodológica e de técnicas distintas para o estudo do mesmo fenômeno.
O que faremos a seguir é elencar os principais métodos em Antropologia, associando
a eles as técnicas mais usuais.
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O método estatístico
É utilizado para quantificar e demonstrar estatisticamente, por meio de gráficos, da-
dos que possam se referir tanto à dimensão biológica da Antropologia quanto à social
e à cultural.
Figura 3
Fonte: Freepik
Método etnográfico/etnológico
Consiste no registro (origem do termo “grafos”, de “grafia”) sobre os modos de vida
de determinada sociedade.
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A etnografia era o estudo dos povos considerados sem grafia (e, muitas vezes, sem
história). Aqui cabe fazermos uma rápida distinção sobre a etnografia e a antropo-
logia: “Em termos esquemáticos, antes do final do século XIX, o etnógrafo e o antro-
pólogo, aquele que descrevia e traduzia os costumes e aquele que era construtor de
teorias gerais sobre a humanidade, eram personagens distintos” (CLIFFORD, 2008,
p. 8). Como aponta James Clifford, o método etnográfico foi conduzindo a atividade
do antropólogo, sobretudo, no contexto colonial quando a Antropologia Cultural e a
Social se constituíram como disciplinas importantes nas ciências.
O método etnográfico observa as experiências dos grupos étnicos, buscando, por
meio da observação, compreender suas características socioculturais. Através da
etnografia, a cultura ocupa um lugar privilegiado, visto que se quer atingir a percep-
ção dos povos e grupos de indivíduos.
A evolução da Antropologia fez com que substituíssemos a palavra “Tribo” por “Etnias” e,
mais tarde, por “Grupo Étnico”. Além de esvaziar os preconceitos, a mudança de denomina-
ção demonstra algo mais específico, ou seja, os grupos étnicos com as suas diversas espe-
cificidades culturais.
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Método estrutural
O método estrutural foi usado no início da antropologia pensando analisar as di-
versas estruturas contidas dentro das comunidades. Compreender essas estruturas foi,
durante muito tempo, o mote da disciplina antropológica e trouxe a curiosidade sobre o
funcionamento das sociedades fora do continente europeu.
Foi, ainda, devido ao método estrutural, cuja meta era perceber parte do exótico do
excêntrico, que muitos pesquisadores preferiram adentrar as comunidades nos continen-
tes africanos e asiáticos. Essa análise trouxe novos campos de interesse e esses cientistas
precisaram se despir das suas noções ocidentais para compreender as estruturas dos
outros grupos étnicos em questão.
Método genealógico
Permite a reconstrução de todas as teias de parentesco que conectam o indivíduo a
uma identidade partilhada no âmbito da família, das redes de matrimônio, das normas
de sucessão e de hereditariedade, dos direitos e deveres de um sobre o outro na institui-
ção familiar, das morais acerca da sexualidade etc.
Figura 5
Fonte: Adaptado de Freepik
A origem de determinado grupamento pode, também, vir à luz por meio da pesquisa
genealógica, que permite, dentre outras coisas, identificar antepassados e chegar a nú-
cleos formadores simples de sociedades complexas.
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São necessários dados que possam levar à construção da árvore (ou árvores) genealó-
gica que se deseja erigir, valendo tanto de informações orais quanto documentais acerca
de matrimônios, descendências, nascimentos, mortes etc.
É importante chamar a atenção para o fato de que sistemas de parentesco, que cons-
tituem a base do método genealógico, não estão pautados exclusivamente na consangui-
nidade, em sociedades monogâmicas e patriarcais, como as do Ocidente complexo, mas
podem assumir as mais distintas formas, sendo imprescindível ao antropólogo relativizar
essas práticas para chegar ao profundo da sua compreensão.
Método funcionalista
Foca os aspectos funcionais de sistemas culturais, ou seja, tanto se preocupa com o modo
como funcionam, efetivamente, determinadas práticas, quanto foca seus esforços compreen-
sivos sobre a função que essas práticas acabam cumprindo no contexto do grupo.
As funções a serem identificadas passam, também, pelas articulações que constituem
não só as culturas, mas complexos culturais que interligam distintos sistemas.
A funcionalidade é fator determinante da identidade cultural e identificá-la pode ser
etapa fundamental para a compreensão da dimensão cultural da existência humana.
Técnicas em Antropologia
A título de sistematização, a tabela a seguir apresenta as mais recorrentes técnicas
utilizadas na pesquisa antropológica, além de suas mais básicas funções e objetivos.
Por meio dessas definições, podemos perceber como a Antropologia é uma ciência
baseada em diferentes métodos e comprometida com o rigor necessário para as análises
dos indivíduos, das sociedades e da cultura como um todo. Diversas vezes os métodos
são utilizados de maneira correlata, tudo em função das análises das quais se quer fazer
e das hipóteses que se busca comprovar.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O Lugar da Cultura
BHABHA, H. O Lugar da Cultura. 1994.
