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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DO TRARI

CURSO DE PSICOLOGIA

DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

DOCENTE: ANNE CHRISTINE DAMASIO

DISCENTES:

AGNA CLARA CANDIDO DOS SANTOS

EDSON RONALDO CAMPELO DA CRUZ ARAÚJO

MARIA ROSÂNGELA GUNDIM DE ARAÚJO

CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE, MARCADORES DA DIFERENÇA E


INTERSECCIONALIDADE

SANTA CRUZ
2018
TEXTO 1

Figura 1. Calvin e Haroldo. Autor Bill Watterson

A identidade de um indivíduo permite a este um significado de particularidade e


individualidade, conceituando-o como existente e/ou pertencente a determinado grupo
ou sociedade. No entanto, sua construção é realizada de maneira gradativa, o que não
implica em ser sempre construída de forma lenta ou rápida e descrita como constante ou
variável, mas sim, moldada através de elementos resultados da interação entre indivíduo
e sociedade, ao longo da história do sujeito.

A vida em uma sociedade é marcada por exigências culturais advindas de


diferentes esferas e requer de seus participantes um conjunto de características
necessárias que os defina como pertencentes a determinado lugar, grupo, ou papel
social. Dessa forma, desde o nascimento estamos expostos a inúmeros estímulos que,
posteriormente, serão dotados de significados para nós e que permitirão que possamos
construir o que chamaremos de identidade sociocultural.

É necessário, no entanto, salientar que o processo de construção da identidade


ocorre de maneira contínua. De forma que, após o nascimento de um bebê, este
possuindo somente um corpo biológico e provido apenas de alguns poucos instintos que
são necessários à sua sobrevivência como: sentir frio ou calor, chorar ao sentir sede ou
fome; torna-o extremamente dependente da presença de seres humanos mais
experientes, para que esses instintos sejam atendidos quando manifestados.

Na medida em que o bebê vai crescendo e começa a perceber e a ser percebido


pelo mundo que já existia antes de sua chegada, aqueles instintos de suma importância,
provenientes do nascimento, vão sendo esculpidos em função das exigências culturais
presentes no interior da sociedade em que ele vive. E necessariamente, não são
atendidos de maneira imediata após sua manifestação. Por conseguinte, um conjunto de
diversas maneiras de se comportar lhe vai sendo exposto, de modo a ajustar-se aos
modelos culturais existentes e preponderantes em sua atmosfera social.

Seguindo essa forma de raciocínio, pode-se inferir que o ser humano, de


maneira gradativa, vai adentrando em uma estrutura composta de arranjos sociais e

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culturais, coordenada por maneiras diferentes de pensar, agir e sentir, que são anteriores
ao seu nascimento, e as quais lhes são repassadas através de processos de aprendizagem
que o conduzem desde o nascimento até boa parte de sua vida adulta.

A humanização é variável em sentido sociocultural. Em outras palavras, não


existe natureza humana no sentido de um substrato biologicamente fixo, que
determine a variabilidade das formações socioculturais. Há somente a
natureza humana, no sentido de constantes antropológicas [...] que delimita
e permite as formações socioculturais do homem. Mas a forma específica em
que esta humanização se molda é determinada por essas formações
socioculturais, sendo relativa às suas numerosas variações. Embora seja
possível dizer que o homem tem uma natureza, é mais significativo dizer que
o homem constrói sua própria natureza, ou, mais simplesmente, que o
homem se produz a si mesmo.

(BERGER; LUCKMANN, 2007, p. 72).

Outrossim, a maneira como os seres humanos produzem ambientes e os


repassam através das gerações, torna possível dizer que esse mundo pode ser aprendido
e interiorizado por meio de diversas situações de aprendizagem, denominadas de
socialização. Esses processos os acompanham desde o nascimento e, de certa forma,
continuam expostos a eles, ao longo de suas vidas.

Quando crianças, os indivíduos são expostos ao processo de socialização primária, o


qual se começa a aprender sobre o mundo ao seu redor e como ele funciona. Ele é
apresentado através do ponto de vista dos pais e familiares mais próximos. Nesse
primeiro processo os indivíduos são apenas guiados, quase sempre sem questionamento
do que lhes é dito, pois incorporam para esses personagens (pais, familiares e demais
figuras) determinados significados, o que os torna modelos de referência para a
aquisição de novos comportamentos.

Esse processo perdura até atingir-se a adolescência, em que a maneira pela qual
se interioriza novos comportamentos e gera-se novos significados ao que é apresentado
se modifica, em acordo com os novos lugares vividos, às novas pessoas e visões de
mundo a qual são apresentados. A partir dessa nova fase, inicia-se o processo de
socialização secundária, e nesse novo estágio de socialização o indivíduo começa a
pensar mais por si próprio, a realizar questionamentos acerca do seu entorno e a formar
características particulares que o defina como ser existente em uma sociedade e em
determinado grupo social.

No decorrer desses processos de socialização sofridos pelo indivíduo, este se


encontra exposto a diversos tipos de arranjos que, de alguma maneira, contribuem para
a formação de sua identidade como sujeito pertencente a determinado lugar. Entre esses
arranjos estão os meios de comunicação, determinados em atrair e convencer aos seus
espectadores na recepção do que lhes é apresentado.

Em sociedades contemporâneas, o contato com meios de comunicação apresenta-se


desde cedo, no que se refere ao desenvolvimento humano em sociedade. Ainda crianças,

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indivíduos entram em contato com esses meios, como televisão, computadores e
celulares, e têm acesso a todos os recursos que eles oferecem.

