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DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
LICENCIATURA EM PSICOLOGIA 2º ANO
MASCULINIDADE E MASCULINIDADES
AMIZADE MASCULINA E A SOMBRA DA HOMOSSEXUALIDADE
Amadeu Cláudio
Matilde Bernardo
Vardineta Novele
Quelimane
2022
6º Grupo
Amadeu Cláudio
Matilde Bernardo
Vardineta Novele
MASCULINIDADE E MASCULINIDADES
AMIZADE MASCULINA E A SOMBRA DA HOMOSSEXUALIDADE
Quelimane
2022
Sumários
Introdução ....................................................................................................................................... 4
Objectivos do trabalho ................................................................................................................ 4
Metodologia ................................................................................................................................ 4
MASCULINIDADE E MASCULINIDADES ............................................................................... 5
Género e a definição da masculinidade ....................................................................................... 5
Género ..................................................................................................................................... 5
Influência da sociedade na identificação do género ................................................................ 6
Definição da masculinidade ........................................................................................................ 7
O Dualismo no discurso de género ............................................................................................. 9
Formas de sexismo relacionadas ao dualismo de gênero ............................................................ 9
A amizade masculina e a sombra da homossexualidade ........................................................... 10
A amizade masculina ............................................................................................................. 10
A sombra da homossexualidade ................................................................................................ 11
O conceito da crise e crise masculina........................................................................................ 12
Crise masculina...................................................................................................................... 12
Conclusão...................................................................................................................................... 14
Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 15
Introdução
A dicotomia masculina – feminino (no sentido de “macho” e “fêmea”) é uma metáfora potente
para a criação de diferença num contexto como o que estudei. Não é, em si mesma, nem mais
nem menos essencialista do que qualquer outro princípio de distinção, se aceitarmos que tanto o
corpo sexuado como o indivíduo com género são resultados de processos de construção histórica
e cultural. Por isso não utilizo noções como “papel” sexual ou “papel” de género: não têm valor
explicativo, pois comportam, implicitamente, uma falsa dicotomia entre corpo e indivíduo, sexo
e género. A compactação entre “macho”, “homens” e “masculinidade” – um dos resultados do
uso daquela noção – não deve ser tomada como certa, mas sim analisado.
Objectivos do trabalho:
Geral:
Específicos:
Metodologia
Para a produção deste trabalho a colecta de dados aconteceu através de revisão bibliográfica de
livros com temas relacionados à praticas com principal foco em na formação de desenvolvimento
da personalidade com base no método descritivo-qualitativa. Após a colecta das informações, os
textos foram comparados para decisão da ordem e relevância das informações para a produção da
revisão da literatura.
MASCULINIDADE E MASCULINIDADES
Género
Na tentativa de conceituar o género, Scott (1990:5), definiu este como sendo, “a percepção das
diferenças entre os sexos, sendo constructo significante a demarcar relações de poder no meio
social. Ainda Scott argumenta que este conceito foi criado para opor-se a um determinismo
biológico nas relações entre os sexos, dando-lhes um carácter fundamentalmente social. “O
género enfatizava igualmente o aspecto relacional das definições normativas da feminidade”
(Scott;1990:6).
Assim como enfatiza Mello (2010:3) que o género é um conceito das ciências sociais, produzido
na década de 1970, que se refere à construção social do sexo, fazendo distinção entre o
dimorfismo sexual da espécie humana e a caracterização de masculino e feminino que
acompanham, nas culturas, a presença de dois sexos na natureza, ou seja, há machos e fêmeas na
espécie humana, mas a qualidade de ser homem e ser mulher é condição realizada pela cultura.
A palavra sexo ainda para Mello, passa a designar especificamente a caracterização anátomo-
fisiológica dos seres humanos. O sexo é dado pelas características biológicas: nasce-se macho ou
fêmea da espécie humana. Ao passo que o género é o modo como as sociedades olham e pensam
as pessoas do sexo masculino e as pessoas do sexo feminino; é a consequência do sexo numa
organização social. Ou seja: não nascemos mulheres ou homens: tornamo-nos mulheres ou
homens. É o trabalho de elaboração simbólica que a cultura realiza sobre a diferença anátomo-
fisiológica.
Aliando-se a este ponto de vista, acrescenta Vilella & Arilha (2003:115) que:
De modo geral, essa discussão em torno da sexualidade, do ‘vir tornar a ser’, isto é, você é
aquilo que seu grupo lhe indica que deva ser, tem sido marcado pelo confronto entre dois
grandes paradigmas distintos entre si: o essencialismo e o construtivismo social. O primeiro
compreende-se que “o fundamental da idéia essencialista é que o mundo é dado pela natureza. E
a classificação essencialista organiza fortemente nosso campo de visão, em valor fundante na
nossa cultura” (SEFFNER, 1996:79).
