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MÁRIO FERREIRA

MÁRIO F ER R EIR A DOS SANTOS


DOS SANTOS

AA SABEDORIA
SABEDORIA
do
do
SER EE DO
SER NADA
DO NADA

H VOLUME
n VOLUME

-----o -----

EDITORA MATESE
EDITORA MATESE

Av. Irerê,
Av. Irerê, 382 (Planalto Paulista)
382 (Planalto Paulista) -- Tels.
Tels. 35-6080
35-6080 ee 33-6823
33-6823
SÃO PAULO
SAO PAULO — BRASIL
— BRASIL
1.» ediçàn
12 edição

ADVERTÊNCIA AO
ADVERTÊNCIA LEITOR
AO LEITOR
Sem dúvida, para
Sem dúvida, para aa Filosofia,
Filosofia, o vocabulário
o vocabulário éé de de
máxima
máxima importância
importância e,e, sobretudo,
sobretudo, o o elemento
elemento etimoló-
etimoló­
gico
gico da composição
da composição dos
dos têrmos.
têrmos. (Como,
Como, na
na ortografia
ortografia
actual, são
actual, são dispensadas
dispensadas certascertas consoantes
consoantes (mudas,
(mudas, en­
en-
tretanto, na
tretanto, linguagem de
na linguagem de hoje), nós
hoje), nós asas conservamos
conservamos
apenas
apenas quando contribuem
quando contribuem para
para apontar étimos
apontar étimos que
que
facilitem
facilitem aa melhor
melhor compreensão
compreensão da
da formação
formação histórica
histórica
do
do têrmo
tôrmo empregado,
empregado, ee apenas quando
apenas quando julgamos
julgamos con-
con­
veniente
veniente chamar
chamar aa atenção do leitor
atenção do leitor para
para eles.
êles. Faze-
Faze­
mos esta
mos observação sômente
esta observação sômente para
para evitar
evitar aa estranheza
estranheza
que
que possa causar a
possa causar a conservação
conservação dede tal grafia.
tal grafia.

Mário Ferreira
Mário Ferreira dos
dos Santos
Santos

TODOS OS
TODOS OS DIREITOS
DIREITOS RESERVADOS
RESERVADOS

Este livro foi


Este livro foi composto
composto ee impresso para a
impresso para a Editóra
Editôra MATESE, na
MATESE, na
Gráfica
Gráfica ee Editóra
Editôra MINOX
MINOX Ltda.,
Ltda., Av, Eng. Armando
Av. Eng. Armando de
de Arruda Pe-
Arruda Pe­
reira, 665
reira, 665 —
— Jabaquara
Jabaquara —
— SAO
SÃO PAULO.
PAULO.
O Prof.
O Prof. M
Mário Ferreira dos
ário Ferreira dos Sanios ter-
Santos ter­

niinava aa correção
minava das provas
correção das da presente
provas da presente obra,
obra,
quando faleceu
quando falecéu subitamente
subitamente aa \\
11 ddee abril
abril de
de

1968.
1968. Pablicamos êste livro
Publicamos êste livro póstumo com
póstumo com

profunda emoção.
profunda emoção.

A EDITORA
A EDITORA
ÍNDICE
ÍNDICE

Cap. II
Cap. — O Degnaton
— O Degnaton ee Adegnaton
Adegnaton .........................................
...........cccccc soros 1111

Cap. EI
Cap. E —
— Os
Oa conceitos
conceitos universais
universais ee sua
sua valid
validezez....................
........... 2121

Cap. II
Cap. EH -—-
— OO problema
problema lógico
lógico dos
dos universais ..............
universais .......................... 4949

Cap. IV
Cap. IV — Kant
— Kant ea Ontologla ......................................................
e a Ontologia ............ccccrererccceeeo 6161

Cap. Y
Cap. V — Do
— Do método
método da Metafísica ........cccecccscscrss
da Metafísica ......................................... tm71

Cap. VI
Cap. VI — Os
— princípios, Hegal
Os princípios, Hegel ee aa Filosofia
Filosofia Moderna
Mcderna .....
........ 8181

Cap.
Cap. VII — Do
V il — ente de
Do ente razão ......................................................
de razão ........ Ceneercr rar rece ra aa 109
109
Cap. VIII
Cap. Vm — — Escólios
Escólios das teses demonstradas
das teses demonstradas .............+
.......................... 127
127
Cap.
Cap. IX
IX — O
— O enunciado matético do
enunciado matético do conceito
conceito de
de ssere r ............
....... 139
139
Cap. X
Cap. X — Das
— Das propriedades
propriedades do ser ............................................
do ser ......ccccrcerecesctors 163
163
Do áliguid (alguma
Do âliquid (alguma coisa)
coisa) ......ccsicscererees
...................................... 171
171
CAP.I
CAP. I

O DEGNATON
O DEG N A TO N EE A
ADEGNATON
DEGNATON
(O POSSIVEL E
(O POSSÍVEL E O
O IMPOSSÍVEL)
IMPOSSIVEL)

Como somos fundamentalmente


Como somos fundamentalmente concretos
concretos no no filosofar, bus-
filosofar, bus­
camos sempre,
camos sempre, por todos os
por todos os caminhos
caminhos que que sigamos,
sigamos, manter
manter o o má­
má-
ximo cuidado
ximo cuidado de percorrer aa via
de percorrer via abstractista,
abstractista, e,e, paralelamente,
paralelamente, aa
via contractista,
via contractista, ee os
os paralelismos
paralelismos inevitáveis que se
inevitáveis que se dão
dão junto
junto aoao
tema que tratamos,
tema que tratamos, de de modo
modo aa conexioná-lo
conexioná-lo comcom todotodo complexo
complexo
que pode
que constituir oo conjunto
pode constituir conjunto dodo scibiles
scibiles (do
(do noeton,
noeton, do do formal
formal
cognoscível
cognoscível dasdas coisas), tal proceder
coisas), tal proceder permite
permite aa formação
formação das di-
das di­
versas disciplinas.
versas disciplinas.

Admitimos ee apoiamos
Admitimos apoiamos oo conhecimento isolado, oo conheci-
conhecimento isolado, conheci­
mento que
mento que se dê separado
se dê separado do restante do
do restante do contexto
contexto da realidad= àà
da realidade
qual pertence,
qual pertence, masmas consideramo-lo
consideramo-lo como apenas parcial,
como apenas parcial, como
como li­li-
mitado, porque
mitado, porque se se restringe
restringe aa um
um determinado
determinado âmbito,
âmbito, necessitan­
necessitan-
do ser
do concrecionado por
ser concrecionado por meio das conexões
meio das conexões que
que deve manter com
deve manter com
outros sectores,
outros sectores, que constituem, por
que constituem, por sua vez, o
sua vez, o oferecimento
oferecimento de de
novos scibiles
novos para as
scibiles para novas ciências.
as novas ciências.

Quer dizer,
Quer tomando oo conjunto
dizer, tomando conjunto de tôdas as
de tôdas as coisas,
coisas, segu: do
seguido
os diversos aspectos
os diversos aspectos que
que r.os
ros apresentam
apresentam scibiles
scibiles diversos, propor-
diversos, propor­
cionados
cionados aa cada
cada aspecto,
aspecto, tal
tal nos permite aa formação
nos permite formação de de ciências
ciências
também proporcionadas
também proporcionadas aa êsses
êsses scibiles.
scibiles.
AA capacidade
capacidade humana,
humana devedeve ser
ser ampliada
ampliada de de modo
modo aa perce-
perce­
ber as
ber correlações dos
as correlações dos diversos
diversos scibiles,
scibiles, aa fim de que
fim de que possa
possa tomar
tomar
um facto, captado
um facto, captado isoladamente
isoladamente de de modo
modo que saiba quais
que saiba quais são
são
os correlacionamentos
os correlacionamentos com com outros scibiles, permitindo
outros scibiles, permitindo uma uma vi-vi-
—1il—
— 11 —
são concreta
pão concreta do do facto. Assim, quem
facto. Assim, estudasse um
quem estudasse facto polí­
um facto polí-
Lico, apenas
tico, dentro do
apenas dentro do âmbito
âmbito dada política,
política, sem
sem correlacioná-lo
correlacioná-lo comcom
as outras disciplinas
as outras disciplinas éticas,
éticas, como
como aa Psicologia
Psicologia Social,
Social, aa Sociologia,
Sociologia,
aí Economia,
Economia, sem correlacioná-lo com
sem correlacioná-lo com aa Ética
Etica ee aa Moral,
Moral, ee o o Di-
D i­
reito,
reito, ee até
até com
com aa História,
História, sem
sem considerar
considerar os os princípios
princípios queque re-
re­
gem as
gem as disciplinas,
disciplinas, que constituem, não
que constituem, não sósó aa Ciência,
Ciência, como
como aa pró-
pró­
pria Filosofia
pria Filosofia Prática, para depois
Prática, para depois ascender
ascender às às suas relações com
suas relações com
aa Filosofia Especulativa, realizaria
Filosofia Especulativa, realizaria obra
obra meramente
meramente abstractista.
abstractista.
Só se
Só se pode
pode dizer
dizer que
que realmente
realmente éé sábio,
sábio, aquêle que éé capaz
aquêle que capaz dede
ligar um
ligar um facto
facto às suas primeiras
às suas primeiras causas,
causas, ee depois
depois aos seus princí­
aos seus princi-
pios.
pios. Ora,
Ora, aa ligação
ligação aos princípios, inevitàvelmente,
aos princípios, inevitâvelmente, inclui
inclui oo co-
co­
nhecimento correlacionado
nhecimento correlacionado com com todos
todos os os scibiles,
scibiles, que
que se conexio-
se conexio-
nam com
nam aquela matéria.
com aquela matéria. OO que
que chamamos
chamamos de de pensamento
pensamento con-con­
ereto, hoje,
creto, hoje, éé um
um pensamento
pensamento que que não
não éé apenas
apenas oo pensamento
pensamento sinté-
sinté­
tico dos
tico dos gregos,
gregos, nemnem apenas
apenas oo pensamento
pensamento analítico
analítico que
que surgiu
surgiu
na Escolástica,
na Escolástica, masmas oo concrecionador,
concrecionador, que que evita
evita que
que oo homem
homem se se
abisme na
abisme na particularidade
particularidade ee sobretudo
sobretudo na especialidade.
na especialidade.
No Evangelho
No Evangelho de de SãoSão João
João 17-17,
17-17, onde
onde êleéle diz:
diz: “A "A tua tua
palavra éé aa verdade”,
palavra verdade", quer quer dizer que aa verdade
dizer que verdade éé aa única lingua-
única lingua­
gem
gem divina”,
divina”, ou ou melhor,
melhor, aa verdade
verdade éé aa única linguagem de
única linguagem de Deus.
Deus.
Este
íste juízo
juízo éé aa revelação
revelação de de uma
uma longa especulação filosófica,
longa especulação filosófica, por­
por-
que
que sese meditarmos
meditarmos sôbre sôbre os os têrmos
têrmos ee procurarmos analisar os
procurarmos analisar os cons­
cons-
utuintes
tituintes dêste juízo, veremos:
dêste juízo, veremos: verdade,
verdade, única,
única, divina,
divina, linguagem.
linguagem.
Então
Então diriamos:
diríamos: sabemos
sabemos oo que que éé aa verdade,
verdade, porque
porque já já oo estuda-
estuda­
mos; sabemos
mos; sabemos que que aa linguagem
linguagem éé um um meio
meio dede comunicação
comunicação entre entre
entes racionais, inteligentes;
entes racionais, sabemos o
inteligentes; sabemos o que
que éé divino, atributo da
divino, atributo da
divindade, o
divindade, o que
que podepode receber
receber sem sem repugnância
repugnância qualquer
qualquer ee em em
sentido
sentido directo
directo ee não
não indirecto,
indirecto, ee em em sentido
sentido claro
claro ee não
não metafó-
metafó-
“ico, os
íico, os atributos
atributos de de Deus;
Deus; ee único,
único, sabemos
sabemos que que éé idéia
idéia de de ex-
ex­
clusão, o
clusão, o que
que nos leva aa concluir
nos leva concluir aqui
aqui que
que aa divindade
divindade não não temtem
outra linguagem
■outra linguagem senãosenão aa verdade.
verdade.

Era
Era esta
esta aa razão
razão porque
porque Pitágoras
Pitágoras ao
ao terminar
terminar umauma demons-
demons­
tração apodítica
tração apodítica exclamava:
exclamava: Autós
Autós epha
epba (o que éé êle
(o que êle mesmo
mesmo (o (o
ipsum
ipsum esse) falou, o
esse) falou, o que,
que, posteriormente
posteriormente foifoi traduzido
traduzido pelo
pelo Ma-
Ma-
gister dixit (o
gister dixit (o mestre
mestre disse).
disse). Mas
Mas oo mestre
mestre nãonão era
era oo professor,
professor,
rmas oo mestre
mas mestre dosdos mestres,
mestres, aa divindade
divindade que
que falou verdade.
falou verdade.
—r—
— 12 —
Linguagem também
Linguagem também significa
significa aquilo com oo qual
aquilo com qual comunica-
comunica­
mos, ou
mos, ou oo meio pelo qual
meio pelo qual comunicamos
comunicamos alguma
alguma coisa.
coisa. AA divin-
divin­
dade únicamente
dade comunica aa verdade;
unicamente comunica verdade; verdade,
verdade, como
como também
também
significa o
significa o ser
ser no
no seu testemunho, oo ser
seu testemunho, ao testemunhar-se
ser ao testemunhar-se como
como
é;
é: aa única
única comunicação
comunicação divina
divina éé positiva.
positiva.

Poder-se-ia
Poder-se-ia também traduzir ésse
também traduzir tema em
êsse tema em sentido
sentido matético:
matético:
tóda comunicação
tôda comunicação divina
divina éé verdadeira,
verdadeira, éé positiva,
positiva, éé oo ser
ser no seu
no seu
aspecto positivo.
aspecto positivo.

Quer dizer, oo Ser


Quer dizer, Supremo não
Ser Supremo não comunica,
comunica, não dá algo
não dá algo que
que
seja negativo
seja negativo porque
porque oo negativo
negativo não
não seria
seria dado,
dado, mas
mas apenas
apenas Oo
que
que éé positivo.
positivo. AA sua sua comunicação
comunicação éé positiva
positiva ee constituída por
constituída por
positividade.
positividade.
Vemos, assim,
Vemos, assim, que um pensamento
que um pensamento como
como êste de São
êste de João
São João
nos
nos dádá caminho
caminho aa muitas digressões, que
muitas digressões, poderiamos fazer
que poderíamos 2gora,
fazer agora,
transformando-o
transformando-o num aum objecto
objecto dede longa
longa ee profunda meditação, par­
profunda meditação, par-
tindo dêsse conjunto
tindo dêsse conjunto dede idéias
idéias que
que oferecemos de modo
oferecemos de modo umum tanto
tanto
esquemático,
esquemático, que facilita aa mais
que facilita mais profunda
profunda compreensão daquilo
compreensão daquilo
que pretende dizer
que pretende o grande
dizer o evangelista.
grande evangelista.

Estes
Êstes são exemplos de
são exemplos de como
como se se podem
podem processar
processar certas
certas aná­
aná-
lises, mas
lises, mas vamos
vamos ver um outro
ver um outro emem tôrno
tôrno dede um
um tema
tema dodo qual
qua!
tratamos em
tratamos outra oportunidade,
em outra oportunidade, ao ao analisarmos
analisarmos osos atributos
atributos da
da
Trindade cristã:
Trindade cristã: oo Pai, o Filho
Pai, o Filho ee oo Espírito
Espírito Santo.
Santo.

Vimos que
Vimos que oo Pai,
Pai, em relação aa si
em relação si mesmo,
mesmo, éé aa vontade infi-
vontade infi­
nitamente querendo o
nitamente querendo o bem,
bem, que
que éé aa Omnipotência;
Omnipotência, em relação 20
em relação ao
Filho, éé aa vontade
Filho, infinitamente entendendo
vontade infinitamente entendendo aa verdade,
verdade, que
que éé aa
Omniperfeição; em
Omniperfeição; relação ao
em relação Espírito Santo,
ao Espírito Santo, éé aa vontade amando
vontade amando
infinitamente
infinitamente que que éé aa Omnipresença.
Ornipresença, Vimos, então,
Vimos, então, que
que oo Filho
Fiiho
em
em relação
relação ao Pai éé o
ao Pai o entendimento
entendimento infinitamente
infinitamente querendo
querendo o o bem,
bem,
que
que éé aa Providência;
Providência; em em relação
relação aa si
si mesmo
mesmo éé oo entendimento
entendimento infi-infi­
nitamente entendendo aa verdade,
nitamente entendendo verdade, queque éé aa Omnissapiência,
Omnissapiência, ee em em re­
re-
lação
lação ao Espírito Santo
ao Espírito Santo éé oo entendimento
entendimento infinitamente
infinitamente amando,
amando, que que
éa Justiça.
é a Justiça. No Espírito
No Espírito Santo
Santo temos:
temos: em relação ao
em relação ao Pai,
Pai, oo amor
amor
infinitamente querendo
infinitamente querendo oo bem, bem, éé aa Esperança
Esperança (Bondade);
(Bondade); em em
relação ao Filho,
relação ao Filho, oo amor
amor infinitamente
infinitamente entendendo
entendendo aa verdade
verdade éé aa
Fé (Sabedoria), ee em
Fé (Sabedoria), em relação
relação aa si si mesmo,
mesmo, oo amor
amor infinitamente
infinitamente

— 13 —
13 —
amando,
amando, o o amor
amor éé aa Caridade
Caridade (Amor);
(Amor); aa qual nos dá
qual nos dá aa esperan­
esperan-
çaça no
no sentido
sentido do
do agathe
agathe que
que éé aa Bondade,
Bondade, porque
porque éé o
o amor
amor infi-
infi­
nitamente
nitamente querendo
querendo oo bem
bem como
como o o amor
amor amando infinitamente aa
amando infinitamente
verdade éé ài Sabedoria,
verdade Sabedoria, ee amando
amando infinitamente
infinitamente oo amor
amor éé oo amor
amor
cristão que
cristão que ama
ama oo amável, pelo bem
amável, pelo bem ee pela verdade que
pela verdade é, ee ama
que é, ama
o bem
o bem ee aa verdade
verdade dodo amável,
amável, amando
amando o o próprio
próprio amor.
amor.

Temos
Temos aqui os atributos
aqui os atributos fundamentais,
fundamentais, os três de
os três de cada
cada pes­pes-
soa.
soa. No Espírito
No Espírito Santo,
Santo, além dêsses três:
além dêsses três: fé,
fé, esperança
esperança ee cari­cari-
dade, que
dade, que não
não são
são prôpriamente atributos de
propriamente atributos de Deus,
Deus, mas atributos
mas atributos
que correspondem
que correspondem ao ao homem,
homem, porqueporque oo Espírito
Espírito Santo liga-se
Santo liga-se
directamente
directamente ao ser humano
ao ser humano na na concepção
concepção teológica
teológica cristã, mas na
cristã, mas na
divindade éé aa agaive,
divindade agathe, aa bondade,
bondade, aa verdade
verdade ee oo amoramor infinito.
infinito.
Quer
Quer dize:,
dizer, àà bondade,
bondade, ao agathe, corresponde
ao agathe, corresponde aa esperança;
esperança; àà
verdade ccrresponde aa fé
verdade ccrresponde fé ee ao amor infinito
ao amor corresponde aa cati-
infinito corresponde cari­
dade.
dade.
Então teríamos
Então teríamos aqui
aqui os
os nove
nove atributos
atributos fundamentais
fundamentais ee os os ou-
ou­
tros três,
tros que não
três, que não são própriamente atributos,
são propriamente atributos, porque
porque aa fé,
fé, aa es-
es­
perança ee aa caridade
perança não são
caridade não são atributcs, mas podem
atributes, mas podem ser indicados,
ser indicados,
de certo
de certo modo,
modo, no no homem,
homem, porque correspondem ao
porque correspondem homem.
ao homem.
Deus não
Deus não necessita
necessita dede esperança,
esperança, nemnem de de fé,
fé, ee aa sua
sua caridade
caridade
estaria
estaria nana sua
sua onticidade.
onticidade.
*“a a* a9

Ao estudarmos os
Ao estudarmos possíveis (em
os possíveis grego, dynaton,
(em grego, dynaton, nono plural
plural
dynata) podem
dynata) podem ser ser classificados
classificados assim:
assim: os arithmoi erkbai,
os arithrnoi arkbai, queque
sio entes
são entes de de possibilidade
possibilidade intrínseca,
intrínseca, não não dede possibilidade
possibilidade extrin-
extrín­
seca, são por
seca, são por isso
isso ab-aeterno
ab-aeterno ee são
são actualizados
actualizados no no contexto
contexto heta
beta
apenas
apenas per per iniitationem
imilaüonem ee per per participationem,
part/cipationem, ee só só se dão singu­
se dão singu-
larmente per
larmente per reproductionem,
reproduetionem, ou ou seja pela producção
seja pela producção de tôda coi-
de tôda coi­
sa: êles
sa: êles só
só sese dão
dão quando
quando aa coisa
coisa sese produz,
produz, masmas imitando
imitando ee par-
par­
ticipando dos
ticipando dos arithwmo?
arithmoi arkhai, que são
arkhai, que são apenas
apen:s possibilidades
possibilidades in- in­
trínsecas ee não
trínsecas não extrínsecas, porque sese fóssem
extrínsecas, porque extrínsecas se
fôssem extrínsecas actua-
se actua­
lizariam singular ee individualmente.
lizariam singular individualmente.

Vimos ainda que


Vimos ainda que os
os logoi,
logoi, que
que são leis actuantes,
são leis não se
actuantes, não se actua­
actua-
lizam singularmente.
lizam singularmente. Elas actuam dentro
Elas actuam dentro dodo contexto
contexto cósmico,
cósmico,
regem ee presidem
regem presidem oo funcionar
funcionar dinâmico
dinâmico dasdas coisas cósmicas, es­
coisas cósmicas, es-

— 14
14 —

tática, dinâmica
tática, dinâmica ee cinenàticamente,
cinemãticamente, não não sese actualizam,
actualizam, porém,
porém,
singularmente, subjectivamente.
singularmente, subjectivamente. A A sua
sua presença
presença éé aa presença
presença
da ordem,
da ordem, do do édito,
édito, da
da determinação
determinação divina sôbre as
divina sôbre coisas, que
as coisas, que
procuramos interpretar
procuramos mais profundamente,
interpretar mais profundamente, ee finalmente
finalmente temos
temos
os possibilia
os possibilia singulares,
singulares, que são actualizéveis
que são actualizáveis no contexto beta,
no contexto beta,
que
que se actualizam também
se actualizam também per reproductionem, mas
per reproductionem, mas que também
que também
se actualiza per
se actualiza per imitationem
imitationem ee perper participationem.
participalionem.

Outros
Outros não são actualizáveis
não são actualizáveis de de modo
modo algum,
algum, apenas
apenas o o são
são
por meio
por de representantes
meio de representantes daqueles universais, os
daqueles universais, possibilia sin­
os possibilia sin-
gulares, os
gulares, os possíveis
possíveis singulares,
singulares, os os futuríveis,
fututíveis, os que possuem
os que possuem
possibilidades extrínsecas,
possibilidades extrínsecas, osos que podem actualizar-se
que podem actualizar-se como
como sin-
sin­
gulares também,
gulares também, enquanto outros, que
enquanto outros, que são universais, não
são universais, podem
não podem
actualizarem-se singularmente,
actualizarem-se singularmente, senãosenão daquele modo.
daquele modo. Ora,
Ora, os os
arithmo:! arkbai,
arithmoi enquanto tais,
arkhai, enquanto são dynaia,
tais, são dynaia, jamais actualizáveis,
jamais actualizáveis,
porque o
porque o universal
universal nunca
nunca se singulariza, como
se singulariza, vimos.
como vimos.

Temos, pois,
Temos, pois, de concluir pelas
de concluir pelas análises
análises feitas, que êsses
feitas, que êsses
aritbmoi arkbai
arithmoi arkhai têm de pertencer
têm de pertencer aoao Ser Supremo, têm
Ser Supremo, de estar
têm de estar
contidos no
contidos no Ser
Ser Supremo,
Supremo, dentro
dentro dede uma
uma ordem,
ordem, dentro
dentro de
de uma
uma
hierarquia eminencial.
hierarquia eminencial. OO Ser Ser Supremo contêm eminencialmente
Supremo contém eminencialmente
os arithm
os aritbmoioi arkbai,
arkbai, ee os
os logoi
logoi ee os futuriveis singulares,
os futuríveis singulares, etc.
etc. T To-o­
dos os
dos os dymata estão contidos
dynata estão contidos eminencialmente
eminencialmente na na divindade
divindade en­en-
quanto omnipotência,
quanto omnipotência, enquanto
enquanto vontade infinitamente querendo
vontade infinitamente querendo
oo bem, quer dizer,
bem, quer dizer, aa omnipotência.
omnipotência.
AA omnipotência
omnipotência contémcontém tudotudo isso, contém todos
isso, contém todos osos graus
graus de de
potencialidade,
potencialidade, contém, contém, consequentemente,
conseqüentemente, tôda tôda gamagama dosdos pos­
pos-
síveis, dos
síveis, dynata.
dos dynata. Mas, se
Mas, se quisermos
se se quisermos fazer ainda comparação
fazer ainda comparayão
dêste modo
dêste modo de de conter,
conter, em em relação
relação aos nove atributos,
aos nove atributos, vemos
vemos que que
aa omnipotência,
omnipotência, isto isto é,é, o
o Pai como vontade
Pai como vontade infinitamente
infinitamente queren-
queren­
do
do o o tem,
kem, aa omnipresença,
omnipresença, tem tem de conter êstes
de conter êstes arithmoi
arithmo: arkhai,
arkbai, ee
os logoi,
os logoi, ee tôdas
tôdas as espécies de
as espécies possibilia, dos
de possibilia, futuríveis, dos
dos futuríveis, dos sê-
sê­
res que
res que têm
têm possibilidade apenas intrínseca,
possibilidade apenas intrínseca, bembem comocomo daqueles
daqueles
que
que têm têm possibilidades
possibilidades extrinsecas.
extrínsecas. Deve Deve contê-los
contê-los virtualmente,
virtualmente,
hierârquicamente na
hieràrquicamente na sua
sua eminencialidade,
eminencialidade, ee sustentativamente,
sustentativamente, por­ por-
que êle
que êle dará
dará aa êstes
êstes sêres
sêres aa suasua virtualidade,
virtualidade, aa sua potencialidade,
sua potencialidade,
oo tipo
tipo de potencialidade que
de potencialidade têm, o
que têm, o tipo
tipo de
de dynamis
dynamis que que possuam.
possuam.
Contê-los-á hieràrquicamente,
Contê-los-á hierârquicamente, dentro dentro da da sua eminência, dentro
sua eminência, dentxo da­da-
—1s—
— 15 —
quela gama
quela aritmológica que
gama aritmológica que já
já expusemos,
expusemos, naquela
naquela gradatividade,
gradatividade,
que naturalmente
que naturalmente éé marcada
marcada pelas
pelas distinções,
distinções, ee susten:ativamente
sustencativamente
pelo
pelo ser que os
ser que os sustenta,
sustenta, que
que lhes
lhes dá
dá aa validez,
validez, jájá que
que êles
êles toma-
toma­
dos de
dos de per
per si
si ee em
em sisi mesmos
mesmos nãonão teriam nenhum fundamento,
teriam nenhum fundamento, ne-ne­
nhuma sustentação,
nhuma sustentação, ee queque éé dada pela omnipresença
dada pela divina, que
omnipresença divina, que
permite
permite queque sicut inferins est
sicut injerius est superins (que se
superius (que se compreenda
compreenda que que
assim como éé Oo inferior
assim como inferior éé oo superior),
superior), porque
porque aa positividade,
positividade, que
que
alguma coisa
alguma coisa tem,
tem, éé uma
uma positividade naturalmente participada.
positividade naturalmente participada.

Olhando
Olhando do do lado
lado do Filho, oo lado
do Filho, lado da
da omniperfeição, que éé oo
omniperfeição, que
entendimento
entendimento infinitamente
infinitamente querendo
querendo o o bem,
bem, teremos
teremos aa objecti­
objecti-
vidade
vidade dasdas coisas.
coisas. Na Na omnissapiência que éé oo entendimento
omnissapiência que entendimento in- in­
finitamente entendendo aa verdade,
finitamente entendendo verdade, temos
temos aa contenção
contenção formal:ter
form aliter
das coisas,
das coisas, ee no
no entendimento
entendimento infinitamente
infinitamente amando,
amando, que
que éé aa Jus­
Jus-
tiça, temos
tiça, temos as coisas contidas
as coisas contidas axiolôgicamente,
axiològicamente, aa concatenação
concatenação dasdas
coisas, aa harmonia.
coisas, harmonia.

Da
Da parte
parte do
do Espírito Santo, quanto
Espírito Santo, quanto ao ao Pai,
Pai, que
que éé o o amor
amor
infinitamente querendo,
infinitamente querendo, corresponde
corresponde àà Esperança,
Esperança, temos
temos aa con- con­
tenção pariicipiditer.
tenção participiatiter. Da Da parte
parte do Filho, que
do Filho, que éé oo amor infini-
amor infini­
tamente entendendo
tamente entendendo aa verdade,
verdade, temos
temos aa Fé,
Fé, aa contenção
contenção imitative,
imitative,
aa mímesis,
mimesis, aà imitação
imitação da verdade contida
da verdade contida nono Ser
Ser Supremo
Supremo e, e, oo amor
amor
infinitamente amando, que
infinitamente amando, que éé dodo Espírito
Espírito Santo
Santo ante
ante sisi mesmo,
mesmo,
temos,
temos, então
então o o aspecto
aspecto difusivo
difusivo do ser.
do ser.

OO amor
amor éé sempre difusivo ee o
sempre difusivo o Ser
Ser Infinito
Infinito éé difusivo, por-
difusivo, por­
que
que êle se difunde,
êle se difunde, por isso aa sua
por isso presencialidade em
sua presencialidade tôda parte,
em tôda parte,
ee em
em tudo.
tudo. De forma
De que se
forma que se nós
nós tomarmos
tomarmos aa substância
substância univer-
univer­
sal, conforme já
sal, conforme já estudamos,
estudamos, comocomo o o que
que éé criaturalmente
criaturalmente aa pró-
pró­
pria criação,
pria criação, que
que se apresenta substancialmente
se apresenta substancialmente na na sua
sua díada,
díada, nono
seu aspecto
seu aspecto diádico
diádico ee aóristo,
aôristo, quer
quer dizer,
dizer, na sua diada
na sua indetermi-
díada indetermi­
nada, mista
nada, mista de actualidade ee potencialidade,
de actualidade potencialidade, de de determinação
determinação ee
de determinabilidade,
de determinabilidade, diremos
diremos queque aa possibilidade
possibilidade dosdos arithmoi
arithmoi
arkbai, dos
arkhai, dos logoi
log oi ee dos
dos futuríveis,
futuríveis, só sô pode
pode estar
estar contida nessa
contida nessa
substância de
substância de modo
modo pariicipiditer
participialiter ee imitativamente;
imitaüvamente; ou seja, reve­
ou seja, reve-
lável pela
lável pela metéxis
metéxis ee pela
pela mímesis.
mímesis.

Então,
Então, aa substância
substância universal
universal éé susceptível
susceptível de ser assumida
de ser assumida
por tôdas as
por tôdas formas participáveis
as formas participáveis ee imitáveis, proporcionadas àà
imitáveis, proporcionadas

_— 16
16 —

sua tectônica,
sua tectônica, comcom aa sua
sua estructura
estructura hilética
hilética ee aa sua
sua estructura
estructura ei-ei-
dética.
dética. De De maneira
maneira que ela, fundamentaliter,
que ela, fundamental/ter, repetirá estas for­
repetirá estas for-
mas, êstes
mas, êstes eide,
eide, êsse arithmoi arkhai,
êsse arithmoi arkhai, apenas
apenas de modo participia-
de modo participia-
liter
liter ee imitativamente.
imitativamente. Quer dizer,
Quer metéxis ee mimesis,
dizer, metêxis mimesis, e,e, natu­
natu-
ralmente,
ralmente, em em prcporção
preporção às às diversas fases da
diversas fases da sua
sua tectônica, incluindo
tectônica, incluindo
aa sua
sua estructura
estructura hilética
hilética ee eidética.
eidética. O O que
que recebe
recebe esta forma éé
esta forma
passível, éé susceptível,
passível, susceptível, de de receber
receber estas
estas outras,
outras, tais
tais ou quais.
ou quais.

Somos forçados
Somos forçados aqui
aqui aa parar
parar aa análise,
análise, pois para prossegui-
pois para prossegui-
-la éé mister
-la mister remontemos
remontemos ao ao problema critico dos
problema crítico dos universais, que
universais, que
passaremos aa tratar
passaremos tratar novamente,
novamente, aproveitando contribuições maté-
aproveitando contribuições maté-
ticas, que
ticas, nos facilitarão
que nos facilitarão aa interpretação
interpretação mais justa da
mais justa polêmica
da polêmica
dos universais,
dos universais, ee permitir
permitir aa conciliação
conciliação entre
entre as
as diversas
diversas posições.
posições.

Compreendendo bem
Compreendendo bem aa possibilidade intrínseca ee aa possibi­
possibilidade intrínseca possibi-
lidade
lidade extrínseca, notamos que
extrínseca, notamos que existe
existe um
um puramente possível, um
puramente possível, um
pure possibile,
pttre possibile, que
que éé prôpriamente aquêle que
propriamente aquêle que éé apenas
apenas umum dyna-
dyna-
ton, mas que
lon, mas que nunca
nunca se se existencializa,
existencializa, sese singulariza,
singulariza, pois
pois aa exis-
exis­
tência
tência éé sempre
sempre singular,
singular, éé sempre
sempre o o modo
modo singular
singular de
de ser,
ser, ee há

uma possibilidade
uma extrínseca, que
possibilidade extrínseca, que éé aquela
aquela que corresponde ao
que corresponde ao
que
que oraora não existe, mas
não existe, mas que alguma vez
que alguma vez existe, que não
existe, que não existe
existe
agora,
agora, masmas pode
pode existir
existir em
em outra
outra ocasião, que só
ocasião, que só poderia atribuir-
poderia atribuir-
-se êste meramente
-se êste possível, que
meramente possível, que implica
implica aa possibilidade
possibilidade extrínseca,
extrinseca,
naturalmente aquêle dynata,
naturalmente aquêle que têm
dynata, que têm aptidão para existir
aptidão para alguma
existir alguma
vez,
vez, ou cuja existencialização,
ou cuja existencialização, aa maneira
maneira subjectiva
subjectiva de singulari-
de singulari-
zar-se,
zar-se, éé possível.
possível.

Vejamos se
Vejamos se na
na substância
substância universal
universal háhá aa possibilidade
possibilidade intrín­
intrin-
seca
seca ee aa extrínseca,
extrínseca. AA intrínseca
intrínseca sósó pode
pode dar-se como puramente
dar-se como puramente
possível, como dynnton
possível, como dynaton aplôs,
aplós, simpliciter, e, apenas
sinipliciter, e, como ente
apenas como ente
incomutável do
incomutável do contexto
contexto alfa.
alfa. Precisamos agora
Precisamos agora saber
saber se,
se, nono
contexto
contexto beta, onde se
beta, onde se dá
dá aa substância
substância universal,
universal, há há aa possibilidade
possibilidade
intrínseca ee aa extrinseca.
intrínseca extrínseca. Há Há aa possibilidade
possibilidade intrínseca
intrínseca ee extrin-
extrín­
seca de
seca de tôdas
tôdas actualizações
actualizações singulares,
singulares, mas
mas segundo
segundo uma uma hierar-
hierar­
quia de
quia de sucessão
sucessão àà assunção;
assunção; segundo
segundo umauma hierarquia
hierarquia de de partici-
partici­
pação de
pação de imitação.
imitação. Naturalmente que
Naturalmente que isto será proporcionado
isto será proporcionado àà
substância universal,
substância quer dizer,
universal, quer dizer, quem
quem tem
tem aa possibilidade
possibilidade extrín-
extrín­
seca, tem
seca, tem naturalmente
naturalmente aa possibilidade
possibilidade intrínseca, mas acontece
intrínseca, mas acontece
— 17
— 17 —

que aquêles que
que aquêles que só tem possibilidade
só tem intrínseca, só
possibilidade intrínseca, podem perten­
só podem perten-
cer ao contexto
cer ao contexto alfa
alfa ee não
não ao
ao contexto beta.
contexto beta.

Os aritbmoi
Os arkbai são
arithmoi arkhai dynata,
são dy nata, mas repetiveis apenas
mas repetiveis apenas porpor
participação ee imitação
participação imitação no contexto beta,
no contexto beta, onde
onde hãhá aa singularização
singularização
pela entitas
pela entitas participante
participante ouou imitante. Quer dizer,
imitante. Quer dizer, não
não são
são os pró-
os pró­
prios aritbmoi
prios arkbai que
arithmoi arkhai que sese singularizam,
singularizam, masmas as coisas que
as coisas que sese
singularizam o
singularizam o são
são àà imitação
imitação dêsses
dêsses aritbmoi.
arithmoi. Elas repetem, pe-
Elas repetem, pe­
la participação ee pela
la participação pela imitação,
imitação, oo carácter universal dos
carácter universal arithmoi
dos arithmoi
arkbai.
arkhai.

Em face
Em face dêsse
dêsse aspecto, temos, inevitàvelmente,
aspecto, temos, inevitâvelmente, de analisar
de analisar
oo tema
tema do universal, tema,
do universal, tema, portanto, fundamental, na
portanto, fundamental, Filosofia,
na Filosofia,
ou pelo
ou pelo menos
menos do do filosofar
filosofar no no seuseu funcionar
funcionar dinâmico,
dinâmico, porque,
porque,
enquanto não
enquanto não sese resolver
resolver o o problema
problema dos dos universais,
universais, nãonão se se pode
pode
resolver nenhum dos
resolver nenhum lanços do
dos lanços do caminho
caminho do do filosofar,
filosofar, porque
porque aa
Filosofia ficaria delimitada
Filosofia ficaria delimitada na na sua acção, pois
sua acção, pois humana
humana como como é,é,
trabalha
trabalha com com conceitos,
conceitos, ee necessita
necessita sabersaber dada validez,
validez, dodo significa­
significa-
do,
do, da da dignidade,
dignidade, da realidade dêsses
da realidade dêsses conceitos,
conceitos, parapara que
que as con-
as con­
sequência,
seqüência, que que são extraídas dêles
são extraídas dêles possam
possam ter ter um
um fundamento
fundamento
para
para sisi mesmas,
mesmas, porque porque não não poderemos
poderemos dar dar mais,
mais, atribuir
atribuir mais
mais
realidade ou
realidade ou mais validez ao
mais validez consequente, senão
ao conseqüente, estiver no
senão estiver no ante­
ante-
cedente, já
cedente, já queque o o consegiiente
conseqüente não não põe, não dá,
põe, não dá, não
não oferece,
oferece, se­se-
não dentro
não dentro da da proporção
proporção do do que
que está contido no
está contido no antecedente,
antecedente, co- co­
mo
mo éé oo princípio
princípio da da consegiiência.
conseqüência. Desta Desta forma,
forma, êste
êste tema passa
tema passa
aa ser
ser um
um tematema fundamental
fundamental de nossas análises.
de nossas análises.

Fizemos dessas
Fizemos dessas análises, percorremos êstes
análises, percorremos caminhos, ee temos
êstes caminhos, temos
necessidade de
necessidade de reanalisá-lo
reanalisá-lo sob outros aspectos.
sob outros Temos natural-
aspectos. Temos natural­
mente,
mente, parapara realizar
realizar essa tarefa, de
essa tarefa, de fazer uma rápida
fazer uma rápida análise
análise ainda
ainda
dos
dos dynata,
dynata, sôbresôbre alguns
alguns aspectos importantes, que
aspectos importantes, que vão nos fa
vão nos fa­
cilitar
cilitar osos exames posteriores.
exames posteriores. E,
E, nãonão devemes
devemos esquecer
esquecer queque aa
idéia de
idéia possível, como
de possível, como já já notamos,
notamos, éé apenas
apenas oo queque se
se afirma,
afirma, oo
que se
que se testemunha,
testemunha, o o que
que não
não está eivado de
está eivado de contradição formal
contradição formal
intrínseca. De
intrínseca. maneira que
De maneira que dynaton, possível, éé oo que
dynaton, possível, que pode
pode ser
ser
ee pode
pode não não ser. Por isso
ser. Por isso éé contingente,
contingente, ee quando
quando o o dynaton, que
dynaton, que
pode ser
pode ser ee pode
pode nãonão ser, pode existir,
ser, pode existir, pode
pode não
não ser
ser ee pode não
pode não
existir,
existir, éé simplesmente
simplesmente o o contingente,
contingente.

— 18 —
18 —
Quando oo dynaton
Quando dynaton éé oo que
que pode
pode ser
ser ee não
não pode não ser,
pode não ser, es-
es­
tamos, então, em
tamos, então, em face
face do
do necessário,
necessário, que
que pode ser tomado
pode ser tomado de
de mo-
mo­
do absoluto ou
do absoluto ou de
de modo relativo, como
modo relativo, como já
já vimos.
vimos.

Quando
Quando tomamos
tomamos oo dynaton
dynaton que pode ser
que pode ser ee também
também não não po-po­
de
de existir de per
existir de per si,
si, jájá temos
temos um um outro
outro tipo,
tipo, assim
assim o o são
são os os
aritbmoi arkbai, que
aritbm oi arkhai, que podem
podem ser ser ee não
não podem
podem nãonão ser,
ser, (são, portan-
(são, portan­
to, necessários),
to, necessários), masmas não podem existir
não podem existir de
de per
per sisi ((1),
1), o o que
que já
já os
os
diferencia
diferencia dede outros
outros necessários,
necessários, que que podem
podem ser ser ee não
não podem
podem nãonão
ser ee não
ser não podem
podem não não existir.
existir. Os Os arithmos
aritbm oi arkbai
arkhai sãosão antes
antes neces-
neces­
sários que
sários que podem
podem ser ser ee não
não podem
podem não não ser, mas não
ser, mas não podem exis-
podem exis-
tencializar-se, quer
tencializar-se, dizer, são
quer dizer, entes de
são entes de necessidade matética.
necessidade matética.

OO necessário
necessário matético
matético não não devemos confundir com
devemos confundir com o o neces-
neces­
sário ontológico,
sário ontológico, pois, pois, êste
êste nãonão pode
pode não
não existir.
existir. E, finalmente
E, finalmente
temos, então,
temos, então, o o adynaton,
adynaton, o o impossível,
impossível, oo que não tem
que não possibili-
tem possibili­
dade, o
dade, o que
que não não pode ser,
pode ser. EE éste
êste éé tomado
tomado absolutamente
absolutamente ou ou
relativamente: o
relativamente: o adynaton
adynaton simpliciter,
simpliciter, queque seria aquéle eivado
seria aquêle eivado de de
contradição formal
contradição formal intrínseca
intrínseca ee oO adynaton
adynaton relativo,
relativo, queque éé aquêle
aquêle
que não
que não temtem impossibilidade
impossibilidade intrínseca,
intrínseca, mas
mas apenas
apenas extrínseca,
extrínseca, co­co-
mo oo segundo
mo segundo filho filho de Napoleão que
de Napoleão que éé adynaton,
adynaton, impossível,
impossível, não não
por impossibilidade
por impossibilidade intrínseca,
intrínseca, porque
porque pode
pode dar-se,
dar-se, mas mas por im-
por im­
possibilidade extrínseca,
possibilidade extrínseca, por faltar oo conjunto
por faltar conjunto das das causas,
causas, aa actua­
actua-
lidade dessas
lidade causas, que
dessas causas, que poderiam
poderiam facilitar
facilitar oo surgimento
surgimento dêssedêsse
segundo filho.
segundo filho.

Já dispomos
Já dispomos agoraagora dede todos
todos osos elementos
elementos suficientes
suficientes para
para co­
co-
locar bem
locar bem aa questão
questão dosdos universais
universais e, e, portanto,
portanto, torná-la solúvel
torná-la solúvel
pois, tem
pois, sido insolúvel
tem sido precisamente porque
insolúvel precisamente porque tem sido mal
tem sido mal colo-
colo­
cada, porque tais
cada, porque tais conceitos
conceitos não não foram
foram devidamente
devidamente clareados.
clareados.
Desde
Desde queque êsses conceitos sejam
êsses conceitos sejam devidamente
devidamente clareados,
clareados, nãonão há há
mais,
mais, como veremos, nenhum
como veremos, nenhum problema.
problema. Agora, o
Agora, o que
que éé preciso
preciso
notar-se
notar-se ee éé isso de máxima
isso de máxima importância
importância nunca
nunca esquecer, nem per-
esquecer, nem per-

(1)
(1) Se tomamos
Se tomamos existir
existir como
como oo exercício
exercício da sistência ex
da sistência ex ee já
já fora
fora
de suas
de suas causas
causas os arithmoi arkhai
os aritlimoi (as formas
arkhai (as formas platônicas) não podem
platônicas) não podem
existir,
existir, porque se singularizariam.
porque se singularizariam. OO único
único modo
modo dede Ser
Ser seria
seria o o for­
for-
mal
mal (como
(como eidos), como esquemas,
eidos), como esquemas, como
como teremos oportunidade de
teremos oportunidade de es-
es­
tudar em
tudar em «Sabedoria
«Sabedoria dos
dos Esquemas».
Esquemas».

—— 1919 ——
mitir que
fnitir que outra vez possa
outra vez possa advir esta dúvida,
advir esta dúvida, éé que
que êstes concei-
êstes concei­
tos,
tos, que
que são precisivos, ee que
são precisivos, que alcançamos,
alcançamos, após um cuidado
após um muito
cuidado muito
gtande,
grande, uma uma forma
forma abstractiva
abstractiva para atingir uma
para atingir uma precisão muito
precisão muito
nítida, alcançar
nítida, alcançar aa sua
sua ontologicidade
ontologicidade ee aa suasua mateticidade,
mateticidade, praças
graças
àà apreensão
apreensão da da eideticidade
eideticidade genuina
genuina dêsses
dêsses conceitos, que não
conceitos, que não sãosão
arbitrários
arbitrários ee temos
temos de afastar oo que,
de afastar que, aliás, seria uma
aliás, seria uma aderência
aderência
infantil, que
infantil, que éé aa hipostasiação
hipostasiação dêsses
dêsses conceitos, dêsses cide.
conceitos, dêsses eide.

criança, naturalmente,
AA criança, naturalmente, tende tende a1 hipostasiar
hipostasiar as as suas idéias aa
suas idéias
dar-lhes uma
dar-lhes fáctica, o
entidade fáctica,
uma entidade se caracteriza,
que se
O que também, no
caracteriza, também, no
pensamento mítico
pensamento mítico dos homens mais
dos homens primitivos, que
mais primitivos, consiste em
que consiste em
hipostasiar oo que
hipostasiar que somos capazes de
somos capazes pela nessa
distinguir pela
de distinguir mente.
nessa mente.
Necessitamos, já oo fizemos
aliás já
Necessitamos, ee aliás fizemos bastantes vêzes, uma
bastantes vêzes, uma demons-
demons­
tração segura
tração segura do do paralelismo
paralelismo que que ha entre os
há entre os conceitos precisivos,
conceitos precisivos,
construídos com
quando construídos
quando com todo rigor ontológico
todo rigor matético ee aa rea-
ontológico ee matetico rea­
lidade.
lidade. Não haveria
Não haveria mais isso, mas,
sôbre isso,
dúvida sôbre
mais dúvida mas, como natu-
como natu­
prova só
melhor prova
ralmente aa melhor
ralmente se poderá
só se fazer pela
poderá fazer solução do
pela solução pro-
do pro­
blema dos universais,
blema dos universais, porque,
porque, então,
então, encontraríamo
encontraríamos s qual
qual o
o grau
grau
de fundamento
de dessas precisões,
fundamento dessas vamos examiaá-los
precisões, vamos seguir.
examiná-los aa seguir.

_— 20
2C —

CAP. IIII
CAP.

OS CONCEITOS
OS CONCEITOS UNIVERSAIS
UNIVERSAIS E
E SUA
SUA VALIDEZ
VALIDEZ

Há em
Há em nossos
nossos conceitos um conteúdo
conceitos urr. conteúdo real,real, que
que deve
deve ser
ser
esclarecido se
esclarecido se éé meramente
meramente real
real emem nossa
nossa razão,
razão, ee se,
se, além disso,
além disso,
éé real
real fora
fora dede nossa
nossa razio; ou seja,
razão; ou seja, se esta realidade
se esta realidade sese dá ante
dá ante
rem, in
rem, in re
re ee post
post rem (depois de
rem (depois de conhecica).
conhecica).
Ora,
Ota, emem face
face de de tudo
tudo quanto
quanto estudamos,
estudamos, de de tudo
tudo quanto
quanto exa-exa­
minamos através
minamos através de de nossas
nossas obras,
obras, poderiamos
poderíamos dizer dizer que
que o o proble-
proble­
ma
ma já está devidamente
já está devidamente solucionado,
solucionado, ee que que as as polêmicas havidas
polêmicas havidas
entre aquêles que
entre aquêles que negam
negam uma realidade ante
uma realidade ante rem,
rem, ouou uma
uma realidade
realidade
m re,
in re, ara
oara apenas afirmarem uma
apenas afirmarem uma realidade
realidade post post rem,
rem, ou ou aquê-
aquê­
les que
les afirmam apenas
que afirmam apenas uma uma realidade
realidade in 1º, ee post
in re, post rem, negando
rem, negando
uma
uma ante ante rem, quaisquer dessas
rem, quaisquer posições surgiram
dessas posições surgiram de de mámá colo-
colo­
cação do
cação problema, já
do problema, já que,
que, bembem colocado,
colocado, ee distinto,
distinto, o o que
que éé uni­
uni-
versal no
versal no contexto
contexto alfa alfa ee universal
universal no no contexto
coniexto beta,beta, oo tema
tema não não
admitiria maiores
admitiria maiores discussões.
discussões. Desde Desde queque sejam devidamente ca­
sejam devidamente ca-
racterizadas,
racterizadas, ee as as objecções propostas, verifica-se
objecçces propostas, verifica-se que nada mais
que nada mais
são
são do que producto
do que producto de de uma
uma má má visualização
visualização do do tema,
tema, o o que
que le-
le­
vou
vou aa muitos,
muitos, fundando-se
fundando-se apenas apenas na realidade do
na realidade do contexto
contexto beta,
beta,
negarem
negarem aa do do contexto
contexto alfa, alfa, ee outros,
outros, aa pensarem
pensarem que que aa realidade
realidade
dos
dos universais,
universais, no no contexto
contexto alfa, reduzia-se àà realidade
alfa, reduzia-se realidade do do contexto
contexto
beta
beta e, e, como
como censequência,
ccnsequência, as as condições
condições ee as as peculiaridades
peculiaridades do do
contexto
contexto beta beta teriam
teriam de de provocar
provocar aa presença
presença de de contradições
contradições ee até até
de repugnância.
de repugnância. Através
Através do do tempo,
tempo, tôdas
tôdas as as afirmativas
afirmativas feitas
feitas
nas diversas
nas diversas sentenças
sentenças sôbre sôbre aa matéria
matéria erraram,
erraram, porqueporque não não com-
com­
preenderam concretamente
preenderam concretamente oo problema, problema, isto isto é,é, há uma realidade
há uma realidade
ante rem,
ante rem, in re ee uma
in re uma post rem, mas
post rem, isso não
mas isso implica que
não implica que aa reali­
reali-
221 —
— —
dade
dade seja
seja aa mesma,
mesma, oo conteúdo real não
conteúdo real não éé necessariamente
necessâriamente oo mes-
mes­
mo,
mo, com
com mesmidade absoluta.
mesmidade absoluta.

Vamos
Vamos tomartomar desta
desta maneira
maneira aa obra
obra de Salcedo (1),
de Salcedo na sua
( 1) , na sua
“Crítica”, no
"Crítica”, no parágrafo
parágrafo 473 473 emem diante,
diante, como ponto de
como ponto de referência
referência
para que,
para seguindo as
que, seguindo as linhas
linhas mestras da Escolástica,
mestras da Escolástica, possamos
possamos mos- mos­
trar aa maneira
trar justa de
maneira justa de colocar
colocar esta questão, que
esta questão, que éé hoje
hoje solucio-
solucio-
nável de
nável um modo
de um modo bem bem claro,
claro, um
um problema
problema que que foi
foi uma
uma aporia,
aporia,
que provocou
que provocou disputas
disputas durante
durante séculos,
séculos, emem consequência
consequência da da mámá
colocação de
colocação de certos aspectos, oo que
certos aspectos, que levou
levou àà impossibilidade
impossibilidade de de
conciliação de
conciliação certos postulados,
de certos postulados, queque eram
eram inconciliáveis, porque
inconciliáveis, porque
partiam de
partiam de visualizações,
visualizações, mal mal fundadas.
fundacas.

£E natural
natural que não poderemos
que não poderemos nos nos demorar
demorar muito
muito em em certos
certos
aspectos demasiadamente
aspectos demasiadamente específicos,
específicos, não não que
que queiramos
queiramos fazerfazer
apenas
apenas um um trabalho
trabalho sintético,
sintético, estando numa arte
estando numa parte analítica, mas
analítica, mas
pela
pela simples razão de
simples razão que muitos
de que muitos dêsses
dêsses aspectos, não têm
aspectos, não têm mais
mais
justificativas para
justificativas para serem
serem examinados
examinados em em face
face do
do que
que jáji tivemos
tivemos
oportunidade de
oportunidade estudar até
de estudar até aqui.
aqui. Naturalmente
Naturalmente que que vamos
vimos cha-cha­
mar atenção
mar para os
atenção para os postulados
postulados já demonstrados anteriormente,
já demonstrados anteriormente,
que
que nos
nos auxiliam
auxiliam aa explicação déstes pontos.
explicação destes pontos.

AA questão
questão em
em tôrno
tôrno dos universais já
dos universais já surgira
surgira entre os gre­
entre os gre-
gos, porque vemos
gos, porque Porfírio, no
vemos Porfírio, no "Isagoge",
“Isagoge”, fazer menção de
fazer menção de po-
po­
lêmicas em
lêmicas em tôrno
tôrno dessa matéria. Mas
dessa matéria. Mas tomou
tomou umum aspecto
aspecto grave,
grave,
pela intensidade
pela intensidade ee extensidade
extensidade que teve, precisamente
que teve, durante aa
precisamente durante
Idade Média ee o
Idade Média o início
início da Escolástica, porque
da Escolástica, porque em tôrno dessa
em tôrno dessa po­
po-
lêmica
lêmica girou quase todo
girou quase todo oo pensamento
pensamento de de longos
longos séculos,
séculos, ee apesar
apesar
de ter tido
de ter tido uma
uma solução
solução graças
graças aa Tomás
Tomás de de Aquino, solução que
Aquino, solução que

já vimos,
vimos, queque analisamos,
analisamos, infelizmente,
infelizmente, passado
passado alguns
alguns séculos
séculos aa
polêmica retornou, avivada
polêmica retornou, avivada por argumentos jájá refutados
por argumentos com an-
refutados com an­
tecedência.
tecedência.

Se olharmos
Se olharmos aa época actual, ela
época actual, ela surge com uma
surge com uma virulência
virulência pe-
pe-
rigosíssima, já
rigosíssima, já que
que sobretudo
sobretudo aa posiçãc
posição nominalista
nominalista ee até
até aa nihi-
nihi-
lista chegam
lista chegam aa avassalar
avassalar uma série de
uma série de mentes,
mentes, que
que deveriam
deveriam dardar

(1)
(1) Leovegildo Salcedo «Philosophire
Leovegildo Salcedo Scolasticae Summa»,
«Plülosophiae Scolastieae Sunima», et.
et.
Bac, 1964.
Bac, 1964.

— 22 —
— 22 —
melhor destino às
melhor destino às suas
suas actividades, perturbando uma
actividades, perturbando uma juventude
juventude
despreparada,
despreparada, ee criando
criando umum estado de completa
estado de completa falta
falta de segurança
de segurança
ee de
de realismo
realismo aa tudo
tudo quanto
quanto sese refira
refira ao
ao pensamento humano e,e,
pensamento humano
neste caso, pomos
neste caso, pomos em risco todo
em risco todo o o patrimônio cultural, se
patrimônio cultural, se não
não fô-
fô-
rem tomadas
rem tomadas providências
providências parapara rebater devidamente estas
rebater devidamente estas novas
novas
tentativas, que
tentativas, que são profundamente corruptoras
são profundamente corruptoras ee subversivas
subversivas do do
pensamento humano,
pensamento substituindo aquilo
humano, substituindo aquilo queque tinha uma firmeza
tinha uma firmeza
ee certa
certa segurança,
segurança, por uma posição
por uma posição completamente insustentável,
completamente insustentável,
mas que,
mas ademais, apresenta
que, ademais, apresenta aa falta
falta de
de qualquer
qualquer consistência,
consistência, mas mas
que
que tem
tem oo poder destrutivo de
poder destrutivo de corromper,
corromper, de de perturbar
perturbar e, e, conse-
conse­
guentemente,
qüentemente, de levar aa uma,
de levar uma total
total descrença
descrença as as nossas
nossas possibili­
possibili-
dades
dades cognoscitivas,
cognoscitivas, ee de
de atrasar,
atrasar, por
por mais
mais alguns
alguns séculos,
séculos, oo desen­
desen-
volvimento
volvimento que que aa Filosofia
Filosofia jájá devera
devera ter ter tido.
tido. NãoNão há,há, portanto,
portanto,
necessidade de
necessidade de encarecer mais oo valor
encarecer mais valor queque tem
tem êsse problema.
êsse problema.

Segundo
Segundo Salcedo,
Salcedo, emem tôrno
tôrno de de conceitos,
conceitos, são suscitados 44 pro-
são suscitados pro­
blemas: oo primeiro
blemas: primeiro consiste
consiste em
em saber
saber algo sôbre oo valor
algo sôbre valor ou
ou realidade
realidade
dos conceitos
dos conceitos universais,
universais, ee êste
êste éé oo problema
problem a crítico.
critico. AA êste
êste pro-
pro­
blema corresponde
blema corresponde um um tríplice
tríplice sistema:
sistema: — — oo nominalismo,
nominalismo, que que
nega qualquer
nega supósito aa êstes
qualquer supósito conceitos universais,
êstes conceitos universais, os quais são
os quais 'ião
apenas vozes;
apenas vozes; o O conceptualismo,
conceptualismo, que que dádá aa êsses conceitos univer-
êsses conceitos univer­
sais alguma
sais alguma realidade,
realidade, mas puramente conceituai,
mas puramente conceitual, sem nenhuma
sem nenhuma
outra fora da
outra fora da nossa
nossa mente
mente e,e, finalmente,
finalmente, o o realismo,
realismo, que afirma
que afirma
que tais conceitos
que tais universais possuem
conceitos universais possuem um valor objectivo.
um valor objectivo.

OO segundo
segundo problema,
problema, que que sese apresenta,
apresenta, éé oo ontológico,
ontológico, tam­tam-
bém chamado metafísico.
bém chamado Trata-se de
metafísico. Trata-se saber qual
de saber qual o o valor
valor ob-
ob­
jectivo que
jectivo que têm
têm êsses
êsses conceitos
conceitos universais
universais ee se se êles
êles são
são univenais
universais
nas coisas
nas coisas ou
ou apenas universais no
apenas universais nosso modo
no nosso modo de de cogitar,
cogitar, dede con­
con-
ceber;
ceber; querquer dizer,
dizer, são
são apenas
apenas formalmente considerados ou
form alm ente considerados segzn-
ou segun­
do oo modo
do m odo como são concebidos,
com o são concebidos, sese têm
têm ouou não
não alguma fundamen-
alguma fundamen-
talidade nas
talidade nas coisas.
coisas. Desde
Desde o o momento
momento que que se
se aceita um valor
aceita um ob-
valor ob­
jectivo nesses
jectivo nesses conceitos,
conceitos, então
então oo problema
problema tem tem duas
duas respostas:
respostas: aa
que éé dada
que dada pelo sistema do
pelo sistema realismo exagerado,
do realismo exagerado, que que afirma
afirma queque
êsses universais existem
êsses universais formalmente aa parte
existem formalmente parte rem,
rem, fora
fora dada coisa,
coisa,
fora
fora dosdos indivíduos,
indivíduos, são são de
de per
per sisi subsistentes,
subsistentes, ee o o realismo mode-
realismo mode­
rado, ou mitigado,
rado, ou mitigado, que
que vai
vai afirmar
afirmar que êsses universais
que êsses só existem
universais só existem

— 23 —
23 —
fundamentalmente nas
fundamentalmente nas coisas,
coisas, não
não formalmente,
formalmente, segundo
segando oo queque
nós concebemos,
nós concebemos, não segundo o
não segundo o modo
modo pelo qual são
pelo qual concebidos.
são concebidos.

OO terceiro problema, éé um
terceiro problema, problemaa psicológico.
um problem Trata-se
psicológico. Trata-se
de investigar oo medo
de investigar modo pelo
pelo qual êsses universais
qual êsses são construídos.
universais são construídos.
Se êsses universais
Se êsses universais estão
estão fundamentalmente nas coisas,
fundamentalmente nas coisas, ou
ou se
se são
são
apenas
apenas productos de uma
productos de uma operação
operação intelectual,
intelectual, pela
pela qual
qual êles se
êles se
tornam
tornam universais. Então o
universais. Então o problema,
problems, que
que vai
vai responder,
responder, obriga-o
obriga-o
aa serem
serem distinguidos
distinguidos entre
entre oo universcl directo, que
universal directo, que se
se forma
forma pela
pela
operação
operação precisiva
precisiva do
do intelecto,
intelecto, ee oo reflexo,
reflexo, universal
universal reflexo ou
reflexo ou
lógico, que éé formado
iógico, que formado pela
pela comparação
comparação reflexiva
reflexiva da naureza abs-
da natureza abs-
cracta,
cracta, fundada
fundada nosnos indivíduos.
indivíduos.

E, finalmente,
E, finalmente, o
o quarto
quarto problema,
problema, que
que éé oo problema
problem a lógico.
lógico.
Trata-se do uso,
Trata-se do uso, da
da divisão, do número,
divisão, do número, do
do nome
nome dos
dos conceitos
conceitos
universais.
universais.

A orientação
A geral dos
orientação geral escolásticos, na
dos escolásticos, na disputa
disputa do problema
do problema
dos universais,
dos universais, nana parte da critica,
parte da critica, nesses
nesses últimos
últimos três
três séculos,
séculos, des-
des­
de os
de os jesuítas
jesuítas para
para cá, consiste em
cá, consiste em parte, primeiramente da
parte, primeiramente da refu-
refu­
tação do
tação nominalismo, para
do nominalismo, atingir aa aceitação
para atingir aceitação de
de umum realismo
realismo
pelo menos
pelo moderado, jájá que
menos moderado, que oo realismo
realismo exagerado nãc teve
exagerado não teve ne-
ne­
nhuma figura
nhuma figura dede importância
importância na na Escolástica
Escolástica para defendê-los.
para defendê-los.

Salcedo, na
Salcedo, sua "Crítica”,
na sua “Critica”, no Capítulo 2.°,
no Capitulo 2.º, artigo
artigo 2.2,
2.*, na
na tese
tese
29,
29, defende
defende aa tese,
tese, de
de que
que sese dão
dão conceitos universais aa
conceitos universais aa mente
mente
humana e,
humana e, consequentemente, deve-se rejeitar
conseqüentemente, deve-se rejeitar oo nominalismo.
nominalismo.
Analisamos
Analisamos o o que
que éé universal
universal etimolôgicamente
etimològicamente ee o o que
que éé
universal inin causando,
universal causando, oo queque éé universal
universal in significando, universal
in significando, universal
in repraesentando.
in repraesentando. Analisamos, também,
Analisamos, também, na na parte sintética da
parte sintética da
Matese,
Matese, o o universal
universal in 17 essendo
essendo ee o o unirersal
universal inin praedicando.
praedicando. De
De
forma
forma que,que, tendo
tendo analisado
anslisado todos
todos os os diversos
diversos tipos de universal,
tipos de universal,
oo queque se
se pode
pode atribuir
atribuir aa uma
uma universalidade,
universalidade, não há necessidade
não há necessidade
qe examinsr mais
òe examinar mais êstes
êstes aspectos,
aspectos, estas
estas classificações,
classificações, porque elas
porque elas
jájá foram feitas, ee as
foram feitas, as que
que defendemos
defendemos são prôpriamente asas mesmas
são pròpriamente mesmas
defendidas
defendidas pelos escolásticos. Há
pelos escolásticos. Há umauma divisão
divisão muito importante
muito importante
para aa disputa
para disputa em
em questão:
questão: oo universal
universal fundamental,
fundamental, oo universal
universal
formal directo ee oo universal
formal directo formal reflexo.
universal formal reflexo.
“24
— 24 —

E,
E, segundo Salcedo, êle
segundo Salcedo, êle os
os considera
considera dodo seguinte
seguinte modo:modo: o o
universal fundamental éé constituído
universal fundamental constituído das
das próprias semelhanças sin­
próprias semelhanças sin-
gulares
gulares emem alguma
alguma nota,nota, que,
que, fundando-se nessas similitudes,
fundando-se nessas similitudes, con-
con­
vidam oo intelecto,
vidam intelecto, queque nãonão conhece
conhece aa coisa,
coisa, como
como um um ee compre-
compre-
ensivamente, mas
ensivamente, mas porpor notas
notas ee conotações,
conotações, aa muitos
muitos efeitos
efeitos ee ma­
ma-
nifestações, como
nifestações, concebe notas
como concebe semelhantes ee comuns
notas semelhantes comuns de de todos,
todos,
omitindo, naturalmente,
omitindo, naturalmente, as as notas individuantes.
notas individuantes. Em suma:
Em suma: com com
palavras mais
palavras claras,o universal
mais claras,o universal fundamental
fundamental éé aquêle
aquêle queque éé co-
co­
nhecido pela
nhecido nossa mente,
pela nossa mente, que,
que, iundando-se
fundando-se em em taistais notas
notas seme-
seme­
lhantes, que
lhantes, que sese dão
dão nas coisas singulares,
nas coisas singulares, concebe
concebe estas
estas notas
notas seme-
seme­
lhantes ee comuns
lhantes comuns de de todos,
todos, comc
comc pertencentes
pertencentes aa todos, omitindo,
todos, omitindo,
naturalmente, os
naturalmente, os aspectos
aspectos individuais,
individuais, os
os que
que são tipicamente da
são tipicamente da
singularidade.
singularidade.

O universal
O universal formal
formal directo
directo éé aa natureza
natureza precisa
precisa extraída
extraída das
das
notas individuantes,
notas individuantes, ee tomadatomada r.uma
ruma determinada
determinada compreensão,
compreensão,
assim, oo cavalo,
assim, cavalo, considerado como um
considerado como animal que
um animal que relincha,
relincha, ouou
como
como um quadrúpede. E
um quadrúpede. E oo universal
universal formal reflexo éé aa natu­
formal reflexo natu-
reza precisa
reza tirada das
precisa tirada das notas
notas individuantes,
individuantes, considerada
considerada como como uma
uma
unidade de
unidade de precisão
precisão ee predicável
predicável de de muitos,
muitos, queque sãosão os cinco
os cinco
praedicabilia, estudados
praedkabtlia, estudados r.oro "Isagoge"
“Isagoge” dede Porfírio.
Porfírio.

Agora,
Agora, aa questão
questão precisa-se
precisa-se cingindo-se
cingindo-se em em tôrno
tôrmo da da objecti-
objecti­
vidade dos
vidade dos conceitos universais, ee vai,
conceitos universais, vai, no crso da
no caso posição nomina­
da posição nomina-
lista, afirmar que
lista, afirmar nada há
que nada há dessa
dessa universalidade,
universalidade, nem nem nas nas coisas,
coisas,
nem
nem nos nos conceitos, que não
conceitos, que não se se dão
dão realmente
realmente conceitos
conceitos universais,
universais,
mas,
mas, apenas,
apenas, que
que aa mente
mente humana
humana constrói,
constrói, através das operações
através das operações
cognoscitivas
cognoscitivas do do homem,
homem, fundada
fundada nas nas sensações
sensações externas
externas ee nas nas
internas,
internas, presentes
presentes ou ou reproduzidas
reproduzidas pela memória, certos
pela memória, certos esque-
esque­
mas,
mas, ee porpor meio dessas operações,
meio dessas operações, ela ela vai
vai dar-lhes
dar-lhes um um nome, pela
nome, pela
sua semelhança,
sua semelhança, cujocujo nome
nome é é aa palavra
palavra usada
usada ou ou sinal usado para
sinal usado para
significar,
significar, mas mas que, prôpriamente, oo que
que, propriamente, que sese dá
dá nana nossa
nossa mente,
mente,
não
não éé umauma universalidade;
universalidade; não não há há uma
uma universalidace
universalidade uma, uma, com-
com-
preensivamente considerada.
preensivamente considerada. Então vários
Então vários exemplos,
exemplos, que alguns
que alguns
psicólogos tomaram, comc
psicólogos tomaram, como o o dede umum psicólcgo,
psicólogo, que tomando fo­
que tomando fo-
tografias de
tografias vários tipos
de vários tipos cede uma família, conseguiu
uma família, conseguiu mais mais ou me-
ou me­
nos construir
nos construir umum tipo,
tipo, que fôsse oo comum
que fôsse comum na na família,
família, aquêles
aquêles
aspectos comuns,
aspectos comuns, o o que
que chamamos
chamamos universal,
universal, como
como se se aa nossa
nossa
—295—
— 25 —
mente
mente fêsse
fôsse uma máquina fotográfica.
uma máquina fotográfica. Assim, vemos
Assim, vemos muitas
muitas ár­
ár-
vores
vores ee então
então classificamos tôdas essas
classificamos tôdas essas árvores,
árvores, queque vemos, numa
vemos, numa
classe, que chamamos
classe, que chamamos árvore.
árvore. Própriamente,
Propriamente, na na posição
posição nomina-
nomina­
lista
lista oo conceito
conceito reduz-se
reduz-se àà classe,
classe, àà classificação,
classificação, éé uma mera clas-
uma mera clas­
sificação; oo nominalista
sificação; nominalista nãonão tem, contudo, uma
tem, contudo, uma visão
visão Lna
una ee com-
com-
preensivamente formada
preensivamente formada da da universalidade,
universalidade, que que éé o o que
que caracte-
caracte­
riza aa universalidade.
riza universalidade. Os
Os vocábulos
vocábulos éé que são universais,
que são universais, mas
mas
referem-se apenas
referem-se apenas àsàs coisas
coisas singulares;
singulares; quer
quer dizer,
dizer, nós
nós podemos
podemos terter
um sinal
um puramente exterior,
sinal puramente exterior, semiótico,
semiótico, comcom o o qual designames
qual designamcs
aquelas coisas,
aquelas coisas, que
que nêle
nêle classificamos,
classificamos, mas mas oo conceito universal
conceito universal
não oo temos.
não temos.

Esta concepção
Esta concepção nominaiista ressurge nestes
nominaiista ressurge nestes dois últimos sé­
dois últimos sé-
culos, no
culos, no movimento
movimento positivista,
positivista, no
no materialismo,
materialismo, nono cepticismo
repticismo
científico,
científico, ee está
está inegàvelmente,
inegavelmente, actuando com o
actuando com o seu
seu virtts
virgs no
no pen-
pen­
samento moderno,
samento moderno, ee produzindo
produzindo os os seus
seus frutos.
frutos.

Salcedo
Salcedo faz faz uma
uma análise
análise histórica
histórica dessas dessas idéias,
idéias, vaivai buscá-
buscá-
-las desde
-las desde os os gregos
gregos até até osos actuais,
actuais, mostrando
mostrandc quantoquanto contribui-
contribuí­
ram, através
ram, através dos tempos, êsses
dos tempos, êsses autores
autores para para aa construção
construção do do nomi-
nomi­
nalismo.
nalismo. A segunda
A segunda sentença,
sentença, que que éé aa aceitaaceita por
por êle,
êle, opõe-se
opõe-se
frontalmente aa esta.
frontalmente esta. Afirma
Afirma que que se se dãodão nana mente,
mente, realmente,
realmente,
idéias universais,
idéias universais, com com aa suasua representação,
representação, sem qualquer presen­
sem qualquer presen-
ça de
ça individuação, te que,
de individuação, que, no no entanto, poderiam não
entanto, poderiam não ter.
ter. Natu­
Natu-
ralmente
ralmente que que aa posição
posição de de Salcedo
Salcedo não admite qualquer
não admite qualquer valorvalor ob-ob­
jectivo
jectivo fora fora da da mente,
mente, masmas aceita
aceita pelopelo menos
menos que que aa nossa
nossa mente
mente
éé realmente
realmente apta apta aa construir
construir representações
representações sem sem imagem,
imagem, porqueporque
sese não
não seriam individualizadas as
seriam individualizadas as representações
representações mentaismentais univer-
univer­
sais, ou
sais, ou sejim
sejam idéias
idéias universais.
universais. E E êleêle procura, então, demons­
procuia, então, demons-
trar
trar aa sua sua tese,
tese, dodo seguinte
seguinte modo:modo: os os nomes
nomes comuns,
comuns, comocomo oo de de
árvore, flor,
árvore, flor, de de homem
homem etc. etc. significam
significam alguma alguma coisa.
coisa. Ora,Ora, éles
êles
não significam apenas
não significam apenas uma uma voz, voz, nem nem apenasapenas alguma
alguma coisa sin-
coisa sin­
gular determinada, nem
gular determinada, nem tampouco
tampouco significam
significam apenas
apenas aa colecção
colecção
de tais
de tais indivíduos,
indivíduos, nem nem tampouco
tampouco um indivíduo vago,
um indivíduo vago, nemnem ape­ape-
nas uma
nas imagem genérica,
uma imagem genérica, comocomo queriaqueria aquêle
aquêle psicólogo.
psicólogo. Então, Então,
neste caso,
neste caso, éé necessário
necessário que que êles
êles tentem significar algo
tentem significar algo que
que nãonão éé
individual.
individual. Ele tem
Êle tem de provar aa sua
de provar postulação ee o
sua postulação o faz,
faz, do do se-se­
guinte modo:
guinte modo: que que éé evidente,
evidente, pela pela própria
própria natureza
natureza da locução ou
da locução ou
— 26
— 26 —

da língua
da lingua filosófica,
filosófica, que
que éé extraído
extraído da
da nossa
nossa experiência,
experiência, que
que
realmente nós damos
realmente nós nomes comuns,
damos nomes comuns, como
como por exemplo: árvore,
por exemplo: árvore,
cão, homem
cão, homem etc.etc.

Quando falamos,
Quando falamos, por
por exemplo,
exemplo, em em dinheiro, diz êle,
dinheiro, diz êle, inte-
inte-
ligimos perfeitamente
ligimos perfeitamente bembem o o seu significado ee também
seu significado também perfeita-
perfeita­
mente oo distinguimos
mente distinguimos de de qualquer
qualquer outro
outro significado.
significado. Por outro
Por outro
lado, éé verdade
lado, verdade que
que não
não significa apenas uma
significa apenas uma voz,
voz, nem
nem apenas
apenas
um singular
um singular determinadc,
determinadc, nem tôda colecção,
nem tôda nem um
colecção, nem um indivíduo
indivíduo
vago,
vago, nemnem apenas
apenas uma
uma imagem
imagem genérica,
genérica, porque
porque quando
quando se se diz,
diz,
“Pedro
"Pedro éé homem"
homem” não não se
se quer
quer dizer que Pedro
dizer que Pedro éé aa voz-homem.
voz-homem.

Tembém
Também não
nio significa
significa oo indivíduo
indivíduo determinado,
determinado, por exem-
por exem­
plo, quando dizemos:
plo, quando dizemos: “homem
“homem há”, porque, do
há”, porque, do contrário,
contrário, não
não
poderíamos
poderíamos predicar homem aa não
predicar homem não ser
ser sese bá.
há. Também não
Também sig-
não sig­
nífica uma coleção,
nifica tuna porque, do
colecção, porque, do contrário,
contrário, quando
quando dizemos
dizemos que que
“Pedro
"Pedro éé homem”,
homem”, não não queremos
queremos dizer
dizer queque Pedro
Pedro éé tôda colec-
tôda colec­
ção dos
ção dos homens,
homens, oo que
que seria falso, ee contra
seria falso, contra aa própria
própria consciência
consciência
do testemunho.
do testemunho. Também
Também não não éé umum indivíduo
indivíduo vago vago ouou indeter­
indeter-
minado, “algum
minado, homem”, porque
"algum homem", porque predicamos
predicamos de muitos, ee êle
de muitos, êle
cita, então,
cita, uma frase
enuão, uma de São
frase de São Tomás,
Tomás, que que éé da da Suma
Suma Teológica:
T eológica:
“porque,
"porque, quando
quando sese diz tal indivíduo,
diz tal indivíduo, ee éé êleêle predicado
predicado dede muitos,
muitos,
prôpriamente não
propriamente não éé oo indivíduo”.
indivíduo". OO indivíduo
indivíduo vago vago éé algo
algo queque
serve
serve de meio entre
de meio entre oo universal
universal ee oo indivíduo.
indivíduo.
Quando
Quando dizemos,
dizemos, po: exemplo, um
por exemplo, um triângulo
triângulo equivale
equivale aa dois
dois
ângulos rectos, êste
ângulos rectos, êste têrmo
têrmo triângulo
triângulo éé verdadeiramente
verdadeiramente um um cón-
con­
ceito universal,
ceito universal, porque
porque nãonão asseguramos
asseguramos de de algum
algum triângulo
triângulo masras
asseguramos de
asseguramos de todos
todos osos triângulos,
triângulos, nem nem éé tôdatóôda colecção,
colecção, masmas
também dos
também singulares, tomados
dos singulares, tomados distributivamente.
distributivamente. Também Também não não
tenho dêles
tenho déles nenhuma
nenhuma imagem,
imagem, nem nem genérica,
genérica, nemnem de experiência,
de experiência,
mas apenas do
mas apenas do próprio
próprio triângulo,
triângulo, porque
porque éé triângulo,
triângulo, e,e, finalmer.te,
finalmente,
não éé uma
não uma imagem
imagem genérica, porque aa imagem
genérica, porque imagem genérica também
genérica também
teria uma
teria uma determmda
determ:nda magnitude,
magnitude, uma uma determinada inclinação, côr,
determinada inclinação, cor,
matéria etc.,
matéria etc., portanto,
portanto, nãonão sese poderia predicar de
poderia predicar de coisas
coisas que não
que não
têm idênticamente
têm idênticamente aquelas
aquelas notas individuantes.
notas individuantes. De forma
De que,
forma que,
dêste medo,
dêste modo, oo universal
universal se se dá
dá nana nossa
nossa mente. Demonstrar ainda
mente. Demonstrar ainda
por outros argumentos,
por outros argumentos, como como êste:
éste: oo conceito
conceito universal
universal não
não pode ser
pode ser
reduzido
reduzido àà imagem genérica, sese entre
imagem genérica, entre êle mesmo ee uma
êle mesmo uma taltal imagem
imagem

— 2277 —

“dá-se uma discriminação
dá-se uma discriminação magna
magna ee irreductível;
irreductível; ora,
ora, tal discrimina-
tal discrimina­
ção dá-se,
ção portanto.... .
dá-se, portanto. E êle
E prova, aa menor
êle prova, menor ea maior.
e a maior. O con­
O con-
ceito universal
ceito universal nãonão pode
pode ser reduzido aa uma
ser reduzido uma imagem
imagem genérica
genérica sese
não houver
não houver entre êle mesmo
entre êle mesmo ee aa imagem,
imagem, uma uma discriminação
discriminação mag­map-
na irreductível,
na irreductível, éé evidente,
evidente, ee prova
prova aa menor
menor da da seguinte maneira:
seguinte maneira:
aa im
imago sempre representa
ago sempre alguma coisa
representa alguma com uma
coisa com determinação
uma determinação
extensiva, local ee situai.
extensiva, local situal. Ora, aconte;e
Ora, acontece que com oo conceito
que com conceito do do
triângulo
triângulo nãonão sese dádá tal
tal coisa,
coisa, porque
porque não concebemos nem
não concebemos nem pe-pe­
queno,
queno, nem maior que
nem maior que o o outro,
outro, nemnem dêste
dêste ouou daquele
daquele tamanho,
tamanho,
com
com esta ou aquela
esta ou aquela extensão
extensão dos dos lados.
lados. O O triângulo,
triângulo, que conce-
que conce­
bemos, sese adequa
bemos, adequa ao menor triângulo
ao menor triângulo queque sese pudesse
pudesse estabelecer,
estabelecer,
como também
como também ao ao maior,
maior, ao ao magno triângulo que
magno triângulo que sese pudesse
pudesse criar.
criar.
De forma
De forma que que sese vêvê perfeitamente
perfeitamente que que oo nosso
nosso conceito
conceito não
não éé
uma imagem,
uma imagem, nem nem se se refere
refere às às condições individuantes, mas,
condições individuantes, mas, sim,
sim,
àà universalidade.
universalidade.

E prossegue
E êle: Somos
prossegue êle: Somos capazes
capazes de de construir,
construir, com
com absolute
absoluta
clareza, uma
clareza, uma idéia
idéia sem
sem queque tenhamos
tenhamos aa mesma clareza por
mesma clareza meio
por meio
de uma
de uma imagem,
imagem, que que nãonão podemos
podemos representar.
representar. Assim,
Assim, oo mi- mi-
riagono,
ríagono, não podemos compreender
não podemos compreender mentalmente,
mentalmente, sem sem queque possa-
possa­
mos
mos ter ter uma
uma imagem,
imagem, uma uma representação
representação com com imagem
imagem do mesmo,
do mesmo,
com
com seusseus ângulos,
ângulos, seus triângulos, etc.
seus triângulos, Ademais, as
etc. Ademais, as imagens
imagens es­ es-
tão
tão sempre
sempre ligadas
ligadas aa condições
condições cronotópicas, sobretudo cronoló-
cronotópicas, sobretudo cronoló­
gicas,
gicas, o o que não se
que não se dá com ésses
di com êsses conceitos universais, que
conceitos universais, que não
não têmtêm
essa
essa cronotopicidade.
cronotopicidade. Por Por outro
outro lado, temos uma
lado. temos uma série
série de con:
de con­
ceitos
ceitos queque podemos representá-los por
podemos representá-los por meio
meio dede símbolos,
símbolos, queque nãonão
éé aa imagem
imagem dos mesmos, como
dos mesmos, como o o conceito
conceito dede justiça,
justiça, o 0 conceito
conceito
ide amor,
ide amor, oo conceito
conceito do que gramaticaimente
do que gramaticalmente chamamos
diamamos de de subs-
subs­
tantivo abstracto.
tantivo abstracto.

E prossegue,
E prossegue, comcom novos argumentos. Discernimos
novos argumentos. claramen-
Discernimos claramen­
te entre
te entre asas notas semelhantes ee diversas
notas semelhantes diversas comuns
comuns ee aa individuação;
individuação;
sabemos distinguir
sabemos aquilo que
distinguir aquilo que éé semelhante,
semelhante, ee que pertence aa
que pertence
muitos, que
muitos, que éé comum
comum aa muitos,
muitos, daquilo
daquilo queque pertence,
pertence, individual
individual­
mente, aa cada
mente, cada homem.
homem. Ora, isso
Ora, não seria
isso não seria possível de realizar-se
possível de realizar-se
por nós,
por nós, sese não tivéssemos conceitos
não tivéssemos universais.
conceitos universais. Que somos ca
Que somos ca­
pazes de
pazes de fazer esta distinção,
fazer esta distinção, não
não há
há aa menor
menor dúvida
dúvida em face da
em face da
experiência
experiência queque temos.
temos. Sabemos
Sabemos distinguir
distinguir oo homem
homem do do indiví-
indiví­

— 2288 —

duo, êsse
duo, êsse individualmente;
individualmente; o o que
que prova
prova que há em
cjue há em nósnós conceitos
conceitos
universais, que
universais, que possuem
possuem notas comuns distintamente
notas comuns distintamente separadas
separadas de de
tudo quanto
tudo quanto éé individuante. Ademais, diz
individuante. Ademais, diz êle,
êle, sese oo nominalis­
nominalis-
mo estivesse
mo estivesse certo,
certo, uma
uma palavra
palavra como
como taxros, que pode
tauros, que pode serser dita
dita dede
animal, da
animal, da constelação
constelação ee de de umum monte
monte não não poderia
poderia serser empregada
empregada
assim, porque,
assim, porque, quando
quando falassemos
falassemos em em lanros,
tanros, nos refeririamos ape-
nos referiríamos ape­
nas aa um.
nas um. Ora,
Ora, isso
isso se
se dá, nossa experiência
dá, nossa experiência oo comprova,
comprova, o o que
que
demonstra, conseqüentemente,
demonstra, consegiientemente, que que há há conceitos
conceitos universais.
universais. Nós
Nós
também,
também, não não pocemos
pocemos estabelecer,
estabelecer, por por exemplo,
exemplo, com absoluta se­
com absoluta se-
gurança
gurança que que aa palavra
palavra homem
homem refira-se
refira-se apenas
apenas ee sempre
sempre ao ao ani­
ani-
mal
mal racional
racional ee aa palavra
palavra cão cão que
que se refira por
se refira por exemplo,
exemplo, sempre
sempre
exclusivamente ao
exclusivamente animal cão,
ao animal cão, de forma que
de forma que isto algo evidente
isto éé algo evidente
pela
pela nossa experiência, o
nossa experiência, o que
que prova
prova que,
que, quando
quando queremos,
queremos, usa­ usa-
mos
mos aa palavra
palavra homem,
homem, damos
damos um um conteúdo conceptual aa êle
conteúdo conceptual êle de­
de-
terminado.
terminado.

Os outros argumentes,
Os outros argumentes, queque êle
êle apresenta
apresenta no no final,
final, decorrem
decorrem
prôpriamente
propriamente dos
dos anteriores.
anteriores. Seriam argumentos
Seriam argumentos mais fundados
mais fundados
no absurdo,
no quer dizer,
absurdo, quer dizer, aceitar
aceitar aa posição nominalista, teriamos
posição nominalista, teríamos
dificuldade, por
dificuldade, por exemplo,
exemplo, até
até de
de construir
construir aa própria ciência. As­
própria ciência. As-
sim, os
sim, os conceitos
conceitos de hidrogênio, oxigênio
de hidrogênio, oxigênio com
com asas suas
suas propriedades;
propriedades;
oo de
de triângulo,
triângulo, ee tantos
tantos outros, provam que
outros, provam está em
que está em nósnós aa possi-
possi­
bilidade de
bilidade de construir
construir conceitos universais.
conceitos universais.

Ora,
Ora, provado
provado que que aa nossa
nossa mente
mente éé apta
apta aa construir
construir conceitos
conceitos
universais,
universais, oo nominalismo
nominalismo cai por terra.
cai por terra. Neste
Neste caso,
caso, pelo menos,
pelo menos,
oo conceptualismo
conceptualismo teria teria fundamento,
fundamento, um um coaceptualismo
conceptualismo que que afir-
afir­
masse
masse quecue aa nossa mente éé apta
nossa mente apta aà construir conceitos universais.
construir conceitos universais.
Ele
Êle apresenta
apresenta na sua obra
na sua obra uma
uma série
série dede objecções,
objecções, mas mas essas
essas redu-
redu­
zem-se :ôdas
zem-se :ôdas ee no final, às
no final, às próprias
próprias demonstrações
demonstrações já já feitas.
feitas. Po­ Po-
demos, para
demos, para limitar dentro da
limitar dentro da nossa concepção, aa sua
nossa concepção, sua crítica
crítica ao no-
ao no­
minalismo, dizer
minalismo, dizer simplesmente
simplesmente o o seguinte:
seguinte: sem sem dúvida
dúvida alguma,
alguma,
pela nossa
pela nossa experiência, ssbemos que
experiência, sabemos que aa mente
mente humana
humana éé capazcapaz de de
criar conceitos
criar universais, de
conceitos universais, de ter
ter representações
representações sem sem imagem.
imagem. ɣ
possível, contudo, que
possível, contudo, algumas pessoas
que algumas pessoas não
não possair.
possarr. tê-las.
tê-las. Mas Mas
bastaria que uma
bastaria que uma só,só, uma
uma única
única pessoa
pessoa oo pudesse,
pudesse, para estar válida
para estar válida
esta afirmação,
esta afirmação, ee aa experiência
experiência mostra
mostra que há.
que há.

— 2299 —

Ademais, mesmo
Ademais, mesmo aquêles
aquêles que dizem que
que dizem que não poder prescin-
não podem prescin­
dir da
dir da representação fantasmal, enganam-se
representação fantasmal, enganam-se ee mentem,
mentem, porque
porque sese
para lermos
para uma notícia
lermos uma de jcrnal,
notícia de jcrnal, necessitássemos
necessitássemos de representa-
de representa­
ções com
ções com imagem
imagem de de tôdas
tôdas asas palavras
palavras que
que lemos,
lemos, não
não haveria
haveria
possibilidade de
possibilidade de compreensão; teriamos de
compreensão; teríamos ler muito
de ler muito lentamente.
lentamente.
OO ser
ser humano
humano consegue,
consegue, através
através das palavras, irir directamente
das palavras, directamente ao ao
significado das
significado mesmas, oo que
das mesmas, que foifoi muito
muito bembem demonstrado
demonstrado por por
Hurssel, modernamente,
Hurssel, modernamente, ee de de forma
forma definitiva.
definitiva.

