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Constantino Paulino Sijui

Eduardo Luís Dalaja


Fátima Abdala
Momade João
Odeto Luís
Rafique Mahando
Stelvio Aguilar
Victor João Lemos
Walder Sérgio De Oliveira

Simbologia de Parentesco

Universidade Rovuma

Nampula

2023
Constantino Paulino Sijui
Eduardo Luís Dalaja
Fátima Abdala
Momade João
Odeto Luís
Rafique Mahando
Stelvio Aguilar
Victor João Lemos
Walder Sérgio De Oliveira

Simbologia de Parentesco

Trabalho de caracter avaliativo a ser


apresentado na Faculdade de Engenharia e
Ciências Tecnológicas, da Cadeira de
Antropologia Cultural de Moçambique,
Lecionada Pelo MSC Jemusse Abel Ntunduatha,
Curso de Engenharia Mecânica 2º ano.

Universidade Rovuma

Nampula

2023
Índice
Capitulo I: Introdução, objectivos e metodologia......................................................................4

Introdução..................................................................................................................................4

Capitulo II: Revisão bibliográfica..............................................................................................5

Simbologia de parentesco..........................................................................................................5

Sangue........................................................................................................................................6

Nome da família.........................................................................................................................7

Raça............................................................................................................................................8

Capitulo III: Conclusão e Bibliografia.....................................................................................10

3.1. Conclusão..........................................................................................................................10

3.2. Bibliografia.......................................................................................................................11
Capitulo I: Introdução, objectivos e metodologia

Introdução
A simbologia de parentesco é conteúdo que esta intrinsecamente ligado a diversidade cultural,
desempenhando um papel fundamental na compreensão das relações familiares ou ao redor do
mundo. Este trabalho visa abordar sobre a complexidade desses símbolos, investigando seus
significados, impacto e influencias nas comunidades humanas.
Capitulo II: Revisão bibliográfica

Simbologia de parentesco

A simbologia de parentesco refere-se aos sistemas de símbolos que uma sociedade utiliza para
representar e categorizar relações familiares. Estes símbolos incluem termos específicos para
diferentes membros da família, marcando suas posições e papeis dentro da estrutura social.
(Carsten, 2014)

A análise dos sistemas de parentesco é tema clássico na antropologia. Com base em Schneider
(1968), que aborda o parentesco como um sistema de símbolos e significados. Segundo
Weber (1998), há um tipo ideal de parentesco ocidental, designado por Strathern de “euro-
americano”, característico dos países do norte da Europa e da América anglo-saxônica. Neste,
a individualidade da pessoa é um fato primeiro e há oposição marcada entre o privado (home)
e o público. (Luna, 2007)

O indivíduo e agente é um ser de identidade única, com limites externos marcados, que exerce
controle sobre suas atividades, é autor dos próprios atos e do produto de suas ações. Tal noção
de pessoa se baseia na metáfora raiz da cultura ocidental moderna: a mercadoria. A pessoa é
aquilo que tem ou faz. (Luna, 2007)
O parentesco evoca o aspecto relacional da interação, formando uma matriz de
relacionamentos, ao passo que a família diz respeito ao aspecto institucional, ao tipo de
unidade. Cada pessoa tem sua constelação de parentela, por isso as relações de parentesco são
privadas em relação à sociedade. Os laços de parentesco ocidental também exemplificam a
necessidade (determinação) biológica ou natural.
O parentesco é uma rede de conexões de proximidade irradiada do indivíduo. Já a família, na
concepção ocidental, é uma instituição baseada na parceria conjugal e na criação dos filhos. O
cerne da família se constitui no ato procriativo do casal, de maneira que a proximidade
biogenética do filho em relação aos pais confirma a proximidade “nutridora e de cuidado” do
casal. O casal gera um filho que cria proximidade, e esta se define na superposição das
relações de família e de parentesco.
Ao analisar os sistemas de símbolos e significados segundo definições de família e parentes
afirma que a categoria ‘sangue’ é um princípio de inclusão de pessoas na família e entre
parentes. ‘Sangue’ refere-se aos caracteres físicos observáveis, e serve de veículo de
transmissão de caracteres morais, assim biologizados. Abreu Filho (1980) menciona um
sentido de sangue que relativiza essa noção tão substantiva, bem como a oposição nítida entre
o natural e o cultural: nas representações nativas, sangue aparece não tanto em termos de uma
substância definível em si, mas na qualidade de vetor de qualidades físicas e morais.
Análise de um conjunto de categorias que definem o parentesco, enquanto domínio cultural
específico. Estas são, essencialmente, as de sangue, nome de família e raça. Estas categorias
circunscrevem uma percepção do parentesco e esta percepção é marcada por uma ênfase na
consanguinidade como relação definidora do parentesco. “Parente é todo aquele que possui o
mesmo sangue que a gente”.