Definição da masculinidade
Com intuito de definir o que seja masculinidade, Robert Connell (1995), concebe a
masculinidade como sendo, ao mesmo tempo, uma posição nas relações de gênero; as práticas
pelas quais os homens e as mulheres ocupam esse lugar no gênero; e os efeitos dessas práticas na
experiência físicas, pessoais e culturais. Este autor elege quatro correntes teóricas que podem ser
utilizadas para conceituar, definir a masculinidades, são elas: o essencialismo, o positivismo, o
normativo e a semiótica. A perspectiva essencialista concebe a masculinidade como sendo um
conceito universal, baseado na hereditariedade biológica, ela teve uma forte presença do meio
acadêmico influenciado pela teoria de Darwin, voltando ao cenário do conhecimento científico
através da Sociobiologia, fundada em 1975 por E. O. Wilson, e pelo feminino diferencialista.
“Ser homem significa não ser feminino, não ser homossexual; não ser dócil, dependente ou
submisso; não ser afeminado na aparência física ou nos gestos; não ter relações sexuais nem
relações muito íntimas com outros homens; não ser impotente com as mulheres (1993:117) ”.
(grifos da autora).
O positivismo define o masculino (numa perspectiva histórica), como uma estrutura única, um
arquétipo, em que masculinidade é algo universal e não se consideram as diferenças gestadas do
interior das relações sócias distintas do grupo.
“... Ser homem”, no dia-a-dia, na interação social, nas construções ideológicas, nunca se reduz
aos caracteres sexuais, mas sim a um conjunto de atributos morais de comportamento,
socialmente sancionados e constantemente reavaliados, negociados, relembrados. Em suma em
constante processo de construção” (ALMEIDA, 1995:128).
O importante aqui é perceber que não se pode falar de masculinidade, mas sim masculinidades,
indicando uma categoria altamente fluída e por isso mesmo passível de transformação.
Dualismo de gênero é a ideia (comum, mas errônea) de que existem apenas dois gêneros:
masculino e feminino (os gêneros binários). Diferentes tipos de opressão surgem do dualismo:
invisibilização não binária, enebefobia e binarismo.
A invisibilização não binária é uma forma de opressão para com pessoas não binárias que se
baseia no dualismo.
O dualismo diz que apenas dois gêneros são reais, então quando pessoas não binárias dizem que
são de outro gênero que não é o que foram atribuídos ao nascimento, a invisibilização não
binária faz com que outras pessoas acreditem que estão simulando, brincando ou confundindo. A
invisibilização não binária torna difícil para essas pessoas imaginarem como podem ser os
gêneros além de mulheres ou homens.
Enebefobia é o conjunto de atitudes, ideias, pensamentos, etc. que têm sua origem no dualismo e
que se baseiam em um ódio, rejeição ou ridicularização para pessoas de gêneros não binários
e/ou de faixa etária.
Binarismo é opressão colonialista branca em relação a gêneros e papéis de gênero não binários
em outras culturas e grupos étnicos.
Sexismo por oposição, uma forma de pensar em que não só homens e mulheres são vistos como
os únicos gêneros, mas também como opostos polares que só pode ter características opostas,
como "forte" e "fraco".
Cisexismo, uma maneira de pensar em que apenas pessoas cisgêneros são vistas como normais
ou corretas. Uma forma mais ativamente prejudicial de cissexismo é a transfobia. O cissexismo é
prejudicial para todas as pessoas trans, sejam binárias ou não binárias.
Diadismo, a ideia comum, mas incorreta, de que existem apenas dois tipos de corpo. O diadismo
afeta as pessoas intersexuais.
Essencialismo biológico, a ideia de que seu corpo é o que mais te define. Suponha que isso vai
defini-lo para sempre, não importa o que você mude sobre si mesmo ou pense sobre si mesmo. O
essencialismo biológico diz que o gênero que você foi atribuído ao nascimento (que foi decidido
exclusivamente com base na aparência de seus genitais, que é diadista) deve ser o seu único
gênero real. O essencialismo biológico é usado para justificar quase todas as formas de sexismo.
Afeta (pelo menos em teoria) todas as pessoas, independentemente do sexo.
A amizade masculina
Na Grécia antiga, a amizade entre homens era estimulada, Aristóteles pregava que que a
verdadeira amizade era possível apenas entres homens e cidadãos.
Vicent-Buffault traz em seu livro cartas trocadas entre amigos homens durante os seculos XVIII
e XIX que mostram de forma muito interessante que a intimidade e a afectividadde masculina
eram expressas de forma comum. A importância da amizade era ressaltada e o amigo e as suas
qualidades, enaltecem nessas cartas, o verdadeiro desvenda-se na leitura acolhedora do amigo.
Uma pesquisa feita por Souza e Hutz, mostra que as amizades masculinas são caracterizadas por
actividades feitas em conjunto e que os homens privilegiam o tempo investindo na amizade do
que as trocas afectivas como acontecem com as mulheres. Apesar disso, homens buscam
intimidade em suas relações e dão grande importância aos relacionamentos com amigos.