Alguns
Alguns atacaram essa derronstraçãe,
atacaram essa baseando-se de
demonstração, baseando-se de que
que oo som
som
se fundava
se fundava na na mente
mente do homem civilizado,
do homem civilizado, que
que já
já prescinde
prescinde ee se se
liberta da
liberta da irragem;
imagem; já já pode
pode trabalhar
trabalhar apenas
apenas com
com sinais
sinais abstractos,
abstractos,
ee que
que isso não significava
isso não significava absolutamerte
absolutamente nenhuma representação.
nenhuma representação.
Mas aa questão
Mas questio éé que
que êsses
êsses conceitos
conceitos podem
podem serser reduzidos
reduzidos às suas
às suas
notas essenciais,
notas essenciais, ee podem
podem ser ser definidos cujos elementos
definidos cujos elementos da da defini-
defini­
ção,
ção. por sua vez,
por sua permitem outras
vez, permitem outras representações,
representações, ee outras
outras defini-
defini­
ções,
ções, ee assim sucessivamente, oo que
assim sucessivamente, vem comprovar
que vem comprovar que que aa nossa
nossa
mente éé capaz
mente capaz dede construir
construir um um conceito
conceito universal
universal dede humanidade,
humanidade,
o conceito
o universal de
conceito universal de amor,
amor, o o conceito
conceito universal
universal de justiça.
de justiça.

Muito embora
Muito embora nesse
nesse conceito
conceito aa precisão
precisão das notas não
das notas não seja
seja
muito cuidadosa,
muito cuidadosa; querquer dizer, alguém >ode
dizer, alguém oode ter
ter uma conceituação
uma conceituação
em que
em que não
não só
só estão incluídas as
estão incluídas notas essenciais
as notas essenciais dentro
dentro das das re­
re-
gras da
gras da definição
definição lógica
lógica ou
ou metafísica,
metafísica, queque éé aa do
do gênero
gênero próximo
próximo
ee aa da
da diferença específica, ee possa
diferença específica, possa ainda
ainda incluir,
incluir, nessas notas, al­
nessas notas, al-
gumas propriedades,
gumas propriedades, ou ou alguns accidentes, ee que
alguns accidentes, que outros
outros não
não te­te-
nham,
nham, por exemplo, uma
por exemplo, representação do
uma representação do gênero,
gênero, nemnem às às vêzes
vêzes
da
da própria diferença específica,
própria diferença específica, mas
mas apenas das propriedades
apenas das propriedades com com
alguns accidentes, como
alguns accidentes, acontece em
como acontece em algumas
algumas definições
definições da da Ciên-
Ciên­
cia,
cia, nada
nada disso importa, porque
disso importa, porque o o principal
principal éé queque aa mente
mente huma­
huma-
na éé capaz
na de transformar
capaz de transformar essas notas numa
essas notas tensão mental,
numa tensão for-
mental, for­
mando
mando uma uma unidade
unidade compreensivamente
compreensivamente tomada,
tomada, constrastada-
constrastada-
mente tomada, de
mente tomada, de modo
modo aa formar
formar uma
uma totalidade
totalidade uma,
uma, aa qual
qual pode
pode
ser predicada
ser predicada dede muitos.
muitos. Essa
Essa totalidade,
totalidade, que pode ser
que pode ser predi­
predi-
cada de
cada de muitos,
muitos, ela
ela jáj i tem, por isto,
tem, por isto, oo carácter
carácter de
de universalidade,
universalidade,
pelo menos
pelo menos nana mente.
mente. Não Não há,
há, portanto,
portanto, aa menor
menor dúvida
dúvida sôbre
sôbre
esta tese.
esta tese.

— 30
30 —

OO que
que deve ficar claro,
deve ficar claro, e e éé o
o que
que interessa
interessa para
para aa Matese,
Matese, éé
que a
que a mente
mente humana
humana éé aptaapta aa reunir
reunir umum conjunto
conjunto de de notas
notas numa
numa
totalidade coerente,
totalidade tensional, com
coerente, tensional, com verdadeiro
verdadeiro tonos
tonos mental,
mental, for-for­
mando
mando uma uma unidace,
unidace, muito embora os
muito embora os elementos
elementos constituintes,
constituintes, quet|ue
são partes
são partes integrantes, sejam, por
integrantes, sejam, por sua
sua vez,
\ez, outras unidades, mas
outras unidades, mas
o conjunto
o conjunto éé um um todo integral, com
todo integral, caracteres não
com caracteres não de um mero
de um mero
plethos, uma
flethos, mera aglomeração,
uma mera aglomeração, mas com uma
mas com uma tensionalidade,
tensionalidade, for­ for-
mando untim
mando wristi: compreensivanente
compreensivamente considerado,
considerado, oo qualqual pode
pode ser
ser pre-
pre­
dicado
dicado de de muitos.
muitos. Isto éé real
Isto real pela
pela nossa experiência ee aa Psicolo­
nossa experiência Psicolo-
gia
gia oo comprova,
comprova, oo que que vem
vem mostrar
mostrar que que háhá oo universal
universal pelo
pelo me­
me-
nos
nos nana mente.
mente.

O conceptualismo
O conceptualismo diz diz que
que aa única
única realidade,
realidade, oo único
único valor
valor
objectivo dêsses universais
objectivo dêsses está na
universais está mente, está
na mente, nesta universali-
está nesta universali­
dade
dade queque aa mente
mente constrói,
constrói, ee rejeita
rejeita aa tese
tese que afirma que
que afirma que êles
les
têm um
têm valor objectivo
um valor objectivo realmente,
realmente, ee não
não apenas meramente sub­
apenas meramente sub-
jectivo, uma
jectivo, uma correspondência
correspondência fora fora da mente.
da mente.

Na verdade, construímos
Na verdade, construímos na na mente
mente êsseêsse conceito
conceito universal,
universal,
fundando-nos nas
fundando-nos nas notas semelhantes, que
notas semelhantes, que háhá nos
nos determinados
determinados in- in­
divíduos, ou
divíduos, ou seja,
seja, que
que se
se repete,
repete, ee não
não no que não
no que não se se repete,
repete, que
que éé
o carácter
o carácter individuante.
individuante. Pomos Pomos de de lado
lido o o que individualiza, oo que
que individualiza, que
singulariza, para
singulariza, para considerarmos
considerarmos oo que que êles, na sua
êles, na sua onticidade,
onticidade, pos-pos­
suem de
suem de repetível
repetível em em outros,
outros, ee éé neste
neste conjunto
conjunto de de notas que cons\
notas que cons?
truimos €s
truimos conceitos universais,
os conceitos universais, os os quais
quais pocem
pociem ser ser mais
mais ou ou me-
me­
nos precisivos,
nos precisivos, maismais ou
ou menos
menos abstractos,
abstractos, maismais ouou menos
menos contractos,
contractos,
oo que
que vai depender das
vai depender das operações
operações mentais,
mentais, pelas quais vamos
pelas quais vamos pu- pu­
“ificando êsses
rificando êsses conceitos, afastando oo que
conceitos, afastando que nêles
nêles éé meramente
meramente acci- acci­
dental, para
dental, construirmos conceitos
para construirmos conceitos mais mais precisivos,
precisivos, que serão
que serão
sempre aquêles que
sempre aquêles que contiverem
contiverem as as notas
notas queque expressem
expressem gênero,
gênero,
diferença especifica ee as
diferença específica as propriedades,
propriedades, e, e, destas,
destas, preferentemente
preferentemente
as propriedades
as mais perfeitas.
propriedades mais perfeitas. Com isto construímos
Com isto construímos os
os concei-
concei­
tos que
tos que somos
somos capazes
capazes de
de realizar.
realizar.


Há uma ampla
uma gama de
ampla gama de intencionalidade num conceito.
intencionalidade num conceito. O O
conceito
conceito de justiça pode apresentar uma grande variância,nos seus
de justiça pode apresentar uma grande variância,nos seus
aspectos
aspectos universais, na
universais, sua acepção,
na sua acepção, mas dentro de
mas dentro uma gama
de uma gama deter­
deter-
minada.
minada. Mas sempre
Mas sempre contêm
contêm os
os conceitos totalidades universais
conceitos totalidades universais
-——
— 31—
31 —
ee predicáveis
predicáveis dede muitos,
muitos, característica
característica dodo universal, que somos
universal, que somos ca­
ca-
pazes de
pazes de construir
construir na mente, excluindo
na mente, excluindo os os aspectos individuantes.
aspectos individuantes.
E desde
E desde que somos capazes
que somos capazes dede fazer isso, comprova-se
fazer isso, comprova-se queque há, pelo
há, pelo
menos,
menos, um universal que
um universal que está na mente,
está na mente, 6o universal
universal que
que éé pro-
pro-
ducto
ducto da nossa mente.
da nossa mente. Éí o o universal
universal reflexo,
reflexo, éé oo universal
universal pro-
pro-
ducto
ducto de uma reflexão,
de uma reflexão, éé oo universal
universal producto
producto de uma operação
de uma operação
mental.
mental.

Verifiquemos
Verifiquemos qual qual oo fundamento
fundamento que que temtem êsse universal nas
êsse universal nas
coisas, ponto principal,
coisas, ponto principal, porque
porque o o fundamento
fundamento real, real, fora
fora dada mente,
mente,
que
que sese dê dé nas coisas, éé que
nas coisas, que dá dá o o realismo
realismo necessário,
necessário, oo conteúdo
conteúdo
realista
realista aa êsses
êsses conceitos.
conceitos. Em nosso livro
Em nosso livro “Origem
"Origem dos dos Grandes
Grandes
Erros Filosóficos”,
Erros Filosóficos”, quando
quando demosdemos oo exemplo
exemplo do Volkswagen. da­
do Volkswagen, da-
quele que
quele está na
que está mente do
na mente do seu
seu criador,
criador, queque depois
depois éé esquematizado
esquematizado
num
num planoplano de de construção,
construção, ee finalmente
finalmente realizado,
realizado, cada cada um um vai vai
classificar, cada
classificar, cada um um daqueles
daqueles Volkswagen,
Volkswagen, porque porque correspondem
correspondem
âquele conjunto
àquele conjunto de de notas universalizantes que
notas universalizantes que têm,
têm, dispensando
dispensando os os
aspectos individuantes,
aspectos individuantes, Volkswagen
Volkswagen de de 56,
56, dede 57,57, 58, se éé amarelo,
58, se amarelo,
se éé azul,
se azul, se se éé vermelho.
vermelho. Vê-se, por
Vê-se, por aquêle
aquêle exemplo,
exemplo, tão tão sim-
sim­
ples que
ples que aa mente
mente humana
humana está está apta
apta para construir realmente
para construir realmente ês­ ês-
ses conceitos
ses conceitos universais,
universais, essasessas representações
representações sem imagem, for­
sem imagem, for-
mando uma
mando uma unidade compreensivamente tensional,
unidade compreensivamente tensional, que que reúne,
reúne, numnum
todo, asas suas
todo, partes, dando
suas partes, dando um um conteúdo
conteúdo só, só, queque caracteriza
caracteriza aa
universalidade, porque
universalidade, porque ela, além disso,
ela, além disso, dispensa,
dispensa, naturalmente,
naturalmente,
os aspectos
os aspectos individuantes,
individuantes, ee que podem, por
que podem, pot suasua vez,
vez, ser
ser predicados
predicados
de muitos.
de muitos. OO nominalismo, pelas razões
nominalismo, pelas razões expostas,
expostas, éé uma
uma dou-
dou­
trina falsa, sobretudo
trina falsa, sobretudo no
no seu aspecto negativo,
seu aspecto negativo, não porém, total­
não porém, total-
mente no seu
mente no seu aspecto
aspecto positivo.
positivo.

Realmente nomeamos asas coisas.


Realmente nomeamos coisas. As
As palavras
palavras são
são designata
designata
das coisas, mas
das coisas, mas correspondem
correspondem também
também àà construção
construção de
de um conceito
um conceito
universal em
universal em nossa
nossa mente
mente que se nem
que se todos podem
nem todos podem construí-lo,
construí-lo,
os mais
os mais inteligentes
inteligentes oo podem.
podem.

Vemos que os
Vemos que quatro problemas
os quatro problemas dos universais, o
dos universais, o primeiro
primeiro
correspondia ao problema crítico; o segundo ao problemaa ontoló-
correspondia ao problem a crítico; o segundo ao problem ontoló­
gico ou metafísico.
gico ou metafísico.
—32
— 32 —

O primeiro
O primeiro apenas
apenas trata
trata dodo valor
valor ee da
da realidade
realidade dos conceitos
dos conceitos
universais,
universais, ee oo segundo,
segundo, verifica
verifica se se êsses
êsses valores
valôres têm
têm umum valor
valor
objectivo, oO terceiro
objectivo; terceiro problema,
problem a, queque éé oo problema psicológico, trata
problem a psicológico, trata
da investigação por
da investigação por que modo são
que modo são construídos
construídos êsses
êsses universais.
universais.,
como
como aa mente
mente os
os constrói,
constrói, ee se
se êles
êles têm
têm umum fundamento
fundamento nas nas coisas
coisas
e,e, finalmente,
finalmente, oo problem
problemaa lógico,
lógico, que
que trata
trata do
do uso,
uso, dada divisão,
divisão, dodo
número
número dos dos conceitos universais.
conceitos universais.

De
De maneira que não
maneira que não examinamos
examinamos o o problema
problema psicológico,
psicológico,
nem oo ontológico
nem ontológico ou metafísico, mas
ou metafísico, apenas o
mas apenas o problema
problema crítico.
crítico.
Passemos,
Passemos, portanto,
portanto, aa tratar
tratar do
do que
que falta para aa melhor
falta para melhor fundamen-
fundamen­
tação
tação da
da matéria.
matéria.

Como vimos,
Como vimos, osos conceitos
conceitos de
de que
que tratamos,
tratamos, nana refutação do
refutação do
nominalismo,
nominalismo, são uma construção
são uma construção pertencente
pertencente aa um
um ente racional
ente racional
do
do contexto beta.
contexto beta. Ora, um
Ora, um tal
tal ente racional será,
ente racional necessáriamente,
será, necessariamente,
um ente de
um ente de mente
mente discursiva.
discursiva.

No contexto
No contexto beta, os universais
beta, os universais correspondem
correspondem ao ao imitável
imitável dodo
contexto alfa,
contexto alfa, como
como nósnós jájá havíamos
havíamos examinado
examinado ee êsseêsse imitável
imitável
éé o o repetível,
repetivel, ee êste
ête éé o o universal
universal que captamos nos
que captamos nos singulares
singulares
históricos. O
históricos. O contexto
contexto alfa
alfa éé inimitável
inimitável quanto
quanto àà sua
sua onticidade,
onticidade,
ee como tal éé irrepetível;
como tal irrepetível; éé um irrepetível absoluto,
um irrepetível absoluto, porque
porque éé ape-
ape­
nas êle
nas êle mesmo
mesmo em em sisi mesmo,
mesmo, ee oo que que construímos,
construímos, construímos
construimos
no
no contexto
contexto betabeta participialmente
participialmente ee imitativamente.
irnitAtivamente. Não Não pode­
pode-
mos fugir do
mos fugir do âmbito
âmbito contido
contido dentro
dentro dessas
dessas determinações,
determinações, casocaso
contrário tirariamos conclusões
contrário tiraríamos superiores às
conclusões superiores às premissas, portanto,
premissas, portanto,
aa solução
solução dodo problema
problema dos dos conceitos
conceitos universais.
universais.

Os
Os conceitos
conceitos dede uma mente racional,
uma mente racional, que
que opera
opera discursiva-
discursiva-
mente, têm
mente, têm dede serem dados apenas,
serem dados apenas, por enquanto, dentro
por enquanto, dentro dodo con-
con­
texto bela,
texto beta, e,e, neste,
neste, verifica-se
verifica-se que
que esta mente é
esta mente é apta,
apta, tem capa-
tem capa­
cidade para construir
cidade para construir conceitos
conceitos universais, como ficou
universais, como devidamente
ficou devidamente
demonstrado.
demonstrado.

A tese
A tese discutida
discutida por Salcedo éé que
por Salcedo que êstes conceitos universais
êstes conceitos universais
não são
não são apenas
apenas esquemas
esquemas mentais;
mentais; êles
êles têm
têm umum valor
valor objectivo,
objectivo, oo
que leva aa repelir
que leva repelir aa tese
tese do
do conceptualismo,
conceptualismo, aa qual afirmaria que
qual afirmaria que
se dão conceitos
se dão conceitos universais,
universais, contudo não lhes
contudo não lhes corresponde qual-
corresponde qual­
quer valor objectivo
quer valor objectivo nas
nas coisas.
coisas. São apenas meras
São apenas meras construções
construções

— 33 —
33 —
mentais, meros esquemas
mentais, meros esquemas mentais,
mentais, sem
sem fundemento nas própr:as
fundanento nas próprias
coisas.
coisas. Ora,Ora, se
se êles não têtn
êles não têm um
um valor
valor objectivo nas coisas,
objectivo nas coisas, nem
nem
nelas
nelas estão
estão fundados,
fundados, teríamos
teríamos de interrogar qual
de interrogar qual seria
serii aa origem
origem
de tais conceitos,
de tais como também
conceitos, como interrogar qual
também interrogar qual seria
seria aa sua utili-
sua utili­
dade
dade ee finalidade.
finalidade.
Se
Se oo conceptualismo
conceptualismo estivesse
estivesse absolutamente
absolutamente certo,
certo, êstes es-
êstes es­
quemas mentais
quemas mentais teriam
teriam uma
uma origem
origem apriorística
apriorística ee para rebater tal
para rebater tal
tese,
tese, demonstra-se
demonstra-se queque além dêles teiem
além dêles terem umum fundamento
fundamento nas nas cci-
coi­
sas; ou
sas; ou seia,
seia, um
um valor
valor objectivo, indicam, ee também
objectivo, indicam, também significam
significam
as coisas, 0o que
as coisas, que os torna úteis
os toma úteis para
para realizar
realizar classificações.
classificações.

Alguns conceptualistas,
Alguns conceptualistas, entre
entre os
os quais
quais Bergson, vão afirmar
Bergson, vão afirmar
que
que realmente êsses conceitcs
realmente êsse« conceitcs são
são úteis
úteis ee necessários
necessários para dirigir
para dirigir
as operações
as externas do
operações externas do homem, como também
homem, como também aa cienífica, mis
científica, mas
que nada
que nada representam
representem da da realidade.
realidade. Salcedo
Salcedo prossegue
prossegue o o desen-
desen­
vclvimento
volvimento da da sua
sua tese,
tese, fazendo
fazendo uma
uma breve
breve referência histórica ao
referência histórica ao
desenvolvimento do
desenvolvimento do conceptualismo.
conceptualismo. Cita como conceptualistas
Cita como conceptualistas
da antiguidade,
da antiguidade, os estóicos, pelo
os estóicos, menos alguns,
pelo menos alguns, que
que reagiam
reagiam con­con-
tra o
tra o chamado realismo exagerado
chamado realismo exagerado atribuído
atribuído 2a Platão;
Platão; nana Idade
Idadz
Média, como
Média, como verdadeiro
verdaceiro conceptualiste,
conceptualista, Roscelino, posteriormente
Roscelino, posteriormente
Odcham e,e, depois,
Ockham depois, na na época
época moderna,
moderna, Kant,
Kant, ccmo
como umum verdadeiro
verdadeiro
conceptualista,
conceptualista, ee os os que
que seguem
seguem aa sua concepção, não
sua concepção, não todos, po-
todos, po­
rém,
rém, pois
pois uma
uma parte
parte dêles
dêles tornou-se
tornou-se nominalista,
nominalista.

Em oposição
Em oposição aa esta sentença, ee que
esta sentença, que considera
considera totalmente certa,
totalmente certa,
éé aa sentença
sentenç: que repele oo conceptualismo,
que repele conceptualismo, ee afirma
afitma que
que osos concei-
concei­
tos universais têm
tos universais têm um
um valor objectivo, segundo
valor objectivo, segundo asas notas,
notas, ee oo que
que
essas notas
essas notas representam,
representam, não segundo oo modo
não segundo modo pela qual elas
pela qual elas são
são
representadas.
representadas. Ele admite
Êle admite que elas são
que elas são verdadeiras,
verdadeiras, embora
embora nãonão
sejam de
sejam de uma
uma verdade
verdade totalmente
totalmente adequada; ou seja,
adequada; ou seja, as
as notas,
notas, que
que
construímos na
construímos na nossa mente, representam
nossa mente, representam aa seu
seu modo
modo o o que
que as
as
coisas são,
coisas são, mas
mas não
não representam como as
representam como coisas são
as coisas são na
na sua
sua rea­
rea-
lidade.
lidade.

O realismo
O realismo moderado
moderado afirma
afirma que
que asas coisas significadas ee re­
coisas significadas re-
presentadas
presentadas porpor conceitos
conceitos universais
universais referem-se
referem-se àsàs coisas indivi-
coisas indivi­
duais, embora aa individuação
duais, embo:a individuação não
não seja
seja representada nêles, nestes
represencada nêles, nestes
conceitos. Também êsses
conceitos. Também êsses conceitos não negam
conceitos não negam aa individuação,
individuação,

— 34 —
nem tampouco
nem tampouco aa afirmam, mas apenas
afirmam, mas apenas referem-se
referem-se aa êles
êies sem
sem os cu-
os co­
nhecerem totalmente.
nhecerem totalmente.
Conhecemos as
Conhecemos as propriedades
propriedades cue
cue convém
convém aa essas
essas coisas,
coisas, o
o que
que
éé tal
tal natureza,
natureza, segundo
segundo aa nossa
nossa esquemática.
esquemática.

Os argumentos
Os argumentos que que usa
usa são
são os seguintes: na
os seguintes: na verdade,
verdade, os os con-
con­
ceitos universais
ceitos universais se se dão
dão àà parte
parte dada coisa,
coisa, com
com suas notas, ee em
suas notas, em
nossa mente;
nossa mente; na na verdade,
verdade, nãonão dizem
dizem tudotudo o o que
que aa coisa contém,
coisa contém,
mas
mas dÍ dizem alguma coisa
2 em alguma coisa intencionalmente
intencionalmente do do que
que ela contém,
ela contém,
oo que
que lhes
lhes dádá aa suficiente
suficiente realidade,
realidade, ou ou melhor,
melhor, o o suficiente
suficiente fun­fun-
damento objectivo que
damento objectivo que sese busca.
busca. A A prova
prova disso
disso éé que
que asas coisas
coisas
da
da realidade
realidade têm têm correspondido
correspondido aa êsses êsses conceitos,
conceitos, ee comcom êles po-
êles po­
demos
demos tirar determinadas ilações,
tirar determinadas ilações, ee achar
achar pela
pela análise,
análise, queque êlesêles
possuem determinados caracteres:
possuem determinados caracteres: propriedades,
propriedades, etc. etc. E E realmen­
realmen-
tete vamos encontri-los nas
vamos encontrá-los nas coisas,
coisas, nas suas manifestações.
nas suas manifestações. Assim,
Assim,
no conceito de
no conceito de homem
homem captamos
captamos aa nota nota de animalidide ee de
de animalidade de ra­
ra-
cionalidade
cionalidade e,e, realmente,
realmente, encontramos
encontramos nos nos homens
homens aa presença
presença do do
sensitivo,
sensitivo, que que éé animal,
animal, ee dodo racional.
racional,
Prossegue apresentando mais
Prossegue apresentando mais outros
outros argumentos
argumentos que que vamos
vamos
sintetizar. Êstes
sintetizar. Estes conceitos universais são
conceitos universais são verificados
verificados nas proprie-
nas proprie­
dades das
dades das coisas,
coisas, ee oo que
que nósnós lhes temos atribuído
lhes temos atribuído por por represen-
represen­
vamos notar
tação, vamos
tação, que elas
notar que têm.
elas têm. isto éé uma
Ora, isto
Ora, al-
realidade, éé al­
uma realidade,
go de
go nossa experiência,
de nossa experiência, oo que que prova
prova queque êsses
êsses conceitos
conceitos univer-
univer­
sais,
sais, dede certo modo, verificam-se
certo modo, verificam-se nas nas coisas.
coisas. Se, êsses nossos
Se, êsses nossos con-
con­
ceitos
ceitos não não correspondessem
correspondessem realmente
realmente ao ao que existe nas
que existe nas coisas,
coisas,
também rão
também r.ão existiriam
existiriam as propriedades, que
as propriedades, nós delas
que nós retiramos, <s
delas retiramos,
que
que nelas verificamos.
nelas verificamos. Verificamos, no
Verificamos, no exame
exame do do oxigênio,
oxigênio, do dv
hidrogênio,
hidrogênio, uma série de
uma série de propriedades,
propriedades, ee podemospodemos encontrar
encontrar ou­ou-
tras que
tras que são deduzidas do
são deduzidas do conteúdo
conteúdo conceptual
conceptual de tais propriedades,
de tais propriedades,
como as
como as concebemos
concebemos na nossa mente.
na nossa mente. Tóda Tôda aa nossa
nossa experiência
experiência
comprova
comprova isto isto de modo irrefutável.
de modo irrefutável.
Se êíses
Se ê:ses conceitos
conceitos universais
universais nãonão se se verificassem
verificassem nas
nas coisas,
coisa?,
não tivessem
não tivessem nenhuma correspondência fundamental
nenhuma correspondência fundamental nelas, como
nelas, como
querem alguns
querem conceptualistas, êles
alguns conceptualistas, êles não
não poderiam
poderiam serser aplicados
aplicados
como são.
como são. OO homem
homem os aplica, oo homem
os aplica, homem trabalha com. êles
trabalha com êles para
para
construir uma
construir uma ciência,
ciência, ee essa ciência se
essa ciência se desenvolve
desenvolve dentro daquelas
dentro daquelas
—— 3535 —

regras
regras de de consequência,
consequência, que que aa realidade
realidade comprova
comptova ee permite
permite veri­
veri-
ficar.
ficar. Em suma,
Em suma, êsses
êsses argumentos
argumentos podem podem serser todos reduzidos ao
todos reduzidos ao
primeiro, porque
primeiro, nada mais
porque nada mais faz êle do
faz êle que propriamente
do que prôpriament= repetir,
repetir,
por outros
por outros caminhos,
caminhos, oo que que jájá estava
estava afirmado
afirmado antes.
antes. Em Em suma,
suma,
se não
se não houvesse
houvesse esta correspondência, aa ciência,
esta correspondência, ciência, como
como verdadeiro
verdadeiro
meio de
meio domínio do
de domínio homem sôbre
do homem sôbre oo mundo
mundo exterior,
exterior, não seria
não seria
possível
possível de realizar,
de realizar.

Se êsses
Se conceitos não
êsses conceitos correspondessem realmente
não correspondessem realmente às às coisas,
coisas,
não poderiam ser
não poderiam ser aplicados
aplicados às às coisas
coisas como
como oo são,
são, ee não
não sese daria
daria aa
uniformidade que
uniformidade que sese dá.dá. Notamos
Notamos que determinadas predica­
que determinadas predica-
ções
ções são referendadas pelo
são referendadas pelo testemunho
testemunho das das próprias coisas, oo que
próprias coisis, que
mostra
mostra que que osos nossos
nossos conceitos universais, de
conceitos universais, de certo
certo modo, verifi-
modo, verifi­
cam-se
cam-se nasnas coisas.
coisas. Se êles não
Se êles não se verificassem, não
se verificassem, não haveria
haveria nenhu-
nenhu­
ma possibilidade de
ma possibilidade construir aa ciência.
de construir ciência. Ora,
Ora, isto
isto vem compro-
vem compro­
var,
var, dede modo
modo definitivo,
definitivo, que que o o conceptualismo,
conceptualismo, na na suasua parte
parte po-
po­
sitiva,
sitiva, éé verdadeiro;
verdadeiro; ou ou, seja,
seja, de
de que realmente aa mente
que realmente mente homana
humana
éé apta
apta aa construir
construir conceitos
conceitos universais,
universais, mas mas quando
quando nega
nega um um fun-
fun­
damento na
damento realidade, éé falso;
na realidade, falso; assim
assim como
como com
com oo nominalismo,
nominalismo,
verificamos
verificamos aa mesmamesma coisa;
coisa; verdadeiro
verdadeiro na na sua positividade, falso
sua positividade, falso
na sua
na sua negarividade.
negacividade.

Examinemos
Examinemos agoraagora o o problema
problema ontológico,
ontológico, oo problema
problema do do
realismo. ÀA posição
realismo. realista, tomada
posição realista, tomada genèricamente,
genêricamente, afirma
afirma que
que
o universal
o universal formal
formal nãonão existe
existe formalmente,
formalmente, mas apenas funda­
mas apenas funda-
mentalmente nas
mentalmente coisas. Essa
nas coisas. Essa tese
tese éé aa de
de Salcedo,
Salcedo, para nós, po­
para nós, po
tém
rém o o universal
universal formal
formal dá-se formalmente no
dá-se formalmente no contexto alfa ee exis-
ccntexto alfa exis-
te fundamentalmente nas
le fundamentalmente coisas do
nas coisas do contexto
contexto beta,
beta, oo que
que depois
depois
iremos
iremos demonstrar.
demonstrar.
O realismo,
O como vimos,
realismo, como vimos, divide-se
divide-se em em realismo
realismo exagerado,
exagerado,
oo qual
qual afirmaria
afirmaria queque osos universais'
universais se se dão
dão nasnas coisas,
coisas, como
como natu­
natu-
rezas distintas
rezas distintas dada individuação,
individuação, ee que que osos nossos conceitos repre-
nossos conceicos repre­
sentam as
sentam as coisas
coisas como
como as coisas são,
as coisas são, que
que éé atribuído
atribuído ao ao mestre
mestre de de
Aristóteles, oo qual
Aristóteles, houvera afirmado
qual houvera afirmado queque asas idéias
idéias universais exis-
universais exis­
tem separadas
tem separadas de todo oo indivíduo,
de todo indivíduo, que são necessárias,
que são eternas,
necessárias, eternas,
imateriais,
imateriais, ee até
até separadas
separadas da da mente
mente divina.
divina. EstasEstas doutrinas
doutrinas atri-
atri­
buídas aa Platão,
buídas Platão, são
são muito
muito conhecidas
conhecidas ee repetidas,
repetidas, mas mas acontece
acontece
que na
que na obra
obra de Platão não
de Platão não se se vêem
vêem tais
tais idéias.
idéias.

—— 363 6 —

O cue
O cue se vê, realmente,
se vê, realmente, éé uma afirmativa semelhante
umi afirmativa semelhante aa esta
esta
nos diálogos
nos diálogos socráticos,
socráticos, naqueles
naqueles em em que
que aparece
aparece Sócrates,
Sócrates, ainda
ainda
jovem,
jovem, oo que
que não
não acontece nos diálogos
acontece nos diálogos não socráticos posteriores,
não socráticos posteriores,
nem tampouco quando
nem tampouco Sócrates já
quando Sócrates já éé homem
homem maduro
maduro ee dede mente
mente
filosófica perfeitamente construída.
filosófica perfeitamente construída.
Essa doutrina
Essa atribuíca aa Platão
doutrina atribuída Platão não
não éé bem
bem fundada,
fundada, como
como
dissemos,
dissemos, ee assim
assim oo sentiu
sentiu São
São Tomis,
Tomis, ee também
tamém oo entendeu
entendeu Scot.
Scot.
São Tomás,
São Tomás, queque não
não houvera lido aa obra
houvera lido obra platônica
platônica mas
ir.as apenas
apenas oo
“Timeu”, concluiu
"Timeu", concluir pela possibilidade, não
pela possibilidade, não fazendo,
fazendo, porém, uma
porém, uma
afirmativa categórica.
afirmativa categózica.

Scot já
Scot já deu
deuaa entender
entender queque esta não era
esta não era própriamente
pròpriamente aa posi­posi-
ção de
ção de Piatão, que apenas
Platão, que apenas Ihelhe era
era atribuída
atribuída sem fundamento, ee
sem fundamento,
hoje,
hoje, emem face
face dos estudos que
dos estudos que sese podem
podem fazer sôbre iquela
fazer sôbre obra,
aquela obra,
vê-se que
vê-se não tem
que não tem nenhum
nenhum fundamento
fundamento essa essa afirmativa,
afirmativa. OO que que
Platão queria
Platão queria dizer
dizer éé oo seguinte:
seguinte: que há idéias
que há (ou formas)
idéias (ou formas) uni­
uni-
versais, que podem
versais, que podem de de certo modo representar
certo modo representar aa natureza
natureza dosdos co-
co­
muaos, independente
muns, independente da da sua
sua individuação
individuação ee que que sãosão necessárias,
necessárias,
eternas
eternas ee imateriais, não afirmou,
imateriais, não porém, ex-professo,
afirmou, porém, ex-professo, queque sese des-
des­
sem
sem separadas
separadas da mente divina.
da mente divina,

Considera Selcedo
Considera Sdcedo como como realistas
realistas exagerados,
exagerados, Scot Eriúgena,
Scot Eriúgena,
Almárico dei
Almárico del Bene,
Bene, David
David de de Dinant,
Dinant, êste êste como nanteísta do
como panteísta do
que também
que também podemos afirmar não
podemos afirmar não terter fundamento,
fundamento, pois pois tanto
tanto aa
obra de
obra de David
David d: de Dinant
Dinant comocomo aa de de Almarico
Almirico dei del Bene,
Bene, mos­mos-
tram não
tram não haver
haver procedência
procedência, nessa afirmativa, porque
nessa afirmativa, porque classificá-los
classificá-los
como panteístas no
como panteístas no sentido
sentido comum
comum só 36 sese consegue forçando-se um
consegue forçando-se um
pouco
pouco os os textos,
textos, porque
porque pelospelos que conhecemos vê-se
que conhecemos vê-se claramente
claramente
que não
que não éé essa
essa aa verdadeira
verdadeira posição
posição dêles.
dêles. Cita Cita ainda
ainda oo Campe-
Campe-
lense ee Abelardo,
lense Abelardo, como conceptualista.
como conceptualista. Cita
Cita ainda
ainda os os escotistas,
escotistas,
sem sabermos
sem sabermos ondeonde fundamenta
fundamenta essa essa afirmativa, porque êstes
afirmativa, porque êstes de de
modo algum
modo aceitam que
algum aceiiam que êsses universais sese dêem
êsses universais dêem forafora dada mente
mente
divina, ee ainda
divina, ainda cita
cita Fonseca
Fonseca ee também
também os os fenomenólogos
fenomenólogos moder­ moder-
nos, como
nos, como Husserl,
Husserl, Lotze,
Lotze, Hartmana, Scheler, Bozano,
Hartmann, Scheler, Bozano, no no que
que êleêle
também exagera
também exagera e, e, finalmente,
finalmente, os os ontologistas,
ontologistas, que que ensinam
ensinam que que
as idéias
as idéias universais,
universais, comocomo conhecemos
conhecemos ee predicamos
predicamos das das coisas,
coisas,
são idéias
são idéias divinas,
divinas, ee queque r.ão
não foram. criadas, ee que
forarr. criadas, que podem
podem ter ter ca-
ca­
—37
— 37 —

racteres
racteres de necessidade, de
de necessidade, de eternidade,
eternidade, de
de imutabilidade, o que
imutabilidade, o que
sezia próprio das
se:ia próprio das idéias universais.
idéias universais.

Em oposição
Em oposição aa essa
essa sentença
sentença do realismo exagerado,
do realismo exagerado, coloca-
coloca-
-se
-se aa segunda
segunda sentença, por êle
sentença, por êle aceita,
aceita, que considera de
que considera todo
de todo
modo
modo certa, que éé aa do
certa, que realismo mitigado,
do realismo mitigado, aa qual
qual ensina
ensina o o se-
se­
guinte: que
guinte: que existe
existe nas coisas individuais
nas coisas individuais um um fundamento
fundamento seme­ seme-
Ihante, ee que
lhante, que se pode conceber
se pode conceber fora de tôda
fora de tôda individuação,
individuação, mas mas
que êstes aspectos
que êstes aspectos semelhantes
semelhantes não são distintos
não são realmente da
distintos realmente da
singularidade.
singularidade. Então êle
Então êle reduz
reduz numanuma série
série de enunciados esta
de enunciados esta.
posição:
posição: queque nos
nos indivíduos
individuos existem,
existem, na sua natureza,
na sua natureza, semelhan-
semelhan­
ças distintas
ças distintas que podem ser
que podem tomadas distintamente
ser tomadas distintamente da da sua indr-
sua indi­
viduação;
viduação; que que aa natureza
natureza se se identifica totalmente com
identifica totalmente com aa indivi-
indivi­
duação.
duação. Assim aa petreitas
Assim petreitas ce ce Pedro,
Pedro, por
por exemplo,
exemplo, dizdiz êle,
êle, éé de
de
tedo modo
tcdo incomunicável, ee não
modo incomunicável, não se pode predicar
se pode predicar de muitos in­
de muitos in-
d-víduos, mas
divíduos, mas apenas
apenas de de um.
um.

Esses conceitos universais


Esses conceitos universais são são a:ribuídos
atribuídos rectamente,
rectamente, verda-
verda­
deiramente
deiramente às coisas, quanto
às coisas, quanto àà compreensão
compreensão das notas, porque,
das notas, porque,
na verdade,
na verdade, elas estão nas
elas estão nas coisas,
coisas, não são atribuídas,
não são atribuídas, porém,
porém, às às
coisas segundo
coisas segundo oo modo modo precisivo
precisivo de de concebê-las, porque, diz
concebê-las, porque, diz êle,
êle,
nós não
nós não atribuimos
atribuímos àà coisacoisa aa não
não ser
ser oo que concebemos, mas
que concebemos, não
mas não
concebemos
concebemos com com precisão
precisão o o que
que se se dá
dá realmente
realmente na na coisa, cor-
coisa, cor­
respondente aa elas,
respondente quer dizer,
elas, quer dizer, intenc.onalmente adequadas aa elas.
intencionalmente adequadas elas.
Todos
Todos os argumentos dêle,
os argumentos dêle, emem suma,
suma, aa especificação
especificação da da sua
sua dou-
dou­
trina,
trina, éé rejeitar
rejeitar oo realismo
realismo exagerado,
exagerado, comocomo se êsses universais
se êsses universais
se dessem fora
se dessem fora das
das coisas,
coisas, ee afirmar
afirmar queque êsse
êsse realismo
realismo se se dá nas
dá nas
coisas, que éé oo realismo
coisas, que realismo mitigado.
mitigado.
Rejeita-se oo realismo
Rejeita-se realismo exagerado
exagerado por por uma série de
uma série de argumen­
argumen-
tos que vamos
tos que agora analisá-los,
vamos agora analisá-los, comentá-los
comentá-los ee verificar
verificar aa vali-
vali­
dez. Primeiro argumento
dez. Primeiro argumento geral geral contra
contra oo realismo
realismo exagerado
exagerado éé oo
seguinte:
seguinte: êsses universais formais
êsses universais formais estarão fera dos
estarão fera indivíduos,
dos indivíduos,
ou
ou estarãc
estarãc nos indivíduos. Uma
nos indivíduos. Uma posição
posição neutra
neutra não não pode
pode dar-
dar-
«se.
-se. SeSe estão
estão fora
fora dosdos incivíduos,
indivíduos, então
então são são singulares,
singulares, como como
os homens dos
os homens quais predicamos
dos quais predicamos aa idéiaidéia homem,
homem, que que nãonão são
são
verdadeiramente
verdadeiramente o o homem,
homem, porque
porque não têm em
não têm em si, dentro de
si, dentro de si,
si,
aa essência
essência total
total dodo homem.
homem. De certo
De certo modo,
modo, seriam
seriam separados
separados
ca
ca própria
própria essência
essência do homem, senão
do homem, esta essência
senão esta essência se se individua-
mdividua-

—— 38 —
38 —
lizaria
lizaria neste,
neste, ee não poderia individualizar-se
não poderia naquele.
individualizar-se naquele. O segun­
O segun
do argumento éé contra
do argumento Platão. Diz
contrá Platão. Diz Salcedo
Salcedo queque sese se
se dessem
dessem
os universais
os universais separados,
sepirados, seriam
seriam êles contraditórios, porque
êles contraditórios, porque esta­
esta-
ríamos ante
ríamos uma substância,
ante uma que imo
substância, que não seria nem criada,
seria nem criada, nemnem nãonão
criada, nem
criada, corpórea, nem
nem corpórea, nem espiritual. Dar-se-ia, então,
espiritual. Dar-se-ia, então, aa idéia
idéia
de animal,
de animal, que que rãorão seria
seria nem
nem racional,
racional, nem irracional, dar-se-ia
nem irracional, dar-se-ia
aa idéia
idéia de de movinento
movinento que que não
não tem tem uma determinada direcção,
uma determinada direcção,
que não
que não teria
teria velocidade,
velocidade, que
que nãonão teria,
teria, por
por exemplo,
exemplo, maiormaior ou ou
menor intensidade;
menor intensidade; dar-se-ia
dar-se-ia aa idéiaidéia de de relação,
relação, semsem aa idéia
idéia
dos têrmos
dos termos relacinados,
relacionados, dar-se-ia
dar-se-ia aa igualdade,
igualdade, semsem os têrmos que
os têrmos que
são comparados,
são comparados, igualizados;
igualizados; dar-se-ia
dar-se-ia oo modo,modo, sem
sem aa coisa
coisa mo­
mo-
dificada.
dificada. Ora,
Ora, tndo
tido isso
isso éé contraditório.
contraditório.
Esses argunentos,
Esses argumentos, que que também
também foramforam usados
usados por por Huma
Hume
para combater
para combater o o realismo
realismc exagerado,
exagerado, defendido
defendido por por W Wolf, não
olf, não
têm procedência
têm procedência porém. Vejamos: Primeiro
porém. Vejamos: argumento.
Primeiro argumento. Este
Êste
afirma
afirma que
que os os uriversais
uriversais ormais
formais ouqu se dão fora
se dão fora do indivíduo ou
do indivíduo ou
se dão
se dão nono individuo,
indivíduo, mas mas os universais formais,
os universais formais, de de que fala o
que fala o
chamado realismo exagerado,
chamado realism« exagerado, não não são
são os
os universais
universais queque se dão no
se dão no
contexto beta,
contexto beta, que
que são
são comutáveis,
comutáveis, mas,mas, sim,
sim, osos universais
universais queque
se dão
se dão nono contexto
contezto alfa,
alfa, aquêles
aquêles que
que oo HenHen Prote contém emi-
Prote contém emi-
nencialmente
nencialmente na na sua
sua omnipotência
omnipotência (que são incomutáveis).
(que são incomutáveis).

Sezundo, ontra
Segundo, contra Platão
Platão ee osos fenomenólogos, também não
fenomenólogos, também nio
procedem os
procedem os argumentos.
argumentos. A À idéia
idéia de animal em
de animal em Sócrates,
Sócrates, acei-
acei­
ta por
ta por Platão
Platão como
como umauma idéia
idéia universal, estaria dentro
universal, estaria dentro dodo contex:o
contex'o
aalfa
lfa ee neste
neste conlexto
conlexto racional
racional ee irracional estariam contidos
iiracional estariam contidos emi-
emi-
nencialmente no
nencialmente no conceito
conceito dede animal,
animal, simultâneamente,
simuliâneamente, como como pos-
pos­
sibilidades actualizáveis
sibilidades actuaizáveis no no contexto beta.
contexto beta.

Todos êsse;
Todos êsse: argumentos
argumentos não não têmtêm qualquer
qualquer fundamento.
fundamento.
Quanto
Quanto ao ao fact
factc de ser criado
de ser cu não
criado cu não ser
ser criado,
criado, também
também nio nio
procede, porque
procede, porque o o Hen
He» Prote
Prote éé um
um ser
ser incriado
incriado ee àa sua
sua omnipo-
omnipo­
tência tem
tência tem de de ser co-eterna com
s<r co-eterna com êle,
cie, ee sendo êsses universais,
sendo êsses universais, osos
arithmoi arkbai, de
arithmoi arkhai, que falava
de que falava oo pitagorismo,
pitagorismo, contidos
contidos eminen*
eminen-
cialmente
cialmente na na su:
sua omnipocência,
omnipotência, são são co-etemos
co-eternos com
com êle,
êle, ee também
também
não são
não criados, êles
são Criados, não tem
êles não tem umum princípio,
princípio, êles
êles não começam aa
não começam
ser.
ser. (São ab-acerno embora
(São ab-ae'£rno embora nãonão aa semsemetipso.)
e/ipso.) A A triangulari-
triangulari-
dade
dade (como
(como incimutável,
incomutável, não não começou
começou um um dia
dia aa ser;
ser; não
não nasceu;
nasceu;

— 39
39 —

não
não éé física
física (de
(de phyê, nascer); aa triangularidade
phyê, nascer); triangularidade está está contida
contida
eminencialmente na
eminencialmente na infinita
infinita omnipotência
omnipotência divina.
divina. Terceiro,
Terceiro, não
não
são corpóreos
são corpóreos nem nem espirituais.
espirituais. NãoNão oo podem
podem ser,ser, porque
porque êles
êles
não são
não são coisas
coisas àà parte
parte dada omnipotência
omnipotência divina. Estão contidos
divina. Estão contidos
nela ee não
nela não poderiam,
poderiam, conseqüentemente,
consequentemente, ser ser corpóreos,
corpóreos, porque
porque
nenhum ente
nenhum ente dodo contexto alfa éé corpóreo,
contexto alfa corpóreo, como
como já já se
se demonstrou;
demonstrou;
ee não
não seriam
seriam também espirituais, porque
também espirituais, porque seriam mentes inteli­
seriam mentes inteli-
gentes,
gentes, ee nãonão se lhes atribui
se lhes atribui inteligência, nem há
inteligência, nem há necessidade
necessidade de de
atribui-la, porque
atribui-la, porque estando
estando contida
contida eminencialmente,
eminencialmente, não há ne­
não há ne-
cessidade de
cessidade de participar de tôdas
participar de tôdas as
as perfeições
perfeições dada divindade,
divindade.

Segundo oo móvel
Segundo móvel nãonão temtem ainda
ainda umauma determinada
determinada direcção,
direcção,
mas seu
mas seu movimento
movimento possível
possível contém, potencialmente em
contém, potencialmente em si,si, aa ca­
ca-
pacidade de
pacidade de tomar
tomar tôdas
tôdas asas direcções que Ihe
direcções que lhe são
são proporcionadas,
proporcionadas,
o que
o que também poderia estar
também poderia estar contido eminencialmente e,
contido eminencialmente e, portan­
portan-
to, não
to, não haveria
haveria absurdo aqui. A
absurdo aqui. A velocidade
velocidade podepode ser maior ou
ser maior ou
menor, quando
menor, quando considerada apenas como
considerada apenas como algo
algo queque se se dá com
dá com
um quod, pois
um quod, essa velocidade
pois essa velocidade também
também poderia
poderia serser dede tôdas
tôdas as as
intensidades possíveis ee proporcionadas
intensidades possíveis proporcionadas ao ao mesmo
mesmo guod.qtwd. AA re- re­
lação implica necessàriamente
lação implica necessáriamente dois têrmos, mas
dois têrmos, mas êstes
êstes nãonão têm têm
necessidade
necessidade de de sese darem neste ou
darem neste ou naquêle, dão-se apenas
naquêle, dão-se apenas comocomo
possíveis, porque
possíveis, porque estamos
estamos dentro
dentro dede possíveis,
possíveis, como examinare-
como examinare­
mos
mos mais adiante para
mais adiante para ratificar
ratificar ainda
ainda mais esta posição.
mais esta posição.
Quarto:
Quarto: AA igualdade
igualdade também não precisaria
também não precisaria de têrmos
de têrmos
iguais para sese igualarem.
iguais para igualarem. OO modo
modo também
também não
não precisaria da
precisaria da
coisa significada, porque
coisa significada, pode-se concebê-lo,
porque pode-se concebê-lo, mas mas éé êle sempre
êle sempre
modo
modo ddee alguma
alguma coisa,
coisa, ee se
se diria,
diria, então,
então, do do seu
seu aspecto
aspecto geral,
geral,
como
como se se define
define oo modo,
modo, como
como alguma
alguma coisacoisa que
que se se pode
pode dar,dar,
como modificação. E,
como modificação. E, nada
nada disso
disso implicaria
implicaria contradição,
contradição, salvo
salvo
se colocados
se colocados no no contexto
contexto beta.
beta. Não há,
Não há, porém,
porém, contradição
contradição se se
êle colocar
êle colocar êsses universais no
êsses universais no contexto
contexto alfa.alfa. Portanto,
Portanto, aa difi­
difi-
culdade, que
culdade, que surja aqui, éé producto
surja aqui, producto da da questão
questão mal colocada.
mal colocada.
Apresenta êle
Apresenta êle depois êstes outros
depois êstes outros argumentos:
argumentos: se se dessem
se se dessem
os universais
os universais separados, homem não
separados, homem não seria,
seria, por
por exemplo,
exemplo, verda­
verda-
deiramente homem,
deiramente homem, mas mas apenas
apenas umauma certa
certa sombra
sombra ee similitude
similitude
ou participação.
ou participação. Ora, isto éé absurdo,
Ora, isto portanto, não
absurdo; portanto, não se
se dão ês-
dão ês­
ses universais
ses universais separados.
separados. Êle Ele justifica
justifica aa sua
sua tese,
tese, dizendo
dizendo oo se­
se-

— 4400 —

guinte: aa essênca
guinte: essênca verdadeira
verdadeira do do homem
homem rão está dentro
rão está dentro dodo ho-
ho­
mem, como
mem, como éé aa hipótese
hipótese dos adve:sários, nas
dos adversários, nas estaria
estaria fora
fora do ho-
do ho­
mem
mem e, e, então,
então, esta
esta mesrr.a,
mestra, como
como êleêle mesno
mes.no concebe,
concebe, o o homem
homem
não seria verdadeiramente
não seria verdadeiramente o o horrem,
hoir.em, ma;mas apenas
apenas umauma sombra,
sombra,
ou imitação, ou
ou imitação, ou umauma similitude
similitude do homem.
do hom«m. Segundo: porque
Segundo: porque
prova
prova aa menor
menor ao ao argumentar
argumentar que que osos incivíduos singulares, os
imividuos singulares, os
homens,
homens, são verdadeiramente honens,
são verdadeiramente homens, potque
porque nêles
nêles sese verifica
verifica
aa noção
noção essencial
essencial do homem.
do homem. Então, di:
Intão, dz êle, êstes universais
êle, êstes universais
separados
separados não teriam razão
não teriam razão dede ser.
sei.

Não teriam razão


Não teriam razão de ser, repetimos,
de ser, repetimos, isses universais separa­
;sses universais separa-
dos, pertencente: ao
dos, pertencentes ao contexto
contexto beta, não pertencentes
bett, não pertencentes ao ao conixto
contxto
alfa, porque aa participação,
alfa, porque participação, no no contexto
contexto seta,
ieta, sese cá pela imita-
cá pela imita-
bilidade que
biiidade que possui
possui aa potência
potência ou ou acto-poência,
acto-poência, dc dc mesmo
mesmo con- con­
texto,
texto, de de poder repetir tado
poder repetir tudo quanto
quanto IheIke éé proporcionado
proporcionado ao ao es-
es­
tado
tado em em queque êle
êle está; isto é,é, ao
está; isto ao grau
grau «ece potênciaacto
potência-acto ou ou de de
acto-potência
acto-potência em em queque esté.
está. Portanto,
Portanto, oo que êle repete
que êle repete aqui,
aqui, não
não
éé oo que
que está
está eminencialmente
eminencialmente no no contexto
contexto alfa,
alfa, mas apenas imi­
mas apenas imi-
ta aquêle
ta aquêle com com oo queque êleêle dispõe neste, mus
dispõe neste, êsse repetir
nus êsse repetir ouou éste
êste
imitar
imitar éé imitar,
imitar, ee êsteêste participar
participar éé partcipar
partcipar do de grande
grande ser, ser,
que êle
que êle pode participar proporcionado
pode participar proporcionado aa de, <le, ao estado déêle,
ao estado dêle, ao ao
que êle
que êle é.é. E E essa
essa participação
participação não não implica,
implica, de de modomodo algum,
algum,
que vá
que vá retirar ser do
retirar ser contexto alja.
do contexto alja. EleÊle cecebe
recebe ser ser dodo coniexto
contexto
alfa, que
alfa, que lheIhe di aptidão suficiente
à í aptidão suficiene de rextir, de
de repetir, de imitar
imitar oo que que
éé imitável
imitável por por êle,
êle, oo que
que êle êle pode repetir.
pode repetir.

Outro argumento
Outro argumento éé oo seguinte:
seguinte: oo que
que existe
existe ou pode existir
ou pode existir
éé singular.
singular. Ora,
Ora, nana teoria
teoria do do realismo
realismo exagerado,
eragerado, os os universais
universais
existem. Portanto,
existem. seriam singukres
Portanto, seriam singulires ee nã universais. Ora,
nãa universais. Ora, nono
contexto alfa, os
contexto alfa, universais não
os universais não existem,
existem, sio
sio pure possibilia. Os
pure possibilia. Os
aritbmoi arkbas
arithmoi arkhai não têm uma
não têm uma existência, sio pure
existência, sio pure possíbilia, con-
possibilia, con­
tidos eminencialmente n
tidos eminencialmente n3i infinita
infinita omniptência
omnipotência co co Hen-Prote,
Hen-Prote,
consequentemente
conseqüentemente não não têmtêm nenhuma singilarização, porque
nenhuma singilarização, porque estaesta
se dá com
se dá com o o ser existente, fora
ser existente, fora de suas caisas,
de suas caisas, ee que está deter­
que está deter-
minado
minado ee limitado,
limitado, no caso, oo ente
no caso, ente do
do ecntexto beta.
ccitexto beta.
OO argumen:o contra os
argumen:o contra os chamados
chamados octologistas
ontlogistas éé oo seguinte:
seguinte:
asas idéias
idéias universais,
universais, expressas pelos ontóbgos,
expressas pelos ontólsgos, são
são alguma
alguma coisa
coisa
de
de divino,
divino, quer
quer as
as consideremos subjectiumente, como
consideremos subjectivimente, como acto
acta da
da
4
— 41 —

mente divina,
mente divina, quer
quer asas consideremos
consideremos objectivamente,
objectivamente, porque
porque as­ as-
sim consideradas,
sim consideradas, os caracteres que
os caracteres que possuem
possuem elas, são os
elas, são os caracte-
caracte­
res da
res da própria
própria divindade; consegiientemente necessidade,
divindade; conseqüentemente necessidade, eterni­
eterni-
dade,
dade, imutabilidade.
imutabilidade. Oira, Oya, diz diz êle,
êle, predicamos
predicamos idéias universais
idéias universais
apenas
apenas porpor identidade.
identidade. Então, Então, neste
neste caso, predicamos das
caso, predicamos das coi­
coi-
sas alguma coisa
sas alguma coisa divina,
divina, por por identidade,
identidade, ee isto
isto éé oo panteísmo.
panteísmo.
Mas haveria
Mas haveria panteísmo
panteísmo se se afirmássemos
afirmássemos que, nas coisas
que, nas do con-
coisas do con­
texto beta, se
texto beta, se dessem
dessem os arithmo?oi arkhai,
os aritbm arkhat, como estão contidos
como estão contidos
eminencialmente na
eminencialmente na omnipotência
omnipotência divina.divina.
Mas há
Mas há ontologistas
ontologstas que que expõem
expõem êste êste pensamento
pensamento de modo
de modo
diferente, ao
diferente, ao afirmarem
afirmarem que que oo universal,
universal, ou ou seja
seja oo fundamento
fundamento
real da
real da universalidade,
universalidade, que que sese dá
dá na coisa, éé fundado
na coisa, fundado na dispo-
na dispo­
sição da
sição coisa, que
da coisa, que sese arranja
arranja ou ou éé arranjada
arranjada de de modo
modo tal,tal, que
que
assemelha ao
assemelha ao arithmci
arithmei arkê por semelhança,
arkê por semelhança, ee essa essa assemelhação
assemelhação
(assimilação) se
(assimilação) se dá
dá porpor meio
meio dede uma
uma imitação
imitação da da disposição
disposição da da
coisa, que
coisa, que éé oo sentido
sentido pitagórico
pitagórico ee também
também oo verdadeiro sentido
verdadeiro sentido
platônico, ee que
platônico, seriz oo sentido
que seria, sentido que lhe dão
que Ihe dão alguns,
alguns, que foram
que foram
acusados
acusados de de ontologismo.
ontologismo. E E nessa concepção não
nessa concepção não háhá panteísmo,
panteísmo,
porque não
porque afirmam que
não afirmam que aa omnipotência
omnipotência divina divina se manifesta
se manifesta
na coisa determinada,
na coisa limitadamente.
determinada, limitadamente. A coisa
A coisa éé que
que irita,
inita, de­de
terminada ee limitadamente,
terminada limitadamente, dentro dentro das
das suas
suas possibilidades,
possibilidades, o o que
que
o Hen-Prote
o Hen-Prote contém
contém eminencialmente
eminencialmente em em tôda
tôda aa sua
sua infinitude,
infinitude,
na sua
na sua omnipotência
omnipotência também também infinita.
infinita.

OO argumento
argumento que que êleêle move contra os
move contra os escotistas
escotistas éé o o seguinte:
seguinte:
aquela natureza
aquela natureza que que está
está nos
nos indivíduos singulares, distinta
indivíduos singulares, da
distinta da
individuação, ou
individuação, ou éé uma numêricamente em
uma numèricamente todos, ou
em todos, ou éé multipli-
multipli­
cada nos
cada nos indivíduos
indivíduos ee distinta numêricamente rêles.
distinta numèricamente r.êles. Se Se éé uma
uma
numêricamente
numèricamente em em tedos
todos os indivíducs, então,
os indivíduos, então, desapareceria
desapareceria aa
multiplicidade
multiplicidade dos indivíduos e,e, pela
dos indivíduos mesma razão,
pela mesma razão, desaparece-
desaparece­
ria
ria aa multiplicidade
multiplicidade da. da substância
substância ee dos
dos entes,
entes, ee incidiríamos,
incidiríamos, en-en­
tão, no panteismo,
tão, no panteísmo, ou ou éé numêricamente distinta nos
numèricamente distinta nos singulares
singulares e,e,
neste caso, se
neste caso, se distinguiria
distinguiria uma natureza da
uma natureza da outra,
outra, então
então não se
não se
daria
daria o o universal
universal distinto
distinto nosnos indivíduos,
indivíduos, porque
porque cada cada um um seria
seria
uma, ee então
uma, então não
não haveria
haveria universalidade.
universalidade.
Esse argumento também
Êsse argumento também nãonão procede,
procede, éé completamente im-
completamente im­
procedente, porque
procedente, porque não
não éé isso
isso que dizem os
que dizem os escotistas.
escotistas. ístes
Estes ja-
ja­
—42 —
mais defenderam
mais defenderam esta esta tese.
tese. Não sabemos de
Não sabemos de onde
onde foifoi tirada essa
tirada esia
conclusão, porque
conclusão, porque Scot
Scot não não aa estabelece,
estabelece, quando,
quando, na verdade, êle
na verdade, êle
perfeitamente distingue
perfeitamente distingue os os pure possibilia dos
pure possibilia dos "universais”
“universais” in in re,
re,
dos “universais”
dos "universais" que que sese dão dão nas coisas, os
nas coisas, concretos, o
os concretos, o universal
universal
concreto da
concreto da coisa, que não
coisa, que não éé uma universalidade, éé uma
uma universalidade, uma singulati-
singulari­
dade.
dade. Scot Scot não
não distingue
distingue real-realmente
real-realmente aa essência
essência dada existência.
existência.
OO queque sese dá no indivíduo
dá no indivíduo éé aa singularidade,
singularidade, ee esta,esta, entretanto,
entretanto, éé
que
que se dispõe de
se dispõe de modo
modo semelhante
semelhante ao dos outros
ao dos outros sêres
sêres dada mesma
mesma
espécie,
espécie, ee essaessa disposição,
disposição, êsse êsse arranjamento
arranjamento das das suas partes in­
suas partes in-
trínsecas, dispostas
trínsecas, dispostas segundo
segundo um /ogo de
um logo proporcionalidade intrín-
de proporcionalidade intrín­
seca, éé oo que
seca, tem uma
que tem uma certacerta repetibilidade.
repetibilidade. Dizemos
Dizemos uma certa
uma certa
repetibilidade,
repetibil idade, porque
porque mais adiame iremos
miis adiante iremos estudar
estudar melhor
melhor êsteêste
aspecto.
aspecto. Uma certa
Uína certa reperibilidade,
repetibilidade, aa qual,qual, cujo aspecto repetido,
cujo aspecto repetido,
éé que imita oo pine
que inita pure possibilis,
possibilis, que que éé Oo arithmos
arithmos arkê, que está
arkê, que está com
corv-
tido, eminencialmente, na
tido, eminencialmente, na omnipotência
omnipotência divina.
divina.

O que
O acon:ece aqui,
que acontece aqui, ee que
que precisa ser clareado,
precisa ser clareado, éé oo aspecto
aspecto
da
da participação.
participação. Ora, Ora, aa participação
participação oo éé de de um grau de
um grau intensi-
de intensi­
dade
dade da da perfeição
perfeição divina,
divina, ee esta participação é,é, consequentemente,
esta participação conseqüentemente,
um grau
um grau de de potência, contido eminencialmente
potência, contido eminencialnxnte na na omnipotência
omnipotência
divina, enquanto
divina, enquanto poder, isto é,é, êste
poder, isto êste ser ter: oo poder
ser tem poder de arranjar-
de arranjar-
-se, de
-se, de se
se arranjarem
arranjarem as as suas
suas partes,
partes, segundo
segundo um um logos
logos dede propor­
propor-
cionalidade intrínseca, semelhante
cionalidade intrínseca, semelhante ao ao dos outros e,
dos outros e, que
que por sua
por sua
vez,
vez, imita
imita (aqui
(aqui está
está aa imitação),
imitação), oo logos,
logos, que
que éé oo logos
logos arkhê,
arkhê, que
que
está
está contido eminencialmente na
contido eminencialmente na omnipotência divina.
omnipotência divina.

Portanto, não
Portanto, não se
se trata apenas de
trata apenas de salvar
salvar aa doutrina
doutrina dada partici-
partici­
pação. Esta
pação. Esta precisa
precisa ee exige que se
exige que se salve também aa doutrina
salve também doutrina da da
imitação pitagórica.
imitação pitagórica. Portanto,
Portanto, aa verdadeira
verdadeira compreensão,
compreensão, para para
evitar as
evitar confusões em
as confusões em tôrno
tôrno da universalidade, implica
da universalidade, implica aa salva­
salva-
ção da
ção da concepção
concepção da da zeféxis
metéxis ee dada mimesis,
mimesis, simultâneamente.
simultaneamente. OO
aspecto mimético
aspecto mimético éé um, um, ee oo metéxico
metéxico seriaseria outro,
outro, ee dêste
dêste modo
modo
evitar-se-ia essa
evitar-se-ia essa confusão.
confusão. £É oo que Scot diz,
que Scot diz, ee não pode ser
não pode ser 2n-
en­
tendido
tendido de outro modo,
de outro modo, porque,
porque, do do contrário,
contrário, teríamos
teríamos dede Ihelhe
atribuir
atribuir o o cometimento
cometimento de de um
um êrrc
êrrc infantil, primário, verdadtira
infantil, primário, verdadeira
calúnia à mente superior do doctor subrilis.
calúnia à mente superior do doctor subtilis.
íEle apresenta aa segunda
l e apresenta segunda parte
parte da sua demonstração,
da sua demonstração, que
que re-
re-
duz-se
duz-se ao ao seguinte:
seguinte: os universais, fundamentalmente,
os universais, fundamentalmente, estão
estão nas
nas

— 43 —
43 —
coisas
coisas ee formalmente são
formalmente construídos pela
são construídos pela mente.
mente. EstaEsta demons-
demons­
tração éé
tração uma decorrência
uma decorrência dosdos aspectos
aspectos precedentes,
precedentes, que êle apre-
que êle apre­
sentou.
sentou. Então diz
Então diz êle
êle que
que conceitos
conceitos universais
universais sese verificam
verificam nas
nas
coisas, segundo
coisas, segundo oo que que representam,
representam, ee nãonão são
são formalmente
formalmente comocomo
cogitamos.
cogitamos. Eles estão na
Êles estão coisa segundo
na coisa segundo um um fundamento
fundamento real real ee
constituem formalidade construída,
constituem formalidade uma res
construída, uma res ficta,
ficla, construída pelo
construída pelo
intelecto, oo que
intelecto, que perfeitamente atende aa parte
perfeitamente atende positiva do
parte positiva do concep-
concep-
tualismo
tualismo ee afasta
afasta aa negativa;
nepativa; atende
atende aa parte
parte positiva
positiva do nominalis-
do nominalis­
mo
mo ee afasta
afasta aa negativa;
negativa; afasta
afasta oo realismo
realismo exaperado,
exagerado, como
como êleêle
entende,
entende, ee afirma
afirma oo seu
seu realismo
realismo chamado
chamado mitigado.
mitigado.
E prossegue
E prossegue na
na sua
sua demonstração.
demonstração. O realismo
O realismo moderado
moderado
deve
deve ser admitido, porque,
ser admitido, porque, por
por êle, explica-se suficientemente
êle, explica-se suficientemente oo
seguinte:
seguinte: 11)) aa verdade
verdade da
da predicação;
predicação; 2) as propriedades
2 ) as propriedades essen­
essen-
ciais dos universais,
ciais dos universais, que
que são
são precipuamente
predpuamente fins,fins, por meio dos
por meio dos
quais,
quais, são introduzidos os
são introduzidos os universais
universais separados
separados ou ou distintos
distintos dada
individuação.
individuação. Ele demonstra estas
Êle demonstra estas duas
duas conquistas
conquistas dodo realismo
realismo
moderado,
moderado, que
que são válidas, ee argumenta
são válidas, argumenta assim:
assim: que realmente há
que realmente há
verdade
verdade nana predicação,
predicação, porque não dizemos
porque não dizemos com
com êsses
êsses conceitos
conceitos
totalmente
totalmente oO que
que aa coisa é, mas
coisa é, mas oo que
que dizemos
dizemos éé algo
alpo que
que se
se dá
dá na
na
coisa.
coisa. Assim,Assim, quando
quando dizemos
dizemos que que São
São Pedro
Pedro foi foi pescador,
pescador, não não
dizemos tudo
dizemos tudo o o que
que São
São Pedro
Pedro foi, não dizemos
foi, não dizemos que que êle
êle foi após-
foi após­
tolo, foi
tolo, Papa, foi
foi Papa, foi traumaturgo,
traumaturgo, etc.,
etc., mas
mas o o que
que dizemos
dizemos éé verdadei­
verdadei-
ro, de
ro, de maneira
maneira que, que, quando
quando dizemos
dizemos que que oo homem
homem éé animal
animal ee que que
Pedro éé homem,
Pedro homem, dizemos,
dizemos, sobsob um
um aspecto
aspecto técnico
técnico o o que está con-
que está con­
tido
tido no no conceito
conceito de animal ee oo que
de animal que está contido no
está contido no conceito
conceito de de
nomem que
homem que se verifica naquele
se verifica subjectum sôbre
naquele subjectum sôbre o o quai
qual tratamos.
tratamos.
De maneira
De maneira que, embora nesses
que, embora sujeitos estejam,
nesses sujeitos contudo, outros
estejam, contudo, outros
aspectos que
aspectos que não são expressos
não são pelo conceito,
expressos pelo conceito, masmas oo que
que éé expresso
expresso
se dá
se dá lá,
lá, oo que vem verificar
que vem verificar aa verdade
verdade da da predicação.
predicação. Passa ago­
Passa ago-
ra aa salvar
ra salvar as as propriedades
propriedades das das essências universais ou
essências universais ou abstractas,
abstractas,
ee oo demonstra
demonstra do do seguinte
seguinte modo.
modo. Êle Ele argumenta:
argumenta: as as essências
essências
universais
universais são são necessárias
necessárias não absolutamente, ee segundo
não absolutamente, segundo aa exis­ exis-
tência, mas
tência, apenas precisivamente,
mas apenas precisivamente, porque
porque não não sãosão exibidas
exibidas as as
circunstâncias vindicantes,
circunstâncias vindicantes, que que vindicam
vindicam aa contingência,
contingência, como como são são
oo tempo,
tempo, o o lugar,
lugar, aa situação
situação delas.
delas. São São eternas não positivamente
eternas não positivamente
ee segundo
segundo aa real existência, mas
real existência, meramente, precisivamente,
mas meramente, precisivamente, por- por­
que se
que prescinde de
se prescinde todo oo tempo
de todo tempo no no qual começam aa ser
qual começam ser possíveis,
possíveis,
—4 4 4 —

ou no
ou no qual
qual duram.
duram. AceitaAceita asas idéias universais, no
idéias universais, sentido da
no sentido da sua
sua
eternidade,
eternidade, que que pertence
pertence ao contexto alfa.
ao contexto alfa. As As que
que sese dão
dão comcom as as
coisas
coisas do contexto beta
do contexto beta não
não são
são as mesmas, são
as mesmas, imitáveis, não
são imitáveis, não se-se­
gundo aa física
gundo física realidade,
realidade, ee absolutamente,
absolutamente, mas mas apenas hipotêti-
apenas hipotèti-
camente.
camente. Assim se
Assim se quer
se se quer que haja cão,
que haja homem, deve
cão, homem, haver uni­
deve haver uni-
das aquelas notas
das aquelas notas das
das quais
quais consta
consta homem
homem ou ou cão,
cão, porque,
porque, do do con-
con­
trário, não
trário, não haveria
haveria nem cão, nem
nem cão, nem homem.
homem. Vemos que
Vemos êle, no
que êle, no fi-
fi­
nai,
nal, para salvar asas propriedades
para salvar propriedades essenciais,
essenciais, universais
universais ou abstrac-
ou abstrac­
tas,
tas, reconhece
reconhece queque essas
essas idéias, êsses universais,
idéias, êsses universais, têm
têm um funda-
um funda­
mento
mento real na coisa,
real na coisa, ee correspondem
correspondem aa algo algo que
que não
não éé precisivo,
precisivo,
ee que
que não
não está sujeito ià cronotopicidade,
está sujeito cronotopicidade, que que éé própria
própria do con-
do con­
texto beta.
texto bela.

Se compreendemos assim,
Se compreendemos compreendemos que
assim, compreendemos que oo realismo
realismo
exagerado
exagerado nada nada mais
mais éé do
do que
que consta dessa afirmação
consta dessa afirmação ee não
não as que
as que
lhe
Ihe foram indevidamente emprestadas.
foram indevidamente emprestadas. O O pensamento
pensamento estáestá per-
per-
feitmente claro, ee temos
feitmente claro, temos aa solução
solução dodo problema
problema dosdos universais,
universais.
nessa primeira parte,
nessa primeira parte crítica,
parte, parte embora tenhamos
crítica, embora tenhamos dede discutí-
discuti-
“lo agora na
-lo agora na parte psicológica, na
parte psicológica, parte correspondente
na parte correspondente àà origem
origem
cêsses
dêsses conceitos
conceitos universais,
universais, oo queque será matéria do
será matéria do próximo
próximo capí­
capi-
tulo. Apresenta
tulo. Salcedo uma
Apresenta Salcedo uma série
série de
de objecções
objecções àà sua
sua tese,
tese.

Diz êle,
Diz êle, oo objecto
objecto das das ciências
ciências éé alguma
alguma coisa real, ota
coisa real, ora oo
objecto da ciência é universal, logo o universal é alguma coisa
objecto da ciência é universal, logo o universal é alguma coisa
real. Então distingue
real. Então distingue na na maior,
maior, queque o o objecto
objecto da da ciência
ciência éé alguma
alguma
coisa real.
coisa real. O O objecto
objecto das ciências éé alguma
das ciências alguma coisacoisa real,
real, segundo
segundo oo
que diz,
que diz, êle
êle concede;
concede, segundo
segundo o o modo
modo pelopelo qual
qual éé êle, distingue;
êle, distingue;
ee que
que êste
êste éé objecto
objecto dasdas ciências
ciências reais,
reais, êleêle nega, mas que
nega, mas que éé ob-
ob­
jecto das
jecto das ciências lógicas ee de
ciências lógicas de razão,
razão, êleéle concede.
concede. EntãoEntão con-
con-
tradistingue aa menor:
tradistingue menor: os objectos das
os objectos das ciências
ciências sãosão universais.
universais. OO
objecto
objecto da da ciência
ciência éé oo queque éé universal,
universal, concede;
concede; também
também oo modomodo
pelo qual oo universal,
pelo qual universal, enquanto
enquanto universal subdistingue; éé objecto
universal subdistingue; objecto
de alguma ciência
de alguma ciência lógica
lógica ou ou dede razão,
razão, concede,
concede, masmas oo objecto
objecto
de tôda ciência
de tôda ciência real,
real, nega.
nega.
AA segunda
segunda objecção que apresenta
objecção que apresenta éé aa seguinte:
seguinte: aa ciência
ciência
não pode mudar
não pode mudar oo seu
seu objecto;
objecto; ora, se oo objecto,
ora, se objecto, também
também se­se-
gundo oo modo,
gundo modo, pelo qual éé concebido,
pelo qual não conciliar,
concebido, não conciliar, aa ciência
ciência
não ficaria,
não ficaria, não imutaria, não
não imutaria, não tomaria mutável o
tomaria mutável o seu
seu objecto;
objecto;
-— 45
— —
45 —
portanto, o objecto
portanto, o objecto também,
também, segundo
segundo oo modo
modo pelo
pelo «qual
qual éé real,
real,
éé oo que
que deve
deve tratar
tratar as
as ciências
ciências das
das coisas
coisas reais.
reais. Ele
Êle distingue
distingue aa
maior. As
maior. As ciências
ciências não
não poderiam
poderiam imitar
imitar oo seu
seu objecto, porque
objc-cto, porque
importaria positiva
importaria positiva deformidade, concede.
deformidade, concede. Negativa, isto
Negativa, isto é,é, im­
im-
perfeição natural
perfeição natural da da conjunção infinita, êle
conjunção infinita, êle nega. Todos êsses
nega. Todos êsses
argumentos estão
argumentos estão perfeitamente
perfeitamente adequados
adequados ao ao que dissemos, ee
que dissemos,
essas objecções
essas objecções precisariam
precisariam serser respondidas
respondidas do do modo
modo como
como res-res­
pondemos, que
pondemos, que seria
seria mais
mais claro, mas em
claro, mas todo caso
em todo vejamos co
caso vejamos
modo dêle
modo dêle responder.
responder.

Diz êle o
Diz êle o seguinte:
seguinte: o o que
que éé exibido pelo conceito
exibido pelo univer-
conceito univer­
sal éé eterno,
sal eterno, necessário, etc. Ora,
necessário, etc. Ora, asas coisas
coisas dêste mundo não
dêste mundo não
são
são dêste modo; portanto,
dêste modo; portanto, oo que
que oo conceito universal exibe
conceito universal exibe não
não
está
está nas
nas coisas mundanas, mas
coisas mundanas, em algum
mas em algum mundo
mundo ideal,
ideal, dá-se
dá-se nono
mundo ideal.
mundo ideal. Então distingue:
Então distingue: o o que
que éé exibido
exibido pelo
pelo conceito
conceito
universal
universal éé eterno,
eterno, necessário,
necessário, etc.,
etc., precisivamente
precisivamente ee negativa­
negativa-
mente,
mente, concede; positivamente nega.
concede; positivamente nega. Esse precisivamente ee ne­
Êsse precisivamente ne-
gativamente,
gativamente, que que êle vai conceber
êle vai conceber contra
contra êsses conceitos univer-
êsses conceitos univer­
sais
sais ee eternos,
eternos, querquer dizer,
dizer, nono contexto
contexio alfa,
alfa, éé eterno,
eterno, no
no outro
outro
contexto
contexto podepode negar.
negar.

Vejamos
Vejamos outro argumento dêle:
outro argumento dêle: oo que que funda
funda relações eter-
relações eter­
nas éé êle
nas mesmo eterno;
êle mesmo eterno; ora,
ora, aa essência
essência da da coisa funda relações
coisa funda relações
eternas, por
eternas, por exemplo,
exemplo, oo triângulo.
triângulo. Ao triângulo compete
Ao triângulo compete sem-sem­
pre haver
pre haver aa soma
soma de de dois
dois ângulos rectos; portanto,
ângulos rectos; portanto, aa essência
essência dada
coisa éé positivamente
coisa positivamente eterna.
eterna. Então distingue aa maior:
Então distingue maior: oo que que
funda
funda as as relações
relações ab-eaternas
ab-eaternas existentes
existentes éé êle êle mesmo eterno, con-
mesmo eterno, con­
cede.
cede. OO que que únicamente
unicamente se se inquirisse dessas relações,
inquirisse dessas relações, êle
êle nega.
nega.
Aqui
Aqui aa distinção
distinção éé clara,
clara, aa essência
essência da da coisa
coisa in re éé uma
in re coisa,
uma coisa,
ee aa essência
essência da da coisa
coisa nono contexto
contexto alfaalfa éé outra.
outra. AA mesma
mesma distin­
distin-
ção
ção facilita.
facilita.

OO. último
último argumento
argumento que que apresenta
apresenta éé êste:
êste: existem
existem idéias
idéias
divinas das
divinas das quais
quais osos indivíduos
indivíduos participam;
participam; portanto,
portanto, existe
existe aa
universal subsistente.
universal subsistente. Distingue
Distingue o o antecedente,
antecedente, ee que
que ela seja
ela seja
em sisi mesmo
em mesmo subsistente,
subsistente, nega;
nega; que seja subsistente
que seja subsistente nana mente
mente
divina subdistingue; que
divina subdistingue; que constitua
constitua nosnos indivíduos
individuos ocasião
ocasião dede se-se­
rem
rem êles conhecidos por
êles conhecidos por nós
nós emem sisi mesmo,
mesmo, nega;
nega; que
que são conhe-
são conhe-

— 46
46 —

- cidos
eidos por
por nós como universais
nós como universais in
in repracsentando
repraesentando ee in
in causando
causando
relativamente aos
relativamente aos indivíduos,
indivíduos, concede.
concede,
Não podemos
Não podemos ter ter aa visão
visão directa
directa dêsses pure possibilia,
dêsses pure possibilia, dês-dês­
ses aritmosi arkhai,
ses aritmoi arkbai, que estão na
que estão mente divina
na mente divina (aliás
(aliás estão con-
estão con­
tidos eminencialmente
tidos eminencialmente na omnipotência divina).
na omnipotência divina). Não, Não, os os nossos
nossos
são apenas
são apenas imitativos,
imitativos, são são apenas
apenas algo algo que
que imita,
imita, que que sabemos
sabemos
que devem
que corresponder-lhes, que
devem corresponder-lhes, que devem corresponder aa êsses
devem corresponder êsses
nossos universais,
nossos universais, que que aa mentemente constrói,
constrói, ee que encontramos um
que encontramos um
fundamento na
fundamento na coisa,
coisa, devedeve corresponder-lhes,
corresponder-lhes, na na mente divina,
mente divina,
o que
o que lhes
lhes dá dá um um fundamento
fundamento de de verdade,
verdade, nãonão podemos
podemos dizer,dizer,
porém, que
porém, que o o queque está aqui sese adequa
está aqui perfeitamente, ou
adequa perfeitamente, ou éé umauma
repetição perfeita
repetição perfeita daqueledaquele lá. lá. Seria absurdo.
Seria absurdo. Nossa
Nossa mentemente não não
afirma
afirma tal tal coisa.
coisa. Não
Não alcançamos
alcançamos aa visão visão do que pertence
do que pertence ao ao
contexto
contexto alfa alfa como como vimos,vimos, senão senão pelapela análise
análise queque conseguimos,
conseguimos,
partindo
partindo do do exame
exame das das idéias,
idéias, ee dentro, naturalmente, do
dentro, naturalmente, do con­
con-
teúdo das
teúdo das mesmas
mesmas idéias, idéias, que matêticamente podemos
que matèticamente podemos construir
construir
com
com uma precisão tão
uma precisão tão perfeita,
perfeita, que que inclui
inclui uma
uma necessidade
necessidade ab- ab­
soluta,
soluta, não, podendo ser
não, podendo ser de de outro
outro modo,
modo, senão
senão comocomo os os conce­
conce-
bemos
bemos desdedesde que que usemos
usemos aa Dialéctica
Dialéctica concreta
concreta com com todotodo rigor.
rigor.
Assim aa idéia
Assim idéia de de consequência,
consequência, de de antecedência
antecedência não não podem
podem ser ser de de
outro modo,
outro modo, senão senão aquêle
aquêle que que matéticamente
matèticamente construímos,
construímos, como como
aa idéia
idéia de princípio, como
de princípio, como aa idéia idéia de causa e,
de causa e, sucessivamente,
sucessivamente,
mas que
mas que as as coisas,
coisas, aqui,aqui, que que principiam,
principiam, as as coisas
coisas que causam:
que causam:
não sejam
não sejam perfeitamente
perfeitamente aquelas, aquelas, nem poderiam ser,
nem poderiam ser, seria
seria ab­ab-
surdo, então
surdo, então elas elas se se existencializariam,
existencializariam, ee aquelas aquelas não não podem
podem exis- exis-
tencializar-se; isto
tendalizar-se; isto é,é, não
não podem singularizar-se como
podem singularizar-se como entidades
entidade?
que se
que se dessem
dessem fora fora de suas causas.
de suas causas.

— 47 —
CAP, II
CAP. III

OO PROBLEMA
PROBLEMA LÓGICO
LÓGICO DOS
DOS UNIVERSAIS
UNIVERSAIS

O problema
O psicolégico,
problema a origem
psicológico, dos conceitos
a origem universais,
dos conceitos universais,
leva Sdcedo
leva Selcedo àà seguinte
seguinte tese:
tese: oo universal
universal formal
formal éé realizado
realizado porpor
uma operação do
uma operação do intelecto;
intelecto; oo universal
universal formal directo éé forma-
formal directo forma­
do
do por uma mera
por uma mera precisão
precisão da
da mente,
mente; ee o
o formal
formal lógico
lógico ouou rela-
rela­
tivo, por
tivo, por comparação
comparação reflexiva
reflexiva dada natureza
natureza abstracta com os
abstracta com os in-
in-
dividucs.
divíducs.

Então temos
Então temos aqui,
aqui, 1.°)
1.º) oo universal formal directo,
universal formal directo, que
que éé oo
que está
que está na
na coisa,
coisa, que
que éé realizado
realizado Dor uma mera
oor uma mera precisão da men­
precisão da men-
te; ee 2º)
te; 2.°) oo formal
formal lógico
lógico ou relativo, que
ou relativo, que éé producto
producto de de uma
uma
comparação reflexiva
comparação reflexiva dada natureza
natureza abstracta com os
abstracta com os indivíduos.
indivíduos.

A psicogênese
A psicogênese dodo universal,
universal, que
que éé conseqüentemente
consegiientemente oo pro­ pro-
blema em
blema em questão,
questão, estudamo-la
estudamo-la no livro “Sabedoria
no livro "Sabedoria dos Esque-
dos Esque­
mas”.
mas". Dêste modo não
Dêste modo trataremes dêste
não trataremos tema do
dêste tema do ângulo psico-
ângulo psico­
lógico, que
lógico, que oferece
oferece uma
uma ampla problemática, em
ampla problemática, em que
que asas contri-
contri­
buições modernas
buições modernas da Psicologia são
da Psicologia são importantissimas
importantíssimas para para oo me­
me-
lhor esclarecimento da
lhor esclarecimento formação cêstes
da formação cêstes conceitos, pois pensamos
conceitos, pois pensamos
que se
que se tratam aqui de
tratam aqui de conceitos.
conceitos. Não Não éé oo universal
universal considerado,
considerado,
por exemplo,
por exemplo, extra
extra mentis, independente da
mentis, independente da nossa
nossa mente, mis oo
mente, mas
universal
universal enquanto conceito, enquanto
enquanto conceito, enquanto construção
construção dada nossa
nossa mente.
mente.

Quanto aa esta
Quanto esta parte
parte nada
nada temos
temos aa opor,
opor, porque realmente
porque realmente
êstes universais,
êstes universais, ee outros
outros que
que acaso
acaso sese possam formar, são
possam formar, real-
são real­
mente productos
mente productos da da nossa mente. OO que
nossa mente. que nos
nos interessaria
interessaria éé aa
parte que
parte que jájá analisamos,
analisamos, i2 parte
parte ontológica,
ontológica, dada correspondência
correspondência
dêsses nossos conceitos
dêsses nossos conceitos àà realidade,
realidade, qual
qual aa adequação
adequação que
que podem
podem

— 49 —
49 —
ter com
ter com aa realidade.
realidade. De maneira que
De maneira que esta
esta parte
parte dodo problema
problema
psicológico teremos
psicológico teremos de passar por
de passir por cima,
cima, porque
porque ela ela não
não éé aa mais
muis
importante
importante para para o o nosso estudo, pois
nosso estudo, pois o o que
que nos interessava saber
nos interessava saber
éé qual
qual o o fundamerto
fundamer.to do do realismo,
realismo, pelo
pelo menos
menos do realismo mode­
do realismo mode-
tado,
rado, cujo fundamento já
cujo fundamento v.mos ee já
já v.mos já demos. Quanto àà formação
demos. Quanto formação
dêsses
dêsses esquemas,
esquemas, como como éé assunto
assunto de de psicogenética,
psicogenética, devedeve natural-
natural­
mente
mente pertencer
pertencer àà matéria
matéria correspondente.
correspondente1. Poderíamos
Poderíamos tratartratar
dêle
dêle aqui,
aqui, mas
mas iriam ficar alguns
iriam ficar alguns pontos
pontos obscuros,
obscuros, ou ou pelo
pelo mre-
ir.e-
nos
nos com com certa ambiguidade, como
certa ambigüidade, como sese vê vê na
na filosofia clássica, em
filosofia clássica, em
conseguência
consequência de de não
não dispor
dispor ela
ela do
do material
material queque dispomos
dispomos hoje pa-
hoje pa­
sara realizar
realizar tal trabalho, pois
tal trabalho, além do
pois além do materia.
matéria, dede que dispunham
que dispunham
ainda temos
ainda temos aa nessanessa favo:
favo: as as grandes
grandes ee imensas
imensas investigações
investigações
analíticas modernas,
analíticas modernas, sobretudo feitas sôbre
sobretudo feitas sôbre aa formação
formação dos dos con-
con­
ceitos na
ceitos na mente
mente humana.
humana.

Quanto
Quanto ao problemaa lógico,
ao problem lógico, problema
problema universal,
universal, podemos
podemos
anotar
anotar asas questões: 1) como
questões: 1) como éé aa natureza
natureza dodo conceito:
conceito: se se êle está
êle está
no
no indivíduo
indivíduo (que
(que éé aa parte que procuramos
pane que procuramos no no estudo
estudo dosdos uni-
uni­
versais;
versais; 2) Qual aa natureza
2) Qual natureza segundo
segundo está
está na
na mente,
mente, aa natureza
natureza
absolutamente visualizada, quer
absolutamente visualizada, quer dizer,
dizer, visualizada
visualizada soòsoD oo queque éé
constitutivo propriamente
constitutivo prôpriamente da da coisa;
coisa; em suma que
em suma que éé o o que
que cons-
cons­
iruímos, fundando-nos
truímos, fundando-nos no no que está na
que está na coisa.
coisa.

Outra divisão
Outra divisão clássica
clássica éé aa dodo universal ante-rem: os
universal ante-rem: os univer­
univer-
sais considerados
sais considerados como como idéias
idéias separadas
separadas des des indivíduos,
individuos, como como
exemplos na
exemplos na mente
mente divina, onde existissem
divina, onde existissem aa seu
seu modo;
modo; ee o o uni­
umi-
versal iti
versal in re,
re, que
que éé oo universal
universal fundamental,
fundamental, que que nãonão sese distin­
distin-
gue dos
gue dos indivíduos,
indivíduos, ee que que éé um um uriversal formal, mas
ur.iversal formal, mis queque temtem
0» seu
seu fundamento
fundamento no no indivíduo,
indivíduo, que se distingue,
que se enquanto cen-
distingue, enquanto con­
ceito, do
ceito, do próprio individuo, que
próprio indivíduo, que éé aa sentença
sentença escotista,
escotista, ze éé também
tambem
11 de
de Pedro
Pedro da da Fonseca,
Fonseca, ee oo universale
universale post-rem,
post-rem, universal
universal apósapós aa
coisa, que éé oo universal
coisa, que fcrmal, enquanto
universal fcrmal, enquanto êle êle éé apenas
apenas formido
formado
por
por uma operação do
uma operação intelecto, com
do intelecto, com umum fundamento
fundamento nas nas coisas,
coisas,
oo qual pode ser
qual pode ser directo
directo ou reflexo, segundo
ou reflexo, segundo os os aspectos
aspectos que que jájá
tivemos
tivemos oportunidade
oportunidade de de examinar.
examinar.
AA terceira divisão éé4 aa do
terceira divisão do universal fundamental, já
universal fundamental, já exami­
exami-
nado,
nado, oo universal directo, formal,
universal directo, formal, que
que éé aquêle que está
aquêle que no in-
está no in­
divíduo,
divíduo, e,e, finalmente,
finalmente, Salcedo
Salcedo apresenta
apresenta aqui
aqui uma
uma série
série de di-
de di-
— s0—
— 50 —
visões muito
visões muito comuns
comuns na escolástica, que
na escolástica, que éé oo universal
universal direclo,
direcio,
por exemplo,
por exemplo, que
que éé aquêle
aquêle que
que sese dirige
dirige àà natureza segundo ela
natureza segundo ela
é, ee não
é, segundo o
não segundo o estado
estado em que ela
em que está na
ela está na mente;
mente; o o universal
universal
de primeira
de primeira intenção,
intenção, queque éé aa cognição
cognição directa,
directa, tendente
tendente para
para aa
coisa, segundo
coisa, ela mesma,
segundo ela mesma, queque éé também
também chamado
chamado aa cognição,
cognição,
que
que éé aa primeira
primeira intenção,
intenção, por oposição àà cognição
por oposição cognição queque esté de-
está de­
pois na
pois na mente, que éé chamada
mente, que chamada de de segunda
segunda intenção.
intenção.
Temos
Temos oo universal
universal dede primeira
primeira ee o o universal
universal de de seganda
segunda
intençãe; quando
intenção; tende directamente
quando tende para aa coisa
directamente para coisa éé de
de primeira
primeira
intenção.
intençãc. Então temos
Então temos aqui,
aqui, enquanto
enquanto aa cognição
cognição éé directa, se-
directa, se­
gundo julgamos
gundo julgamos estar
estar na
na coisa,
coisa, éé de primeira intenção,
de primeira intenção, ee quando
quando
aa consideramos
consideramos na mente, ela
na mente, ela éé de
de segunda
segunda intenção.
intenção.