Sangue
Sendo um dos símbolos culturais centrais do parentesco euro-americano, o sangue enquanto
substância biológica compartilhada exprime a solidariedade duradoura e dada à partida entre
parentes, veiculando o pressuposto de que a solidariedade primária reside no parentesco. O
sangue seria assim mais espesso do que a água, quer dizer, os laços entre parentes seriam mais
fortes e fiáveis do que outros tipos de relações. (Cunha)

As relações consanguíneas são bilateralmente reconhecidas. Este reconhecimento está


presente na formulação de que a pessoa é formada pela junção dos sangues de seu pai e de sua
mãe. O sangue é pensado como substância transmissora de qualidades físicas e morais,
formando o corpo e o caráter. Assim, se através do sangue qualidades morais são transmitidas
e perpetuadas e se ele dá conta da construção do corpo e seus instintos, o indivíduo agente
empírico é representado, não como individualidade indivisível, mas como parte de uma
totalidade que o transcende e o constrói5. Ele se explica por referência a seus consanguíneos
de forma que, neste sistema, não se reconhece no indivíduo uma individualidade irredutível.

O sangue aparece como categoria que dá conta, não simplesmente de uma ordem da Natureza,
mas da articulação desta ordem com a da Cultura. Pelo sangue não se transmitem apenas
genes: a pessoa não nasce apenas natureza, apenas corpo. A pessoa já nasce, de certo modo,
moralmente constituída, representante de uma família, de uma tradição. Assim, é claro que
não existe um procedimento neutro na delimitação de um conjunto de parentes. As relações de
sangue, que definem quem é parente de quem, que diferencia famílias, constituem “a
natureza” das famílias. Observa-se, assim, uma classificação que distingue famílias por
atributos específicos: “A família x é de gente brava, a y de gente brincalhona, outra de gente
sistemática”. Além disto, no interior de cada família, a referência ao sangue possibilita uma
série de tipificações que visam dar conta das individualidades: “Fulano puxou o jeito do avô,
o gênio do tio, a paciência da mãe...” Encontramos, também, uma articulação desses dois
procedimentos: “Eu sou muito mais parecida com o povo da minha mãe que com o do meu
pai. Eu puxei mais o lado Matos que o Castro”. É importante frisar que a noção de puxar não
tem o sentido de um ato consciente ou de um produto da educação, mas de determinações
incontroláveis da ordem do sangue.

Esta exposição mostra que o sangue, enquanto categoria de pensamento, atua como um
operador de relações de identidade, de relações diferenciadoras e de relações
hierarquizadoras. O sangue dá conta de identidades familiares, de tipificações individuais e da
demarcação e diferenciação de famílias. Esta análise mostra também a possibilidade de se
pensar a hierarquia social através de uma hierarquização via famílias. Assim, não só se
conhece uma pessoa pelo seu sangue, isto é, referindo-a a seus consanguíneos, como também
é possível pensar a cidade como constituída por famílias hierarquicamente ordenadas.

Nome da família
Perguntado sobre a importância do nome de família, um informante disse: “uma vez que você
sabe de que família é uma pessoa, você fica sabendo a situação social, a situação moral e
muitas vezes até a vida íntima de uma pessoa”. Outra consideração significativa: “o nome de
família protege o indivíduo contra o meio, contra as más influências. Como? Eu sou de tal
família, não devo fazer isto!”

Estas considerações indicam que o nome de família funciona, tal como o sangue, como um
operador que correlaciona o indivíduo com a família, como um operador de comparações
entre famílias e como mediador da passagem da condição de indivíduo à de pessoa6. Pois, tal
como o sangue, o nome íntegra, implicitamente, na caracterização individual e familiar,
avaliações da posição de indivíduo e da família num conjunto mais amplo de famílias. Deste
modo, o nome de família se constitui em categoria essencial para o estabelecimento de um
mapa sócio-moral. Distingue famílias e estabelece a possibilidade de comparações entre elas.
Toma-se, por isto, importante apreender a lógica de sua transmissão e os valores que
hierarquizam os nomes de família.

Congruentemente com a bilateralidade da transmissão do sangue, o sobrenome de uma pessoa


é formado pelo nome de família de seu pai e o do pai de sua mãe. Rigorosamente, temos uma
bilateralidade na formação do sobrenome, e não do nome de família. Pois, se observarmos a
dinâmica desta transmissão, veremos que o sobrenome composto de dois nomes de família é
sempre uma construção efêmera. Não funda uma nova referência, articula momentaneamente
dois nomes de família já existentes. O permanente é a identidade contrastiva destes nomes de
família que se perpetuam por linha masculina.
A mulher, com o casamento, adquire o nome de família de seu marido, perde o de sua mãe e
mantém o de seu pai. O sobrenome de seus filhos será exatamente igual ao que ela porta após
o casamento. A transformação do sobrenome da mulher com o casamento indica que entrou
para a família do marido, mas, também, que esta entrada não é absoluta. Não perde contato
com sua família de origem.