A sombra da homossexualidade
Embora, haja um conjunto de atributos tidos como masculino que precisa ser adquirido, o sujeito
não é passivo na construção da realidade. Talvez, por essa razão, tenha a possibilidade de
negociar esses códigos que lhe são impostos. Assim como as mulheres, os homens sofreram e
sofrem também um determinado tipo de ‘repressão sexual’, um tanto sutil em relação àquela
vivenciada pelas mulheres, mas que igualmente produz frustração, angústia e sofrimento. Afinal
a, “forte coesão feita ao homem para que este jamais fuja as normas ditadas pelo ‘manual do
macho’, obriga a um número elevado de homens a construir situações que camuflem a sua
verdadeira orientação sexual” (FILHO, 2003:03).
Segundo este autor, o simples fato de viver de forma diferente da que realmente deseja, leva o
homem a viver sua sexualidade na clandestinidade. Pois, embora satisfaça seus desejos e
fantasias transgressoras, vê-se envolvido ao sentimento de culpa e traição que o insere no mundo
misterioso e silencioso, onde não poderá emergir no mundo dos machos. Sem dúvida, essa
revelação seria um golpe à anormalidade e à honra do homem, que acarretaria numa
exclusão/discriminação dele e na imputação de uma marca de ‘ser gay’.
Muitas são as forças conservadoras contrárias a esse tipo de vivência sexual, especialmente a
Igreja Católica e demais religiões, além das próprias teorias científicas que de forma
essencializada tendem a tratá-la como doença ou desvio. Junta-se a isso a crença, que se propaga
no senso comum, do risco à descendência, e mesmo a sobrevivência/reprodução da espécie.
Enfim, tanto no plano acadêmico quanto na esfera político-social, problematizar a possibilidade
de uma vivência afetivo-sexual efetivamente democrática, que proporcione aos homens,
mulheres e todos livre expressão e direitos, é um exercício importante para que todos tenham a
oportunidade de realizar plenamente suas orientações e opções existenciais, sexuais e afetivas.
Uma crise aponta uma situação de instabilidade, que pode ter múltiplos fatores, subtraindo a
necessidade de curar o dano manifestado. Da mesma forma, o grau de impacto é determinado
pelos atores e elementos participantes, ou seja, pode-se falar de uma crise institucional,
econômica, política, religiosa, mundial ou mesmo interna de natureza pessoal.
Crise masculina
Nos últimos anos, tem-se discutido acerca da atual crise da masculinidade. O “novo homem”
estaria em crise porque não encontraria modelos identitários hegemônicos para descrever sua
nova condição masculina. Os reflexos dessa crise se devem à maior participação das mulheres no
campo do trabalho, do avanço da tecnologia no campo da sexualidade, na pluralidade de papéis e
identidades sexuais, na redefinição do papel de pai, na maior preocupação com o corpo e com a
estética e a tentativa de manter e sustentar um modelo hegemônico único no papel masculino.
Para alguns autores (Badinter, 1993; Nolasco, 1995a, 1995b; Almeida, 1996; Dorais, 1994a,
1994b; Almeida, 1995 e Ceccarelli, 1997), a crise da masculinidade contemporânea foi um
reflexo do movimento feminista ocorrido no final da década de 60, e levou alguns homens a
buscarem um modelo que melhor conseguisse descrever suas subjetividades.
A partir de então, passou-se a observar alguns sinais dessa crise, como a criação de clubes de
recuperação da masculinidade (bem mais próximo do modelo tradicional) e grupos de discussão
e de psicoterapia constituídos exclusivamente por homens, em busca de um novo modelo de
masculinidade.
Outro sinal dessa crise estaria na compreensão de uma “feminilização do masculino”, na maior
visibilidade da homo e bissexualidade entre os homens, assim como travestis e transexuais
conformariam figuras possíveis na constituição das subjetividades masculinas.
Conclusão
Aqui convém esclarecer desde já o seguinte: uma coisa é falar de masculinidade no sentido
acima definido (independentemente de homens e mulheres), outra é falar, por assim dizer, da
“masculinidade dos homens”. Quando recorremos a esta última opção, faço o justamente para
analisar a complexa relação entre homens concretos e masculinidade. Partindo da noção de que a
masculinidade seria um fenómeno do nível discursivo e do discurso enquanto prática (Foucault,
1972: 49) e que constituiria um campo de disputa de valores morais, em que a distância entre o
que se diz e o que se faz é grande, optei por uma estratégia de inserção num grupo de homens em
situações de sociabilidade – o que condicionou o trabalho a aspectos de homossociabilidade,
mais do que sobre relações entre géneros.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Miguel vale de. Género, Masculinidade e Poder: Anuário Antropológico, 95: 161-
190. Revendo um caso do Sul de Portugal, 1996.
BADINTER, Elisabeth. XY: sobre a Identidade Masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993
BOUDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Betrand, 1999
FOUCAULT, M. Ditos & escritos V- Ética, sexualidade, politica. Rio de Janeiro: Forense
universitária, 2004.
SOUZA, R.M. formação e rompimento de vinculos afectivos, São Paulo: PUC, 2008
(comunicação oral).