Esta éé matéria
Esta muitc controversa
matéria muitc na escolástica
controversa na escolástica ee na
na "Sabe­
“Sabe-
doria
doria dos
dos Esquemas” anaiisamos ee clareamos
Esquemas” anaiisamos clareamos bem êste problema,
bem êste problema,
que
que éé muito
muito ambíguo.
ambíguo.
Há, ainda,
Há, ainda, oo universal
universal absolutamente
absolutamente considerado,
considerado, que que éé aa
natureza considerada
natureza considerada segundo
segundo as as notas
notas das das propriedades
propriedades reais, reais,
que lhe convém,
que Ihe convém, não não segundo
segundo oo estadoestado de individuação ou
de individuação ou de de
precisão.
precisão, masmas só só enquantc
enquantc na na natureza,
natureza, oo universal tomado abso-
universal tomado abso­
lutamenie, por
lutamente, exemplo, aa animalidade
por exemplo, animalidade ee racionalidade
racionalidade na huma-
na hunia-
nitas; o
nitas; o universal
universal metafísico,
metafísico, que que éé real
real ee metafísico;
metafísico; o o universal
universal
absoluto, que
absoluto, que se refere àà natureza,
se refere natureza, segundo
segundo ela mesma, ee não
ela mesma, não ao ao
que ela
que ela possa
possa ter ter em relação aa outros
em relação indivíduos.
outros indivíduos.
Essas classificações, em
Essas classificações, em suma.
suma, são são de de segunda importância,
segunda importância,
são mais provenientes
são mais provenientes das das disputas
disputas de de alguns
alguns autores
autores que que pro­pro-
curaram
curaram criarcriar maior
maior precisão
precisão nos nos seus conceitos sôbre
seus conceitos sôbre os os univer­
univer-
sais, ee tudo
sais, tudo isto,
isto, como
como dissemos,
dissemos, éé tratado
tratado na na obra citada, onde
obra citada, onde
oferecemos uma
oferecemos uma nova
nova classificação,
classificação, muitomuito mais mais clara,
clara, ee sem
sem essas
essíis
ambigúidades, colocando
ambigüidades, colocando cada cada universal
universal no no seuseu devido
devido lugar.lugar.
Não quer
Não quer dizer
dizer que
que estejamos considerando que
estejamos considerando que oo trabalho
trabalho dos. dos.
escolásticos neste
escolásticos setor seja
neste setor seja algo
algo dede menor
menor valia,valia, por
por ser algo que
ser algo que
podemos superar,
podemos superar, poispois as as contribuições
contribuições modernasmodernas da da Psicologia
Psicologia
permitem, em
permitem, em alguns
alguns casos,
casos, dar dar uma solução muito
uma solução muito mais clara àà
mais clara
matéria.
matéria. Para Para êies era um
êies era um tanto difícil, porque
tanto difícil, porque permaneciam
permaneciam
entregues
entregues mais mais àà conceituação,
conceituação, enquantoenquanto hoje hoje se pode estudar,
se pode estudar,
fundando-se
fundando-se na na psicogênese
psicogênese ee na na psicologia
psicologia evolutiva
evolutiva aa realidace
realidade
— s—
— 51 —
do
do processo
processo mental
mental da da formação
formação dos universais, um
dos universais, um dos
dos temas
temas
mais difíceis
mais difíceis ee mais
mais sérios
sérios dada Psicologia, porque realmente
Psicologia, porque realmenteéé oo
aspecto que
aspecto que nos revela aa nossa
nos revela nossa profunda difsrença entre
profunda dif:rença entre nós
nós ee os
os
animais, os
animais, os quais não têm
quais não têm possibilidade
possibilidade de de atingir
atingir aquelas
aquelas com-
com­
plexas formas
plexas formas queque somos
somos aptosaptos aa realizar.
realizar.

Em tôrno
Em tôrno do universal, demos
do universal, demos até aqui o
até aqui o fundamental
fundamental para para
aa solução
solução dêste
dêste problema,
problema, embora
embora tenhamos
tenhamos que que reconhecer
reconhecer que que
ainda há
ainda há muitos
muitos outros aspectos importantes
outros aspectos importantes não não tratados,
tratados, sôsre
sôore
os quais
os quais cuidaremos
cuidaremos na obra citada,
na obra citada, bembem como
como na Matese can-
na Matese con­
creta, porque
creta, porque nela
nela trabalharemos,
trabalharemos, não rão só só com
com um novo vocabu-
um novo vocabu­
lário, como
lário, como também
também com com as as contribuições
contribuições da da “Teoria
"Teoria GeralGeral das
das
Tensões ee da
Tensões Esquematologia. Se
da Esquematologia. Se nãonão possuímos
possuímos talvez
talvez aa gran-
gran­
diosidade da
diosidade da mente
menie daqueles
daqueles homens,
homens, sem sem que nisso haja
que nisso haja qual­
gual-
quer manifestação
quer manifestação de de desvalorização
desvalorização do do que somos, pelo
que somos, menos
pelo menos
dispomos de
dispomos melhores informações,
de melhores informações, porque porque temos
temos àsàs mãos,
mãos, nãonão
só o
só o material
material sôbre
sôbre o o qual
qual êles trabalharam, como
êles trabalharam, como o o material
material ex-ex-
tra-escolástico,
tra-escolástico, de outros sectôres,
de outros sectôres, de de gravidade
gravidade extraordinária,
extraordinária,
de seriedade
de seriedade sem sem dúvida imensa, ee que
dúvida imensa, aportam contribuições
que aportam contribuições
esclarecedoras.
esclarecedoras. Então
Então asas dificuldades
dificuldades que que os escolásticos encon­
os escolásticos encon-
travam, vão
travam, vão ter solução favorável
ter solução favorável parapara aa suasua própria
própria posição, quer
posição, quer
dizer, em
dizer, vez dessas
em vez dessas descobertas
descobertas ca ca psicologia
psicologia moderna
moderna viremvirem
criar embaraços,
criar embaraços, obstáculos
obstáculos ao modo de
ao modo de pensar dos escolásticos,
pensar dos escolásticos, ao ao
“contrário,
contrário, elaselas vieram para corroborar
vieram para corroborar aqueks
aquelzs posições,
posições, trazendo
trazendo
novos argamentos que
novos argomentos que êles
êles não dispunham.
não dispunham.

Como vemos
Como vemos na na crítica
crítica aoao atomismo alinâmico de
atomismo adinâmico de Demó-
Demó-
crito; sabemos que
crito; sabemos que tôda
tôda refutação realizada por
refutação realizada por Aristóteles,
Aristételes, como
como
aa realizada
realizada pelos
pelos escolásticos,
escolásticos, fundava-se
fundava-se exclusivamente
exclusivamente na paste
na parte
especulativa;
especulativa; quer dizer, refutava-se
quer dizer, refutava-se aa concepção
concepção de Demócri:o,
de Demócri:o,
porque
porque eliela era especulativamente falsa,
era esoeculativamente falsa, levava
levava aa juízos
juízos eivados
eivados
de
de falsidade, pois não
falsidade, pois não tinham
tinham os escolásticos naquela
os escolásticos naquela época,
época, aa ssu
su
favor, nada
favor, nada dada experiência.
experiência. PodiamPodiam argumentar apenas espe-
argumentar apenas espe-
culativamente,
culativamente, não podiam argumentar
não podiam argumentar com com aa prática.
prática.

AA atomística
atomística dinâmica
dinâmica dodo século
século XXX, com as
X , com as grandes
grandes des-
des­
cobertas electrônicas,
cobertas electrónicas, veio fortalecer aa posição
veio fortalecer de Aristóteles
posição de Aristóteles ee aa
posição da
posição da escolástica,
escolástica, em oposição àà adinâmica
em oposição adinâmica dede Demócrito.
Demócrito.
—s2—
— 52 —
A teoria
A atômica moderna
teoria atômica moderna nãonão éé democrític:;
democrítica; ao ao contrário,
contrário,
ela éé muito
ela mais próxima
muito mais próxima dos zrínima de
dos mínima de Aristóteles
Aristóteles dodo que
que dos
dos
átomos de
átomos de Demócrito.
Demócrito. De De maneira
maneira queque essas
essas contribuições
contribuições da da
ciência moderna
ciência moderna vêm trazer novos
vêm trazer argumentos definitivos,
novos argumentos definitivos, por­
por-
que, além
que, além dede estar
estar assistida
assistida aa posição aristotélica-escolástica de
posição iristotélia-escolástica de
uma argumentação
uma poderosa,
argumentação poderosa, meramente especulativa,
meramente especulativa, ela tam-
ela tam­
bém está
bém está assistida
assistida por uma nova
por uma nova argumentação
argumentação fundada
fundada na na expe-
expe-
riência, fundaca na
riêncii, fundaca na inducção,
inducção, o o que
que éé de
de máxima
máxima importância,
importância.

Assim, quando
Assim, quando queremos
queremos d:zer que >ossuímos
dizer que modernamen-
oossuímos modernamen­
tete outros
outros elementos mais seguros
elementos mais seguros para
para resolver
resolver êsse
êsse problema,
problema, te-
te­
mos de
mos de acrescentar
acrescentar que
que asas soluções não vêm
soluções não vêm emem desencontro da-
desencontro da­
quilo que os escolásticos quiserem realizar. Ao contrário,
quilo que os escolásticos quiseram realizir. Ao contrário, vêm
vêm
robustecer,
robustecer, trazer
trazer um
um aportamento retirado da
iportamento retirado experiência, da
da experiência, da
análise psicológica, pois,
análise psicológica, pois, como
como sabemos,
sabemos, aa psicologia
psicologia moderna
moderna éé
ainda uma
ainda uma psicologia
psicologia sobretudo
sobretudo analítica,
analítica, ee traz
traz elementos
elementos novos,
novos,
poderosíssimos para
poderosíssimos para robustecer
robustecer osos argumentos
argumentos clássicos.
clássicos.

De maneira que
De maneira que não
não se pode de
se pode de modo
modo algum
algum afirmar que
afirmar que
aa pos:ção
posição escolástica
escolástica éé uma
uma posição
posição falsa;
falsa; ao
ao contrário,
contrário, éé uma
uma
posição
posição segura,
segura, certa,
certa, não
nío suficientemente
suficientemente demonstrada,
demonstrada, ou ou pelo
pelo
menos,
menos, que não esgotou
que não esgotou tôdas
tôdas asas possibilidades
possibilidades de de demonstração.
demonstração.

E, então,
E. se verificará
então, se verificará quais
quais são as classificações,
são as classificações, as presisões
as precisões
que
que aa mente humana fêz
mente humana fêz em
em tôrno
tôrno do problema dos
do problema universais,
dos universais,
quais
quais asas que
que devem
devem ee podem
podem continuar,
continuar, ee quais
quais asas que podem
que podem
ser
ser desprezadas
desprezadas sem sem prejuízo
prejuízo da posição filosófica;
da posição filosófici; porque esta
porque esta
precisão, que
precisão, que podemos
podemos fazerfazer hoje,
hoje, supera
supera aa antiga,
antiga, devido
devido a2 êsse
êsse
aportamento
aportamento da experiência.
da experiência.

Não se
Não se quer
quer com isso desmerecer
com isso desmerecer os os escolásticos; ao con­
escolásticos; ao con-
trário,
trário, êles foram imensos,
êles foram extracrdinários. pois
imensos, extraordinários, dispondo de
pois dispondo de tão
tão
poucos dados,
poucos chegaram aa conclusões
dados, chegaram conclusões tão seguras, que
tão seguras, que aa psicologia
psicologia
moderna acaba
moderna de alcançar,
acaba de alcançar. Éé oo que
que mostramos
mostramos em em “Sabedoria
"Sabedoria
dos
dos Esquemas”. (Tratado de
Esquemas". (Tratado de Esquematolopgia
Esquematologia). ).
Outra parte importante
Outra parte importente do do tema
tema emem estudo
estudo éé aa referente às
referente às
relações entre o
relações entre o que
que se concebe de
se concebe universal, ee aa escolástica,
de universal, no re-
escolástica, no re­
ferente
ferente àà parte
parte ontológica,
ontológica, que
que se
se dedica
dedica ao20 estudo das possibili-
estudo das possibili­
dades, porque temos
dades, porque temos dede estudar
estudar osos universais
universais enquanto possiveis,
enquanto possíveis,

— 53 —
enquanto puramente possíveis,
enquanto puramente possíveis, ou
ou enquanto meramente possíveis,
enquanto meramente possíveis,
dentro
dentro da da ordem divina, para
ordem divina, para termos, então, um
termos, então, um esclarecimento
esclarecimento
mais completo em
mais completo em tôrno
tôrno dada realidade dos universais,
realidade dos universais, ee também
também
para que
para que se possa discutir
se possa discutir sese há qualquer fundamento
há qualquer fundamento na atribuí-
na atribuí­
da doutrina aa Platão,
da doutrina Platão, da da subsistência das formas
subsistência das formas dos
dos universais.
universais.
E naturalmente
E naturalmente istoisto virá
virá aa seu
seu tempo.
tempo.
** *$ **

Vamos
Vamos agora
agora iniciar uma análise
iniciar uma análise emem tôrno
tôrno da metafísica ge-
da metafísica ge­
ral, da
ral, da Ontologia.
Ontologia. De qualquer
De qualquer modomodo que
que sese coloque
coloque aa mente
mente
humana, desde
humana, desde oo instante
instante emem que ela busca
que ela busca especular sôbre as
especular sôbre as
interrogações, que
interrogações, que sempre
sempre aa angustiaram,
angustiaram, inevitàvelmente,
inevitâvelmente, dese-
dese­
josa de
josa de chegar
chegar aa objectos
objectos iniciantes
iniciantes dede tôdas
tôdas as
as suas
suas perguntas,
perguntas,
terá
terá de chegar àà noção
de chegar noção de de principio.
princípio.

De qualquer
De qualquer forma, quer oo que
forma, quer que haja
haja tenha
tenha vindo
vindo de um ser
de um ser
análogo
análogo aa êste, ou não,
êste, ou não, ou tendo sido
ou tendo sido umum súbito
súbito acontecimento
acontecimento
no oceano de
no oceano nada, ou
de nada, ou até algo realizado
até algo realizado por êsse nada,
por êsse nada, ou
ou uma
uma
transformação
transformação dêsse nada que,
dêsse nada que, súbitamente,
subitamente, se se afirma como um
afirma como um
ser positivo, como
ser positivo, como algo
algo positivo seja como
positivo seja como fôr,
fôr, de
de qualquer
qualquer forma
forma
que se coloque
que se coloque êsse
êsse especular, terá sempre,
especular, terá sempre, emem primeiro
primeiro lupar, um
lugar, üm
princípio, como objecto
princípio, como objecto primeiro,
primeiro, fundamental.
fundamental.

Foi essa
Foi essa aa razão
razão que
que levou certamente Pitágoras
levou certamente Pitágoras aa compreen­
compreen-
der que
der que aa Matese
Matese como era por
como era por êle
êle entendida,
entendida, tinha de ser
tinha de ser antece­
antece-
dida por
dida por uma
uma Matese superior, aa Mátbesis
Matese superior, Máthesis Megiste,
Megiste, que seria aque-
que seria aque­
la que
la que teria,
teria, como
como objecto de seu
objecto de seu estudo,
estudo, êsses princípios ee as
êsses princípios as suas
suas
leis.
leis.

Desta forma,
Desta forma, o o princípio
princípio ou pode ser
ou pode ser oo ser,
ser, ou
ou pode
pode serser o o
nada, jájá que
nada, que aa especulação
especulação nos nos levaria
levaria aa compreender
compreender aa impossibi-
impossibi­
lidade de
lidade de algo
algo intermediário
intermediário entreentre serser ee nada.
nada. Sendo
Sendo oo serser oo
princípio, em
princípio, tôrno dêle
em tôrno dêle sese formariam
formariam mais mais disciplinas,
disciplinas, como
como tam-tam­
bém
bém se poderiam formar
se poderiam outras disciplinas
formar outras disciplinas em em tôrno do não-ser.
tôrno do não-ser.
Dêsse modo,
Dêsse modo, não não há mais necessidade
há mais necessidade de que tenhamos
de que tenhamos de justi-
de justi­
ficar osos fundamentos
ficar fundamentos da da Matese,
Matese, já já que
que oo fizemos
fizemos nos volumes
nos volumes
anteriores desta
anteriores desta série,
série, emem que mostramos que
que mostramos que essa
essa disciplina
disciplina se se
impunha, porque,
impunha, quer queiramos
porque, quer queiramos querquer não,
não, oo ser
ser humano,
humano, no no seuseu

— 54 —
“ especular
especular filosófico, terá, fatalmente,
filosófico, terá, fatalmente, de
de colocar
colocar um conjunto de
um conjunto de
princípios
princípios imprincipiados,
imprincipiados, que regeriam tudo
que regeriam tudo quanto
quanto há,
há, tudo
tudo quar:-
quan­
to se dá,
to se dá, ee êsses
êsses princípios,
princípios, sendo imprincipiados, são,
sendo imprincipiados, consequen-
são, conseqüen­
temente, também eternos
temente, também eternos ee imutáveis,
imutáveis, o o que
que decorre
decorre rigorosamen­
rigorosamen-
te da
te análise que
da análise se fizer
que se fizer em
em tôrno
tôrno do
do imprincipiado.
imprincipiado.

Quanto
Quanto àà justificação
justificação da Ontologia éé matéria
da Ontologia matéria aa ser
ser discutida,
discutida,
ea justificação da
e a justificação da Meontologia
Meontologia também.
também. NãoNão que
que já
já não
não se te-
se te­
nha
nha de
de uma
uma vez por tôdas
vez por tôdas justificado, pelo menos
justificado, pelo menos aa primeira
primeira dis-
dis­
ciplina, por que
ciplina, por os longos
que os longos trabalhos executados pelos
trabalhos executados pelos escolásticos,
escolásticos,
através dos tempos,
através dos tempos, ee mesmo
mesmo osos de Aristóteles, essa
de Aristóteles, essa disciplina
disciplina
está
está suficientemente
suficientemente bem bem fundada.
fundada. A A Meontologia
Meontologia foi foi sempre
sempre
considerada
considerada comocomo umauma parte
parte da
da Ontologia,
Ontologia, o o estudo
estudo das
das idéias
idéias
negativas, partindo-se de
negativas, partindo-se de que
que oo Meon
M eon éé apenas
apenas uma
uma idéia nega-
idéia nega­
tiva.
tiva.

Entretanto, como podemos


Entretanto, como podemos também tomar o
também tomar o Meon,
Meon, não
não ape­
ape-
nas como uma
nas como idéia negativa,
uma idéia negativa, mas
mas como
como uma
uma negação
negação indepen-
indepen­
dentemente
dentemente de de nós,
nós, aa Meontologia,
Meontologia, conseqüentemente,
consequentemente, também
também tem
tem
aa sua
sua justificação;
justificação; teria
teria o o não-ser
não-ser enquanto
enquanto não-ser como objecto
não-ser como objecto
formal, assim
formal, assim como
como oo serser enquanto
enquanto ser seria oo objecto
ser seria objecto formal
formal da
da
Ontologia.
Ontologia.

Não
Não éé mais possível tolerar
mais possível tolerar um
um preconceito
preconceito muito
muito vulgariza­
vulgariza-
do hoje entre
do hoje entre inadvertidos, de que
inadvertidos, de que não
não se deve mais
se deve mais admitir idéias
admitir idéias
eternas.
eternas.
Nós somos obrigados
Nós somos obrigados aa admitir
admitir idéias
idéias eternas,
eternas, quer
quer queira-
queira­
mos, quer
mos, quer não;
não; se
se essas idéias são
essas idéias são óbvias,
óbvias, não
não podemos
podemos de modo
de modo
algum considerar
algum considerar que nós asas criamos,
que nós criamos, queque as construímos. Nô5s
as construímos. N5s
apenas 2sas achamos,
apenas apenas as
achamos, apenas as descobrimos,
descobrimos, elaselas nos
nos são
são reveladas
reveladas
de
de um modo ou
um modo ou de outro.
de outro.

Quando chegamos
Quando chegamos àà conclusão, por exemplo,
conclusão, por exemplo, na na Matemática,
Matemática,
de
de que
que aa validez
validez dede um
um resultado
resultado não
não éé uma
uma criação
criação nossa, não éé
nossa, não
algo que
algo principiou conosco,
que principiou conosco, mas mas uma
uma verdade
verdade que que ultrapassa
ultrapassa aa
todo
todo ee qualquer
qualquer princípio
princípio no tempo, porque
no tempo, porque sese não
não houvesse cria-
houvesse cria­
ção,
ção, ouou tudo fôsse apenas
tudo fôsse apenas nada,
nada, absolutamente
absolutamente nada,nada, num
num haver
haver
das
das coisas essa ordem
coisas essa ordem seria
seria verdadeira
verdadeira ee sem
sem êsse
êsse haver
haver éé verda­
verda-
deira
deira desde sempre.
desde sempre.

— 55 —
55 —
Contra
Contra essas
essas idéias eternas não
idéias eternas não sese pode
pode fundar
fundar devidamente
devidamente
renhum argumento
nenhum argumento em contrário. Tôdas
em contrário. Tôdas as tentativas dos
as tentativas posi-
dos posi­
tivistas, dos
tivistas, dos que combatem aa Metafísica
que combatem Metafísica em em geral,
geral, ao ao quererem
quereiem
demonstrar que
demonstrar essas idéias
que essas são meras
idéias são meras criações
criações dodo espírito humano,
espírito humano,
que são
que são meros
meros esquemas
esquemas mentais,
mentais, malograram
malograram na na sua
sua demonstra­
demonstra-
ção, porque
ção, porque oo ter ter oo antecedente prioridade sôbre
antecedente prioridade sôbre oo conseqüente,
consequente,
não depende
não depende absolutamente
absolutamente da da nossa
nossa psique,
psique, não não éé uma criação
uma criação
dela, nem
dela, nem éé elaela queque lhe
Ihe dádá tal justificação, ee nós
tal justificação, nós nãonão podemos
podemos
negar que,
negar independentemente da
que, independentemente psique humana,
da psique humana, antes mesmo de
antes mesmo de
surgir o
surgir o homem,
homem, o o antecedente
antecedente tinha tinha prioridade
prioridade sôbresôbre oo conse-
conse­
quente.
qüente. Ora,
Ora, aa Matese
Matese própriamente
propriamente vai vai trabalhar
trabalhar ee construir,
construir,
vai redescobrir,
vai redescobrir, vai vai desvelar
desvelar todos êsses princípios,
todos êsses princípios, ee verificar
verificar queque
tôdas essas
tôdas essas idéias
idéias eternas,
eternas, àà proporção
proporção que que invadamos
invadamos oo seu seu cam-
cam­
po ee que
po que asas conheçamos,
conheçamos, vamos vamos verificando
verificando que que as as coisas
coisas dede cá,
cá,
as coisas
as coisas da da nossa experiência, as
nossa experiência, coisas da
as coisas da nossa empiria, proce-
nossa empíria, proce­
cem imitando-as.
dem imitando-as. Elas Elas se
se actualizam, dentro das
actualizam, dentro das mesmas
mesmas normasnormas
ee das
das mesmas
mesmas leisleis que constituem objecto
que constituem objecto da Matese (1).
da Matese ( 1) .

Ora, ao
Ora, ao chegarmos
chegarmos aa êste
éste ponto,
ponto, alcançando
alcançando estaesta posição, pas-
posição, pas­
sa aa Matese
sa Matese aa ser ser de
de uma utilidade extraordinária,
uma utilidade extraordinária, porque
porque podere-
podere­
mos com
mos com elaela não
não só
só compreender melhor as
compreender melhor as coisas
coisas do do mundo
mundo da da
nossa experiência,
nossa como, também,
experiência, como, também, saber
saber oo que
que sese dá com certeza,
dá com certeza,
ee oo que
que sese dádá apenas
apenas ilusoriamente
ilusóriamente para
para nós, porque tudo
nós, porque tudo o o que
que
aqui se
aqui se der,
der, ofendendo aquelas idéias
ofendendo aquelas eternas, tudo
idéias eternas, tudo oo queque as
as ofen-
ofen­
da, que
da, que as as repugna,
repugna, será
será falso, ou será
falso, ou será producto
producto aperas
apenas dede uma
uma
ilusão.
ilusão.

Então
Então teriamos,
teríamos, ee êste
êste éé o
o ponto fundamental, aa parte
ponto fundamental, parte mais
mais
inportante do
importante do nosso trabalho; teríamos,
nosso trabalho; teriamos, neste caso, àà nossa
neste caso, nossa dispo-
dispo­
sição, um
sição, um verdadeiro
verdadeiro kritérion
Aritérion filosófico.
filosófico. Teríamos
Teríamos aa pedra
pedra de de
toque pela
toque pela qual poderíamos aferir
qual poderíamos aferir oo valor
valor dede todo
todo ee qualquer
qualquer juí­jui-
zo filosófico.
zo filosófico. Ora, acontece que,
Ora, acontece que, no
no decorrer
decorrer do do tempo,
tempo, aa opi­
opi-
nião geral
nião tendeu para
geral tendeu para considerar
considerar que essas idéias
que essas idéias eternas
eternas nada
nada
mais são
mais são do
do que
que esquemas
esquemas mentais
mentais do ser humano,
do ser humano, precisões
precisões ca ca
rossa mente,
rossa mente, sem
sem nenhum fundamento real,
nenhum fundamento real, ccmo
ccmo oo nominalismo,
nominalismo.

Éfis oo que
que demonstraremos
demonstraremos no
no nosso livro «Sabedoria
nosso livro «Sabedoria das Leis», qre
das Leis», que
faz parte desta
faz parte desta série.
série.

—— s6—
56 —
por exemplo,
por exemplo, tentou
tentou estabelecer
estabelecer ee desenvolver,
desenvolver, ee ninguém
ninguém pode
pode
negar que
negar que conseguiu
conseguiu influir,
influir, empolgar,
empolgar, muitas mentes humanas.
rauitas mentes humanas,
Por isso,
Por isso, como,
como, por por sua vez, aquéles
sua vez, aquêles queque aceitavam
aceitavam aa não- não-
-fundamentalidade dessas
-fundamentalidade dessas idéias
idéias eternas,
eternas, perturbavam
perturbavam aa acção acção dosdos
que as
que as aceitavam,
aceitavam, comccomc os grandes escolásticos,
os grandes escolásticos, êstesêstes mesmos
mesmos fo­ fo-
ram afastando-se dessa
ram afastando-se dessa pesquisa,
pesquisa, temerosos
temerosos de de serem
serem considerados
considerados
como
como fanáticos
fanáticos de de umum mundo
mundo de de meras
meras imagens
imagens sem sem fundamento
fundamento
real, vivendo
real, vivendo apenas
apenas sonhos, alucinações, etc.
sonhos, alucinações, etc. Embora
Embora aceitas-
aceitas­
sem
sem as idéias eternas,
as idéias eternas, nãonão se decicavam aa elas
se decicavaxn elas comcom aquêle
aquêle afinco,
afinco,
com
com aquela intensidade de
aquela intensidade de estudo
estudo queque se fazia mis:er,
se fazia misrer, comcom excep-
excep­
ção
ção dede umum SãoSão Boaventura
Boaventura ou um Alexandre
ou um Alexandre de de Hales,
Hales, umum Scot,
Scot,
e€ também
também alguns
alguns de de seus
seus seguidores, enquanto outros,
seguidores, enquanto outzos, que corres-
que corres­
pondem aa outras
pondem posições, pouco
outias posiçces, pouco se se impcrtaram
impcrtaram com com aa investiga­
investiga-
ção sôbre temas
ção sôbre temas tão importantes.
tão importantes.

Qual foi, então,


Qual foi, então, oo resultado?
resultado? OO resultado
resultado foi
foi oo deservolvi-
desenvolvi­
mento, dentro da
mento, dentro da escolástica
escolástica ee na
na filosofia moderna, de
filosofia moderna, de uma
uma vasta
vasta
especulação em
especulação tôrno da
em tôrno da parte
parte fundada
fundada na empíria, que
na empíria, que é,
é, sem
sem
dúvida, uma
dúvida, uma obra
obra pigantesca
gigantesca ee extraordinária,
extraordinária, àà qaal
qual não
não corres-
corres­
pondeu aa mesma
pondeu mesma actividade
actividade no campo das
no campo das idéias eternas.
idéias eternas.

Por não
Por não se
se ter
ter realizado
realizado essa
essa investigação
investigação não se notou
não se notou que
que
havia uma
havia uma profunda
proiunda verdade
verdade nana lei
lei hermética,
hermética, que
que “assim
"assim como
como éé
o superior,
o superior, éé o o inferior;
inferior, assim
assim como
como éé oo inferior
inferior éé oo superior”
superior”
que éé aa lei
que lei da analogia. Não
da analogia. Não sese compreendeu meihor aa analogia
compreendeu melhor analogia
que há
que entre àsas coisas
há entre coisas doco mundo
mundo da nossa experiência
da nossa experiência ee as coisas
as coisas
eternas.
eternas.
Às coisas
As coisas da nossa experiência
da nossa experiência nãonão são actualizações das
são actualizações das coi-
coi­
sas eternas;
sas são actualizações
eternas; são actualizações dede coisas criadas, de
coisas criadas, coisas fabricadas,
de coisas fabricadas,
de
de coisas realizadas por
coisas realizadas por um
um agente
agente eficiente, enquanto que
eficiente, enquanto que oo outro
outro
não
não tem uma fabricação,
tem uma uma criação.
fabricação, uma criação.

Julgava-se que aa especulação


Julgava-se que especulação em em tôrno das idéias
tôrno das eternas não
idéias eternas não
era de
era de tanta importância como
tanta importância como aa especulação
especulação emem tórno dos factos
tôrno dos factos
da nossa
da nossa experiência.
experiência. EE chegava-se
chegava-se àà conclusão
conclusão de de que
que apenas
apenas
partindo dêsses
partindo dêsses factos, alcançariamos as
factos, alcançaríamos idéias eternas
as idéias eternas que lhes
que lhes
eram correspondentes;
eram correspondentes; quer dizer, seguiriamos
quer dizer, seguiríamos o o método
método empirio-
empírio-
«racionalista, que
-racionalista, que foi
foi oo de
de Aristóteles,
Aristóceles, oo método
método predominante
predominante na na

— 57 —
57 —
escolástica.
escolástica. Mas embora
Mas embora seja certa essa
seja certa essa orientação,
orientação, ela ela não
não éé
completa;
completa; porqueporque partia
partia dede umauma tomada
tomada de de posição
posição de de certo
certo mo-
mo­
do
do falsa, porque julgava
falsa, porque julgava não não ser possível, ou
ser possível, pelo menos
ou pelo menos assim
assim
sentiam êsses
sentiam êsses autôres
autores não haver necessidade
não haver necessidade de outro método,
de outro método, queque
seria
seria o o de
de descer
descer dasdas idéias
idéias para
para asas coisas,
coisas, porque êsse método
porque êsse método eraera
perigoso porque
perigoso porque nos nos levaria
levaria aa construções
construções apriorísticas,
aprioristicas, sem fun-
sem fun­
damento real,
damento real, que
que terminariam
terminariam por por perturbar
perturbar as as nossas
nossas pesquisas.
pesquisas.
Por êsse
Por lado, havia
êsse lado, havia uma uma parte
parte de de verdade, porque realmente
verdade, porque realmente se se
não houver
não houver um um bom fundamento matético,
bom fundamento matético, aa especulação
especulação em em tor­
tôr-
no das
no das idéias
idéias eternas
eternas pode pode levar
levar oo filósofo
filósofo menor
menor aa cometer
cometer dêsses
dêsses
erros, mas
erros, mas cesde
desde que que seja
seja êleêle bem
bem assistido
assistido por uma dialéctica
por uma dialéctica
concreta, como
concreta, como tivemos
tivemos oportunidade
oportunidade de realizar, não
de realizar, não háhá mais
mais
êsse
êsse receio,
receio, porque
porque tôdas tôdas as conclusões matéticas
as conclusões matéticas aa que chegamos,
que chegamos,
nenhuma
nenhuma delas deixou de
delas deixou de ter
ter um
um correspondente
correspondente real nos factos
real nos factos
da experiência ((1).
da experiência 1) .

Já havia,
Já havia, portanto,
portanto, possibilidade
possibilidade de de descer
descer aa escada;
escada; não não
precisávamos
precisávamos apenas apenas subi-la.
subi-la. Ora, Ora, se unirmos os
se unirmos dois mêtodos,
os dois métodos, oo
empísio-racionalista
empírio-racionalista ee o o idealista-empírico,
idealista-empírico, oo ideal-real
ideal-real (aqui
(aqui esta-
esta­
mos usando ideal-real,
mos usando ideal-real, idealisno-realista,
idealismo-realista, no no sen:ido
sensido platónico,
platónico, no no
sencido
sen:ido pitagórico,
pitagórico, não não no sentido dos
no senrido dos idealistas alemães, que
idealistas alemães, que não
não
entenderam
entenderam bem bem Hegel),
Hegel), verificamos
verificamos queque sese usarmos
usarmos os dois mé­
os dois mé-
todos, simultâneamente,
todos, simultâneamente, verificaremos
verificaremos que que as nossas conquistas
as nossas conquistas não não
vão sese reduzir
vão reduzir apenas
apenas (como (como alguns autores poderiam
alguns autores poderiam dizer),
dizer), aa
alcançarmos os
alcançarmos os mesmos
mesmos degraus.
degraus. De qualquer
De forma, basta
qualquer forma, basta que
que
subamos, que
subamos, que éé muito
muito maismais seguro,
seguro, ee estaremos
estaremos sempre
sempre realizando,
realizando,
embora inversamente,
embora inversamente, o o trabalho
trabalho que
que desejam
desejam fazerfazer aquêles
aqrêles queque
se colocam
se colocam na na posição
posição pitagóriro-platôn.ca,
pitagórico-platôn.ca, mais mais platônica
platônica própria-
propria­
meate do
mente do que
que pitagórica,
pitagórica, porque
porque aa pitagórica
pitagórica nãonão éé bem
bem esta,
esta, seria
seria
aa conjunção
conjunção dos dos dois
dois métodos,
métodos, do empirio-racionalismo ee do
do empírio-racionaiismo do idea-
idea-
tismo-empirista, que
lisrno-empirista, que osos discípulos
discípulos de Pitágoras, quando
de Pitágoras, quando na na disper­
disper-
são, separaram isolando-os.
são, separaram isolando-os. O especular
O especular filosófico, para Pitágo-
filosófico, para Pitágo­
ras, deve ser
ras. deve ser simultâneamente teórico-prático ee prático-teárico.
simultâneamente teórico-prático arático-teórico.
As
As razões
razões são as seguintes:
são as seguintes: éé que
que se nos preocuparmos
se nos preocuparmos ex-ex­
clusivamente com aa investigação
clusivamente com filosófica, ee especulações,
investigaçlo filosófica, especulações, partin-
partin-

(1) Essa dialéctica


(1) Essa dialéctica éé por
por nós
nós examinada
examinada na obra
na obra «Jabedoria
«Sabedoria
da
da Dialéctica», que faz
Dialéctica», que faz parte
parte desta
desta série.
série.

— sgs—
58 —
do da
do da empíria, nos afastaremos
empíria, nos afastaremos de de uma
uma série
série de de descobertas
descobertas im-im­
portantes, possíveis
portantes, possíveis dede serem feitas pelo
serem feitas pelo outro
outro lado,
lado, o o cjue
que sósó nos
nos
traria prejuízos,
traria prejuízos, como
como trouxe,
trouxe, ee levou
levou aa escolástica
escolástica aa colocar
colocar mal,
mal.
práticamente, as
pràticamente, as suas
suas fundamentais cuestões, colocação
fundamentais cuestões, colocação queque jájá en­
en-
contramos em
contramos em Aristóteles
Aristóteles ee daí
daí cair
cair em inúmeras disputas
em inúmeras disputas estéreis,
estéreis,
sectarizadas por
sectarizadas por inúmeras posições, ee que
inúmeras posições, que aa hermenêutica
hermenêutica tem tem le-
le­
vado aa múltiplas
vado múltiplas sentenças,
sentenças, muitas
muitas cas
das quais
quais atéaté contraditórias.
contraditórias.

Verificou-se mais,
Verificou-se mais, com
com espanto,
espanto, queque muitas dessas posiçõe:
muitas dessas posições
apresentavam uma
apresentavam uma coerência
coerência poderosíssima,
poderosíssima, ee argumentos
argumentos não não sose
coerentes como rotustos,
coerentes como rotustos, de modo aa colocar
de modo colocar aa mente
mente humana
humana num num
estado
estado dede perplexidade,
perplexidade, oo que que aconteceu
aconteceu comcom muitos
muitos filósofos
filósofos que
que
desejaram estudar
desejaram estudar aa escolás:ica,
escolástica, o o que
que fêz
fêz com
com queque ela até desse
ela até desse
aa impressão
impressão de de que
que não levaria senão
não levaria senão aa estados
estados aporéticos,
aporéticos, ee que,
que,
portanto, havia
portanto, havia necessidade
necessidade de de investigar
investigar porpor outros
outros caminhos.
caminhos. OO
que aconteceu
que aconteceu foifoi normal
normal em em tôda
tôda aa filosofia moderna, que
filosofia moderna, se foi
que se foi
afastando da
afastando escoléstica devido
da escolástica devido aa êsse
êsse estado
estado de perplexidade aa que
de perplexidade que
chegaram alguns
chegaram alguns autôres.
autores. Ora,Ora, issc
issc tudo
tudo sese deve
deve exclusivamente
exclusivamente
ao êrro
ao êrro findamental,
fundamental, que que denunciamos,
denunciamos, sem sem querer
querer com
com isso
isso des-
des­
merecer osos grandes
merecer trabalhos realizados.
grandes trabalhos realizados.
Sabemos que
Sabemos que muitos não concordarão
muitos não concordarão com as nossas
com as nossas palavras,
palavras,
mas como
mas como estamos fazendo obra
estamos fazendo obra que
que demonstra
demonstra oo fundamento
fundamento dodo
que afirma,
que afirma, com
com demonstrações
demonstrações dede rigor
rigor apodítico, de maneira
apodítico, de maneira que
que
atinjam za verdade,
atinjam verdade, como
como aa entendemos
entendemos ee como
como podemos entendé-
podemos entendê-
-la, não
-la, não nos
nos preocupam
preocupam as as divergências.
divergências.

Queremos acrescentar
Queremos acrescentar queque aa especulação
especulação matética
matética vem com-
vem com­
pletar êsse
pletar êsse trabalho realizado pelo
trabalho realizado empiírio-racionalismo escolás-
pelo empírio-racionalismo escolás­
tico; quer
tico; quer completá-lo,
completá-lo, porque
porque aa especulação
especulação emem tôrno
tôrno das
das idéias
idéia,s
eternas nos
eternas nos obriga
obriga, aa chegar
chegar aa diversos
diversos axiomas,
axiomas, aa diversos
diversos adé-adá­
gios,
gios, que são absclutamente
que são absolutamente certos,
certos, ee que
que nos
nos podem explicar me-
podem explicar me-
lhormente os
liiormente factos, ee também
os factos, também permitir
permitir que
que coloquemos
coloquemos as as ques-
ques­
tões escolásticas
tões escolásticas em em outras posições, ee partindo
outras posições, destas encontramos
partindo destas encontramos
soluções para as suas aporias, o que de outro modo não
soluções para as suas aporias, o que de outro modo não sese con­
con-
segue alcançar.
segue alcançar.
x .
E
raturalmente uma obra,
naturalmente uma
é obra, assim
assim àà primeira
primeira vista,
vista, ambiciosa.
ambiciosa.
O que
O que estamos
estamos dizendo
dizendo pcde
pede provocar
provocar em muitos uma
em muitos atitude ele
uma atitude de

— 59 —
59 —
dúvida ee até
dúvida até de
de sarcasmo
sarcasmo aoao dizer-se que
dizer-se que alguém,
alguém, ee sobretudo
sobretudo
num país
num país subdesenvolvido
subdesenvolvido tenha
tenha aa audácia
audácia de
de querer
querer apresentar
apresentar
uma solução
uma solução para
para às
as aporias
aporias filosóficas, que
filosóficas, que há milênios
há milênios agitam
agitam oo
homem.
homem.

É realmente
é reilmente alguma coisa de
alguma coisa inaudito. O
de inaudito. O que
que pedimos,
pedimos, ee
apenas oo que
apenas que esperamos
esperamos éé que
que verifiquem
verifiquem as as demonstrações,
demonstrações, aa ma­
ma-
neira como
neira como expomos
expomos ee como
como demoastramos
demonstramos o o que
que afirmamos
afirmamos ee
postulamos, ee se
postulamos, se encontrarem
encontrarem defeitos
defeitos ee erros que os
erros que os apontem,
apontem, ee
se não encontrarem, tenham a dignidade de reconhecê-lo.
se não encontrarem, tenham a dignidade de reconhecê-lo.

—— 660
0 —

CAP. IV
CAP. IV

KANT
KA E A
NT E A ONTOLOGIA
ONTOLOGIA

A tese
A tese fundamental
fundamental da escoléstica consiste
da escolástica consiste em
em postular
postular que,
que,
antecedendo
antecedendo as as ciências naturais ee matemáticas,
ciências naturais matemáticas, ee do campo filo-
do campo filo­
sófico, as
sófico, as ciências filosóficas particulares,
ciências filosóficas particulares, háhá uma
uma ciência, que con­
ciência, que con-
sidera o
sidera o ente
ente enquanto ente, ee que
enquanto ente, que éé rectamente
rectamente chamada
chamada de de On-
On­
tologia ou,
tologia ou, também,
também, de de Metafísica Geral.
Metafísica Geral.

Na classificação
Na classificação das ciências, há
das ciências, grande divergência,
há grande divergência, pois
pois
são múltiplas as
são múltiplas as classificações,
classificações, do que não
do que não iremos
iremos tratar
tratar aqui,
aqui, pois
pois
jájá oo fizemos
fizemos nosnos lugares
lugares oportunos,
oportunos, em nossas obras
em nossas de Filosofia.
obras de Filosofia.
Como
Como tôda tôda ciência
ciência possui
possui umum objecto formal, poderíamos
ob;ecto formal, poderíamos dizer
dizer
que há tantas ciências, quantos objectos formais formos
que há tantas ciências, quantos objectos formais formos aptos
aptos aa
distinguir
distinguir nas nas coisas.
coisas.

Ora, aa concepção
Ora, concepção da fisica, no
da física, no sentido
sentido clássico,
clássico, queque não
não éé
aa mesma
mesma do do sentido
sentido moderno,
moderno, que que éé pròpriamente
prôpriamente aa físico-qui-
físicoquí-
mica, tinha como
mica, tinha como objecto
objecto aa matéria
matéria considerada
considerada na na sua
sua singulari­
singulari-
dade, independente
dade, independente de de ser
ser sensivel
sensível ou ou não,
não, dede ser
ser captável
captável pelos
pelos
nossos sentidos
nossos sentidos ou não; aa matéria
ou não; matéria em gerel, aa matéria
em geral, matéria enquanto
enquanto
matéria. seria,
matéria, seria, prôpriamente,
pròpriamente, o o objecto
objecto da da Física,
Fisica, ee tenderia
tenderia ài es-
es­
tudar,
tudar, aa investigar,
investigar, aa descrever,
descrever, os factos ee as
os factos as leis que regem
leis que regem os os
factos da
factos da matéria,
matéria, oo que que pròpriamente
própriamente constituiri:
constituiria aa chamada
chamada
ciência
ciência positiva,
positiva, aa qual,
qual, enquanto =studa oo corpo
enquanto estuda corpo nãonão vivente,
vivente, éé aa
Fisico-química; o corpo vivente, sob o aspecto genérico, teríamos
Fisico-qitimica; o corpo vivente, sob o aspecto genérico, terízmos
aa Biologia,
Biologia, tomado
tomado quanto
quanto àsàs plantas,
plantas, aa Fitologia,
Fitologia, temado
tomado quanto
quanto
aos animais,
aos animais, aa Zoologia,
Zoologia, ee tomado quanto so
tomado quanto homem, aa Antropo-
zo homem, Antropo­
logia. Essas
logia. Essas constituiriam,
constituiriam, em em linhas
linhas gerais,
geraij, aa ciência
ciência positiva,
positiva, aa
qual está
qual ligada àà ciência
está ligada ciência da
da Física
Física nono sentido
sentido clássico.
clássico.
-“G6—
— 61 —
AA parte
parte antropológica
antropológica subdividir-se-ia
subdividir-se-ia em em outras
outras ciências
ciências par­par-
ticulares, por
ticulares, exemplo, as
por exemplo, as que
que se se dedicam
dedicam ao estudo dos
ao estudo dos actos
actos ee do do
sujeito das
sujeito das leis,
leis, que
que éé oo homem,
homem, e, e, então,
então, temos
temos aa Psicologia
Psicologia Ex­ Ex-
perimental;
perimental; estudando
estudando êsse êsse homem
homem enquanto
enquanto educável,
educável, enquanto
enquanto
conduzível, temos
conduzível, temos aa Pedagogia;
Pedagogia; enquanto dirigível em
enquanto dirigível em relação
relação àà
criação
criação de de riquezas
riquezas ee àà administração,
administração, aa Economia; Economia; enquanto
enquanto di- di­
rigível
rigível ee governável,
governável, Política;
Política; enquanto dirigível nas
enquanto dirigível relações mú-
nas relações mú­
tuas, aa Sociologia;
tuas, Sociologia; enquanto
enquanto dirigíveldirigível para realizar alguma
para realizar coisa,
alguma coisa,
teríamos
teríamos as as Belas-artes,
Belas-artes, os os ofícios,
ofícios, aa Técnica,
Técnica, etc.etc. EE finalmente,
finalmente,
uma filosofia de
uma filosofia de tudo
tudo isto
isto éé aa filosofia natural, que
filosofia natural, que viria
viria investi-
investi­
gar
gar aa essência íntima dos
essência íntima dos corpos,
corpos, segundo
segundo as as diversas
diversas maneiras
maneiras de de
serem êsses
serem corpos.
êsses corpos. Então esta,
Então esta, porpor suisua vez
vez subdivide-se,
subdivide-se, quandoquando
trata do
trata do corpo
corpo sobsob o o seu
seu aspecto
aspecto genérico,
penérico, em Cosmologia; quan­
em Cosmologia; quan-
do trata
do trata do corpo vivo,
do corpo vivo, em em Psicologia;
Psicologia; quandoquando êsse êsse corpo
corpo vivovivo éé
irracional, em
irracional, Psicologia inferior,
em Psicologia inferior, quandoquando êsseêsse corpo
corpo vivovivo éé racio­
racio-
nal, em
nal, em Antropologia
Antropologia filosófica.
filosófica. Quanto aos
Quanto aos actos
actos queque êsse ser,
êsse ser,
êsse corpo
êsse corpo vivovivo racional
racional pratica,
pratica, que que sãosão aptos
aptos para alcançar aa ver­
para alcançar ver-
dade, temos
dade, temos aa Critica; aptos também
Crítica; aptos também para para alcançar
alcançar aa verdade
verdade temostemos
aa Lógica
Lógica ee aa Criteriologia,
Criteriologia, aa Dialéctica,
Dialéctica, ee quanto
quanto àà direcção
direcção que que vaivai
tomar aos
tomar aos fins
fins dede tôda
tôda aa vida humana, temos
vida humana, temos aa Ética.
Ética.
EE finalmente,
finalmente, na na divisão
divisão clássica,
clássica, que
que sese pode
pode ainda
ainda fazer,
fazer,
surgiriam
surgiriam agora,agora, fora
fora dada ciência
ciência positiva,
positiva, ee fora
fora da
da filosofia
filosofia natu-
natu­
tal,
ral, mas ainca tendo
mas ainca tendo como
como objecto
objecto aa matéria
matéria tratada
tratada abstractamente,
abstractamente,
aa matéria singular ee aa matéria
matéria singular matéria sucessiva,
sucessiva, que que não propriamente in­
não propriamente in-
vestigadas
vestigadas na na sua
sua essência última, nem
essência última, nas suas
nem nas causas, mas
suas causas, mas apenas
apenas
investigadas
investigadas nas suas relações
nas suas relações dede igualdade
igualdade ee de de desigualdade,
desigualdade, que que
seria
seria aa Matemática,
Matemática, ee enquanto
enquanto quantidade contínua, Geometria,
quantidade contínua, Geometria, ee
enquanto quantidade discreta,
enquanto quantidade discreta, aa Aritmética.
Aritmética. E tomado
E tomado na na essên-
essên­
cia
cia dede suas
suas causas
causas absolutas
absolutas últimas,
últimas, tratando,
tratando, portanto,
portanto, jájá não
não do do
ente material,
ente material, mas mas dodo ente imaterial, segundo
ente imaterial, segundo oo seu seu ser, temos aa
ser, temos
Metafísica,
Metafísica, que que seria uma espécie
seria uma espécie de Trans-fisica; ee essa
de Trans-física; essa metafísica,
metafísica,
então,
então, tratando
tratando do ser, precisivamente,
do ser, precisivamente, na sua imaterialidade
na sua imaterialidade en- en­
quanto ser,
quanto ser, éé aa Ontologia,
Ontologia, ee do do ser tomado positivamente
ser tomado positivamente en- en­
quanto material,
quanto temos: se
material, temos: se oo ser
ser éé incriado,
incriado, aa Teodicéia,
Teodicéia, ee se se oo ser
ser
éé criado,
criado, aa Pneumatologia.
Pneumatologia. Dessa forma
Dessa forma vemos
vemos uma classifica-
uma classifica­
ção de
ção de Suarez,
Suarez, que que éé das melhores dentro
das melhores dentro dada concepção
concepção escolástica,
escolástica,
que julgamos
que julgamos aa mais completa, porque
mais completa, porque asas divergências
divergências que possam
que possam

— 62 —
62 —
surgir'são pequenas
surgi^são pequenas ee não
não afectam
afectam aa essência prôpriamente da
essência pròpriamente da das
clas
sificação.
sificação.

De forma que
De forma que as
as Ciências Naturais, quando
Ciências Naturais, quando tratam
tratam dos
dos corpos,
corpos,
enquanto inorgânicos, temos
enquanto inorgânicos, temos aa Física
Física ee aa Química; enquanto orgá-
Química; enquanto orgâ­
nicos,
nicos, temos
temos aa Biologia,
Biologia, a
a Botânica,
Botânica, aa Zoologia
Zoologia e
e aa Antropologia
Antropologia
Filosófica,
Filosófica, como dissemos.
como dissemos. A colocação,
A portanto, da
colocação, portanto, Ontologi:.
da Ontologú.
era clara, perfeitamente
era clara, perfeitamente clara para Aristóteles,
clara para Aristóteles, como
como para
para osos es­
es:
colásticos,
colásticos, porque
porque temos
temos de de considerar
considerar oo seguinte:
seguinte: quando
quando toma-
toma­
mos
mos oo ser sob um
ser sob um determinado
determinado aspecto,
aspecto, nós
nós oo tomamos
tomamos redupli-
redupli-
cativamente,
cativamente, quer quer dizer,
dizer, duplicamos
duplicamos oo modo modo de de considerá-lo,
considerá-lo, co­ co-
mo
mo ao ao tomar
tomar oo ser
ser enquanto
enquanto ser, nós oo tomamos:
ser, nós tomamos: 1.º como ser.
1.° como ser, ee
2º mas
2.° mas apenas enquanto isto,
apenas enquanto isto, quer
quer dizer, tomamos oo ser
dizer, tomamos ser apenas
apenas
enquanto ser,
enquanto que é
ser, que é tomar
tomar o o ser
ser dentro
dentro duma
duma máxima
máxima precisão,
precisão,
interessando-nos
interessando-nos apenasapenas em em saber
saber emem que
que consiste, própriamente,
consiste, propriamente,
o ser
o ser enquanto
enquanto ser. ser.

As conclusões aa que
As conclusões que chegavam
chegavam os os escolásticos
escolásticos em tôrmo da
em tôrno da
Ontologia também
Ontologia também sãosão válidas,
válidas, porque
porque dizem êles que
dizem êles que essa
essa ciên-
ciên­
cia
cia éé universalíssima,
universalíssima, temtem como objecto formal
como objecto formal o o objecto
objecto univer-
univer-
salísssmo, que éé oO ser
salíssimo, que ser enquanto
enquanto ser.
ser.
As
As conclusões
conclusões aa que
que chegavam
chegavam os os escolásticos
escolásticos em. tôrno da
em tôrno da
Ontologia também
Ontologia também sãosão válidas, porque dizem
válidas, porque dizem êles
êles que
que essa
essa ciência
ciência
éé universalíssima, tem como
universalíssima, tem como objecto formal oo objecto
objecto formal objecto universalís-
universalís-
simo,
simo, que
que éé o
o ser enquanto ser.
ser enquanto ser.

É, então,
É, então, consequentemente,
conseqüentemente, uma uma ciência
ciência mâximamente
màximamente abs- abs­
tracta, porque
tracta, porque elaela toma
toma o o ser
ser dentro
dentro da da máxima
máxima abstracção,
abstracção, ex- ex­
cluindo tôdas
cluindo tôdas as outras possíveis
as outras reduplicações, para
possíveis reduplicações, para apenas
apenas tomar
tomar
uma: enquanto
uma: enquanto êle mesmo.
êle mesmo. Tinha de
Tinha de serser uma
uma ciência
ciência última,
última, ee
consegiientemente também
conseqüentemente também aa primeira,
primeira, porque
porque tôdatôda aa filosofia
filosofia es-es­
colástica éé uma
colástica uma filosofia
filosofia positiva,
positiva, ee sendo
sendo tal,tal, ela
ela parte
parte do
do ser;
ser; ela
ela
nio parte,
não parte, como
como o o faz
faz aa Matese,
Matese, dos dos princípios,
princípios, ee não não discute ainda
discute ainda
aa positividade,
positividade; estaesta éé algo
algo aa ser
ser discutido
discutido depois.
depois. ÉE lógico
lógico queque aa
Matese vai
Matese concluir que
vai concluir que oo início
início dede tudo
tudo éé positivo,
positivo, porém
porém não não
começa
começa oo seuseu estudo
estudo pelapela positividade,
positividade, ela ela começa pelos princípios,
começa pelos princípios,
por aquilo de
por aquilo de onde começa algum
onde começa têrmo que
algum têrmo que seja
seja objecto
objecto de qual-
de qual­
quer investigação nossa
quer investigação nossa ouou dede quem
quem querquer que que seja.
seja.

— 63 —
63 —
De
De maneira
maneira que,que, então, dentro da
então, dentro da concepção
concepção positiva,
positiva, natu-
natu­
ralmente que a Ontologia é a última ou a primeira das ciências ee
ralmente que a Ontologia é a última ou a primeira das ciências
vai fundar-se,
vai fundar-se, segundo
segundo êles, em alguns
êles, em alguns princípios,
princípios, comocomo oo prin-
prin­
cípio de
cípio contradição que
de contradição que éé fundamental,
fundamental, poispois oo ser enquanto ser
ser enquanto ser
não pode
não pode ser
ser não-ser,
não-ser, porque se afirmamos
porque se afirmamos queque oo ser, enquanto ser,
ser, enquanto ser,
éé ser,
ser, não
não podemos simultâneamente, ee sob
podemos simultâneamente, sob êss: mesmo aspecto,
êsse mesmo aspecto,
afirmar que o ser é não-ser, porque, então, estaríamos em
afirmar que o ser é não-ser, porque, então, estaríamos contra-
em contra­
dição, estaríamos
dição, estaríamos simultâneamente
simultâneamente afirmando
afirmando aa positividade
positividade do do
ser, ee simultâneamente
ser, simultâneamente negando
negando estaesta mesma
mesma positividade.
positividade.

De
De forma
forma que
que desde
desde oo momento
momento em em queque tomamos
tomamos uma uma ati-
ati­
tude positiva,
tude positiva, desde
desde oo momento
momento em em que
que aa nossa
nossa mente
mente põe
põe alguma
alguma
coisa, ela
coisa, ela não
não pode,
pode, simultâneamente
simultâneamente que põe, retirar,
que põe, retirar, porque
porque ha­ ha-
veria contradição,
veria contradição, porque
porque formar-se-iam
formar-se-iam duas duas ações:
tções: aa de de pôr
pôr ee
ao
ao mesmo
mesmo tempotempo aà dede tirar o mesmo
tirar o mesmo simultâneamente,
simultâneamente, em em queque
uma
uma anularia
anularia aa outrz,
outra, oo que
que seria
seria um
um absurdo.
absurdo. De
De forma,
forma, que,
que,
consegiientemente, aa filosofia
conseqüentemente, filosofia positiva
positiva tem
tem de de partir
partir dodo princípio
princípio
de não contradição.
de não Esta éé fundamental
contradição. Esta fundamental ao ao lado
lado do do princípio
princípio
de
de identidade,
identidade, queque decorre,
decorre, como
como vimos,
vimos, dodo princípio
princípio do terceiro
do terceiro
excluído.
excluído.

De
De maneira
maneira que que aa definição
definição dede Metafísica,
Metafísica, dadadada porpor Aristó­
Aristó-
teles,
teles, dede que
que eraera aa ciência
ciência que
que considera
considera oo ente,
ente, ouou o O ser,
ser, en­
en-
quanto
quanto ente,
ente, ou
ou ser,
ser, ee oo que
que decorre
decorre regularmente
regularmente destadesta tomada
tomada
de posição, éé oo que
de posição, que modernamente
modernamente sese chamachama de de Metafísica
Metafísica Geral, Geral
ou
ou seja; Ontologia.
seja; Ontologia. Em tôrro desta
Em tôrr.o desta ciência,
ciência, naturalmente,
naturalmente, há há di­
di-
ergências,
vergências, que que podem
podsm dividir-se do seguinte
dividir-se do seguinte modo:
modo: oo daquêles
daquêles
que afirmam
que afirmam que esta ciência
que esta ciência tem
tem umum fundamento,
fundamento, ee o o daqueles
daqueles
que afirmam que
que afirmam que estaesta ciência não tem
ciência não fundamento.
tem fundamento. Os adver-
Os adver­
sários
sários dada Metafísica
Metafísica dizemdizem o o seguinte:
seguinte: não há um
não há um objecto
objecto metafi-
metafí­
sico,
sico, não
não háhá oo transfísico, nada há
transfísico, nada há além
além do físico, portanto
do físico, portanto aa
ciência primeira tinha
ciência primeira tinha de de ses
ser aa Física.
Física. Não Não havendo
havendo algo algo antes
antes
do
do físico, não havendo,
físico, não havendo, portanto, êsse objecto,
portanto, êsse objecto, essa ciência não
essa ciência tem
não tem
fundamento.
fundamento.
Outra
Outra razão
razão éé que
que não
não temos
temos meios
meios de poder ccnhecer
de poder ccnhecer s? s?
há um ser transfísico.
há um ser transfísico. Sorrente temos meios de conhecer o
Sòir.ente temos meios de conhecer o ser
ser
físico.
'físico. O O ser
ser transfísico
transíísico éé producto
producto apenas de nossa
apenas de nossa especulação,
especulação,
exclusivamente mental;
exclusivamente portanto, também
mental; portanto, também sese acaso
acaso êle
êle se dá, não
se dá, não

— 64
— 64 —

temos meios
temos de conhecê-lo,
meios de conhecê-lo, oo que já éé uma
que já uma negação
negação dede carácter
carácter
agnóstico.
agnóstico. A À primeira
primeir: éé uma
uma negação
negação completa,
completa, total,
total, positivista;
positivista;
está já éé agnóstica.
está já agnóstica.
Outro argumento fundamental
Outro argumento fundamental é: é: em face dêste
em face dêste objecto
objecto não
não
possuiriamos meios
possuiríamos meios suficientes
suficientes para
para corr. êle constituir
com êle constituir uma
uma ciên­
ciên-
cia, porque êle
cia, porque êle escapa
escapa à nossa visão,
à nossa visão, àà nossa
nossa captação.
captação.

Vemos que
Vemos que aa poSição
potição negativa
negativa em relação àà Metafísica
em relação toma
Metafísica toma
diversas atitudes,
diversas atitudes, mais ou menos
mais ou intensas na
menos intensas na sua
sua negatividade.
negatividade. As­ As-
sim os
sim os materialistas
materialistas emem geral
geral negam
negam radicalmente
radicalmente aa Merafísica:
Me:afísica:
não há
não há poss:bilidade, nem tem
possibilidade, nem tem qualquer fundamento um
qualquer fundamento um ser to-
ser to­
mado precisivamente.
mado precisivamente, Tal Tal ser
ser alegam,
alegam, éé apenas
apenas uma criação da
uma criação da
nossa mente,
nossa mente, sem
sem nennum fundamento real.
nemum fundamento real. Essa
Essa éé aa posição
posição dos
dos
materialistas
materialistas do do passado
passado grego,
grego, do europeu, ee de
do europeu, de todo
todo materialismo
materialismo
que se
que se manifestou
maniíestou através
através dos
dos tempos.
tempos.

Outros, entretanto,
Outros, entretanto, tomam
tomam umauma atitude mais branda:
atitude mais branda; negam
negam
aa Metafísica,
Metafísica, mas mas dizem
dizem que
que apenas
apenas éé umauma ciência
ciência queque não
não sese
pode realizar,
pode realiza:, por
por nos
nos faltarem
faltarem elementos,
elementos, nãonão termos
termos meios nem
meios nem
possibilidades de
possibilidades penetrar oo transfísico.
de penetrar transfísico. ÉÉ inútil
inúti; tentarmos
tentarmos o o im­
im-
possível, oo que
possível, que está
está zlém
dém das
das nossas fôrças. Esta
nossas fôrças. Esta éé mais
mais ou me-
ou me­
nos
nos aa atitude
atitude dos agaosticistas em
dos agnosticistas em geral,
geral, que
que consideram
consideram que que há

um aspecto ininteligível
um aspecto ininteligível para
para oo homem,
homem, alguma
alguma coisa que ultra-
coisa que ultra­
passa as
passa as nossas possibilidades cognoscitivas,
nossas possibilidades cognoscitivas, ee que, que, portanto,
portanto, éé
perda de
perda tempo, uma
de tempo, inutilidade procurarmos
umi inutilidade procurarmos êste caminho.
êste caminho.

Dêste lado,
Dêste lado, estão
estão os positivistas, os
os positivistas, os kantianos,
kantianos, que nzgam tô­
que negam tô-
da ee qualquer
da qualquer possibilidade
possibilidade de se construir
de se construir com
com aa Metafísica
Metafísica umauma
ciência. Os
ciência. Os principais argumentos são
principais argumentos são os
os de Kant: Tôda
de Kant: Tôda ciência
ciência
consta ou
consta ou se
se realiza
realiza através
através de
de juízos
juízos sintéticos
sintéticos aa priori.
priori. Ora,
Ota, osos
juízos sintéticos
juízos sintéticos aa priori
priori não
não são possiveis na
são possíveis na Metafísica.
Metafísica. Então,
Então,
consequentemente,
conseqüentemente, concluiconclui Kant,
Kant, aa Metafísica, como ciência,
Metafísica, como ciência, éé
impossível.
impossível.

Ele demonstra oo seu


Êle demonstra seu silogismo
silogismo do
do seguinte
seguinte modo:
modo: tôda
tôda ciên-
ciên­
cia consta
cia consta ouou éé constituída
constituída dede juízos
juízos sintéticos
sintéticos aa priori,
priori, porque
porque
tôda ciência
tôda consta de
ciência consta proposições necessárias,
de proposições necessárias, universais,
universais, ee que
que
dizem, ensinam
dizem, ensinam alguma
alguma coisa
coisa de novo sôbre
de novo sôbre oo objecto
objecto em estudo.
em estudo.
Osa, aa novidade,
Oia, novidade, necessidade, universalidade, só
necessidade, universalidade, se podem
só se podem obter
obter
— 65
— 65 —

através
através dede juízos sintéticos aa priori.
juízos sintéticos Consequentemente, tôda
priori. Conseqüentemente, tôda ci-
ci­
ência
ência consta de juízos
consta de juízos sintéticos
sintéticos aa priori.
priori.
A menor
A menor de seu silogismc
de seu silogismo éé que
que jtizos
juízos sintéticos
sintéticos aa priori
priori não
não
são possíveis
são possíveis na
na Metafísica.
Metafísica.
Assim argumenta
Assim argumenta Kant: Kant: não não sãosão possíveis
possíveis tais tais juízos
juízos pelopelo
seguinte; juízos
seguinte; juízos analíticos,
analíticos, como,como, por por exemplo,
exemplo, todos todos os os corpos
corpos
são
são extensos,
extensos, têm têm alguma necessidade ee universalidade,
alguma necessidade universalidade, mas mas nãonão
trazem nenhuma
trazem nenhuma novidade,
novidade, porque porque não acrescentam nenhum
não acrescentam nenkum pre­ pre-
dicado novc
dicado novo ao sujeito. O
ao sujeito. O corpo própriamente se
corpo propriamente se define
define como como
uma coisa
uma coisa extensa;
extensa; então,então, conseqüentemente
corsequentemente êsse juízo nada
êsse juízo nada nos nos
traz de
traz de novo.
novo. OO que que sintèticamente
sintéticamente obtemos
obtemos aa postericri,
postericri, como como
êste corpo
êste corpo que que se se aquece,
aquece, traz traz uma
uma novidade, contudo, não
novidade, contudo, não tem
tem
oo carácter de necessidade e de universalidade, porque não encon-
carácter de necessidade e de universalidade, porque n ío encon­
tramos
tramos aa razão razão de de necessidade
necessidade nem nem de unive:salidade que
de universalidade que êsteêste
corpo
corpo se se aqueça,
aqueça, ou ou que que todos
todos osos corpcs
corpcs se se aqueçam.
aqueçam. Conclui Conclui êle êle
que
que os os juízos
juízos sintéticos
sintéticos aa priori
priori não
não são são possíveis
possíveis na na Metafísica;
Metafísica;
os juízos sintéticos
os juízos sintéticos aa priori
priori sãosão oo valer
valer de de coisas, embora aparen­
coisas, embora aparen-
tes, não
tes, não de de coisas
coisas em em si.si. Ora,
Ora, aa Metafísica
Metafísica pretende
pretende ser ser uma
uma
ciência das
ciência das coisas,
coisas, nãonão aparentes,
aparentes, mas mas das coisas em
das coisas em si. si. Portanto,
Portanto,
os juízos sintéticos
os juízos sintéticos aa priori
priori nãonão são
são possíveis
possíveis na na Metafísica;
Metafísica; os os
juízos sintéticos aa priori
juízos sintéticos poderiam valer,
priori poderiam valer, ou ou das
das coisas aparentes.
coisas aparentes,
ou das
ou coisas em
das coisas em si.si. Ora,
Ora, das coisas aparentes
das coisas aparentes não não éé o o que
que pre:
pre­
tende
tende aa Metafísica
Metafísica estudar,
estudar, mas,mas, sim,
sim, as as coisas
coisas emem si. si. Não Não sem sen­
do possíveis
do possíveis as as coisas
coisas em em si,si, consequentemente
conseqüentemente aa Metafísica
Metafísica não não terr
ten
possibilidade de
possibilidade de construir
construir juízos sintéticos aa pr.ori.
juízos sintéticos pr.ori.
E, prossegue
E, prossegue então
então aa critica
crítica de Kant, afirmando
de Kant, afirmando que que aa coisa
coisa
enquanto tomada em si mesma, é incognoscivel.
enquanto tomada em si mesma, é incognoscível. Ora, aa ciênci:
Ora, ciênck
não éé possível
não possível se
se não
não fundando-se
fundando-se sôbre sôbre asas coisas que sodem
coisas que oodem se: se:
experimentadas.
experimentadas. Mas Mas aa experiência
experiência não não nos mostra como
nos mostra como as as cor
coi­
sas são
sas são em
em sisi mesmas,
mesmas, mas sómente como
mas somente como elas afectam aa nossi
elas afectam nossi
sensibilidade.
sensibilidade. Os caracteres
Os caracteres de de necessidade
necessidade ee de universalidade
de universalidade
que temos
que de encontrar
temos de encontrar nos nos juízos
juízos sintéticos
sintéticos aa priori,
priori, nêles
nêles não
não cs cs
encontramos, êles
encontramos, êles vão
vão serser construídos
construídos pelopelo nosso intelecto, fun­
nosso intelecto, fun-
dados em
dados em dados
dados dada sensibilidade
sensibilidade ou ou dada intuição.
intuição.
EE termina
termina por
por dizer
dizer que
que assim procedeu aa Metafísica
assim procedeu Metafísica trad.-
trad.
cional, responde-se
cional, responde-se do
do seguinte
seguinte modo:
modo: aa Metafísica
Metafísica éé aa ciência
ciência dis
dis
— 66
— 66 — —
coisas que transcendem
coisas que transcendem aa experiência,
experiência, mas
mas sendo
sendo oo que
que transcende
transcende
aa experiência
experiência oo nonmeno,
normeno, aa coisa
coisa em
em si,
si, ee como não temos
como não temos meios
meios
de
de alcançá-lo,
alcançá-lo, aa não ser através
não ser através de
de cogitações,
cogitações, tôda
tôda aa Metafísica
Metafísica éé
apenas cogitada, nío
apenas cogitada, não tem
tem nenhum fandamento real.
nenhum fundamento real. EmEm suma,
suma,
tôda aa crítica
tôda critica kantana
kantiana reduz-se
reduz-se aa isto:
isto: o 0 mowmeno,
noumeno, ultrapassa
ultrapassa aa
sensibilidade, ee só
sensibilidade, pode ter
só pode ter validez se alcançado
validez se alcançado pela
pela sensibilidade.
sensibilidade,

ÉE interessante
interessante observar
observar o o seguinte:
seguinte: se se Kant
Kant alega
alega que
que aa fonte
fonte
co conhecimento,
co conhecimento, que nos dá
que nos dá umum conhecimento
conhecimerto seguro,
seguro, éé aa sen­
sen-
sibilidade, portanto,
sibilidade; portanto, tudo
tudo quanto
quanto escape
escape à à sensibilidade
sensibilidade nãonão tem
tern
outra validez,
outra validez, então, pergunta-se: tôda
então, pergunta-se: tôda aa vezvez que
que aa sensibilidade
sensibilidade
nos comprovasse,
nos comprovasse, quer dizer, experimentalmente
quer dizer, experimentalmente comprovasse
comprovasse al- al­
guma coisa,
guma teríamos, então,
coisa, teríamos, então, umauma certeza abscluta, oo que,
certeza absoluta, que, nana ver-
ver­
dade,
dade, não temos.
não temos. Quando chega
Quando chega aa êsteêste ponto,
ponto, ee não tendo outra
não tendo outra
solução,
íolução, evade-se, então, por
evade-se, então, por um um recurso
recurso que que éé oo seguinte:
seguinte: êle êle
desvaloriza
desvaloriza aa própria experiência, alegando
própria experiência, alegando que que está
está condicio-
condicio­
nada pela; formas
nada pelas formas puras
puras do do entendimento,
entendimento, ee que que essas
essas formas
formas nosnos
dão uma
dão uma aparência
aparência dada realidade,
realidade, de de modo
modo que êle acaba
que êle acaba porpor tender
tender
para
para uma uma posição meramente ficcionalista,
posição meramente ficcionalista, como aconteceu com
como aconteceu com
alguns de
alguns de seus discípulos. Esta
seus discípulos. critica kantiana
Esta crítica Kantiana será
será respondida
respondida
mais adiante, naturalmente
mais adiante, naturalmente pela pela justificação
justificação que que se
se fará
fará da
da Me-
Me­
-afísica.
tafísica.

A Metafísica
A Metafísica éé admitida
admitida não não sósó por
por Aristóteles
Aristóteles ee pelos
pelos esco-
esco­
lásticos, como
lásticos, como também
também por por Pitágoras,
Pitágoras, Anaximandro,
Anaximandro, Anaximenes,
Anaxímenes,
Platão, etc.;
Platão, etc.; ee for: da filosofia
fora. da filosofia escolástica pcr inúmeros
escolástica per inúmeros filósofos
filósofos
que seguem
que outras linhas,
seguem outras linhas, como
como W Wolff,
olff, Descartes,
Descartes, Spinoza,
Spinoza, Leib-
Leib-
nitz, Hegel,
nitz, Hegel, ee modernamente
modernamente Husserl, Nicolai Hartmann,
Husserl, Nicolai Hartmann, ee mui-
mui­
tos filósofos
tos filósofos queque não
não seguem
seguem aa linha
linha escolástica.
escolástica.

A argumentação
A argumentação em em favor
favor dada Ontologia,
Ontologia, para provar aa tese
para provar tese
aceita pelos
aceita pelos escolásticos, dividindo-a em
escolásticos, dividindo-a várias partes,
sm várias partes, éé aa seguinte
seguinte: :
Na primeira
Na primeira parte, mostram que
parte, mostram que além
além das
das ciências
ciências naturais
naturais ee ma­
ma-
temáticas ee também
temáticas. também das das ciências
ciências filosóficas
filosóficas particulares, dá-se
particulares, dá-se
uma outra
uma outra ciência,
ciência, que
que éé aa que
que considera
considera o o ser
ser enquanto
enquanto ser,
ser, aa
Ontologiz
Ontologia ou ou Metafísica
Metafísica Geral.
Geral. E E provam
provam pelo seguinte: consi­
pelo seguinte: consi-
derado
derado oo objecto
objecto formal das outras
formal das ciências, resta
outras ciências, um objecto
resta um objecto foi-
for
mal aa ser
mal ser estudado,
estudado, queque éé oo ente
ente enquanto
enquanto ente.ente. Ora, êste ob-
Ora, êste ob-

6
— 67 —

jecto
jecto se
se dá,
dá, que
que éé oo ente;
ente; portanto
portanto temos
temos esta ciência, cue
esta ciência, consi-
cue consi­
derz
dera oo ente
ente enquanto ente.
enquanto ente.

A maior
A maior prova-se
prova-se porque tôda vez
porque tôda que achamos
vez que achamos d » objecto
objecto
formal, temos
formal, temos aa possibilidade
possibilidade de construir sôbre
de construir sôbre êle uma ciência.
êle uma ciência.
As ciências naturais
As ciências consideram os
naturais consideram corpos sômente
os corpos segundo as
sò.nente segundo as
suas qualidades sensíveis.
suas qualidades sensíveis. Assim
Assim aa Matemática
Matemátic: vai vai considerar
considerar osos
corpos
corpos na sua extensão,
na sua extensão, aa Filosofia
Filosofia vai considerá-los segundo
vai considerá-los segundo di- di­
versos aspectos especiais,
versos aspectos especiais, como
coir.o aa Cosmologia,
Cosmologia, que que oo estuda
estuda en­en-
quanto
quanto corpo,
corpo, aa Psicologia,
Psicologia, estuda-o enquanto psique,
estuda-o enquanto psique, etc.etc. DeDe
maneira que resta
maneira que resta essa
essa maneira
maneira de de ver
ver oo objec:o sob um
objec:o sob um aspecto
aspectc
novo,
novo, formal, enquanto ente.
formal, enquanto ente. De forma
De forma queque se
se dá esta ciência,
dá esta ciência,
oo que
que éé evidente,
evidente, ee refutou-se,
refutou-se, assim parcialmente, os
assim parcialmente, os adversários
adversários
da
da Metafísica.
Metafísica.

Quanto àqueles
Quanto àqueles que que negam
negam oo próprio
próprio objecto
objecto da da Metafísica
Metafísica
referente
referente ao ao conceito
conceito de de ente, afirma-se: aa nossa
ente, afirma-se: nossa experiência
experiência in­ in-
terna
terna revela
revela parapara nósnós aa nossa
nossa própria existência, ee aa nossa
própria existência, nossa expe­
expe-
tiência
riência externa,
externa, quer quer mediata,
mediata, querquer imediata,
imediata, revela
revela aa presença,
presença, 2z
positividade
positividade de de outros
outros homens,
homens, de de muitas
muitas outras
outras coisas
coisa; queque co-co-
£hecemos.
rhecemos. EE notamos notamos que que tôdas estas coisas.
tôdas estas coisas, queque conhecemos,
conhecemos,
pocemos aphicar-lhe oo conceito
podemos aplicar-lhe conceito de de ente,
ente, porque
porque todostodos participialiter,
paríxipialiter,
participialmente
participialmente tomados,tomados, são são entes,
entes, oo queque dádá um um valor
valor objectivo
objectivo
ao
ao conceito
conceito de de ente.
ente. Agora,
Agora, os os conceitos
conceitos metafísicos,
metafísicos, como como oo de de
substância, de
substância, de causa,
causa, de de efeito,
efeito, dede acção,
acção, de de paixão,
paixão, temos
temos dêles
dêles
uma experiência interna,
uma experiência interna, como temos uma
como temos Juma experiência
experiência externa
externa de de
coisas que
coisas que podemos
podemos chamá-las
chamá-las de de subsrâncias,
subscâncias, de de causa,
causa, de de efeito,
efeito,
de acção,
de porque elas
acção, porque elas procedem
procedem como como substância,
substância, como causa, como
como causa, como
efeito ee como
efeito como acção.
acção. EssesEsses conceitos
conceitos são são realmente conceitos abs­
realmente conceitos abs-
tractos. Sabemos
tractos. Sabemos que que aa Metafísica trabalha com
Metafísica trabalha com os os conceitos idea-
conceitos idea­
lizados por
lizados por abstracções
abstracções de de terceiro
terceiro grau,
grau, como tivemos oportuni­
como tivemos oportuni-
dace de
dade de ver.
ver. Tais
Tais conceitos
conceitos estão fundados na
estão fundados na nossa
nossa experiência,
experiência,
portanto êles
portanto não pocem
êles não podem negar que existem
negar que existem aspectos,
aspectos; objectos,
objectos, que que
podem constituir elementos fundamentais desta ciência.
podem constituir elementos fundamentais desta ciência.
Contra aquêles que
Contra aquêles que dizem
dizem queque aa Metafísica
Metafísica não
não éé possível,
possível,
porque dizem
porque dizem que
que estas
estas coisas são incognoscíveis,
coisas são incognoscíveis, como
como vemos
vemos na na
argumentação de
argumentação de Kant,
Kant, ee queque leva
leva assim
assim aoao agnosticismo
agnosticismo ee.aoao
negativismo em
negativismo em geral, até os
geral., até os extremos
extremos do ficcionalismo ee do
do ficciomlismo núhilis-
do nihilis-
—— 68
68 —

mo,
mo, o O que
que alegamos
alegamos em em contrário passaremcs aa sintetizar
contrário passaremos sintetizar cuja fun-
cuja fun­
damentação
damentação vamosvamos fazê-li
fazé-li baseades
baseadcs em argumentação mais
em argumentação nossa.
mais nossa.
ÉÉ oo seguinte:
seguinte: aa exigência
exigência da da necessidade
necessidade ee da da universalidade,
universalidade, que que
para Kant
para Kant era
era oo ponto fundamental, que
ponto fundamental, que êle êle dizia não alcançarmos,
dizia não alcançarmos,
não éé verdade,
não verdade, porque
porque aa necessidade
necessidade teria teria de de ser,
ser, ou
ou independente
independente
da nossa mente,
da nossa mente, ee em em um fundamento in
um fundamento Zn re,
re, tem
tem o o carácter
carácter dede uni­
uni-
versalidade. Quando
versalidade. Quando fôsse fôsse independente
independente da nossa mente,
da nossa mente, total-
total­
mente, como
mente, como já já vimos,
vimos, que que aa necessidade
necessidade independe
independe ee éé excluída
excluída
do próprio
do próprio enteente enquanto
enquanto éé isto isto ouou éé aquilo,
aquilo, como mostramos na
como mostramos na
parte sintética
parte sintética da da Matese, observamos oo seguinte:
Matese, observamos seguinte: chegamos
chegamos aa de- de­
terminadas leis,
terminadas leis, que
que são necessárias, ee estas
são necessárias, estas leis, que í: Matese
leis, que apre-
Matese apre­
sentou, ee que
sentou, que vãovêo constituir
constituir os os diversos
diversos adágios,
adágios, não não sósó matéticos,
matéticos,
mas também
mas também da da Ontologia,
Ontologia, da da Lógica,
Lógica, etc.,
etc., independem
independem da da mente
mente
humana, elas
humana, não podem
elas não podem ser ser explicadas
explicadas apenasapenas comocomo criações
criações da da
nossa mente,
nossa mente, ee atingem, consequentemente, oo carácter
atingem, conseqüentemente, carácter dede necessi-
necessi­
dade,
dade, queque éé precisamente
precisamente o o carácter
carácter dada lei eterna, como
lei eterna, como mostramos
mostramos
ao estudarmos
ao estudarmos aa diferença
diferença entre entre o o que
que éé imprescindível,
imprescindível, ee que que
constitui
constitui aa essência
essência da da coisa,
coisa, ee aa necessidade
necessidade que que sese pode excluir
pode excluir
da
da coisa,
coisa, porque
porque não não fazfaz parte
parte da da sua essência.
sua essência.

De maneira
De maneira que
que encontramos
encontramos estas leis com
estas leis com essaessa caracteris-
caracterís­
tica
tica dede necessidade,
necessidade, ee também
também de de universalidade,
universalidade, o o que vem em
que vem em
desacôrdo àà afirmativa
desacordo afirmativa kantiana.
kantiana. Encontramos
Encontramos leis, leis, que
que são
são dede
necessidade hipotética,
necessidade hipotética, como
como as as chamadas
chamadas leis leis das
das ciências
ciências natu­
natu-
rais, mas
rais, mas também encontramos leis
também encontramos leis de
de necessidade intrínseca, que
necessidade intrínseca, que
são as
são as leis matéticas, oo que
leis matéticas, que éé suficiente
suficiente para
para provar
provar que que aa Metafí­
Metafí-
sica tem
sica tem fundamento legal, no
fundamento legal, no sentido
sentido em em que empregamos oo
que empregamos
têrmo.
têrmo.

Quanto aa nomear-se
Quanto romear-se esta
esta ciência
ciência de Ontologia, aa demonstra-
de Ontologia, demonstra­
ção éé fácil
ção fácil porque
porque aa palavra
palavra ontologia
ontologia éé formada
formada de de ontos
ontos ee logos,
logos,
seria aa ciência
seria ciência que
que estuda
estuda oo logos
logos dodo ontos, isto é,é, aa razão
ontos, isto razão dodo ser
ser
ou do
ou do ente. Portanto, trata
ente. Portanto, trata dodo ente
ente enquanto
enquanto ente. ente. OO romer.ome
proposto, segundo
proposto, segundo o o que
que sese costuma dizer, por
costuma dizer, por W Wolff,
olff, mes
mas já já
fôra
fôra usado
usado porpor escolásticos
escolásticos antes dêle, embora
antes dêle, embora se se tenha populari-
tenha populari­
zado
zado graças
gxaças aa êle,
êle, perfeitamente
perfeitamente se se adequa
adequa ao ao sentido
sentido da da Metafi-
Metafí­
sica
sica Geral,
Geral, queque estuda, naturalmente, oo ser
estuda, naturalmente, enquanto ser.
ser enquanto ser. éÉ ver­
ver-
dade
dade queque São
São Tomás
Tomás chamava
chamava aa estaesta ciência
ciência dede sransfísica,
transjístca, ee al-
al­
— 69
— 69 —

guns, modernamente,
guns, modernamente, querem
querem preferir
preferir êste
êste têrmo,
têrmo, ee substituir
substituir aa
Metafísica por
Metafísica por Transfísica,
Transfísica, porque consideram que
porque consideram que aa palavra
palavra me-
me­
tafísica, infelizmente,
tafísica, infelizmente, devido aos atropelos
devido aos atropêlos da filosofia moderna,
da filosofia moderna,
ficou
ficou dede certo modo comprometida
certo modo comprometida ee confusa,
confusa, ee quando
quando aa usamos
usamos
ela
ela pode
pode gerar, em certas
gerar, em certas menies, representações falsas,
mentes, representações enquanto
falsas, enquanto
que
que aa palavra
palavra transfísica não oferece
transfísica não oferece êste
êste perigo.
perigo.

Daí que
Daí que alguns
alguns modernos,
modernos, mesmo mesmo escolásticos,
escolásticos, queriam voltar
queriam voltar
aa chamá-la,
chimá-la, comocomo SãoSão Tomás
Tomás aa chamava,
chamava, de Transfísica.
de Transfísica. De facto,
De facto,

há umauma razãc,
razãc, ee nós
nós timbém
também nos nos colocamos
colocamos nesta nesta posição,
posição, ee acha­
acha-
mos justo que
mos justo que sese aceite,
aceite, porque
porque éé preferível
preferivel que que sese use
use uma
uma pala-
pala­
vra
vra que
que evite
evite aa associação
associação com com as as caricaturas
caricaturas da filosofia moderna.
da filosofia moderna.
Transfísica, ainda,
Transfísica, ainda, felizmente,
felizmente, não não estáestã eivada
eivada de de certos
certos defeitos,
defeitos,
como
como aa palavra
palavra Metafísica
Metafísica está,
está, porque
porque tôda tôda aa vez que éé empregada
vez que empregada
para
para um não-metafísicc, tem
um não-metafísico, tem dede se voltar atrás,
se voltar atrás, dede explicar
explicar em em queque
sentido
sentido éé tomado
tomado o o têrmo, erquanto que
têrmo, er.quanto que falando
falando em em Transfí­
Transfi-
sica
sica êle entende perfeitamente,
êle entende perfeitamente, como como algo algo que transcende aa física,
que transcende física,
que estuda
que estuda oo ser não enquanto
ser não enquanto físico,
físico, no no sentido
sentido de de phyé,
phyê, dede nas­
nas-
cer, de
cer, de natura,
natura, do do que
que começa,
começa, do do que
que principia
principia aa ser.ser. Como
Como sa- sa­
bemos que
bemos que éé oo conceito
conceito de Física, pelo
de Física, pelo menos
menos oo conceito
conceito dássico.
clássico,
Transfísica, de
Transfísica, qualquer maneira,
de qualquer maneira, terá terá como
como objecto
objecto oo ente
ente nãonão
apenas na
apenas na suasua corporeidade,
corporeidade, nem nem na na sus
sui materialidade,
materialidade, segundo
segundo
aa maneira
maneira de de conceber
conceber da da Fisica; será sempre
Física; será sempre além além dessas
dessas maneiras
mineiras
de conceber.
de conceber. De De forma
forma que que temos
temos aqui aqui então
então as justificações
as justificações
apresentadas por
apresentadas por Fernandes.
Fernandes.

— 70 —
—7) —
CAP. V
CAP. V

DO METODO
DO METODO DA METAFÍSICA
DA METAFÍSICA


Já conhecemos
conhecemos os os três
três graus
graus dede abstracção,
abstracção, jájá os
os estudamos;
estudamos;
equéle primeiro grau
aquêle primeiro grau que
que fazfaz abstracção
abstracção dada matéria
matéria individual,
individual, oo
segundo,
segundo, queque faz abstracção da
faz abstracção da matéria sensível, como
matéria sensível, como aa dada mate­
mate-
mática,
mática, ee 2d terceiro
terceiro grau
grau queque faz
faz abstracção
abstracção dede tôda
tôda matéria,
matéria, quer
quer
sensível, quer
sensível, quer inteligível;
inteligível; cc terceiro
terceiro grau
grau dos conceitos da
dos conceitos da Onto-
Onto-
Dgia.
bgia.

Ora, não
Ora, não há necessidade de
há necessidade de demonstrarmos
demonstrarmos aa validez
validez destas
destas
três operações,
três operações, porque
porque já já oo fizemos suficientemente. Não
fizemos suficientemente. Não háhá sô­
só-
bre elas
bre elas aa menor
menor dúvida,
dúvida, nemnem há há necessidade
necessidade ds
de justificer
justificar aa Metafí­
Metafi-
sica aqui,
sica aqui, Dorque
sorque jájá foi
foi ela
ela justificada
justificadi devidamente.
devidamente.

Não há
Não há nenhum argumento contrário,
nenhum argumento contrário, porque
porque aa constituição
constituição
dos conceiros
dos conceizos precisivos,
precisivos, dede terceiro grau, que
terceiro grau, que têm diversos graus
têm diversos graus
de precisão,
de precisão, êstes conceitos estão
êstes conceitos estão justificados,
justificados, ee têm
têm o o seu
seu funda-
funda­
mento real,
mento real, conforme
conforme se se vê pelo método
vê pelo método ascendente
ascendente dede Aristóteles
Aristóteles
ee da
da escolástica,
escolástica, ee também
também têm têm aa sua
sua justificação na correspondên­
justificação na correspondên-
cia ao
cia mundo da
ao mundo da nossa
nossa experiência,
experiência, se seguíssemos aa linha
se seguíssemos linha descer:s-
descei s-
cional pitagórico-platônica.
cional pitagórico-plitônica.
De
De qualquer
qualquer modo
modo aa Metafísica está suficientemente
Metafísici está suficientemente justi-
juati-
ficada
fi:ada ee aa Matese
Matese não
não vai concebê-la de
vai concebê-la de outro
outro modo.
modo.
Quanto ao
Quanto método da
ao método da Metafísica, existe uma
Metafísica, existe uma longa.
longa polêmica
polêmica
em
ern tôrno
tôrno do
do assunto, mas aqui
assunto, mas está um
aqui está um ponto
ponto importante
importante nas dis-
nas dis­
cussões entre os
cussões entre os escolásticos:
escolásticos: uns colecam-se na
uns colocam-se na posiçãc de qu:
posiçãc de o
qus o
método metafísico não
método metafísico não pode ser meramente
pode ser meramente aa priori, porque êle
priori, porque éle
então
então só teria fundamento
só teria nos nossos
fundamento nos nossos conceitos,
conceitos, ee como
como não pos-
não pos-


— Jl —
71 —
suímos idéias inatas,
suimos idéias inatas, ee como
como osos nossos
nossos conceitos
conceitos são obtidos atra-
são obtidos atra-
xés
■\és da
da experiência,
experiência, êleêle não
não pode
pode ser meramente apriorístico,
ser meramente apriorístico, ee tam-
tam­
bém não
bém pode ser
não pode ser meramente
meramente aposteriorístico, porque aa experiên-
aposteriorístico, porque experiên­
cia, por
cia, por sisi só,
só, não
não prova
prova aa necessidade
necessidade ee aa universalidade,
universalidade, como
como
vimos.
’(imos.
De maneira que
De maneira que o
o método
método verdadeiro
verdadeiro dada Metafísica
Metafísica tem
tem de
de
ser simultâneamente aa priori
ser simultaneamente priori ee aa posteriori.
posteriori.