Há duas dimensões temporais. Enquanto o sobrenome remete mais para o presente, o nome de
família remete para a história, para a tradição familiar. Mas, enquanto o nome de família
constrói uma dimensão da permanência, da história e tradição familiar, o sobrenome aponta
para a construção de famílias elementares cujo tempo está limitado à vida de seus membros.
Este só permite totalizações ao remeter o indivíduo e/ou famílias elementares a nome de
famílias, isto é, à consanguinidade. Neste contexto é a consanguinidade e não a afinidade que
aparece como capaz de estabelecer relações permanentes e de circunscrever unidades
significativas.

Finalmente, cabe assinalar que o nome de família é uma categoria que articula indivíduos a
famílias, e que deste modo transforma o indivíduo em pessoa e demarca posições sociais. É
necessário dizer que isto é possível porque existe a representação já discutida do sangue,
sendo a família pensada como um todo definido por qualidades perpetuadas hereditariamente.
Através do nome de família, constrói-se um mapa de famílias que se hierarquizam através de
diferentes eixos classificatórios. Assim, podemos dizer que o nome de família funciona como
um emblema e que sua existência, de certo modo, correlaciona as virtudes do sangue com a
posição na hierarquia social.

Raça
Raça é uma categoria polissêmica. Seus significados articulam-se, no entanto, em tomo da
idéia de hereditariedade.

Além do seu emprego designando “diferenças raciais”, a partir do pólo branco-superior x


preto-inferior, raça designa, também, famílias. As famílias são pensadas enquanto raças, isto
é, como um todo de ascendentes e descendentes que se diferencia de outros por qualidades
próprias perpetuadas pela hereditariedade.

Raça-família é outra categoria referente à consanguinidade e é utilizada para demarcar as


qualidades e fronteiras de um universo consanguíneo. Congruentemente com a lógica da
categoria sangue, as características de uma raça-família podem ser observadas no plano do
físico, na moral e nos comportamentos. Um tipo de olho, um andar, uma disposição de vida
alegre, honesta, brava, descontraída, desconfiada, sistemática etc. Podem ser elementos
utilizados para a caracterização de uma raça-família.

No sentido da perpetuação da raça-família encontra-se uma ênfase patrilinear como a que


vimos atuando na perpetuação do nome de família'. “É como entre os animais. Se você põe
um boi ruim para cruzar com uma vaca boa, a cria não vai sair boa. Mas, se você põe um boi
bom para cruzar com uma vaca ruim a cria já vai sair melhor”. “Imprimir a raça” tem um
sentido similar ao existente na transmissão do nome de família. O homem “imprime a raça”
no sentido em que ele é a referência ou mediador de seus descendentes com relação a uma
raça-família cujo emblema é um nome de família. Esta visão da família, enquanto raça, abre
caminho para considerações sobre a questão da relação entre diferentes raças-famílias. Pois,
de fato, estas só podem se reproduzir através de casamentos. O fato de o homem ser pensado
como elemento que imprime a raça não significa que a mulher não tenha papel relevante neste
plano. Ao contrário, se levarmos em consideração um outro sentido da categoria raça (raça- -
moral), perceberemos uma dimensão complementar à que até agora levamos em consideração.

Raça, no sentido de raça-moral, realiza a possibilidade de avaliações dos comportamentos


onde se sublinha o desempenho pessoal. Mas, esta avaliação do desempenho se dá através de
um entendimento deste como dependente de uma lógica de prescrição de status contida nas
categorias de sangue e nome de família.

As definições substancialistas de um sangue, de uma raça ou de um nome de família


coexistem e se redimencionam através das relações de afinidade. Deste modo, uma família
pode ganhar ou perder prestígio, de acordo com os casamentos que realiza e sua imagem
pública será sempre redefinida por eles. Por outro lado, o destino dos membros masculinos de
um grupo de siblings tende a ser marcado pela relevância sempre relativa das relações com os
cunhados, maridos e suas irmãs. (Filho)
Capitulo III: Conclusão e Bibliografia

3.1. Conclusão
Com a análise das categorias sangue, nome de família, sobrenome e raça a existência de um
sistema de representações definidor do parentesco. Através desta análise, vimos que não só o
parentesco é definido, enquanto domínio cultural, como também que este sistema de
representações, se articulado com as categorias nome, define uma percepção específica da
vida social.

A bilateralidade da transmissão do sangue pode ser percebida como complementar: o


masculino transmitindo o nome de família e o feminino a moral. E a categoria raça-moral atua
como categoria mediadora do plano da consanguinidade com o da afinidade.
3.2. Bibliografia

Carsten, J. (2014). A matéria do parentesco.

Cunha, M. I. (s.d.). Vicinalidade e parentesco: limites, categorias e práticas.

Filho, O. A. (s.d.). Parentesco e Identidade Social.

Luna, N. (2007). Parentesco e pessoa. Rio de Janeiro: SciELO Livros .

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