Certamente, a televisão está repleta de modelos de papel adulto atraentes


para as crianças e adolescentes. Na verdade, o modo mais efetivo para os
pais ensinarem aos filhos certos comportamentos é demonstrar o
comportamento e fazer com que as crianças modelem-se de acordo com este
– precisamente o que a televisão faz. O que é observado pode ser imitado, ou
pode simplesmente influenciar as crenças de uma criança sobre o mundo.
(STRASBURGER, 1999, p. 20)

A exemplo dessa linha de raciocínio, na tirinha representada pelos personagens


Calvin (a criança) e Haroldo(o tigre), Calvin afirma que sua identidade está relacionada
com o que ele compra, de maneira que ele próprio torna-se uma espécie de modelo, o
qual é utilizado para a apresentação de determinado produto. Modelo, o qual poderia ser
representado por qualquer indivíduo que utilizar-se a representação de determinada
marca em seu corpo.

Ademais, a expressão seguinte declarada pelo personagem é a de que assumir a


função de modelo para uma determinada marca é uma forma de demonstrar sua
individualidade, com base no estilo adotado por alguma sociedade. Destarte, através
dessa perspectiva, pode-se, então, comparando a processo de socialização e construção
de uma identidade enfrentada por um indivíduo em sociedade, relacionar a exposição,
sofrida pelo personagem, a determinados símbolos, que tornaram-se significados e
significantes para a composição de uma identidade a qual ele incorporou a si, sendo ela
sustentada por características já existentes em determinadas em esferas ou em
sociedades que estiveram emparelhadas aos processos de socialização enfrentados por
ele.

TEXTO 2

O presente trabalho busca através desse texto tornar evidente as dificuldades


enfrentadas por indivíduos deficientes físicos, a partir da interseccionalidade com outros
marcadores que serão aqui abordados. No contexto da diversidade em que vivemos é
muito comum pessoas inseridas em grupos que representam uma minoria, e que se
encontram marcadas pelas diferenças de um padrão exigidos em uma sociedade
estabelecida por dogmas estruturais sofrerem diversos abusos e preconceitos, tendo em
vista que a nossa sociedade está presa a opiniões concebidas sem nenhum exame crítico
e por isso tentam afastar aqueles que são considerados diferentes, sem a devida
compreensão de que somos iguais porque somos todos diferentes.

Na conjuntura atual é notória as dificuldades que os deficientes físicos


encontram pelas suas limitações e ao mesmo tempo o descaso muitas vezes visto na
própria sociedade, o respeito a diferença do outro também se traduz no respeito às suas

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limitações, e devemos compreender que somos preconceituosos quando não damos o
lugar a que o outro tem direito, nesse contexto cabe citar as vagas reservadas, nos
estacionamentos, para deficientes tão utilizadas por pessoas que não portam nenhuma
necessidade especial. A utilização de linguagem verbal depreciativa é também outro
tipo de preconceito: imagine alguém dizendo para você frases do tipo: é muito triste ser
como você; se ele não fosse defeituoso eu namoraria com ele; tem um rosto bonito, no
entanto não serve para nada; E aí, imagine a deficiência aliada a outros marcadores
sociais da diferença, é o caso de um deficiente e negro, bem como, um deficiente negro
e idoso. A nossa sociedade é hipócrita e apesar de um discurso muitas vezes empático,
não é o que vivenciam essas pessoas, e dizer que o deficiente tem direito as mesmas
condições de vida do que o não deficiente, não é verdade, dizer que o negro não tem
dificuldades para participar de determinados grupos sociais, não é verdade, dizer que o
idoso é bem tratado e compreendido pela sociedade, também não é verdade.

Segue abaixo um exemplo de preconceito e discriminação sofrida por uma


jovem negra em seu ambiente de trabalho:

Não precisou mais do que três meses de trabalho para que a bancária
B. sentisse todo preconceito que existe dentro do banco. Negra, mulher e
deficiente visual, ela reúne todos os perfis que sofrem discriminação nas
instituições financeiras, de acordo com o Mapa da Diversidade, divulgado pelos
bancos na semana passada. B. foi contratada por uma instituição financeira
dentro da cota para deficientes exigida pela lei. Logo nos primeiros dias de
trabalho, ela sentia os olhares atravessados e a cara fechada das pessoas,
principalmente no elevador. Uma gestora que trabalha no seu departamento nem
a cumprimentava, mesmo após os insistentes "olás" de B. Daí para as piadinhas
racistas foi um passo. "Até o dia que me irritei e cobrei o fim das piadinhas de
negro. Exigi respeito e, a partir do momento em que as pessoas me viram andando
com o pessoal do Sindicato, as piadinhas pararam", conta. B. é a única negra no
seu departamento.

Fonte:https://www.cut.org.br/noticias/bancaria-relata-preconceito-que-sofreu-
dentro-de-banco-a33d

Nessa realidade faz-se necessária uma reflexão acerca dos deficientes físicos,
dos negros, dos idosos, não só a formulação de leis, mas também o cumprimento das
mesmas, além de programas de sensibilização para a sociedade em geral, deve-se
mostrar, fazer lembrar a situação de vulnerabilidade em que estão inseridos alguns
indivíduos, que como todos os outros indivíduos tem direito de participar da sociedade
em que está presente. É preciso além de tudo extinguir a ideia de um indivíduo superior
ao outro.

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