Essa
Essa éé uma
uma conclusão
conclusão óbvia,
óbvia, aa que temos de
que temos de chegar,
chegar, em face
em face
da natureza
da natureza dodo próprio
próprio objecto,
objecto, que queremos conhecer.
que queremos conhecer.
Por que
Por dizemos que
que dizemos que tem
tem que
que ser
ser aa priori
priori ee aa posteriori?
posteriori?
Porque não
Porque partimos das
não partimos das especulações
especulações apriorísticas
apriorísticas fundadas,
fundadas, como
como
alguns querem
alguns querem dizer, nas idéias
dizer, nas idéias inatas,
inatas, porque
porque essa
essa questão
questão éé um
um
tema também
tema importante, que
também importante, que teremos
teremos dede abordar
abordar maismais adiante,
adiante, ee
abordamos de
abordamos uma outra
de uma outra maneira.
maneira.
Quando se
Quando fala em
se fala em idéias
idéias inatas
inatas aa primeira
primeira impressão
impressão éé que
que
já temos
já temos conceitos formulados.
conceitos formulados. Ora,
Ora, isto não éé pròpriamente
isto não própriamente oo
conceito de idéia
conceito de idéia inata, de que
inata, de que Platão
Platão ee os
os pitagóricos
pitegóricos tratavam.
tratavam.

AA mente
mente humana
humana éé apta, apta, porpor exemplo,
exemplo, aa especular
especular em em tômotôrmo
da antecedência
da antecedência ee da consequência, porque
da consequência, porque imediatamente
imediatamente ela ela en-
en­
tende o
tende o conceito
conceito de de antecedência
antecedência ee de de consequência.
consequência. Ela
Ela temtem umauma
aptidão para
aptidão assimilar estas
para assimilar estas idéias
idéias fundamentais
fundamentiis da da Metafísica,
Metafísica,
que éé oo dom
que dom do intelecto. Ora,
do intelecto. Ora, se se ela tem essa
ela tem essa capacidade
capacidade de de
assimilá-la, éé preciso
assimilá-la, preciso queque haja
haja uma uma certa
certa acomodação;
acomodação, se se não
não te-te­
mos uma
mos uma acomodação
acomodação para para estas
estas idéias, como se
idéias, como dá essa
se dá essa adequação
adequação
entre elas
entre elas ee nós?
nós? Ora, Ora, sese há
há alguma
alguma coisa
coisa em nós que
em nós que sese dispõe,
dispõe,
de modo
de modo comocomo são são asas coisas, tem de
coisas, tem de haver entre si,
haver entre si, entre
entre o o que
que se se
acomoda
acomoda ee oo que que éé porpor nósnós captado,
captado, um um Jogos
logos analogante,
analogante, para para
que
que sese dê essa assimilação.
dê essa assimilação. Então, Então, prôpriamente,
pròpriamente, êsse logos ana-
êsse logos ana-
iogante
iogante éé que constitui oo que
que constitui que os os platónicos
platônicos chamavam
chamavam de de idéias
idéias
matas.
inatas. Elas
Elas nãonão sãosão ainda
ainda formuladas
formuladas de de modo
modo consciente
consciente pelo pelo
ser humano,
ser humano, elas elas estão
estão emem estado
estado de potência em
de potência em nós, mas, neste
nós, mas, neste
inomento, em
friomento, em queque se dá aa assimilação,
se dá assimilação, elas se actualizam,
elas se actualizam, ee veri- veri­
fica-se que
fica-se que estas
estas idéias antecedem aa própria
idéias antecedem própria experiência,
experiência, porqueporque
alcançamos aa conclusão
alcançamos conclusão antesantes da da experiência,
experiência, comocomo aa criança
criança re­ re-
vela em
vela suas conclusões,
em suas conclusões, quandoquando bem bem orientada.
orientada. Ela Ela constrói,
constrói,

-“92—
— 72 —
por exemplo,
por exemplo, o o conceito
conceito de de antecedência
antecedência ee de de consequência,
consequência, mas mas
tais
tais conceitos
conceitos foramforam constituídos
constituídos na na mente
mente da criança, mas
da criança, mas como
como
idéias platônicas já
idéias platônicas já se
se davam antes da
davam antes da criança
criança os os formular,
formular, ee nela
nela
mesma
mesma era algo em
era algo em potencial
potencial que que se se actualiza,
actualiza, que que ela “deses-
ela "deses-
quece,
quece, que que éé aa acção
acção de anamnésis, de
de anamnêsu, de desesquecimento,
desesquecimento, ee passam passam
aa ser
ser como
como lembrados”.
lembrados". Por Por queque passam
passam aa ser ser lembrados?
lembrados? Por- Por­
que as
que as idéias
idéias ee as as relações
relações de de antecedência
antecedência ee de de consequência
consequência não não
se formaram
se formaram naquela operação conceitual;
naquela operação conceituai; elaselas já
já sese davam
davam antes.
antes.
Onde? Na
Onde? Na ordem
ordem do do ser
ser da
da qual
qual também
tambérr. fazemos
fazemos parte, porque
parte, porque
não somos
não somos entesentes àà parte
parte dada ordem
ordem do do ser.
ser. Então
Então estavam tam-
estavam tam­
bém
bém de certo modo
de certo modo contido
contido em em nós.
nós. Ora Ora isto
isto éé aa anamnésis
anamnésis pla-pla­
tônica bem
tônica bem considerada.
considerada. O resto
O resto éé confusão.
confusão. OO fundamento
fundamento da da
prioridade não
prioridade não é,é, como
como pensam
pensam muitos,
muitos, um um meromero producto
producto da da
nossa
nossa mente
mente ao ao conceituar.
conceituar. Essa conceituação
Essa conceituação tem tem um um fundamen­
fundamen-
to que
to que Ihelhe éé apriorístico,
apriorístico. que que são as idéias
são as idéias eternas
eternas de de que falava
que falava
São Tomás, os
São Tomás, logoi arkhai
os logoi arkhai dosdos pitagóricos,
pitagóricos, idéias
idéias eternas imprin-
eternas imprin-
cipiadas.
cipiadas.

O ser
O ser inteligente,
inteligente, o o ser humano, racional,
ser humano, racional, pode desesquecer;
pode desesquecer;
pode "lembrar-se"
pode “lembrar-se” destas
destas idéias,
idéias, oo que
que não
não pode
pode uma pedra, por-
uma pedra, por­
que está
que desesquecida de
está desesquecida de tôda
tôda inteligibilidade.
inteligibilidade. MasMas aa inteligibili­
inteligibili-
dade que
dade que háhá na pedra éé alguma
na pedra alguma, coisa
coisa actualizável; não pela
actualizável; não pela pe-
pe­
dra, porque esta não é capaz da operação de anamnésis, mas éé
dra, porque esta não é capaz da operação de anamnésis, mas
actualizável por
actualizável por um
um ser racional, apto
ser racional, apto aa realizar essa operação.
realizar essa operação.

Compreendido,
Compreendido, assim,
assim, oo platonismo,
platonismo, não
não oferece
oferece os
os proble-
proble­
mas
mas que lhe acusam,
que Ihe acusam, que
que decorrem
decorrem da mi inteligência
da má da verda-
inteligência da verda­
deira
deira doutrina platônica.
doutrina platônica.

OO verdadeiro método na
verdadeiro método na Metafísica
Metafísica temtem dede ser
ser êste.
êste. ElaEla
tem
tem de procurar estas
de procurar idéias eternas
estas idéias eternas e,e, ao mesmo tempo,
ao mesmo tempo, verver aa
correspondência que
correspondência que elas
elas têm
têm na nossa experiência,
na nossa experiência, ee dessa
dessa co­co-
operação das duas vias, da ascendente e da descendente, éé que
operação das duas vias, da ascendente e da descendente, que
construímos
construímos um verdadeiro método
um verdadeiro método metafísico. Portanto, o
metafísico. Portanto, o ver­
ver-
dadeiro
dadeiro método metafísico não
método metafísico não éé apenas apriorístico, nem
apenas apriorístico, nem éé ape-
ape­
nas aposterioristico,
nas aposterioristico, tem
tem de de serser simultâneamente
simultâneamente apriorístico
apriorístico ee
aposteriorístico, ee tem,
aposteriorístico, necessáriamente, de
tem, necessariamente, de dispor
dispor dede uma
uma dia-dia­
léctica capaz
léctica capaz de funcionar nas
de funcionar duas linhas
nas duas linhas inversas, na que
inversas, na que as­
as-
—793—
— 73 —
cende da
cende da exoeriência
ex>eriência para
para asas idéias
idéias ee na que desce
na que desce das
das idéias
idéias pa­
pa-
ra ia experiência.
ra experiência.
Agora,
Agora, existe, naturalmente, uma
existe, naturalmente, uma longa
longa discussão em tôrno
discussão em tôrno
dêsses métodos.
dêsses métodos. Não
Não há hã necessidade
necessidade de de analisarmos aqui as
analisarmos aqui as
concepções meramente
concepções empiristas na
meramente empiristas na Metafísica,
Metafísica, os místicos da
os místicos da
Metafísica, aquêles cue
Metafísica, aquêles cue sese fundam
fundam na na intuição emocional, ou
intuição emocional, ou os
os
que se
que se funcam
fundam na intuição bergsoniana,
na intuição bergsoniana, pois codos êsses
pois rodos outros
êsses outros
métodos,
métodos, que são apresentados,
que são apresentados, não trouxeram nenhum
não trouxeram benefício
nenhum benefício
para
para oo desenvolvimento metafísico, ee são
desenvolvimento metafísico, apenas aspectos
são apenas aspectos parciais
parciais
do
do método dialéctico concreto,
método dialéctico concreto, que
que propomos.
propomos.

Podemos ainda
Podemos ainda fazer alguns comentários
fazer alguns comentários em
em tôrno
tôrno dessa par-
dessa par­
te,
te, pois,
pois, como vimos, aa Matese
como vimos, Matese estuca
estuca os
os princípios,
princípios, ee quando
quando
estuda aquêle
estuda aquêle que que éé um princípio afirmativo
um princípio afirmativo ee positivo,
positivo, queque teste-
teste­
munha aa si
munha si mesmo, chegamos àà idéia
mesmo, chegamos idéia dede ser
ser que, tomado apenas
que, tomado apenas
enquanto ser,
enquanto ser, éé oo objecto
objecto da da Ontologia.
Ontologia. E E tomamos
tomamos também
também oo
princípio negativo,
princípio negativo, que não tem
que não positividade, que
tem positividade, que não testemunha
não testemunha
prôpriamente
propriamente aa si si mesmo,
mesmo, não não fazfaz uma
uma afirmação
afirmação de de sisi mesmo,
mesmo,
que seria
que seria aa idéia
idéia negativa
negativa de de não-ser, cuja discussão
não-ser, cuja discussão em em tôro
tôrno do
do
seu valor,
seu valor, do do seu papel, da
seu papel, da sua função, passaria
sua função, passaria aa ser
ser matéria
matéria da da
Meontologia.
Meontologia. AA Ontologia Ontologia trabalha
trabalha comcom oo contexto
contexto beta
beta ee tam­
tam-
bém
bém com com osos outros contextos, mas
outros contextos, mas procura
procura transcendentalizá-los
transcendentalizá-los
pata
paia o O contexto
contexto alfa;
alfa; aa Meontologia
Meontologia trabalha
trabalha comcom o O contexto
contexto gama,gama,
do nada
do nada abstracto
abstracto ee com com oo contexto
contexto delta,
delta, contexto
contexto do do nada rela-
nada rela­
tivo. A
tivo. A Teologia
Teologia trabalha
trabalha nc contexto beta
nc contexto beta ee predominantemente
predominantemente
no contexto
no contexto aalfa lfa ee aa Filosofia geral trabalha
Filosofia geral trabalha comcom todos
todos êsses
êsses con-
con­
textos.
textos.

Assim, chegando
Assim, chegando ao ao conceito
conceito dede ser,
ser, vimos que podíamos
vimos que podíamos
tomá-lo na
tomá-lo na sua
sua positividade,
positividade, buscando
buscando aquêle
aquêle verbo
verbo defectivo
defectivo la­
la-
tino para
tino definí-lo, oo verbo
para definí-lo, verbo sistere,
sistere, ee do
do substantivo,
substantivo, que
que lhe
Ihe cor-
cor­
responde,
responde, queque éÉ sistência.
sistência.

O ser
O ser éé sempre
sempre uma afirmação de
uma afirmação de sistência,
sistência, dede algo
algo que
que sit,
sit,
de algo que
de algo se dá.
que se dá. AA Ontologia
Ontologia estuda essa sistência
estuda essa enquanto
sistência enquanto
tal, enquanto sistência,
tal, enquanto sistência, ee naturalmente
natuzalmente nas nas suas divisões ee nas
suas divisões nas suas
suas
propriedades, isto
propriedades, isto é,é, as
as divisões
divisões dede sistência,
sistência, como
como aa sistência pode
sistência pode
ser, sistência
ser, sistência aa se;
se; sistência
sistência im
ir, alio,
alio, sistência principiada, sistência
sistência principiada, sistência
—7q—
— 74 —
imprincipiada, sistência criada,
imprmcipiada, sistência criada, inaiada,
incriada, ee assim
assim sucessivamente,
sucessivamente,
que passam aa ser
que passam ser temas
temas ontolópicos, divisões dos
ontológicos, divisões dos entes,
entes, ee ainda
ainda
asas propriedades
propriedades dêsses
dêsses entes,
entes, oo que
que constitui,
constitui, própriamente,
pròpriamente, op
campo
Campo da Ontologia.
da Ontologia. :

Essa disciplina
Essa disciplina está
está perfeitamente
perfeitamente justificada.
justificada. Não pode pai-
Não pode pai­
rar sôbre
rar sôbre ela
ela aa menor
menor dúvida, nem na
dúvida, nem posição clássica,
na posição clássica, nem
nem rara
posição matética,
posição matética, nem
nem na na posição
posição dada filosofia
filosofia concreta.
concreta. Não cre-
Não cre­
mos que haja
mos que haja aqui razões que
aqui razões que possam
possam pôr
pôr em
em risco
risco aa sua
sua validez.
validez.

Na parte sintética
Na parte sintética dada Matese
Matese tivemos
tivemos oportunidade
oportunidade de exa-
de exa­
minar várias
minar vêzes oo conceito
várias vêzes conceito dede ente, porque o
ente, porque o que
que nos preocupa
nos preocupa
agora
agora éé sabermos
sabermos aa diferença
diferença entre ente ee ser.
entre ente Nos diversos
ser. Nos diversos idia-
idij-
mas,
mas, como
como o o latino,
latino, o o grego,
grego, o o inglês,
inglês, o o germânico,
germânico, temos
temos dois
dois
têrmos
têrmos para
para expressar ser: temos
expressar ser: temos um um quequé expressa
expressa oo ser
ser como
como
verbo,
verbo, ee outto
outro que
que oo expressa como substantivo
expressa como substantivo.

Na
Na lingua portuguêsa, aa palavra
língua portuguêsa, palavra serser éé usada
usada ora
ora como
como subs-
subs­
tantivo, ©ra
tantivo, era como
como verbo,
verbo, mas podemos usar
mas podemos usar aa palavra
palavra ente
ente como
como
substantivo, para referirmo-nos
substantivo, para referirmo-nos ao ao ser,
ser, como também usamos
como também usamos ser;
ser;
no espanhol,
no espanhol, nono italiano, no francês
italiano, no francês também
também assimassim acontece.
acontece. EB
uma deficiência
uma deficiência dada nossa
nossa língua
língua ee que,
que, porpor isso,
isso, algumas
algumas vêzes
vêzes
empregamos ser
empregamos ser nono sentido substantivo, outras
sentido substantivo, outras nono sentido
sentido dede
verbo.
verbo.

AA questão,
questão, que
que se
se apresenta
apresenta para alguns escolásticos,
para alguns escolásticos, já que
já que
não
não se pode discutir
se pode mais aa questão
discutir mais an sit
questão an em relação
sit em relação ao ser, éé
ao ser,
resolver
resolver aa questão
questão guid
quid sit,
sit, oo quç
que éé pròpriamente
prôpriamente ens. ens. Ora,
Ora, ens,
ens,
em
em latim,
latim, éé oo particípio
particípio presente
presente do verbo esse,
do verbo esse, que significa oo
que significa
verbo ser.
verbo Ens traduziríamos
ser. Ens traduziríamos parapara oO português
português pròpriamente
própriamente co­ co-
mo
mo “sendo”;
"sendo"; no no alemão
alemão traduz-se
traduz-se ente por Das
ente por Das seiend,
seiend, quer
quer dizer,
dizer,
usando
usando do do mesmo modo o
mesmo modo o particípio
particípio presente
presente do verbo sein,
do verbo sein, ee em
em
inglês também
inglês também se ss usa “beeing”, como
usa "beeing", como particípio
particípio presente
presente do ver-
do ver­
bo
bo to be.
to be.

No
No português, alguns autores
português, alguns autores brasileiros
brasileiros ee portugueses
portuguêses ten-
ten­
taram a:tualizar
taram actualizar aa palavra
palavra sendo
sendo para
para traduzir
traduzir melhor
melhor oo Das
Das Seiecid
Seie,:d
dos alemães,
dos alemães, ee essa
essa prática
prática nos
nos parece boa, porque
parece boa, dá-nos aa idéia
porque dá-nos idéia
do ser
do ser enquanto
enquanto ser, do ser
ser, do ser enquanto
enquanto sese dá, como algo
dá, como algo que se dá.
que se dá.
—7IS—
— 75 —
A pergunta
A pergunta importante
importante agora,
agora, éé esta
esta “quid est ens?”
"quid est ens?”” Que
Que
éé oo ente,
ente, ou o sendo?
ou o sendo?

A definição
A definição pode
pode serser nominal,
nominal, ou ou real.
real. AA nominal pode ser
nominal pode ser
etimológica
etim ológica ee comum.
comum. Ora, Ora, pondo
pondo de de lado
lado tôda
tôda ee qualquer
qualquer di- di­
vergência, encontramos
vergência, encontramos aqui aqui oo seguinte:
seguinte: que etimológicamente ens,
que etimològicamente ens,
sendo, (on,
sendo, (on, ontos
ontos no grego), ser,
no grego), ser, indica
indica aquilo
aquilo que
que tem ser, aqui­
tem ser, aqui-
lo que
lo que é. é. Esta
Esta seria, então, aa definição
seria, então, definição etimológica:
etimológica: ente
ente éé oo que
que
tem ser,
tem ser, ou que tem
ou que tem esse, habens esse,
esse, habens esse, cujo esse seria
cujo esse entendido
seria entendido
como uma
como uma realitas,
realitas, como
como uma sistência, mas
uma sistência, com certa
mas com certa actualida­
actualida-
de; quer
de; quer dizer,
dizer, uma
uma sistência
sistência que
que sese actualiza,
actualiza, que
que se afirma, que
se afirma, que
se põe.
se põe.
Alguns escolásticos
Alguns escolásticos procuram
procuram definir
definir assim
assim como
como existência,
existência,
mas oo têrmo
mas têrmo existência deve ficar
existência deve ficar guardado
guardado para para definir
definir apenas
apenas
éste ser
êste ser enquanto
enquanto se dá fora
se dá fora dede suas
suas causas.
causas. AquiAqui temos
temos dede dar
dar
àà idéia
idéia dede ser, não prôpriamente
ser, não pròpriamente aa sistência,
sistência, que
que jájá se
se mostra,
mostra, sese
expõe fora
expõe fora das
das suas
suas causas, ex, mas
causas, ex, mas aa sistência,
sistência, aa realidade, com
realidade, com
certa actualidade,
certa actualidade, em em sisi ou
ou em
em outro;
outro; se fôr per
se fôr per se,
se, então,
então, oo não-
não-
“ter seria
-ier seria existente.
existente.

Quando estudamos
Quando as diversas
estudamos as determinações da
diversas determinações da sistência,
sistência,
pudemos ver as
pudemos ver as várias determinações do
várias determinações ser; oo ser
do ser; pode ser
ser pode ser resis-
resis­
tente, assistente,
tente, assistente, insistente,
insistente, existente,
existente, persistente,
persistente, etc.,
etc., de
de maneira
maneira
que consignando
que consignando oo conceito
conceito dede sistência para oo de
sistência para de ser, daríamos aa
ser, daríamos
êsse conceito
êsse conceito aa idéia de uma
idéia de uma positividade,
positividade, de uma afirmação,
de uma afirmação, dede
algo que
algo que sese testemunha,
testemunha, que tem realitas,
que tem realitas, ee que,
que, de certo modo,
de certo modo,
possui uma
possui actualitas, uma
uma actualitas, actualidade.
uma actualidade.

Ora, dessa
Ora, maneira, evitando
dessa maneira, evitando aa confusão
confusão dêle
dêle com
com oo têrmo
têrmo
existir, evitamos,
existir, evitamos, com antecedência, aquelas
com antecedência, aquelas grandes
grandes discussões
discussões
que, depois,
que, depois, vãovão surgir
surgir nana escolástica,
escolástica, em tômo das
em tômo das discussões
discussões
entre essência
entre essência ee existência,
existência, ee que levaram os
que levaram os escolásticos
escolásticos aa esta­
esta-
dos aporéticos
dos aporéticos insolúveis, porque encontramos
insolúveis, porque encontramos em tódas as
em tôdas as sen­
sen-
tenças uma
tenças uma argumentação
argumentação poderosissima,
poderosíssima, demonstrações
demonstrações muitomuito ri­ ri-
gorosas, de
gorosas, de maneira
maneira que que elas
elas se
se contrabalançam
contrabalançam de de tal
tal forma,
forma, que que
deixam perplexo
deixam perplexo oo leitor
leitor que
que acaso
acaso sese embrenha nesse estudo.
embrenha nesse estudo.
Ora, isso
Ora, isso traz,
traz, como
como consequência,
consequência, uma uma desconfiança
desconfiança de de que
que aa es­
es-
colástica éé apenas
colástica apenas umauma espécie
espécie de campo de
de campo de debates praticamente
debates praticamente


— 16 —
76 —
inúteis, pela
inúteis, pela impossibilidade
impossibilidade de de resolver
resolver as as suas
suas aporias.
aporias. Porque,Porque,
na verdade,
na verdade, aquéles
aquêles que que nela
nela se se embrenham
embrenham mais mais profundamente
profundamente
vão verificando,
vão verificando, aa pouco pouco ee pouco,
pouco, que todos os
que todos temas são
os temas são aporéti-
aporéti-
cos, mas
cos, mas tudo
tudo issoisso decorre
decorre da da mámá colocação
colocação do problema ee de
do problema cer-
de cer­
tos conceitos
tos conceitos antecedentes,
antecedentes, que, depois, vão
que, depois, vão produzir
produzir os os seus
seus fru­
fru-
tos,
tos, porque
porque êles, sendo tomados
êles, sendo ambiguamente desde
tomados ambiguamente desde o o princípio,
princípio,
essa ambiguidade
essa ambiguidade vai vai perdurar.
perdurar. Posteriormente essa
Posteriormente essa ambiguidade
ambiguidade
vai interferir
vai interferir de modo aa misturar
de modo misturar um um campo
campo com com outro,
outro, o o que
que
não permite
não permite entãoentão que,que, com com nitidez, façam-se as
nitidez, façam-se as determinações
determinações
necessárias.
necessárias. Esse éé o
Êsse o motivo
motivo por por queque lutamos
lutamos para
para que que o o conceito
conceito
de existência
de existência seja seja um um conceito
conceito rígido,
rígido, comcom um um sentido
sentido próprio,
próprio,
ee que
que signifique
signifique aa sistência
sistência apenas
apenas enquanto
enquanto se se dá fora de
dá fora de suas
suas
causas, isto
causas, isto é,é, enquanto
enquanto ela se afirma
ela se afirma na plenitude da
na plenitude da suasua actua­
actua-
lidade, ou
lidade, ou enquanto
enquanto ela está no
ela está no exercício
exercício pleno
pleno do do seu ser, en-
seu ser, en­
quanto
quanto ela está em
ela está acto.
em acto. Não quer
Não dizer que
quer dizer que elaela não
não possa
possa ser ser
um existente em
um existente em outro;
outro; podepode ter ter uma subsistência final
uma subsistência final em outro,
em outro,
como acontece
como acontece com com oo accidente,
accidente, que que existe
existe subsistindo
subsistindo em em outro,
outro,
como no
como no seuseu inesse,
nesse, mas mas taltal não
não nega
nega nêle plena actualização
nêle plena actualização desta desta
accidência.
accidência.

Gra, dando êste


Ora, dando êste conceito,
conceito, (e só êsse
(e só pode coadunar-se
êsse pode coadunar-se com
com aa
intencionalidade nossa ee aa realidade
intencionalidade nossa da existência),
realidade da existência), ee permane­
permane-
cendo ainda dentro
cendo ainda duma base
dentro duma base genuinamente etimológica, pode-
genuinamente etimológica, pode­
mos chegar aa uma
mos chegar uma definição
definição nominal,
nominal, que que éé perfeitamente
perfeitamente ade­ ade-
quada ao
quada ao que
que dizemos,
dizemos, ee queque não leva aa estas
não leva estas dificuldades.
dificuldades. As­ As-
sim,
sim, os os escolásticos definem oo ente
escolásticos definem ente dizendo
dizendo comocomo o o que existe.
que existe.
Seria oo ente
Seria participialiter, ee também
ente participialiter, também oo que que pode
pode existir,
existir, ouou queque
está em
está em acto,
acto, ou não, que
ou não, que seria
seria oo ente
ente então nominaliter, nominal­
então nominaliter, nominal-
mente considerado.
mente considerado. Dai chegarem
Daí chegarem êles êles àà definição
definição real
real de
de ente,
ente,
que
que éé o o que
que pode
pode existir, Com essa
existir. Com essa definição, que éé suareziana,
definição, que suareziana,
chegaríamos ao
chegaríamos ao seguinte:
seguinte: oo ser potencial éé ser
ser potencial porque pode
ser porque pode existir;
existir;
o ser
o actual éé ser,
ser actual porque pode
ser, porque pode existir,
existir, ee tanto pode que
tanto pode está exis-
que está exis­
tindo. De
tindo. De maneira
maneira queque êles
êles consideram
consideram esta esta definição como per­
definição como per-
feita.
feita.

Mas acontece
Mas acontece que quando tratamos
que quando tratamos das idéias eternas,
das idéias eternas, ouou se­
se-
ja, dos
ja, arithmoioi arkhai,
dos aritbm arkbai, ao
ao estudar
estudar osos universais,,
universais, verificamos
verificamos queque
êles não
êles não podem
podem existir
existir de per si,
de per fora de
si, fora de suas
suas causas. Eles não
causas. Êles não
—77—
— 77 —
poderão dar-se
poderão dar-se como
como singularidades,
singularidades, como como individualidades
individualidades ex- ex-
-sistentes, etc.
-sistentes, Eles são
etc. Êles são insistentes,
insistentes, persistentes,
persistentes, consistentes,
consistentes, não, não,
porém, resistentes
porém, resistentes nem sistentes per
nem sistentes per se.
se. Então, neste caso,
Então, neste caso, o o existir
existir
que se
que lhes atribua
se lhes atribua nãonão será mais naquele
será mais naquele sentido.
sentido. Seu Seu existir
existir
será inin esse,
será esse, nãonão como
como accidental,
accidental, mas mas como
como formas
form as gradativas
gradativas ee
aritmológicas, contidas
aritmológicas, contidas na na eminência
eminência potencial
potencial do do Ser
Ser Supremo.
Supremo.
São de
São de um modo de
um modo de serser distinto
distinto daquêle
daquêle que pode existir
que pode existir (e (ex).
x ).
OO facto
facto dêles não poderem
dêles não poderem existir, assim, de
existir, assim, de não
não poderem
poderem existen-
existen-
cializar-se, de
cializar-se, de não poderem actualizar-se
não poderem actualizar-se dêsse
dêsse modomodo (a (a triangu-
triangu-
laridade jamais
laridade jamais poderá
poderá actualizar-se)
actualizar-se) não não implica
implica ausência
ausência de de
positividade, de
positividade, de afirmação,
afirmação, nem nem de de algo
algo que permaneça (persiste),
que permaneça (persiste),
porque permanece sendo
porque permanece sendo o o que
que éé que
que sese testemunha,
testemunha, ee possuí,
possui, con­con-
sequentemente.
seqüentemente, tôdas tôdas aquelas
aquelas notas fundamentais, que
notas fundamentais, exigimos
que exigimos
para o
para o ser,
ser, contudo,
contudo, sem sem poderem
poderem dar-se fora de
dar-se fora suas causas,
de suas causas, de de
actualizarem-se fora
actualizarem-se fora de suas causas.
de suas causas.

Nunca aa forma
Nunca forma dessa
dessa espécie
espécie poderia
poderia actualizar-se, pois éé
actualizar-se, pois
impossível
impossível actualizar
actualizar aa triangularidade.
triangularidade.

Nem Deus
Nem tornaria aa triangularidade
Deus tornaria triangularidade singularizada existen-
singularizada existen-
cialmente, porque seria
cialmente, porque seria contraditória
contraditória aa si
si mesma,
mesma, portanto
portanto seria
seria
impossível
impossível ee absurda.
absurda.

Oferecemos
Oferecemos umum outro
outro enunciado
enunciado de de ser que tem
ser que tem aa vantagem
vantagem
de poder reduzir-se
de poder reduzir-se matêticamente
matèticamente aa princípios
princípios seguros: ser éé oo
seguros: ser
princípio
princípio que afirma, que
que afirma, se positiva,
que se que sese testemunha,
positiva, que testemunha, ee que
que
permanece
permanece nessa afirmação; ser
nessa afirmação; ser éé o
O principio
princípio afirmativo,
afirmativo, que
que perma-
perm a­
nece em
nece em sua
sua afirmação. Ademais ser
afirmação. Ademais ser não
não pode
pode ter
ter outra
outra predica-
predica­
ção: não
ção: não pode
pode ser um princípio
ser um princípio negativo,
negativo, porque seria nada;
porque seria nada; não
não
pode ser
pode ser um
um princípio incoativo, que
princípio incoativo, vai atingindo
que vai atingindo ao ser, parque
ao ser, porque
não
não há meio têrmo
há meio têrmo entre ser ee nada;
entre ser não pode
nada; não pode ser algo sem
ser algo sem perma-
perma­
nência, porque não
nência, porque não insistiria, não persistiria.
insistiria, não persistiria.

Este enunciado
Êste enunciado éé mais
mais completo
completo ee permite
permite enquadrar, tanto o
enquadrar, tanto o
ser
ser participialiter, como o
participiaiiter, como o ser
ser tomado
tomado nominaliter,
nominaliter, como
como oo ser
ser to
to­
mado apenas na
mado apenas sua exemplaridade,
na sua exemplaridade, isto é, enquanto
isto é, idéia eterna,
enquanto idéia eterna,
como arithmoioi arkbhê.
como arithm arkhê.
Essa definição
Essa definição éé simplicissima,
simplicíssima, éé universalíssima,
universalíssima, transcende
transcende
tôdas as
tôdas coisas, não
as coisas, não tem
tem têrmos
têrmos que
que repugnam,
repugnam, não tem têrmos
não tem. têrmos

— 78 —
78 —
negativos; portanto,
negativos; portanto, éé constituída
constituída de de tôdas as condições
tôdas as condições exigíveis
exigíveis
para uma
para uma boaboa definição.
definição. EE ela ela não
não éé absolutamente,
absolutamente, contrária
contrária àá
de Suarez,
de Suarez, mas mas aa completa, porque conserva
completa, porque conserva oo ens
ens nominaliter,
nominaliter, éè
pode ser
pode ser dada
dada ao ao ente
ente existente
existente emem acto,
acto, que
que éé oo ente
ente tomado parti
tomado parti
cipialiter, participialmente.
cipiditer, participialmente. Ela corresponde ao
Ela corresponde ao ens
ens que
que éé pura-
pura­
mente possível,
mente possível, queque éé oo ente
ente em
em potência,
potência, oo ente
ente potencial,
potencial, ee que
que
são objectos da
são objectos metafísica ee inclui,
da metafísica inclui, também,
também, êstes entes que
êstes entes que não
não
são própriamente objectos
são propriamente objectos dada Ontologia,
Ontologia, masmas sim,
sim, dada Teologia,
Teologia,
que
que correspondem
correspondem aos arithmo; arkbai,
aos arithmoi arkhai, que podem ser
que podem melhor es­
ser melhor es-
tudados
tudados na Teologia do
na Teologia que na
do que na própria
própria Ontologia,
Ontologia, ee que que servem
servem
de ligação entre
de ligação entre esta
esta ee aquela.
aquela.

De forma
De forma queque êsse
êsse enunciado,
enunciado, que que éé um enunciado matético,
um enunciado matético,
inclui o
inclui o de
de São
São Tomás,
Tomás, o o enunciado clássico aceito
enunciado clássico aceito porpor todos
todos os os
escolásticos, ee incluindo,
escolásticos, incluindo, ainda,
ainda, aa possibilidade
possibilidade de de nêle
nêle penetrar
penetrar
o pensamento
o pensamento platônico
platônico ee oo pitagórico.
pitagórico. Portanto,
Portanto, com com êste
êste con-
con­
ceito, abrimos
ceito, abrimos uma porta de
uma porta de unificação,
unificação, que essa parte
que essa parte analítica nos
analítica nos
mostra que
mostra que éé possível
possível realizar-se,
realizar-se, desde
desde que que osos conceitos
conceitos sejam
sejam
clareados de
clareados de maneira
maneira aa evitar
evitar aquelas divergências, que
aquelas divergências, que eram
eram co­ co-
muns, porque
muns, elas nasciam
porque elas nasciam da ambigúidade dos
da ambigüidade dos têrmos,
termos, que,
que, de-
de­
pois,
pois, provocavam
provocavam aa má colocação das
má colocação das questões
questões e, e, daí,
daí, aa quase
quase im-im­
possibilidade
possibilidade de poderem resolver-se
de poderem resolver-se as as aporias, como muitas
aporias, como muitas
vêzes tivemos oportunidade
vêzes tivemos oportunidade de de ver.
ver.

A pergunta
A pergunta principal
principal queque poderia
poderia surgir
surgir aqui,
aqui, ee que
que consti­
consti-
tui realmente oo problema
tui realmente problema em em tôrno
tôrno desta matéria, consiste
desta matéria, consiste em sa-
em sa­
ber qual
ber qual seria
seria aa natureza
natureza do do modo
modo de de ser
ser das
das formas
formas na mente
na mente
do Ser
do Ser Supremo.
Supremo. Ora,Ora, jájá mostramos
mostramos que que estas formas não
estas formas não podem
podem
ser singularizadas
ser singularizadas como
como individualidades
individualidades queque sese dessem
dessem dede per si,
per si,
porque, então,
porque, as que
então, as que são
são universais, singularizando-se dêsse
universais, singularizando-se mo-
dêsse mo­
do, perderiam
do, perderiam aa sua sua universalidade,
universalidade, para tornarem-se singulari
para tornarem-se singulari
dades.
dades. Neste caso, aa triangularidade,
Neste caso, triangularidade, sese pudesse dar-se de
pudesse dar-se de per
per
si, seria
si, seria singular
singular ee determinada
determinada de certo modo,
de certo modo, consequentement
conseqüentemente
tal
tal não pode acontecer,
não pode acontecer, porque
porque seria ou isósceles
seria ou isósceles ouou escalena.
escalena.... .

Há, portanto,
Há, portanto, um
um outro sentido na
outro sentido na universalidade que sese de­
universalidade que de-
ve procurar. O
ve procurar. O universal não pode
universal não pode ter,
ter, enquanto universal, 25as
enquanto universal,
propriedades
propriedades constituintes daquele ente
constituintes daquele ente que
que éé singular;
singular; não
não pod:
podi

— 79
79 —

caracterizar-se por
caracterizar-se uma singularidade
por uma singularidade existencial,
existencial, porque tôda exis­
porque tôda exis-
tência éé singular.
tência singular.
A sua
A consistência ee insistência
sua consistência insistência têm
têm dede sese darem
darem na
na mente
mente
êpenas
ápenas como
como esquemas.
esquemas. EE queque são
são êsses esquemas? Esquemas
êsses esquemas? Esquemas
da
da eminência,
eminência, da da omnipotência
omnipotência do do Ser
Ser Supremo.
Supremo. O O Ser Supremo
Ser Supremo
pode
pode tudotudo quanto
quanto pode,
pode, ee pode
pode oo menos
menos porque
porque pode
pode mais,
mais, ee
nesta linha do
nesta linha do menos
menos ee do mais, do
do mais, do mínimo
minimo ao ao máximo
máximo do do seuseu
poder,
poder, há há uma
uma gradatividade,
gradatividade, aa qual,
qual, naturalmente,
naturalmente, tem tem de de ser
ser
real, porque
real, porque quemquem pode
pode oo mais
mais pode
pode o o menos. Esta gradatividade
menos. Esta gradatividade
só poderia
só encontrar na
poderia encontrar na nossa linguagem um
nossa linguagem símbolo que
um símbolo que melhor
melhor
aa significasse
significasse ee éé oo arithmós
arithmós no sentido pitagórico,
no sentido pitagórico, não
não o o número
número
no sentido
no sentido meramente
meramente quantitativo,
quantitativo, masmas qualitativo, como valor,
qualitativo, como valor,
vector, etc.,
vector, etc, oo oual
qual apresente
apresente uma gama de
uma gama de menos
menos parapara mais
mais e,e,
potencialmente infinita,
potencialmente porque aa omnipotência
infinita, porque omnipotência divina
divina éé potencial­
potencial.
mente infinita
mente infinita nana sua
sua capacidade
capacidade de de determinar,
determinar, porque
porque pode rea-
pode rea­
Lizar todos
lizar todos osos modos
modos dede determinação.
determinação.
Dêste modo,
Dêste modo, as formas,
as form as, que estão contidas
que estão contidas na na eminência
eminência da da
omnipotência divina,
omnipotência divina, são como arithmoi,
são como arithmot!, assim
assim como
como sese numerás-
numerás­
semos quantitativamente
semos quantitativamente um, um, dois,
dois, três,
três, quatro,
quatro, cinco, seis, ee as-
cinco, seis, as­
sim sucessivamente
sim sucessivamente 17 infinitum.
in infinitum. Elas são também
Elas são também arithmoi,
arithmoi, se- se­
gundo os
gundo os diversos
diversos tipos
tipos dede arithmoi,
arithmoi, também
também in in infinitum,
infinitum, mas mas nãonão
se singularizam
se existencialmente; são
singularizam existencialmente; são apenas
apenas osos momentos
momentos da om-
da om­
ripotência divina.
nipotência divina. Êste Este éé oo sentido
sentido que que os pitagóricos de
os pitagóricos de terceiro
terceiro
grau davam,
grau davam, éé êsteêste oo sentido que também
sentido que também Ihe lhe deram Aristóteles ee
deram Aristóteles
São Tomás,
São Tomás, como como se vê em
se vê em várias passagens da
várias passagens da obra
obra dêsses
dêsses gran-
gran­
des autores.
des autores. Êste Este éé oo único sentido que
único sentido que sese podem
podem entender
entender as as
formas eternas,
formas eternas, elas não devem
elas não devem ser ser confundidas
confundidas com com as leis eter-
as leis eter­
nas, pois
nas, pois estas
estas já já são
são de outra espécie,
de outra espécie, de outro modo
de outro modo de ser, ee
de ser,
são por
são por nós
nós tratadas
tratadas no no livro
livro “A Sabedoria das
"A Sabedoria Leis”, obra
das Leis", obra pos-pos­
térior aa esta.
terior esta.


— 890
80 ——
CAP.
CAP. VI
VI

OS PRINCIPIOS, HEGEL
OS PRINCÍPIOS, HEGEL EE A
A FILOSOFIA
FILOSUFIA MODERNA
MODERNA

Na Ontologia clássica,
Na Ontologia clássica, aa preocupação
preocupação éé estabelecer
estabelecer quais
quais os
os
primeiros princípios
primeiros princípios ontológicos que naturalmente
ontológicos que naturalmente regerão
regerão oo ser
ser
em tôdas
em tôdas as
as suas regiões, e,
suas regiões, e, dêsses princípios, qual
dêsses princípios, qual dêles seria,
dêles seria,
prôpriamente, oo primeiro.
propriamente, primeiro.

O conceito
O conceito de princípio jájá foi
de princípio foi devidamente
devidamente estabelecido na
estabelecido na
parte sintética. £E oo têrmo
parte sintética. têrmo dodo qual
qual algo
algo procede de qualquer
procede de mo-
qualquer mo­
do
do que seja considerado.
que seja considerado. E E primeiro princípio seria
primeiro princípio seria aquêle
aquêle pri-
pri­
meiro
meiro têrmo
têrmo de de onde algo procede
onde algo procede dede qualquer
qualquer modo.
modo.

Podemos
Podemos falar em princípios,
falar em princípios, sem
sem necessidade
necessidade de
de analisar-
analisar­
mos oo que
mos que éé oo princípio, porque já
princípio, porque já oo estudamos exaustivamente.
estudamos exaustivamente.

Podemos falar em
Podemos falar em princípios
princípios lógicos
lógicos ee princípios metafísicos.
princípios metafísicos.
Os princípios
Os princípios lógicos
lógicos sãosão cognições
cognições das das quais
quais aa mente,
mente, guiada
guiada por por
éles, chega
êles, chega àà cognição
cognição de alguma coisa,
de alguma coisa. São São noções
noções ou proposi-
ou proposi­
ções, que
ções, que permitam,
permitam, então,então, daí tirar inferências,
daí tirar inferências, etc.etc. Assim, os
Assim, os
postulados da
postulados Matemática, são
da Matemática, também chamados
são também princípios, ee os
chamados princípios, os
princípios metafísicos
princípios metafísicos são são aquêles
aquêles que que pertencem
pertencem àà ordem ordem onto­onto-
lógica; são
lógica; são aquêles
aquêles queque regem
regem as as coisas
coisas enquanto coisas, que
enquanto coisas, que re-re­
gem aa rere enquanto
gem enquanto re, re, aquêles
aquêles queque indicam
indicam oo têrmo
têrmo de onde as
de onde as
coisas procedem.
coisas Podemos, pois,
procedem. Podemos, pois, falar em princípio
falar em princípio de ser, po-
de ser, po­
demos falar
demos falar em princípio de
em princípio existir. Mas
de existir. Mas outro conceito também
outro conceito também
importante
importante para nós éé o
para nós o dede lei;
lei; aa lei
lei sempre expressa aa generali-
sempre expressa generali­
dade das
dade relações necessárias
das relações necessárias entreentre asas coisas,
coisas, segundo
segundo também também
essas condições
essas condições necessárias.
necessárias. Os Os princípios,
princípios, por exemplo, ontoló­
por exemplo, ontoló-
gicos, também
gicos, também podemos
podemos considerar
considerar como como leis
leis do
do ente, como êsses
ente, como êsses

— gi —
81 —
principios ontológicos
princípios podemos considerar
ontológicos podemos considerar também
também comocomo leis
leis da
da
Lógica, porque
Lógica, porque regem essas relações,
regem essas relações, constituem
constituem aa iegra,
iegra, aa norma,
norma, o o
nomos,
nomos, que rege essas
que rege essas relações.
relações.

OO conceito
conceito de de nomos
nomos na Matese, refere-se,
na Matese, refere-se, timbém,
timbém, àà DikhêDikhê
dos gregos;
dos gregos; nomos,
nomos, em em grego,
grego, éé lei,
lei, como
como Dikhi
Dikhê também
também éé lei. lei.
De maneira
De maneira que que aa leilei éé oo império
império da da Dikhê,
Dikhê, aa sua sua regência;
regência; se­se-
fia, prôpriamente, aa regência
ria, propriamente, regência invariante
invariante do do princípio,
principio, ou ou oo impé­
impé-
rio invariante do
rio invariante do principio,
princípio, que que rege,
rege, naturalmente,
naturalmente, uma uma série
série dede
relações
relações ee de condições necessárias
de condições necessárias das das coisas.
coisas. Os Os princípios,
princípios, co- co­
mo
mo estudamos
estudamos na na Matese,
Matese, sãosão divididos
divididos em em quatrc espécies: a)a) osos
quatrc espécies:
primeiros
primeiros princípios
princípios de de tôdas
tôdas asas coisas,
coisas, que que são
são osàs logoi
Jogo; arkhai,
arkhai,
entre
entre êlesêles oo primeiro
primeiro de todos, oo Hen
de todos, Hen Prote,
Prote, oo HenHen Denlera,
Dentera, osos
pantes logoi,
pantes logoi, osos primeiros
primeiros principios,
princípios, os nomoi, que
os nomoi, que decorrem
decorrem daí,daí,
matéria
matéria que que sósó posteriormente
posteriormente poderemos
poderemos estudarestudar na na “Sabedoria
"Sabedoria
das Leis”, ee que
das Leis”, que corresponde
corresponde também
também àà Teodicéia
Teodicéia cristã.
cristã. Temos,
Temos,
b) após
b) êsses princípios,
após êsses princípios, êsses
êsses arkhai,
arkhai, osos eide
eide arkhai,
arkhai, que que são
são asas
idéias eternas
idéias eternas de de Platão,
Platão, asas idéias
idéias exemplares
exemplares de de Sto.
Sto. Agostinho,
Agostinho,
os eide
os eide arkhai
arkhai dos dos pitagóricos,
pitagóricos, que que podem
podem ser ser tomados
tomados na sua
na sua
exemplaridade, arquétipos
exemplaridade, fundamentais. Temos,
arquétipos fundamentais. Temos, c), c), osos arithmoi
arithmo:
arkhai, que
arkhai, que são
são os os eide
eide skhematikoi,
skhemalikoi, as as formas
formas esquemáticas,
esquemáticas, aque: aque^
las que permitem
las que permitem aa participação,
participação, aa metéxis
metéxis ee aa minesis,
mhiesis, das quais
das quais
já tratamos
já tratamos ee volveremos
volveremos ainda ainda aa tratar.
tratar.

E finalmente
E finalmente d) d) temos
temos o o princípio
princípio queque éé ês:e
êse da definição
da definição
clássica,
clássica, queque éé oo têrmo
têrmo do do qual
qual procede
procede alguma coisa de
alguma coisa de qualquer
qualquer
modo,
modo, que que éé oo início
início dasdas coisas,
coisas, que
que éé oo início
início tomado
tomado no no seu
seu
sentido
sentido generalizado, universalizado, que
generalizado, universalizado, que éé oo principio
principio queque encon-
encon­
tramos em
tramos em tudo,
tudo, porque
porque tudo, própriamente, pode
tudo, propriamente, servir de
pode servir de prin-
prin­
cípio para
cípio para alguma
alguma coisa.
coisa. MesmoMesmo àsàs vêzes
vêzes aquilo
aquilo queque éé o o têrmo
têrmo
final, pode
final, pode ser
ser oo início
início ou ou o o princípio
princípio de de outra
outra coisa.
coisa. E E isto
isto ape-
ape­
nas éé uma
nas uma preparação
preparação para para entrarmos
entrarmos na na matéria
matéria queque vamos
vamos ana-
ana­
lisar agora,
lisar segundo a
agora, segundo a filosofia clássica, para
filosofia clássica, para depois
depois podermos,
podermos, na na
parte concreta,
parte concreta, não retornando aa essas
não retornando essas análises,
análises, entrarmos,
entrarmos, então,
então,
na justificação
na justificação da da concepção
concepção matética
matética da filosofiz concreta,
da filosofia concreta, queque
será exposta através
será exposta através de teses, com
de teses, com aa sua
sua demonstração
demonstração apodítica.
apodítica.
Os três princípios
Os três que comumente
princípios que comumente são
são dados
dados como os primei­
como os primei-
ros
ros princípios
princípios ontológicos
ontológicos pela
pela filosofia clássica são
filosofia clássica So oo princípio
princípio
— 82 —
— 82 —
dede identidade,
identidade, que
que enuncia
enuncia aa identidade
identidade do
do ente consigo mesmo,
ente consigo mesmo,
oo princípio
princípio de de contradição,
contradição, ou ou melhor
melhor de não-contradição, que
de nlo-contradição, que
enuncia
enuncia aa oposição
oposição irreductível
isreductível entre
entre oo ente
ente ee oo nibilum,
nibilum, (o
(o nada),
nada),
ee o
o princípio
principio do terceiro excluído,
do terceiro excluído, que
que enuncia
enuncia queque não
não se dá um
se dá um
medium entre Oo ens
medi/im entre ens ee oO nibilum,
nibilum, entre
entre Oo ser
ser ee oo nada,
nada.

OO estudo dêsses três


estudo dêsses princípios interessam-nos
três piincípios interessam-nos naturalmente,
naturalmente
aqui, nessa
aqui, nessa parte
parte analítica, mas oo problema,
analítica, ir.as problema, que se apresenta
que se apresenta erri
em
primeiro lugar
primeiro lugar éé saber
saber qual
qual dêsses
dêsses princípios
princípios éé oo primeiro,
primeiro. OO
princípio
princípio dede identidade;
identidade; queque éé enunciado
enunciado comumente
comumente dêste
dêste modo:
modo:
“ems é ens”, “o ser é ser”, “o que é, é”, “tudo o que é, é o que é",
"em é enr, "o ser é ser”, “o que é, é”, "tudo o que é, é o que é”,
enuncia, portanto, aa identidade
enuncia, portanto, identidade do ente consigo
do ente mesmo, éé um:
consigo mesmo, uma
lei do ente
lei do enquanto ente.
ente enquanto ente.

Naturalmente se refere
Naturalmente se refere ai um
um ente
ente em
em geral, porque afirm:
geral, porque afirmi
que todo ee qualquer
que todo qualquer ente
ente éé oo que
que é;é; portanto,
portanto, éé transcendental,
transcendental,
porque toma oo ente
porque toma ente transcendentalmente.
transcendentalmente. ÉE também considerado
também considerado
uma verdade
uma que captamos
verdade que pela nossa
captamos pela nossa experiência, porque realmen­
experiência, porque realmen-
te verificamos
te verificamos que
que oo ente
ente éé ente, que Pedro
ente, que Pedro éé Pedro, que essa
Pedro, que ca-
essa ca­
deira éé essa
deia essa cadeira, que essa
cadeira, que essa casa
casa éé essa casa; éé um
essa casa; um facto,
facto, éé al-
al­
guma coisa
guma que também
coisa que também se se di
di fâcticamente
fàcticamente para nós. £E alguma
para nós. alguma
coisa que
coisa observamos, que
que observamos, captamos, sôbre
que captamos, sôbre aa qual podemos pen­
qual podemos pen-
sar,
sar, mas também podemos
mas também podemos experimentar.
experimentar.

OO princípio
princípio de
de contradição enuncia-se de
contradição enuncia-se de vários
vários modos,
modos, co-
co­
mo:
mo: “ente, enquanto ente,
"ente, enquanto ente, rão
r.ão pode ser não-ente”,
pode ser não-ente”, “ente
"ente não
não
pode ser simultâneamente
pode ser não-ente”, “é
simultaneamente não-ente", impossível que,
"é impossível simultã-
que, simulta­
neamente, o
neamente, O ser
ser seja
seja ser
ser ee não-ser";
não-ser”; ou, então, também
ou, então, êsse outro
também êsse outro
enunciado:
enunciado: "o“o ser
ser que
que é,é, éé oo que
que é,
é, ee não pode ser
não pode o que
ser o não é,
que não é,
porque
porque éé oo que
que é”,é”, também
também éé uma uma fórmula mais reduplicativa
fórmula mais reduplicativa de de
enunciar
enunciar oo princípio
princípio de de contradição,
contradição, ou ou tambm chamado de
tambm chamado de prin­
pria-
cípio
cípio de
de não-contradição.
não-contradição.

À forma
A forma mais
mais simples
simples éé esta:
esta: “o
"o ente
ente não
não éé não-ente",
não-ente”, quer
quer
dizer, o
dizer, o ente não pode
ente não pode ser
ser não-ente,
não-ente, oo ente afirmado não
ente afirmado não pode
pode
ser simultâneamente ee sob
ser simultaneamente sob o o mesmo
mesmo aspecto
aspecto negado.
negado. Mas,
Mas, nana
verdade,
verdade, o o princípio
princípio de contracição pode
de contracição pode reduzir-se
reduzir-se melhor
melhor ao se,
ao se-,
guinte: "o
guinte: “o que
que se
se afirma
afirma dada posse
posse de alguma coisa,
de alguma não pode,
coisa, não pode, sir
sii
multâneamente,
multâneamente, ee sob sob oo mestro aspecto, afirmar
mesrr.o aspecto, afirmar aa sua
sua carência

— 83 —
ou aà sua
ou sua ausência, ou aa sua
ausência, ou sua privação",
privação”, que
que também
também expressaria bem
expressaria bem
o princípio
o princípio dede não-contradição.
não-contradição.

Há uma série
Há uma série de críticas, que
de críticas, tivemos oportunidade
que tivemos oportunidade de de ver
ver
na parte
na parte sintética, feitas por
sintética, feitas Kant aa êsse
por Kant êsse princípio
princípio de não-contra-
de não-contra­
dição
dição aa respeito
respeito dede que êsse “simul”
que êsse 'simul" significa o aspecto
significa o aspecto temporal,
temporal,
“sob
"sob o o mesmo
mesmo aspecto” significaria aa parte
aspecto” significaria parte mais
mais espacial.
espacial. Já Já
respondemos aa isso
respondemos isso devidamente,
devidamente, não não háhá mais necessidade de
mais necessidade de tra­
tra-
tar. Vamos, portanto,
tar. Vamos, portanto, prosseguir
prosseguir na análise dêstes
na análise dêstes princípios.
princípios.

O princípio
O princípio dede não-contradição
não-contradição é,é, entretanto,
entretanto, como
como oo prin­
prin-
cípio
cípio dede identidade,
identidade, combatido
combatido por por muitos filósofos modernos.
muitos filósofos modernos.
Oportunamente,
Oportunamente, vamos vamos ver ver as
as críticas que Descoqs
críticas que Descogs faz faz aa êsses
êsses
gutores modernos, inclusive
autores modernos, inclusive aa antigos, como Heráclito,
antigos, como Heráclito, queque pare­
pare-
cem
cem enunciar
enunciar de de maneira
maneira maismais ou
ou menos
menos respeitável,
respeitável, argumentos
argumentos
-ontra o
■rontra o princípio
princípio dede identidade
identidade ee de não-contradição.
de não-contradição.

Hã necessidade
Há necessidade de de nãc
nãc esquecermos uma distinção
esquecermos uma que osos
distinção que
ascolásticos fizeram,
escolásticos fizeram, ee dede muito
muito valor, quanto ao
valor, quanto ao predicado
predicado ente,
ente,
ser, que
ser, que se deve distinguir
se deve quando tomado
distinguir quando tomado participialiter, partici-
participialiter, partici-
pialmente, ee o
pialmente, o ente
ente tomado
tomado nominaliter, tomado nominalmente.
nommaliter, tomado nominalmente.

O ente
O ente participialiter
parsicipialiter éé oo ente em acto
ente em acto existente
existente (ix
( in actu exer-
acltt exer-
citu ), enquanto
citu), enquanto queque o o ente nominaliter éé oo ente
ente nominditer que pode
ente que pode existir,
existir,
(in actu sign
(in acta signato), de maneira
atoj, de maneira que
que oo ente
ente participialiter
participialiter refere-se
refere-se
mais àà existência
mais existência emem acto, enquanto que
acto, enquanto que oo nommaliter
nominaliter refere-se
refere-se
mais
mais àà essência
essência dêsse
dêsse ser.
ser.

Essas duas
Essas duas maneiras
maneiras ce distinguir oo ente
ce distinguir ente são
são importantes
importantes
porque, as discussões
porque, as discussões que ainda vamos
que ainda vamos reexaminar em tôrno
reexaminar em tôrno da
da
analogia, fundam-se
analogia, nessa distinção
fundam-se nessa distinção que facilita compreender
que facilita compreender cer­
cer-
tas dificuldades,
tas porque às
dificuldades, porque às vêzes
vêzes oo ente
ente éé tomado
tomado em sentido
em sentido
participialiter, ee outras
participialiter, vêzes éé tomado
outras vêzes tomado emem sentido
sentido nominalter.
nommaliter.

Então aa univocidade
Então participialiter éé uma
univocidade participialiter uma coisa,
coisa, ee aa univoci-
univoci-
dade nominaliter é outra, o que leva a certas confusões que
dade nominaliter é outra, o que leva a certas confusões que alguns
alguns
filósofos praticaram.
filósofos praticaram.
Antes de
Antes de examinarmos
examinarmos as as críticas
críticas aa êsses princípios, vejamos
êsses princípios, vejamos
oo princípio
princípio do
do terceiro
terceiro excluído,
excluído, queque éé oo seguinte: “alguma coisa
seguinte: "alguma coisa
ou
ou éé ou
ou não
não é”,
é”, “qualquer coisa ou
"qualquer coisa ou éé ou
ou não
não é,é. “entre
"entre ser
ser ee não-
não-
— 84 —
se, sob o
se:, sob o mesmo
mesmo aspecto,
aspecto, não
não pode
pode dar-se
dar-se um terceiro”.
um terceiro”. Este
Êste
ptincípio pode,
princípio pode, sob
sobo o aspecto
aspecto lógico,
lógico, ser
ser enunciado
enunciado assim:
assim: “qual-
"qual­
qrer coisa
quer coisa dede qualquer coisa ou
qualquer coisa ou éé afirmado
afirmado ou
ou éé negado”,
negado”, "não“não sese
púde afirmar ee negar
pode afirmar negar o o mesmo
mesmo do do mesmo, segundo oo mesmo
mesmo, segundo mesmo as­ as-
pecto”. Essas
pecto”. Essas são as maneiras
são as maneiras de de enunciar Este princípio.
enunciar êste princípio.

Esses princípios são


Êsses princípios são não sômente princípios
não somente princípios ontológicos,
ontológicos, mas mas
tanbém princípios
tannbém princípios lógicos,
lógicos, porque
porque êles
êles não só são
não só são válidos dentro
válidos dentro
di Ontologia
da Ontologia comocomo emem tódas
tôdas asas outras
outras regiões, que estão
regiões, que estão subordi­
subordi-
nidas aa ela.
nadas ela. De forma que
De forma que são
são válidos
válidos em todo ee qualquer
em todo qualquer âm- âm­
bio do
bito do conhecimento humano. Não
conhecimento humano. Não éé possível
possível que êsses princí­
que êsses princi-
pios valessem,
pios valessem, porpor exemplo,
exemplo, apenas
apenas nono campo
campo da da Ontologia,
Ontologia, ee não não
valessem no
valessem no campo
campo dada Ética.
Ética. Êles
Eles são
são válidos
válidos em todos os
em todos os cam-
cam­
pos, ee com
pos, com o o mesmo
mesmo enunciado
enunciado são são válidos
válidos no campo lógico.
no campo lógico.

Quanto 20ao aspecto


Quanto aspecto psicológico
psicológico da formação, da
da formação, da psicogênese
psicogênese
déstes princípios,
distes princípios, deixamos
deixamos aa matéria
matéria para
para o o nosso “Sabedoria da
nosso "Sabedoria da
Esquematologia”, porque tôda
Esquematologia", porque essa parte,
tôda essa parte, da da ideogênese,
ideogênese, da da noogê-
noogê-
nese, da
nese, da psicogênese,
psicogênese, dodo desenvolvimento
desenvolvimento das das idéias,
idéias, dada parte
parte evo-
evo­
lutiva, deixamos
lutiva, deixamos para
para aquela obra que
aquela obra que faz parte da
faz parte da Matese, mas
Matese, mas
que éé estudada
qne estudada como
como umauma disciplina isolada.
disciplina isolada. Aí discutiremos as
Aí discutiremos as
origens psicológicas
oiigens psicológicas ee osos fundamentos
fundamentos dêsses
dêsses princípios.
princípios. Em Em Fi-
Fi-
losofia Concreta
lcsofia Concreta tratamos
tratamos dêsses
dêsses princípios
princípios como como primeiros
primeiros emem
sentido ontológico ee não
sentido ontológico não tomados
tomados do do ângulo
ângulo psicológico.
psicológico.

Vimos ali,
Vimos ali, no desenvolvimento das
no desenvolvimento das teses da Filosofia
teses da Con-
Filosofia Con­
creta,
creta, que chegamos ao
que chegamos ao principio
princípio dede contradição,
contradição, aoao princípio
princípio dede
icentidade
icentidade ee do do terceiro excluído, como
terceiro excluído, como uma uma consequência rigoro-
consequência rigoro­
s: das
sa das teses
teses demonstradas.
demonstradas. Não Não partimos
partimos dêles
dêles para
para demonstrar
demonstrar
as teses,
as teses, pois
pois oferecemos
oferecemos fundamento
fundamento aà êsses princípios. Dêste
êsses princípios. Dêste
rodo, procedemos
ir.odo, procedemos completamente
completamente de de modo
modo distinto do que
distinto do que sese
procede fregientemente
procede freqüentemente em em que se admite
que se que êsses
admite que princípios são
êsses princípios são
per se
per se notas,
notas, e,e, portanto,
portanto, desnecessitam
desnecessitam de de demonstração.
demonstração. Na Na Fi-
F i­
losofia Concreta,
losofia Concreta, fizemos
fizemos o o contrário
contrário preferimos
preferimos oferecer
oferecer aa de­
de-
monstração dos
monstração dos mesmos.
mesmos.

Em tôrno
Em tôrno dêste
dêste problema
problema temos
temos as
as seguintes
seguintes posições:
posições: 1.*)
1.2) aa
daqueles filósofos
daqueles filósofos que negam terminantemente
que negam terminantemente qualquer valor aa
qualquer valor
— 8gs—
— 85 —
êsses princípios,
êsses como Heráclito,
princípios, como Heráclito, Bergson, L> Roys,
Bergson, L: Roys, ee Hegel,
Hegel, so-
so­
bretudo, que
bretudo, que éé modernamente
modernamente tãotão manejado;
manejado;

22.º)“) —— aquêles
aquêles filósofos
filósofos que
que sese colocam
colocam na na aceitação
aceitação dêsses
dêsses
princípios. Dêstes,
princípios. Dêstes, unsuns estabelecem que o
estabelecem que o primeiro
prineiro éé o o de
de iden-
iden­
tidade, como
tidade, Zigliara, Mercier,
como Zigliara, Mercier, Maritain, Hugon, etc.;
Maritain, Hugon, etc.; outros,
outros, co-co­
mo Aristóteles,
mo Aristóteles, São São Tomás
Tomás ee aa maioria
maioria dos
dos escolásticos,
escolásticos, cue
cue o0 pri­
pri-
meiro princípio éé o
meiro princípio o princípio
princípio de
de contradição,
contradição, 010 1 de
de não-contradi-
não-contradi-
ção;
ção; ee finalmente
finalmente outros, como Fonseca,
outros, como Fonseca, dede que
que o o primeiro prin-
primeiro prin­
cípio
cípio éé o o do
do terceiro
terceiro excluído.
excluído.

Os
Os que
que aceitam
aceitam que seja oo primeiro
que seja princípio oo de
primeiro princípio identidade,
de identidade,
ee que defendem esta
que defendem esta posição,
posição, alegam:
alegam: OO raehor melior enunciado
enunciado do do
princípio
princípio de de identidade
identidade "o “o que
que é, é, éé oo que
que é",
é”, “o'o que
que nio
nio éé, éé oo
que
que não
não é",é”, consideram
consideram que que os os seus
seus têrmos
têrmos são são limplicíssimos,
simplicissimos, são sío
evidentes, tão
evidentes, claros, que
tão claros, que sese impõem
impõem àà nossa nossa mente
mente intuitivamente,
intuitivamente,
como uma
como uma verdade
verdade sôbre
sôbre aa qual
qual nãonão podemo:
podemo: de de modo algum
modo algum
duvidar.
duvidar.

Os
Os que
que defendem
defendem aa tesetese de
de que
que o o principio
principio primeiro
primeiro éé oo de
de
não-contradição,
não-contradição, como
como Aristóteles
Aristóteles ee São
São Tonáí,
Tomás, dizem
dizem que tóda
que tôda
demonstração,
demonstração, no no final
final dede contas,
contas, tem
tem de se :ecuzir
de se recuzir àà não-contra-
não-contra­
dição. De
dição. forma que
De forma que se se tôda demonstração exige
tôda demonstração exige aa não-contra-
não-contra­
dição
dição para
para chepar ao seu
chegar ao seu enunciado
enunciado definitivo, então, sem
definitivo, então, sem dúvida
dúvida
alguma,
alguma, éé o O princípio
princípio de de contradição
contradição o o primeiro.
primeiro.

Fonseca, alegando
Fonseca, alegando que
que éé o
o terceiro excluído, diz
terceiro excluído, diz oo seguinte:
seguinte:
de qualquer coisa,
de qualquer coisa, verdadeiramente,
verdadeiramente, ouou sese afiimr
afirme ou
ou sese nega
nega algo.
algo.
AA afirmação
afirmação éé verdadeira
verdadeira ou ou aa afirmação
afirmação éé falsa;
falsa; não
não há meio
há meio
têrmo
têrmo entre
entre aa verdade
verdade ee aa falsidade.
falsidade. O O que
que s>s í afirma
afirma de de qual­
qual-
quer
quer coisa,
coisa, ouou éé verdadeiro
verdadeiro ou ou éé falso.
falso. OO princípio
princípio dede contradi­
contradi-
ção não
ção pode ser
não pode ser oo primeiro,
primeiro, dizdiz êle, porque êste
êle, porque êse princípio
princípio éé ne­ ne-
gativo.
gativo. AliásAliás êsse
êsse argumento
argumento de de Fonseca
Fonseca não
não éé bom,
bom, ee osos tomis-
tormnis-
tas rebatem-no
tas rebatem-no muito bem, mas
muito bem, mas oo segundo
segundo argumento
argumento dêledêle éé mais
mais
sério, quando
sério, quando diz:diz: éé aa êste
êste princípio
princípio ee aà nenhum
nenhum outro
outro que temos
que temos
de apelar
de apelar em tôdas as
em tôdas as demonstrações.
demonstrações. Sim, Sim, re:lmente,
redmente, em em tôdas
tôdas
as demonstrações,
as demonstrações, temos temos de de chegar
chegar àà impossibilidade
impossibilidade de de um um me-mé­
dium, de
dium, de umum intermédio
intermédio entre
entre aa verdade
verdade ee aa fa.sidade,
fasidade, €eprecisa-
precisa­
mente
mente êsteêste intermédio
intermédio temtem de,
de, necessáriamente,
necessàriamente, dizer que o
dizer que o que
que

— 86
— 86 —

se enuncia
se enuncia éé verdadeiro
verdadeiro ou ou falso.
falso. Não
Não háhá nenhum erunciado hu­
nenhum er.unciado hu-
mano
mano queque não seja verdadeiro
não seja verdadeiro ou ou falso,
falso, desde
desde oo momento
momento que seja
que seja
um juízo ee não
um juízo uma mera
náo uma mera proposição.
proposição. E quando
E quando sese trata do ente,
trata do ente,
quando
quando se se trata
trata de algo positivo
de algo positivo que
que alcançamos,
alcançamos, ou ou éé positivo
positivo
ou não
ou não éé positivo,
positivo, ou
ou éé afirmativo
afirmativo oucu não
não éé afirmativo.
afirmativo.

Não há
Não há também
também meio-têrmo
meiotêrmo entre entre oo serser ee oo nada.
nada. Esta éa
Esta é a
razão
razão fundamental
fundamental por por queque Fonseca,
Fonseci conclui
conclui que que o o princípio
princípio do do
terceiro excluido éé precisamente
terceiro excluído precisamente o o >rimeiro
arimeiro ee fundamental
fundamental prin­ prin-
cípio
cípio da da Ontologia,
Ontologia, oo que que não não querquer dizer
dizer queque psicclôgicamente
psicclogicamente
Oo seja,
seja, que
que éé outra
outra coisa, pois, infelizmente
coisa, pois, infelizmente alguns filósofos ta-
alguns filósofos fa­
zem
zem confusão
confusão entre entre o o psicológico
psicológico ee oo ontológico.
ontológico. Que psicolô-
Que psicolo­
gicamente
gicamente oo homem homem chegachega aa um princípio ou
um princípio ou outro
outro em em primeiro
primeiro
lugar, antes dede ckegar
lugar, antes chegar ao segundo ou
ao segundo ou ao terceiro, éé um
ao terceiro, assunto
um assunto
discutível na
discutível na Psicologia.
Psicologia. A A psicogénese
psicogénese de de um um conceito
conceito não não éé o o
principal.
principal. Na Na Ontologia
Ontologia toma-setoma-se co conceito,
conceito, não não sobsob oo aspecto
aspecto
psicogenético,
psicogenético, mas mas sob
sob oo seu seu aspectc
aspectc precisivo.
precisivo. Este Êste éé um um ponto
ponto
importante que
importante que leva
leva aa certas confusões, de
certas confusões, de alguns
alguns que que partem
partem da da
Psicologie, para
Psicologia, para quererem intervir na
quererem intervir na Ontologia,
Ontologia, ee de de outros
outros queque
partem
partem di di Ontologia
Ontologia para para quererem intervir na
quererert intervir na Psicologia.
Psicologia. São São
campos diferentes,
campos diferentes, irteductiveis
irreductíveis entre entre si,si, njuito
rpuito embora
embora aa Psicolo-
Psicolo­
gia, de
gia, de certo
certo modo,
modo, esteja
esteja subordinada
subordinada àà Ontologia,
Ontologia, rão r.ão quer
quer di­di-
zes com
zes com issoisso que
que ela
ela funcione
funcione apen:s ontolôgicamente.
apenas ontològicamente. Ela fun­
Ela fun-
ciona psicolôgicamente,
ciona psicologicamente, com com as as naturais
naturais deficiências
deficiências do do psiquismo
psiquismo
humano, ee seguindo
humano, seguindo aa ordemordem evoluiiva
evolu:iva ee progressiva
progressiva dêsse dêsse mes-
mes­
mo psiquismo,
mo enquanto que,
psiquismo, enquanto que, na na Ontologia,
Ontologia, aa conceituação
conceituação já já éè
dada ab
dada ab initio,
inítio, como formaca ee precisada.
como formaca precisada. Na verdade,
Na verdade, o o homem
homem
não poderia construir
não poderia construir umauma Ontologia
Ontologii antes antes de de construir
construir aa sua sua vi-
vi­
da psíquica. Portanto,
da psíquica. Portanto, já já sese vê
vê perfeitamente
perfeitamente que, como muito
que, como muito
bem
bem diziz
dizia SãoSão Tomás,
Tomás, se se aa Ontologia,
Ontologia, para para ser ser construída
construida psico­
psico-
Jôgicamerte, depende
logicamente, depende da da Esicologia,
Fsicologia. no no campo
campo especulativo
especulativo éé oo
contrário.
contrário.

Não sese deve,


Não deve, porém,
porém, confundir
confundir o o campo
campo especulitivo com oo
especuktivo com
campo prático.
campo prático. Na Na prática,
prática, na
na praxis
praxis humana,
humana, aa Ontologia
Ontologia ééal-
al­
guma coisa
guma coisa que
que éé conquistada
conquistada poster ormente, num
poster ormente, grau mais
num grau mais ele­
ele-
vado do
vado do desenvolvimento
desenvolvimento psíquico
psíquico ee dada inteligência humana, mas
inteligência humana, mas
do ponto
do ponto dede vista
vista especulasivo, então, inverte-se
especulaiivo, então, inverte-se aa ordem;
ordem; aa af-
or*
—— 87 —
87 —
dem especulativa
dem especulativa éé quasequase sempre inversa àà ordem
sempre inversa ordem prática.
prática. No No
campo, por
campo, por exemplo,
exemplo, da da evolução
evolução dodo conhecimento,
conhecimento, da psicologia
da psicologia
evolutiva, naturalmente
evolutiva, naturalmente que que éé inversa,
inversa, mas
mas não
não em em tudo
tudo éé ela in-
ela in­
versa, pois
versa; pois para
para afirmar
afirmar que em tudo
que em tudo ela
ela éé inversa teriamos de
inversa teríamos de
achar uma
achar razão apodítica
uma razão para justificar
apodítica para justificar tal inversão. Mas
tal inversão. Mas infe­
infe-
lizmente, na
lizmente, na Psicologia
Psicologia moderna,
moderna, mistura-se
mistura-se Ontologia
Ontologia com Psico-
com Psico­
logia, com
logia, com Sociologia
Sociologia ee com Economia, ee não
com Economia, não sese compreende
compreende que que
se deve tratar
se deve disso tudo
tratar disso tudo concretamente,
concretamente, mantendo
mantendo as as diferenças
diferenças
ee os
os aspectos
aspectos irreductíveis,
irreductíveis, aa fim
fim dede evitar
evitar asas confusões.
confusões. O O re­re-
sultado
sultado éé uma
uma argumentação
argumentação mal fundada para
mal fundada para justificar teses que
justificar teses que
não
não podem
podem manter-se, senão ante
manter-se, senão ante osos que
que não
não estão
estão devidamente
devidamente
preparados para
preparados perceber os
para perceber defeitos que
os defeitos que elas
elas possuem.
possuem.

Aquêle que
Aquêle que aceita
aceita que
que uma
uma dessas
dessas leis
leis (dêsses princípios) éé
(dêsses princípios)
aa primeira,
primeira, estabelece
estabelece queque éé aa suprema
suprema lei lei do
do ente,
ente, aa suprema
suprema lei lei
do ser.
do ser. Esta lei,
Esta lei, para
para Aristóteles,
Aristóteles, éé não
não ser contraditório consigo
ser contraditório consigo
mesmo;
mesmo; aa suprema
suprema lei do ser,
lei do ser, por
por exemplo
exemplo para para Mercier
Mercier ou Vil-
ou Vil-
liard éé de
liard de ser idêntico aa sisi mesmo,
ser idêntico mesmo, ee aa suprema
suprema lei para Fonseca
lei para Fonseca éé
de que
de que oo enteente ouou éé ente ou não
ente ou não éé ente.
ente. Então, neste caso,
Então, neste verifi-
caso, verifi­
camos que
camos que asas três
três leis
leis são uma só.
são uma só. No No fundo
fundo são são uma
uma só,
só, ee re­
re-
duzem-se aa um
duzem-se um princípio
princípio matético
matético muito
muito simples,
simples, que que éé o o prin-
prin­
cípio
cípio da da afirmação
afirmação ee da negação, primeira
da negação, primeira lei,lei, que
que éé oo logos
lopos do do
logos, que
logos, que éé "o“o que
que afirma,
afirma, afirma;
afirma; oo que que nega,
nega, nega”,
nega", “o "o que
que
afirma
afirma não não nega, enquanto afirma,
nega, enquanto afirma, ee oo que
que nega
nega nãonão afirma,
afirma, en-en­
quanto nega”.
quanto nega”.

Este princípio
Êste princípio matético inclui os
matético inclui três, porque
os três, porque da maneira co­
da maneira co-
mo
mo expusemos aqui, que
expusemos aqui, que aa primeira
primeira lei
lei do
do ser, por exemplo,
ser, por para
exemplo, para
Zigliara
Zigliara ee Mercier,
Mercier, éé que
que oo ser
ser éé idêntico
idêntico aa si
si mesmo.
mesmo. AA pri-pri­
meira
meira lei do ser,
lei do ser, para
para Aristóteles
Aristóteles ee São Tomás, éé que
São Tomás, que oo ser
ser não
não
pode ser
pode ser contraditório
contraditório consigo mesmo, ee aa primeira
consigo mesmo, primeira lei
lei do ser
do ser
para Fonseca
para Fonseca éé que
que oo ser
ser não pode simultâneamente
não pode simultâneamente admitir
admitir oo
não-ser:
não-ser: ouou éé ser
ser ou
ou éé não-ser.
não-ser.

Vemos em
Vemos todos êles
em todos êles aa mesma
mesma coisa, por caminhos
coisa, por caminhos apenas
apenas
distintos. Por que
distintos. Por que oo ser
ser éé idêntico
idêntico aa sisi mesmo?
mesmo? Ele
Êle não
não pode
pode
admitir uma contradição, porque se dizemos que êle é idêntico aa
admitir uma contradição, porque se dizemos que êle é idêntico
sisi mesmo, não podemos,
mesmo, não simultâneamente, dizer
podemos, simultâneamente, dizer que éle não
que êle não éé
— 88
— gg —

idêntico
idêntico aa sisi mesmo,
mesmo, porque
porque dissemos
dissemos que
que éé idêntico
idêntico aa sisi mesmo;
mesmo;
eis o princípio
eis o princípio dede não-contradição.
não-contradição.

E por
E que êle
por que êle éé idêntico
idêntico aa si si mesmo?
mesmo? QuandoQuando dizemos
dizemos queque
êle
êle éé idêntico
idêntico aa sisi mesmo,
mesmo, não podemos dizer
não podemos dizer que
que não
não éé idêntico
idêntico
aa ii
ii mesmo,
mesmo, porqueporque dissemos
dissemos que que êle
êle éé idêntico
idêntico aa sisi mesmo,
mesmo, en- en­
tãc nãc
tão nic podemos
podemos de de maneira
maneira alguma,
alguma, admitir
admitir que não seja
que não seja oo que
que
êle é;
êle é; ee também
também temostemos aí aí oo princípio
princípio do do terceiro excluído.
terceiro excluído. Então
Então
tudo isso
tudo isso sese reduz:
reduz: “o que afirma,
"o que afirma, afirma;
afirma; o o que
que nega,
nega, nega”,
nega”, “o"o
que afirma,
que afirma, afirma
afirma o o que
que afirma;
afirma; oo que que nega
nega nega
nega oo que
que nega”,
nega",
“o
"o que
que afirma, afisma o
afirma, afirma O que
que afirma,
afirma, ee nãonão nega
nega oo que
que não
não nega”.
nega".

Todos êsses
Todos êsses enunciados
enunciados decor:em naturalmente dêsse
decorrem naturalmente dêsse primei­
primei-
foro princípio,
princípio, que
que éé oo princípio
princípio da
da afirmação, porque aa própria
afirmação, porque prépria
negação
negaçãc é,é, no
no fundo, uma recusa
fundo, uma recusa de afirmar.
de afirmar. Então
Então chegamos
chegamos ao ao
princípio de
princípio de que
que ouou sese afirma
afirma ou se nega
ou se nega qualquer coisa que
qualquer coisa que sese
afirma
afirma ou ou se
se nega
nega de alguma coisa.
de alguma coisa. De De qualquer coisa que
qualquer coisa que afir-
afir­
ma,
ma, afirma,
afirma, dede qualquer
qualquer coisa
coisa que
que nega,
nega, nega
nega (princípio
(princípio de de iden-
iden-
tidade); qualquer
tida.de); qualquer coisa
coisa que
que afirma,
afirma, afirma,
afirma, portanto
portanto simultânea-
simultanea­
mente não
mente não nega
nega oo que
que afirma,
afirma, ee oo queque nega
nega oo que
que nega simul-
nega simul­
tâneamente não
taneamente não afirma
afirma oo queque nega (princípio de
nega (princípio de não-contradi-
não-contradi-
ção).
çãc).

Os três
Os três princípios
princípios constituem
constituem umum só,
só, provêm
provêm dede umum só,
só, que
que
éé o
o princípio
prircípio matético
matético dede que
que "o“o que
que afirme,
afirma, afirma;
afirma; o o que
que nega,
nega,
nega”.
nega”. No No entanto,
entanto, apesar
apesar de
de chegarmos
chegarmos aa esta
esta simplificação,
simplificação,
existe raturalmente demonstrações
existe naturalmente demonstrações em favor das
em favor diversas teses,
das diversas teses,
demonstrações
demonstrações que temos de
que temos de considerar,
considerar, porque
porque estamos
estamos na parte
na parte
analítica da
analítica Matese.
da Matese.
A posição
A posição de
de Aristóteles
Aristóteles ee São
São Tomás,
Tomás, éé aa da
da aceitação
aceitação de
de
que aa suprema
que suprema lei
lei do
do ser, tanto ontológica
ser, tanto como logicamente,
orhológica como lôgicamente, éé
o princípio
o principio de
de não-contradição,
não-contradição, do qual tudo
do qual mais sese deduz.
tudo mais deduz.
Segundo Suarez,
Segundo Suarez, “de
"de umum só princípio nada
só princípio nada pode
pode ser
ser con-
con-
cluído, como
duído, como consta
consta da
da Dialéctica, porque aa ilação
Dialéctica, porque ilação formal
formal requer
requer
três têrmos, que
três termos, que não podem estar
não podem estar num
num princípio”.
prindpio”. E E conclui
conclui que
que
isto éé deduzido
isto deduzido dodo princípio
princípio dede não-contradição. Portanto, êsse
não-contradição. Portanto, êsse
principio éé fundamental
principio fundamentai para
para tôda
tôda demonstração,
demonstração, ee apresentam
apresentam
os
os defensores
defensores dessa
dessa posição
posição os seguintes argumentos,
os seguintes argumentos, queque oO pri­
pri-
—— 89 —
89 —
meiro
meiro principio
principio tem
tem de
de ter estas características:
ter estas características: 1.º) não fundar-se
1.°) não fundar-se
em nada; não
em nada; não fundar-se
fundar-se emem outro;
outro; 2.º)
2.“) enunciar uma lei
enunciar uma lei funda-
funda­
mental de tôda
mental de tôda ordem
ordem objectiva
objectiva ontológica, e, conseqüentemente,
ontológica, e, consegientemente,
de tôda ordem
de tôda ordem cognoscitiva.
cognescitiva.

Estas são
Estas são as
as condições
condições que deve ter
que deve ter um primeiro princípic;
um primeiro princípic;
não fundar-se
não em outro
fundar-se em outro ee enunciar
enunciar uma
uma lei
lei fundamental
fundamental de de tôda
tôda
ordem objectiva
ordem ou ontológica
objectiva ou ontológica e, e, consegiientemente,
conseqüentemente, de de tôda
tôda or-
or­
dem cognoscitiva.
dem Ora, estas
cognoscitiva. Ora, estas condições
condições oferece
oferece oo princípio
princípio de de
não-contradição, ou
não-contradição, ou dede contradição, como éles
contradição, como êles chamam; então,
chamam; então,
conseguentemente, o
conseqüentemente, o princípio
princípio dede não-contradição
não-contradição éé oo primeiro.
primeiro.

Como prova
Como prova primeiramente
primeiramente aa maior,
maior, queque não
não se
se funda
funda emem
outro? AA maior
outro? maior funda-se
funda-se nono seguinte: pelo primado
seguinte: pelo primado ontológico
ontológico
ee lógico
lógico do
do sentido que éé perguntado
sentido que perguntado na na tese,
tese, éé de ser um
de ser um prin-
prin­
cípio que
cípio não pode
que não pode fundar-se
fundar-se em outro.
em outro. Contudo,
Contudo, não não faz
faz aa
prova de
prova de que
que oo princípio
princípio dede não-contradição
não-contradição não não seja
seja fundado
fundado
em
em outro.
outro.

Da menor
Da menor dizem
dizem oo seguinte:
seguinte: oo princípio
princípio de contradição
de contradição
não
não se
se funda em cutro
funda em princípio, porque
outro princípio, porque oo ente
ente não
não pode ser
pode ser
não-ente, porque o
não-ente, porque o ente
ente ee não-ente
não-ente são
são de
de tal naturezz que
tal natureza mú-
que mu­
tuamente
tuamente sese excluem. Então, estamos
excluem. Então, estamos nono princípio
princípio dodo terceiro
terceiro
excluído,
excluído, demonstram, fundando-se no
demonstram, fundando-se no princípio
princípio dodo terceiro ex-
terceiro ex­
cluído; quer dizer,
cluído; quer dizer, estão
estão fundando
fundando aa demonstração
demonstração da da sua tese
sua tese
no princípio do
no princípio do terceiro
terceiro excluído,
excluído, porque
porque oo argumento
argumento funda
funda­
mental éé êste:
mental êste: que ente ee não-ente
que ente não-ente são
são de tal natureza
de tal natureza que
que mi-
mu­
tuamente se
tuamente se excluem,
excluem, querquer dizer,
dizer, não
não admitem
admitem então um ter­
então um ter-
ceiro têrmc.
ceiro têrme.
4,
Outro
Outro argumento
argumento éé o o seguinte,
seguinte; consta
consta dz têrmos simplicís­
de termos simplicis-
simos, ente
simos, ente ee não-ente,
não-ente, que
que são
são os
os últimos têrmos na
últimos termos na resolução
resolução
de qualquer
de qualquer objecto,
objecto, ee oo que
que dêles
déles enuncia
enuncia éé uma
uma oposição
oposição irre-
irre-
ductível entre
ductível entre ente
ente ee não-ente,
não-ente, que
que não
não tem
tem outra
outra razão
razão a4 prior:
priort
ee mais imediata do
mais imediata do ente.
ente. Fundam-se
Fundam-se numa posição irreductível
numa posição irreductível
entre ente
c-ntre ente ee não-ente,
não-ente, posição
posição que não admite
que não meio têrmo.
admite meio têrmo. Con-Con­
tinuam
tinuam fundando-se no princípio
fundando-se no princípio do terceiro excluído
do terceiro excluído para
para jus-
jus­
tificar
tificar aa tese.
tese.
— 9900 —
— —
Outro argumento éé oo seguinte:
Outro argumento qual éé oo fundamento
seguinte: qual fundamento para
para
que
que oo ente
ente seja ente? £É por
seja ente? por qus
que oo ente
ente não pode ser
não pode simultã-
ser simulta­
neamente
neamente não ente.
não ente. Ora, êsse
Ora, êsse fundamento
fundamento seriaseria necessário,
necessário, ee
então
então chegamos
chegamos àà razãorazão dede que
que o o ente
ente éé ente
ente pela razão de
pela razão de não
não
poder ser
poder ser não-ente.
não-ente. Mas Mas isto
isto não
não éé verdadeiro
verdadeiro por por uma razão
uma razão
muito simples:
muito porque aa nossa
simples: porque primeira apreensão
nossa primeira apreensão éé sempre
sempre po­po-
sitiva,
sitiva, éé sempre afirmativa, oo que
sempre afirmativa, que captamos
captamos de de umum ente,
ente, primei-
primei­
ramente,
ramente, não não éé que
que êle
éle não
não pode
pode serser não-ente, pois não
não-ente, pois não sese pode
pode
dizer
dizer queque êle
êle éé não-ente
não-ente justamente porque êle
justamente porque êle éé ente. Então,
ente. Entao,
neste caso,
neste caso, estaria
estaria emem muito
muito mais
mais razão
razão oo princípio
princípio dede identidace,
identidace,
porque tôda
porque tôda aa nossa
nossa captação
captação éé afirmativa.
afirmativa.
É£ oo argumento
argumento de de Fonseca
Fonseca que restringe oo argumento
que restringe argumento de de
Aristóteles ee São
Aristóteles São Tomás.
Tomás. Ele
Êle aiz: não, aa primeira
diz: não, primeira apreciação
apreciação
nossa éé aa captação
nossa captação do do ente; captamos êste
ente; captamos êste ente, aquêle ente,
ente, aquêle ente, aquêle
aquêle
outro; tôda
outro; tôda nossa captação, psicologicamente,
nossa captação, psicológicamente, éé assim:assim: primesro
primeiro
éa parte afirmativa.
é a parte afirmativa. Então, Então, neste caso, oo primeiro
neste caso, princípio seria
primeiro princípio setia
o princípio
o princípio de de identidade.
identidade. Para que
Para que êleêle provasse
provasse queque necessá-
necessa­
riamente,
riamente, o o princípio
princípio só só tivesse
tivesse fundamento primeiro na
fundamento primeiro na verifica-
verifica­
ção de
ção de que
que o o que
que éé não pode simultâneamente
não pode simultâneamence ee sob sob oo mesmo
mesmo aspec-
aspec­
to, não ser
to, não ser o o que
que é,é, teria
teria de
de provar,
prover, então,
então, que
que aa negação
negação precede
precede
àà afirmação.
afirmação. Este argumento,
Êste argumento, portanto,
portanto, nãonão satisfaz
satisfaz plenamente,
plenamente,
mas
mas éé um um argumento
argumento poderoso.
poderoso. Quer
Quer dizer,
dizer, pelo
pelo menos essas
menos essas
provas
provas apresentadas
apresentadas por por tomistas
tomistas nãonão sãosão suficientes.
suficientes.