Os Argonautas do Pacífico Ocidental
BRONISLAW, M. Os Argonautas do Pacífico Ocidental. 1922.
Os mortos e os outros
CARNEIRO DA CUNHA, M. Os mortos e os outros. 1978.
Evolucionismo Cultural: textos de Morgan, Taylor e Frazer
CASTRO, C. Evolucionismo Cultural: textos de Morgan, Taylor e Frazer. Editora
Zahar, 115 p. 2005.
Arqueologia da violência – Antropologia Política
CLASTRES, P. Arqueologia da violência – Antropologia Política. Cosac Naify. 2004.
Aprender Antropologia
LAPLANTINE, F. Aprender Antropologia. Editora Brasiliense, 206 p. 2009.
Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches
LATOUR, B. Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches. Editora
EDUSC. 2002.
Jamais fomos modernos
LATOUR, B. Jamais fomos modernos. 157 p. 1991.
A oleira ciumenta
LÉVI-STRAUSS, C. A oleira ciumenta. Edições 70, 248 p. 2010.
Mito e significado
LÉVI-STRAUSS, C. Mito e significado. Edições 70, 85 p. 2007.
Tristes trópicos
LÉVI-STRAUSS, C. Tristes trópicos. Companhia das Letras, 456 p. 1996.
De perto e de longe
LÉVI-STRAUSS, C. De perto e de longe. Cosac & Naify. 272 p. 2005.
O olhar distanciado
LÉVI-STRAUSS, C. O olhar distanciado. Edições 70, 424 p. 2010.
Maíra
RIBEIRO, D. Maíra. Editora Brasiliense, 353 p. 1976.
O povo brasileiro: a formação e sentido do Brasil
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e sentido do Brasil. Global Editora,
368 p. 1995.
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O que é mito
ROCHA, E. O que é mito. Editora Brasiliense, 104 p. 1996.
O que é etnocentrismo
ROCHA, E. O que é etnocentrismo. Editora Brasiliense. 76 p. 1985.
Leitura
Sem palavras: etnografia, hegemonia e quantificação
https://bit.ly/36ams2N
“Aromas de urze e de lama”: reflexões sobre o gesto etnográfico
https://bit.ly/3lasxjO
Etnicidade, eticidade e globalização
https://bit.ly/3fP1F8l
Os (des)caminhos da identidade
https://bit.ly/36anc85
O lugar (e em lugar) do método
https://bit.ly/3fD8TvJ
Antropologia: saber acadêmico e experiência iniciática
https://bit.ly/369i0kJ
O olhar etnográfico e a voz subalterna
https://bit.ly/369i97L
Poder e silenciamento na representação etnográfica
https://bit.ly/3mdIgA0
A cena: lançando sombra sobre o real
https://bit.ly/2V6Mmhu
Individualidade e liminaridade: considerações sobre os ritos de passagem e a modernidade
https://bit.ly/3mb9WFU
O mundo dos bens, vinte anos depois
https://bit.ly/2JhhOa4
Este obscuro objeto do desejo etnográfico: o museu
https://bit.ly/3fDavWj
Fundamentos empíricos da razão antropológica: a criação do PPGAS e a seleção das espécies científicas
https://bit.ly/2JiOxM9
Anti-antirrelativismo
https://bit.ly/366chMH
Introdução à dádiva
https://bit.ly/3fEAih0
O ocidente, Espelho partido: uma avaliação parcial da antropologia social,
acompanhada de algumas perspectivas
https://bit.ly/3fDXrA5
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O índio hiper-real
https://bit.ly/2Jblrii
Do engajamento ao desprendimento
https://bit.ly/39gKBXg
Antropologias mundiais: cosmopolíticas, poder e teoria em antropologia
https://bit.ly/3l95vKu
A globalização popular e o sistema mundial não hegemônico
https://bit.ly/368rdtw
Raça é signo
https://bit.ly/3fA0ZDA
Em busca de um léxico para teorizar a experiência territorial contemporânea
https://bit.ly/3l94fae
Em memória de tempos melhores: os antropólogos e a luta pelo direito
https://bit.ly/366DYoE
A situação etnográfica: andar e ver
https://bit.ly/3fKrZAo
As grandes cidades e a vida do espírito
https://bit.ly/3fEQQpi
No limite de uma certa linguagem
https://bit.ly/3672yFO
Novas formas econômicas: um relato das terras altas da Papua-Nova Guiné
https://bit.ly/365udqK
A antropologia e o advento da fertilização in vitro no Reino Unido: uma história curta
https://bit.ly/3fDIwGj
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Referências
BAROJA, J. C. As bruxas e o seu mundo. Lisboa: Vega, Coleção Janus, 1978.
MAUSS, M. Esboço de uma teoria geral da magia. In: Sociologia e Antropologia. São
Paulo: Cosac & Naif, 2003.
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