Ademais, também, poder-se-ia


Ademais, também, poder-se-ia dizer
dizer que
que para
para chegar
chegar àà con­
con-
clusão de
clusão de que
que oo ente
ente éé ente,
ente, porque
porque não
não éé não-ente,
não-ente, temos
temos de
de ex-
ex­
cluir, simultâneamente, aa possibilidade
cluir, simultâneamente, possibilidade dede não ser ente
não ser ente enquanto
enquanto
éé ente.
ente. Então nesse caso,
Então nesse caso, também
também exigiria
exigiria oo princípio
princípio do
do terceiro
terceiro
excluído.
excluído.
Vemos,
Vemos, assim,
assim, queque essas
essas demonstrações tôdas, de
demonstrações tôdas, tôdas as
de tôdas as
três posições, estão
três posições, estão sempre,
sempre, necessáriamente, exigindo aa presença
necessariamente, exigindo presença
do outro
do outro princípio
princípio queque êlesêles querem
querem pôrpôr como
como secundário.
secundário. Ora, Ora,
se éé secundário,
se secundário, não não éé êle
êle oo fundamento
fundamento do do que
que éé primário.
primário. Mas
Mas
estamos vendo
estamos vendo que que êles
êles são simultâneos.
são simultâneos. Se
Se aa nossa
nossa mente
mente che-
che­
ga àa um
ga um ouou outro,
outro, no no âmbito
âmbito psicológico,
psicológico, primâriamente
primàriamente ouou:se-se­
cundâriamente, notamos
cundariamente, notamos que que todos
todos estão
estão defendendo
defendendo oo princípio
princípio
de oo que
de que afirma,
afirma, afirma;
afirma; oo que que nega,
nega, nega”, que éé oo princípio
nega”, que princípio

— gl
91 —

matético,
matético, princípio
princípio primeiro
primeiro de onde decorrem
de onde decorrem êsses
êsses outros prin-
outros prin­
cípios, como ilações
cípios, como tiradas do
ilações tiradas do primeiro
primeiro princípio.
princípio.
Apresentam ainda, mais
Apresentam ainda, mais adiante,
adiante, outro
outro argumento de que
argumento de que
êsse princípio enuncia
êsse princípio enuncia aa lei fundamental de
lei fundamental de tôda
tôda ordem cognos-
ordem cognos-
citiva,
citiva, quer
quer dizer; primeiro afirmam
dizer; primeiro afirmam que não se
que não se funda
funda no prin-
no prin­
cípio
cípio de identidade, oo que
de identidade, não prova
que não prova suficientemente;
suficientemente; no
no outro
outro
argumento
argumento desta segunda parte,
desta segunda parte, afirmam que enuncia
afirmam que enuncia aa lei
lei fun­
fun-
damental de tôda
damental de tôda ordem
ordem objectiva.
objectiva. E E acrescenta: porque oo que
acrescenta: porque que
quer
quer que seja objecto,
que seja objecto, enquanto
enquanto se dá ee tem
se dá tem consistência
consistência ontoló­
ontoló-
gica, simultaneamente
gica, simultâneamente nãonão pode
pode não-ser,
não-ser, do
do contrário,
contrário, o
o simul-
simul­
tâneo, que
tâneo, que fôsse
fôsse colocado,
colocado, desapareceria
desapareceria ee não
não permaneceria
permaneceria nada.
nada.

Assim,
Assim, se simultâneamente Deus
se simultaneamente Deus existe,
existe, ee Deus
Deus não não existe,
existe,
não permaneceria
não permaneceria nada nada de Deus. De
de Deus. De igual
igual modo,
modo, se se aa virtude
virtude
pode não
pode não ser
ser virtude,
virtude, enquanto
enquanto éé vinude,
virude, ee o o vício não ser
vício não vício,
ser vício,
anquanto éé vício,
anquanto vício, oo homem
homem não não éé homem,
homem, enquanto
enquanto éé homem,
homem, ou ou
Pedro não
Pedro não éé Pedro,
Pedro, enquanio
enquanto éé Pedro, como consequência
Pedro, como consequência inevi­ inevi-
:ável não
tável não seriam nada. EE assim
seriam nada. assim se se poderia
poderia argumentar
argumentar de qual.
de qual­
quer objecto.
quer objecto. Portanto, consegiientemente, oo complexo
Portanto, conseqüentemente, complexo dêles dêles ee
as relações
as entre isso
relações entre isso ee oo seu
seu todo,
todo, aa ordem
ordem ontológica
ontológica desapare-
desapare­
ceria. Não
ceria. Não se quer dizer
se quer dizer que
que ser racional éé também
ser racional irracional,
também irracional,
pois oo corpo
pois corpo seria
seria simultâneamente espirito, oo finito
simultâneamente espírito, seria 20
finito seria ao
mesmo tempo
mesmo tempo não-finito,
não-finito, oo bom bom seria simultâneamente mau,
seria simultâneamente mau, aa
virtude seria
virtude seria simultâneamente
simultâneamente vício; vício; não
não o o seu
seu contrário
contrário ou sua
ou sua
contradição, enquanto
contradição, enquanto são são oo que são: SS éé P
que são: P enquanto
enquanto éé P. P. ÊsteEste
éé oo melhor enunciado do
melhor enunciado do que pretende dizer
que pretende dizer êsse princípio.
êsse princípio.

Agora, quanto
Agora, quanto àà ordem
ordem cognoscitiva,
cognoscitiva, dizem:
dizem: comocomo aa ordem
ordem
cognoscitiva está
cognoscitiva está subordinada
subordinada àà ordem
ordem ontológica,
ontológica, aa mesmamesma lei lei
prevalece.
prevalece. Mas Mas asas mesmas observações, as
mesmas observações, as mesmas restrições, que
mesmas restrições, que
foram feitas
foram feitas antes,
antes, também
também se se poderiam
poderiam fazer aqui, porque
fazer aqui, porque sabe-
sabe­
mos
mos que que Deus,
Deus, sese afirmamos
afirmamos que que Deus
Deus existe, chegamos àà -con­
existe, chegamos «con-
clusão:
clusão: ou ou Deus existe ou
Deus existe Deus não
ou Deus existe.
não existe. Se Deus existe,
Se Deus existe, en-
en­
tão Deus não
tão Deus não existe
existe éé falso.
falso. SeSe Deus
Deus não
não existe,
existe, então Deus exis-
então Deus exis­
tete éé falso.
falso. Se Se éé verdadeiro
verdadeiro que Deus não
que Deus existe, éé falso
não existe, falso que
que
Deus
Deus existe.
existe. Portanto,
Portanto, um um partidário
partidário de de Fonseca
Fonseca afirmaria
afirmaria que que
tal
tal argumentação
argumentação se funda no
se funda no princípio
princípio do do terceiro
terceiro excluído.
excluído. E E
um
um outro,
outro, cue
cue defendesse
defendesse aa identidade,
identidade, poderia dizer: sese Deus
poderia dizer: Deus

— 92
92 —

2
existe, Deus existe,
existe. Deus existe, ee afirmaria
afirmaria que Deus existe
que Deus existe éé verdadeiro,
verdadeiro,
porque Deus
porque existe.
Deus existe. Estariamos no
Estaríamos no princípio de identidade:
princípio de identidade: afir­
afir-
mada
mada aa identidade
identidade não
não podemos
podemos afirmar
afirmar aa contradição, porque
contradição, porque
afirmamos aa identidade.
afirmamos identidade.

£É evidente,
evidente, pois,pois, que
que aa luta
luta que
que sese trava
trava em em saber
saber quai
quai éé oo
primeiro princípio,
primeiro princípio, éé uma uma dispu:a
dispuza desnecessária.
desnecessária. EE alguns alguns; es- es­
colásticos modernos
colásticos modernos já já compreenderam
compreenderam isto. isto. Descoqs
Descogs não discute
não discute
mais se
mais se éé êsse
êsse ouou sese éé aquêle,
aquêle, considera
considera que êsses princípios
que êsses princípios são são
primeiros, ee não
primeiros, não vê necessidade de
vê necessidade de estabelecer
estabelecer qual qual tem tem antecedên-
antecedên­
cia sôbre
cia sôbre os os outros, porçue não
outros, porque não aa temtem prôpriamente.
propriamente. Há Hã ante­
ante-
cedência numa
cedência numa operação
operação intelectiva,
intelectiva, não
não aa tem tem emem suassuas razões
razões mais
mais
fundamentais, porque
fundamentais, porque todos
todos êles,
êles, na verdade, partem
na verdade, partem do do princí-
princí­
pio matético,
pio matético, do qual decorrem
do qual decorrem todos todos aquêles,
aquêles, como como enunciados
enunciados
variados do
variados do primeiro
primeiro princípio,
princípio, comocomo decorrência,
decorrência, juízos juízos virtuais,
virtuais,
que atualizamos,
que atualizamos, partindopartindo dessa
dessa primeira experiênciz, que
primeira experiência, que éé sem-
sem­
pre afirmativa.
pre afirmativa. E E partimos,
partimos, também,
também, da da necessicade
necessicade matética
matética
da antecedência
da antecedência da da afirmação
afirmação àà negação,
negação, como como foi foi demonstrado
demonstrado
nos “Métodos
nos "Métodos Lógicos Lógicos ee Dialécticos",
Dialécticos”, onde fizemos um
onde fizemos um exemplo
exemplo de de
raciocínio dialéctico
raciocínio dialéctico concreto,
concreto, ao ao analisarmos
analisarmos o o tema
tema da da afirma-
afirma­
ção ee da
ção da negação,
negação, ee mostramos
mostramos que, que, através
através de de ilações rigorosas,
ilações rigorosas,
poderíamos
poderíamos até até fundamentar
fundamentar tôda tôda umauma Oncologia,
Oncologia, partindo partindo ape­ ape-
nas dessa tese
nas dessa tese fundamental matética: aa afirmação
fundamental matética: afirmação antecedeantecede aa ne- ne-
gação.
gação.
2z
Dizemos
Dizemos que que éé uma tese fundamental
uma tese matética e,
fundamental matética e, portanto,
portanto,
também pertence àà filosofia
também pertence filosofia concreta,
concreta, embora
embora não tenhamos par-
não tenhamos oar-
tido dela, na
tido dela, na Filosofia
Filosofia Concreta, porque nesta
Concreta, porque nesta preferimos
preferimos partir
partir
de
de um um acto
acto da
da experiência,
experiência, como
como fundamento
fundamento real, real, para
para depois,
depois,
libertando-nos
libertando-nos da da experiência
experiência humena, alcançar as
humana, alcançar as razões
razões eternas,
eternas,
asas razões
razões imutáveis, os logoi
imutáveis, os arkbai, objecto
logoi arkhai, objecto dada Matese.
Matese.
Vamos agora
Vamos agora passar
passar osos olhos aos aspectos
olhos aos aspectos críticos sôbre ês-
críticos sôbre ês­
ses princípios
ses princípios que
que são
são princípios
princípios ptimeiros
primeiros trancendentalmente,
trancendentalmente,
não há
não há aa menor
menor dúvida.
dúvida. Quanto
Quanto àà critica
critica que
que sese fizeram
fizeram dêles,
dêles,
podemos examinar
podemos examinar alguns aspectos, pois
alguns aspectos, pois vimos
vimos que psicolôgica-
que psicologica­
mente, um
mente, um antecede
antecede oo outro,
outro, ee estudando
estudando em particular oo princi-
em particular princí­
pio de
pio contradição ou
de contradição de não-contradição,
ou de não-contradição, há certas noções
há certas histó-
noções histó­
ricas, que
ricas, que merecem
merecem ser ser comentadas,
comentadas, sobretudo quanto aa Hegel,
sobretudo quanto Hegel,

— 93 —
93 —
jájá que,
que, na época moderna
na época moderna as
as suas palavras impressionam
suas palavras impressionam ilguinas
algumas
pessoas.
pessoas.
Diz
Diz Descogs, comentando-as, que
Descoqs, comentando-as, que aa filosofia de Herádito
filosofia de Heráclito
foi propriamente
foi própriamente renovada
renovada modernamente
modernamente por Hegel, que
por Hegel, que tomou
tomou
alguns
alguns aspectos
aspectos dessa
dessa filosofia,
filosofia, ee reedita-a com novos
reedita-a com argumentos,
novos argumentos,
o que
o que considera
considera uma
uma espécie
espécie de interpretação cléssica
de interpretação de Hegel.
díssica de Hegel.

Ele comenta àà página


Êle comenta página 446 446 da da obr.
obr. cit.
cit., do seguinte modo:
do seguinte modo:
“E no
"E no sentido
sentido mais
mais provocante
provocante para para aa razão
razão queque os os historiadores,
historiadores,
os que
os que estudim
estudam aa história
história da da filosofia,
filosofia, sobretudo
sobretudo nestes nestes últimos
últimos
anos, interpretam
anos, interpretam Hegel, Hegel, ee éé :m em função
função dessa
dessa :nterpretação
:nterpreta;ão que que
lhe emprestam
Ihe emprestam brutalmente
brutalmente negar negar o o ser,
ser, afirmar
afirmar o o nada
nada ee identi­
identi-
ficar os
ficar os contraditórios,
contraditórios, que que aa teoria
teoria de Hegel éé por
de Hegel por issoisso atacada
atacada
ee refutada
refutada em em quase
quase tôdas
tôdas as as obras
obras espiritualisas
espiritualistas ee escolásticas
escolásticas
modernas.
modernas. Para dar
Para uma idéia
dar uma idéia da da teoria
teoria hegeliana
hegeliini assim enten-
assim enten­
dida, veja-se
dida, veja-se aa exposição
exposição que que dela
dela fazfaz Weber,
Weber, sob sob umauma fomafoima um um
tanto
tanto moderada:
moderada: “Ser "Ser éé aa noção
noção mais mais universal,
universal, mas mas por por iso mes-
isso mes­
mo
mo também
também ai mais pobre ee aa mais
mais pobre mais nula;
nula; serser branco,
branco, ser verda-
ser verda­
deiro,
deiro, serser extenso,
extenso, ser ser bom,
bom, éé ser ser alguma
alguma coisa,
coisa, masmas ser, em de­
ser, :em de-
terminação qualquer, éé não
terminação qualquer, não ser nada, é,é, em
ser nada, suma, ser
em suma, ser nada.
nada. OO ser ser
puro
puro ee simples equivale, portanto,
simples equivale, portanto, ao ao não-ser,
não-ser, ee éé ao ao mesmo
mesmo tem-tem­
po êle mesmo
po êle mesmo ee seu contrário; se
seu contrário; se não fôsse senão
não fôsse senão êle êle mesmo,
mesmo, per­per-
maneceria imóvel,
maneceria estéril; se
imóvel, estéril; se não fôsse senão
não fôsse senão o o nada,
nada, êle seria
êle seria
sinônimo de
sinônimo de zero,
zero, e,e, neste
neste casc, ainda perfeitamente
casc, ainda perfeitamente impctente
impctente ee
infejundo.
infefundo. Eis Eis aa razão
razão porpor queque êleêle éé um um ee oo cutro,
cutro, que que êle
êle sese
torna alguma
torna alguma coisa,
coisa, outra coisa, tôdas
outra coisa, tôdas asas coisas.
coisas. A À própria con-
própria con­
tradição que
tradição que encerra resolve-se no
encerra resolve-se no devir,
devir, nono desenvolvimento”,
desenvolvimento".

Diz êle
Diz então que
êle então que aa tese
tese hegeliana
hegeliana partiria
partiria dada afirmição
afirmação de de
que se
que se oo ser
ser permanecesse
permanecesse iir.óvel,
imóvel, êle êle permaneceria
permaneceria estéril,estéril, ee
se êle fôsse
se êle fôsse nada,
rada, seria
seria sinônimo
sinônimo de zero; então,
de zero; seria impotente,
então, seria impotente,
infecundo.
infecundo. Ora, êle
Ora, êle éé potente
potente ee éé fecundo; então, sese éé fecundo,
fecundo; então, fecundo,
se
se éé potente,
potente, não
não pode ser imóvel
pode ser imóvel ee estéril.
estéril. Ele seria, enão,
Êle seria, en:ão, si-
si­
multineamente
multaneamente um um ee outro,
outro, quer
quer dizer,
dizer, torna-se alguma coisa,
torna-se alguma coisa,
por ser
por potente, ee porque
ser potente, porque éé fecundo.
fecundo. Êle Ele éé sempre
sempre outraoutra coisa
roisa ee
é, então,
é, ertão, tôdas
tôdas asas coisas.
coisas. EstaEsta contradição,
contradição, que que êle
êle encena,
encerra, não
não
perrranece, ela
permanece, ela éé resolvida
resolvida pelo próprio devir,
pelo próprio devir, pelo próprio de-
pelo próprio de­
senvolvimento, especialmente
senvolvimento, especialmente porque
porque pode
pode ser ser tôdas
tôdas asas Coises anu-
coísís anu-
— 94
la aa contradição
la contradição de poder simultaneamente
de poder simuitâneamente ser
ser isto ou aquilo.
isto ou aquilo.
Portanto, esta
Portanto, esta éé aa posição
posição de
de Hegel:
Hegel: aa contradição
contridição sósó se resolve
se resolve
pelo devir.
pelo devir.

Ele
Êle prossegue:
prossegue: "a “a fonte comum das
fonte comum categorias do
das categorias do conceito
conceito
puro
puro éé aa noção
noção dede ser,
ser, aa mais vazia ee ao
mais vazia ao mesmo
mesmo tempo
tempo aa mais
mais
compreensivel,
compreensível, aa mais mais abstracta
abstracta ee aa mais real, aa mais
mais real, elementar
mais elementar
ee aa mais
mais elevada.
elevada. ElaEla éé aa substância
substância idêntica
idêntica ee oo estôfo
estôfo de tódas
de tôdas
as
as idéias,
idéias, oo tema
tema fundamental
fundamental que que asas atravessa.
atravessa. Com Com efeito,
efeito, aa
qualidade
qualidade éé uma uma maneira
maneira de de ser,
ser, aa quantidace
quantidade uma uma maneira
maneira dede
ser,
ser, aa proporção,
proporção, oo fenômeno,
fenômeno, aa acção,
acção, são maneiras de
são maneiras de ser.
ser. To-
To­
dos
dos os nossos conceitos
os nossos expressam maneiras
conceitos expressam maneiras ce ce ser
ser ee nada
nada mais;
mais:
são
são do do que transformações da
que transformações da idéia
idéia dede ser.
ser.

Mas
Mas dede onde vêm essas
onde vêm essas transformações?
transformações? Como Como oo ser,
ser, que
que
éé tudo,
tudo, torna-se alguma coisa?
torna-se alguma coisa? Em virtude de
Em virtude que princípio,
de que princípio,
de
de que
que fôrça
fôrça interior
interior êle
êle sese modifica?
modifica? Esse
Êsse princípio, essa fôrça,
princípio, essa fôrça,
éé aa contradição
contradição queque êle
êle encerra; devir éé ao
encerra; devir ao mesmo
mesmo tempo
tempo ser ser ee
não-ser
não-ser (O que será);
(o que será); osos dois
dois contrários, que engendram
contrários, que engendram ao ao mes-
mes­
mo
mo tempo
tempo o o ser
ser ee o
o não-ser
não-ser se se encontram
encontram em em si
si fundidos,
fundidos, recon-
recon­
ciliados.
ciliados.

Uma
Uma nova contradição se
nova contradição se destacará
destacará daí,
daí, ee resolver-se-á
resolver-se-á nu-
nu­
ma nova
ma nova síntese,
síntese, ee assim
assim sucessivamente,
sucessivamente, até até oo surgimento
surgimento da da
idéia absoluta.
idéia absoluta. Assim, pois,
Assim, pois, contradição,
contradição, resolvendo-se
resolvendo-se na na uni­
uni-
dade, reaparecendo
dade, reaparecendo sob sob uma
uma forma nova para
forma nova para desaparecer
desaparecer ee rea­
rea-
parecer até
parecer até que
que ela
ela se resolva na
se resolva unidade definitiva,
na unidade definitiva, até
até que ela
que ela
se reduza àà unidade
se reduza definitiva.
unidade definitiva. Tal
Tal éé oo princípio
princípio motor
motor ee tal
tal éé
o ritmo
o ritmo dada lógica
lógica hegeliana;
hegeliana; repudiando
repudiando oo princípio
princípio de
de contra-
contra­
dição de
dição Aristóteles ee de
de Aristóteles Leibnitz, em
de Leibnitz, virtude do
em virtude do qual
qual uma coisa
uma coisa
não
não pode ser ao
pode ser ao mesmo
mesmo tempo tempo ee nãonão ser;
ser; ela se põe,
ela se põe, sôbre êste
sôbre êste
ponto, do
ponto, lado dos
do lado sofistas, sem
dos sofistas, sem concluir desde logo
concluir desde logo pelo
pelo cepti-
cepti­
cismo.
cismo.

AA contradição, segundo Hegel,


contradição, segundo não existe
Hegel, não existe sòmente
sômente no no pen-
pen­
samento,
samento, ela ela existe nas próprias
existe nas próprias coisas,
coisas, oo próprio
próprio ser
ser éé contradi-,
contradi-,
tório.
tório. NosNos sistemas
sistemas realistas
realistas ee dualistas,
dualistas, separa-se
separa-se oo pensamen­
pensamen-
to do seu
to do seu objecto,
objecto, ee nós
nós concebemos
concebemos parapara cada
cada um
um uma
uma existên-
existên­
cia independente.
cia independente. “As antinomias do
"As antinomias do pensamento
pensamento não não se tornam
se tornam

— 95
95 —

forçosamente uma
forçosamente uma causa
causa de desencorajamento ee de
de desencorajamento de cepticismo;
cepticismo;
ao
ao contrário,
contrário, no momento em
no momento em que
que sese vê
vê nana natureza
natureza um um pensa­
pensa-
mento
mento que
que sese desenvolve,
desenvolve, ee no
no pensamento
pensamento aa natureza
natureza tomando
tomando
consciência
consciência dede sisi mesma,
mesma, ee quando
quando se se reconhece
reconhece queque oo mundo
mundo
sendo pensamento
sendo objectivado não
pensamento objectivado não encerra
encerra outra
outra coisa que oo pen-
coisa que pen­
samento, aa contradição
samento, contradição emem que
que sese move
move o o filósofo
filósofo cessa
cessa dede ser
ser
aos seus
aos seus olhos
olhos um obstáculo àà inteligência
um obstáculo inteligência dasdas coisas
coisas ee Ihe
lhe aparece
aparece
como aa sua
como sua própria
própria extensão,
extensão, refletindo-se
refletindo-se nas nas antinomias
antinomias do do
pensamento.
pensamento.

Esta passagem que


Esta passagem que êleêle cita de Hegel,
cita de Hegel, está
está no
no seu livro “His-
seu livro "His-
toire
toire de la philosophie
de la philosophie européenne”,
européenne”, 1896, 1896, págs. 476, 478.
págs. 476, 478. Des­ Des-
coqs
coqs chama
chama aa atenção, que há
atenção, que há numerosos
numerosos trechos
trechos que apoiam es­
que apoiam es-
sa interpretação no
sa interpretação livro de
no livro de Gratry,
Gratry, “Logique”,
"Logique”, I,I, livro
livro II,
II, cap.
cap. 11
ee 2,2, "Lógica
"Lógica dodo Panteismo”.
Panteísmo". E É nessa
nessa obra que foram
obra aue foram colher
colher o o
conhecimento
conhecimento de de Hegel
Hegel aa maioria
maioria dos dos filósofos
filósofos católicos contem-
católicos contem­
porâneos,
porâneos, mas mas alguns
alguns autores
autores atuais acusam COratry
atuais acusam Gratry dede ter
ter violen­
violen-
tamente separado
tamente separado essas
essas passagens
passagens do seu contexto,
do seu contexto, ee dede haver des-
haver des­
figurado
figurado oo pensamento
pensamento de de Hegel,
Hegel, queque êle, Descogs, vai
êle, Descoqs, vai tratar mais
tratar mais
adiante.
adiante.

Esta éé uma
Esta uma critica
crítica que
que fazfaz àà obra
obra dede Gratry;
Gratry; não não sese refere
refere
própriamente
propriamente aa Weber,
Weber, com
com quem concorda.
quem concorda. Ele oferece, aqui,
Êle oferece, aqui,
uma nova
uma interpretação de
nova interpretação Hegel, como
de Hegel, como se se aquela fôsse aa inter­
aquela fôsse inter-
pretação clássica. Diz
pretação clássica. Diz oo seguinte:
seguinte: "os “os comentadores
comentadores patenteados
patenteados
ce
cie Hegel
Hegel interpretar. actualmente de
interpretam actualmente maneira bastante
de maneira diferente
bastante diferente
qo pensamento
pensamento dêste dêste filósofo,
filósofo, queque é, é, sem
sem dúvida alguma, um
dúvida alguma, um filó-
filó­
sofo eminentemente obscuro.
sofo eminentemente obscuro. Hegel, com
Hegel, com efeito,
efeito, nãonão identifica
identifica
oo sere
ser e oo nada
nada no no devir, senão em
devir, senão em função
função do do pensamento.
pensamento. Ago­ Ago-
ta, que
ra, que pensamento?
pensamento? E qual
E qual éé oo serser dede que
que êleêle fala
fala aqui?
aqui? O O
ponto
ponto de partida da
de partida lógica éé aa idéia
da lógica idéia abstracta
abstracta dede ser,
ser, que êle es-
que êle es­
vaziou prêviamente de
vaziou prèviamente todo conteúdo.
de todo conteúdo. Ora, esta
Ora, esta idéia
idéia dede serser
puro, privado
puro, privado de de tôda
tôda determinação,
determinação, não não poderia
poderia aos olhos de
aos olhos de He­He-
gel tornar-se,
gel tornar-se, sobsob nenhum título, objecto
nenhum título, objecto de de pensamento:
pensamento: enquanto
enquanto
objecto de
objecto de pensamento
pensamento êle êle se confunde com
se confunde com o o nada,
nada, com com o o puro
puro
nada.
nada. O pensamento
O pensamento desrealizado
desrealizado em em face
face do do serser assim
assim com-com­
preendido, encontra-se
preendido, reduzido àà mesma
encontra-se reduzido mesma necessidade
necessidade que que emem face
face
do nada,
do nada, aoao tomar
tomar o o ser como vazio.
ser como vazio. Apenas
Apenas neste
neste sentido nada
sentido nada

— 96 —
96 —
ee ser
ser se invocam, um
se invocam, um convoca
convoca oo outro,
outro, €e o
O pensamento
pensamento consegue
consegue
identificá-los”.
identificá-los".

E passa
E passa aa citar
citar oo hegeliano
hegeliano Croce: “o ser
Croce: "o não éé idêntico
ser não idêntico ao
ao
nada,
nada, senão quando ser
senão quando ser ee nada
nada são
são mal
mal pensados,
pensadoí, ou melhor,
ou melhor,
quando não
quando são verdadeiramente
não são verdadeiramente pensados;
pensados; eis sômente quando
eis somente quando se se
chega
chega aa que
que um
um éé igual
igual ao
ao outro, não como
outro, não como aa =
= aa mas,
mas, como
como O0 == 0O..
No
No pensamento
pensamento que que osos pensa
pensa verdadeiramente,
verdadeiramente, serser ee nada não
nada não
são
são idênticos,
idênticos, mas nitidamente opostos,
mas nitidamente opostos, em em luta
luta umum com com o o outro;
outro;
ee essa
essa luta
luta ao mesmo tempo
ao mesmo tempo éé uma uma união,
união, pois dois lutadores,
pois dois lutadores,
para
para lutar, devem enlaçar-se,
lutar, devem enlaçar-se, éé o o devir".
devir”. De onde,
De então, Croce
onde, então, Croce
tira esta
tira esta conclusão:
conclusão: “Se "Se se se presta
presta atenção
atenção apenas
apenas às às palavras
palavras de de
Hegel, poder-se-á
Hegel, poder-se-á dizer dizer queque êle recusa crer
êle recusa crer no princípio de
no princípio iden-
de iden­
tidade, mas
tidade, mas se se vai
se se vai mais
mais aa fundo,
fundo, descobre-se
descobre-se que Hegel recusa
que Hegel recusa
simplesmente crer
simplesmente crer na falsa aplicação
na falsa aplicação do do princípio
princípio de de identidade,
identidade,
aplicação
aplicação que que éé feita
feita pelos abstractistas”. Daí
pelos abstractistas”. Dai seguir-se-ia,
seguir-se-ia, con­ con-
tinua Descogs, que,
tinua Descoqs, segundo Hegel,
que, segundo Hegel, o o ser
ser ee oo não-ser
não-ser nãonão se se iden­
iden-
tificariam,
tificariam, senão senão na na medida
medida em em queque aquêle
aquêle que que poderia
poderia pensarpensar
por pura
por pura abstracção,
abstracção, o o ser
ser completamente
completamente indeterminado,
indeterminado, seria seria
condenado
condenado aa não não pensar absolutamente nada.
pensar absolutamente nada. AA idéia idéia de de ser pu-
ser pu­
ro,
ro, confundida
confundida com com aa indeterminação
indeterminação pura, pura, total,
total, nana ordem
ordem da da
transcendência,
transcendência, como como na na dasdas categorias,
categorias, dos gêneros, das
dos gêneros, das espécies
espécies
— equivale, com
— equivale, com efeito,
efeito, para
para êle,
êle, do ponto objectivo
do ponto objectivo do do pensa-
pensa­
mento,
mento, àà idéiaidéia dodo nada
nada puro.
puro.

De outra
De outra parte,
parte, para Hegel, contradição
para Hegel, contradição estáestá bem
bem no no coração
coração
da
da realidade,
realidade, aíaí ela
ela éé aa mola
mola do devir ee condição
do devir condição da
da vida.
vida. Ela
Ela
não
não éé identificação
identificação do do ser
ser ee do
do não
não ser,
ser, quer dizer, dos
quer dizer, dos contradi­
contradi-
tórios; essa
tórios; identificação só
essa identificação só ode estar no
jode estar pensamento abstractista
no pensamento abstractista
ee não
não nono pensamento verdadeiro, pois
pensamento verdadeiro, pois aa inteligência humana, bus­
inteligência humana, bus-
cando reconstruir
cando reconstruir aa realidade,
realidade, — — querquer dizer,
dizer, aa realidade
realidade total,
total, que
que
éé uma,
uma, oo mundo
mundo idêntico
idêntico aoao pensamento
pensamento de de Deus
Deus — — aa partir
partir dês-
dês­
ses elementos
ses elementos considera
considera como
como ser ser dos
dos elementos
elementos que que não
não o o são,
são,
ee com
com efeito,
efeito, osos elementos
elementos do do ser não são
ser não são ser,
ser, pois
pois se
se conclamam,
conclamam,
se invocam,
se invocam, se se completam
completam mutuamente
mutuamente para para constituir
constituir oo ser.
ser. As
As­
sim, sendo
sim, sendo tudotudo de uma certa
de uma maneira, não
certa maneira, não éé dede uma outra ma-
uma outra ma­
neira, mas pelo
neira, mas pelo facto
facto de que as
de que as coisas
coisas nãonão são
são dede uma
uma certa ma-
certa ma­
neira, apelam, ante
neira, apelam, ante oo olhar
olhar dodo pensamento,
pensamento, o o seu
seu contrário.
contiário. As As­

— 9977 —

sim nenhuma perfeição,
sim nenhuma perfeição, semsem qualquer
qualquer imperfeição
imperfeição se se encontram
encontram
jamais realizadas
jamais realizadas no no estado
estado puro;
puro; perfeição
perfeição ee imperfeição
imperfeição estão
estão
sempre
sempre misturadas, unidas, ee oo ser
misturadas, unidas, ser resulta
resulta dede sua
sua composição.
composição. Não Não
há alegria,
há alegria, que
que não
não esteja
esteja misturada
misturada de de tristeza,
tristeza, não
não háhá luz
luz pura
pura
sem obscuridade,
sem obscuridade, não não háhá obscuridade pura sem
obscuridade pura sem luz.
luz. AA realidade,
realidade,
quer dizer,
quer todo dado
dizer, todo dado implica,
implica, assim, uma oposição
assim, uma oposição de de contrários
contrários
(e não de
(e não de contraditórios), onde, longe
contraditórios), onde, longe dede se se confundirem,
confundirem, êsses êsses
correlativos permanecem
correlativos irreductivelmente unidos,
permanecem irreductivelmente unidos; sua identifica-
sua identifica­
ção formal ee sua
ção formal sua confusão serão tão
confusão serão tão pouco
pouco características
características da me-
da me­
tafísica hegeliana
tafísica hegeliana que, precisamente, tôda
que, precisamente, tôda tarefa
tarefa dada dialéctica
dialéctica con-
con­
siste em
siste em levar essa oposição
levar essa oposição fundamental,
fundamental, essencial,
essencial, àà realidade,
realidade, ee
aa se evadir da
se evadir da contradição.
contradição.

Ele
Êle prossegue:
prossegue: "o “o pensamento,
pensamento, estando estando colocado
colocado em em face dos
face dos
elementos do
elementos do ser, vê, com
ser, vê, com efeito,
efeito, que que êle
êle não
não pode
pode deter-se
deter-se aí,aí, ee
sente-se como
sente-se constrangido aa irir sempre
como constrangido sempre alémalém dos elementos que
dos elementos que oo
pensamento considerou.
pensamento considerou. ÉÉ oo que
que constitui
constitui aa dialéctica;
dialéctica; ouou me-
me­
lhor, para Hegel,
lhor, para além de
Hegel, além de dialéctica
dialéctica éé uma uma leilei do
do pensamento
pensamento em em
busca
busca do do absoluto,
absoluto, ee não não umauma lei lei do
do serser puro;
puro; seuseu movimento,
movimento,
“devir” leva-o
"devir” leva-o aa fazer
fazer aa síntese
síntese dos dos primeiros
primeiros elementos
elementos do ser,
do ser,
mas síntese precária,
mas síntese apelando elas
precária, apelando elas mesmas
mesmas para para o O seu
seu contrário,
contrário,
sua negação,
sua negação, (tese,
(tese, antítese,
antítese, depois
depois uma uma novanova síntese),
síntese), ee assim
assim
sucessivamente, indefinidamente,
sucessivamente, indefinidamente, até até que
que alcança
alcança o o ser
ser essencial­
essencial-
mente
mente ee plenamente determinado, quer
plenamente determinado, quer dizer,
dizer, aoao pensamento
pensamento sub­ sub-
sistente,
sistente, queque não
não éé senão
senão um ser, em
um ser, em queque aa inteligência
inteligência possa
possa re­re-
pousar,
pousar, onde nenhum lugar
onde nenhum lugar éé deixado
deixado àà deficiência,
deficiência, àà negação,
negação, ao ao
nada, do
nada, do qual não poderemos
qual não poderemos dizer:dizer: “O ser não
"O ser não é”,
é”, como
como umum ponto
ponto
de partida,
de partida, mas
mas simsim “o "o ser
ser é”é”. .

Nessa marcha
Nessa marcha ascendente
ascendente parapara oo pensamento absoluto, aa con­
pensamento absoluto, con-
tradição dêle
tradição não éé de
dêle não de maneira
maneira alguma
alguma admitida
admitida comocomo equiva-
equiva­
lente do
lente do ser, nada mais
ser, nada mais éé do que um
do que um processo
processo dialéctico
dialéctico que abala
que abala
aa inteligência
inteligência pelopelo próprio
próprio facto
facto dede sua inconsistência ee da
sua inconsistência da im­
im-
possibilidade em
possibilidade em que
que sese encontra essa mesma
encontra essa mesma inteligência
inteligência de de de-
de­
ter-se aí,
ter-se aí, ee de
de tomá-la
tomá-la pelo
pelo ser verdadeiro.
ser verdadeiro. O princípio
O princívio dede con-
con­
tradição, longe
tradição, longe de de ser negado, toma
ser negado, toma aí,
aí, ao
ao contrário,
contrário, todo
todo oo seu
seu
valor.
valor. Eis Eis por
por que,
que, do
do ponto
ponto de de vista do pensamento
vista do pensamento vivo,vivo, éé im-
im­
possível deter-se
possível deter-se no no pensamento
pensamento abstractista
abstractista (segundo
(segundo Hegel),
H egel),

— 9988 —

que
que acarretaria
acarretaria aa equivalência
equivalência absoluta
absoluta do
do ser
ser ee do não-ser, e,
do não-ser, e, em
em
virtude
virtude mesmo
mesmo do princípio de
do princípio de contradição,
contradição, que
que o o pensamento
pensamento de-de­
vêm,
vêm, que êle ultrapassa
que êle ultrapassa aa abstracção
abstracção pura
pura para alcançar, após
para alcançar, mui-
após mui­
tos
tos esforços,
esforços, aoao absoluto,
absoluto, do qual éé necessário
do qual dizer, como
necessário dizer, como oo quer
quer
E
oo princípio
princípio de identidade, “o
de identidade, "o ser
ser é”.
é".

Após isso, ee ao
Após isso, ao mesmo
mesmo tempo tempo queque isso,
isso, Hegel admite que
Hegel admite que oo
seu pensamento
seu pensamento absoluto
absoluto “se "se realiza
realiza ee se acaba ao
se acaba passar perp:-
ao passar perpe­
tuamente
tuamente ao ao infinito,
infinito, ao ao ultrapassá-lo
ultrapassálo ee ao elevar-se acima
ao elevar-se acima dêle,
déls,
Aufhebung, ee que
Aufhebung, esta processão
que esta processão do do finito
finito aa partir
partir do infinito,
do infinito,
implica, no
implica, no próprio absoluto, como
próprio absoluto, como uma uma nova contradição tran>-
nova contradição trans-
cendente, razão
cendente, razão última
última de de sua vida, de
sua vida, de seuseu devir.
devir. Isso levar:,
Isso levar-,
embora
embora recuse
recuse o o absoluto
absoluto uma uma identidade,
identidade, uma uma imutabilidade
imutabilidade ab- ab­
soluta, e,e, portanto,
soluta, portanto, embora
embora desconheça
desconheça aa sua sua natureza
natureza de de maneira
maneira
radical, isso
radical, isso não
não levará
levará que que êle negue oo princípio
êle negue princípio de contradição,
de contradição,
mas sômente
mas somente que que êleêle sese engane
engane sôbre
sôbre as as suas
suas aplicações.
aplicações. JamaisJamais
dirá que
dirá que o o absoluto, enquanto éé não
absoluto, enquanto não é,é, nemnem que que êleêle éé ee não
não éé
absolutamente, mas
absolutamente, mas ao contrário, em
ao contrário, em nome
nome do do princípio
princípio de de con-
con­
tradição dirá
tradição dirá queque oo absoluto
absoluto deve ser o
deve ser o que êle deve,
que êle deve, ee porpor seuseu
dinamismo especial,
dinamismo especial, ultrapassar
ultrapassar tudo tudo oo queque lhe pode faltar.
Ihe pode faltar.

Nós,
Nós, diz
diz Descogs, guardamo-nos de
Descoqs, guardamo-nos apresentar essa
de apresentar essa exegese
exegese
como certa ee definitiva,
como certa definitiva, éé preciso
preciso notar
notar que
que ela
ela éé hoje
hoje universal-
universal­
mente recebida
mente recebida por por historiadores
historiadores da Filosofia.
da Filosofia. Os escolásticos,
Os escolásticos,
que
que quiseram
quiseram interpretar Hegel nesse
interpretar Hegel nesse sentido,
sentido, não poderiam, evi-
não poderiam, evi­
dentemente,
dentemente, encontrar
encontrar numanuma taltal doutrina
doutrina aa justificação
justificação das fórmu-
das fórmu­
las
las desconcertantes
desconcertantes ee paradoxais
paradoxais que que abundam
abundam sob sob aa pena
pena de He-
de He­
gel,
gel, ee queque não podiam faltar,
não podiam faltar, assim
assim queque êle chegou aa engendrar
êle chegou engendrar
os
os erros mais grosseiros
erros mais grosseiros ee os mais perniciosos,
os mais perniciosos, aindaainda menos
menos pode-
pode­
riam êles
riam êles evitar
evitar de de tomar,
tomar, porpor sua conta, as
sua conta, as falsas
falsas suposições
suposições dede
tôda
tôda teoria,
teoria, e, e, portanto,
portanto, de admitir que
de admitir que aa razão
razão abstracta
abstracta seja
seja pu-
pu­
ramente
ramente ilusória,
ilusória, queque aa idéia
idéia dede ser
ser ou puro nada,
ou puro nada, ee aa realidade
realidade
dada
dada ou ou puro devir, ou
puro devir, ou êle não reconhecer
êle não reconhecer nenhum
nenhum valorvalor absoluto
absoluto
no processo dialéctico,
no processo dialéctico, ou,ou, sobretudo, confundir tôda
sobretudo, confundir tôda aa realidade
realidade
com
com aa idéia,
idéia, identificar
identificar comcom aa idéia
idéia dodo ser
ser aa própria
própria realidade
realidade dede
todo ser, ee de
todo ser, uma maneira
de umaí maneira geral, todo conhecimento
geral, todo conhecimento com com oo seu
seu
objecto, enfim,
objecto, pretender éle
enfim, pretender êle deduzir
deduzir oo realreal ao lógico; quer
ao lógico; quer dizer,
dizer,
uma
uma vez vez dede posse
posse do absoluto, graças
do absoluto, graças àà dialéctica,
dialéctica, pretender
pretender dedn-
dedu­

— 99 —
99 —
zir dêle
zir dêle tôda realidade aa priori
tôda realidade priori pelos
pelos processos
processos mais
mais arbitrários
arbitrários ee
mais artificiais,
mais artificiais, ee tudo ser levado,
tudo ser finalmente, aa uma
levado, finalmente, unidade pan-
uma unidade pan-
teística estricta,
teística estricta, que não considera
que não considera osos dados
dados dede facto mais eviden-
facto mais eviden­
tes ee mais
tes mais certos.
certos.

Eles terão
Êles terão cuidado
cuidado sômente
somente dede prestar
prestar aa Hegel
Hegel umauma culpa,
culpa,
que muitos
que estimam não
muitos estimam não fundada: seria simplesmente
fundada: seria simplesmente de negar, de
de negar, de
facto, oo princípio
facto, princípio dede contradição,
contradição, oo que parece mais
que parece próprio de
mais próprio de um
um
alienado do
alienado do que de um
que de um homem
homem de posse do
de posse do seu
seu espírito”.
espírito".

— E prossegue
— “tôdas"tôdas
E prossegue as tentativas que foram
as tentativas apresentadas
que foram apresentadas
na Filosofia,
na Filosofia, para negar o
para negar o princípio
princípio dede identidade
identidade ee oo princípio
princípio
de contradição, foram
de contradição, foram fracas,
fracas, tôdas sem fundamento,
tôdas sem fundamento, ee tôdas
tôdas ter-
ter­
minaram
minaram por por ser
ser categôricamente
categoricamente negadas por aquêles
negadas por aquêles que acei-
que acei­
tam ésses princípios”.
tam êsses princípios”.
Examinando essa
Examinando essa crítica
crítica de Descogs, ee análise
de Descoqs, análise sôbre
sôbre trechos
trechos
de autores escolásticos,
de autores escolásticos, concluimos que nenhum
concluimos que nenhum dêles
dêles leram prô-
leram pro­
priamente Hegel.
priamente Hegel. ÊlesEles fundam-se
fundam-se na na maneira
maneira de de interpretar
interpretar dosdos
discípulos hegelianos. Ora,
discípulos hegelianos. Ora, todos
todos nós sabemos que
nós sabemos que Hegel,
Hegel, como
como
acontece
acontece com todos os
com todos filósofos, tem,
os filósofos, tem, nos
nos seus
seus sequazes,
sequazes, umauma
grande heterogeneidade
grande heterogeneidade de interpretações. Não
de interpretações. Não sese conhece
conhece ne-ne­
nhum filósofo, grande
nhum filósofo, grande mestre
mestre ee grande
grande criador
criador nana Filosofia,
Filosofia, cujos
cujos
discípulos
discípulos não divergissem nas
não divergissem suas interpretações,
nas suas interpretações, oo que
que sese deve,
deve,
sobretudo, àà não
sobretudo, apresentação da
não apresentação da sua filosofia de
sua filosofia modo definitiva-
de modo definitiva­
mente demonstrado
mente demonstrado em em juízos
juízos apodíticos,
apodíticos, ee como naturalmente
como naturalmente
muitos aspectos
muitos aspectos foram
foram sugeridos,
sugeridos, ou sugerem meras
ou sugerem meras opiniões
opiniões ee
são àsàs vêzes
são vêzes demonstrados
demonstrados com com argumentos,
argumentos, que que não possuem
não possuem
aquela firmeza
aquela firmeza necessária,
necessária, então, nessas passagens,
então, nessas passagens, éé natural
natural que
que
haja divergências.
haja divergências.
É oo que
É que se deu no
se deu no pitagorismo;
pitagorismo; ee sabemos
sabemos quanto
quanto o o pitago-
pitago-
rismo sofreu
rismo sofreu em
em consequência
consequência de serem atribuído
de serem atribuído aa Pitágoras
Pitágoras pen­
pen-
samentos peregrinos,
samentos estranhos, contraditórios,
peregrinos, estranhos, contraditórios, ingênuos,
ingênuos, de de pi-
pi-
tagóricos menores,
tagóricos que julgavam
menores, que julgavam com isso dar
com isso maior valor
dar maior valor ao
ao seu
seu
pensamento.
pensamento.
Tais factos,
Tais factos, em grande parte,
em grande surgem de
parte, surgem uma deficiência
de uma deficiência natu­
natu-
ral do
ral do ser
ser humano.
humano. Nós, em
Nós, regra geral,
em regra quando visualizamos
geral, quando visualizamos
aa personalidade
personalidade de um filósofo,
de um que não
filósofo, que não conhecemos,
conhecemos, com
com quem
quem


— 100
100 —

não mantemos contacto
não mantemos contacto temos
temos aa tendência
tendência aa idealizar,
idealizar, como mui-
como mui­
tos
tos idealizam
idealÍ2 am oo tipo de Napoleão,
tipo de Napoleão, o o herói,
herói, como
como sese êle tivesse uma
êle tivesse uma
vida tôda napoleônica;
vida tôda napoleônica; os os hitleristas idealizavam em
hitleristas idealizavam Hitler uma
em Hitler uma
vida
vida tôda
tôda hitleriana;
hitleriana; como
como outros
outros visualizaram
visualizaram em em Alexandre
Alexandre uma uma
vida tôda alexandrina.
vida tôda alexandrina. Essas Essas visualizações
visualizações ideais,
ideais, queque têmtêm as as
suas raízes
suas raizes nos
nos arquétipos
arquétipos míticos
míticos do homem, éé uma
do homem, uma tendência
tendência hu­ hu-
mana para
mana para o O mito,
mito, para
para transformar
transformar as as personalidades
personalidades que que admira-
admira­
mos
mos em personalidades míticas,
em personalidades mas ao
míticas, mas ao tomar
tomar contacto directo, com
contacto directo, com
aa pessoa
pessoa queque foi elevada idealmente,
foi elevada idealmente, miticamente,
miticamente, ao ao ttomar
9 mar conhe-
conhe­
cimento
cimento das das suas
suas condições humanas, éé natural
condições humanas, natural que
que ela
ela se
se desme-
desme­
reça
reça em face da
em face da visão
visão mitica,
mítica, passe
passe aa ser igual aa outras,
ser igual outras, seme-
seme­
lhante aa qualquer
lhante outra, alguém
qualquer outra, alguém queque vacila,
vacila, que
que tem fraquezas,
tem fraquezas,
como
como têm têm osos outros séres humanos.
outros sêres humanos.

Então,
Então, emem face de tôdas
face de essas naturais
tôdas essas naturais condições
condições do do ser hu-
ser hu­
mano, êle
mano, êle coloca-se
coloca-se numa
numa posição
posição umum tanto
tanto suspicaz quanto àà ma­
suspicaz quanto ma-
nifestação do
nifestação do pensamento. Quando alguém,
pensamento. Quando alguém, dizdiz alguma
alguma coisa
coisa dede
superior fica
superior sempre reduzido
fica sempre reduzido porque
porque foi dito directamente
foi dito directamente àà
queima-roupa.
queima-roupa. E natural
E natural que
que muitos, para poder
muitos, para poder valorizar
valorizar o o seu
seu
pensamento, sentindo
pensamento, que encontram
sentindo que encontram dificuldade
dificuldade de transmiti-lo
de transmiti-lo
face
face aa face, venham aa emprestá-lo
face, venham emprestá-lo aa anteriores,
anteriores, osos quais
quais jájá estão
estão
miticamente visualizados.
miticamente visualizados.

O próprio
O próprio Pitágoras procedia assim.
Pitágoras procedia assim. Ele,
Êle, para
para justificar
justificar mui-
mui­
tas de suas
tas de suas idéias,
idéias, atribuia-as
atribuía-as aos aos sábios
sábios da antiguidade, buscava
da antiguidade, buscava
dar uma
dar uma origem
origem atéaté asas vêzes
vêzes divina,
divina, como
como sese apenas
apenas fôsse
fósse umum re-
re­
petidor.
petidor. EE era era obrigado
obrigado aa fazer
fazer isso,
isso, aa criar nos seus
criar nos discípulos
seus discípulos
aa impressão
impressão de de que
que era
era filho
filho dede Apolo.
Apoio. Parece-nos,
Parece-nos, que que êle
êle não
não
reagiu àà lenda
reagiu lenda queque sese contava
contava sôbre
sôbre aa sua
sua origem
origem divina, que era
divina, que era
filho
filho dede Apoio,
Apolo, o o qual
qual havia fecundado aa sua
havia fecundado sua mãe.
mãe.

Ele nunca
Êle nunca rejeitou
rejeitou essa
essa tese,
tese, que se saiba,
que se saiba, não
não sese registrou
registrou na-
na­
da
da aa êsse
êsse respeito.
respeito. O que
O que permaneceu
permaneceu na lenda pitagórica
na lenda pitagórica foi
foi
sempre aa aceitação
sempre aceitação dada sua
sua origem
origem divina. São êsses
divina. São exemplos que
êsses exemplos que
nos levam aa compreender
nos levam compreender as razões por
as razões por que
que oo valor
valor dede um
um pensa-
pensa­
mento seja proporcionado
mento seja proporcionado ao ao homem
homem queque oo emitiu.
emitiu.

-Spengler tomou consciência


Spengler tomou consciência disso
disso quando, repetindo Nietzs-
quando, repetindo Nietzs-
che, dizia que
çhe, dizia um prande
que um grande pensamento
pensamento sósó éé válido quando emitido
válido quando emitido

— à01
101 —

ou pronunciado
ou pronunciado por
por um
um homem
homem reputado
reputado como
como - grande,-
grande, porque
porque
pronunciado por
pronunciado por quem não éé reputado
quem não reputado como grande, ninguém
como grande,- ninguém per-
per­
cebe que
cebe que oo pensamento
pensamento éé grande.
grande.
Essa realidade
Essa realidade éé importante
importante para
para compreendermos,
compreendermos, na na filoso-
filoso­
fia, aa maneira
fia, maneira dede proceder
proceder às vêzes dos
às vêzes dos discipulos.
discípulos. Estes
Êstes discutem
discutem
oo próprio mestre, embora
próprio mestre, embora oo admirem, embora prestem-lhe
admirem, embora tôda ho­
prestem-lhe tôda ho-
menagem,
menagem, que que julgam merecer. Em
julgam merecer. Em muitos
muitos aspectos,
aspectos, não
não acei-
acei­
tam,
tam, às às vêzes,
vêzes, oo que
que oo mestre
mestre diz com clareza
diz com clareza ee com
com precisão,
precisão, ee
buscam
buscam interpretar
interpretar o o seu
seu pensamento,
pensamento, ee éé nessas
nessas ocasiões que pe-
ocasiões que pe­
netra
netra aa esquemática
esquemática do discípulo.
do discípulo. Ora, não
Ora, não era de admirar,
era de admirar, por-
por­
tanto, que
tanto, que do hegelianismo surgissem
do hegelianismo surgissem inúmeras
inúmeras maneiras
maneiras dede inter
inter­
pretar Hegel.
pretar Hegel.

Se
Se tomamos
tomamos umum hegeliar.o
hegeliaro de direita, vemos
de direita, que tende
vemos que para
tende para
oo idealismo;
idealismo; se
se nos colocamos na
nos colocamos posição do
na posição do hegeliano de esquer­
hegeliano de esquer-
da, observamos
da, observamos oo inverso.
inverso. Resta, então,
Resta, então, aa dúvida: Hegel era
dúvida: Hegel era um
um
idealista equivocado ou
idealista equivocado ou não?
não? OuOu era
era um
um idealista
idealista convicto?
convicto? Um Um
idealista, que
idealista, que defendia
defendia realmente
realmente oo idealismo?
idealismo? Ou Ou era
era um
um idea-
idea­
lista que procurava
lista que procurava defender uma idéia
defender uma idéia panteísta
panteísta ee até materia-
até materia­
lista, apenas
lista, apenas com palavras, como
com palavras, roupagens idealistas?
como roupagens idealistas? éÉ Hegel
Hegel
um real-idealista;
um real-idealista; quer dizer, o
quer dizer, o seu
seu pensamento,
pensamento, no fundo, éé rea­
no fundo, rea-
lista (realista
lista (realista no sentido moderno
no sentido moderno que que sese dá
dá àà palavra)
palavra) comcom rou­
tou-
pagens idealistas,
pagens idealistas, ouou éé umum idealista
idealista comcom roupagens
roupagens realistas,
realistas, ou ou
um idealista no
um idealista no fundo,
fundo, que pode ser
que pode ser substituído
substituído porpor roupagens
roupagens
realistas. Então, neste
realistas. Então, neste caso, seria um
caso, seria um idealista equivocado. . Marx
idealista equivocado. Marx
chega
chega aa estaesta conclusão;
conclusão: revirando Hegel de
revirando Hegel de cabeça
cabeça para
para baixo,
baixo,
temos
temos o o marxismo;
marxismo; enquanto
enquanto Hegel,
Hegel, de de cabeça
cabeça para
para cima, estaria
cima, estaria
mais
mais dede acôrdo
acórdo com
com aa interpretação
interpretação dos hegelianos de
dos hegelianos de direita.
direita. No No
entanto,
entanto, um melhor conhecimento
um melhor conhecimento da obra de
da obra de Hegel, permite per-
Hegel, permite per­
ceber
ceber asas deficiências,
deficiências, que
que se verificam nas
se verificam maneiras de
nas maneiras interpretar
de interpretar
Hegel pelos hegelianos.
Hegel pelos hegelianos. Quer dizer,
Quer dizer, não conhecemos nenhuma
não conhecemos nenhuma
obra
obra hegeliana
hegeliana que seja uma
que seja explanação plenamente
uma explanação plenamente correcta
correcta do do
pensamento do
pensamento mestre, como
do mestre, vemos por
como vemos por exemplo,
exemplo, na na obra
obra dede Vas-
Vas-
quez, em
quez, em relação
relação aa São
São Tomás.
Tomás.

Vasquez foi
Vasquez foi um
um autor
autor queque teve
teve oo máximo
máximo cuidado de ao
cuidado de ao ex­
ex-
por São
por São Tomás subtrair aa sisi mesmo
Tomás subtrair mesmo de tôda aa presença;
de tôda presença; oo seu
seu pa-
pa­
pel éé apenas
pel apenas explicativo
explicativo ee de de mera
mera submissão
submissão ao pensamento do
ao pensamento do

— 102—
102 —
mestre. Ele
mestre. não oo interpreta,
Êle não interpreta, nada apresenta que
nada apresenta não esteja
que não esteja jájá
contido no
contido no pensamento,
pensamento, apenas deduz.
apenas deduz. Por isso
Por isso aa sua obra éé
sua obra
considerada
considerada por muitos uma
por muitos uma obra
obra deficiente, porque falta
deficiente, porque falta aa cria-
cria­
ção; mas
ção; mas como
como aa sua intenção era
sua intenção apenas aa de
era apenas de expor
expor o pensamento
pensamento
de São Tomás,
de São Tomás, dentro
dentro dessa intenção, temes
dessa intenção, temes dede considerar
considerar valiosa
valiosa
aa sua
sua obra.
obra. Esta
Esta era
era aa sua
sua meta,
meta, ee êle
êle aa realizou;
realizou; portanto,
portanto, aa sua
sua
obra éé digna
obra digna de respeito.
de respeito. tl
>
OO que realmente diz
que realmente Hegel éé oo seguinte:
diz Hegel seguinte: se se oo ser
ser não
não tiver
tiver
nenhuma determinação,
nenhuma desdeterminando-se oo ser,
determinação, desdeterminando-se ser, chegar-se-ia
chegar-se-ia aa ui ut i
conceito
conceitc vazio. vazio. £E uma
uma espécie
espécie de de nirvana,
nirvana, um um nirvana
nirvana búdico,
búdico,
que
que éé um um conceito
conceito ao qual se
ao qual se alcança
alcança pela pela desdeterminação,
desdeterminação, ,pela pela
desinvicualização
desinvicualizaçãc ee pela pela deslimitação,
deslimitação, conseqüentemente
consegiientemente chega-se chega-se
aa um um conceito
conceito vazio,
vazio, completamente
completamente vazio. vazio. Mas Mas Hegel,
Hegel, numa numa pas-pas­
sagem para
sagem para aa qualqual chamamos
chamamos muito muito aa atenção,
atenção, ee que que passou
passou des- des­
percebida para
percebida para os os comentaristas:
comentaristas: na na Grande
Grande Lógica,
Lógica, sàbitamente,
subitamente,
sente que
sente que está
está enfrentando
enfrentando uma contradição, e,e, na
uma contradição, na verdade,
verdade, aa luta luta
de
de HegelHegel consiste
consiste em em querer
querer vencer aquela contradição,
vencer aquela contradição, que que nãonão
soube vencer, embora
soube vencer, embora oo desejasse,
desejasse, ee procurasse
procurasse por por todos
todos os meios
os meios
vencê-la.
vencê-la. Não podendo
Não podendo simultaneamente
simultâneamente afirmar afirmar que que oo ser ser era
era
nada, enquanto
nada, enquanto oo ser ser éé ser, isto é,
ser, isto é, oo ser ser tomado
tomado enquanto
enquanto não não
determinado, con
•determinado, com nenhuma talidade, era
nenhuma talidade, era nada,
nada, êle êle sentia
sentia que que ha-
ha­
via alguma
via alguma coisa coisa dentro
dentro dêlecêle queque Ihelhe repugnava,
repugnava, sentia como um
sentia como um
protesto vindo
protesto vindo do do próprio
próprio ser que, afirmando-se
ser que, afirmando-se ee como como que que di-di­
zendo, não
zendo, não ser possível essa
ser possível essa afirmação,
afirmação, então então Hegel,
Hegel, assim, inci-
assim, inci-
dentalmente, numa
dentalmente, numa das das passagens,
passagens, que que em em geral
geral muitos
muitos não não lêem
lêem
porque está
porque está entre
entre regras
regras de de lógica
lógica e, e, naturalmente,
naturalmente, os os leitores
leitores de de
Hegel
Hegel já estudaram Lógica
já estudaram Lógica Formal,
Formal, julgamjulgam que podem passar
que podem passar por por
cima,
cima, êleêle entretanto,
entretanto, afirma afirma que que apesar
apesar da identificação entre
da identificação entre serser
indeterminado ee nada,
indeterminado nada, observa-se
observa-se que que há há uma diferença; ee essa
uma diferença; essa
diferença
diferença consiste
consiste não não em em algo
algo que que se se afirma,
afirma, mas mas pumpum vector,
vector,
numa tendência. E£ que
numa tendência. que o o ser desdeterminado, que
ser desdeterminado, que éé nada,
nada, tende
tende
para determinar-se,
para determinar-se, para para actualizar-se,
actualizar-se, para para realizar
realizar as suas pos-
as suas pos­
sibilidades,
sibilidades, o o que
que éé possível.
possível. Então Então tendetende parapara determinar-se,
determinar-se, ee
oo ser determinado tende
ser determinado tende para deixar de
para deixar de serser oo que
que é.é. Essa
Essa passagem
passagem
de
de umum para outro éé oo devir,
para outro devir, que tende para
que tende para desdeterminar-se,
desdeterminar-se, ee
para determinar-se de
para determinar-se de outro modo.
outro modo. Para êle,
Para êle, oo nada
nada éé umauma metameta
que alcança oo ser
que alcança ser ao ao desdeterminar-se,
desdeterminar-se, ee por por suasua vez,
vez, um um porto
por to


— 103
103 —
-
de partida,
de partida do do ser que passa
ser que passa aa determinar-se.
determinar-se. Então Então haveria
haveria uma uma
distinção; aí
distinção; aí sente
sente queque aa identificação
identificação não permanece, ee manifes-
não permanece, manifes-
ta-se uma
ta-se espécie de
uma espécie de contentamento psicológico, porque
contentamento psicológico, porque sentiu,
sentiu,
nesse momento,
nesse momento, que que nãonão identificava
identificava o o ser
ser com
com oo nada,
nada, ee ao ao mes-
mes­
mo tempo,
mo tempo, êle os distinguia,
êle os distinguia, ee como
como êle êle oo identificava
identificava ee oo distin-
distin­
guia, então
guia, julgou que
então julgou havia resolvido
que havia resolvido oo problema
problema da da contradi-
contradi­
ção, porque
ção, porque estaesta era ultrapassada por
era ultrapassada por umauma identificação
identificação ee aa iden-iden­
tificação
tificação eraera ultrapassada
ultrapassada por por uma contradição.
uma contradição. Colocando
Colocando entre entre
isso Oo devir,
isso devir, porque
porque se se se admite o
se admite o determinar-se
determinar-se ou ou oo desdetermi-
desdetermi-
nar-se, certamente
nar-se, certamente se se admite
admite oo devir
devir de de um têrmo que
um têrmo passa para
que passa para
outro têrmo,
outro têrmo, desaparecendo
desaparecendo um um para
para dar dar surgimento
surgimento ao ao outro;
outro; oo
outro
outro surgindo
surgindo para para dar dar desaparecimento
deszparecimento ao ao primeiro,
primeiro, com com duasduas
funções inversas, que
funções inversas, que fazem
fazem parte
parte dada mesma realidade.
mesma realidade. Ele en­
Êle en-
contrava aa solução
contrava solução do do seu
seu problema,
problema, que que aa contradição
contradição estava
estava den-
den­
tro
tro da mesma unidade.
da mesma unidade. Ele podia dizer;
Êle podia dizer; aa tese
tese ee aa antítese
antítese esta­
esta-
vam sintetizadas.
vam sintetizadas. Então alcançava aa idéia
Então alcançava idéia dada síntese,
síntese, queque eraera aoao
mesmo tempo
mesmo tempo uma afirmação ee uma
uma afirmação uma negação
negação ee uma uma superação;
superação; su- su­
peração
peração da da afirmação
afirmação ee da da negação.
negação. AA afirmação
afirmação era era afirmada,
afirmada,
aa negação
negação era
era negada
negada ee oo mesmo
mesmo tempo
tempo aa superação
superação da da síntese
síntese afir­
afir-
mava
mava aa afirmação
afirmação ee negava
negava aa negação
negação ee ao
ao mesmo
mesmo tempo
tempo afirma-
afirma­
va
va aa negação,
negação, porque tornava aa negação
porque tornava negação de
de certo modo positiva,
certo modo positiva,
porque
porque aa negação
negação sese dava.
dava. Então achou que
Então achou que havia
havia chegado
chegado àà so­so-
lução suprema
lução suprema do pensamento humano,
do pensamento quer dizer,
humano, quer dizer, oo ponto
ponto ápice
ápice
do pensamento humano,
do pensamento humano. Éé natural
natural que
que êle, debaixo dêste
êle, debaixo dêste júbilo,
júbilo,
por muitas falhas
por muitas falhas filosóficas
filosóficas que tinta, em
que tinha, consegiiência da
em conseqüência da sua
sui
formação,
formação, se se empolgasse
empolgasse ee não lhe faltassem
não Ihe faltassem incensadores
incensadores da da sua
sua
grande descoberta, julgando-se,
grande descoberta, julgando-se, então,
então, como
como oo homem
homem que que fechava
fechava.
ài história
história da da Filosofia.
Filosofia. AA história
história da da filosofia
filosofia teria
teria desenvolvi-
desenvolvi­
do todo o processo filosófico, para alcançá-lo, do mesmo modo
do todo o processo filosófico, para alcançá-lo, do mesmo modo
que todo processo histórico ia alcançar o Estado prussiano.
que todo processo histórico ia alcançar o Estado prussiano. Então
Então
êle
êle era
era ao
ao mesmo
mesmo tempotempo oo Estado
Estado prussiano,
prussiano, ee oo Estado
Estado prussiano
prussiano
era êle,
era êle, ee aa história,
história, tôda
tôda aa história, incluindo aa da
história, incluindo da filosofia, en-
filosofia, en­
contrava
contrava oo seu ápice, ee depois
seu ápice, depois dêle
dêle aa história
história passaria
passaria aa ser
ser ape-
ape­
nas de
nas de accidentes,
accidentes, para para descrever
descrever alguns
alguns acontecimentos
acontecimentos secundá-
secundá­
rios, porque
rios, porque oo principal,
principal, o o mais
mais importante,
importante, o o mais extraordiná-
mais extraordiná­
rio papel
rio papel havia
havia sido
sido realizado
realizado ee havia
havia alcançado
alcançado néêle
nêle oo seu fêcho.
seu fêcho.


— 104 —
104 —
Temos
Temos dede perdoar
perdoar essa deficiência de
essa deficiência de Hegel; perdoar den-
Hegel; perdoar den­
tro
tro da
da psicologia
psicologia ee da
da nossa
nossa humanidade,
humanidade, mas, mas, filosôficamente,
filosoficamente,
temos
temos de compreender a
de compreender a sua
sua fraqueza,
fraqueza, o o seu
seu êrro,
êrro, por não ter
por não êle
ter êle
entendido claramente aa teoria
entendido claramente teoria do
do acto
acto ee potência
potência ee oo princípio
princípio dada
privação, que
privação, que éé fundada
fundada no no principio
princípio da da negação,
negação, "o “o que
que nega,
nega,
nega”.
nega”.

Hegel
Hegel não não conseguiu,
conseguiu, dêste
dêste modo, vencer esa
modo, vencer es:a ilusão,
ilusão, esta
esta
alucinação filosófica,
alucinação filosófica, que
que sese apresentou
apresentou aosaos seus
seus olhos.
olhos. Não Não po- po­
dia compreender que
dia compreender que oo ser permanecesse ser
ser permanecesse durante oo devir,
ser durante que
devit, que
oo devir
devir não
não eraera propriamente
prôpriamente uma uma negação
negação do do ser,
ser, ao
ao contrário,
contrário,
oo devir
devir era
era aa afirmação
afirmação dodo ser,ser, porque
porque oo que
que devém
devém éé alguma
alguma
coisa que devém
coisa que devém de de alguma
alguma coisa,coisa, devém
devém em em alguma coisa; que
alguma coisa; que
oo devir,
devir, necessáriamente,
necessariamente, éé ab ab alio,
alio, que
que oo devir
devir não
não pode
pode serser aa se,
se,
porque
porque umum devir
devir «a se
se perde
perde completamente
completamente aa sua sua realidade,
realidade.

Éle
Êle não podia distinguir
não podia distinguir oo contexto
contexto alfa
alfa dodo contexto
contexto beta,
beta,
porque lhe
porque Ihe faltava
faltava oo conhecimento
conhecimento da teoria do
da teoria do acto
acto ee potência.
potência.
EE faltava mesmo, porque,
faltava mesmo, porque, embora
embora pareça
pareça incrível,
incrível, Hegel nunca
Hegel nunca
leu
leu São Tomás, nem
São Tomás, nem Aristóteles.
Aristóteles. Não conhecia
Não conhecia Platão,
Platão, aa não
não ser
ser
de segunda mão,
de segunda mão, ee jamais
jamais se debruçara sôbre
se debruçara sôbre aa obra
obra dede grandes
grandes
filósofos.
filósofos. Era Era um jurista, um
um jurista, um homem
homem que que sese dedicara
dedicara de início
de início
ao estudo do Direito, o qual exige penetração na filosofia da
ao estudo do Direito, o qual exige penetração na filosofia Ética,
da Ética,
além
além de se correlacionar
de se correlacionar comcom asas outras
outras disciplinas,
disciplinas, e,e, naturalmente,
naturalmente,
com
com asas ciências
ciências especulativas.
especulativas. Esta Esta aa razão
razão porque
porque se se encontram
encontram
em
em sui sui obra
obra momentos
momentos de de fraqueza, que não
fraqueza, que não sese podem admitir
podem admitir
num filósofo cio
num filósofo co seu
seu porte, pois era
porte, pois era intelectualmente
intelectualmente de grande
de grande
valor. Mas
valor. Mas aa inteligência,
inteligência, por por maior
maior que
que seja,
seja, não
não pode
pode dede for-
for­
ma alguma
ma alguma suprir
suprir deficiências
deficiências apenas pela criação
apenas pela criação pessoal.
pessoal. Há Há
necessidade de
necessidade de certos conhecimentos, há
certos conhecimentos, necessidade do
há necessidade do tesouro
tesouro
que
que aa humanidade
humanidade realizourealizou através
através dede milênios,
milênios, porque, por nós
porque, por nós
mesmos, podemos achar
mesmos, podemos achar rhuitas
ifiuitas coisas
coisas extraordinárias,
extraordinárias, podemos
podemos
chegar
chegar aa resultados
resultados que levaram séculos,
que levaram séculos, milênios,
milênios, aa serem
serem alcan-
alcan­
çados,
çados, não
não háhá dúvida, contudo, não
dúvida, contudo, não podemos
podemos chegarchegar aa todos.
todos. Há Há
necessidade
necessidade de de que
que nos
nos demoremos
demoremos no no estudo
estudo das das grandes obras,
grandes obras,
para
para evitar
evitar cometamos
cometamos certas fraquezas. E
certas fraquezas. E foi
foi oo que
que aconteceu
aconteceu
com
com Hegel.
Hegel.


— 105—
105 —
Locke, entre
Locke, entre os
os modernos também pôs-se
nodernos também pôs-se aa atacar
atacar êsses
êsses prin-
prin­
cipios.
cípios. Êle,Ele, LeLe Roy,
Roy, Bergson,
Bergson, Spir, Renouvier apresentaram
Spir, Renouvier apresentaram ar- ar­
gumentos
gumentos de de uma
uma fraqueza tal que
fraqueza tal que sese reduzem
reduzem aos aos outros argu-
outros argu­
mentos,
mentos, que que já já tivemos
tivemos oportunidade
oportunidade de ver. Uns
de ver. Uns dizem,
dizem, porpor
exemplo, que
exemplo, que éé uma
uma criação
criação puramente
puramente psicológica,
psicológica, outros
outros que
que éé
aperas
apenas uma uma questão
questão da da nossa
nossa esquemática,
esquemática, outros
outros queque não têm
não têm
nenhum fundamento,
nenhum fundamento, porque
porque aa realidade está constantemente
realidade está constantemente des­ des-
mentindo aa identidade;
mentindo identidade; isto é, fazem
isto é, fazem confusão ertre contraditório,
confusão er.tre contraditório,
contrário, modal, alteração,
contrário, modal, alteração, como
como os os marxistas
marxistas que que confundem
confundem aa
alteridade
alteridade com com asas modais,
modais, ee dizem
dizem que
que são
são contradições
contradições do do ser
ser etc.
etc.

Descogs em
Descoqs em defesa
defesa dada sua tese argumenta
sua tese argumenta dêste modo: oo
dêste modo:
princípio que
princípio que não
não pode de nenhum
pode de nenhum modomodo ser deduzido de
ser deduzido de outro,
outro,
seria
seria aquela
aquela noção simplicíssima, suposta
noção simplicíssima, suposta necessàriamente
necessáriamente para
para
todos, ee que
todos, que éé imediatamente formada.
imediatamente formada.

OO princípio
princípio de
de contradição
contradição tem
tem essas
essas qualidades, tem êsses
qualidades, tem êsses
aspectos; portanto,
aspectos; portanto, consegiientemente,
conseqüentemente, êle
êle éé o
o primeiro
primeiro princípio,
princípio,
não deduzido
não deduzido dede outro.
outro.

Ora, se
Ora, se vamos
vamos estudar
estudar oo princípio
princípio ontológico,
ontológico, dentro
dentro dodo cam­
cam-
po da
po da Ontologia,
Ontologia, ee não
não no
no campo
campo dada Psicologia, não podemos
Psicologia, não podemos acei-
acei­
tar essa
tar essa demonstração
demonstração de Descoqs, porque
de Descoqs, porque ela,
ela, ao
ao dizer
dizer que
que êle
êle
pode ser
pode ser tomado não deduzido
tomado não deduzido dos outros, não
dos outros, não éé verdade,
verdade, como
como
tiveros
tivemos oportunidade
oportunidade dede ver, quando fizemos
ver, quando fizemos aa crítica
crítica dos
dos argu­
argu-
mentos tomistas.
mentos tomistas.

De forma
De forma queque não aceitamos como
não aceitamos como suficientemente
suficientemente apodítica
apodítica
essa demonstração,
essa demonstração, ela ela continua
continua ainda
ainda sendo mais um
sendo mais um exemplo
exemplo de de
como,
como, na na escolástica,
escolástica, dividem-se
dividem-se as posições, fundando-se
as posições, fundando-se em em ar­ar-
gumentos
gumentos mais mais ou
ou menos
menos de paridade, mas
de paridade, nenhum dêles
mas nenhum dêles apodí-
apodí-
tico, quer
tico, quer dizer, nenhum dêles
dizer, nenhum dêles com
com aquela
aquela suficiente apoditicida-
suficiente apoditicida-
de para
de para anular
anular osos outros.
outros. No
No entanto, aceitando oo pensamento
entanto, aceitando pensamento
matético, ee dando
matético, dando êste
êste aa apoditicidade exigida, partimos
apoditicidade exigida, partimos do prin-
do prin­
cípio "a
cípio “a afirmação
afirmação afirma".
afirma”. Eis uma noção
Eis uma noção simplicíssima,
simplicissima, total­
total-
mente necessária,
mente necessária, porque
porque “a "a afirmação
afirmação afirma”
afirma" éé oo seu
seu próprio
próprio tes-
tes­
temunho, porque
temunho, porque éé aa sua sua própria
própria manifestação,
manifestação, porque
porque aa afirma-
afirma­
ção éé aa afirmação,
ção afirmação, ee cla antecede aa tudo
ela antecede tudo mais.
mais. NãoNão sese pode
pode partir
partir
da negação, tem
da negação, tem dede se partir da
se partir da afirmação.
afirmação. Então, consecúente-
Então, consecüente-


— 106 —
106 —
.
mente, aa afirmação
mente, afirmação antecede
antecede aa tudo
tudo quanto
quanto é,é, aa afirmação
afirmação éé aa
tazão de ser
razão de ser de
de tudo
tudo quanto é, porque
quanto é, porque oo ser
ser éé também
também afirmação.
afirmação.
Tudo ao qual
Tudo ao qual predicamos
predicamos algo positivo, tem
algo positivo, tem de
de ser
ser afirmativo.
afirmativo. A A
afirmação é,é, conseqüentemente,
afirmação consegentemente, o o antecedente
antecedente ee o o primeiro.
primeiro. Mes­ Mes-
mo
mo que partíssemos, matéticamente,
que partíssemos, matèticaments, de de idéias universais, se
idéias universais, dis-
se dis­
séssemos: oo antecedente
séssemos: antecedente éé anterior
anterior aoao conseqüente,
consequente, oo antecedente
antecedente
tem prioridade
tem prioridade legallegal sôbre
sôbre aa conseguência,
consequência, oo antes antes teria
teria priorida-
priorida­
de
de sôbre
sôbre o o depois,
depois, seria
seria umauma verdade
verdade independentemente
independentemente de de ser.
ser.
Poder-se-iam formular
Poder-se-iam formular tais tais juízos,
juízos, masmas sabemos
sabemos que que podemos
podemos
dizer
dizer tudo
tudo isso porque partimos
isso porque partimos do do ser.
ser. Na Na verdade,
verdade, oo funda­
funda-
mento de
mento de tôda
tôda ee qualquer
qualquer afirmação
afirmação matética
matética sô sô pode naturi!-
pode natural­
mente ser
mente ser aa própria
própria afirmação
afirmação ee não não aa negação,
negação. E essa
é essa própria
própiia
antecedência,
antecedência, tendotendo prioridade
prioridade sôbresôbre aa consequência,
consequência, não não se se po­
no-
deria fundar
deria fundar no no mero
mero nada,
nada, ela
ela só
só poderia
poderia fundar-se
fundar-se em em algo afir-
algo afir­
mativo, em
mativo, em algo
algo queque sese põe,
põe, em algo que
em algo que se se dá,
dá, emem algo que se>e
algo que
manifesta,
manifesta, em em algo
algo queque temtem adsência.
adsência. Então,
Então, consequentemente,
conseqüentemente,
êsse
êsse princípio
princípio éé o o primeiro.
primeiro.


— 107
107 —

CAP. VII
CAP. VII

DO ENTE DE
DO ENTE DE RAZÃO
RAZÃO

Segundo
Segundo aa posição
posição clássica, ente de
clássica, ente de razão
razão éé aquêle
aquéle queque só só
pode existir
pode existir objectivamene
objectivamente apenasapenas na na mente.
mente. A razão,
A como
razão, como
sabemos, éé faculdade
sabemos, faculdade do nosso entendimento
do nosso entendimento que que classifica,
classifica, aa fa­
fa-
culdade que
culdade capta os
que capta os aspectos
aspectos que
que sese repetem
repetem nos nos diversos
diversos entes,
entes,
para classificá-los.
para classificá-los. Ela Ela é,é, portanto,
portanto, aa construtora
construtora dos dos conceitos
conceitos
universais; aa razão
universais; razão é,é, pois universalizante na
pois universalizante na sua
sua função:
função: éé aa fun-
fun­
ção propriamente
ção prôpriamente universalizante.
universalizante.
Quando,
Quando, em Filosofia ee Cosmovisão,
em Filosofia Cosmóvisão, demosdemos os os fundamentos
fundamentos
da filosofia
da concreta ee também
filosofia concreta também da da Matese,
Matese, naquela
naquela obra
obra traçamos
traçamos
uma síntese
uma síntese muitc rápida, ee que
muitc rápida, que seria motivo de
seria motivo de maiores
maiores análises
análises
ee também
também de de desenvolvimentos
desenvolvimentos posteriores,
posteriores, masmas jájá mostrávamos
mostrávamos
que aa nossa
que nossa conceituação
conceituação tem duas origens:
tem duas origens: umauma origem
origem na na intui-
intui­
ção sensível,
ção sensível, ee uma origem na
umi origem na intuição intelectual.
intuição intelectual. A da
A da intuição
intuição
sensível
sensível nos nos dádá osos conceitos
conceitos da intuição, conceitos
da intuição, conceitos que tomamos
que tomamos
da nossa experiência
da nossa directa ee indirecta,
experiência directa indirecta, intrínseca
intrínseca ouou extrínseca,
extrínseca,
os quais,
os quais, depois
depois de racionalizados, vão
de racionalizados, vão construir
construir osos conceitos cor-
conceitos cor­
respondente
respondente da razão. Ali
da razão. vimos doze
Ali vimos pares de
doze pares de conceitos:
conceitos: os os con­
con-
ceitos da
ceitos da intuição
intuição ee osos conceitos
conceitos dada razão.
iazão.

Os
Os conceitos racionais actualizam
conceitos racionais actualizam aa semelhança,
semelhança, enquanto
enquanto os os
conceitos intuicionais
conceitos intuicionais actualizam
actualizam aa diferença
diferença e,e, sobretudo,
sobretudo, aa hac-
hac-
certas (a
ceitas (a aceidade, que nos
aceidade, que nos éé dada através da
dada através da intuição
intuição sensível),
sensível),
aa qual
qual constrói
constrói as
as chamadas espécies impressas
chamadas espécies impressas dede que
que falavam
falavam os os
escolásticos,
escolásticos, pois
pois sio
são essas espécies impressas,
essas espécies praticamente, ante-
impressas, pràticamente, ante-
«conceitos fundados
-conceitos fundados na na experiência,
experiência, na na memória,
memória, na na fantasia,
fantasia, nana
percepção, etc.
percepção, etc.


— 1109
09 —

Os
Os conceitos
conceitos da razão são
da razão são pròpriamente
prôpriamente osos universais,
universais, actua-
actua­
lizando apenas
lizando apenas asas semelhanças.
semelhanças. Assim, homem éé um
Assim, homem um cenceito
conceito de de
razão, porque
razão, porque tomamos
tomamos nêle nêle apenas
apenas os os aspectos
aspectos queque se sé repetem
repetem
em todos osos homens,
em todos homens, aspectos
aspectos queque julgamos essenciais. Ora,
julgamos essenciais. Ora, aà
objectividade dêsses conceitos
objectividade dêsses conceitos está na nossa
está na nossa mente,
mente, ee não podem
não podem
dar-se fora
dar-se fora de
de uma mente.
uma mente. Mas podem
Mas podem ter ter um
um fundamento
fundamento fora fora
da nossa
da mente.
nossa mente. Os conceitos de
Os conceitos de razão
razão podem também ser
podem também ser con-
con­
ceitos meramente
ceitos meramente de de razão,
razão, sem
sem fundamento
fundamento fora fora dada nossa
nossa mente,
mente,
ee podem
podem serser de
de razãc
razãc com fundamento fora
com fundamento fora da
da nossa mente.
nossa mente. En-
En­
tão os
tão os primeiros
primeiros seriam
seriam meramente
meramente ficcionais
ficcionais ee os os segundos
segundos se­ se-
riam ficcionais
riam ficcionais num
num sentido,
sentido, mas reais em
mas reais outro, ee outros
em outro, outros podem
podem
ser reais
ser no sentido
reais no mental ee reais
sentido mental fora dela.
reais fora dela. Aliás, os ficcionais
Aliás, os ficcionais
não têm
não têm fundamento
fundamento real. real.

Assim, oo conceito
Assim, conceito de
de gênero,
gênero, o o de espécie, enfim
de espécie, enfim os
os praedica-
praedica-
bilia,
bilia, são
são todos
todos entes de razão.
entes de razão. Podem ter
Podem ter um
um fundamento real
fundamento real
ee êsse
êsse fundamento
fundamento realreal éé dado
dado pelas
pelas coisas
coisas que
que manifestam
manifestam aa pre­
pre-
sença
sença dede alguma
alguma coisa
coisa que
que dádá res
res suficiente
suficiente para
para aa necessária rea-
necessária rea-
litas extra mentis
litas extra mentis aa êstes conceitos.
êstes conceitos.

Tôdas
Tôdas asas discussões
discussões dentro
dentro da da dialéctica,
dialéctica, em tôrmo do
em tômo do ente
ente
de razão,
de razão, partem
partem dêsse
dêsse êrro
êrro fundamental:
fundamental: não não colocar claramente
colocar claramente
oo que
que éé um
um conceito
conceito de razão.
de razão. Algurs afirmam
Algur.s afirmam que que o o conceito
conceito
de razão não
de razão não éé puramente
puramente de de razão,
razão, éé também
também real, etc.
real, etc.
Essas discussões
Essas discussões não têm base,
não têm base, não
não têm
têm fundamento,
fundamento, nãonão têm
têm
justificação, desde
justificação, desde que
que clareemos
clareemos oo queque éé conceito
conceito de razão; quer
de razão; quer
dizer, colocada
dizer, colocada bem
bem aa questão,
questão, tôda
tôda aa disputa
disputa emem tôrno dessa ma-
tôrno dessa ma­
téric perde
téria perde aa sua
sua razão
razão de
de ser.
ser.
Psicolôgicamente, verifica-se
Psicologicamente, que podemos
verifica-se que podemos logicizar
logicizar sem
sem ape­
ape-
nas
nas reduzir
reduzir aa entes
entes de razão, devemos
de razão, :ambém considerar
devemos :ambém considerar não
não sósó
oo fundamento
fundamento in in te,
re, mas também aa presença
mas também presença do ente reai
do ente reai na sua
na sua
singularidade,
singularidade, do contrário aa Lógica
do contrário ficaria reduzida
Lógica ficaria reduzida aa umum campo
campo
muito restrito.
muito restrito.
A Dialéctica
A não pode
Dialéctica não restringir-se dêste
pode restringir-se modo, de
dêste modo, de maneira
maneira
nenhuma, porque do
nenhuma, porque do contrário
contrário ela
ela não
não éé aplicável
aplicável àà realidade.
realidade.
AA Lógica
Lógica só
só trabalha
trabalha com entes de
com entes razão, enquanto
de razão, enquanto aa Dia-
Dia­
léctica pode
léctica pode trabalhar com entes
trabalhar com singulares.
entes singulares.

— do —
— 110 —
Para
Para evitar
evitar de
de antemão tôda ee qualquer
antemão tôda confusão éé mister
qualquer confusão mister
considerar ente de
considerar ente razão azenas
de razão aquêle que
apenas aquêle que pode
pode existir
existir objectiva-
objectiva­
mente na
mente mente, oo que
na mente, que não se dá
não se dá fora
fora da
da mente
mente humana ou divina
humana ou divina
ee o
o ente
ente real, aquêle que
real, aquêle que sese dá
dá fora
fom dada mente,
mente, mas
mas pode ser tra-
pode ser tra­
tado como
tado como ente
ente de
de razão
razão ela
pela Lógica.
Lógica.

Dêste modo, esta


Dêste modo, incluiria todos
esta incluiria todos os os aspectos,
aspectos, ee nãonão haveria
haveria
mais lugar
mais lugar para certas discussões
para certas prolongadas, que
discussões prolongadas, que surgiram
surgitam devdev --
do àà má
do má colocação
colocação do conceito de
do conceito de e.ite
ente dede razão.
razão, éE preciso,
preciso, pois,
pois,
conceituar
conceituar com clareza, para
com clareza, para evitar tais confusões,
evitar tiis confusões, que são perfeita-
que são perfeita­
mente anuláveis,
mente anuláveis, ee que
que sósó perturbam
perturbim aa melhor
melhor compreensão
compreensão da da
matéria.
matéria.

O ente
O ente de
de razão
razão éé primicialmente
primicialmente um um objecto
objecto lógico,
lógico, mas
mas
não éé oo único
não único objecto
objecto com que aa Lógica
com que Lógica trabalha.
trabalha. As As nossas
nossas
abstracções não podem
abstracções não podem ser ser consideradas
consideradas apenas
apenas realizações da nos-
realizações da nov-
sa razão, pois
sa razão, podem ter
pois podem ter fundamento
fundamento inix re.
re.
De certo
De moco abstrair
certo moco abstrair oo ente formal éé tomar
ente formal tomar oo ente
ente singular
singular
sob
sob alguns
alguns determinados
determinados aspectos, como tomamos
aspectos, como tomamos o o conceito
conceito de
de
Europa, oo conceito
Europa, de América,
conceito de etc.
América, etc.

Assim
Assim Deus
Deus ét umum conceito mais do
conceito mais do que concreto, é
que concreto, é um
um con-
con­
ceito ao
ceito ao cual se dá
cual se dá aa singularidade
singularidade ee aa presença individual ee única,
presença individual única,
e* que
que níonão pode ser reduzido
pode ser reduzido apenas
apenas aa umum ente
ente de
de razão,
razão, pois
pois
do contrário
do contrário não
não teria
teria sentido.
sentido.

OO ente
ente de
de razão,
razão, considerado como tal,
considerado como tal, éé aquêle
aquêle que possui
que possui
uma
uma exis:ência
exisrência objectiva
ob;ectiva apenas na mente,
apenas na mente, não tendo aa possibili-
não tendo possibili­
dade
dade de
de sese dar
dar existentemente,
existentemente, fora
fora de
de suas
suas causas.
causas.

AA icéia
icéia de
de ser
ser éé para
para nós,
nós, de
de qualquer
qualquer forma,
forma, algo
algo real
real por-
por­
que
que se
se oo ser
ser não
não tivesse
tivesse uma
uma realidade objectiva extra
realidade objectiva mentis,
extra mentis,
neste caso,
neste caso, tôda
tôda ciência
ciência seria
seria fundaca apenas nas
fundaca apenas nossas idéias,
nas nossas idéias, ee
cairiamos em
cairíamos em pleno
pleno idealismo.
idealismo. Mas Mas até
até nesse idealismo teríamos,
nesse idealismo teríamos,
inevitâvelmente,
inevitavelmente, de de afirmar
afirmar queque alguma
alguma coisa
coisa há,
há, ee que
que alguma
alguma
coisa
coisa existe
exijte ee que,
que, em
em consequênci.,
consequênck, há há um
um ente
ente que, de certo
que, de certo
modo, independe da
modo, independe da nossa
nossa mente.
mente.

Assim, se
Assim, se vê que aa objectividade
vê que objectividads extra
extra mentis
mentis do
do conceito
conceito «e
ae
ente tem um
ente tem um fundamento
fundamento real,
zeal, coro o mostramos
coito o mostramos em
em Filosofa
Filosof>a


— dll
111 —

Concreta,
Concreta, ee oo demonstramos
demonstramos de forma apodítica
de forma apoditica e, e, pode-se
pode-se dizer,
dizer,
definitiva.
definitiva. O valor
O valor objectivo
objectivo do ente, do
do ente, do ser,
ser, é,é, portanto, indu-
portanto, indu­
bitável.
bitável.

Se tomamos oo conceito
Se tomamos conceito de de homem, podemos reduzí-lo
homem, podemos reduzí-lo ape-
ape­
nas aa um
nas um ente de razão,
ente de razão, mas verificamos, na
mas verificamos, na realidade, que êsse
realidade, que êsse
conceito
conceito significa animal racional,
significa animal racional, ee ademais
ademais verificamos
verificamos de facto
de facto
aa existência
existência de de alguns
alguns entes
entes aos
aos quais
quais podemos
podemos chamarchamar de de animais
animais
racionais
racionais e, e, conseqüentemente,
consequentemente, de de homens,
homens, oo que que verr.
ver provar
provar queque
hã entes
há entes dede razão
razão com fundamento -eal
com fundamento real ee êste
êste oferece,
oferece, sem dúvida
sem dúvida
alguma,
alguma, uma uma hierarquia
hierarquia cada
cada vez mais crescente,
vez mais crescente, de de modo
modo que que
embora oo conceito
embora conceito dede homem
homem seja seja um
um conceito abstracto, como
conceito abstracto, como se se
classifica na
classifica na gramática,
gramática, êleêle tem
tem uma
uma correspondência
correspondência concreta
concreta ee
determinada,
determinada, porqueporque quer
quer se se referir
referir aa tal
tal ente,
ente, oo qual podemos
qual podemos
classificar como
classificar como animal
animal racional.
racional.

Discute-se na
Discute-se Filosofia se
na Filosofia se aa verdade
verdade também
também tem tem um
um valor
valor
objectivo extra
objectivo extra mentis.
mentis. Naturalmente,
Naturalmente, se se não
não consideramos
consideramos queque
aa verdade
verdade éé apenas
apenas aa adequação
adequação entre
entre dois
dois têrmos, dos quais
termos, dos quais um
um
dêles pelo
dêles pelo menos
menos éé o o intelecto, encontramos que
intelecto, encontramos que aa verdade
verdade éé um
um
ente
ente dede razão
razão com
com umum fundamento
fundamento real,real, que
que éé dado
dado pelo
pelo outro
outro
têrmo,
têrmo, queque sese adequa
adequa com
com o o que
que intencionalmente
intencionalmente aa mente cons-
mente cons­
trói sóbre oo mesmo.
trói sôbre mesmo.

Mas se
Mas se considerarmos
considerarmos aa adequação
adequação dêsses
dêsses dois
dois têrmos numa
termos numa
. relação
relação transcendental,
transcendental, comocomo da coisa em
da coisa relação aa sisi mesma,
em relação mesma, po-po­
“demos
demos então falar numa
então falar numa verdade
verdade em si, aa verdade
em si, verdade da coisa em
da coisa em
relação aa sisi mesma,
í relação mesma, de de forma
forma que esta seria
que esta seria uma
uma verdade
verdade de de valor
valor
objectivo extra
objectivo mentis.
extra mentis.

Quanto
Quanto às às discussões que, na
discussões que, Filosofia, se
na Filosofia, se podem
podem fazerfazer em
em
tôrno
tôrno dada abstracção
abstracção precisiva, não éé matéria
precisiva, não matéria para
para nósnós cece difícil
difícil so­
so-
lução
lução já já que,
que, como tivemos oportunidade
como tivemos oportunidade de de analisar,
analisar, sabemos
sabemos
perfeitamente que
perfeitamente que asas abstracções,
abstracções, quando
quando bem bem fundadas,
fundadas, quando
quando
bem construídas, têm
bem construídas, têm umum fundamento
fundamento real;real; algumas
algumas têm têm um um re-
re­
presentante real, como
presentante real, como se se dá
dá com
com asas abstracções
abstracções de de primeiro
primeiro grau:
grau:
casa, pedra,
casa, chapéu, árvore,
pedra, chapéu, árvore, que
que têm seus representantes,
têm seus representantes, quer di-
quer di­
zer, têm um
zer, têm um fundamento
fundamento em em individualidade, tomadas em
individualidade, tomadas em suasua to-
to­
talidade, (species
talidade, (species specialissima).
specialtssim a). No No entanto
entanto há, há, nas
nas abstracções
abstracções


— 12 —
112 —
de segundo
de grau, uma
segundo gnu, diferença: esta
uma diferença: esta não
não nos
nos mostra
mostra represen-
represen­
tantes. ee não
tantes. não encontramos,
encontramos, prôpriamente, senão figurativamente,
propriamente, senão f.gurativamente,
como
como nosnos casos
casos das
das figuras
figuras geométricas,
geométricas, mas
mas dada quantidade
quantidade des-
des­
continua não
contínua não encontramos
encontramos representantes,
representantes, aa não
não ser
set apenas
apenas o 2 que
que
participa de
participa de tal quantidade.
tal quantidade. Quanto
Quinto àà quantidade
quantidade contínua,
contínua, que
que
éé aa geométrica, encontramos coisas,
geométrica, encontramos coisas, cue
cue podem
podem terter esta
esta forma, mas
forma, mas
será uma forma
será uma forma meramente
meramente accidental.
accidental.

Quanto
Quanto às abstracções de
às abstracções de terceiro grau, nestas
terceiro grau, nestas oo seu
seu funda-
funda­
mento
mento in in re apoia-se ora
re apoia-se ora no aspecto legal,
no aspecto no aspecto
legal, no aspecto dodo nomos,
no/nos,
no aspecto da
no aspecto da norma,
norma, ao ao que prépriament: chamamos
que propriamente chamamos leis, ou os
leis, ou os
aspectos formais não
aspectos formais prôpriamente constituintes
não propriamente constituintes da da essência
essência da da
coisa, como o
coisa, como o ser
ser antecedente
antecedente ee o ser conseqüente
o ser consegiente oo serser causa,
causa, Oo
ser
ser efeito,
efeito, etc,
etc. Há,Há, assim,
assim, um velor também
um valor objectivo nêsses
também objectivo nêsses en-
en­
tes de razão, dentro do fundamento real que êles cferecem, e na
tes de razão, dentro do fundamento real que êles oferecem, e na
discussão
discussão em tôrno da
em tòrno da realidade
realidade dos universais, vemos
dos universais, vemos que que asas
abstracções, tanto
abstracções, tanto dede primeiro,
primeiro, como
como de de segundo,
segundo, como
como dede terceiro
terceiro
graus, uma
graus, uma entifas
enlilas extra mentis, não
extra mentis, apenas fundamentalmente,
não apenas fundamentalmente,
mas participialiter,
mas quer dizer
participialiter, quer como sese se
dizer como se desse
desse existentemente,
existentemente, ee
não apenas
não apenas nominaliter,
nominaliter, no no sentido
sentido apenas
apenas da da sua
sua essência.
essência.

Se se
Se se comprovasse
comprovasse que que se dão os
se dão os universais
universais extra mentis, não
extra mentis, não
apenas in
apenas ir re,
re, perque
perque êstes,
êstes, dede cer:o
cerco modo
modo se dão, mas
se dão, mas ante rem,
ante rem,
como oo propõe
como propõe oo realismo,
realismo, teríamos
teríamos provado
provado oo carácter
carácter objectivo
objectivo
extra mentis
extra mentis dessas
dessas entidades,
entidades, das das quais
quais tratamos
tratamos ee somos capa-
somos capa­
zes de
zes de alcançar
alcançar pela
pela nossa especulação.
nossa especulação. O que
O que éé importante
importante esta­
esta-
belecer éé que
belecer que aa posição
posição idealista, termina pròpriamente
idealista, termina prôpriamente por negar
por negar
uma entidade
uma extra mentis
entidade extra mentis adequada
adequada às às nossas
nossas idéias,
idéias, ee tende
tende aa
postular que o nosso mundo é ums: criação da nossa mente, oo que
postular que o nosso mundo é uma criação da nossa mente, que
fatalmente oo arrasta,
fatalmente arrasta, emem suas
suas últimas
últimas consequências,
consequências, aa uma uma posi-
posi­
ção
ção ficcionalista,
ficcionalista, ee mais
mais distante
d.stante ainda,
ainda, aoao nihilismo.
nihilismo.

Se pensarmos
Se pensarmos assim,
assim, teríamos,
teríamos, então,
então, de negzr totalmente
de negar totalmente
qualquer realidade a estas entidades extra mentis.
qualquer realidade a estas entidades extra mentis. Esta seria
Esta seria aa
posição própria do idealismo puramente idealista, ideal-idealista,
posição própria do idealismo puramente idealista, ideal-idealista,
porque
porque umum real-idealismo,
real-idealismo, como
como Hegel,
Hegel, por
por exemplo,
exemplo, não não cai nes-
cai nes­
ses
ses exapêros,
exagêros, nem
nem tende
tende àa perder-se
perder-se no
no ficcionalismc.
ficcionalismc.


— 131 3 —

Aquela posição
Aquela posição nana filosofia
filosofia que
que busca
busca dar
dar um
um valor
valor objectivo
objectivo
aos
aos nossos conceitos, apenas
nossos conceitos, apenas como criações psicológicas,
como criações psicológicas, criações
criações
da nossa
da mente (como
nossa mente (como o o faz
faz oo conceptualismo),
conceptualismo), éé uma posição que
uma posição que
não tem
não tem validez
validez emem face
face dada Criteriologia
Criteriologia ee bastaria um exemplo
bastaria um exemplo
que provasse
que provasse uma
uma realidade
realidade extra
extra mentis
mentis para
para pôr
pôr completamente
completamente
abaixo esta
abaixo esta posição.
posição.

AA FFilosofia Concreta nos


ilosofia Concreta nos provou
provou de de modo
modo definitivo
definitivo aa pre­pre-
sença do
sença do ente,
ente, do
do ser
ser extra
extra mentis, porque mesmo
mentis, porque mesmo sese houvesse
houvesse ape­ ape-
nas uma
nas uma mente apta aa pensar
mente apta pensar no ser, essa
no ser, própria capacidade
essa própria capacidade de­ de-
monstra aa presença
monstra presença do ser extra
do ser extra mentis,
menlis. O O que
que sese exige
exige parapara
que
que umauma coisa
coisa tenha
tenha realidade
realidade em em sisi mesma?
mesma? Que ela se
Que ela se dê
dê emem
sisi mesma,
mesma, que que ela não seja
ela não apenas uma
seja apenas uma entitas
entitas quibtis,
quibus, quer
quer dizer,
dizer,
uma entitas
uma que esteja
entitas que esteja em outro ou
em outro ou emem outros, uma entitas,
outros, uma entitas, cuja
cuja
única
única realidade
realidade éé serser apenas
apenas um modo de
um modo de ser
ser de
de alguma coisa.
alguma coisa.

O que
O que exigimos para dar
exigimos para dar realidade
realidade aa alguma
alguma coisa
coisa éé que
que ela
ela
sese apresente, testemunhe-se positivamente
apresente, testemunhe-se positivamente como
como algo
algo que
que sese dá

per se. Ora,
per se. Ora, sese há
há uma
uma mente
mente capaz
capaz dede pensar
pensar numnum ser como
ser como
algo
algo per se, esta
p er se, esta mente
mente comprova
comprova queque ela
ela éé alguma
alguma coisa que se
coisa que se
dá, ela
dá, ela éé um ente, ee um
um ente, um ente
ente que
que se
se dá
dá per
per se;
se; se
se não fôr per
não fôr per se,
se,
mas apenas sonho
mas apenas sonho ou ou imaginação,
imaginação, ficção
ficção dede um
um outro
outro ente,
ente, de
de
qualquer maneira
qualquer maneira encontraríamos
encontraríamos uma uma raiz
raiz que
que fôsse
fôsse ente per se,
ente per se,
porque se
porque se não
não sese desse
desse nenhuma
nenhuma entidade,
entidade, nenhuma
nenhuma positividade,
positividade,
seria impossível haver mente capaz de pensar sôbre a possibilidade
seria impossível haver mente capaz de pensar sôbre a possibilidade
de haver
de haver um
um ente per se.
ente per se.

Ora,
Ora, se se nos
nos colocamos
colocamos do ângulo puramente
do ângulo puramente psicológico
psicológico pa­pa-
recer-nos-ia que
recer-nos-ia que o o argumento
argumento não não tinha
tinha fundamento,
fundamento, mas mas sese nos
nos
colocamos do
colocamos do ângulo
ângulo ontológico,
ontológico, desprezamos
desprezamos oo lado ladopsicológico;
psicológico;
do ângulo
do ângulo ôntico, essa mera
ôntico, essa especulação éé uma
mera especulação uma prova
prova definitiva
definitiva
de que
de que sese dá
dá oo ente
ente per
per se, o que
se, o que éé suficiente
suficiente para afirmar aa sua
para afirmar sua
objectividade, independente
objectividade, independente de de uma mente, porque
uma mente, porque se se algo
algo éé fic-
fic­
ção de
ção de uma
uma mente
mente há,há, finalmente,
finalmente, de de terminar
terminar por
por haver
haver algo
algo que
que
não seja
não ficção de
seja ficção mente nenhuma,
de mente nenhuma, quer quer dizer,
dizer, seja
seja aa própria
própria
mente, ee neste
mente, neste caso
caso estaria afirmada, de
estaria afirmada, de modo definitivo, ee com-
modo definitivo, com­
provada
provada aa existência
existência de de umum ente
ente per
per se,se, oo que
que éé suficiente
suficiente para
para
demonstrar
demonstrar aa nossa
nossa tese.
tese.


— 114 —
114 —
Ota, essas
Ora, essas demonstrações
demonstrações já já foram
foram feitas
feitas de
de modo
modo definitivo,
definitivo,
"como dissemos,
'como dissemos, em em F Filosofia Concreta, portanto
ilosofia Concreta, portanto nãonão sese poderia
poderia
reduzir
reduzir o o mundo
mundo apenas
apenas aa entes
entes de
de razão.
razão. ÊsseEsse éé um
um ponto
ponto impor­
impor-
tante, porque
tante, porque aa tentativa
tentativa de de querer
querer reduzir tôdas as
reduzir tôdas as entidades
entidades que que
somos capazes de
somos capazes de conceber
conceber como meras entidades
como meras entidades dede razão,
razão, inevi-
inevi-
tâvelmente
tàvelmente leva leva aoao ficcionalismo,
ficcionalismo, daí ao nihilismo
daí ao nihilismo ee déste
dêste aoao sa-
sa-
tanismo.
tanismo. São São formas viciosas que
formas viciosas que decorrem,
decorrem, necessáriamente,
necessariamente, des­ des-
sa
sa posição.
posição. De De forma
forma que que não só aa lógica
não só lógica não trabalha apenas
não trabalha apenas
com
com entes
entes de razão, como
de razão, como também
também aa nossa realidade não
nossa realidade não éé apenas
apenas
constituida
constituída de entes de
de entes de razão, nem aa realidade
razão, nem realidade éé constituída
constituída ape-ape­
nas
nas dede entes de razão.
entes de razão.

Alguns autores
Alguns seguem uma
autores seguem uma linhalinha tortuosa
tortuosa para para fazer
fazer aa de- de­
monstração
monstração dessa tese; revelam
dessa tese; revelam nessenesse trabalho
trabalho uma uma grande
grande acui-acui­
dade, um
dade, um grande
grande esfôrço,
esfôrço, mas temos que
mas temos que dizer
dizer queque asas suas
suas tenta-
tenta­
tivas são
tivas são demasiadamente prolongadas ee demoradas,
demasiadamente prolongadas demoradas, ee há há caminhos
caminhos
mais simples
mais simples ee definitivos
definitivos para para comprovar
comprovar aa existência
existência do do ente
ente
tomado participialiter,
tomado participialiter, queque nos são dados
nos são pela experiência
dados pela experiência interna,
interna,
no
no próprio cogitar, no
próprio cogitar, no próprio
próprio querer,
querer, no no próprio
próprio sentir,
sentir, na na pré-
pró­
pria captação do
pria captação nosso eu
do nosso eu como realmente existente,
como realmente porque são
existente, porque são
realmente existentes,
realmente existentes, realmente
realmente se se dão,
dão, realmente
realmente actuam, realmen-
actuam, realmen­
te criam,
te criam, realizam,
realizam, realmente operam, procedem,
realmente operam, procedem, o o que
que prova
prova con-
con­
sequentemente, a
seqüentemente, a sua
sua existência,
existência, algo algo queque se verifica de
se verifica de maneira
maneira
real,
real, comprovando
comprovando que que êsses
êsses conceitos
conceitos têm têm um um valor
valor objectivo.
objectivo.
Também aa experiência
Também experiência externa
externa nos nos mostra
mostra coisas
coisas extra
extra mentis.
memntis,
embora elas
embora sejam visualizadas,
elas sejam visualizadas, captadas
captadas pela pela nossa
nossa mente,
mente, ee so- so­
fram
fram aa natural
natural decoração
decoração que que aa mesma
mesma realiza.
realiza. Sabemos
Sabemos que que há há
outros homens,
outros homens, que que há outros corpos,
há outros corpos, que que há outros sêres
há outros vivos,
sêres vivos,
que
que êstes
êstes sese identificam
identificam aos nossos conceitos,
aos nossos conceitos, ee que que êles têm tam­
êles têm tam-
bém
bém um um valor
valor objectivo.
objectivo. Aliás Aliás essa
essa demonstração
demonstração já já aa fizemos
fizemos
em
em T Teoria
eoria dodo Conhecimento, reproduzindo os
Conhecimento, reproduzindo os mais
mais sérios
sérios argu-
argu­
mentos
mentos apresentados
apresentados até até hoje,
hoje, ee ademais
ademais nestanesta obra.
obra.

Quanto
Quanto ao ao ente tomado nominaliter,
ente tomado nominaliter, na sua essência,
na sua como
essência, como
um todo
um todo concreto,
concreto, êle pode existir
êle pode existir porque mesmo que
porque mesmo que êle
êle fôsse
fôsse
um
um puro possível, não
puro possível, não sendo
sendo êste
êste um
um puro nada, seria
puro nada, um puro
seria um puro
potencial,
potencial, que
que sese não
não pode
pode existir, não pode
existir, não pode dar-se
dar-se fora
fora das
das suas
suas
causas, dar-se-ia pelo
causas, dar-se-ia pelo menos
menos emem suas
suas causas,
causas, como
como asas idéias
idéias eternas
eternas


— 115
115 —

de que
de que tratavam
tratavam Platão
Platão ee os
os escolásticos,
escolásticos, o o que
que estudaremos
estudaremos maismais
adiante, sob
adiante, sob aspectos, que não
aspectos, que não queremos
queremos agora
agora tocar.
tocar. De De forma
forma
que
que temos
temos experiências
experiências ce que êsses
ce que entes, tomadcs
êsses entes, tomados nominaliter,
nominaliter,
dão-se no
dão-se no nosso eu, sem
nosso eu, sem dúvida
dúvida alguma,
alguma, o o que lhes dá
que lhes dá oo sufi­
sufi-
ciente grau de
ciente grau existencialidade que
de existencialidade que poderíamos desejar.
poderíamos desejar.

Sôbre
Sôbre aa matéria
matéria damos até aqui
damos até aqui o
o que
que éé suficier.te
suficierte para
para aa níti­
níti-
da
da compreensão do que
compreensão do que pretendemos
pretendemos fazer.
fazer. Quando
Quando estudemos
estudemos
mais
mais profundamente 'os meros
profundamente 'os meros possíveis
possíveis ee as
as idéias
idéias eternas, então
eternas, então
se
se esclarecerão outros pontos,
esclarecerão outros pontos, que neste momento
que neste momento não
não podemos
podemos
esclarecer.
esclarecer.
»x »X »a
O objecto
O objecto da
da Ontologia
Ontologia éé oo ser ser enquanto
enquanto ser,
ser, do
do qua”
qual in-
in­
vestiga
vestiga aa seguir
seguir asas divisões
divisões ee propriedades
propriedades comocomo também
também os os pri-
pri­
meiros princípios do
meiros princípios do ente,
ente, suas leis que
suas leis que nãc
não são
são aa própria
própria nature­
nature-
za do
za do ente,
ente, mas algo que
mas algo que oo rege,
rege, ee está
está em
em oposição
oposição ao nada.
ao nada.
Esses
Êsses primeiros
primeiros princípios
princípios são, são, entre outros, os
entre outros, Os três
três clássicos,
clássicos, já já
estudados,
estudados, que que éé oo princípio
princípio de de identidade,
identidade, que que enuncia
enuncia aa enti­enti-
dade
dade do ente consigo
do ente consigo mesmo,
mesmo, o o princípio
princípic de de contradição,
contradição, que que
enuncia
enuncia aa oposição
oposição irreductível
irreductível entre entre ente
ente ee nada,nada, ee Oo princípio
princípio
do terceiro
do terceiro excluído,
excluído, que que enuncia
enuncia que que não não se se dádá um um intermédio
intermédio
entre ente
entre ente ee nihilum.
nibilum. Quanto
Quanto àà enunciação
enunciação do princípio de
do princípio de iden-
iden­
tidade são
tidade são dados
dados vários
vários como êste, por
como êste, exemplo: “ente
por exemplo: "ente éé ente”,
ente",
“ser
"ser éé ser”,
ser", "o“o que
que é,é, é",
é”, "tudo
“tudo que que é,é, éé oo que
que é”, é”, “oo que não é,é,
que não
não é".
não é”. Essas
Essas sãosão as maneiras mais
as maneiras mais comuns,
comuns, que que conhecemos
conhecemos de de
enunciar oo princípio
enunciar princípio de identidade.
de identidade. O princípio
O princípio de de contradição
contradição
costuma
costuma ser ser enunciado
enunciado do do seguinte modo: “o
seguinte modo: ”o ente,
ente, enquanto
enquanto ente, ente,
não
não pode
pode serser o o não-ente”,
não-ente”, ou ou "o “o ente
ente nãonão podepode simultâneamente
simultaneamente
ser
ser ente
ente ee não-ente”,
não-ente”, “é impossível que
"é impossível que alguma
alguma coisacoisa sejaseja ee siraul-
sir.iul-
tâncamente
tânc-amente não não seja”.
seja” . ÊsteEste princípio
princípio enuncia,
enuncia, portanto,
portanto, aa oposi­oposi-
ção
ção irreductível
irreductível entreentre ente
ente s: não-ente.
não-ente. ÉÉ de
de uma necessidade me-
uma necessidade me­
tafísica
tafísica queque se se dêdê esta
esta impossibilidade
impossibilidade absoluta, absoluta, que que oO ser ser seja
seja
nada.
nada. Em Em faceface desta
desta oposição
oposição entreentre ente
ente ee não-ente,
não-ente, que que leva
leva aa
formular
formular “ente"ente nãonão éé o o não-ente”,
não-ente”, ou ou seja,
seja, “ente
"ente não não pode ser não-
pode ser não-
-ente”; ; alcançamos
-ente” alcançamos oo princípio
princípio do terceiro excluído,
do terceiro excluído, porque porque não não
havendo
havendo um um intermédio
intermédio entre entre ente
ente ee nihilum,
nihilum, não não se se pode,
pode, simultã-
simulta­
neamente, dizer
neamente, dizer queque algo
algo éé ser
ser ee não-ser,
não-ser, porque
porque enteente ee nihilum
mibilum são são


— 116
116 —

contrários, pelo menos
contrários, pelo menos contrários imediatos, não
contrários imediatos, admitindo, con-
não admitindo, con­
“segentemente, nenhum intermédio;
seqüentemente, nenhum intermédio; portanto,
portanto, algo não poderia
algo não pode:ia si-
si­
multâneamente
multâneamente serser ee não
não ser,
ser, sob
sob oo mesmo
mesmo aspecto
aspecto em
em que êle éé
que êle
tomado.
tomado.
Essas leis
Essas leis são consideradas leis
são consideradas leis de tocos os
de tocos os entes, porque te­
entes, porque te-
mos que dizer
mos que dizer que o ente,
que o ente, enquanso
enquanto éé oo que
que é,
é, não
não pode
pode ser
ser oo que
que
não
não é,é, porque
porque éé oo que
que é.é.

Se
Se oo princípio
princípio da da contradição
contradição não
não fêsse válido, poderíamos
fcsse válido, poderiamos
reduzi-lo, como
reduzi-lo, como mostramos
mostramos em em nossas obras, em
nossas obras, em dois
dois juízos:
juízos: 1.º
1.°
— que
— que o o ente
ente é,é, 2.º
2.° —— que
que oo ente
ente não
não é.é.

Um estaria
Um estaria afirmando aquilo que
afirmando aquilo que oo outro
outro nega,
nega; consequen-
conseqüen­
temente, para
temente, para queque umum fôsse
fôsse verdadeiro
verdadeiro oo outro seria necessaria­
outro seria necessâria-
mente falso.
mente falso. Dêsse modo, vê-se
Dêsse modo, vê-se que
que éé incompatível
incompatível aa mútua afir-
mútua afir­
mação sôbre
mação sôbre o o mesmo
mesmo aspecto, embora alguma
aspecto, embora coisa, um
alguma coisa, ente,
um ente,
possa ser
possa ser algo
algo sob um aspecto
sob um assecto ee não
não ser qridativamente oo mesmo
ser qüidativamente mesmo
sob outro
sob outro aspecto.
aspecto. OO ente,ente, que
que ora
ora éé isto,
isto, sob
sob êste
êste aspecto,
aspecto, pode
oode
vir aa não
vir não serser Oo que
que era
era naquele aspecto. Por
naquele aspecto. Por isso
isso éé que
que se se in-
in­
cluem esses
cluem ésses dois advérbics que
dois advérbios que são: “simultâneamente” ee "sob
são: "simultâneamente" “sob o o
mesmo aspecto".
mesmo aspecto”. Simultâneamente
Simultaneamente não quer dizer
não quer dizer aqui,
aqui, própria-
prcbria-
mente, tempo,
mente, tempo, comocomo quis Kant interpreta:
quis Kant interpretar, masmas simultaneidade
simultaneidade
ontológica: não pode, sob a mesma razão, ser simultâneamente o
ontológica: não pode, sob a mesma razão, ser simultâneamente o
que éé eo
que e o que não éé
que não

OO princípio
princípio dodo terceiro
terceiro excluído
excluído pode-se
pode-se enunciar assim: “o
enunciar assim: "o
que quer
que que seja,
quer que seja, ou
ou éé ou
ou não
não é”, ou “entre
é”, ou ser ee não
"entre ser ser, sob
não ser, o
sob o
mesmo aspecto,
mesmo aspecto, não se dá
não se dá um
um ter
sestio”. Essas são
tio". Essas são maneiras
maneiras de de me-
me­
lhor enunciarmos
lhor enunciarmos oo chamado
chamado princípio
princípio dodo terceiro
terceiro excluído.
excluído.

Quanto ao
Quanto ao valor
valor objectivo dêsses principios,
objectivo dêsses principios, encontramos
encontramos na na
filosofia duas
filosofia duas posições
posições principais,
principais, aa dos
dos que
que afirmam
afirmam que pode
que pode
dar-se aa contradição,
dar-se contradição, e e neste
neste caso haveria não
caso haveria não apenas
apenas uma uma tercei­
tercei-
rara solução
solução válida,
válida, masmas até uma quarta
até uma quarta ouou mais,
mais, e.e. portanto,
portanto, aa
possibilidade de
possibilidade de outros
outros meios,
meios, ee finalmente
finalmente aa daqueles
daqueles que que com­
com-
batem esta posição
batem esta posição ee aceitam
aceitam como
como definitiva
definitiva aa dos
dos três
três princípios
princípios
fundamentais.
fundamentais. Sabemos çue,
Sabemos cue, entre
entre os
os que
que aceitam
aceitam aa contridi-
contradi­
ção incluem-se autóres
ção incluem-se autores como Erasmo, Bergson,
como Erasmo, Bergson, Hegel,
Hegel, para citar
para citar
alguns
alguns dosdos mais
mais famosos. Mostramos como
famosos. Mostramos Hepel coloca
como Hegel coloca ésse
êsse


— H7
117 —

princípio usando
princípio usando um um “truque”
"truque” especioso
especioso para para ocultar
ocultar o o próprio
próprio
princípio de
princípio não contradição,
de não contradição, porque,
porque, propriamente,
prôpriamente, oo que que diz
diz éé
o seguinte:
o seguinte: oo ser ser indeterminado
indeterminado tendetende parapara oo ser determinado, ee
ser determinado,
oo ser
ser determinado
determinado tende tende pata
para oo ser
ser indeterminado.
indeterminado. Isso, Isso, dentro
dentro
do contexto
do contexto beta beta éé claro,
claro, éé evidente,
evidente, porque
porque tôdas
tôdas asas coisas
coisas dêsse
dêsse
contexto, que
contexto, que estão
estão determinadas,
determinadas, tendem
tendem para para determinar-se,
determinar-se, co- co­
mo estão
mo estão para
para determinar-se
determinar-se de de outro
outro modo,
modo, que que éé oo sentido
sentido do do
próprio devir
próprio devir das coisas; no
das coisas; no devir,
devir, as as coisas
coisas sese dão assim.
dão assim. Quan-
Quan­
to ao
to inverso, do
ao inverso, do ser
ser que ainda éé indeterminado,
que ainda indeterminado, como como éé aa po­p>-
tência, seria
tência, seria oo ser ser ainda
ainda indeterminado,
indeterminado, tendendotendendo para para actuali­
actuali-
zar-se, tende,
zar-se, tende, necessâriamente,
necessàriamente, para para determinar-se. Consequen-
determinar-se. Conseqüen­
temente,
temente, tôda visão hegeliana
tôda visão cinge-se ao
hegeliana cinge-se ao ser,
ser, éé uma
uma visão dentro
visão dentro
do ser,
do ser, ee oo que
que êleêle chama nada éé apenas
chama nada apenas oo ser ser enquanto
enquanto não não de-de­
terminado, ou
terminado, ou oo ser
ser enquanto
enquanto tomado
tomado indeterminadamente,
indeterminadamente, ee não não
“nada”,
"nada”, no no sentido
sentido absoluto.
absoluto.

De forma
De forma queque aa filosofia
filosofia hegeliana afirma, no
hegeliana afirma, no fundo,
fundo, oo
princípio de
princípio de não
não contradição,
contradição, quando
quando levada
levada até
até às suas últimas
às suas últimas
consequências.
conseqüências. Houve apenas
Houve apenas um um equívoco
equívoco da parte de
da parte de Hegel,
Hegel,
ao pensar que
ao pensar estabelecendo oo ser
que estabelecendo ser enquanto
enquanto determinado estivesse
determinado estivesse
estabelecendo
estabelecendo oo nada.
nada.
Esse foi
Êsse foi oo seu
seu equívoco
equívoco ee éé muito comum, ee éé muito
muito comum, muito possí-
possí­
vel dentro da
vel dentro língua alemã,
da língua alemã, devido
devido àà expressão
expressão "nicht"
“nicht” que
que éé oo
neutro
neutro da da "ausência
“ausência de”; própriamente "nicht"
de"; propriamente “nicht” significa
significa oo aspec-
aspec­
toto neutro
neutro da realidade que
da realidade que sese ausenta.
ausenta. NãoNão tem
tem oo sentido
sentido dede
“nada”, como
"nada”, como oo tem na língua
tem na portuguêsa, ee na
língua portuguesa, na espanhola
espanhola ee nono
sânscrito;
sânscrito; nono francês
francês também
também aa idéia
idéia dede nada “rien” (que
nada "rien” vem de
(que vem de
“rem”,
"rem”, portanto
portanto do do "res”
“res” latino)
latino) temtem o o sentido
sentido dede alguma
alguma coisa
coisa
de
de mínima
mínima importância,
importância, de de tão pequena importância
tão pequena importância que não se
que não se
consegue determinar; oo nada
consegue determinar; nada praticamente
pràticamente francês,
francês, seria
seria oo "pas
“pas
de
de tout”, quer dizer,
tout”, quer dizer, aa ausência
ausência total.
total. Em Em francês,
francês, "néant”
“néant” parapara
dizer
dizer “nada”
"nada” tem tem oo sentido
sentido dodo não-ente, aquilo que
não-ente, aquilo ainda não
que ainda não se se
entificou. Assim, uma
entificou. Assim, potência, que
uma potência, que ainda
ainda não se entificou
não se entificou como
como
um
um serser existente, isto é,
existente, isto é, não
não se actualizou, éé "néant”
se actualizou, “néant” em em face
face dodo
que poderá vir
que poderá vir aa ser.
ser.
De maneira
De maneira que nessas línguas
que nessas línguas oo têrmo
têrmo "nada”
“nada” não
não tem
tem aque-
aque­
la profundidade
la profundidade de ausência, aquela
de ausência, aquela completude de ausência,
completude de ausência, di-
di-


— 1118 —
18 —
gamos assim,
gamos assim, que
que encontramos
encontramos na na língua
língua portuguêsa,
portuguesa, na na espanho­
espanho-
la
la ee no sânscrito, o
no sânscrito, o que
que leva
leva aa compreender
compreender que que as as especulações
especulações
filosóficas,
filosóficas, como elas são
como elas naturalmente muito
são naturalmente muito dependentes
dependentes da da lin­
lin-
guagem, obrigou
guagem, obrigou oo filósofo
filósofo aa ter
ter aa máxima
máxima cautela
cautela para
para nãonão so­
so-
frer as influências
frer as influências históricas
históricas da
da linguagem,
linguagem, ee estaesta éé aa razão
razão por
por
que
que a2 especulação
especulação do do nada,
nada, no
no alemão
alemão ee no no francês,
francês, nãonão atinge
atinge
aquela profundidade que
aquela profundidade teve nos
que teve nos autôres hindus, como
autores hindus, como nosnos budis-
budis­
tas, bem
tas, bem como
como nosnos filósofos
filósofos ee místicos portuguêses ee espanhóis.
místicos portugueses espanhóis,


Há várias
várias divergências entre os
divergências entre os escolásticos,
escolásticos, como
como vimos,
vimos,
quanto
quanto aa estabelecer
estabelecer qual dêles éé oo primeiro.
qual dêles primeiro.

Assim,
Assim, vimos, Fonseca postulando
vimos, Fonseca postulando que que oo primeiro
primeiro princípio
princípio
éé oo do “terceiro excluído”,
do "terceiro excluído”, enquanto
enquanto oo princípio
princípio dede não
não contradi-
contradi­
ção, diz êle,
ção, diz êle, por
por ser
ser negativo,
negativo, não
não pode
pode serser oo primeiro
primeiro princípio,
princípio,
porque
porque êste
êste deve ser positivo,
deve ser positivo, ee oo terceiro
terceiro excluído
excluído éé um
um princípio
princípio
positivo.
positivo.

No
No entanto, Aristóteles ee São
entanto, Aristóteles São Tomás, como muitos
Tomás, como muitos escoiás-
escolás­
ticos,
ticos, afirmam que oo primeiro
afirmam que princípio éé oo princípio
primeiro princípio princípio de contra-
de contra­
dição,
dição, ee essa
essa sentença
sentença éé prôpriamente
propriamente aquela
aquela àà qual se ligam
qual se ligam qua-
qua­
se todos
se todos os autôres suarezistas,
os autores que seguem
suarezistas, que seguem aa linha de Aristóte­
linha de Aristóte-
les ee São
les São Tomás.
Tomás.

Para nós
Para nós oo primeiro princípio matético
primeiro princípio matético éé: "o “o queque afirma,
afirma,
afirma; o
afirma; o que
que nega, nega”, o
nega, nega”, o qual
qual inclui, necessáriamente, todos
inclui, necessàriamente, todos
êsses princípios
êsses princípios “onde
“onde há há afirmação
afirmação há afirmação, onde
há afirmação, onde há há nega-
nega­
ção há
ção há negação".
negação”. De maneira
De maneira queque o o princípio
princípio matético
matético inclui
inclui
todos os
todos três ee resolve
os três resolve melhor
melhor aa questão,
questão, porque
porque oo logos
logos afirma
afirma oo
que afirma,
que afirma, o0 logos
logos recusa
recusa aa afirmação
afirmação ao ao que
que recusa
recusa aa afirmação,
afirmação,
porque oo logos
porque Jogos propõe,
propõe, testemunha,
testemunha, positiva
positiva alguma
alguma coisa.
coisa. Ao Ao
positivar alguma
positivar coisa êle
alguma coisa êle positiva
positiva alguma coisa, porque
alguma coisa, porque oo próprio
próprio
acto
acto dede positivar
positivar alguma coisa éé oo acto
alguma coisa de positivar
acto de positivar alguma
alguma coisa,
coisa,
oo acto
acto de recusar uma
de recusar uma positividade
positividade éé oo acto
acto dede recusar
recusar uma posi-
uma posi-
tividade.
tividade. Consequentemente,
Conseqüentemente, êste êste éé oo primeiro
primeiro princípio:
princípio: “onde
"onde
há afirmação,
há afirmação, há há afirmação; onde há
afirmação; onde há negação,
negação, há há negação”,
negação", "o “o afu­
afir-
mado
mado éé o o afirmado;
afirmado; oo negado
negado éé o o negado",
negado”, “o "o que afirma, afirma
que afirma, afirma
oo que
que afirma;
afirma; o o que nega, nega
que nega, nega oo que
que nega”,
nega”, então, consegueate-
então, conseqüente­
mente,
mente, êsteêste éé oo primeiro princípio matético,
primeiro princípio matético, que inclui todos
que inclui todos os os


— 19 —
19 —
três (pois
três (pois os outros são
os outros são ilações imediatas dêle),
ilações imediatas sem trazer
dêle), sem trazer aa pro­
pro-
blemática
blemática que êsses
que êsses outros
outros trazem,
trazem, como se vê
como se vê através
através das
das longas
longas
polêmicas
polêmicas travadas entre
travadas entre osos escolásticos,
escolásticos, para
para justificar
justificar aa sua
sua po­
po-
sição ante
sição ante os três princípios.
os três princípios.

Nós,
Nós, em em Filosofia
F ilosofia Concreta,
Concreta, também mostramos que
também mostramos que podemos
podemDS
partir duma
partir duma afirmação: alguma coisa
afirmação: alguma coisa há;
há; dada negação:
negação: "alguma
“alguma coi-
coi­
sa pode
sa pode não
não haver”,
haver”, ee partindo
partindo apenas
apenas da da especulação,
esperulação, dentro dentro dos
dos
quatro juízos
quatro juízos fundamentais
fundamentais da da Filosofia Concreta, chegamos,
F ilosofia Concreta, chegamos, de- de­
pois, aa dar
pois, dar validez,
validez, aa dardar conteúdo
conteúdo ee razãorazão aos aos três
três princípios
princípios on-on­
tológicos, não
tológicos, não partindo
partindo dêles
dêles para
para raciocinar,
raciocinar, porque porque se se assim
assim oo
fizéssemos, havendo ainda
fizéssemos, havendo ainda emem tôrno dêles uma
tôrno dêles uma certacerta controvérsia,
controvérsia,
teriamos que
teríamos que colocar
colocar aa Filosofia
Filosofia Concreta
Concreta na na mesma situação que
mesma situação que
se colocou
se colocou aa escolástica,
escolástica, isto
isto é,é, dependendo
dependendo da da solução,
solução, da da contro-
contro­
vérsia em
vérsia em tôrno
tôrno dosdos seus princípios, enquanto
seus princípios, enquanto aa Filosofia
Filosofia Concre-
Concre­
ta, partindo das
ta, partindo das teses
teses de
de que partiu, evita
que partiu, evita estaesta controvérsia,
controvérsia, ee aà
Matese, partindo,
Matese, partindo, por sua vez,
por sua das leis
vez, das postuladas. como
le:s postuladas, como fizemcs
fizemcs
na
na parte sintética, também
parte sintética, também evita êsses problemas,
evita êsses problemas, porque porque aa con-con­
trovérsia perde completamente
trovérsia perde completamente o o seu sentido,
seu sentido.

E éé verdade
E verdade porque,
porque, se se quando
quando se se afirma,
afirma, se afirma, nós
se afirma, nós
não podemos
não podemos dizer, que quando
dizer, que quando se se afirma, simultâneamente não
afirma, simultâneamente não
se afirma, porque
se afirma, porque o o acto
acto de afirmação éé um
de afirmação um testemunho
testemunho da da afir-
afir­
mação,
mação, éé suficientemente válido, porque
suficientemente válido, afirma aa sisi mesmo,
porque afirma mesmo, põe-põe
-se
-se aa sisi mesmo;
mesmo; e,e, pondo,
pondo, põe-se,
põe-se, enquanto
enquanto que,que, partindo dêsses
partindo dêsses
princípios, podemos
princípios, podemos admitir
admitir aa controvérsia.
controvérsia.

Hã suarezistas
Há suarezistas que
que aceitam como tese
aceitam como de que
tese de que oo princípio
principio de
de
não contradição
não contradição éé oo primeiro
primeiro princípio,
princípio, quer
quer dizer defendem aa tese
dizer defendem tese
tomista.
tomista.

Apresenta os
Apresenta os seguintes argumentos: êsse
seguintes argumentos: êsse princípio
princípio éé o o pri-
pri­
meiro porque,
meiro porque, A A) ) éle não se
êle não se funda em nenhum
funda em nenhum outro,
outro, B)B) enun­
enun-
cia aa lei
cia fundamental de
lei fundamental de tôda
tôda aa ordem
ordem objectiva
objectiva ou ou ontológica
ontológica e,e,
consequentemente, de
conseqüentemente, de tóda
tôda aa ordem
ordem cognoscitiva,
cognoscitiva, quer
quer dizer,
dizer, éé umum
princípio, não
princípio, não só
só ontológico,
ontológico, como como também
também psicológico.
psicológico. Essa Essa éé
aa premissa
premissa maior
maior de de sua tese. A
sua tese. A menor:
menor: ora,
ora, êste
êste éé oo princípio
princípio
de contradição,
de contradição, isto é, oo princípio
isto é, princípio de contradição procede
de contradição assim, oo
procede assim,
princípio de
princípio de contradição
contradição éé assim. assim, Então
Então tira
tira aa consequência:
consequência: oo


— 1120
20 —

princípio de
princípio de não-contradição
não-contradição éé o o primeiro
primeiro princípio. Prova aa
princípio. Prova
maior, que
'maior, êste princípio
que êste princípio enuncia uma lei
enuncia uma fundamental de
lei fundamental tôda
de tôda
aa ordem
ordem objectiva
objectiva ou ontológica. Demonstra
ou ontológica. Demonstra aa menor:
menor: oo princí-
princí­
pio de
pio de contradição
contradição nãonão se
se funda em outro
funda em princípio.
outro princípio. AA quem
quem
perguntasse por
perguntasse por que,
que, responde
responde que
que o o ente
ente não
não pode
pode ser
ser o0 nâo-
não-
-ente, porque
-ente, porque ente
ente ee não-ente
não-ente são de tal
são de natureza que
tal natureza que se
se excluem
excluem
mútuamente.
mutuamente.

Um objector
Um objector poderia
poderia alegar:
alegar: Na Na verdade,
verdade, afirmar
afirmar que que en- en­
tre ente
tre ente ee não-ente
não-ente não não pode
pode haver
haver um um terceiro,
terceiro, sobsob aa mera
mera razãorazão
da colocação
da colocação de de ente
ente anteante não-ente
não-ente não não éé demonstração
demonstração cabal, cabal, por-
por­
que nem
que nem sempre
sempre ente ente ee não-ente
rão-ente sese exduen
excluem totalmente,
totalmente, mas mas ape-
ape­
nas se
nas se excluem
excluem parcialmente.
parcialmente. Por exemplo,
Por exemplo, entre opostos privati­
entre opostos privati-
vos,
vos, nana privação, estamos entre
privação, escamos ente ee não-ente,
entre ente não-ente, no mesmo ser,
no mesmo co-
ser, co­
mo
mo éé o o exemplo
exemplo de de sabedoria
sabedoria ee ignorância,
ignorância, pois pois a2 sabedoria
sabedoria éé
presença ee aa ignorância
presença ignorância éé ausêncie,
ausênck, mas mas aa ignorância
ignorância éé uma uma pri­pri-
vação de
vação de sabedoria.
sabedoria. Ora, Ora, esta
esta privação
privação pode pode ser ser dede maior
maior cu ou de de
menor extensidade
menor extensidade ou intensidade; portanto,
ou intensidade; portanto, tem tem graus.
graus. Neste Neste
caso, não
caso, não podemos
podemos dizer dizer apenas
apenas que que entre
entre ente
ente ee não-ente
não-ente não não
possam dar-se
possam dar-se meios têrmos, porque
meios têrmos, porque se se dão,
dão, desde
desde que que tomemos
tomemos
no sentido
no sentido da da privação.
privação. Para que
Para que afirmemos
afirmemos que que entre
entre enteente ee
não-ente não
não-ente não há meio têrmo,
há meio têrmo, teriamos
teríamos que que tomá-los
tomá-los apenasapenas como como
contraditórios, não
contraditórios, não comocomo opostos privativos. Portanto,
opostos privativos. Portanto, ainda ainda não não
está feita
está feita aa prova definitiva ee apodítica
prova definitiva apodítica necessária
necessária para para defender
defender aa
tese suaieziana
tese suateziana se se não
não se apelar ao
se apelar princípio de
ao princípio identidade: ente
de identidade: ente éé
ente, etc.
ente, etc. Mas continuando
Mas continuando na defesa da
na defesa sua tese,
da sua tese, um um suarezista
suarezista
pode afirmar
pode afi:mar que que êsse princípio não
êsse princípio nãe se se funda
funda nono princípio
princípio de de iden-
iden­
tidade. A
tidade. A razão
razão éé aa seguinte:
seguinte: enteente não não pode
pode serser não-ente,
não-ente, porqueporque
ente éé ente;
ente ente; seria
seria o o princídio
princípio de identidade.
de identidade. Pois, ou
Pois, cu nessa
nessa pro­pro-
posição ou
posição princípio, subentendido
ou princípio, subentendido necessário,
necessário, ou ou seja,
seja, ente
ente ne­ ne-
cessário éé ente,
cessário ente, ou ou nãonão éé subentendido
subentendido dêsse dêsse modo.
modo. Se
Se nãonão éé
subentendido, então
subentendido, então não não éé verdadeiro,
verdadeiro, porque porque a a razão
razão enteente não não
pode ser não-ente, dado que o ente seja ente. Não pode fundar-
pode ser não-ente, dado que o ente seja ente. Não pode fundar-
-se neste argumento,
-se neste argumento, porque porque êsseêsse ente
ente éé ente,
ente, ee poderia,
poderia, simuitã-
simultâ-
neamente,
neamente, ser ser -não-ente.
-não-ente. Entende-se que
Entende-se que éé necessário, porque se
necessário, porque se
não
não éé necessário,
necessário, sendo sendo ente ente ee nãonão sendo aecessâriamente ente,
sendo necessariamente ente,
podia ser
podia rãc-ente.
ser nüc-c-nte.


— 121
121 —

Então êle
Então êle continha
continha de certo modo
de certo modo um um nãonão também
também nêle,néêle, ee não
não
teria
teria aa suficiente
suficiente apoditicidade
apoditicidade para para defender
defender aa tese,
tese, aa nãonão ser
ser
que êsse
que êsse ente
ente fôsse necessário; neste
fôsse necessário; neste caso, sim, podia-se
caso, sim, podia-se dizer
dizer queque o o
princípio
princípio estaria fundado no
estaria fundado princípio de
no princípio de identidade,
identidade, mas
mis também
também
não seria outro,
não seria senão oo próprio
outro, senão próprio principio
princípio de de não-contradição,
não-contradição, por- por­
que o
que o ser
ser necessário
necessário éé ee não pode não
não pode nãc ser;
ser; portanto,
portanto, êsse
êsse nãonão não
não
contém nenhuma contradição,
contém nenhuma contradição, contém
contém apenas
apenas aa afirmação.
afirmação. Neste
Neste
caso, seria
caso, seria oo próprio
próprio princípio
princípio de identidade ee oo próprio
de identidade próprio princípio
princípio
de não-contradição.
de não-contradição. De maneira que,
De maneira que, o o princípio
principio de não-contra-
de não-contra-
dição
dição não não se fundiria no
se fundiria no princípio
princípio de de identidade,
identidade, portanto
portanto poder-
poder-
-se-ja não
-se-ia não postular
postular oo princípio
princípio de de identidade,
identidade, sem impedir que
sem impedir que sese
postulasse cc princípio
postulasse princípio de de não-contradição.
não-contradição.
Ademais,
Ademais, justificaria
justificaria oo suarezista,
suarezista, que que êsse
êsse princípio enuncia
princípio enuncia
aa lei
lei fundamental
fundamental de de tôda
tôda aa ordem
ordem cognoscitivi,
cognoscitiva, ee também também de de tô-
tô­
da
da aa ordem
ordem objectiva,
objectiva, porqueporque não não podemos,
podemos, de qualquer forma,
de qualquer forma,
simultâneamente,
simultâneamente, afirmar, afirmar, po: por exemplo,
exemplo, que que uma uma coisacoisa éé ao ao mes-
mes­
mo tempo,
mo tempo, sendo
sendo o o que
que elaela é,é. dizer
dizer queque ela
ela nãonão podepode ser;ser, porque
porque
ela
ela sendo, está negando,
sendo, está negando, está está contradizendo,
contradizendo, que que nãonão podepode não ser,
não ser,
porque
porque ela ela é.é. Se Se Deus existe, não
Deus existe, não podemos,
podemos, simultãacamente,
simultâneamente,
admitir
admitir que Deus não
que Deus não existe,
existe, porque, neste caso,
porque, neste caso, nadanada permanece­
permanece-
ria de
ria Deus; também
de Deus: também nada nada permaneceria
pe:maneceria do do homem
homem se se disséssemos
disséssemos
simultâneamente, homem
simultâneamente, homem ee não-homerr.;
não-homeir.; nada nada restaria
restaria de de Pedro
Pedro se se
disséssemos Pedro
disséssemos Pedro ee não-Pedro;
não-Pedro; porqueporque oo princípio
principio de de não contra-
não contra­
dição, ee éste
dição, êste éé oo ponto
ponto fundamental,
fundamental, que que o o suarezista
suarezista esquece,
esquece, mas mas
que serviria
que serviria para
para ajudá-lo
ajudá-lo aa argumenter, caracteriza-se pela
argumentar, caracteriza-se pela posse
posse
ee pela
pela privação,
privação, quer quer dizer,
dizer, aa posse
posse nega terminantemente aa pri
nega terminantemente pri­
vação; se
vação; se há
há posse,
posse, não pode haver
não pode haver privação
privação do do mesmo;
mesmce; se se há pri-
há pri­
vação, não
vação, não pode haver posse
Dode haver posse do mesmo, porque
do mesmo, porque quando quando se se dizdiz
privação diz-se
privação não-posse; quando
diz-se não-posse; quando se se diz
diz posse diz-se não-priva-
posse diz-se não-priva-
ção.
ção. Conseguentemente,
Conseqüentemente, éé uma uma leilei que
que enuncia
enuncia uma uma lei lei funda-
funda­
mental de
mental de tôda
tôda ordem
ordem objectiva,
objectiva, como como também
também de de tôca
tôca ordem
ordem
cognoscitiva, porque
cognoscitiva, porque se se conhecemos,
conhecemos, conhecemos;
conhecemos; se se não
não conhece-
conhece­
mos, não
mos, não conhecemos;
conhecemos; se sentimos, sentimos;
se sentimos, sentimos; se se não sentimos, não
não sentimos, não
sentimos, ee assim
sentimos, assim sucessivamente.
sucessivamente. Dêste Dêste modo,
modo, justifica-se
justifica-se aa po- po­
sição para
sição para aceitar
aceitar aa tese tese dede que
que o o princípio
princípio de de nãonão contradição
contradição éé
oo princípio
princípio fundamental.
fundamental. Na Na verdade,
verdade, tudotudo isso, isso, prova
prova Oo prin­ prin-
cipio matético
cípio matético “O "O queque afirma,
afirma, afirma;
afirma; o o que
que nega,nega, nega".
nega”.


— 122
122 —

Aquino Fernandes, na
Aquino Fernandes, na mesma
mesma obra
obra citada da Bac,
citada da Bac, termina
termina
por fazer uma
por fazer uma síntese
síntese do sentido ee das
áo sentido das aplicações
aplicações do
do princípio
princípio
de não-contradição, ee estabelece
de não-contradição, estabelece cinco
cinco regras,
regras, queque são
são as seguintes:
as seguintes:
1.º)É
l.° )É fundamento
fundamento de de tôda
tôda aa ordem
ordem real, real, porque
porque se não se
se não se dádá oo
mesmo,
mesmo, então então tudo
tudo rui, porque se
rui, porque se alguma
alguma coisa recusa, não
coisa recusa, não éé pos-
pos­
sível. Portanto, éé aa suprema
sível. Portanto, suprema lei lei dodo ente.
ente. 2.º)2.°) ÉÉ o o fundamento
fundamento
da ordem
da ordem lógica,
lógica, porque
porque se se oo mesmo
mesmo não não se se dá,
dá, não
não éé possível
possível aa
cognição; portanto, éé aa suprema
cognição; portanto, suprema lei lei da
da mente.
mente. A A condição
condição míni­
míni-
ma para
ma para queque sese dê
dê um
um objecto
objecto cogitado,
cogitado, para para que
que oo objecto
objecto nãonão
repugne, éé oo sentido
repugne, absoluto da
sentido absoluto verdade lógica
da verdade lógica e,e, portanto,
portanto, em em
oposição ao
oposição ao relativismo.
relativismo. 33.º) ° ) ÉE aa raizraiz dada imutabilidade
imutabilidade das das es-
es­
sências, oo que
sências, que também
também vem vem contra
contra o o relativismo,
relativismo, contra
contra o o cepti­
cepti-
cismo.
cismo. 44º)
° ) ÉÉ oo princípio
princípio queque perdura,
perdura, que que domina,
domina, que emana
que emana
em tódas
em tôdas as as ciências analíticas ee deductivas.
ciências analíticas deductivas. 5.°) 5.º) Éé oo fundamen-
fundamen­
to de
to tôda demonstração
de tôda demonstração indirecta,
indirecta, porque
porque éé uma uma dasdas maneiras
maneiras de de
poder provar
poder alguma coisa.
provar alguma coisa.
De maneira
De maneira que,
que, nessas condições, oo princípio
nessas condições, princípio de
de contradi­
contradi-
ção
ção éé para
para êle
êle oo primeiro
primeiro ontológico.
ontológico.
Y

No
No entanto,
entanto, aa objecção, apresentada por
objecção, apresentada Fonseca, de
por Fonseca, de que
que ésse
tsse
princípio devia
princípio devia serser rejeitado, porque inclui
rejeitado, porque inclui dede certo
certo modo
modo uma uma
negação, funda-se
negação, funda-se neste
neste o o argumento
argumento principal:
principal: as as afirmativas
afirmativas an- an­
tecedem às
tecedem às negativas;
negativas; ora, ora, oo princípio
princípio de de identidade
identidadeéé afirmativo,
afirmativo,
enquanto
enquanto que que o o de não-contradição éé negativo;
de não-contradição negativo; logo,
logo, nestas con-
nestas con­
dições,
dições, o o princípio
princípio de de identidade
identidade seria anterior ao
seria anterior ao princípio
princípio de de
contradição.: Propriamente
contradição.' Própriamente êsse êsse não
não éé o o argumento
argumento de de Fonseca,
Fonséca,
porque
porque êle êle nãonão afirma
afirma que que oo princípio
princípio de de identidade
identidade sejaseja o o pri-
pri­
meiro; êle
meiro; êle afirma,
afirma, sim,
sim, queque oo princípio
princípio de de não-contradição
não-contradição não não éé
oo primeiro;
primeiro; Oo primeiro
primeiroéé oo do do terceiro
terceiro excluído.
excluído. Em todo caso,
Em todo caso,
êsse argumento
êsse argumento serviriaserviria também
também em em parte para Fonseca,
parte para Fonseca, pelo pelo me­me-
nos, porque,
nos, porque, num aspecto, êle
num aspecto, êle ainda
ainda estaria
estaria dentro
dentro dada sua
sua concep-
concep­
ção, isto
ção, isto é,é, de
de negar
negar que
que oo princípio
princípio de contradição seja
de contradição seja o o primeiro.
primeiro.
Ele
Êle então responce aa esta
então responde esta menor,
menor, que que oo princípio
princípio de de identidade
identidade éé
afirmativo,
afirmativo, enquanto
enquanto que que oo de não-contradição éé negativo,
de não-contradição dizen-
negativo, dizen­
do
do oo seguinte:
seguinte: oo princípio
princípio de de não-contradição
não-contradição éé negativo
negativo somente
sômente
quanto
quanto ao modo de
ao modo de exprimir; quanto ao
exprimir; quanto ao modo
modo de de exprimir,
exprimir, sim, sim,
porque
porque êle diz “não”;
êle diz então êle
"não”; então êle éé negativo.
negativo. Quanto ao
Quanto ao modo
modo de de


— 1123
23 —

exprimir êle
exprimir êle concede que seja
concede que seja negativo,
negativo, mas realmente, enquanto
mas realmente, enquanto
oo que
que exprime,
exprime, êle não éé negativo,
êle não êle nega
negativo, êle uma negação,
nega uma negação, ee ne-
ne­
gando uma
gando uma negação,
negação, êle torna-se, conseqüentemente,
êle torna-se, consegiientemente, afirmativo.
afirmativo.
£É essa
essa aa resposta
resposta que
que também
também serviria
serviria de
de certo
certo modo
modo para
para respcn-
respcn-
der aa Fonseca.
der Fonseca.

Ora, se
Ora, se tomamos
tomamos aqui,
aqui, por
por exemplo,
exemplo, que que oo enunciado dêsse
enunciado dêsse
principio: "ente,
princípio: “ente, enquanto
enquanto ente,
ente, nãonão pode
pode ser não-ente”, neste
ser não-ente”, neste
caso seria
caso seria afirmativo,
afirmativo, porque
porque êste
êste nãonão poder ser não-ente
p od er ser não-ente éé uma
uma
regação de
regação de umauma negação,
negação, éé consegiientemente
conseqüentemente uma uma afirmação,
afirmação.
Neste
i^este outro
outro enunciado
enunciado queque êle
êle dá:
dá: “o ente são
"o ente pode ser
não pode simul-
ser simul­
tineamente não-ente”,
taneamente não-ente”, dão-se
dão-se duas
duas negações, negação de
negações, negação de negação,
negação,
que corresponde
que corresponde àà afirmação.
afirmação. EE um
um terceiro enunciado: “impos-
terceiro enunciado: "impos­
sível éé ser
sível ser simultâneamente
simultâneamente ee não não ser”,
ser”, “é impessível que
"é impcssívei que oo mesmo
mesmo
ser
ser simultâneamente
simultâneamente seja seja ee não
não seja”. Neste, oo impossível
seja”. Neste, impossível poce
pode
ser tomado negativamente,
ser tomado negativamente, seria,
seria, portanto,
portanto, uma negação da
uma negação da ne­
ne-
gação; oo impossível
gação; não é,
impossível não é, ee neste caso, estaríamos
neste caso, estaríamos em em face
face dede
uma afirmativa.
uma afirmativa.

Por êsse
Por lado, não
êsse lado, não há há dúvida
dúvida que que osos suarezistas
suarezistas têm têm razão,
razão,
mas os
mas os argumentos
argumentos de de Fonseca,
Fonseca, que que infelizmente
infelizmente não não osos temos
temos àsàs
mãos, ee que
mãos, que aparece
aparece na na sua Metafísica, não
sua Metafísica, não sese funda própriamen-
funda pròpriamen-
tete apenas
apenas na na negativa.
negativa. Ele Êle sese funda
funda no no seguinte:
seguinte: o o princípio
princípio do do
terceiro
terceiro excluído,
excluído, que diz que
que diz que alguma
alguma coisacoisa éé ou ou não
não é.é. parte
parte dada
impossibilidade
impossibilidade da da admissão
admissão de meio têrmo
de meio têrmo entreentre osos contraditó­
contraditó-
ros.
rios. Ora,Ora, entre
entre osos contraditórios realmente nlo
contraditórios realmente não pode
pode haver
haver têr-têr­
mo médio, como
mo médio, como se se dá
dá nono caso
caso dosdos contrários
contrários mediatos;
mediatos; entreentre os os
privativos, podemos admitir
privativos, podemos admitir têrmos médios, segundo
têrmos médios, segundo aa gradação.
gradação.
Entre
Entre os os correlativos,
correlativos, sabemos
sabemos que que não
não há têrmo médio,
há têrmo médio, ou ou éé ouou
não
não é, é, ou
ou oo paipai éé pai
pai ou
ou o o filho
filho éé filho,
filho, ouou oo senhor
senhor éé senhor
senhor ou ou
não
não éé senhor,
senhor, ou ou Oo escravo
escravo éé escravo
escravo ou não éé escravo;
ou não escravo; quer dizer,
quer dizer,
não admite têrmo
não admite têrmo médio.
médio. Mas Mas como como na na contradição
contradição não não podepode
haver têrmo médio,
háver têrmo médio, se se afirmamos
afirmamos alguma alguma coisi é impossível
c o ís í é impossível si­ si-
multâneamente
multâneamente fazer fazer aa suasua negação, porque escamos
negação, porque estamos afirmando;
afirmando;
quer
quer dizer,
dizer, o o princípio
princípio do do terceiro
terceiro excluído
excluído funda-se então, matè-
funda-se então, matê-
ticamente
íicamente no no /ogos que chamamos
Iogos que chamamos oo logos logos do logos, que
do logos, que é, é, “o que
"o que
afirma, afirma; o
afirma, afirma; o que
que nega,
nega, nega”,
nega”, "o “o que afirma não
que afirma não nega;
nega; oo que que
nega
nega não não afirma”,
afirma”, apenas
apenas se se dádá êste simples enunciado,
êste simples enunciado, aa opera­opera-


— 1124
24 —

ção
ção éé uma
uma só:só: aa operação
operação dede afirmar
afirmar éé uma
uma operação
operação de
de afirmar,
afirmar,
aa operação
operação de de negar
negar éé uma
uma operação
operação de de negar.
negar. Então, êle esta-
Então, êle esta­
ria mais
ria mais dede acôrdo com o
acôrdo com o princípio
princípio dcdc terceiro excluído do
terceiro excluído do que
que
com
com os os outros,
outros, muito
muito embora
embora os os outros
outros estejam
estejam incluídos néêle,
incluídos nêle,
estão confuse
estão conf/tse ee incluídos
incluídos nêle.
nêle,
Este princípio éé o
Êste princípio o princípio
princípio matético
matético ee o o princípio
princípio de de tôda
tôda
ee qualquer
qualquer posição,
posição, porqueporque mesmomesmo se se nós
nós nosnos colocássemos,
colocássemos, ad- ad­
mitíssemos, raciocinando
mitíssemos, raciocinando com com o o absurdo,
absurdo, que que se se desse
desse o o nada
nada
absoluto, quer
absoluto, dizer, houvesse
quer dizer, houvesse aa ausência
ausência totaltotal ee absoluta
absoluta de de qual-
qual­
quer coisa,
quer coisa, aindaainda êsteêste princípio seria válido,
princípio seria válido, porque
porque o o nada
nada seria
seria
algo que
algo que se se testemunha,
testemunha, que que sese testemunharia
testemunharia por por sisi mesmo,
mesmo, quer quer
dizer, pela
dizer, pela ausência.
ausência. Então êle,
Então testemunhando-se pela
êle, testemunhando-se pela ausência
ausência
total, êle
total, êle se se testemunhava
testemunhava pela pela ausência
ausência total,
total, ee assim
assim oo testemu­
testemu-
nho da
nho da suasua ausência
ausência total total seria
seria aa exclusão
exclusão de de qualquer outra pos-
qualquer outra pos­
sibilidade, porque
sibilidade, porque êle, êle, testemunhando-se
testemunhando-se como como ausência
ausência total, es-
total, es­
taria totalmente
taria totalmeníe excluindo qualquer presença,
excluindo qualquer presença, ee não não poderia
poderia admi-admi­
tir, consequen:emente,
tir, conseqüentemente, nenhum nenhum meio meio têrmo
têrmo entreentre aa presença
presença ee aa
ausência total.
ausência total. De De maneira
maneira que que qualquer
qualquer posição
posição que que sese tomasse,
tomasse,
ainda o
ainda o logos
logos que que é,é, “o "o que afirma, afirma;
que afirma, aficma; oo que que nega,
nega, nega”
nega" não não
poderia sofrer
poderia sofrer nenhuma
nenhuma afronta.afronta. Nesse
Nesse caso,caso, valeria, não só
valeria, não só nono
campo meontológico,
campo meontológico, como como também
também no no campo
campo ontológico;
ontológico; éé um um
princípio ao
princípio ao mesmo
mesmo tempo tempo meontológico
meontológico ee ontológico.
ontológico. E, E, ainda,
ainda,
na Meontologia,
na Meontologii, admitindo admitindo oo contextocontexto gama, gama, oo contexto
contexto do do nada
nada
absoluto;
absoluto; neste neste não não há há aa menor
menor dúvida
dúvida que que êleêle prevalece
prevalece ee tam­ tam-
bém prevaleceria no
bém prevaleceria no contexto
contexto delta.
delta. Êsse Esse princípio
princípio éé válido
válido nos nos
quatro
quatro contextos,
contextos, oo que que prova
prova aa suasua validez,
validez, enquanto
enquanto que que oo prin-
prin­
cípio
cípio de de identidade
identidade teríamosteríamos de admiti-lo também
de admití-lo também porqueporque podía­
podia-
mos dizer,
mos dizer, se se se
se desse
desse o o nada absoluto seria
nada absoluto seria êle
êle idêntico
idêntico aa si si mesmo;
mesmo;
quer dizer, estão
quer dizer, estão todos
todos éles incluídos, excluir-se-ia
êles incluídos, excluir-se-ia o o terceiro,
terceiro, ee
seria contraditório dizer
seria contraditório dizer queque oo nada
nada absoluto
absoluto não não éé nada
nada absoluto.
absoluto.
Então os
Então os três princípios estão
três princípios estão incluídos
incluídos neste,neste, “o que afirma,
"o que afirma, afir­afir-
ma,
ma; Oo que que nega,
nega, nega",
nega”, que que éé Oo principio
principio matético.
matético.


— 125—
125 —
CCAP.
A P . VVII
III

ESCÓLIOS DAS
ESCÓLIOS DAS TESES
TESES DEMONSTRADAS
DEMONSTRADAS

Passamos
Passamos aa tratar
tratar de alguns escólios
de alguns que decorrem
escólios que decorrem das
das teses
teses
estudadas ee das
estudadas das demonstrações
demonstrações que
que já tivemos oportunidade
já tivemos oportunidade dede
fazer.
fazer.

1.º escolio:
1.° escolio: éé oo ente
ente de razão. O
de razão. O ente
ente de razão éé propria­
de razão prôpria-
mente tudo
mente tudo quanto
quanto pode ser esquematizado.
pode ser esquematizado. Alguns distinguem.
Alguns distinguem,
o ente
o ente ddee razão
razão do ente da
do ente da razão.
razão. Neste caso,
Neste caso, oo ente
ente dada razão
razão se­
se-
ria
ria oo que
que pode
pode serser esquematizado
esquematizado pela pela razão,
razão, com
com oo intuito
intuito de de
afirmar
afirmar algo algo que
que éé outro
outro que outro, que
que outro, que aa razão
razão capta.
capta. Ora,Ora, oo
que nunca devemos
que nunca devemos esquecer
esquecer éé precisamente
precisamente o o que
que caracteriza
caracteriza Oo
ente
ente ddee razão,
razão, ee antes
antes de chegarmos aa essa
de chegarmos essa caracterização, precisa-
caracterização, precisa­
mos
mos tratar
tratar bem dêste têrmo
bem dêste têrmo "razão”.
“razão”.
AA idéia de razão
idéia de implica sempre
razão implica sempre aa universalidade.
universalidade. AA razão,
razão,
na psicologia clássica,
na psicologia clássica, pertence
pertence aoao nosso
nosso entendimento,
entendimento, éé uma
uma
função
função do do nosso
nosso entendimento, enquanto esquematiza
entendimento, enquanto racional-
esquematiza racional­
mente;
mente; ou ou seja,
seja, enquanto realiza esquemas
enquanto realiza esquemas universais.
universais. De De ma-ma­
neira que
neira há sempre
que há sempre nono ente
ente de razão, portanto,
de razão, portanto, para caracteri-
para caracteri­
zá-lo, não
zá-lo, não apenas
apenas uma esquematização racional,
uma esquematização mas éé preciso
racional, mas in-
preciso in­
cluir nessa
cluir nessa conceituação
conceituação de de esquematização racional, aa universali­
esquematização racional, universali-
dade.
dade. AssimAssim Deus
Deus éé um ente singuiar,
um ente mas como
singular, mas ente de
como ente de razão,
razão,
êle
êle éé propriamente
própriamente aa "divinitas";
“divinitas”, assim,
assim, Oo ser,
ser, oo ente,
ente, como ente
como ente
de razão, éé mais
de razão, própriamente aa entitas.
mais propriamente entitas.

Vejamos um
Vejamos um conceito
conceito como
como oo de
de "eu”
“eu”: : êste
êste conceito
conceito parece-
parece
-nos que
-nos que se refere aa alguma
se refere alguma coisa singular; sim,
coisa singular; sim, enquanto
enquanto sujeito,
sujeito,
êle éé singular,
êle singular, mas também éé tomado
mas também tomado enquanto
enquanto sujeito consciente
sujeito conscienté


— 1127
27 —

de sisi mesmo,
de mesmo, que
que éé portador
portador de
de si
si mesmo,
mesmo, ee que
que se
se desdosra
desdobra como
como
objecto da sua própria cognição.
objecto da sua própria cognição.

Neste aspecto, temos


Neste aspecto, temos uma uma razão,
razão, uma
uma ratio.
ratio. "Eu" “Eu” passa
passa aa
ser também
ser também um um ente
ente de razão, enquanto
de razão, enquanto éé tomadotomado sob êsse as-
sob êsse as­
pecto, isto
pecto, isto é,é, de ser um
de ser sujeito consciente
um sujeito consciente de de sisi mesmo,
mesmo, portador
portador
de si
de si mesmo,
mesmo, ee que que sese desdobra
desdobra comocomo objecto
objecto de de sua sua própria
própria cog­
cog-
nição.
nição. Podemos, pois, perfeitamente, clarear alguns aspectos que
Podemos, pois, perfeitamente, clarear alguns aspectos que
foram tratados
foram tratados sôbre
sôbre o o ente
ente dede razão.
razão. Temos,
Temos, aqui, aqui, também
também aa
oportunidade às
oportunidade às mãos
mãos de de ler
ler um
um trecho
trecho de de Descogs
Descoqs das das “Institu-
"Institu-
tiones Metaphysicae
tiones Metaphysicae Generalis”,
Generalis”, em em que êle, ao
que êle, ao tratar
tratar dodo ente
ente dede
razão, diz
razão, diz o O seguinte:
seguinte: “opõe-se
"opõe-se ao ente real,
ao ente real, mas caracterizando-se,
mas caracterizando-se,
sobretudo, por
sobretudo, por não
não poder
poder dar-se
dar-se nana ordem
ordem actual.
actual. Assim,Assim, Deus,
Deus,
enquanto Deus,
enquanto Deus, pode dar-se na
pode dar-se na ordem
ordem actual,
actual, mas mas aa divinitas, en-
divinitas, en­
quanto divinitas,
quanto divinitas, nãonão se se dá;
dá; aa divinitas
divinitas éé pròpriamente
própriamente oo ente ente dede
razão.”
razão.” Ássim o
Assim o ente pode dar-se
ente pode dar-se nana ordem
ordem actual,actual, masmas aa enti-
enti-
tas, enquanto entitas,
tas, enquanto entitas, éé apenas
apenas um um ente
ente de de razão,
razão, que não se
que não se dá

na ordem
na ordem actual,
actual, que,
que, naturalmente,
naturalmente, no sentido que
no sentido que Descoqs
Descogs querquer
tomar
tomar aquiaqui refere-se
refere-se ao ao que
que sese dá
dá extra-mentis.
exlra-menlis. AA entitas entitas não
não sese
dá exira-mentis, ela
dá extra-mentis, ela dá-se
dá-se numanuma mente.
mente.

Se tomarmos
Se tomarmos aa entitas como aa idéia
entitas como idéia eterna,
eterna, elaela se
se dá,
dá, então,
então,
na mente divina,
na mente divina, masmas aa entitas não se
entitas não dá como
se dá como serser singular,
singular, comocomo
algo
algo queque sese singularize existencialmente, porque
singularize existencialmente, porque tudotudo queque se se exis-
exis-
tencializa se
tencializa se singulariza.
singulariza. Temos Temos aqui, perfeitamente clareado,
aqui, perfeitamente clareado, oo
verdadeiro sentido
verdadeiro sentido do do ente
ente dede razão.
razão. Êste Este sese opõe
opõe ao ao ente
ente realreal
extra-mentis,
extra-mentis, porqueporque êle,êle, dando-se
dando-se na mente, não
na mente, não podepode dar-se
dar-se na na
ordem actual extra-mentis,
ordem actual enquanto tal,
extra-mentis, enquanto tal, porque
porque êle êle éé um esque-
um esque­
ma,
ma, éé umauma esquematização
esquematização racional
racional do do entendimento,
entendimento, que que funcio­
funcio-
na racionalmente, como
na racionalmente, como nós,nós, que
que não podendo captar
não podendo captar as as essên-
essên­
cias
cias directamente,
directamente, construímos
construímos esquemas intencionais, que
esquemas intencionais, que se se ade-
ade-
quem
quem aa essas essências, que
essas essências, captamos através
que captamos através do do seus
seus sinais, atra-
sinais, atra­
vés daquilo
vés daquilo que prôpriamente as
que pròpriamente as aponta.
aponta. Então prossegue Des-
Então prossegue Des­
cogs,
coqs, aqui, nessa passagem,
aqui, nessa passagem, do do seguinte
seguinte modo:
modo: o o têrmo
têrmo "ens”
“ens” éé
alguma sombra, possui
alguma sombra, possui alguma
alguma sombra
sombra do do ente
ente real,
real, éé umum tantotanto
metafórico,
metafórico, mas
mas podemos compreender oo que
podemos compreender que êle quer dizer;
êle quer ou
dizer; ou
seja, que o
seja, que o conceito
conceito de
de ens, enquanto ente
ens, enquanto ente de
de razão,
razão, éé apenas
apenas uma
uma


— 1128
28 —

imitatio do
imitatio do que
que será
será Oo ente
ente na sua realidade,
na sua realidade, mas
mas própriamente
propriamente
ens, na nossa
ens, na nossa mente,
mente, éé aà entitas.
entitas.

Há uma
Há uma passagem,
passagem, na na qual êle caracteriza
qual êle caracteriza o o ente
ente de
de razão,
razão,
que éé oo ente
que ente enquanto
enquanto tomado formalmente como
tomado formalmente como universal.
universal. As- As­
sim, Oo gênero,
sim, gênero, aa espécie,
espécie, asas privações,
privações, assim
assim oo conceito
conceito de ente
de ente
para aa nossa
para nossa mente
mente seria,
seria, como
como êle define, id
êle define, id qui competit
qui com esse
petit esse
aliquo modo,
aliquo modo, (o (o ao
ao que
que compete
compete ser ser dede algum
algum modo),
modo), que que de de
certa maneira éé oo pensamento
certa maneira pensamento suareziano.
suareziano.

OO ente,
ente, éé pròpriamente
própriamente oo que tem essência
que tem essência real; ora, oo con-
real; ora, con­
ceito
ceito de
de ente
ente enquanto
enquanto ente,
ente, como
como éé tomado
tomado na
na Metafísica,
Metafísica, éé to-
to­
mado abstractissimamente, êle
mado abstractissimamente, êle éé tomado
tomado na sua máxima
na sua indeter-
máxima indeter-
minação,
minação, ente ente enquanto
enquanto ente, não enquanto
ente, não enquanto taltal ou
ou qual
qual ente,
ente, masmas
apenas
apenas no no seu aspecto indeterminado.
seu aspecto indeterminado. Ora, êsse ente,
Ora, êsse ente, enquanto
enquanto
éé tomado
tomado assim,
assim, éé oo que tem uma
que tem uma essência
essência real;
real; quer dizer, temos
quer dizer, temos
que
que ter nêle um
ter nêle um pelo
pelo qua!
qual êle
êle éé ente.
ente. AA sua sua positividade,
positividade, aa sua sua
afirmação positiva ee real,
afirmação positiva seria dada
real, seria pela adsência
dada pela adsência de de sisi mesmo;
mesmo-,
de forma que
de forma que aa definição
definição de de São
São Tomás,
Tomás, queque oo ente
ente éé cujus
cujus actus
actus
est esse
est esse éé aa mesma
mesma definição
definição de de Suarez,
Suarez, como também aa de
como também de Des­
Des-
cogs, id
coqs, id qui
qui competit esse aliquo
com petit esse aliquo modo, quer dizer,
modo, quer dizer, éé oo queque com­
com-
pete ser,
pete mas está
ser, mas está tomado indeterminadamente, que
tomado indeterminadamente, que pode
pode ser ser de-
de­
terminado aliquo
terminado modo, de
aliquo modo, de algum
algum modo, quer dizer,
modo, quer dizer, que pode re-
que pode re­
ceber uma
ceber uma determinação.
determinação. Na Metafísica, oo ente
Na Metafísica, ente éé tomado
tomado assim,assim,
nesse aspecto
nesse aspecto abstractista
abstractista ee na sua máxima
na sua máxima indeterminação.
indeterminação.

Tratando do
Tratando do conceito de nada,
conceito de nada, Descogs, na mesma
Descoqs, na obra, no
mesma obra, no
mesmo lugar, diz
mesmo lugar, diz que
que nada
nada se concebe não
se concebe não pela
pela sua razão, mas
sua razão, mas
pela razão
pela razão do
do ente negado, ee o
ente negado, o nada
nada não
não tem
tem uma
uma ratio, um logos,
ratio, um logos,
porque
porque se tivesse seria
se tivesse seria alguma
alguma coisa, seria algo
coisa, seria algo ee de qui competis
de qui competit
esse aliguo
esse modo, então
aliquo modo, então o o nada seria apenas
nada seria apenas um modo daquilo
um modo daquilo que
que
compete ser,
compete o nada
ser, o nada seria, de certo
seria, de modo, um
certo modo, ser.
um ser.

Mas
Mas o o que
que dádá razão
razão ao nada éé aa negação
ao nada negação do do ente,
ente, aa recusa
recusa
da
da presença
presença dodo ente.
ente. Ora,
Ora, quando
quando estudamos
estudamos oo aspecto
aspecto real
real dodo
ente, êsse aspecto
ente, êsse aspecto éé dado pela adsência
dado pela adsência dede sisi mesmo,
mesmo, ee oo nada
nada não
não
éé um
um adsente, êle não
adsente, êle não éé algo
algo que
que se diz ad
se diz ad sum,
sum, “estou
"estou aqui”,
aqui",
êle não éé algo
êle não que possa
algo que possa fazer
fazer essa
essa afirmativa
afirmativa de de realidade, essa
realidade, essa
afirmativa de
afirmativa de presença,
presença, de de forma
forma que
que aa razão
razão do nada éé dada
do nada dada pela
pela


— 1129 —
29 —
negação do
negação do ente, pela recusa
ente, pela recusa do do ente.
ente. Ora, Ora, aa mente
mente primeira­
primeira-
mente concebe
mente concebe aa entidade
entidade ee em segundo lugar,
em segundo negando-a, êle
lugar, negando-a, vai
êle vai
alcançar
alcançar oo nibilum
nibilum; ; ee êste,
êste, nana verdade,
verdade, nada nada mais
mais éé do que aa enti-
do que enti­
dade negada, aa entidade
dade negada, entidade recusada
recusada na na sta
sua adsência.
adsência. De forma que
De forma que
se consideramos, como
se consideramos, como já já estudamos,
estudamos, o o ser,
ser, olhando-o participia-
olhando-o participia-
liter
liter ee nominaliter,
nominaliter, se tomamos oo ser
se tomamos ser participialmente
participialmente ou ou nomi­
nomi-
nalmente, então,
nalmente, então, no primeiro caso,
no primeiro caso, nos
nos referimos
referimos ao ao ser,
ser, aoao ente,
ente,
encuanto existente,
enquanto existente, ee nominalmente,
nominalmente, enquantc enquanto na na suasua essência,
essência,
na sua
na sua possibilidade
possibilidade de de ser, no que
ser, no que ccnstitui
censtitui o o seu
seu pelo qual êle
p elo qual êle
éé oo que
que éé. Dêste
Dêste modo modo permite,
permite, então, então, aa construção
construção de dois
de dois
nadas: o
nadas: o nada que se
nada que se refere
refere primeiro
primeiro ià existência,
existência, nadanada positivo,
positivo,
porque êsse
porque nega aa existência
êsse nega existência do do ente,
ente, quer
quer dizer,
dizer, recusa
recusa aa exis­
exis-
tência do
tência ente, ee oo segundo,
do ente, segundo, o o que
que sese refere
refere àà essência
essência do do ente,
ente, éé
oo nada
nada dada essência,
essência, chamado
chamado nada nada negativo,
negativo, ou ou também,
também, o o nihilum
n7hilum
absoluto, porque seria
absoluto, porque seria aa negação,
negação, aa recusa
recusa da essência de
da essência de ser,
ser, dada
possibilidade do
possibilidade do próprio
próprio ser ser ser,
ser, porque
porque se se oo ente
ente nãonão tivesse
tivesse umauma
essência para
essência para ser,
ser, pelo
pelo qualqual é,é, êle,
êle, então,
então, nãonão poderia
poderia ser. ser. De De
forma
forma queque aa negação
negação da da sua
sua essência,
essência, da essência do
da essência do ser,
ser, éé aa ne-
ne­
gação absoluta do
gação absoluta do ser.
ser. Êsse Esse segundo
segundo nada, nada, que que se se refere
refere ao ao ser
ser
tomado nominaliter,
tomado nominaliter, éé precisamente
precisamente 0o nada absoluto.
nada. absoluto.

Dizia Aristóteles
Dizia Aristóteles que
que oo que perfeitamente distingue
que perfeitamente distingue oo ani-
ani­
mal do homem
mal do homem está
está neste
neste sinal, que oo animal
sinal, que animal não
não tem, não capta,
tem, não capta,
não pode
não pode alcançar êste pequeno
alcançar êste verbo “est”,
pequeno verbo "est”, enquanto que oo ho­
enquanto que ho-
mem pode
mem alcançá-lo intelectualmente.
pode alcançá-lo intelectualmente.

Entretanto, surge
Entretanto, na escolástica
surge na uma controvérsia
escolástica uma controvérsia sêbre esta
scbre esta
matéria, devido considerar-se
matéria, devido o esse
considerar-se o esse ee oo est do ângulo
est do ângulo psicológico.
psicológico.
Descogs
Descoqs examina, aqui, aa posição
examina, aqui, posição dos irês grandes
dos três mestres: São
grandes mestres: São
“Tomás, Suarez ee Scot.
Tomás, Suarez Scot. Então
Então diz diz êle
êle oo seguinte: São Tomás,
seguinte: São Tomás, ee
muitos escolásticos após
muitos escolásticos apés êle, ee também
êle, também outros
outros escolásticos
escolásticos que não
que não
seguem prôpriamente a linha tomista, consideram que, intelec­
seguem propriamente a linha tomista, consideram que, intelec-
tualmente, o
tualmente, o primeiro
primeiro cognitum
cognitum éé de de simples
simples ee confusa
confusa apreensão,
apreensão,
éé o
o ente comum, que é abstraído de tôda existência e de
ente comum, que é abstraído de tôda existência e de tôda
tôda
determinação individual.
determinação individual, Illud quod primo intellectus concipit
lllu d quod primo intellectus concipit
quase notissimo
quase notissimo et
et in
in quod omnes conceptus
quod omnes resolver est
conceptus resolvet est ens.
ens.
Aquilo que o intelecto
Aquilo que o intelecto concebe em primeiro lugar, quase na
concebe em primeiro lugar, quase na ple-
ple-


— 1130 —
30 —
nitude da. sua
nitude da sua nota,
nota, e no qual
e no qual reduzem-se
reduzem-se todos
todos os
os conceitos,
conceitos, éé
ente.
ente.

E assim,
E assim, comenta
comenta São
São Tomás
Tomás em
em várias
várias obras,
obras, esta tese, de-
esta tese, de­
fendendo-a
fendendo-a no no De
De Veritate,
Veritate, na
na Suma
Suma Teclógica,
Teológica, ee também
também os os
seus seguidores, como Cayetano, João de São Tomás, conforme
seus seguidores, como Cayetano, João de São Tomás, conforme
nos
nos indica
indica Descogs.
Descoqs.
Argumenta-se do
Argumenta-se do seguinte
seguinte modo:modo: aa experiência
experiência certamente
certamente
consiste sempre
consiste sempre na na cognição
cognição que que procede
procede das das noções
noções mais mais confu­
confu-
sas para
sas para as noções mais
as noções mais claras.
claras. Ora, entre tôdas
Ora, entre tôdas as as noções,
noções, aa
mâximamente confusa
màximamente confusa éé aa noção
noção de de ente, logo foi
ente, logo foi aa primeira
primeira da da
qual oo intelecto
qual intelecto toma toma o o seu
seu exórdio,
exórdio, de de onde
onde o o intelecto parte.
intelecto parte.
Demonstrando aa menor,
Demonstrando menor, que que de de tôdas
tôdas asas noções
noções aa mãâximamente
màximamente
éé aa noção
noção de de ente, diz êle: a noção de ente, em sua extensão,
ente, diz êle: a noção de ente, em sua extensão, éé
maximamente universal,
màximamente universal, éé de máxima extensão,
de máxima porque abrange
extensão, porque abrange
todos
todos os os outros.
outros. Ora, Ora, nãonão podepode ser ser mãximamente
màximamente universal universal a a
não
não ser ser que
que seja mãximamente confusa,
seja màximamente confusa, porque
porque sabemos
sabemos que que aa
compreensão
compreensão ee aa extensão extensão colocam-se,
colocam-se, uma uma ante
ante aa outra,
outra, de de umum
modo inverso.
modo inverso. Realmente assim
Realmente assim parecem;
parecem; temos,
temos, entretanto,
entretanto, de de
comentar
comentar que que êste
êste modo
modo de de proceder
proceder inverso
inverso temtem umum valorvalor relati­
relati-
vo,
vo, queque nem sempre se
nem sempre se dá.
dá. Assim,
Assim, se se tomamos
tomamos aa singularidade,
singularidade,
o ser
o ser na
na sua
sua singularidade,
singularidade, êste êste ser,
ser, verificamos
verificamos que que estamos
estamos era ern
face da minima extensão, porque nos referimos apenas a êste ser,
face da mínima extensão, porque nos referimos apenas a êste ser,
o qual
o qual nas suas conotações
nas suas conotações nos nos dá dá umauma máxima compreensão, já
máxima compreensão, já
que sabemos
que sabemos que que oo individual
individual éé indefinível,
indefinível, éé apenas
apenas descriptível,
descriptivel,
porque as
porque notas individuantes
as notas individuantes são são pràticamente
praticamente infinitas.
infinitas. Se to-
Se to­
mamos Deus
mamos Deus no sentido cristão,
no sentido cristão, verificamos
verificamos estar estar em
em face de um
face de um
ser
ser de
de mínima
mínima extensão,
extensão, que que apenas refere-se aa sisi mesmo,
apenas refere-se mesmo, ee de de
máxima
máxima compreensão,
compreensão, porque porque as as notas,
notas, para
para descrevê-lo,
descrevê-lo, são, são, de de
certo modo,
certo prâticamente infinitas.
modo, pràticamente infinitas. Se
Se tomamos
tomamos oo ser ser no sentido
no sentido
lógico, vemos que
lógico, vemos que êste
êste conceito
conceito abrange
abrange todostodos os os entes,
entes, ee temostemos
nêle
nêle aa máxima
máxima extensão.
extensão. Mas Mas se se desejamos definí-los nos
desejamos definí-los nos en-en­
contramos
contramos em em faceface da da mínima
mínima conotação possivel, ee temos
conotação possível, aqui
temos aqui
aa mínima
mínima compreensão
compreensão ee aa máxima extensão.
máxima extensão.

Restaria descobrir
Restaria então um
descobrir então ser que,
um ser que, simultâneamente,
simultâneamente, ti­ ti-
vesse
vesse aa máxima compreensão ee aa máxima
máxima compreensão máxima extensão.
extensão. Se tal se
Se tal se
desse,
desse, estaríamos
estaríamos em
em face
face de um caso
de um em que
caso em que se anula esta
se anula esta in-
in-


— 1131
31 —

versão, que
versão, que éé característica,
caracteristica entre
entre aa compreensão
compreensão ee aa extensão.
extensão. Ora,Ora,
o ser,
o ser, transcendentalmente
transcendentalmente considerado,
considerado, abrange
abrange na na sua compre-
sua compre­
ensão tudo
ensão tudo oo que
que positivamente
positivamente podemos
podemos propor,
propor, ee na sua exten­
na sua exten-
são êle
são êle abrange
abrange tudo quanto é.
tudo quanto é. Então poderíamos dizer
Então poderíamos que oo
dizer que
ente, ônticamente
ente, ônticamente considerado,
considerado, éé de máxima compreensão
de máxima compreensão ee de de
mínima extensão;
mínima extensão; que que ente,
ente, logicam
lôgicamente
ente considerado,
considerado, éé de de mínima
mínima
compreensão ee máxima
compreensão máxima extensão,
extensão, ee que que o o ente,
ente, ontolôgicamente
onlològicam ente
considerado, é& de
considerado, de máxima
máxima compreensão
compreensão ee de de máxima extensão.
máxima extensão.
Naturalmente que
Naturalmente que esta
esta tese não será
tese não aceita pelos
será aceita escolásticos, por-
pelos escolásticos, por­
que êles
que êles dirão que do
dirão que do transcendental,
transcendental, do do ente enquanto transcen­
ente enquanto transcen-
dente, enquanto
dente, enquanto conceito transcendental, nada
conceito transcendental, nada mais
mais podemos
podemos dizer
dizer
senão como
senão como diria
diria Descogs:
Descoqs: id id qui
gui competit
com petit esse
esse aliquo
aliquo modo.
m odo. Mas Mas
acontece que
acontece que êsse "competit
êsse "com aliguo m
petit aliquo modo”,
odo", oo ente,
ente, enquanto trans-
enquanto trans­
cendentalmente considerado,
cendentalmente considerado, não não com
competit aliquo m
petit aliquo modo
odo mas com- ­
mas com
pete-lhe todo
pete-lhe todo ee qualquer
qualquer modo.
modo.
Por exemplo,
Por exemplo, na filosofia hindu,
na filosofia hindu, osos conceitos que são
Conceitos que são trans­
trans-
cendentais
cendentais parapara o o seu
seu filosofar,
filosofar, são
são considerados
considerados na na sua
sua máxima
máxima
extensão, como
extensão, como o o conceito
conceito de maya, que
de maya, que sese refere
refere àà mutação
mutação das das
coisas, pròpriamente
coisas, prôpriamente ao devir das
ao devir das coisas,
coisas, ee pode
pode receber
receber tôda
tôda ee
qualquer predicação, desde
qualquer predicação, desde que
que oo predicado
predicado inclua
inclua um
um modo qual-
modo qual­
quer
quer de devir.
de devir. Daí aa dificuldade
Daí dificuldade que tinham os
que tinham os hindus
hindus de de dar
dar
precisão aos
precisão aos conceitos
conceitos que,
que, nono seu
seu modo
modo de de filosofar, eram trans-
filosofar, eram trans­
cendentais.
cendentais.

Essa mesma
Essa mesma dificuldade
dificuldade temos nós; ee como
temos nós; como aa solucionamos?
solucionamos?
Solucionamos,
Solucionamos, porque
porque damos
damos ao
ao conceito
conceito transcendental
transcendental oo concei­
concei-
to
to lógico, quer dizer,
lógico, quer damos oo significado
dizer, damos significado lógico
lógico ao
ao conceito
conceito trans
trans­
cendenta!. Então êle
cendental. Então êle apresenta
apresenta aa mínima
mínima compreensão
compreensão lógica, mas,
lógica, mas,
na verdade,
na verdade, ontològicam
ontolôgicamente
ente considerado,
considerado, éé de
de máxima
máxima compre-
compre­
ensão.
ensão.

*• .• •
.

Prosseguindo
Prosseguindo nos
nos comentários
comentários àà posição de São
posição de Tomás, diz
São Tomás, diz
Descogs,
Descoqs, queque aa doutrina que demos
doutrina que demos acima,
acima, dede que
que oo conceito
conceito de
de
ente para
ente para São
São Tomás
Tomás éé o o que
que éé primeiramente
primeiramente captado
captado pelo
pelo in
in­
telecto, mas
telecto, mas que
que éé tomado
tomado de de maneira confusa, màximamente
maneira confusa, mâximamente con­ con-
fusa, éé demonstrada
fusa, demonstrada por
por vários
vários autores.
autôres.


— 1132
32 —

Mas
Mas em em oposição
oposição aa ela temos, por
ela temos, por exemplo,
exemplo, aa posição
posição dede
Scot ee de
Scot Suarez, que
de Suarez, que dizem
dizem que
que o o primeiro
primeiro cógnito,
cógnito, oo primeiro
primeiro
conhecido pelo
conhecido pelo intelecto,
intelecto, éé oo ser singular existente,
ser singular existente, ee não prôpria-
não propria­
mente aa noção
mente noção de ente maxime
de ente maxime confuse,
confuse, ee então reproduz êle,
então reproduz êle, da
da
obra
obra de Suarez, sobretudo
de Suarez, sobretudo fundado
fundado nosnos comentários
comentários ao ao D
Dee Anima,
Anima,
*e nas
nas opiniões
opiniões dede outros autôres, que
outros autores, seguem aa linha
que seguem escotista, aa
linha escotista,
justificação
justificação dada sua
sua posição.
posição.

Na
Na verdade
verdade Scot,
Scot, como Suarez, colocam-se
como Suarez, colocam-se na na posição
posição maismais
psicológica, ee São
psicológica, Tomás, seguindo
São Tomás, seguindo aa linhalinha de de Aristóteles,
Aristóteles, colo-
colo­
ca-se
ca-se na posição ontológica.
na posição ontológica. Os Os argumentos
argumentos de de Scot, como os
Scot, como os:
de
de Suarez,
Suarez, fundam-se
fundam-se na Psicologia, enquanto
na Psicologia, enquanto que que os os dede Sad
São To­
To-
más
más ee de de Aristóteles fundam-se na
Aristóteles fundam-se na Ontologia, porque dizem,
Ontologia, porque dizem, em em
suma, tôda aa demonstração
suma, tôda demonstração aa favor
favor da posição de
da posição de Scot
Scot ee dede Suarez,
Suarez,
do
do primum. congnitum pelo
primum congnitum intelecto éé oo ser
pelo intelecto ser singular
singular existente,
existente,
êle vai se fundar, em primeiro lugar, em que todo nosso conhe­
êle vai se fiindar, em primeiro lugar, em que todo nosso conhe-
cimento, partindo dos
cimento, partindo dos sentidos, parte do
sentidos, parte do ente
ente singular,
singular, parteparte das
das
nossas
nossas sensações,
sensações, ee éé lógico
lógico que
que o o que
que éé mais
mais fâcilmente
facilmente conce-conce­
bido
bido porpor nós
nós éé aa singularidade.
singularidade. Só Só posteriormente,
posteriormente, pela pela acção
acção
da nossa mente,
da nossa mente, vamos
vamos reduzir êsses singulares
reduzir êsses singulares aa eide ei d e ee aa esque-
esque­
mas eidéticos.
mas eidéticos.

Não
Não há necessidade de
há necessidade reexaminarmos tôda
de reexaminarmos tôda aa argumentação
argumentação
escotista ee suareziana,
escotista suareziana, porque
porque já já sabemos
sabemos em em queque ela
ela vai consistir;
vai consistir;
tôda ela
tôda ela funda-se nesta argumentação
funda-se nesta argumentação meramente
meramente psicológica.
psicológica.
Descogs, comentando
Descoqs, comentando essas
essas duas
duas posições,
posições, dizdiz que
que não
não cabe
cabe aa êle
êle
prôpriamente
propriamente colocar-se
colocar-se numa
numa posição
posição própró ou
ou contra,
contra, ee não
não dispu-
dispu­
ta sôbre
ta sôbre as duas opiniões
as duas opiniões queque se manifestam propriamente
se manifestam prôpriamente opos- opos­
tas, porque,
tas, porque, diz
diz êle,
êle, que
que S.S. Tomás
Tomás funda-se mais na
funda-se mais na razão discur-
razão discur­
siva ee abstractiva,
siva abstractiva, enquanto
enquanto que que Scot
Scot e e Suarez
Suarez fundam-se
fundam-se maismais nono
intelecto intuitivo.
intelecto Então êle
intuitivo. Então êle traz aqui um
traz aqui um dos comentários de
dos comentários de
Rousselot, ee também
Rousselot, também do cardeal Mercier,
do cardeal Mercier, cujos
cujos comentários
comentários re­ re-
produzimos analizando-os
produzimos depois:
analizando-os depois:

“E
" £ um ponto bem
um ponto bem conhecido
conhecido da noética de
da noética de São
São Tomás
Tomás queque
nossos conceitos
nossos conceitos representam
representam aa essência
essência abstraída,
abstraida, ee não
não oo indivi-
indiví­
duo.
duo. Não Não temos
temos aa intuição dos singulares
intuição dos singulares materiais.
materiais. Esta
Esta ma-
ma­
neira de
neira ver estava
de ver estava dominada
dominada pelapela doutrina
doutrina dada individuação.
individuação. A
A
matéria assinalada,
matéria assinalada, com efeito, éé impermeável
com efeito, impermeável àà nossanossa inteligên-
inteligên-

— 133 —
— 133 —
cia; ao
da; contrário, uma.
ao contrário, uma heceidade, sendo de
heceidade, sendo de ordem formal, pode­
ordem formal, pode-
ria ser
ria representada intelectualmente.
ser representada intelectualmente.

Não devemos,
Não devemos, portanto,
portanto, nos
nos espantar
espantar de ver os
de ver os escolásticos,
escolásticos,
que rejeitam
que rejeitam aa individuação
individuação pela pela matéria,
matéria, como
como ScotScot ee Suarez,
Suarez,
admitir que
admitir que nossos
nossos conceitos
conceitos representam
representam directamente
directamente os os indiví­
indiví-
duos, mas
duos, mas éé aa noção
noção tomista
tomista dodo conceito,
conceito, queque éé confirmada
confirmada pela pela
experiência, <e conhece-se
experiência, conhece-se comumente
comumente hoje hoje oo seguinte:
seguinte: aa represen­
represen-
tação, que
tação, que formamos
formamos dos objectos singulares,
dos objectos singulares, aparece-nos
aparece-nos como como
um complexo
um complexo de notas, que
de notas, que não repugna ser
não repugna ser realizada
realizada em em umum su­su-
jeito. EE aa linguagem
jeito. linguagem acrescenta
acrescenta o o seu
seu testemunho
testemunho àà análise
análise psi-
psi­
cológica: os
cológica: os nomes
nomes ditos substantivos designam
ditos substantivos designam de de si
si uma
uma quidida-
qüidida-
de, uma
de, uma essência
essência multiplicável
multiplicável e, e, portanto,
portanto, abstracta.
abstracta.

Os pronomes,
Os pronomes, comocomo osos lingüistas
linguistas contemporâneos
contemporâneos bem bem oo no-
no­
taram, não são,
taram, não como se
são, como se dizia outrora, simples
dizia Outrora, simples substitutos
substitutos de subs-
de subs­
tantivos, pro-nominae; êles
tantivos, pro-nominae; êles designam, como os
designam, como os advérbios
advérbios de de lu-
lu­
gar, aa imediação
gar, sensível. No
imediação sensível. No juízo em que
juízo em que um
um nome
nome éé afirmado
afirmado
de um prenome,
de um prenome, constata-se
constata-se claramente
claramente oo movimento
movimento natural
natural dodo
espírito que, para tomar plenamente consciência de seu pensa­
espírito que, para tomar plenamente consciência de seu pensa-
mento, realiza aa disjunção
mento, realiza disjunção dosdos dois
dois têrmos,
têrmos, pois
pois os
os sintetiza:
sintetiza: “é"é
um homem”.
um homem”.

E oo que
é que oo cardeal
cardeal Mercier reduz excelentemente
Mercier reduz excelentemente por
por essa fór-
essa fór­
mula:
mula: “a quididade inteligível
"a qüididade que eu
inteligível que eu :oncebo
concebo éé idêntica,
idêntica, ao me-
ao me­
nos materialmente, com
nos materialmente, com aa realidade
realidade concreta
concreta que eu tenho
que eu tenho cons-
cons­
ciência
ciência de perceber”.
de perceber".

Ora, comentando ainda


Ora, comentando ainda São Tomás, numa
São Tomás, nota, Rousselot
numa nota, Rousselot
acrescenta oo seguinte:
acrescenta seguinte: “São''São Tomás
Tomás jamais negou que
jamais negou tenhamos
que tenhamos
qualquer representação
qualquer intelectual dos
representação intelectual singulares, ee não
dos singulares, não adianta
adianta dede
modo algum, diz,
modo algum, diz, objectar-lhe
objectar-lhe queque podemos
podemos fazê-los
fazê-los figurar
figurar emem
nossos silogismos.
nossos silogismos. Tudo Tudo oo que que êle quer éé que
êle quer essa representa­
que essa representa-
ção suponha uma
ção suponha reflexão sôbre
uma reflexão sôbre oo acto
acto de conhecimento, o
de conhecimento, o fan-
fan­
tasma, sôbre
tasma, sôbre aa unidade
unidade funcional
funcional do do sujeito,
sujeito, como
como se se vêvê no De
no De
Anima ee no
Anima no DeDe Veritate".
Verilate”. EE diz
diz êle
êle mais
mais adiante:
adiante: “São
"São Tomás
Tomás
foi mais
foi mais longe,
longe, êle viu que,
êle viu exibindo uma
que, exibindo uma natureza
natureza abstracta,
abstracta, nos­
nos-
sos conceitos apresentam-se,
sos conceitos apresentam-se, contudo,
contudo, comcom referência interior aa um
referência interior um
sujeito, ou, para
sujeito, ou, para dizer
dizer melhor,
melhor, aa algum sujeito”.
algum sujeito”.


— 134 —
134 —
Ora, na
Ora, verdade, oo que
na verdade, que acontece
acontece éé o
o seguinte:
seguinte: Scot
Scot ee Suarez
Suarez
partem, no
partem, no conhecimento,
conhecimento, da da Psicologia,
Psicologia, partem
partem dasdas intuições sen-
intuições sen­
síveis,
síveis, ee SãoSão Tomás,
Tomás, propriamente,
própriamente, parte
parte dodo campo
campo noético,
noético, dodo
campo
campo da da nóesis,
nóesis, da
da realização da nossa
realização da nossa mente;
mente; quer
quer dizer,
dizer, jájá
quando o
quando o intelecto
intelecto activo
activo vai construir os
vai construir seus primeiros
os seus primeiros esquemas,
esquemas,
mas esquemas
mas esquemas que que jájá se
se caracterizam
caracterizam pela
pela universalidade.
universalidade. De ma-
De ma­
neira que São Tomás diz que a nossa primeira cognição refere-se
neira que São Tomás diz que a nossa primeira cognição refere-se
não àà nossa
não nossa primeira
primeira sensação,
sensação, mas ao nosso
mas ao nosso primeiro
primeiro trabalho
trabalho dada
cogitativa, quando
cogitativa, quando estáestá funcionando
funcionando com com oo intelecto
intelecto ativo.
ativo.

De
De maneira que
maneira que aa disputa entre Tomás,
disputa entre Tomás, Suarez
Suarez ee Scot
Scot éé uma
uma
disputa
disputa fácil de
fácil resolver; éé que
de resolver; que São São Tomás
Tomás quer quer sese referir
referir aoao
brimum
primum congnito
congnito ee não não àà primeira
primeira sensalio,
sensatio, àà primeira
primeira sensação.
sensação.
Se
Se se referisse àà primeira
se referisse sensação, àà primeira
primeira sensação, primeira intuição, então São
intuição, então São
Tomás
Tomás diria que sim,
diria que sim, que
que sese trata
trata dada singularidade,
singularidade, mas mas oo cog-
cog-
nito
nito já exige aíaí um
já exige um funcionar
funcionar do do nosso
nosso intelecto, que tem
intelecto, que tem oo seu
seu
carácter fundamental, que
carácter fundamental, que éé aa racionalização.
racionalização. Por isso, êle
Por isso, êle diz:
diz:
êsse primum
êsse primum cognitum,
cognitum, que que éé aa primeira
primeira racionalização
racionalização nossa,
nossa, éé
aa idéia
idéia dede ente
ente confusamente
confusamente tomada,tomada, quer quer dizer, ente não
dizer, ente preci-
não preci­
sado enquanto
sado enquanto tal. tal. De De maneira
maneira que que há há uma perfeita conciliação
uma perfeita conciliação
nos dois
nos dois pensamentos.
pensamentos. Não Não há há necessidade
necessidade dessa disputa; éé uma
dessa disputa; uma
questão de
questão ver apenas
de ver apenas de de que
que ponto
ponto de de partida,
partida, qual
qual foi
foi oo princi-
princí­
pio que
pio êles tomaram,
que êles tomaram, que que são princípios distintos.
são princípios distintos. Portanto,
Portanto, aa
divergência éé apenas
divergência apenas aparente
aparente ee desaparece
desaparece quandoquando aa questão
questão pas­
pas-
sa aa ser
sa bem colocada.
ser bem colocada.
Quando
Quando na na parte
parte analítica
analítica estudamos
estudamos oo ente
ente verificamos
verificamos que que
as discussões
as discussões que que se travaram, sobretudo,
se travaram, sobretudo, entre tomistas, escotis-
entre tomistas, escotis-
tas ee suarezistas,
tas referente àà univocidade,
suarezistas, referente univoddade, àà equivocidade,
equivocidade, àà ana- ana­
logia
logia do do ente,
ente, verificamos
verificamos que que êste,
êste, tomado
tomado na na sua
sua onticidade,
onticidade, en­ en-
quanto
quanto êste êste ente
ente ou aquêle ente,
ou aquêle ente, éé equívoco, porque cada
equívoco, porque cada um,
um, pe-pe­
la sua
la diferença absoluta,
sua diferença absoluta, queque éé aa diferença
diferença individual,
individual, que que éé aa
última
última diferença, porque aa última
diferença, porque última diferença
diferença da da espécie especia-
espécie especia-
líssima éé o
líssima o indivíduo, equivoca-se em
indivíduo, equivoca-se em relação
relação aosaos outros,
outros, porque
porque
o ente
o ente dêste
déste não
não éé o o ente
ente de outro ser.
de outro ser. EE vimos,
vimos, então,
então, que,
que, lô-lo­
gicamente,
gicamente, como como apenas
apenas nosnos referimos
referimos ao ao esquema
esquema que formamos
que formamos
de ente,
de ente, então
então êleêle éé unívoco.
unívoco. Essa univocidade
Essa univocidade éé aceita
aceita por mui-
por mui­
tos filósofos,
tos filósofos, ee recebeu
recebeu as as críticas
criticas de
de Suarez;
Suarez; nãonão queque êle
êle não re-
não re-


— 135
1 35 —

conhecesse que
conhecesse havia essa
que havia essa univocidade
univocidade lógica,
lógica, mas
mas que,
que, como
como
temia muito
temia muito aa palavra
palavra univocidade,
univocidade, pelo
pelo perigo que há
perigo que hã de
de nos le-
nos le­
var ao
var panteísmo, êle
ao panteísmo, preferia não
êle preferia não tratar
tratar dêste ponto.
dêste ponto. E final­
E final-
mente vimos
mente vimos que
que o o ente, considerado ontolôgicamente,
ente, considerado ontològicamente, no no seu
seu
logos, êle éé análogo.
logos, êle análogo. Matêticamente,
Matèticamente, oo ente não éé nem
ente não nem análogo,
análogo,
nem
nem equivoco, nem univoco.
equívoco, nem unívoco.

Javelli, que
Javelli, que éé umum escotista,
escotista, na sua obra
na sua obra Sôbre
Sóbre aa Aíetafisica,
Metafísica,
na questão
na questão 1.*,
1.2, diz
diz o o seguinte: “ergo ens
seguinte: "ergo ens inin se precisae et
se precisae et absolutae
absolutas
consideratum, dato
consideratum, dato quoad
quoad haberet unum conceptum
haberet unum conceptum qui qui posset
posses
convenire omnibus suis
convenire omnibus suis contentis
contentis nonnon estest univocum,
tmivocum, nec nec equivo-
equivo-
cum,
cum, necnec analogum,
analogum, ..... . univocum
univocum non non est,
est, nec equivocum, nec
nec equivocum, nec
analogum, nisi
analogum, nisi ut
ut com
comparatur
paratur suis
suis contentis, secundum unum
contentis, secundum unum aus aut
pluris conceptus,
pluris conceptus, sed sed ens
ens sic
sic consideratur
consideratur (quer(quer dizer,
dizer, considerado
considerado
enquanto êle
enquanto êle mesmo)
mesmo) non non comparatur
comparatur suis conientis, ergo
suis contentis, ergo ut
st sic
sic
non est
non est univocum,
univocum, nec nec equivocum,
equivocum, nec nec analogum."
analogum.

Conclusão
Conclusão é, é, então,
então, aa seguinte: portanto, o
seguinte: portanto, o ente,
ente, tomado
tomado in in
se,
se, precisivamente
precisivamente ee absolutamente
absolutamente considerado,
considerado, comocomo êle êle possui
possui
um só
um só conceito
conceito que que possa convir aa todos
possa convir todos osos seus inferiores, aa to­
seus inferiores, to-
dos os
dos os que
que estão
estão néle
nêle contidos,
contidos, queque podem
podem receber
receber aa sua
sua predica-
predica­
são, êle
ção, êle não
não éé unívoco,
unívoco, nemnem éé equívoco,
equívoco, nemnem éé análogo.
análogo. Se to­
Se to-
mamos o
mamos o set
ser como
como aa afirmação
afirmação que que se positiva, que
se positiva, que pode
pode positi-
positi­
var-se, dar-se,
var-se, dar-se, vemos,
vemos, perfeitamente,
perfeitamente, que que êle
êle não
não éé nem
nem equívoco,
equivoco,
nem análogo,
nem análogo, nem nem unívoco.
univoco. Diz Diz êle:
êle: não
não éé unívoco,
unívoco, nem nem equí-
equí­
voco, nem
voco, nem análogo,
análogo, aa não não ser
ser quando
quando comparado
comparado aos aos seus
seus inferio­
inferio-
res, segundo
res, segundo um um ou ou muitos conceitos, mas
muitos conceitos, mas oo ente, enquanto con-
ente, enquanto con­
siderado assim,
siderado assim, comocomo oo consideramos,
consideramos, não não éé comparado
comparado aos aos seus
seus
inferiores,
inferiores, porque
porque os os inferiores
inferiores não são oo ente
não são ente enquanto
enquanto ente. ente.
Portanto
Portanto êle,êle, tomado
tomado comocomo ente enquanto ente,
ente enquanto como o
ente, como o definimos
definimos
na Matese, êle
na Matese, êle não
não éé unívoco,
unívoco, nem nem equivoco,
equívoco, nem nem análogo.
análogo.

Aceitamos essa
Aceitamos essa contribuição
contribuição de
de Javelli,
Javelli, que
que éé uma
uma contribui­
contribui-
ção genuinamente matética,
ção genuinamente matética.

EE assim
assim na
na verdade
verdade sese dá,
dá, ee assim
assim está justamente compre-
está justamente compre­
endido, porque,
endido, porque, enquanto
enquanto tomamos
tomamos oo enteente enquanto ente, apenas
enquanto ente, apenas
como algo
como algo que
que se
se afirma
afirma ee se
se positiva, não oo tomamos
positiva, não tomamos emem nenhu­
nenhu-
ma das
ma suas determinações,
das suas determinações, tomamo-lo
tomamo-lo então indeterminadamente.
então indeterminadamente.

— 1136
36 —

Ora,
Ora, todo ente que
todo ente vamos considerar
que vamos considerar na sua singularidade,
na sua singularidade, éé um um
ente
ente determinado;
determinado; êste êste seria
seria oo ente
ente tomado
tomado na na sua indetermina-
sua indetermina-
ção, conseqüentemente,
ção, conseguentemente, êle não éé nem
êle não nem unívoco,
univoco, nem nem equivoco,
equívoco,
nem análogo
nem análogo aos aos outros.
outros. Não Não éé equívoco,
equívoce, porque
porque aa sua sua entitas
entitas
não éé outra
não outra que
que aa que
que sese dádá neste
neste ou naquele.
ou naquele. Ele não
Êle não é,é, por-
por­
tanto, equivoco.
tanto, equívoco. Êle Ele não
não éé análogo,
análogo, porque,
porque, parapasa ser análogo,
ser análogo,
teria de
teria ter alguma
de ter alguma diferença absoluta em
diferença absoluta em relação
relação aos outros, o
aos outros, o
que êle
que êle não
não tem.
tem. Ele não éé unívoco
Êle não univoco também,
também, porque
porque êle não sese
êle não
univoca totalmente
univoca totalmente com com os os outros,
outros, porque
porque sendo
sendo êle indetermina-
êle indetermina­
do, os outros determinados, há alguma diferença entre êles.
do, os outros determinados, há alguma diferença entre êles. MasMas
oo ser determinado, enquanto
ser determinado, enquanto determinado,
determinado, não não deixa
deixa também
também de de
ser ente enquanto
ser ente enquanto ente;
ente; porpor isso
isso éé que
que não
não há há nem
nem univocidade,
univocidade,
nem
nem equivocidade,
equivocidade, nem analogia.
nem analogia.

Ora,
Ora, sese nos colocamos nesta
nos colocamos nesta classificação
classificação dodo ente,
ente, como
como oo
fazemos, nos
fazemos, quatro planos,
nos quatro planos, no ôntico, no
no ôntico, lógico, no
no lógico, ontológico
no ontológico
ee no
no matético,
matético, perfeitamente
perfeitamente resolvemos tôdas as
resolvemos tôdas as polêmicas
polêmicas que que
estavam travadas,
estavam travadas, porque
porque aquêles
aquêles queque se colocam no
se colocam no ângulo
ângulo ló­ló-
gico têm,
gico têm, naturalmente,
naturalmente, de de chegar
chegar àà univocidade;
univocidade; os os que
que sese co-
co­
locam
locam do do ângulo
ângulo meramente ôntico, têm
meramente ôntico, têm dede afirmar
afirmar aa plurali­
plurali-
dade como
dade muitos afirmaram,
como muitos afirmaram, comocomo nósnós vemos
vemos na na concepção
concepção do do
atomismo adinâmico,
atomismo etc. ee os
adinâmico, etc., os que
que se colocam no
se colocam no ângulo
ângulo mera-
mera­
mente ontológico
mente ontológico têmtêm conseqüentemente
consegiientemente de afirmar aa analogia.
de afirmar analogia.

Dêste modo nós,


Dêste modo colocando-nos assim,
nós, colocando-nos assim, evitamos
evitamos as perspec-
as perspec­
tivas
tivas que são apenas
que são apenas abstractistas
abstractistas ee tomamos
tomamos o o ente
ente nana sua
sua genera-
genera­
lidade,
lidade, ee evitames
evitamos as as diferenças
diferenças havidas,
havidas, queque geraram
geraram essas
essas lon-
lon­
gas
gas controvérsias,
controvérsias, queque têm
têm umum grande valor porque
grande valor porque permitiram
permitiram
facilitar uma
facilitar uma grande especulação sôbre
grande especulação sôbre oo ente, mas que
ente, mas que criaram
criaram
campos
campos praticamente
pràticamente impermeáveis
impermeáveis uns uns aosaos outros,
outros, de modo aa
de modo
sectarizar oo pensamento
sectarizar pensamento filosófico
filosófico de um carácter
de um carácter verdadeiramente
verdadeiramente
perigoso e,
perigoso e, sobretudo,
sobretudo, prejudicial
prejudicial àà própria
própria escolástica,
escolástica, ee que ser-
que ser­
viu de
viu de argumento
argumento parapara osos seus
seus adversários alegarem que
adversários alegarem que ela não
ela não
tinha capacidade
tinha capacidade de resolver os
de resolver seus problemas.
os seus problemas. Aliás Aliás essa
essa éé aa te-
te­
se que
se que defendem
defendem aquêles
aquêles que mais intimamente
que mais intimamente conhecem
conhecem aa esco-
esco­
lástica
lástica ee que
que sese colocam
colocam dodo outro
outro lado.
lado.
Se
Se consideramos
consideramos oo ente
ente enquanto ser, enquanto
enquanto ser, enquanto ente,
ente, ee oo to­
to-
mamos, depois, enquanto
mamos, depois, enquanto êste
êste ou aquéle ente,
ou aquêle ente, poderiamos,
poderíamos, então,
então,

—— 1137
37 —

conceber oo seguinte:
conceber seguinte: um um ser ser deficiente
deficiente seria
seria oo ser
ser que,
que, sendo
sendo umauma
afirmação positiva,
afirmação positiva, sendo
sendo afirmação
afirmação de de umauma positividade,
positividade, entre-entre­
tanto não
tanto não éé absoluta
absoluta ee infinitamente afirmação de
infinitamente afirmação de umauma absoluta
absoluta
ee infinita positividade,
infinita positividade. O ser,
O ser, que
que éé uma uma afirmação
afirmação absoluta
absoluta ee
infinita
infinita de de positividade,
positividade, éé um um serser na plenitude absoluta
na plenitude absoluta de de ser,
ser,
um ser
um ser queque nãonão tem
tem nenhuma
nenhuma mescla mescla de de nãc-ser,
nãc-ser, um um ser que éé
ser que
sômente ee absolutamente
somente absolutamente ser, ser, enquanto
enquanto que que oo ser ser deficiente
deficiente éé
aquêle,
aquêle, aa cuja cuja afirmação
afirmação de de positividade
positividade cabe, cabe, entretanto,
entretanto, uma uma
determinação,
determinação, um um timite
limite apósapós o o qual
qual não
não é,é. OO ser, ser, plenitude
plenitude de de
ser,
ser, não
não tem tem êsse
êsse limite,
limite, não não temtem essa
essa ulterioridade
ulterioridade que que nãonão éé êle,
êle,
porque êle
porque êle éé apenas
apenas ser,ser, sem
sem aa mínima
mínima deficiência.
deficiência. Dêste modo,
Dêste modo,
como
como vimosvimos na na FFilosofia
ilosofia Concreta
Concreta ee na na parte
parte sintética
sintética da da Matese,
Matese,
temos aa diferença
temos diferença dos dos dois
dois entes,
entes, oo ente
ente absoluto
absoluto do Ser Supremo,
do Ser Supremo,
que
que éé um ente de
um ente de afirmação
afirmação absolutaabsoluta ee infinita,
infinita, de de positividade
positividade
absoluta
absoluta ee infinita,
infinita, ee oo ser deficiente, oo ser
ser deficiente, ser finito,
finito, queque éé umum serser
de afirmação relativa
de afirmação relativa ee de de positividade
positividade relativa, porque sômente
relativa, porque somente
éé ser
ser enquanto
enquanto éé o o ser
ser que
que é, é, havendo
havendo um um ulterior
ulterior não não ser
ser.êle,
êle,
isto
isto é,é, umum nãonão ser êle enquanto
ser êle enquanto êle êle éé o o que
que é,é, um
um outro
outro serser que
que
não éé, êle,
não
A
éle, que
que para
para éleêle éé umum nada
nada d dêle,
êle, mas
mas éé oo ser
ser dede outro.
outro.

Neste
Neste sentido, aplicando êste
sentido, aplicando êste sentido
sentido de de ser como oo que
ser como que já já
estudamos
estudamos em tômno da
em tôrno analogia, da
da analogia, da equivocidade,
equivocidade, da da univocidade,
univocidade,
tomando nos
tomando nos quatro
quatro planos, no plano
planos, no plano ôntico,
ôntico, nono lógico,
lógico, nono onto-
onto­
lógico, no
lógico, no matético,
matético, verificamos
verificamos queque asas discussões
discussões em em tôrno
tôrno dessa
dessa
matéria surgem
matéria surgem da da má colocação do
má colocação conceito de
do conceito de ser.
ser. E curial,
É curial,
pois, que
pois, que se se tomamos
tomamos ser ser como
como temtem sido
sido tomado,
tomado, comocomo aquilo
aquilo
cuja aptidão
cuja aptidão éé existir
existir sob outras formas
sob outras formas semelhantes,
semelhantes, embora
embora vá­vá-
lidas até
lidas até certo
certo sentido,
sentido, nosnos colocamos
colocamos em aporias que
em aporias são fâcil-
que são facil­
mente solúveis
mente solúveis desde
desde queque aa questão seja devidamente
questão seja devidamente colocada.
colocada.

Como temos
Como temos aqui, nestes escólios,
aqui, nestes escólios, que
que hoje
hoje tratamos, mazé-
tratamos, maté­
ria suficiente para
ria suficiente para muitas explanações ee esclarecimentos,
muitas explanações esclarecimentos, passamos
passamos
nos capítulos
nos subsequentes, aa tratar
capítulos subseqüentes, dessa matéria.
tratar dessa matéria.


— 138 —
138 —
CAP. IX
CAP. IX

OO ENUNCIADO
ENUNCIADO MATÉTICO
MATEÉTICO DO
DO CONCEITO DE SER
CONCEITO DE SER

Oferecemos aqui oo nosso


Oferecemos aqui nosso enunciado
enunciado de
de ente,
ente, ee vamos justifi-
vamos justifi­
câ-lo, porque êle,
cá-lo, porque êle, depois,
depois, nos
nos servirá para que
servirá para que penetremos
penetremosnono te-
te­
ma da
ma da analogia
analogia dodo ente enquanto tal,
ente enquanto tal, um dos temas
um dos mais impor-
temas mais impor­
tantes na
tantes na filosofia,
filosofia, porque em tôrno
porque em tôrno dada analogia,
analogia, da equivocidade
da equivocidade
ee da
da univocidade,
univocidade, praticamente, giram tôdas
pràticamente, giram as doutrinas
tôdas as doutrinas filcsó-
filosó­
ficas conhecidas.
ficas conhecidas.

Este
Êste éé umum enunciado
enunciado que que nãonão obedece
obedece prôpriamente
pròpriamente às às re­
re-
gras das
gras das definições
definições da da Lógica
Lógica Formal,
Formal, mas, sim, mais
mas, sim, dialéctica.
mais dialéctica.
Ens ou
Ens ou ente (ou ontos,
ente (ou oxtos, como
como iremos chamar depois,
iremos chamar depois, iremos
iremos aban-
aban­
donar
donar grande parte do
grande parte do vocabulário latino que
vocabulário latino que usamos ainda, para
usamos ainda, para
usar cc vocabulário
usar vocabulário maismais ligado
ligado ao grego), ens,
ao grego), ens, nono sentido
sentido dede ente,
ente,
de ser, participialiter,
de ser, participialiter, éé aa afirmação
afirmação que que se positiva determinada
se positiva determinada
quididativamente, que
qüididativamente, que éé indíviso
indiviso em em si,
si, ee outro
outro queque outros,
outros, comcom
os
os quais mantém uma
quais mantém uma relação unívoca ao
relação unívoca non nihilum.
ao non nihilum. EnteEnte é,é,
pois,
pois, aa afirmação
afirmação que que sese positiva,
positiva, determinada
determinada quididativamente,
qüididativamente,
que
que éé indiviso
indiviso emem sisi (cu
(cu in7» sse),
e ), ee outro
outro que que outro, com os
outro, com os quais
quais
mantém
mantém uma relação unívoca
uma relação unívoca ao ao não
não nada.
nada.

Examinando
Examinando êsse enunciado dialéctico
êsse enunciado dialéctico dede ens,
ens, vimos,
vimos, tanto
tanto
na parte
na parte sintética como na
sintética como na parte analítica, oo que
parte analítica, significa aa afir­
que significa afir-
mação que
mação que se
se positiva,
positiva, aa afirmação
afirmação queque permanece,
permanece, oo ser ser que per-
que per-
mana, porque
mana, porque ser é, de
ser é, de qualquer
qualquer forma,
forma, emem primeiro
primeiro lugar,
lugar, afir-
afir­
mativo; em
mativo; em segundo,
segundo, perdurante.
psrdurante. E É uma afirmação que
uma afirmação que sese posi-
posi­
tiva; indica,
tiva; portanto, algo
indica, portanto, afirmativo, não
algo afirmativo, não éé negação,
negação, não não éé re­
re-
cusa, não
cusa, não éé ausência;
ausência; éé presença,
presença, éé adsência.
adsência.


— 139 —
139 —
Podemos também acrescentar
Podemos também acrescentar aqui,
aqui, no início da
no início da nossa
nossa defi-
defi­
nição, que
nição, que ente
ente éé aa afirmação
afirmação queque se
se positiva,
positiva, que
que perdura, porque
perdura, porque
aa própria
própria positividade
positividade (aqui(aqui seria
seria como
como que que um um sinônimo),
sinônimo), oo
próprio dar-se,
próprio dar-se, oo próprio
próprio pôr-se
pôr-se éé um um perdurar
perdurar de si mesmo.
de si mesmo.
Agora, êste ens,
Agora, êste que perdura,
ens, que perdura, que
que sese dá,
dá, que
que se afirma, que
se afirma, se
que se
positiva, dá-se como
positiva, dá-se como alguma
alguma coisa,
coisa, como áliguid.
como âliquid.

Então se
Então se dá
dá com
com uma determinação qüiditativa:
uma determinação quiditativa: êle
êle éé isto
isto ou
ou
éé aquilo,
aquilo, éé êste
êste ser ou éé aquêle
ser ou aquêle ser.
ser.

Não
Não éé possível
possível que
que venhamos
venhamos aa conceber
conceber oo ser,
ser, como
como éé
comum fazer-se, apenas
comum fazer-se, como despojado
apenas como despojado completamente de tôda
completamente de tôda
ee qualquer
qualquer qüididade,
quididade, dede qualquer
qualquer giidditas,
qiiidditas, sem que êste
sem que êste ser
ser
seja alguma
seja alguma coisa,
coisa, isto ou aquilo.
isto ou aquilo.
z
Essa conceituação
Essa conceituação de de ser
ser assim desdeterminado éé apenas
assim desdeterminado apenas um um
ente da
ente da nossa razão, porque
nossa razão, porque o o ser
ser não
não pode
pode dar-se,
dar-se, não não se
se dará.
dará
de modo
de modo algum,
algum, sem determinar-se como
sem determinar-se como sendo
sendo istoisto ou ou aquilo.
aquilo.
É uma
S uma criação
criação puramente
puramente mental,
mental, êsse que éé oo verdadeiro
êsse que verdadeiro ente ente:
da razão,
da razão, não
não ded e razão, um ente
razão, um ente queque àa razão
razão cria
cria com
com Oo intuito
intuito
de transformá-lo
de transformá-lo numa espécie de
numa espécie gênero de
de gênero de todos
todos os os outros
outros
entes.
entes. Ele éé determinado
Êle quiditativamente, êle
determinado qüiditativamente, êle éé isto
isto ouou aquilo,
aquilo,
ee sendo
sendo tal,
tal, êle,
êle, naturalmente,
naturalmente, contém, eminencialmente, no
contém, eminencialmente, no que
que
êle
êle é,é, todos
todos aquêles
aquêles queque lhe são subordinados,
Ihe são subordinados, todostodos os os seus
seus in-
in­
feriores,
feriores, todos aquêles que
todos aquêles que dêle
dêle dependem,
dependem, todos aquêles que
todos aquêles que sãosão
efeitos dêle, quer
efeitos dêle, quer formais,
formais, quer
quer nãonão formais,
formais, masmas que déle de-
que dêle de­
correm.
correm.

Agora, éé indiviso
Agora, indiviso in in se, porque tem
se, porque tem de ser uma
de ser uma unidade,
unidade, ee
já foram
já foram expostas
expostas as razões ontológicas
as razões ontológicas por por que
que tudo
tudo quanto
quanto éé tem
tem
de ser
de ser uma
uma unidade.
unidade. Ele tem
Êle tem dede ser
ser indiviso
indrviso in in se,
se, ee se
se tem
tem uma
uma
talidade, ee se
talidade, se estiver
estiver em em relação
relação aa outros,
outros, éé outro,
outro, éé distinto
distinto de de
nutros, ee sendo
outros, sendo êle,
êle, éé precisamente
precisamente distinto
distinto dede qualquer
qualquer outro que
outro que
seja, ou
seja, ou que possa ser.
que possa ser. Mas
Mas se há outro,
se há outro, ee como
como há,há, ee êse
êsse éé oo
ponto de
ponto de partida
partida que que cabecabe àà Dialéctica,
Dialéctica, êleêle está numa relação
está numa relação
univoca, mantém
unívoca, mantém uma relação unívoca
uma relação unívoca com com êsses
êsses outros,
outros, em em rela-
rela­
cão ao
ção ao non
non mnibilum,
nihilum, ee sendo êsses outros,
sendo êsses outros, outros
outros tantos
tantos entes, êles
entes, êles
estão
estão numa relação unívoca,
numa relação unívoca, de de oposição
oposição ao ao não-ser.
não-ser. Poderemos,
Poderemos,
pois, dizer:
pois, dizer: oo que
que postulamos
postulamos de de qualquer
qualquer enteente univocamente
univocamente éé

— 1140
— —
40 —
1.º) Uma
1.°) Uma afirmação que se
afirmação que se positiva
positiva ee que
que perdura, 2.º) Indiviso
perdura, 2.°) Indiviso
in se,
in se, forma
forma uma
uma unidade,
unidade, outro
outro que
que outro;
outro; ee 3.º)
3.°) mantém
mantém comcom
outro
outro uma
uma relação univoca ao
relação unívoca ao non nibilum, quer
non nibilum, quer dizer, relativa-
dizer, relativa­
mente
mente sese pode
pode dizer
dizer que êle éé2 não
que êle não outro
outro ee éé não-nada.
não-nada.

Agora,
Agora, Oo que
que vai separar, Oo que
vai separar, que vai
vai distinguir,
distinguir, oo queque vai
vai tor-
tor­
nar êsses
nar entes outros
êsses entes outros que outros, ee serem
que outros, serem oo que
que são,
são, é,é, sobretudo,
sobretudo,
serem oo que
serem que são,
são, éé aa determinação
determinação quididativa,
qüididativa, aa qual qual lhes
lhes dádá oo
carácter de
carácter de distinção
distinção esta,
esta, de
de tal
tal distinção
distinção dosdos outros.
outros. Êle Ele éé dis-
dis­
tinto, tomado assim
tinto, tomado assim genèricamente,
genéricamente, mas mas qual
qual espécie
espécie de de distinção
distinção
ela caracterizará
ela caracierizará pela
pela determinação quididativa, pelo
determinação qüididativa, pelo que
que êleêle éé
qiididativamente, quer
qüididativamente; dizer, pelo
quer dizer, pelo que
que êle inclui na
êle inclui na sua
sua tectônica,
tectônica,
porque esta inclui
porque esta inclui tôda
tôda aa sua
sua estructura meramente eidética,
estructura meramente eidética, ee sese
tiver também uma
tiver também material, será
uma material, será material
material ou ou hiiética.
hilética.

Vai depender
Vai desta determinação
depender desta determinação quididativa,
qüididativa, queque inclui
inclui aa
tectônica nos
tectônica seus dois
nos seus dois aspectos fundamentais, sem
aspectos fundamentais, sem deixar
deixar natu­
natu-
ralmente de
ralmente de considerar
considerar também aquéles que
também aquêles são decorrentes
que são decorrentes ne-ne-
cessâriamente, como
cessàriamente, como efeitos
efeitos formais
formais primários,
primários, secundários
secundários ou ou
terciários
terciários da da sua
sua forma,
forma, ou,ou, então,
então, accidentes
accidentes necessários,
necessários, como
como oo
caso da
caso quantidade ou
da quantidade ou da
da qualidade,
qualidade, segundo
segundo oo tipo
tipo dede ser
ser que
que
êle é,é, ee também
êle também aquêles
aquêles queque Ihe
lhe são
são parte intrínsecos, parte
parte intrínsecos, parte ex-
ex­
trínsecos, ee os
trínsecos, que são
os que totalmente extrinsecos,
são totalmente extrínsecos, conforme
conforme aa classi-
classi­
ficação das
ficação das categorias
categorias aristotélicas.
aristotélicas. Tudo
Tudo isto está incluso,
isto está incluso, ne-
ae-
cessâriamente, desde
cessàriamente, desde que
que tomemos
tomemos o o ente
ente sob êstes aspectos.
sob êstes aspectos.

Assim nos
Assim nos preparamos
preparamos ee nos colocamos, partindo
nos colocamos, desta defi­
partindo desta defi-
nição dialéctica,
nição dialéctica, para
para se
se examinar
examinar oo problema da analogia,
problema da que éé
analogia, que
um problema
um problema de de máxima importância; oo da
máxima importância; analogia, de
da analogia, de quivoci-
quivoci-
dade
dade ee da univocidade, agora
da univocidade, agora sob
sob novos
novos ângulos.
ângulos.

Não hã
Não há necessidade
necessidade de de expor êsses têrmos:
expor êsses têrmos: unívoco,
univoco, equí­
equi-
voco ee análogo,
voco análogo, porque
porque sãosão suficientemente conhecidos. Entre-
suficientemente conhecidos. Entre­
tanto, não custa
tanto, não custa nada
nada fazer
fazer uma
uma pequena
pequena repetição;
repetição; assim,
assim, Oo con-
con­
ceito
ceito univoco,
unívoco, queque também
também pode
pode referir-se
referir-se aa um
um conceito,
conceito, éé aquê­
aquê-
le
le que diz de
que diz muitos, segundo
de muitos, segundo totalmente
totalmente aa mesma
mesma significação
significação ee
aa mesma
mesma razão
razão objectiva.
objectiva. Assim,
Assim, oo conceito de animal,
conceito de que pre­
animal, que pre-
dicamos
dicamos de de homem,
homem, comocomo predicamos
predicamos de cavalo, predicamos
de cavalo, predicamos to­ to-
talmente
talmente segundo
segundo aa mesma
mesma significação
significação ee segundo
segundo aa mesma
mesma razão
razão


— 1ál
141 —

objectiva.
objectiva. EE essa
essa univocidade,
univocidade, já vimos, pode
já vimos, pode ser física ou
ser física ou po­
po-
de
de ser
ser metafísica,
metafísica, segundo
segundo tratemos
tratemos dos aspectos físicos
dos aspectos físicos ouou trate­
trate-
mos dos aspectos
mos dos aspectos metafísicos.
metafísicos.

A palavra
A palavra equívoco
equívoco éé um têrmo que
um têrmo que sese diz
diz dede diversos,
diversos, se-
se­
gundo significação
gundo significação também
também diversa,
diversa, sob razões também
sob razões também absolu­
absolu-
tamente diversas.
tamente diversas. Assim,
Assim, quando empregamos oo têrmo
quando empregamos têrmo cão, pa-
cão, pa­
ra referirmo-nos
ra referirmo-nos aoao animal
animal ee àà constelação, são os
constelação, são os exemplos
exemplos mais
mais
comuns.
comuns.

O análogo,
O análogo, sabemos,
sabemos, éé aquêle têrmo em
aquêle têrmo em que
que parte refere-se
parte refere-se
ao mesmo e
ao mesmo e parte
parte ao diverso; ou
ao diverso; seja, que
ou seja, se diz
que se diz de
de muitos, se-
muitos, se­
gundo uma
gundo razão que,
uma razão que, simultâneamente,
simultâneamente, éé aa mesma mesma ee também também
diversa; quer
diversa; quer dizer,
dizer, aa idéia
idéia dede analogia
analogia inclui
inclui aa simultâneidade
simultaneidade
do mesmo
do mesmo ee do do diverso. Aristóteles, colocava
diverso. Aristóteles, colocava oo análogo
análogo nos nos.
equívocos; considerava a analogia apenas uma espécie de equivo-
equívocos; considerava a analogia apenas uma espécie de equivo-
cidade, porque
cidade, porque êleêle actualizava
actualizava aa diversidade,
diversidade, oo que que distingue,
distingue, oo
que separa,
que separa, ee não
não considerava
considerava oo semelhante,
semelhante, porque,
porque, de qualquer
de qualquer
maneira,
maneira, mesmomesmo o o têrmo
têrmo equívoco,
equivoco, porpor mais
mais queque oo seja,
seja, indica
indica al-
al­
guma semelhança
guma semelhança com com outro
outro aoao qual êle se
qual êle se refere.
refere. De maneira
De maneira
que essa
que essa semelhança
semelhança podepode ser próxima ou
ser próxima remota, então
ou remota, então julgava
julgava que
que
aí se
aí se incluía
incluía aa analogia,
analogia, oo têrmo
têrmo análogo,
análogo, como como aquêle
aquêle em em que
que
aa semelhança
semelhança estivesse
estivesse mais
mais próxima.
próxima. De De forma
forma que que êleêle achava
achava
desnecessário estudar
desnecessário aparte êste
estudar aparte êste têrmo,
têrmo, ee nãonão o o fazia.
fazia.

A questão
A surge em
questão surge em tôrno
tôrno dada conceituação dêsses têrmos,
conceituação dêsses têrmos, ee
do que
do que poderíamos
poderíamos classificar
classificar no
no têrmo
têrmo ens. Osa, temos
ens. Ora, temos de
de par-
par­
tir, primeiramente,
tir, primeiramente, dumdum conceito
conceito que
que éé muito
muito importante
importante para
para aa
melhor
melhor compreensão
compreensão do do tema,
tema, que
que éé oo conceito
conceito dede semelhança,
semelhança,
porque estamos
porque estamos observando
observando que em todos
que em êles existe
todos êles existe semelhança,
semelhança,
ee existe
existe aa diversidade.
diversidade. O O conceito
conceito de semelhante ee de
de semelhante de diverso
diverso
impõem que
impõem que primeiro
primeiro os
os clareemos
clareemos bem.
bem.

Tanto
Tanto aa semelhança
semelhança como
como aa diversidade
diversidade são são têrmos relativos,
têrmos relativos,
porque são têrmos duais. Não podemos falar de uma
porque são têrmos duais. Não podemos falar de uma semelhança
semelhança
que não
que não seja
seja semelhança
semelhança de de alguma
alguma coisa
coisa com
com outra.
outra. A À idéia
idéia dede
semelhança, portanto,
semelhança, portanto, implica, pelo menos,
implica, pelo menos, dois
dois têrmos,
têrmos, como
como tam-
tam­
bém aa idéia
bém idéia de
de diversidade
diversidade implica
implica dois
dois têrmos
têrmos pelo menos.
pelo menos. Não
Não
éé possível
possível falar-se numa semelhança
falar-se numa semelhança ou ou numa
numa diversidade
diversidade semsem

— 142
142 —

que tenhamos
que tenhamos êssesêsses dois têrmos, ee êles
dois termos, êles se assemelhem ou
se assemelhem ou se di-
se di­
versifiquem, e que haja entre Eles algo simul, algo que simultã-
versifiquem, e que haja entre êles algo sitnul, algo que simultâ­
neamente se
neamente se dá
dá num
num ee noutro,
noutro, aa repetição
repetição dede uma
uma nota num ee
nota num
noutro, e na repetição da nota que há num e há noutro, daria
noutro, e na repetição da nota que há num e há noutro, daria
a sua semelhança, e esta pode ser, consequentemente, gradativa,
a sua semelhança, e esta pode ser, conseqüentemente, gradativa,
de
de maior
maior ouou menor
menor gradatividade,
gradatividade, ou, ou, finalmente,
finalmente, existe
existe entre
entre
éles
êles também algo que
também algo que os diversifica,
os diversifica, ee oo conceito
conceito dede diverso
diverso
sempre implica aquelas
sempre implica aquelas notas pertencentes a gêneros distintos,
notas pertencentes a gêneros distintos,
não ao mesmo
não ao gênero, porque,
mesmo gênero, porque, do contrário, aa diversidade
do contrário, seria
diversidade seria
apenas uma diferença.
apenas uma diferença. Para dar a idéia de diversidade, que,
Para dar a idéia de diversidade, que,
portanto,
portanto, éé um
um grau muito mais
grau muito alto de
mais alto de diferença,
diferença, teremos
teremos de de
chegar,
chegar, então,
então, aa êste
êste sentido:
sentido: aa diversidade
diversidade implica
implica notas
notas de
de gê-
gé­
neros distintos.
neros distintos. O contrário própriamente de semelhança serib
O contrário propriamente de semelhança seria
diferença, mas
diferença, mas como
como temos
temos dede trabalhar
trabalhar aqui com oo diverso,
aqui com tra-
diverso, tra­
balhamos num grau de diferença mais elevado, em que os
balhamos num grau de diferença mais elevado, em que os termos
têrmos
que
que sese opõem
opõem são são têrmos pertencentes aa gêneros
têrmos pertencentes distintos.
gêneros distintos.

Surge aqui uma


Surge aqui uma longa
longa discussão
discussão nana filosofia,
filosofia, referente
referente aa esta
esti
matéria:
matéria: se tomamos dois
se tomamos dois sêres,
sêres, oO ser
ser aa ee o
o ser
ser b,b, ee se
se realizarmcs
realizarmcs
aa comparação,
comparação, que também éé uma
que também uma acção
acção relativa, porque compa-
relativa, porque compa­
rar implica
rar implica umum par,
par, implica, necessâriamente, os
implica, necessàriamente, os doisdois têrmos
têrmos re­
re-
Jacionados,
lacionados, do contrário não
do contrário não sese pode
pode dardar aa comparação;
comparação; se se na
na
comparação, que
comparação, que se
se faz
faz entre
entre ente
ente ee ente,
ente, entre ser ee ser,
entre ser ser, oo ser
ser
enquanto ser,
enquanto ser, tomado
tomado em em um,
um, e e oo ser, enquanto ser,
ser, enquanto tomado em
ser, tomado em
outro, êles
outro, êles ou são univocos,
ou são equivocos ou
unívocos, equívocos ou análogos.
análogos.

Para serem análogos,


Para serem análogos, há
há necessidade de que
necessidade de que tenham algo de
tenham algo de
semelhante e algo de diverso e pertençam a espécies distintas.
semelhante e algo de diverso e pertençam a espécies distintas.
Para serem
Para serem equívocos,
equívocos, éé necessário
necessário que
que ambos
ambos se se refiram
refiram aa gé-
gê­
neros totalmente diversos, quer dizer, que as suas notas funda-
neros totalmente diversos, quer dizer, que as suas notas funda­
mentais ee essenciais
mentais essenciais pertençam
pertençam aa gêneros
gêneros diversos,
diversos, ee para
para que
que êles
êles
sejam unívocos, as suas notas essenciais deveriam pertencer ao
sejam unívocos, as suas notas essenciais deveriam pertencer ao
mesmo gênero e à mesma espécie, porque para se falar numa uai-
mesmo gênero e à mesma espécie, porque para se falar numa uni­
vocidade entre
vocidade entre entes
entes que vamos comparar,
que vamos comparar, exigimos que êles
exigimos que se-
êles se­
jam em
jam em algo
algo os mesmos.
os mesmos.

—— 143
1 43 —

Para
Para terem
terem univocidade,
univocidade, as notas devem
as notas devem ser
ser genèricamente,
genêricamente,
pelo menos
pelo menos idênticas
idênticas ee não
não apenas
apenas as :s mesmas,
mesmas, porque
porque oo mesmo
mesmo
ainda
ainda não
não éé aa identidade
identidade ((1).
1) .

Na linguagem
Na linguagem comum
comum se se emprega
emprega o o mesmo
mesmo com
com oo sentido
sentido
de identidade, ee até
de identidade, até na Filosofia o
na Filosofia o têrmo
têrmo mesmidade
mesmidade éé usado
usado emem
tal sentido, como
tal sentido, como se vê também
se vê também na na linguagem quotidiana.
linguagem quotidiana.

EE desde
desde o
o momento
momento em que comparamos
em que comparamos dois entes na
dois entes na mes-
mes­
midade, temos de
midade, temos de admitir
admitir que
que hã
há uma distinção pelo
uma distinção menos nu­
pelo menos nu-
mérica entre
mérica entre ambos;
ambos; de
de qualquer
qualquer forma,
forma, um
um tem de estar
tem de estar fora
fora do
do
outro; quer
outro; dizer, indicam
quer dizer, indicam uma
uma série
série de diferenças.
de diferenças.

Podemos falar
Podemos falar na
na mesmidade
mesmidade desta cadeira com
desta cadeira aquela ou­
com aquela ou-
tra,
tra, ee não
não nana identidade, porque esta
identidade, porque esta implica
implica oo ser em si
ser em si mesmo,
mesmo,
o ser
o ser idem; por mais
idem ; por mais mesmidade
mesmidade que que tenham, desde que
tenham, desde são nu-
que são nu-
meéricamente distintos,
mèricamente distintos, ee dão-se
dão-se positivamente
positivamente separadamente, real-
separadamente, real­
mente distintos
mente distintos um
um dodo outro, não se
outro, não identificam.
se identificam.

O conceito
O conceito de
de identidade,
identidade, como deve ser
como deve ser empregado
empregado na Fi-
na Fi­
loscfia, deve
losofia, cingir-se aa esta
deve cingir-se esta rigorosa
rigorosa maneira
maneira de tomá-lo, dei­
de tomá-lo, dei-
xando mesmidade
xando mesmidade para para oo ontro sentido. Esta
outro sentido. Esta distinção,
distinção, que
que fa-
fa­
zemos aqui
zemos aqui incidentalmente, julgamos muito
incidentalmente, julgamos muito conveniente,
conveniente, porque,
porque,
na filosofia
na moderna, há
filosofia moderna, há uma
uma tendência
tendência aa confundir
confundir aa mesmidade
mesmidade
com aa identidade,
Cam identidade, oo queque éé perigoso.
perigoso. EÉ oo queque vemos
vemos dede Leibnitz
Leibnitz
para cá.
para cá.

A identidade
A identidade devedeve sempre
sempre ser
ser considerada
considerada de
de algo
algo em
em sisi
mesmo, em
mesmo, em relação
relação aa sisi mesmo,
mesmo, nunca
nunca de
de algo
algo em relação aa outro,
em relação outro,
que éé outro
que que êle.
outro que éle,
Dois sêres
Dois sêres se
se assemelham
assemelham ou se diferenciam,
ou se diferenciam, no grau de
no grau par-
de par­
ticipação ee de
ticipação imitação proporcional
de imitação proporcional aa umauma perfeição formal que
perfeição formal que
ambos têm.
ambos têm. Assim,
Assim, sese partimos
partimos dêste
dêste conceito
conceito de
de semelhança,
semelhança,
consegiientemente podemos
conseqüentemente podemos construir
construir oo conceito de diferença,
conceito de diferença, ee
também, consequentemente, o
também, conseqüentemente, o de diversidade.
de diversidade. Verificamos,
Verificamos, eo-en-

(1)
(1) AA semelhança
semelhança como
como a& diferença, fundamentais àà analogia,
diferença, fundamentais analogia, àà
univocidade
univocidade ee àà. equlvocldade,
equivocidade, pertencem
pertencem aa vários
vários campos,
campos, como
como o o se-
se-
melótico,
meiótlco, oo semântico
semântico (psicológico,
(psicológico, lógico)
lógico) oo sintáxico
sintáxico (ontológico
(ontológico ee oo
matético) sóbre os
ma té tico) sôbre os quais,
quais, trataremos
trataremos oportunamente.
oportunamente.


— 1Idá —
44 —
tão, que aa controvérsia,
tão, que controvérsia, neste ponto, toma
neste ponto, uma solução
toma uma solução fácil, po-
fácil, po­
sição
sição que
que liquida
liquida de
de uma
uma vezvez asas três posições famosas
trés posições famosas da filoso-
da filoso­
fia, em tôrno
fia, em tôrno desta
desta matéria, porque veremos
matéria, porque veremos que
que cada
cada umum sese re-
re­
fere;
fere; na defesa da
na defesa da sua
sua tese,
tese, aa algo distinto do
algo distinto do que
que oo outro
outro se refere.
se refere.

Ora, se
Ora, se depois
depois de de termos
termos estudado
estudado oo problema
problema dos dos univer-
univer­
sais,
sais, alcançamos
alcançamos as as idéias eternas, ee sabemos
idéias eternas, sabemos que dois sêres,
que dois sêres, no no
que têm
que têm dede semelhante,
semelhante, têm têm aa mesma
mesma relação,
relação, têmtêm uma relação
uma relação
de participação
de participação ou ou dede imitação,
imitação, emem graus
graus maiores
maiores ou menores, de
ou menores, de
uma perfeição
uma perfeição formal
formal pertencente
pertencente aa outro
outro serser que
que está
está acima dêle,
acima dêle,
vemos que
vemos que oo ponto
ponto de semelhança não
de semelhança não quer dizer que
quer dizer haja aa
que haja
mesma presença
mesma presença numérica
numérica do do que
que nêles realiza aa semelhança,
nêles realiza semelhança, mas, mas,
sim, aa mesma
sim, mesma disposição
disposição ee habitualidade
habitualidade num num ee noutro,
noutro, de de parti­
parti
cipação ee de
cipação de imitação,
imitação, em graus semelhantes,
em graus semelhantes, em em graus
graus aproxima-
aproxima­
dos um
dos um de de outro,
outro, o o que
que lhes
lhes dá
dá aa semelhança.
semelhança, E aa diversidade
E diversidade
seria, portanto,
seria, portanto, aa inversão
inversão da da mesma
mesma participação
participação ou ou dada mesma
mesma
imitação, ou,
imitação, ou, então,
então, queque essa
essa participação
participação ee essaessa imitação
imitação se se dão
dão
em
em graus distintos, tão
graus distintos, tão distantes
distantes um um dodo outro,
outro, queque êles parecem
êles parecem
como diversos.
como diversos.

Ora, isso já
Ora, isso já nos
nos mostra
mostra perfeitamente
perfeitimente que que estamos aqui ante
estamos aqui ante
conceitos
conceitos que que não
não só só são
são gradativos,
gradativos, comocomo elásticos; Dortanto, de
elásticos; portanto, de
difícil precisão, porque,
difícil precisão, porque, realmente,
realmente, sese referem
referem aa verdadeiras
verdadeiras ope­ ope-
rações
rações queque os entes possam
os entes possam realizar,
realizar, ouou estades
estadcs que possam ter,
que possam ter, de de
uma gama
uma ilimitada de
gama ilimitada de classificação.
classificação. De De forma
forma que, para se
que, para se fa-
fa­
lar na semelhança,
lar na semelhança, própriamente, teremos de
propriamente, teremos dizer que
de dizer que tôdas
tôdas as as
coisas,
coisas, de de certo
certo modo,
modo, se se assemelham.
assemelham. Tôdas as
Tôdas as coisas
coisas são
são seme-
seme­
lhantes
lhantes umas
umas às às outras,
outras, por
por isso
isso se
se diz
diz também
também que tôdas asas coi-
que tôdas coi­
sas são feitas
sas são feitas àà semelhança
semelhança da divindade, só
da divindade; só oo homem
homem foi foi feito
feito
àà semelhança
semelhança ee àà imitação,
imitação, querquer dizer,
dizer, oo homem
homem imita, realiza ee
imita, realiza
pode ampliar sua mímesis, realizando constantemente o que pode
pode ampliar sua mimeús, realizando constantemente o que pode
cada
cada vezvez mais assemelhá-lo àà divindade.
mais assemelhá-lo divindade. Naturalmente
Naturalmente como como oo
homem
homem éé um um ser consciente, possuidor
ser consciente, possuidor de de uma vontade, ee tem
uma vontade, tem um um
entendimento, cap:z de amor, pois possui um psiquismo superior,
entendimento, capaz de amor, pois possui um psiquismo superior,
não
não sósó sese assemelha,
assemelha, mas mas também
também imitaimita o o Ser
Ser Supremo,
Supremo, que,que, ne- ne-
cessáriamente, tem a plenitude da perfeição, no grau intensista-
cessàriamente, tem a plenitude da perfeição, no grau intensista-
mente máximo.
mente máximo.


— l1á5
1 45 —

De fcrma
De fcrma que em tôrno
que em tôrno dêsses têrmos, semelhança
dêsses têrmos, semelhança ee ddife-
ife-
rença, e,
rença, e, conseqüentemente,
consequentemente, diversidade,
diversidade, gira
gira aa escolástica,
escolástica, ee para
para
justificar
justificar oo que
que afirmamos
afirmamos vamos
vamos fazer uma pequena
fazer uma análise pre-
pequena análise pre­
paratória, para depois
paratória, para depois estarmos
estarmos aptos
aptos aa concluir
concluir em em têrmos
têrmos dada
filosofia
filosofia concreta as consequências
concreta as que podemos
consequências que podemos alcançar.
alcançar.

Quando
Quando falamos
falamos em diverso, necessâriamente,
em diverso, necessariamente, temostemos dede sa-
sa­
lientar uma
lientar diferença que,
uma diferença que, na verdade, diferencie,
na verdade, diferencie, porque
porque sese aa
diversidade não
diversidade não implica
implica apenas
apenas umauma diversidade
diversidade absoluta, porque,
absoluta, porque,
então, haveria
então, haveria rupturas
rupturas no ser, ela
no ser, ela tem
tem de
de ter
ter alguma
alguma coisa
coisa que
que
seja o
seja o mesmo.
mesmo. A idéia
A idéia de
de diverso
diverso implica uma diferença
implica uma diferença ee uma
uma
mesimidade.
mesmidade. Podemos deixar
Podemos deixar de lado aa mesmidade,
de lado mesmidade, porqueporque pre-
pre­
cisamos descobrir,
cisamos descobrir, nesta
nesta diferença,
diferença, qual qual éé aa última
última consequência
consequência
da
da diferença,
diferença, porque,
porque, do contrário, aa diversidade
do contrário, diversidade seriaseria apenas
apenas
dentro
dentro da da gama
gama emem que
que estamos
estamos tomando
tonando aa coisa,
coisa, ee encontraria-
encontraría­
mos, afinal, um
mos, afinal, um ponto
ponto dede univocidade,
univocidace, como como alcançam
alcançam alguns
alguns nana
defesa
defesa dodo pensamento.
pensamento.

Quer dizer,
Quer dizer, aa diversidade
diversidade seria apenas um
seria apenas um lanço,
lanço, mas mas ao no
fundo,
fundo, no no fim,
fim, chegamos
chegamos àà univocidade,
univocidade, o o que
que não não aceitam
aceitam ou­ cu-
tros. Vejamos se
tros. Vejamos se de facto aa diversidade
de facto diversidade pode alcançar aa um
pode alcançar um final
final
em
em que seja ela
que seja perfeita. Se
ela perfeita. Se notamos
notamos aa diferença, estamos entre
diferença, estamos entre
os
os entes,
entes, ee cada ente forma
cada ente forma uma unidade; se
uma unidade; se cada
cada ente forma uma
ente forma uma
unidade,
unidade, forma forma um um indíviso
indiviso in in se.
se. Cada
Cada enteente tem, portanto, ne-
tem, portanto, ne-
cessáriamente, uma
cessàriamente, uma unicidade histórica, que
unicidade histórica, que éé aa sua sua diferença
diferença úl­ ul-
tima e,
tima e, de certo modo,
de certo modo, irreductível. Irreductível em
irreductível. Irreductível em que?que? Ir- Ir­
reductível na
reductível unicidade histórica
na unicidade histórica da sua singularidade,
da sua singularidade, não não irre­
irre-
ductível por
ductível por ser uma unicidade
ser uma unicidade histérica,
histórica, porpor ter ter unicidade
unicidade hisró-his:ó-
rca; porque
r:ca; porque então
então se se assemelha
assemelha aa outros,
outros, que que também
também têm têm uai-
uni­
cidade histórica. Mas
cidade histórica. Mas oo que que oo distingue
distingue éé sua sua unicidade
unicidade histó­histó-
rica tomada
rica tomada na na suasua singularidade,
singularidade, ee outro outro também
também na na sua.
sua. De De
maneira que
maneira que aa diferença
diferença absoluta estaria, portanto,
absoluta estaria, portanto, primeiro,
primeiro, aa
que encontramos na
que encontramos na unicicade histórica.
unicidade histórica. Agora,
Agora, dois sêres de
dois sêres de
unicidade
unicidade histórica
histórica poderiam
poderiam ter ter aa mesma
mesma qiididade,
qüididade, ter ter oo mes-
mes­
mo logos, aa mesma
mo logos, mesma lei lei de
de sroporcionalidade intrínseca, serem
proporcionalidade intrínseca, serem da da
mesma espécie.
mesma espécie. Assim,Assim, êssesêsses dois
dois entes, que pertencem
entes, que pertencem àà mesma mesma
espécie,
espécie, de de qualquer
qualquer maneira,
maneira, têm têm também
também uma uma diversidade,
diversidade, por- por-
cue
cue o o conceito
conceito de semelhança, sese também
de semelhança, também o o desdobramos
desdobramos nos nos


— 1146 —
46 —
elementos
elementos queque oo compõe,
compõe, o o semelhante
semelhante implica, necessiriamente, oo
implica, necessàriamente,
mesmo
mesmo ee o O diverso,
diverso, só só que,
que, nono semelhante,
semelhante, o o mesmo
mesmo predomina
predomina
sôbre oo diverso.
sôbre diverso. Consegiientemente,
Conseqüentemente, oo diverso levaria fatalmente
diverso levaria fatalmente
âquela
àquela diferença final, como
diferença final, vimos em
como vimos em nosso
nosso "Ontologia
“Ontologia ee Cos-
Cos­
mologia” onde, ao estudarmos a analogia, fizemos o paradigma
mologia" onde, ao estudarmos a analogia, fizemos o paradigma
de
de nossa posição, que
nossa posição, que éé suficiente para solucionar
suficiente para solucionar aa polêmica
polêmica
existente em tôrno
existente em tôrno do do tema
tema dada analogia
analogia do ente. Ele
do ente. Êle chega
chega aa esta
esta
diferença absoluta, chega
diferença absoluta, chega aa pensar
pensar oo diferente específico, também
diferente específico, também
absoluto, porque teríamos
absoluto, porque teríamos de de chegar
chegar aos
aos exemplos
exemplos que que têm
têm aa sua
sua
identidade puramente
identidade puramente formal,
formal, masmas têm
têm aa sua
sua diferença
diferença absoluta
absoluta
na
na sua unicidade histórica,
sua unicidade histórica, nana sua singularidade, como
sua singularidade, como também
também
podemos chegar
podemos chegar aa outros aspectos ontológicos
outros aspectos ontológicos ee matéticos.
matéticos.
I diferente absoluto
diferente absoluto
o diverso
diverso
repetido
I repetido
o

distinto
distinto
idêntico
idêntico
niesmo diferente específi­
diferente especit:-
o

co ee oo individual
co individual
diferente
diferente
idêntico
idêntico
o mesmo diferente especifi-
diferente especifi­
coeo
co individual
e o individual
igual
igual
I diferente
diferente absoluto
absoluto
Analogia ; Oo diverso
diverso
o

Analogia I repetido
repetido
— sintese
— sintese
do:
do: : idêntico
idêntico
oo mesmo
mesmo diferente especifi-
diferente especifi­
co
co e
eoo Individual
individual
igual
igual
I diferente
diferente absoluto
absoluto
o diverso I repetido
o diverso repetido
semelhante
semelhante
ai r diferente
diferente absoluto
absoluto
o diverso I repetido
9 diverso repetido
distinto
distinto
idêntico
idêntico
o mesmo
mesmo diferente especifi­
diferente especifi-
o

coeo
co e o individual
individual

Temos aqui,
Temos neste paradigma,
aqui, neste paradigma, oo seguinte:
seguinte: oo ser
ser análogo
análogo éé
uma síntese
uma sintese dede diferença
diferença ee dede semelhança; toma-se aa diferença
semelhança; toma-se diferença
em sentido genérico,
em sentido genérico, ee não
não nono sentido
sentido dede diversidade,
diversidade, pois
pois esta
esta
implica
implica aa diferença,
diferença, éé pois,
pois, uma
uma espécie
espécie de diferença. No
de diferença. dife-
No dife­
rente, temos de
rente, temos de ter
ter um
um distinto
distinto ee um
um igual, que nos
igual, que nos levam,
levam, inevitã-
inevità-

— 1147
47 —

velmente, oo distinto
velmente, distinto àà idéia do diverso
idéia do diverso ee do
do mesmo,
mesmo, ee oo diverso
diverso nos
nos
leva aa um
leva um diferente absoluto, ee o
diferente absoluto, o mesmo
mesmo terá de levar
terá de levar aa um
um ddi-i­
ferenie
feren te específico
específico ee ao
ao individual, que éé também
individual, que também oo diferente
diferente ab
ab- ­
soluto.
soluto. ,
Temos, então,
Temos, entãc, aa síntese
sintese final
final do diferente absoluto,
do diferente absoluto, pois
pois os
os
dois têrmos,
dois que são
termos, que são diversos,
diversos, necessáriamente
necessàriamente têm uma unicidade:
têm uma unicidade:
aa de serem diferentes
de serem absolutos. Mas
diferentes absolutos. Mas essa
essa diferença
diferença éé apenas
apenas
uma distinção formal,
uma distinção formal, queque não
não completa
completa aa tectônica
tectônica do
do ente.
ente. OO
que aa completa
que completa éé serem êles isto
serem êles isto oou j aguilo, junto, também,
aquilo, junto, também, com com
aa sua
sua diferença
diferença absoluta,
absoluta, queque éé aa dijerença
diferença numérica
numérica ee aa diferença
diferença
histórica,
histórica, aa diferença
diferença ddaa suasua unicidade.
unicidade.
Ele
Êle éé oo único
único que
que éé êle
êle mesmo;
mesmo; cada
cada umum éé oo único
único que
que êle
êle
mesmo, embora
mesmo, embora cada
cada um
um dos dois apresentem
dos dois apresentem repetições.
repetições. Existe,
Existe,
portanto,
portanto, no no diverso,
diverso, nono final, um diferente
final, um diferente absoluto
absoluto ee algo
algo re-
re­
petido,
petido, que vão constituir
que vão constituir aa síntese
síntese da diversidade: oo diferente
da diversidade: diferente
absoluto
absoluto ee oo repetido;
repetido; como
como oo mesmo
mesmo vaivai ter
ter um
um diferente espe-
diferente espe­
cífico
cífico ee individual,
individual, ee algo
algo que
que os
os identifique,
identifique, porque,
porque, dodo contrá­
contrá-
rio, aa mesmidade,
rio, mesmidade, sem sem uma
uma identificação,
identificação, sem
sem uma univocidade,
uma univocidade,
também
também não poderia dar-se.
não poderia dar-se.

Como dois
Como dois entes,
entes, que
que são
são os mesmos, têm
os mesmos, têm uma diferença
uma diferença
individual, ou
individual, ou terão uma diferença
terão uma específica, mas,
diferença específica, mas, sobretudo,
sobretudo,
uma diferença
uma diferença individual,
individual, histórica,
kistórica, de
de unicidade, que éé o
unicidade, que o princi­
princi-
pal, éé o
pal, o tema
tema importante
importante aqui.
aqui.

Ora, de
Ora, de qualquer
qualquer maneira,
maneira, o o conceito
conceito de análogo tem
de análogo tem de de
chegar aa esta
chegar síntese, por
esta síntese, isso éé que,
por isso que, na escolástica, não
na escolástica, seguindo
nlo seguindo
aa linha
linha de Aristóteles, tomou-se
de Aristóteles, tomou-se oo conceito
conceito de de analogia
analogia como
como
aquêle que
aquêle que simultâneamente
simultâneamente éé partim partim eadem
eadem et et partim
partim diverso.
diverso.
Por isso
Por isso queremos
queremos chamar
chamar aa atenção
atenção agora
agora para
para o o seguinte:
seguinte: oo queque
se assemelha
se assemelha um um serser aa outro
outro éé ambos
ambos participarem
participarem ee imitarem,
imitarem,
proporcionadamente ao
proporcionadamente que são,
ao que são, uma
uma perfdição
perfdição formal
formal (eidos
( eidos
arkbai),
a rk h a i), que pertence, naturalmente,
que pertence, naturalmente, ao ao ente
ente que
que oo possui,
possui, na sua
na sua
absolutuidade, ee apenas
absolutuidade, apenas nisso.
nisso. Tais raciocínios levam,
Tais raciocínios levam, como
como le­Je-
vou Descogs,
vou Descoqs, no no fim, depois de
fim, depois de analisar
analisar tôda esta polêmica,
tôda esta polêmica, ee o o
fêz muito
fêz muito bem,bem, aa estaesta conclusão:
condusão: oo problema
problem a fundamental
fundam ental éê oo
problemaa da
problem participação. EE nós
da participação. nós acrescentamos:
acrescentamos: ee.também
também oo da da

— 148
148 —

imitação, porque
imitação, porque não há participação
não há participação semsem imitação,
imitação, como não há
como não há
imitação sem
imitação sem participação;
participação; portanto,
portanto, ambos, como São
ambos, como São Tomás
Tomás com-
com­
preendeu, ee que
preendeu, que éé preciso jamais esquecer,
preciso jamais esquecer, porque
porque éé verdade
verdade que
que
se êle parece
se êle parece tomar mais em
tomar mais em consideração
consideração aa participação
participação ee não
não aa
imitação, já
imitação, já apresentamos
apresentamos textos
textos suficientes
suficientes onde
onde percebe
percebe o o valor
valor
da imitação,
da imitação, da
da mimesis pitagórica, porque
mimesis pitagórica, porque aa própria particpação,
própria participação,
êle considera
êle considera uma
uma mimesis.
mimesis. éÉ precisamente
precisamente pelopelo mimetismo
mimetismo dasdas
coisas
coisas às perfeições supremas
às perfeições supremas que elas participam
que elas participam das
das mesmas.
mesmas.
Vamos deixar
Vamos deixar dede lado
lado as nossas idéias
as nossas idéias para explanar as
para explanar as
alheias, sintéticamente,
alheias, sintèticamente, ee afinal, tecermos os
afinal, tecermos os comentários
comentários que se
que se
impuserem.
impuserem.

Descogs, depois
Descoqs, depois dede analisar
analisar aa colocação
colocação do problema da
do problema da ana-
ana­
logia, apresenta
logia, apresenta aa seguinte tese: que
seguinte tese: que aa noção
noção dede ente,
ente, emem primeiro
primeiro
lugar, não
lugar, não éé unívoca.
unívoca. E faz
E faz aa demonstração
demonstração do seguinte modo:
do seguinte modo:
unívoco éé o
unívoco o têrmo
têrmo ou ou conceito que, aplicado
conceito que, aplicado aa rr.uitos,
muitos, significa
significa
totalmente aa mesma
totalmente mesma razão.
razão. Ora, os
Ora, entes, todos
os entes, todos os infesiores,
os inferiores,
que recebem
que recebem o o mesmo nome, aa razão
mesmo nome, razão déste nome, aa razão
dêste nome, razão ou ou sig-
sig­
nificado dêste
nificado dêste nome,
nome, nãonão são
são oo mesmo,
mesmo, pcrque
pcrque êsses sêres vão
êsses sêres vão va-
va­
riar pelas
riar pelas diferenças.
diferenças. Assim
Assim vamos chamar um
vamos chamar ser aa se,
um ser se, um
um ser
ser
ab
tib alio,
alio, um ser in
um ser in se,
se, um
um ser in alio,
ser in alio, que são diversos.
que são diversos.

Então êles
Então êles têm também maneiras
têm também maneiras ee modos
modos diversos
diversos de ser,
de ser,
e, portanto,
e, portanto, vãc constituir simplesmente
vão constituir simplesmente entidade também ds
entidade também de cer-
cer­
to moco
to moco diversas. Portanto, não
diversas. Portanto, se pode
não se chamá-les de
pode chamá-los unívocos.
de unívocos.

Não convém
Não também aos
convém também aos seus
seus inferiores
inferiores segundo
segundo aa mesma
mesma
razão, porque
razão, porque há há tanta
tanta diversidade entre êsses
diversidade entre êsses sêres
sêres que,
que, quando
quando
falamos sôbre
falamos sôbre oo ente dêstes sêres,
ente dêstes não dizemos
sêres, não dizemos sempre
sempre sob
sob aa mes»
mes­
ma razão.
ma razão. DeDe forma
forma queque aa demonstração
demonstração dêle nada mais
dêle nada mais são que
são que
aquelas que
aquelas que já tivemos oportunidade
já tivemos oportunidade de de oferecer,
oferecer.

Então, diz
Então, êle que
diz êle que temos
temos de de aceitar que aa noção
aceitar que noção de
de ente tam-
ente tam­
bém não
bém pode ser
não pode ser equívoca,
equivoca, porque
porque chegaríamos,
chegaríamos, inevitavelmente
inevitâvelmente
âquela ruptura
àquela ruptura nono ser
ser que já sese verificou
que já verificou serser impossível dar-se,
impossível dar-se.
Restaria, portanto,
Restaria, portanto, aa única
única posição
posição possível,
possível, aa posição
posição da analogia:
da analogia:
esta éé aa única
esta única que
que sese pode aplicar ao
pode aplicar ao têrmo
têrmo ente.
ente. Ente
Ente éé então
então
predicado analôgicamente de cada ser, de cada ente.
predicado analògicamente de cada ser, de cada ente.

—— 1149
49 —

A noção
A noção dede aralogia
ar.alogia éé uma
uma noção
noção primeira,
primeira, irreductível,
irreductível, diz diz
Descogs.
Descoqs. Vamos examinar
Vamos examinar aa sua sua argumentação
argumentação porque porque ela ela já já
ercerra oo pensamento
er.cerra pensamento actualactual dosdos que
que sese colocam
colocam na na posição
posição ana-ana-
logista, que
logista, que éé aa posição predominante na
posição predominante na filosofia positiva, ee fa­
filosofia positiva, fa-
zer, aqui,
zer, aqui, aa crítica
crítica ao pensamento escotista,
ao pensamento escotista, mas
mas comcom aa maior
maior exac-
exac-
ção
ção possível.
possível. Portanto, merece que
Portanto, merece que traduzamos
traduzamos ee comentemos,
comentemos,
aa exposição
exposição de de Descoqs.
Descogs. Ele diz àà página
Êle diz página 231:231: “Tomemos
“Tomemos co­ co-
mo
mo exemplo,
exemplo, oo conceito análogo por
conceito análogo por excelência:
excelência: ens.ens. sob
sob aa forma
forma
menos
menos determinada,
determinada, que que éé aa forma
forma áliquid.
áliguid. Esse conceito exprime
Êsse conceito exprime
tudo oo que
tudo que há,
há, oo que
que tem
tem dede realidade nesse objecto
realidade nesse objecto a,a, meu
meu reló­
reló-
gio,
gio, por
por exemplo,
exemplo, mas mas também
também ao ao mesmo tempo representa
mesmo tempo representa tódatôda aa
realidade do
realidade do objecto
objecto b,4, que
que é,é, por
por exemplo,
exemplo, aa TôrreTórre Eiffel.
Eiffel.

Como êsses dois


Como êsses dois objectos,
objectos, permanecendo
permanecendo distintos,
distintos, ee sendo
sendo
formalmente diversos,
formalmente poderiam ser
diversos, poderiam ser representacos segundo aa sua
representados segundo sua
realidade total
realidade pelo mesmo
total pelo mesmo conceito,
conceito, tal
tal éé oo problema”.
problema”.

AA resposta
resposta geral
geral éé que
que êsse conceito áliquid,
êsse conceito áliguid. ouou alguma coisa.
alguma coisa,
os
os sepresenta
representa porpor analogia,
analogia, ee está
está bem
bem construída
construída assim.
assim. MasMas
acrescenta-se que,
acrescenta-se que, por
por sua
sua própria natureza, oo conceito
própria natureza, conceito análogo
análogo
deveria representar
deveria representar em em suasua unidade, sêres que
unidade, sêres que são
são partim eadem,
partim eadem,
partim diversa.
partim diversa. Se Se éé assim,
assim, rão se vê
r.ão se vê desde lego porque
desde lego porque se de-
se de­
veria fazer
veria. fazer dosdos análogos
análogos umauma categoria
categoria àà parte.
parte. O O espírito dis-
espírito dis­
tinguiria esse
tinguiria esse idem
idem ee esse diverso, ee uniria
esse diverso, uniria os
os conceitos pelo iden.
conceitos pelo ide w.
ee os
os oporia
oporia pelo
pelo diverso.
diverso. Nada Nada. dede mais
mais banal,
banal, nem de. mais
nem de. mais sim-
sim­
ples.
ples. Resta saber
Resta se isso
saber se isso éé possível
possível fazer-se”.
fazer-se".

E prossegue:
E prossegue: "Vou,
“Vou, portanto, isolar, pelo
portanto, isolar, pelo pensamento,
pensamento, oo em em
que êsses
que êsses dois
dois objectos
objectos sãosão supostos
supostos idem.
idem. Ora disse: éles
Ora disse: êles sãosão
idem, enquanto
idem. enquanto êlesêles são ens.
são ens. Resta-me, portanto,
Resta-me, portanto, porpor outro
outro la­ la-
do, o
do, o em que êles
em que êles diferem;
diferem; mas mas êles
êles não
não diferem
diferem totalmente,
totalmente, por por
nada, pois
nada, pois isso não seiia
isso não seria diferir;
diferir; êles
êles diferem,
diferem, portanto,
portanto, porpor rea-
rea­
lidade, por
lidade, por alguma coisa.
alguma coisa. Ora, êsse último
Ora, êsse último alguma coisa, no
alguma coisa, no con-
con­
ceito assim
ceito assim abstraído,
abstraído, deveria
deveria ser ser puramente
puramente da diferença, ee não
da diferença, não
oferecer nenhum
oferecer nenhum partim
partim idem,
idem, o o que
que nãc impede que,
nãc impede que, ao ao ser
ser pu-pu­
ramente diferente,
ramente diferente, êste
êste último
último alguma
alguma coisacoisa merece
merece como
como tal tal o o
nome, ee corresponda
nome, corresponda ac ac conceito
conceito de de áliquid.
áliquid.

£É mister,
mister, portanto,
portanto, confessar
confessar que objectos puramente
que objectos diferen-
puramente diferen­

—— 150
150 —

tes
tes podem
podem ee devem
devem ser ser representados
representados pelo pelo mesmo conceito, ee que
mesmo conceito, que
o puro
o diferente, como
puro diferente, como tal, não éé um
tal, não um puro
puro dissemelhante.
dissemelhante. É um
É um
dado
dado que que sese impõe
impõe explicar,
explicar, mas que não
mas que não pode
pode explicar-se
explicar-se pelapela
união
união do do idêntico
idêntico puropuro ee do do puro
puro dissemelhante”.
dissemelhante”. Ele faz
Êle faz uma
uma
anotação importante no
anotação importante rodapé, na
no rodapé, na qual
qual diz: “Fêz-se aa êste
diz: "Fêz-se êste ra-
ra­
ciocínio
ciocínio aa seguinte
seguinte crítica:
crítica: o o que
que ressalta evidentemente da
ressalta evidentemente da anti-
anti­
nomia
nomia aqui aqui salientada
salientada éé que que não
não pode manter-se na
pode manter-se concepção do
na concepção do
partim... partim.
p artim . . . partim. EE preciso
preciso buscar
buscar em em outra
outra parte.
parte. Mas Mas se se oo
conceito
conceito áligquid
âliquid nãonão éé partim
partim eadem,
eadem, partim diverso, então
partim diverso, não
então não
se teria de dizer que êle é ao mesmo tempo totaliter eadem etet to-
se teria de dizer que êle é ao mesmo tempo totaliter eadem to-
saliter
taliter diverso;
diverso; éé aa única
única hipótese
hipótese queque resta, parece.
resta, parece. EE teremos,
teremos,
então,
então, de de examinar
examinar em em queque condições
condições um um conceito poderia ser
conceito poderia ser
simultâneamente
simultâneamente iotaliter iotaliter eadem
eadem et totaliter diverso,
et totaliter diverso, oo que
que nos le-
nos le­
varia, numa
varia, concepção da
numa concepção da analogia muito diferente
analogia muito diferente daquela
daquela que que
éé proposta
proposta aqui,
aqui, ee que
que essa
essa última não exclui”.
última não exclui".

AA conclusão
conclusão do
do raciocínio que se
raciocínio que se acaba
acaba de ler é,é, portanto,
de ler portanto,
prematura; êsse
prematura; êsse éé oo argumento
argumento apresentado contra êle,
apresentado contra êle, ao qual
ao qual
Descogs respondeu:
Descoqs respondeu: “A resposta aa esta
"A resposta esta instância
instância éé fácil; falar de
fácil; falar de
uma
uma noção
noção que
que se
se aplicaria
aplicaria aa seus
seus irferiores
ir.feriores simul
sim//l totaliter eadem
totaliter eadem
et totaliter
et totaliter diversa
diversa éé não entender, contudo,
não entender, contudo, queque sese dádá àsàs palavias
palavras
empregadas oo seu
empregadas verdadeiro sentido.
seu verdadeiro sentido.

Quem
Quem diz diz toialiter eadem, diz
totaliter eadem, diz o o mesmo
mesmo sob tôdas as
sob tôdas as rela­
rela-
ções, quer
ções, quer lógicas, quer metafísicas,
lógicas, quer metafísicas, ou não quer
ou não quer dizer nada.
dizer nada. Ora,
Ora,
oo que
que éé o o mesmo
mesmo sob tôdas as
sob tôdas as relações
relações se se opõe,
opõe, contraditôriamente,
contraditoriamente,
ao que éé diverso
ao que diverso scbscb tôdas
tôdas as as relações.
relações. Mas Mas éé contraditório
contraditório falarfalar
de
de umum conceito
conceito que,que, realizado
realizado em seus inferiores,
em seus inferiores, seria
seria totaliter
totaliter
eadem
eadem et totaliter diverso,
et totaliter diverso, não não éé oo mesmo
mesmo que que falar
falar dumdum conceito
conceito
que seria totus eadem et totus diverso sed non totaliter, e que
que seria tatus eadem et totus diverso sed non totaliter, e não
que não
seria, pois, oo mesmo
seria, pois, mesmo ee pelo pelo mesmo,
mesmo, senão senão dede pontos
pontos de de vista
vista di-
di­
ferentes.
ferentes. EÉ oo que
que fazemos
fazemos aqui,aqui, quer dizer. êles
quer dizer, éles são
são de certo
de certo
modo como
modo como um todo idêntico
um todo idêntico ee um um todo
todo diverso,
diverso, masmas não
não totaliter,
totaliter,
não exaustivamente; éé isto
não exaustivamente; isto que
que êleêle quer
cuer dizer.
dizer. E E prossegue
prossegue no no
texto: "se
texto: “se êsse
êsse conceito
conceito não não éé falso,
falso, éé necessário
necessário que que haja
haja nesses
nesses
dois objectos puramente
dois objectos puramente diversosdiversos alguma coisa de
alguma coisa de comum.
comum. Esse Êsse
carácter comum não
carácter comum não podepode ser ser aa identidade,
identidade, essaessa já já foi
foi posta
posta àà
2
paste...
parte. nem éé evidentemente
. . nem evidentemente aa pura pura diversidade,
diversidade, enquanto
enquanto dis- dis-


— 151
151 —

semelhança
semelhança em oposição; é,é, pois,
em oposição; pois, um carácter intermediário,
um carácter intermediário, inde-
inde-
componível
componível pela
pela razão, primeiro em
razlo, primeiro em suasua ordem
ordem ee que
que não
não pode
pode
ser senão aa "ressemelhança”,
ser senão “ressemelhança”, quer dizer, um
quer dizer, um ressemelhar.
ressemelhar.
É£ evidente,
evidente, pelopelo que
que precede,
precede, que que umum tal
tal conceito,
conceito, que que re-
re­
presenta, verdadeiramente,
presenta, verdadeiramente, seus seus inferiores,
inferiores, nãonão pode
pode ser ser chamado
chamado
de nenhuma
de maneira como
nenhuma maneira como contendo
contendo tôda tôda ouou parte
parte de sua com-
de sua com­
preensão na
preensão sua, por
na sua, identidade prôpriamente
por identidade propriamente dita, ditz, quer dizer,
quer dizer,
por univocidade.
por univocidade. Não corresponde, pois,
Não corresponde, pois, com efeito aa uma
com efeito uma ra-ra­
zão objectiva uma,
zão objectiva uma, ratio objectiva una,
ratio objectiva una, que seria rigorosamente
que seria rigorosamente
idêntica
idêntica em em todos
todos os os seus inferiores ee constituiria,
seus inferiores constituiria, em cada um
em cada um
dêles, oo em
dêles, que êles
em que éles se
se assemelham.
assemelham. OO conceito conceito objectivo
objectivo de ens
de ens
comum
comum é, é, como
como nósnós vimos
vimos na tese, que
na tese, que êle
êle demonstrou, simples-
demonstrou, simples­
mente
mente um um ee bastante
bastante determinado,
determinado, áligrid,
áliquid, masmas aa êsse
êsse conceite
conceitc ob-ob­
jectivo nada
jectivo corresponde tal
nada corresponde qual nos
tal qual nos sêres
sêres diversos,
diversos, apenas
apenas po­po-
de-se, verdadeiramente, dizer
de-se, verdadeiramente, dizer que êsse conceito
que êsse conceito exprime,
exprime, por por si-si­
militude intencional imperfeita
militude intencional imperfeita absolutamente
absolutamente tudo tudo queque sese encon-
encon­
tra em cada
tra em cada umum dêles.
dêles.

Compreende-se
Compreende-se desde desde então
então porque
porque oo conhecimento,
conhecimento, que po-
que po­
demos
demos terter do
do conteúdo
conteúdo do ens comum,
do ens comum, não nos pode
não nos pode revelar
revelar em em
aada
nada aa natureza
natureza dede seus
seus inferiores,
inferiores, ee como
como êsse
êsse conceito
conceito difere
difere dodo
conceito genérico ou
conceito genérico ou específico,
específico, representando
representando uma certa reali-
uma certa reali­
dade, que
dade, reproduz sempre
que reproduz sempre idêntica cada um
idêntica cada um de de seus inferiores, oo
seus inferiores,
conhecimento
conhecimento de seu conteúdo
de seu conteúdo nos revelará pelo
nos revelará pelo mesmo
mesmo facto,
facto, aoao
menos
menos em em parte,
parte, aa natureza
natureza dede seus
seus inferiores.
inferiores. Ora,
Ora, o o mesmo
mesmo
não
não sese dá para oo conceito
dá para conceito de ente; êle
de ente; êle será
será sempre idêntico aa si
sempre idêntico si
mesmo,
mesmo, mas mas essa
essa identidade,
identidade, se se nós
nós aa comparamos
comparamos com com seus
seus infe-
infe­
riores, será uma
riores, será identidade imperfeita,
uma identidade sôbre aa natureza
imperfeita, sôbre natureza da qual
da qual
as
as hipóteses
hipóteses estão abertas.
estão abertas.


Já discutimos
discutimos essa
essa matéria
matéria no no capítulo
capítulo precedente,
precedente, queque éé
preciso
preciso relembrar:
relembrar: ouou sese explicará essa identidade
explicará essa identidade por
por uma
uma rela-
rela­
ção
ção aa um têrmo extrínseco
um têrmo extrínseco ao ser, mas
ao ser, mas umauma tal explicação não
tal explicação não ex-
ex­
plica nada do
plica nada do ponto
ponto dede vista
vista metafísico,
metafísico, ou, então, se
ou, então, se recorrerá
tecorrerá
aa um
um princípio
princípio explicativo
explicativo intrínseco
intrínseco e, e, consequentemente,
conseqüentemente, duas duas
hipóteses sômente são
hipóteses somente são possíveis,
possíveis, segando
segundo comocomo sese entenderá êsse
entenderá êsse
princípio explicativo
princípio explicativo num sentido absoluto
num sentido absoluto ouou num
num sentido
sentido re­re-
lativo.
lativo.


— 152
152 —

Ora,
Ora, ésseêsse segundo sentido éé impossível,
segundo sentido impossível, pois,
pois, nono caso
caso de de
Deus ee da
Deus da criatura,
criatura, éé preciso
preciso admitir
admitir uma ordenação intrínseca
uma ordenação intrínseca
de
de umum ou ou dede outro
outro ac mesmo acto
ac mesmo acto de
de ser,
ser, esse,
esse, >ositivamente
positivamente ili- ili­
mitado
mitado ee infinito,
infinito, oo que
que éé panteismo.
panteísmo. Não Não resta,
resta, portanto,
portanto, como
como
princípio explicativo intrínseco,
princípio explicativo intrínseco, senão
senão aa entidade
entidade absoluta
absoluta da coi-
da coi­
sa ee aa sua
sa sua aptidão
aptidão aa ser
ser representada,
representada, segundo
segundo o o modo
modo simples
simples de de
semelhança,
semelhança, pelo pelo conceito
conceito de de ser,
ser, ou
ou sese se
se quer
quer melhor,
melhor, àz conve­
conve-
niência mútua por
niência mútua simples semelhança,
por simples semelhança, assim assim que
que vem
vem de de ser
ser dito
dito
da coisa segundo
da coisa segundo tudotudo oo que ela éé ee do
que ela do conceito
conceito dede ser
ser que
que aa te-
re­
presenta,
presenta, segundo
segundo oo queque ela
ela é.é.

Esse
Êsse conceito
conceito não expressará nada
não expressará nada de estritamente idêntico
de estritamente idêntico
em todos
em aquêles que
todos aquêles ela representará,
que ela representará, todos
todos osos diversos
diversos tipos
tipos de
de
identidade devem
identidade devem serser considerados
considerados falsos,
falsos, uns após outros.
uns após Por
outros. Por
outro lado,
outro lado, asas diferenças
diferenças que acusam os
que acusam os inferiores
inferiores dodo conceito de
conceito de
ente não
ente não serão
serão puramente
puramente aa negação
negação dede uns
uns ee dos outros, nem
dos outros, nem aa
negação do
negação conceito de
do conceito de ente como um
ente como um queque os
os representa.
representa.

Resta, portanto, que


Resta, portanto, que haja
haja entre êles um
entre êles grau de
um grau de conveniência
conveniência
inferior à identidade pura, e primeiro em sua ordem.
inferior à identidade pura, e primeiro em sua ordem. Êsse con-
Êsse con­
ceito podeis
ceito podeis chamá-lo
chamá-lo como
como quiserdes,
quiserdes, masmas jájá recebeu
recebeu um nome;
um nome;
éé oo conceito
conceito análogo
análogo ouou de simples semelhança.
de simples semelhança. OO conceitoconceito aná-
aná­
logo é,é, pois,
logo aquêle que
pois, aquêle que em em sua
sua unidade imutada, representa
unidade imutada, representa ob-
ob­
jectos essencialmente diferentes,
jectos essencialmente compreendendo, também,
diferentes, compreendendo, também, àsis suas
suas
próprias diferenças.
próprias diferenças. Essa unidade
Essa unidade do do conceito
conceito nãonão exprime
exprime ooss
objectos
objectos diferentes
diferentes por identidade, mas
por identidade, mas porpor analogia,
analogia, quer
quer dizer,
dizer,
por simples semelhanç:
por simples intencional.
semelhança intencional. AA simples
simples semelhança,
semelhança, queque
aqui
aqui éé tema
tema dede estudo,
estudo, comporta, pois, formalmente,
comporta, pois, formalmente, um um grau
grau de de
diferença;
diferença; os os sêres
sêres podem
podem assemelhar-se
assemelhar-se até até enquanto
enquanto diferentes".
diferentes”.

Note-se
Note-se bembem como
como Descogs chega, por
Descoqs chega, por um
um caminho
caminho um um pou-
pou­
co mais longo,
co mais ao que
longo, ao que chegamos
chegamos por
por um
um caminho mais curto.
caminho mais curto. Os
Os
sêres assemelham-se
sêres assemelham-se até até naquilo
naquilo que
que êles
êles têm
têm de
de diferentes;
diferentes; quer
quer
dizer,
dizer, êles
êles têm uma analogia
têm uma analogia até
até através das suas
através das suas diferenças.
diferenças. As- As­
sim, por
sim, por exemplo,
exemplo, oo diferente absoluto, aa unicidade
diferente absoluto, unicidade singular his-
singular his­
tórica, éé absolutamente
tórica, absolutamente diferente de qualquer
diferente de qualquer outra,
outra, mas até essa
mas até essa
diferença, que
diferença, que se
se marca
marca dede modo
modo quase
quase absoluto,
absoluto, entretanto,
entretanto, tam-
tam­
bém tem
bém tem uma
uma semelhar.ça,
semelharça, porque
porque o o outro
outro também
também éé umauma unici­
unici-
dade singular
dade singular histórica.
histórica.

-— 153 —
153 —
Ele prossegue
Êle prossegue com com êsses
êsses comentários:
comentários: EstaEsta explicação
explicação da da ana­
ana-
logia nada
logia nada mais
mais faz do que
faz do que explorar
explorar um um dado
dado absolutamente
absolutamente co-co­
mum
mum entre aquêles, que
entre aquêles, que não são escotistas
não são escotistas ee que
que admitem
admitem êsseêsse
princípio fundamental,
princípio fundamental, as as diferenças
diferenças do do ser,
ser, ens, não são
ens, não são sômen-
somen­
te ens
te ens por identidade real,
por identidade real, mas são formalmente
mas são formalmente exs. Nós nos
ens. Nós nos
contentamos, no
contentamos, que procede
no que procede de nós, em
de nós, em manter
manter Este princípio
êste princípio
e■e dêle
dêle tirar,
tirar, logicamente,
lógicamente, o o que
que êle contém.
êle contém.

Ora, oo raciocínio
Ora, raciocínio dado mostra que
dado mostra podemos tirar
que podemos tirar dêle
dêle lô-lo­
gicamente
gicamente aa semelhança
semelhança tal como aa descrevemos,
tal como descrevemos, as as diferenças
diferenças
essenciais do
essenciais do ser,
ser, que
que sãosão entre
entre elas simpliciter
elas sim et primo
pliciler et primo diverse,
diverse,
sendo formalmente ens,
sendo formalmente ens, serão
serão representadas
representadas por um conceito
por um conceito úni-
úni­
co que
co que exprimirá
exprimirá suasua diversidade existencial.
diversidade existencial. Mas sendo
Mas assim
sendo assim
representadas
representadas por um conceito
por um conceito único,
único, dede duas
duas coisas uma: ou
coisas uma; ou elas
elas
se
se identificarão nesse conceito,
identificarão nesse conceito, ou, sem se
ou, sem se identificar
identificar entre elas,
entre elas,
serão simplesmente
serão simplesmente aptasaptas aa ser
ser representadas
representadas por por êste
êste mesmo con-
mesmo con­
ceito, o
ceito, o que
que constitui, precisamente, oo que
constitui, precisamente, que clamamos
chamamos aa seme- seme­
lhança.
lhança.

A primeira
A primeira hipótese
hipótese implica
implica uma uma contradição,
contradição, por por conse-
conse­
guinte impõe-se aa segunda.
guinte impõe-se segunda. E que
E que não
não sese diga
diga que
que essas
essas diferen­
diferen-
ças são
ças são diversas enquanto diferenças,
diversas enquanto diferenças, ee semelhantes
semelhantes enquanto
enquanto ser,ser,
pois, então,
pois, então, enquanto diversas, quer
enquanto diversas, quer dizer, enquanto elas
dizer, enquanto elas são
são for­
for-
malmente diferenças, elas
malmente diferenças, elas não
não seriam
seriam maismais formalmente
formalmente ser, ser, elas
elas
não seriam senão
não seriam senão por
por identidade
identidade real
real idênticas,
idênticas, oo que está fora
que está fora da
da
hipótese.
hipótese. Também
Também uma uma taltal distinção acarretaria, necessáriamen-
distinção acarretaria, necessàriamen-
te, uma
te, uma composição metafísica do
composição metafísica do ser
ser ee de suas diferenças,
de suas diferenças, ee porpor
via de
via de consequência,
consequência, uma distinção fundada
uma distinção fundada entreentre oO ser,
ser, eus,
ens. ee
suas
suas diferenças.
diferenças.

Desde então
Desde então aa diferença, como tal,
diferença, como tal, não
não seria formalmente
seria formalmente
ens, de
ens, de onde
onde sese segue
segue que
que nossa
nossa conclusão
conclusão nãonão pode
pode ser
ser evitada.
evitada.
O pelo
O pelo qual os sêres
qual os sêres diferem
diferem positivamente,
positivamente, enquanto tais, im-
enquanto tais, im­
plica um
plica grau de
um grau de semelhança,
semelhança, ee éé semelhante,
semelhante; ee não diferem en­
não diferem en-
tre
tre sisi pela
pela relação
relação unívoca
unívoca de de todos
todos para
para comcom oo non
non nibilum,
nihilum, Oo
não-nada, por
não-nada, que são
por que são entes,
entes, de
de que nós falamos.
que nós falamos.

E ele
E prossegue: “Essa
êle prossegue: "Essa retomada
retomada dede uma distinção de
uma distinção ponto
de ponto
de vista, que
de vista, que acabamos
acabamos de salientar, inofensiva
de salientar, inofensiva talvez
talvez na
na ordem
ordem


— 154
154 —
-
puramente
puramente lógica,lógica, queque éé aa dos dos escotistas,
escotistas, torna-se totalmente fal-
torna-se totalmente fal­
sa
sa ee perigosa
perigosa na na ordem própriamente metafísica,
ordem propriamente metafísica, do do que
que sese fazfaz
inferir realmente os
inferir realmente os sêres”
sêres”, . Estamos,
Estamos, então, imediatamente liga-
então, imediatamente liga­
dos
dos aa umauma tesetese dede aspecto
aspecto totalmente idealista ee não
totalmente idealista não panteísta,
panteista,
em virtude da
em virtude da qual
qual oo serser (e(esse), sendo tratado
sse), sendo tratado àà maneira
maneira do do uní­
uní-
voco, seria
voco, metafisicamente limitado
seria metafisicamente limitado ee diferenciado
diferenciado pelo pelo não-ser,
não-ser,
non-esse, real,
non-esse, real, no no ser,
ser, ens.
ens. É aa tese
E tese escotista,
escotista, transportada
transportada em em
metafísica,
metafísica, ee que que temtem por consequência reabsorver
por consequência reabsorver no no nada,
nada, como
como
oo veremos mais adiante,
veremos mais tôda aa sua
adiante, tôda realidade qiiididativa,
sua realidade quididativa, aa ordem
ordem
das essências,
das essências, encontrando-se
encontrando-se reduzida reduzida ao ao dodo limite
limite puro,
puro, oo queque
éé inadmissível.
inadmissível.

A posição
A posição de
de Descoqs,
Descogs, que
que éé uma
uma posição
posição suareziana,
suareziana, éé tam­
tam-
bém tomista, porque
bém tomista, porque aa tese
tese escotista
escotista caracteriza-se
caracteriza-se em
em considerar
considerar
tôda aa entidade
tôda entidade finita tôda entidade
finita tôda entidade que que pertence,
pertence, matêticamente,
matèticamente,
ao
ao contexto beta, contexto
contexto bela. contexto das coisas finitas
das coisas finitas ee apresenta
apresenta um um as-as­
pecto importante,
pecto importante, que que éé o o dada privação,
privação, precisamente
precisamente oo das defi-
das defi­
ciências.
ciências. Todo ser
Todo ser dodo contexto
contexto beta beta éé umum serser deficiente;
deficiente; aa sua sua
realidade implica,
realidade implica, necessàriamente,
necessâriamente, um um não-ser,
não-ser, uma uma falta,
falta, mas
tras
o não-ser
o não-ser em em sentido
sentido positivo.
positivo. Assim Assim podemos
podemos dizer dizer que que oo Ser
3er
Supremo, o
Supremo, o seu
seu não-ser
não-ser éé o o nihilum
niilum absoluto,
absoluto, masmas o o ser
ser relativo,
relativo,
oo seu não-ser éé oo nihilum
seu não-ser nibilum relativo, quer dizer,
relativo, quer dizer, éé o o nada
nada relativo,
relativo,
éé aa ausência
ausência de de alguma perfeição. Enquanto
alguma perfeição. Enquanto que que oo Ser Ser Supremo
Supremo
não
não tem tem nenhuma
nenhuma ausênciaausência de perfeição, porque
de perfeição, porque éé plenamente
plenamente ee
simplesmente ser,
simplesmente ser, oo ser
ser do contexto beta
do contexto bela éé umum serser finito,
finito, um um ser
ser
ab alio,
ab alio, êle
êle não
não éé um um ser
ser nestas
nestas condições,
condições, êle tem falta,
êle tem falta, êle
Ele tem
tem
limitação.
limitação.

De maneira
De que, diz
maneira que, diz êle,
êle, éé aa tese escotista, transportada
tese escotista, transportada em em
Metafísica, ee que,
Metafísica, que, por
por consequência,
consequência, de de reabsorver
reabsorver no no nada,
nada, êle
êle
mostra, €e veremos
mostra, veremos se se seus
seus argumentos
argumentos são são válidos, tôda aa dife-
válidos, tôda dife­
renciação qualitativa dos
renciação qualitativa dos sêres,
sêres, como
como também
também tôda tôda aa suasua reali-
reali­
dade quididativa, ee que
dade qiiididativa, que aa ordem
ordem dasdas suas
suas essências
essências sese encontra
encontra
reduzida
reduzida aa um
um limite,
limite, ee êste
êste éé dado
dado pelo não-ser relativo.
pelo não-ser relativo.

Estará Descogs considerando


Estará Descoqs considerando queque êsse
êsse limite
limite éé oo não-ser
não-ser
absoluto?
absoluto? Não; Scot não
Não; Scot diz que
não diz que éé oo não-ser
não-ser absoluto;
absoluto; éé oo não-
não-
-ser relativo
-ser relativo do
do contexto beta, que
contexto beta, que não
não éé simplesmente
simplesmente ser, pois
ser, pois
tem faltas,
tem faltas, mas
mas de ser, de
de ser, de algo
algo que
que êle
êle não
não tem.
tem. OO nada
nada queque é,é,

— 155 —
155 —
portanto, éé um
portanto, um nadanada relativo,
relativo, que
que sese referencia
referencia aa alguma
alguma coisa
coisa
que
que é. é. Essa
Essa éé aa diferença
diferença fundamental,
fundamental, ee para para se fazer uma
se fazer uma
verdadeira
verdadeira definição escotista sôbre
definição escotista sôbre alguma coisa, teríamos,
alguma coisa, teríamos, não não

só de apresentar oo lado
de apresentar positivo, oo lado
lado positivo, lado da presença de
da presença de ser que
ser que
tem,
tem, queque éé neste
neste caso, aquela afirmação
caso, aquela positiva que
afirmação positiva que perdura,
perdura,
*tcomo temos de
como temos de apontar,
apontar, também,
também, o o lado
lado negativo,
negativo, aa sua sua falta,
falta, oO
que
que êle não tem,
êle não porque, no
tem, porque, no momento
momento em em que
que o o determinamos,
determinamos,
dizendo oo que
dizendo que êleêle éé qüididativamente,
qiuididativamente, dizemos,
dizemos, também,
também, oo que que
êle não
êle não é,é, oo que
que está
está fora
fora dada sua quididade, o
sua qüididade, o que
que precisamente
precisamente
não constitui
não constitui aa suasua essência,
essência, como também o
como também o de
de que
que éé deficiente.
deficiente.
Ora, oo Ser
Ora, Ser Supremo não tem
Supremo não uma quididade,
tem uma porque éé êle
qüididade, porque êle
mesmo,
mesmo, sendo simplesmente ser,
sendo simplesmente ser, e
e nada
nada mais
mais que
que ser,
ser, não
não tendo
tendo
deficiência nenhuma,
deficiência nenhuma, não
não estando
estando fora
fora dêle nenhum modo
dêle nenhum modo de
de ser;
ser:
êle se
êle identifica absolutamente
se identifica consigo mesmo,
absolutamente consigo mesmo, éé êle mesmo.
êle mesmo.
Então êle
Então êle não se define
não se define pelo
pelo negativo.
negativo.
O único
O único negativo,
negativo, que que sese poderia
poderia dizer,
dizer, éé oo seguinte: fora
seguinte: fora
de Deus
de Deus éé o o nada
nada absoluto.
absoluto. Mas Mas êsse
êsse negativo
negativo está
está excluído, por-
excluído, por­
que oo nada
que absoluto, não
nada absoluto, não podendo
podendo colocar-se,
colocar-se, já já está descartado,
está descartado,
não implica
não implica parapara defini-lo,
defini-lo, parapara dizer
dizer oo queque êle
êle é,é, de nenhuma
de nenhuma
negatividade.
negatividade. Essa Essa negatividade
negatividade somos somos nós nós que
que podemos acres-
podemos acres­
centar, mas
centar, mas êleêle não
não sese afirma
afirma pela sua oposição
pela sua oposição ao ao nada absoluto.
nada absoluto.
Os sêres
Os sêres dodo contexto
contexto beta,beta, sese afirmam
afirmam pelopelo queque êles
êles também
também não não
têm, porque,
têm, porque, ao ao afirmar
afirmar o o que
que são,
são, estão
estão imediatamente
imediatamente excluin­
excluin-
do oo que
do que não são, porque
não são, porque não não são
são puta
pura ee simplesmente
simplesmente ser, são
ser, são
apenas uma
apenas maneira do
uma maneira do ser
ser ser,
ser, uma
uma maneira
maneira de de ser, uma manei-
ser, uma manei­
ra de
ra de ser deficiente, uma
ser deficiente, uma maneira
maneira de ser que
de ser que nãonão éé aa plenitude
plenitude
de ser.
de ser.
Há alguma
Há perfeição de
alguma perfeição de ser que dêle
ser que dele sese afasta, mais ou
afasta, mais ou me-
me­
nos, segundo
nos, segundo aa hierarquia
hierarquia dos dos sêres.
sêres. Este ponto
Êste ponto éé importante;
importante;
posteriormente.
posteriormente. Diz êle
Diz na página
êle na página 234:234: “E preciso, portanto,
"E preciso, portanto,
escolher:
escolher: ou se aceita
ou se aceita aa noção
noção dede simples semelhança, tal
simples semelhança, tal como
como asas
pusemos, simpliciter
pusemos, diversa possunt
sim pliciter diversa postunt esseesse secundo
secundo se se tota
to ta similia,
similia,
(os simplesmente
(os simplesmente diversos
diversos podem
podem ser ser segundo
segundo sisi mesmos
mesmos total-
total­
mente
mente semelhantes)
semelhantes) ou, ou, então,
então, renunciar
renunciar aa dar dar uma explicação
uma explicação
metafísica do
metafísica ser, ee tomar
do ser, tomar oo partido
partido de de um
um conceptualismo
conceptualismo agnós­agnós-
tico.
tico.


— 1156 —
56 —
1) — A —explicação
1) A explicação que propusemos
que propusemos implicaimplica
indubitável-
indubitavel­
mente, entre
mente, entre o o conceito
conceito ee aa coisa, uma relação
coisa, uma relação dede semelhança,
semelhança, de de
conveniência, que
conveniência, que é,é, no
no caso,
caso, convenientia
convenientia. analogiae, segundo aa
analogiae, segundo
expressão de
expressão de São Tomás no
São Tomás no DeD e Veritate, questão 8.º,
Veritate, questão artigo 1.°.
8.*, artigo 1.º.
Ela implica
Ela implica aa possibilidade
possibilidade de estabelecer entre
de estabelecer entre oo conceito
conceito ee aa
coisa uma
coisa uma comparação.
comparação. Pelo Pelo mesmo
mesmo facto ela atribui
facto ela atribui ao ao conceito
conceito
um
um valor representativo real
valor representativo real ee intrínseco,
intrínseco, apesar
apesar da da dificuldade
dificuldade
que se
que se possa
possa encontrar
encontrar parapara explicar
explicar aa natureza.
natureza. Como oo supo-
Como supo­
mos estabelecido
mos estabelecido em em Criteriologia,
Criteriologia, oo emprego
emprêgo do do conceito
conceito no no dis­
dis-
curso
curso funda-se
funda-se sôbre
sôbre êste
êste valor representativo, ee se
valor representativo, se éé verdadeiro
verdadeiro
que aa similitude
que similitude intencional
intencional do do conceito, em relação
conceito, em relação àà coisa
coisa que
que
representa, éé perfeitamente
representa, perfeitamente heterogênea
heterogênea aa esta
esta coisa,
coisa, não
não é,é, con­
con-
tudo,
tudo, menos verdadeiro que
menos verdadeiro que nãonão sese poderia
poderia reduzí-la
reduzí-la aa uma uma pura
pura
metáfora vazia
metáfora vazia dede sentido;
sentido, não há, em
não há, em tal
tal pressuposto,
pressuposto, nadanada senão
senão
oo natural,
natural, nadanada que
que nãonão seja
seja admitido pelos representantes
admitido pelos representantes mais mais
autorizados da
autorizados da escola.
escola.

Prossegue Descogs
Prossegue Descoqs na pág. 234,
na pág. 234, no
no $^ 2:2: "a
“a semelhança
semelhança éé um
um
grau
grau da
da diferença.
diferença. 1.º)
1.°) ÉÉ claro
claro que
que sese se
se trata da semelhança
trata da semelhança
perfeita, ela
perfeita, ela não
não pode
pode absolutamente
absolutamente ser ser chamada
chamada assim.
assim. Entre
Entre
duas
duas coisas
coisas que teriam entre
que teriam entre si
si esta
esta relação
relação de de semelhança per-
semelhança per­
feita,
feita, não haveria distinção
não haveria distinção nemnem diferença.
diferença. AA distinção
distinção pura-
pura­
mente numérica, sendo
mente numérica, sendo precisamente
precisamente oo factofacto que
que dois
dois sêres
sêres sem
sem
diferença
diferença se opõem na
se opõem na existência.
existência. Na Na queque sese trata
trata dada semelhan-
semelhan­
ça
ça imperfeita,
imperfeita, ao ao menos aquela que
menos aquela que têm
têm entre
entre sisi objectos
objectos simples-
simples­
mente diversos,
mente diversos, segundo
segundo tôda tôda aa sua
sua realidade,
realidade, deve-se
deve-se dizer que
dizer que
ela implica
ela implica um grau de
um grau de diferença,
diferença; nesses sêres, tudo
nesses sêres, tudo éé diverso
diverso ee
tudo se
tudo se assemelha.
assemelha. Essa
Essa semelhança
semelhança imperfeita
imperfeita éé precisamente
precisamente
aa analogia.
analogia.

Em
Em francês
francês aa palavra
palavra semelhante
semelhante não significa por
não significa si mesmo
por si mesmo
semelhança perfeita,
semelhança preferenteriqnte aa semelhança
perfeita, preferenterr^ate semelhanç: imperfeita.
imperfeita.
Diz-se por
Diz-se por exemplo, êsses dois
exemplo, êsses dois objectos
objectos nãonão sãosão absolutamente
absolutamente
iguais,
iguais, e.e, contudo,
contudo, êles se assemelham.
êles se assemelham. Por Por isso não éé necessá­
isso não necessá-
rio que
rio que haja entre êles
haja entre êles semelhança perfeita sôbre
semelhança perfeita sôbre tal
tal ponto
ponto ee
dissemelhança
dissemelhança sob sob tal
tal outro. Pode perfeitamente
outro. Pode perfeitamente bem chegar-se
bem chegar-se
ao contrário,
ao contrário, queque não
não tenha semelhança sob
tenha semelhança sob nenhum
nenhum ponto;
ponto; éé oo
caso, por
caso, por exemplo,
exemplo, da da semelhança
semelhança dasdas criaturas
criaturas para com Deus,
para com Deus,

— 157 —
157 —
mesmo
mesmo sese olhamos
olhamos de perto, éé preciso
de perto, preciso crer
crer que,
que, na
na realidade,
realidade, éé
assim, que
assim, que sese assemelham
assemelham tôdas
tôdas as coisas semelhantes.
as coisas semelhantes.
Aconselhamos, contudo, aa manter-se
Aconselhamos, contudo, manter-se oo uso, pois aa palavra
uso, pois palavra
análogo sese presta
análogo presta melhor
melhor aa essaessa maneira
maneira de de pensar;
pensar; aa palavra
palavra
semelhante,
semelhante, sublinhando
sublinhando por
por sisi mesmo
mesmo oo que
que umum objecto
objecto sese apro­
apro-
xima
xima da identidade formal,
da identidade formal, aa palavra
palavra análogo,
análogo, ao ao contrário,
contrário, sub-
sub­
linha, indiferentemente, essa
linha, indiferentemente, relação, ee aa relação
essa relação, relação inversa.
inversa. Então
Então
sese dirá:
dirá: êsses
êsses dois
dois objectos são bastante
objectos são bastante análogos,
análogos, oo queque quereria
quereria
dizer,
dizer, queque sese assemelham
assemelham bastante.
bastante. Mas,Mas, dir-se-á,
dir-se-á, oo conceito
conceito de de
ente
ente éé oo maismais análogo
análogo dede todos, quer dizer,
todos, quer dizer, representa
representa osos mais
mais
diversos.
diversos.

2º) Quanto àà objecção


2.°) Quanto objecção que
que “se diferença éé2 um
"se aa diferença consti-
um consti­
tutivo formal da
tutivo formal da semelhança,
semelhança, éé preciso concluir que,
preciso concluir que, quanto
quanto mais
mais
uma
uma coisacoisa éé diferente,
diferente, mais
mais ela
ela éé semelhante”.
semelhante".
“Bastará responder que
"Bastará responder essa consequência
que essa consequência sese imporia,
imporia, se se aa
diferença
diferença fôsse fôsse oo único constitutivo formal
único constitutivo formal da semelhança.
da semelhança. Con-
Con­
tudo,
tudo, não não éé assim,
assim, pois
pois êste conceito compreende,
êste conceito essencialmente,
compreende, essencialmente,
dois aspectos que
dois aspectos que são
são aa aproximação
aproximação da identidade ee aa divergên­
da identidade divergên--
cia
cia dada identidade.
identidade. Ora, Ora, êsses dois aspectos
êsses dois aspectos são são também
também necessá­
necessá-
rios,
rios, um um como
como oo outro,
outro, àà noção
noção de de simples semelhança.
simples semelhança. Sea
Se a ti-'
ti­
rania
rania da da linguagem
linguagem nos nos levasse
levasse aa nãonão admitir
admitir senão
senão oo primeiro
primeiro
aspecto,
aspecto, aa aproximação
aproximação da identidade, forçosamente
da identidade, forçosamente teríamos,
teríamos, pa- pa­
ra permanecer
ra permanecer verdadeiros,
verdadeiros, de de atenuar
atenuar porpor um um epiteto, dizendo,
epíteto, dizendo,
por exemplo,
por exemplo, aproximação
aproximação incompleta
incompleta ou imperfeita. Mas
ou imperfeita. Mas issoisso
seria introduzir, simultaneamente,
seria introduzir, simultâneamente, outro aspecto: êsse
outro aspecto: êsse segundo
segundo as- as­
pecto não
pecto não éé simples condição sine
simples condição sine qua
qua nonnon dada semelhança,
semelhança, enquan­
enquan-
to que
to que Oo primeiro
primeiro seria
seria oo único
único elemento
elemento constitutivo
constitutivo formal.
formal. Mas Mas
êsse primeiro
êsse primeiro aspecto positivo “tendência
aspecto positivo "tendência àà identidade”
identidade" ou ou “rela-
"rela­
ção
ção àà identidade"
identidade” não não caracteriza
caracteriza aa semelhança,
semelhança, senão senão enquanto
enquanto
ela
ela se funde com
se funde com o o segundo;
segundo; oo que que pode
pode fazer
fazer ilusão
ilusão éé que
que se se
pode chamar
pode chamar aa identidade
identidade comocomo umauma semelhança
semelhança perfeita,
perfeita, ee aa sim-
sim­
ples semelhança, uma
ples semelhança, uma identidade
identidade imperfeita”.
imperfeita”.
Anotamos, porém,
Anotamos, porém, estas
estas advertências
advertências nossas:
nossas: mas
mas aqui
aqui não
não há

nada mais
nada do que
mais do que aa palavra
palavra comum,
comum, “identidade imperfeita”, não
"identidade imperfeita", não
éé de
de modo algum identidade.
modo algum identidade. O O adjectivo não sese acrescenta
adjectivo não acrescenta aoao
nome para modificá-lo
nome para acidentalmente; êle
modificá-lo accidentalmente; êle Ihe
lhe dá
dá um outro sen-
um outro sen-


— 158
1 58 —

tido,
tido, ee o
o faz
faz designar simplesmente outra
designar simplesmente coisa.
outra coisa. OO conceito
conceito dcde
identidade, dissemos,
identidade, dissemos, nãonão admite gradação; éé um
admite gradação; um conceito
conceito per-
per­
feito.
feito. O idêntico
O idêntico éé idêntico;
idêntico; dizer-se que uma
dizer-se que uma coisa
coisa éé idem,
idem, quer
quer
dizer, que
dizer, que éé ela
ela mesma,
mesma, nãonão sese pode
pode dizer
dizer que
que éé mais
mais ouou menos
menos
ela mesma.
ela mesma. Na linguagem
Na linguagem popular,
popular, pode-se
pode-se usar noutro sentido,
usar noutro sentido,
mas na
mas linguagem filosófica
na linguagem filosófica não
não sese pode
pode admitir no conceito
admitir no conceito dede
identidade
identidade gradação,
gradação, como
como nãonão se pode conceber
se pode conceber no conceito de
no conceito de
verdade,
verdade, enquanto
enquanto verdade, gradação.
verdade, gradação.

Ele
Êle prossegue:
prossegue: “não resta nada
"não resta nada mais,
mais, com efeito, da
com efeito, da identi­
identi-
dade
dade na simples semelhança,
na simples semelhança, ee isso nem re,
isso nem re, oo que
que éé evidente,
evidente, nemnem
mesmo ratione.
mesmo ratione. Supondo feita
Supondo feita esta
esta distinção
distinção de de razão,
razão, vós
vós vosvos
encontrareis em
encontrareis presença duma
em presença duma noçãonoção univoca,
unívoca, tereis suprimido
tereis suprimido
tôda analogia.
tôda analogia. Esta distinção
Esta distinção não não se se pode fazer senão
pode fazer senão verbal­
verba!-
mente, pois
mente, pois todo fundamento real
todo fundamento real falta,
falta. O O ser
ser Aeoser
A e o ser B, B,
que se
que se assemelham,
assemelham, são, são, com efeito, puramente
com efeito, puramente diversos
diversos atéaté Oo
fundo.
fundo. Na analogia de
Na analogia de similitude,
similitude, que que se se define
define pelapela identidad=
identidade
ee pela
pela diversidade, diremos, pois,
diversidade, diremos, pois, queque aa diversidade
diversidade éé inversa­
inversa-
mente
mente proporcional
proporcional àà semelhança,
semelhança, não, não, porém,
porém, vice-versa.
vice-versa.

53º)o) Essa
Essa questão
questão da semelhança ee da
da semelhança da diferença,
diferença, tendotendo uma
uma
real importância
real importância para para aa solução
solução dodo problema
problema da da analogia,
analogia, vamos
vamos
insistir
insistir sóbre
sôbre ela.
ela. NãoNão podemos
podemos contentar-nos
contentar-nos em em dizer apenas
dizer apenas
“as difetenças de ser são formalmente ens, enquanto elas
"as diferenças de ser são formalmente ens, enquanto são sez,
elas são ser,
não enquanto elas
não enquanto elas são
são diferença",
diferença”, pois,
pois, então, seria necessário
então, seria necessário
confessar
confessar que,que, precisamente, enquanto diferença,
precisamente, enquanto diferença, elaselas não
não são
são for­
for-
malmente ens,
malmente mas são
ens, mas são total
total ee idênticamente
idênticamente ens ens quanto
quanto ao resto,
ao resto,
como coincidindo com
como coincidindo com êle êle no mesmo sujeito
no mesmo real, oo que
sujeito real, que éé aa te-te­
se escotista, quase
se escotista, quase universalmente
universalmente rejeitada.
rejeitada. EE preciso,
preciso, portanto,
portanto,
dizer
dizer “as diferenças de
"as diferenças de ser
ser são formalmente ens”,
são formalmente ens", quer
quer dizer que,
dizer que,
consideradas
consideradas como tais, elas
como tais, elas são
são formalmente
formalmente constituídas
constituídas em em sua sua
compreensão
compreensão pela pela nota
nota ens.
ens.
Pôsto isto,
Pôsto isto, não
não se pode, aa não
se pode, ser admitindo
não ser admitindo aa tese
tese escotista,
escotista,
rejeitar essas
rejeitar duas proposições:
essas duas proposições: A) “Os sêres
A) "Os diferentes, mesmo
sêres diferentes, mesmo
enquanto diferentes,
enquanto diferentes, sãosão semelhantes”,
semelhantes”, B) “As diferenças
B ) "As diferenças dosdos
sêres, enquanto
sêres, enquanto diferenças,
diferenças, se assemelham”.
se assemelham". A segunda
A estando
segunda estando
estabelecida, aa primeira
estabelecida, primeira seguirá
seguirá pelo
pelo próprio
próprio facto.
facto. E E eis como
eis como
ela se
ela se prova:
prova: aa diferença
diferença de ser, têrmo
de ser, têrmo da da primeira intenção, éé o
primeira intenção, o


— 159—
159 —
que constitui aa parte
que constitui rei, aa determinação
parte rei, determinação positiva, tale positivam
positiva, tale positiva, ,
de cada
de cada umum dosdos inferiores
inferiores do ens, quer
do ens, quer dizer,
dizer, dede cada
cada serser real
real
existente ou possível, precisamente enquanto tal.
existente ou possível, precisamente enquanto tal. Ora, essa de­
Ora, essa de-
terminação, êsse tale
terminação, êsse sale posilivum,
positivum, éé formalmente
formalmente ens, êle não
ens, êle não pode
pode
prescindir
prescindir dodo ens, senão duma
ens, senão duma precisão
precisão puramente lógica, como
puramente lógica, como
quando se
quando se faz
faz abstracção
abstracçção de uma nota
de uma nota que
que constitui intrinseca-
constitui intrinseca-
mente aa própria
jnente própria compreensão.
compreensão.

Dee onde
D onde se se segue
segue queque aa expressão,
expressão, “a diferença enquanto
"a diferença enquanto di­ di-
ferença”, considerada,
ferença", considerada, não não na na ordem
ordem puramente
puramente lógica,lógica, masmas na na
ordem metafísica,
ordem metafísica, inclui
inclui aa expressão
expressão “a diferença enquanto
*'a diferença enquanto ser”,ser”,
pois aa diferença
pois diferença éé formalmente
formalmente ser. Portanto, se
ser. Portanto, se sese pode
pode ee se se
se deve
se dizer "os
deve dizer “os sêres,
sêres, enquanto
enquanto sêres,
sêres, são semelhantes”, pode-se
são semelhantes", pode-se
ee deve-se
deve-se dizer: “as diferenças,
dizer: "as diferenças, enquanto
enquanto sêres, sêres, são semelhantes”.
são semelhantes”.
EE como
como asas diferenças,
diferenças, enquanto
enquanto tais tais sãosão formalmente
formalmente ens, ens, “as
"as di-
di­
ferenças enquanto
ferenças enquanto diferenças
diferenças são são semelhantes”.
semelhantes”. Se se
Se se rejeita essa
rejeita essa
última equivalência,
última equivalência, entãoentão teriamos
teríamos algo, algo, ou ou então,
então, por por que
que dis-
dis­
tinção lógica “a
tinção lógica diferença enquanto
"a diferença enquanto ser ser ee aa diferença
diferença enquanto
enquanto di- di­
ferença” parece
ferença” parece imposta
imposta pelas leis da
pelas leis da linguagem,
linguagem, pura questão
pura questão
vsrbal de
verbal de pura
pura consequência,
consequência, desde desde que que se concede que
se concede que aa dife­
dife-
tença, ao título de ser enquanto ser, e a diferença, ao título
rença, ao título de ser enquanto ser, e a diferença, ao título de de
diferença,
diferença, são são metafisicamente
metafisicamente aa mesma mesma coisa,coisa, ou,
ou, então,
então, porpor queque
se reconhece
se reconhece oo valor
valor metafísico
metafísico àà distinção,
distinção, "a “a diferença
diferença éé for­ for-
malmente ser
malmente enquanto real,
ser enquanto real, mas
mas não enquanto distinta”,
não enquanto distinta”, mas,mas,
então, somos forçados
então, somos forçados aa admitir
admitir que que os os sêres reais não
sêres reais diferem
não diferem
positivamente entre
positivamente entre si si absolutamente,
absolutamente, pois pois oo que que nãonão éé formal-
formal­
mente real
mente real não
não éé nada,
nada, aa menos
menos que que aa diferença
diferença não não seja real,
seja real,
simplesmente identica,
simplesmente idêntica, o o que
que éé aa tese escotista, mas
tese escotista, mas nãonão significa
significa
nada ademais
nada ademais na na ordem
ordem metafísica,
metafísica, como como vimos anteriormente, ao
vimos anteriormente, ao
discutir essa mesma tese escotista”.
discutir essa mesma tese escotista” .

Ele conclui: “a
Êle conclui: diferença éé o
"a diferença o pelo
pelo qual
qual os
os sêres diferem po­
sêres diferem po-
sitivamente, ee são
sitivamente, são constituídos
constituídos positivamente
positivamente taistais ee tais.
tais. Ora,
Ora, oo
que, pelo
que, pelo qual, os sêres
qual, os sêres diferem
diferem assim positivamente não
assim positivamente não éé sò-
sô-
mente ser por identidade, mas é como tal formalmente real ee ser.
mente ser por identidade, mas é como tal formalmente real ser.
Por outra
Por outra parte,
parte, tudo que éé formalmente
tudo que formalmente ser se assemelha;
ser se assemelha; por-
por­
tanto,
tanto, as as diferenças
diferenças como
como tais
tais sese assemelham,
assemelham. Eé preciso
preciso agora
agora
irir mais
mais longe
longe ee dizer
dizer “os sêres diferentes,
"os sêres diferentes, precisamente
precisamente enquanto
enquanto


— 1160
60 —

diferentes, se
diferentes, se assemelham?”
assemelham?” Ao Ao que que faremos
faremos uma uma dupla
dupla respos-
respos­
ta: 1.°)
ta: 1.º) Como
Como essa proposição pode
sssa proposição pode nada nada juntar,
juntar, no no sentido
sentido
daquelas que
daquelas que já foram admitidas,
já foram admitidas, éé preciso preciso conceder
conceder que que elaela éé dede
valor menor
valor menor também.
também. 2.º) 2.°) Mas Mas éé preciso
preciso reconhecer
reconhecer que que elaela
sugere
sugere um um sentido
sentido que que poderia
poderia ser ser desagradável.
desagradável. Com Com efeito,
efeito, aa
simples
simples semelhança,
semelhança, por por serser elaela ditadita formalmente
formalmente identidade identidade im­ im-
perfeita, tende, por
perfeita, tende, por sua
sua própria
própria noção, noção, aa aproximar-se
aproximar-se mais mais ou me-
ou me­
nos
nos da identidade perfeita,
da identidade perfeita, sem, sem, contudo,
contudo, jamais jamais atingíla.
atingí-la. Ela Ela
compreende, portanto,
compreende, portanto, formalmente,
formalmente, a) a) de de umauma parteparte umauma certa
certa
diversidade,
diversidade, ee por consequência pode-se
por consequência pode-se dizer,
dizer, que que os os sêres
sêres sãosão
semelhantes,
semelhantes, não não idênticos
idênticos mas mas sômente seme-hantes precisamente
somente semelhantes precisamente
devido
devido aa esta diversidade, b)
esta diversidade, b) por por outra parte, um
outra parte, um elemento
elemento que que
se aproxima da
se aproxima da identidade,
identidade, ee por por consequência
consequência aa fórmula fórmula que que in-in­
sistiria sôbre êsse
sistiria sôbre êsse aspecto,
aspecto, ao ao afirmar
afirmar que que os os sêres
séres diferentes
diferentes se se
assemelham
assemelham como como tais,tais, arriscaria
arriscaria dar dar aa entender
entender que que quanto
quanto mais
mais
as coisas são
as coisas sio diferentes,
diferentes, quer quer dizer, quanto mais
dizer, quanto mais elaselas estão
estão longe
longe
da
da identidade,
identidade, mais mais elas elas se se assemelham,
assemelham, oo que que éé evidentemente
evidentemente
paradoxal.
paradoxal. Embora Embors se possa justificá-la,
se possa justificâ-la, é,é, contudo,
contudo, preferível
preferível
evitar essa última
evitar essa última fórmula.
fórmula. Éle então acrescenta
Êle então acrescenta essa essa última
última no- no­
ta: pode-se dizer
ta: pode-se dizer que tôda semelhança
que tôda semelhança éé uma uma certa diferença, por­
certa diferença, por-
que
que aa semelhança
semelhança perfeitaperfeita exclui exclui tôda tôda diferença.
diferença. AA proposiçãoproposição
não vale senão
não vale quando aa semelhança
senão quando semelhança éé imperfeita;imperfeita; em em compensa-
compensa­
ção, pode-se dizer
ção, pode-se dizer que que tôdatôda diferença
diferença éé uma uma semelhança,
semelhança, ee isso isso
por duas razões:
por duas razões: de início, aa diferença
de início, diferença pura, sendo negação,
pura, sendo negação, puro puro
nada,
nada, não não éé nada,
nada, ee por por consequência
consequência tôda tôda diferença
diferença positiva,
positiva, sen-sen­
do formalmente
do formalmente es, ens, será
será de de tôda
tôda necessidade
necessidade um certo grau
um certo grau de de
semelhança, como
semelhança, como mostramos.
mostramos. Por outro lado,
Por outro lado, quem quem diz diz seme-
seme­
lhança, não
lhança, diz pelo
não diz pelo mesmo
mesmo facto facto semelhança
semelhança perfeita;perfeita; pode pode ser ser
formalmente semelkante,
formalmente semelhante, sem sem ser ser perpcr issoisso perfeitamente
perfeitamente seme­ seme-
lhente, como
lhante, como se pode ser
se pode ser formalmente
formalmente ens ers semsem ser ser por
por isso
isso per-
per­
feitamente ens,
feitamente 2x5, quer
quer dizer,
dizer, ser ser infinito.
infinito,
Aqui terminam,
Aqui terminam, na na página
página 238,
238, osos argumentos apresentados
argumentos apresentados
por Descoqs.
por Descogs. Precisamos, porém, fazer
Precisamos, porém, fazer umauma ressalva. Quando
ressalva. Quando
êle expresseu
êle expresscu oo sentido
sentido da
da tese
tese escotista, cometeu um
escotista, cometeu êrro, porque
um êrro, porque
Scot jamais
Scot jamais afirmou
afirmou aa identidade
identidade Ôntica
ôntica dodo ser.
ser. Ele afirma
Êle afirma aa iden-
iden­
tidade apenas
tidade lógica do
apenas lógica do ser,
ser, quer
quer dizer,
dizer, aa univocidade
univocidade do do ser re-
ser re-
fere-se sempre ao
fere-se sempre ao campo
campo da lógica, e
da lógica, e nunca
nunca ao ao campo
campo ontológico.
ontológico.


— 161 —
161 —
Quanto ao
Quanto facto de
ao facto de Scot referir-se aa uma
Scot referir-se univocidade no
uma univocidade no campo
campo
ontológico éé tema
ontológico tema que
que se
se terá de discutir.
terá de Quanto ao
discutir. Quanto campo ôn-
ao campo ôn-
tico, não
tico, há aa menor
não há dúvida; êle
menor dúvida; êle sabe
sabe perfeitamente
perfeitamente queque oo ser
ser de
de
Deus não
Deus se univoca,
não se univoca, dede modo
modo algum com oo ser
algum com ser dos
dos outros
outros entes,
entes,
ee dos entes do
dos entes contexto beta.
do contexto beta.


— 162—
162 —
CAP, XX
CAP.

DAS PROPRIEDADES
DAS DO SER
PROPRIEDADES DO SER

Prosseguindo nos
Prosseguindo nos estudos
estudos analíticos
analíticos que
que nos propusemos fa-
nos propusemos fa­
zer em
zer tôrno dos
em tôrno dos temas
temas ontológicos
ontológicos ee meontológicos,
meontológicos, para,
para, depois,
depois,
penetrar de
penetrar modo decisivo
de modo decisivo na
na parte
parte puramente concreta da
puramente concreta da Matese,
Matese,
falta-nos examinar
falta-nos examinar o o tema
tema das propriedades, agora
das propriedades, agora sob novos ân­
sob novos ân-
gulos.
gulos.

Sabemos que
Sabemos que as propriedades são
as propriedades predicados não
são predicados essenciais,
não essenciais,
mas predicados
mas predicados dede certo modo necessários,
certo modo necessários, convenientes
convenientes ao seu
ao seu
sujeito, que
sujeito, que se
se caracterizam,
caracterizam, propriamente,
prôpriamente, por
por ser
ser omni,
omni, soli
soli etet
semper, como tivemos
sem per, como tivemos oportunidade
oportunidade de de ver,
ver, ee que podem con-
que podem con­
verter-se ee até
verter-se também constituir
até também constituir definições
definições do
do mesmo.
mesmo.

E difícil,
É difícil, entretanto, estabelecer essas
entretanto, estabelecer propriedades, sobretu-
essas propriedades, sobretu­
do no
do no tocante
tocante às matérias que
às matérias que pertencem
pertencem ao campo da
ao campo filosofia
da filosofia
prática.
prática. No No campo
campo da da filosofia
filosofia especulativa
especulativa naturalmente
naturalmente as as
possibilidades são
possibilidades são mais fáceis, são,
mais fáceis, são, sobretudo,
sobretudo, maiores,
maiores, porque,
porque, na na
Filosofia Especulativa, trabalhamos
Filosofia Especulativa, trabalhamos com entes necessários,
com entes necessários, enquan­
enquan-
to que, na
to que, Filosofia Prática,
na Filosofia trabalhamos com
Prática, trabalhamos com osos entes contingen-
entes contingen­
tes, entes
tes, entes da nossa experiência,
da nossa experiência, entesentes cujo
cujo conhecimento
conhecimento se pro-
se pro­
cessa, dependendo
cessa, dependendo da da limitação
limitação dos dos nossos
nossos meios
meios cognoscitivos,
cognoscitivos,
quase sempre
quase sempre sensíveis,
sensíveis, enquanto
enquanto os os especulativos,
especulativos, por por serem
serem en-en­
tidades de
tidades de abstracção
abstracção de
de terceiro grau, por
terceiro grau, por serem logoi, tornam-se,
serem logoi, tornam-se,
consequentemente, mais
conseqüentemente, fáceis de
mais fáceis de serem
serem inteligidos.
inteligidos.
Os conceitos
Os transcendentais, que
conceitos transcendentais, que foram
foram estudadôs
estudados nana parte
parte
sintética, são
sintética, são propriedades
propriedades do ente, ee como
do ente, como tais constituem aa pró-
tais constituem pró­
pria
pria razão
razão ee aa própria
própria essência
essência também
também do do sujeito do qual
sujeito do qual são pro-
são pro­


— 1163
63 —

priedades. Prôprizmente,
priedades. Pròprianente, são um aspecto
são um aspecto pelo
pelo qual
qual éé visto
visto ao
ente. Assim se
ente. Assim se pode
pode dizer quanto àà unidade,
dizer quanto unidade, Dorque, como vimos,
porque, como vimos;
es:a
es;:a éé uma propriedade do
uma propriedade ser, como
do ser, como o o éé aa verdade,
verdade, o o ser
ser áliquid,
âliqitid,
etc.
etc. De De forma
forma que
que não devemos confundir
não devemos confundir as propriedades do
as propriedades do
ente
ente em geral com
em geral com as as propriedades
propriedades queque aa Física estabelece no
Física estabelece no re­
re-
ferente aos entes
ferente aos físicos, como
entes físicos, como oo calor
calor ouou aa côr,
côr, que
que são descritas
são descritas
como
como propriedades
propriedades de de determinados entes. Aqui
determinados entes. Aqui aa propriedade
propriedade
éé tomada
tomada em em sentido lato.
sentido lato.

Essa matéria
Essa matéria foi
foi por
por nós
nós examinada
examinada na parte sintética,
na parte sintética, once
once
em “Sabedoria da
em "Sabedoria da Unidade” tivemos oportunidade
Unidade" tivemos oportunidade de de examinar
examinar
tôdas
tôdas asas maneiras
maneiras de
de compreendê-la
compreendê-la ee dede discutir
discutir as diversas sen-
as diversas sen­
tenças, que
tenças, que podem ser propostas
podem ser propostas em
em tôrno dêsse tema.
tôrno dêsse tema.

A unidade
A unidade éé ontològicamente
ontolôgicamente uma uma propriedade
propriedade do do ente. Ca-
ente. Ca­
racterizaa o
racteriza-a O indíviso im se
indiviso in se ee oo diviso
diviso ab alto.
ab alio. Examinamos
Examinamos as as
divisões
divisões como
como que
que se
se pode tomá-la, como
pode tomá-la, como unumunum pperer se,
se, unum per
untim per
accidens, oo um
accidens, um simples,
simples, o o um composto.
um composto. Do um
Do per accidens,
um per accidens,
tivemos oportunidade de
tivemos oportunidade estudar oo unum
de estudar unum per per aggregationem,
aggregationem, oo
unum
unum per ordinem ee também
p er ordinem podemos citar
também podemos citar um
um terceiro
terceiro que
que seria
seria
de composição
de composição natural do accidente
natural do accidente com
com aa substância,
substância, queque é,é, por
por
exemplo, o
exemplo, o que
que éé dado
dado da alma com
da alma com aa cogitação, como propõem
cogitação, como propõem
os escolásticos.
os escolásticos. Todos
Todos êsses,
êsses, oo um
um universal,
universal, oo um um singular,
singular, oo
um formal,
um formal, oo umum transcendental,
transcendental, o o um predicamental, foram
um predicamental, foram por
por
nós devidamente
nós devidamente examinados,
examinados, ee nadanada temos
temos aa acrescentar
acrescentar na na or-
or­
dem
dem matética.
matética.

Nesta ordem,
Nesta temos apenas
ordem, temos apenas aa dizer
dizer que,
que, da lei do
da lei da um,
um, co-
co­
mo o
mo o examinamos
examinamos em em “Sabedoria
"Sabedoria dasdas Leis”,
Leis”, decorrem
decorrem as as outras
outras
leis, por
leis, fôrça da
por fôrça da lei
lei da
da unidade,
unidade, como
como decorrem
decorrem da da afirmação
afirmação
do ser
do ser àà permanência
permanência do do ser,
ser, aa persistência
persistência do ser, ee uma
do ser, série
uma série
de outros
de outros atributos, já analisados.
atributos, já analisados.

A idéia
A idéia de
de multidão, que em
multidão, que em nósnós se
se opõe
opõe àà idéia
idéia de
de unidade,
unidade,
na verdade
na verdade nada
nada mais
mais éé do
do que uma agregação
que uma agregação de de unidades,
unidades, de de
entes, ee permite,
entes, permite, neste caso, ser
neste caso, ser medida
medida pela unidade.
pela unidade. AA multi-
multi­
dão éé medida
dão medida pela pela unidade; assim diriamos
unidade; assim diríamos que que sessenta seria
sessenta seria
uma multidão
uma multidão de de unidades
unidades queque atingiriam
atingiriam sessenta
sessenta vêzes
vêzes aa uni­
uni-
dade.
dade. AA multidão
multidão éé agregação
agregação de de unidades, quando éé. medida
unidades, ee quando medida

— 164 —
— 164 —
éé medida
medida pelopelo um.
um. O um
O um éé oo princípio
princípio do do número.
número. Na Na con-
con­
cepção pitagórica, o um é princípio do número, porém nio é
cepção pitagórica, o um é princípio do número, porém nio é
número porque Ihe
número porque lhe falta,
falta, na
na essência,
essência, oo rumeroso. Número é,é,
numeroso. Número
precisamente,
precisamente, múltiplo,
múltiplo, implica
implica aa icéia
icéia dede multiplicidade;
multiplicidade; oo número
número
implica pelo
implica pelo menos,
menos, para Pitágoras, três,
para Pitágoras, pelo menos
três, pelo menos aa dualidade
dualidade
dos têrmos
dos têrmos ee oo logos
logos anaiogante, pois oo dois
analogante, pois dois ainda
ainda nãonão dava prô-
dava prò-
priamente
priamente aa idéiaidéia de número, já
de número, já que
que éé mister
mister aa analogia
ana.ogia dos
dos têr-
têr­
mos. Mas
mos. Mas se se isso
isso éé discutível
discutível dentro
dentro do do ritagorismo,
pitagorismo, éé pacífico
pacífico
que o
que o um
um nãonão éé número, implica aa . idéia
número, implica idéia dada multidão,
multidão, ee aa multi­
multi-
dão implica
dão implica presença
presença de de unidades.
unidades. Temo; Temos uma uma agregação
agregação queque
vai formar uma
vai formar uma unidade,
unidade, formar
formar um um ente.
ente. Essa
Essa agregação
agregação de de
unidades que vão formar uma essência, como a do homem, vão
unidades que vão formar uma essência, como a do homem, vão
constituir aa essência
constituir essência humana
humana ((1). 1) . O O número
número tratado
tratado emem lato
lato
senso, seria
senso, seria aa multidão
multidão no no sentido
sentido da da agregação
agregação de de elementos
elementos sin-
sin­
gulares, podendo
gulares, podendo ser ser materiais
materiais ouou imateriais.
imateriais, São São Tomás
Tomás ee os os
tomistas classificam
tomistas classificam simplesmente
simplesmente número,
número, ee consideram
consideram que que éé
multidão, de
multidão, de qualquer forma.
qualquer forma.
Nisio não
Nisto não háhá nenhum
nenhum problema para aa Filosofia,
problema para Filosofia, porque
porque essa
essa
concepção éé aa concepção
concepção concepção normalmente
normalmente aceite aceit: por
por todos.
todos. Há di-
Há di­
vergências nos
vergências nos filósofos
filósofos sêbre
sôbre oo modo
modo de de entenderem
entenderem aa unidade,
unidade,
há discrepância
há discrepância nesse modo de
nesse modo de entender.
entender. Para Para alguns,
alguns, aa multidão
multidão
éé positiva,
positive, porque
porque ela ela éé uma
uma agregação
agregação dede unidades,
unidades, ee parapara outros
outros
ela éé considerada
ela considerada negativa,
negativa, porque
porque aa multidão
multidio jájá éé uma uma negação
negação
da unidade.
da unidade. Há um
Há um grave
grave êrroêrro em afirmar, sem
em afirmar, sem asas devidas pre-
devidas pre­
cauções,
cauções, queque Pitágoras
Pitágoras postulava
postulava que que oo número
número era era aa essência
essência das
das
coisas.
coisas. Aqui mais
Aqui uma vez
mais uma vez há um êrro,
há um êrro, perque
pcrque éé preciso
preciso com-
com­
preender que,
preender que, para
pari Pitágoras,
Pitágoras, haviahavia muitas
muitas espécies
espécies de de número,
número,
os números
os números da da aritmética,
aritmética, os os números
números da da matemática
matemática no no sentido
sentido
pitagórico, ee os
pitagórico, os números arkbetypoi. O
números arkhetypoi. O que
que êleêle considerava
considerava comocomo
oo número,
número, como essência das
como essência das coisas, seria oo número
coisas, seria número arquetípico
arquetípico ee
não prôpriamente oo número
não propriamente número matemático.
matemático. São São erros
erros dessa
dessa espécie
espécie
que
que sese perpetuam;
perpetuam; são são êles
êles transmitidos
transmitidos ee terminam
terminam por por perturbar
perturkar
aa boa compreensão das
boa compreensão das coisas.
coisas.

(1)
(1) Na verdade,
Na não se
verdade, não se deve
deve confundir
confundir oo arithmós pitagórico
arithmós pitagórico
com o
com o que
que chamamos
chamamos vulgarmente
vulgarmente número.
número. Essa confusão já
Essa confisão já pre­
pre-
judicou suficientemente
judicou suficientemente oo filosofar ocidental, como
filosofar ocidental, mostramos em
como mostramos em ncs-
nes-
so «Pitágoras
so <:Pitágoras ee oo Tema do Número».
Tema do Número».

—— 165
165——
AA tese
tese de
de que
que um
w7: éé propriedade,
propriedade, jájá tivemos
tivemos oportunidade
oportunidade de de
fazer,
fazer, ee não
não há
há necessidade
necessidade de de procurarmos razões para
procurarmos razões para provar
provar
que
que aa unidade
unidade éé uma
uma propriedade
propriedade do do ente,
ente, porque
porque todo
todo ente
ente éé
um, do
um, do qual não padece
qual não padece aa menor dúvida. Só
menor dúvida. Só oo ente
ente éé um, por-
um, por­
que o
que o não-ente
não-ente não
não éé um,
um, o o nada não éé um,
nada não tudo isso
um, tudo isso jájá o
o de­
de-
monstramos,
monstramos, ee não não há necessidade de
há necessidade de percorrermos
percorrermos mais mais êsses
êsses
caminhos.
caminhos.
x* *“ $$

O que
O nos interessa
que nos interessa agora
agora estudar
estudar éé o
o tema
tema da individuação
da individuação
ee oo da
da multiplicabilidade,
multiplicabilidade, dos quais já
dos quais já tratamos
tratamos na
na parte
parte sintética,
sintética,
ee examinamos
examinamos o o problema
problema da multiplicabilidade, oo problema
da multiplicabilidade, problema do do
um, conforme
um, conforme êle êle éé colocado
colocado na na Ontologia
Ontologia pelos pelos escolásticos
escolásticos atra-
atra­
vés dos
vés tempos. Mas
dos tempos. Mas somos
somos cbrigados,
cbrigados, nesta parte analítica,
nesta parte analítica, aa
tocar em
tocar em alguns
alguns aspectos
aspectos importantes
importantes que que nãonão foram
foram totelmente
totalmente
abordados naquela
abordados naquela ocasião,
ocasião, ee que que nosnos oferecem
oferecem elementos
elementos sufi­sufi-
cientes para
cientes para justificar,
justificar, posteriormente,
posteriormente, aa construçãoconstrução concreta
concreta da da
Matese.
Matese. £É que
que o o indivíduo
indivíduo éé o o que
que nlo não éé múltiplo,
múltiplo, porque
porque éé
indiviso in
indiviio in se.se. AA idéia idéia dede único
único éé o o daquele
daquele que sendo indivi­
que sendo indivi-
dual,
dual, nenhum
nenhum outro outro éé tal tal comc
como êle êle oo éé em em sisi mesmo.
mesmo. Ora, Ora, aa
idéia
idéia de de unicidade
unicidade nos nos leva
leva àà idéia
idéia dede uma unicidade absoluta,
uma unicidade absoluta,
como
como seriaseria aa de de Deus,
Deus, queque éé oo únicoúnico serser que
que éé unicidade
unicidade abso­
abso-
luta ee qa unicidade
luta unicidade absoluta,
absoluta. A A unicidade
unicidade relativa
relativa nos
nos éé dada
dada pela
pela
unicidade específica,
unicidade específica, como, como, no monoteísmo, aa de
no monoteísmo, de Deus
Deus enquanto
enquanto
divindade,
divindade, pois pois seria
seria oo Único indivíduo aa ser
único indivíduo ser divinc,
divinc, não como ser,
não como ser,
mas especificamente
mas especificamente como como divindade,
divindade, por por queque esta
esta não
não se repete.
se repete.
AA unicidade
unicidade por exemplo do
por exemplo do facto,
facto, como
como aa que que nos
nos seria dada
seria dada
por Adão
por Adio antesantes do do surgimento
surgimento de de outro
outro qualquer
qualquer ser humano, pois.
ser humano, pois,
então, seria
entao, seria de de facto
facto oo único
único ser ser humano.
humano. E, finalmente,
E, finalmente, uma uma
unicidade ddee jure,
unicidade jrre, como
como aa de Alexandre Magno,
de Alexandre Magno, cue cue de
d e jure
jure éé 6o
único
único Alexandre
Alexandre Magno Magno que que pode
pode dar-se.
dar-se.

Se observarmos
Se observarmos bem,bem, ee ficarmos
ficarmos dentro
dentro do do contexto
contexto beta,
beta,
nenhum indivíduo
nenhum indivíduo éé apenas
apenas êleêle mesmo.
mesmo. Ele sempre
Êle sempre tem
tem algo
algo
que en
que em outro
outro sese repete, que em
repete, que outro se
em outro se multiplica.
multiplica. Há
Há neces-
neces­
sidade,
sidade, portanto,
portanto, de fazer-se aa distinção
de fazer-se entre aa individuação
distinção entre individuação re- re­
lativa ee aa individuação
lativa individuação absoluta.
absoluta. Esta éé aa possibilidade
Esta única de
possibilidade única de
haver
haver um único ser
um único ser sob
sob umum aspecto.
aspecto. Dentro
Dentro do do contexto
contexto beta
beta


— 166 —
166 —
tôda
tôda natureza
natureza ouou essência
essência que podemos conceber
que podemos conceber pelo
pelo nosso
nosso in­
in-
telecto,
telecto, como
como verificáveis
verificáveis emem muitos
muitos indivíduos,
indivíduos, éé multiplicável.
multiplicável.
Mas
Mas aa unicidade não éé multiplicável.
unicidade não multiplicável. Há alguma coisa
Há alguma coisa que sendo
que sendo
individual, nenhum
individual, nenhum outro
outro éé tal
tal como
como eiaeia oo éé naquele indivíduo.
naquele indivíduo.
Então observamos
Então observamos que que há algo que
há algo que éé repetível
repetível ee algo
algo que
que éé irre-
irre-
petível.
petível. Só podemos
Só podemos admitir
admitir aa repetibilidade
repetibilidade em em sentido apenas
sentido apenas
específico, apenas
específico, apenas na na especificidade,
especificidade, ee issoisso mesmo
mesmo quando rela-
quando rela­
tiva, nunca
tiva, quando absoluta,
nunca quando absoluta, porque
porque se fôr ente
se fôr ente do contexto alfa,
do contexto alfa,
essa repetibilidade éé impossível
essa repetibilidade impossível de de ser admitida.
ser admitida.

O ser
O ser singular
singular éé aquêle
aquêle que não pode
que não pode ser
ser dividido tal qual
dividido tal qual
éé em
em seu
seu próprio
próprio ser.
ser.

Observamos, no
Observamos, contexto beta,
no contexto que as
beta, que essências, que
as essências, que aa filoso­
filoso-
fia
fia clássica chamou de
clássica chamou de materiais, são multiplicáveis;
materiais, são multiplicáveis; no no contexto
contexto
alfa
alfa aa essência
essência divina
divina éé imultiplicável. Podemos falar
imultiplicável. Podemos falar numa
numa par-
par­
ficipétio, numa participação
ticipado, numa participação da perfeição divina,
da perfeição divina, não,
não, porém, numa
porém, numa
multiplicação
multiplicação da da perfeição
perfeição divina.
divina.

Tais
Tais premissas
premissas colocaram
colocaram aa multiplicidade,
multiplicidade, aa multiplicação
multiplicação
ou a multiplicabilidade ante a escolástica como
ou a multiplicabiiidade ante a escolástica como umum problema,
problema, que
que
impeliu aa procurar
impeliu qual era
procurar qual o fundamento
era o fundamento da da essência
essência da
da multi-
multi-
plicabilidade.
plicabilidade.

E entre
E entre as
as sentenças
sentenças podemos destacar duas,
podemos destacar duas, que
que são
são as
as prin-
prin­
cipais: aa sentença
cipais: sentença de
de Suarez
Suarez ee aa de
de Tomás
Tomis de Aquino.
de Aquino.

Suarez
Suarez fundamenta
fundamenta aa essência da multiplicabiiidade
essência da multiplicabilidade na na con­
con-
tingência
tingência ee na finitude. Como
na finitude. Como tôda essência criada
tôda essência criada éé uma
uma essên-
essên­
cia contingente ee finita,
cia contingente finita, ee comc todo ser
como todo criado pertence
ser criado pertence ao
ao con-
con­
texto beta, êle
texto beta, êle éé um
um ser multiplicável.
ser multiplicável. Mas multiplicável
Mas multiplicável em
em que,
que,
perguntamos?
perguntamos? SabemosSabemos queque aa multiplicabiiidade
multiplicabilidade só se dá
só se na
dá na
parte específica; há
parte específica; há uma
uma unicidade
unicidade de de jure,
jure, que
que éé imultiplicável.
imultiplicável.

Tomás
Tomás de de Aquino
Aquino dá outra sentença,
dá outra fundamenta aa multipli-
sentença, fundamenta rnultipli-
cabilidade,
cabilidade, fazendo-a consistir na
fazendo-a consistir na união
união da
da matéria prima ee da
matéria prima da
forma substancial.
forma substancial.
Ora, essas
Ora, essas duas
duas posições apresentam suas
posições apresentam suas razões;
razões; elas buscam
elas buscam
justificar-se, ee não
justificar-se, não vamos procurar os
vamos procurar argumentos que
os argumentos que estão iner-
estão iner­
tes nas obras
tes nas dos diversos
obras dos diversos autores
autores em
em defesa
defesa dessas
dessas dua
dua teses,
teses,

— 167 —
— 167 —
perque mostraremos
pcrque mostraremos queque éé posível
posível tomar uma terceira
tomar uma terceira posição,
posição, que
que
inclue
inclue essas duas, ee daremos
essas duas, daremos as as razões apodíticas suficientes
razões apodíticas suficientes para
para
resolver êsse
resolver problema da
êsse problema da multiplicabilidade.
multiplicabilidade.

Em primeiro
Em lugar, oo infinito
primeiro lugar, infinito éé imultiplicável.
imultiplicável. AA multipli-
multipli-
cabilidade
cabilidade repugna
repugna àà infinitude.
infinitude. ÉÉ fácil
fácil compreendereir.-se
compreenderem-se as as ra­
ra-
zões.
zões. AA multiplicabilidade
multiplicabilidade só pode ser
só pode do finito.
ser do finito. Mas
Mas dede que
que
finito?
finito?

Temos
Temos de considerar oo finito
de considerar finito sob dois aspectos:
sob dois aspectos: ni
na sua
sua sin­
sin-
gularidade
gularidade ee na sua universalidade.
na sua universalidade. Na sua singularidade,
Na sua singularidade, en­
en-
quanto singular singularíssimo,
quanto singular singularíssimo, ee não
não na
na sua
sua singuiaridade en-
singularidade en­
quanto universal, isto
quanto universal, é, oo ser
isto é, ser singular.
singular. Este éé um
Êste um ser singular,
ser singular,
aquéle éé um
aquêle um ser ser singular,
singular, aquêle
aquêle outrooutro éé umum serser singular,
singular, ee neste
neste
caso consideramos universalmente
c?so consideramos universalmente aa singularidade,
singularidade, ee não não aa sin­
sin-
gularidade vista
gularidade vista singularissimamente.
singularissimamente. O O serser finito
finito só só éé multi-
multi­
ptcado apenas
plicado apenas no no seuseu aspecto universal, porque
aspecto universal, porque aa própria
própria idéia
idéia
de multiplicabilidade
de implicaria universalidade,
multiplicabilidade implicaria universalidade, um um vertendo
veriendo em em
muitos.
muitos. OO que
que encontramos
encontramos de de universal
universal no no finito?
finito? As As formali­
formali-
dades; portanto só
dades; portanto elas são
só elas são osos multiplicáveis,
multiplicáveis, não não aa heceicas
heceitas do do fi-
fi­
nito, que
nito, que esta
esta corresponde
corresponde àà singularidade
singularidade singularíssima.
singularíssima. De De for-
for­
ma que
ma que aa multiplicabilidade
multiplicabilidade do do finito
finito só poderia estar
só poderia estar nana forma
forma
universal finita,
universal finita, mas
mas esta tem de
esta tem de ser
ser considerada
considerada sob sob o o seu ângulo
seu ângulo
universal, ee não
universal, não como
como estáestá inin re1e nesta
nesta coisa, não aa form
coisa, não formaa queque está
está
nesta coisa,
nesta coisa, mas
mas aa forma
forma que que éé imitada,
imitada, o o que
que está nesta coisa
está nesta coisa que
que.
éé repetível
repetivel por outra, naquela coisa.
por outra, naquela coisa. Purtanto, a form: univer-
Portanto, a forma univer­
sal finita
sal finita enquanto imitável, enquanto
enquanto imitável, enquanto repetível,
repetível, nãonão constitui
constitui aa
heceidade.
heceidade.
AA multiplicidade
multiplicidade ou ou aa multiplicabilidade
multiplicabilidade da da forma
forma universal
universal
finita exclui
finita exclui aa heceidade;
heceidade; ora, ora, esta,
esta, como
como sabemos,
sabemos, implica
implica aa tec-
tec-
tônica do
tônica do ser na sua
ser na sua estructura
estructura hilética
hilética ee na
na sua sua estructura eidética,
estructura eidética,
ou se,
ou não fôr
se, não hilética, na
fôr hilética, sua estructura
na sua potencial ee na
estructura potencial sua es-
na sua es­
tructura eidética,
tructura como seria
eidética, como seria aa estructura
estructura dodo serser angelical.
angelical. De De ma-
ma­
neira que
neira que aà heceidade
heceidade éé aa singularidade
singularidade /“singularitas
singularitas), ), como
como aqui-
aqui­
lo que
lo que não
não éé divisível
divisível em em muitos,
muitos, queque éé diviso
diviso abab alio,
alio, como
como
aquilo que
aquilo que éé tal como éé em
tal como em sisi mesmo.
mesmo. OO singular
singular nãonão éé multi-
multi­
plicado em
plicado em muitos,
muitos, taltal como
como êle êle oo éé em
em si si mesmo.
mesmo. Então,Então, neste
neste
caso, encontramos o
caso, encontramos o fundamento
fundamento suareziano
suareziano da contingência ee da
da contingência da

— 168
— 168 —

finitude, porque
finitude, teríamos sômente
porque teríamos somente aa multiplicabilidade
multiplicabilidade da da essên-
essên­
cia criada,
cia que éé contingente
criada, que contingente ee finita,
finita, que
que éé aa tese suareziana, ee
tese suareziana,
só teríamos
só teríamos aa multiplicabilidade
multiplicabilidade no no sentido
sentido dede São
São Tomás
Tomás de de
Aquino,
Âquino, no no ser cuja tectônica
ser cuja tectônica consta
consta pelo menos de
pelo menos de duas estruc-
duas estruc-
turas.
turas.

O ponto
O ponto de
de divergência
divergência estaria em que
estaria em que São Tomás funda­
São Tomás funda-
menta essa tectônica
menta essa tectônica na estructuta hilética
na estructura hilética ee na
na estructura eidé-
estructura eidé-
tica.
tica.
Podemos considerar
Podemos como uma
considerar cono terceira sentença
uma terceira sentença 2a de
de Scot,
Scot,
porque
pcrque êste
êste aceita
aceita aa contingência
contingência ee aa finitude
finitude como fundamentos
como fundamentos
da multiplicabilidade,
da multiplicabilidade, que que éé uma
uma tese suareziana, mas
tese suareziana, mas aceita que
aceita que
também oo que
também que contém apenas potência
contém apenas potência passiva
passiva seja
seja também
também re- re-
petível.
pecível. Neste
Neste caso
caso oo anjo,
anjo, para
para Scot,
Scot, seria multiplicável, porque
seria multiplicável, porque
teria uma
teria estructura potencial
uma estructura potencial que poderia receber
que poderia receber aa mesma
mesma forma;
forma:
portanto dentro
portanto dentro duxr.a
durra mesma
mesma espécie angelical poderia
espécie angelical poderia haver
haver vá-
vá­
tios indivíduos,
rios individuos, oo queque éé contrário
contrário àà posição
posição de São Tomás,
de São Tomás, para
para
quem oo anjos
quem anjos são
são funções
funções (ou(ou funções
funções legais, como provaremos).
legais, como provaremos).

AA nossa
nossa solução
solução incluiria
incluiria as
as três
três sentenças
sentenças possíveis
possíveis sôbre
sôbre oo
problema
problema dada multiplicidade.
multiplicidade.

Tomariamos
Tomaríamos aa posição de S.
posição de S. Tomás
Tomás ante
ante aa matéria prima, não
matéria prima, não
exclusivamente
exclusivamente masmas inclusivamente,
inclusivamente, querquer dizer, também aa potên-
dizer, também potên­
cia, que
cia, que seja
seja constitutiva
constitutiva de ser, ee dessa
de ser, dessa forma
forma damos uma solu­
damos uma solu-
ção matética
ção matética ee uma
uma solução justa,
solução justa.

EE uma
uma solução
solução justa
justa matética, por que
matética, por que teriamos
teríamos dede partir
partir
matéticamente de
matèticamente dois princípios:
de dois princípios: 1.°
1.º —
— o o infinito
infinito éé imultiplicá-
imultiplicá-
vel, 2º —
vel, 2.° — sé
sc oo finito
finito pode
pode ser multiplicado.
ser multiplicado.

Essas duas
Essas leis matéticas
duas leis matéticas são
são os
os fundamentos
fundamentos da da multiplica­
multiplica-
bilidade, pois só
bilidade, pois nos sêres
só nos sêres finitos
finitos ee no que éé finito
no que finito poderíamos
poderíamos
encontrar multiplicabilidade. OO que
encontrar multiplicabilidade. que pode
pode ser de muitos
ser de muitos éé pre­
pre-
cisamente aquilo que
cisamente aquilo que muitos
muitos podem imitar, sem
podem imitar, sem ofender
ofender oo queque
nestes muitos não
nestes muitos não se
se repete, o que
repete, o nêles não
que nêles não se
se multiplica.
multiplica.

AA multiplicabilidade
multiplicabilidade em nada ofende,
em nada ofende, em nada põe
em nida põe em ris-
em ris­
co
co aa concepção
concepção da unidade; em
da unidade; em nada
nada oo múltiplo
múltiplo éé uma
uma negação
negação
do um, ee tôdas
do um, aquelas aporias
tôdas aquelas aporias que
que oo parmenidismo provocou ve-
parmenidismo provocou ve-

—— 169
169 —

mos que
mos surgiram de
que surgiram de questões
questões malmal colocadas, porque aquele,
colocadas, porque aquele, fun-
fun­
dando-se praticamente
dando-se praticamente nos nos aspectos
aspectos singulares, negava terminan-
singulares, negava terminan­
temente aa multiplicabilidade.
temente multiplicabiiidade. Então Então oo umum ouou era
era um
um ou ou era
era
múltiplo, não
múltiplo, não podia
podia ser
ser múltiplo,
múltiplo, porque
porque oo múltiplo
múltiplo exclui,
exclui, ne-
ne­
cessâriamente, o
cessariamente, o um,
um, ee sendo
sendo oo um genuinamente um
um genuinamente um ser, de
ser, de
modo algum
modo algum poderia
poderia serser múltiplo.
múltiplo. Então
Então oo parmenidismo
parmenidismo não não
conseguiu
conseguiu sair
sair dessa aporia, como
dessa aporia, como sese vê
vê no diálogo de
no diálogo de Platão
Platão
sôbre Parmênides,
sôbre Parmênides, queque traduzimos
traduzimos ee comentamos.
comentamos.

Não
Não há solução para
há solução para êsse
êsse problema, nem podia
problema, nem ter, porque
podia ter, porque
estava totalmente mal
estava totalmente colocado.
mal colocado. Mas desde o
Mas desde o momento
momento que que oo
colocamos
colocamos do do modo como oo fizemos,
rr.odo como fizemos, aa solução
solução éé fácil:
fácil: oo ser do
ser do
contexto beta, por
contexto beta, por ser
ser finito, não éé tudo
finito, não tudo quando
quando pode
pode ser,
ser, por
por isso
isso
cabe-lhe uma dinâmica
cabe-lhe uma dinâmica ee uma
uma cinemática.
cinemática.

Pode actualizar
Pode actualizar ee virtualizar suas possibilidades,
virtual izar suas possibilidades, que que sãosão
imitações (e
imitações (e também) participações dos
também) participações dos partes
pontes logo.
logoi. SuaSua aptidão
aptidão
para ser é,é, ademais,
para ser ademais, aptidão
aptidão para
para sucessivos
sucessivos modos
modos de ce ser,
ser, etc.
etc. OO
repetivel não
repetível não está
está nana singularidade ôntica, mas
singularidade ôntica, mas nana capacidade
capacidade imi-imi-
tativa ee participativa
tativa participativa do do ente finito.
ente finito. OO que
que num
num ente singular éé
ente singular
universal éé essa
universal essa capacidade
capacidade queque outro
outro ente
ente também
também podepode possuir,
possuir,
que outro
que outro enteente repete
repete singularmente;
singularmente; ou ou seja,
seja, éé uma
uma outra
outra singu-
singu­
laridade que
laridade que imita
imita ouou participa
participa no grau da
no grau anterior, cuja
da anterior, cuja seme­
seme-
lhança permite
lhança permite ao ao ser
ser humano construir esquemas
humano construir universais (os
esquemas universais (os
conceitos).
conceitos).

— 170 —
DOO ÁLIQUID
D ALIQUID (ALGUMA
(ALGUMA COISA)
COISA)

Passamos agora
Passamos agora aa tratar do conceito
tratar do conceito de
de áliquid
áliquid (alguma
(alguma coi­
coi-
sa),
sa), que não examinamos
que não examinamos de de maneira
maneira exaustiva
exaustiva no nosso F
no nosso Filosofia
ilosofia
Concreta.
Concreta.

Se compararmos
Se compararmos oo conceito
conceito de aliguid com
de áliquid com oo conceito
conceito de
de
ente, aquêle sese apresenta
ente, aquêle apresenta comcom menor determinação, porque
menor determinação, com
porque com
êle podemos nos
êle podemos nos referir
referir aa qualquer
qualquer coisa,
coisa, aa quod
guod libet, ao que
libet, ao que
quer
quer queque seja,
seja, sem
sem precisar
precisar ainda
ainda aa sua mansira qüididativa.
sua maneira quididativa.
Podemos também
Podemos estabelecer um
também estabelecer um ponto de máxima
ponto de impor-
máxima impor­
tância, como
tância, como oo fizemos
fizemos emem Filosofia
Filosofia Concreta;
Concreta; oo conceito
conceito de
de áli-
áli­
guid
quid éé umum conceito
conceito concreto,
concreto, éé um conceito que
um conceito que alçançamos atra-
alçançamos atra­
vés
vés dada própria experiência, pois
própria experiência, pois oo que
que captamcs
captamcs éé alguma
alguma coisa
coisa
que
que o o fazemos
fazemos dentre
dentre os
os acontecimentos
acontecimentos queque constituem tôda aa
constituem tôda
nossa experiência exterior.
nossa experiência exterior.

Não éé só
Não só interiormente
interiormente que que oo alcançamos,
alcançamos, mas, mas, também,
também,
exteriormente.
exteriormente. É consequentemente
É conseqüentemente um conceito para
um conceito para o o qual
qual
nos
nos dirijimos
dirijimos ee o o construímos
construímos com com aa máxima
máxima precisão
precisão ee fundado
fundado
de
de modo
modo concreto
concreto maismais perfeito.
perfeito. E um
E conceito sôbre
um conceito sôbre o o qual
qual não
não
pode pairar aa menor
pode pairar menor dúvidadúvida da da sua
sua positividade
positividade ee da da sua
sua corres-
corres­
pondência
pondência real, real, isto
isto é,é, do
do seu
seu fundamento
fundamento real, real, porque mesmo que
pcrque mesmo que
alguém se
alguém se colocasse,
colocasse, na na posição nihilista, para
posição nihilista, para fazer
fazer aa afirmação
afirmação
do aibilum, para
do nihilum, negar qualquer
para negar qualquer presença
presença do do ser, teria de
ser, teria afir-
de afir­
mar pelo menos
mar pelo menos que que há há alguma
alguma coisa,
coisa, que
que proclama
proclama aa inexistência
inexistência
do ser;
do ser; ee sese disser
disser queque éé umauma ilusão,
ilusão, terá de concluir
terá de concluir queque alguma
alguma
ilusão hã
ilusão há aptaapta aa fazer
fazer esta
esta proclamação.
proclamação. De De qualquer
qualquer maneira,
maneira,
daria
daria ao ao áliquid
áliguid um fundamento real
um fundamento real suficiente para oferecer-lhe
suficiente para oferecer-lhe
aa necessária
necessária compreensão
compreensão positiva.
positiva.

— Vl—
— 171 —
Partindo dêste
Partindo dêste ponto,
ponto, vamos aproveitar uma
vamos aproveitar uma análise
análise feita
feita
por Descogs
por Descoqs emem tômo dêéste conceito,
tômo dêste conceito, ee tecer
tecer os comentários que
os comentários que
se impõem.
se impõem.

“Partindo
"Partindo do do dado concreto, pensamos
dado concreto, pensamos cada cada bloco
bloco dede reali-
reali­
dade pelo
dade conceito áliquid
pelo conceito dliquid repetido
repetido ee aplicado,
aplicado, taltal ee qual,
qual, sucessi­
sucessi-
vamente
vamente aos 20s objectos
objectos mais
mais diversos.
diversos. ÀA reflexão, apossando-se
reflexão, apossando-se
déste facto, verifica
dêste facto, verifica que
que tal foi aa reacção
tal foi reacção natural
natural do do nosso
nosso espi-
espí­
rito no contacto
rito no contacto dosdos objectos,
objectos, ee que
que todos, que se
todos, que se lhe apresentam,
Ihe apresentam,
concebe-os
concebe-os na na simples apreensão, por
simples apreensão, por êsse
êsse mesmo
mesmo conceito
conceito de de
dliguid; na
áliquid; na reflexão psicológica, assim
reflexão psicológica, assim procede
procede o o nosso
nosso espírito”.
espírito".

Prossegue Descoqs:
Prossegue Descogs: (essas
(essas passagens
passagens acham-se
acham-se àsàs pags.
pags. 177
177
em diante,
em diente, da obra citada)
da obra citada) “todos aqui devem
"todos aqui devem estar
estar de
de acôrdo
acôrdo tam-
tam­
bém igualmente
bém para dizer
igualmente para dizer que
que êste
êste conceito
conceito dliguid, considerado
'áliquid, considerado
do ponto
do ponto dede vista subjectivo, éé um
vista subjectivo, um conceito
conceito dede ens
ens in
in communi
communi
(de ente
(de ente emem comum)
comum) ou ou ddee ens
ens utui sic
sic (ente
(ente enquanto tal), do
enquanto tal), do
qual sese ocupam
qual ocupam as primeiras teses
as primeiras teses dada Ontologia”.
Ontologia”.

Então diz
Então êle que
diz êle que o o conceito
conceito de de álignid,
áliquid, considerado
considerado do do pon­
pon-
to de
to de vista
vista subjectivo,
subjectivo, éé oo própric
própric conceito
conceito de de ens
ens inin communi,
communi, do do
ente em
ente comum, do
em comum, do ens
ens utut sic,
sic, isto é, do
isto é, do ente
ente enquanto
enquanto tal, tal, en-
en­
quanto
quanto ente.ente. Prossegue:
Prossegue: "Ora,“Ora, nós atribuímos espontaneamente
nós atribuímos espontâneamente
um valor objectivo
um valor objectivo aa estaesta representação
representação conceituai
conceitual subjectiva
subjectiva dli-áli­
quid.
quid. Ela Ela nos
nos representa
representa cadacada vez, sem mutação
vez, sem formal, um
mutação formal, um ob­ob-
jecto integralmente, por
jecto integralmente, disparatado que
por disparatado que oo supusemos
supusemos em em relação
relação
aos
aos outros.
outros. E, E, como
como os os outros,
outros, chamados áliguid, êle
chamados áliquid, êle não perde
não perde
jamais
jamais seu seu valor objectivo, reflexão
valor objectivo, reflexão ontológica”.
ontológica". Então Então êleêle quer
quer
dizer
dizer queque podemos
podemos aplicar
aplicar áliqui?,
áliquid, como conceito às
como conceito às coisas mais
coisas mais
disparatadas;
disparatadas; oo outro outro que
que outro
outro éé áliguid
áliquid do do outro,
outro, ee assim
assim todos
todos
pocemos conceituar
pocemos áliguid.
conceituar áliquid. Então prossegue
Então prossegue Descogs:
Descoqs: “Sôbre "Sôbre
êste facto
êste facto ainda,
ainda, excepto
excepto os os formal
formalistas escotistas, estamos
istas escotistas, estamos todos
todos
de acórdo
de àcôrdo em em geral”.
geral”.
O ponto
O ponto de partida, logo
de partida, logo após
após aa nossa
nossa primeira
primeira reflexão,
reflexão, éé
aa posse
posse dede um
um conceito
conceito subjectivamente
subjectivamente um, objectivamente válido,
um, objectivamente válido,
ee pelo
pelo qual
qual nósnós nos
nos representamos,
representamos, semsem nada
nada mudar néêsse con-
mudar nêsse con­
ceito,
ceito, os sêres mais
os sêres mais disparatados.
disparatados. ÊsseEsse facto,
facto, donde
donde estamos
estamos to-to­
dos obrigados de
dos obrigados partir, pois
de partir, pois os
os elementos
elementos de de nossa
nossa especulação
especulação


— 11722
72 —

filosófica não
filosófica não nos
nos caem
caem dodo céu,
céu, mas
mas são forçosamente captados
são forçosamente captados na na
nossa experiência
nossa experiência psicológica,
psicológica, exige diversas espécies
exige diversas espécies dede explica-
explica­
ção. 1.º) Uma
ção. 1.°) Uma explicação
explicação psicológica:
psicológica: porque
porque pensamos
pensamos assim
assim
sôbre oo real?
sôbre real? É É bastante
bastante possível
possível que
que esta
esta questão
questão não tenha res-
não tenha res­
posta que enriqueça
posta que enrigueça verdadeiramente
verdadeiramente o o conhecimento.
conhecimento.

Seja como
Seja como fôr,
fôr, ela
ela não
não poderia
poderia serser tratada
tratada em primeiro
em primeiro
lugar; o
lugar; o estudo
estudo que faremos das
que faremos das outras
outras questões
questões daré talvez mais
dará talvez mais
tarde elementos para
tarde elementos para aa solução
solução desta questão, oferecendo
desta questão, oferecendo uma ex-
uma ex­
plicação
plicação crítica.
crítica.

Diversas questões de
Diversas questões ordem, sobretudo
de ordem, sobretudo crítica
crítica ee criteriológica,
criteriológica,
são colocadas
são colocadas por por êsse
êsse facto
facto psicológico
psicológico objectivo
objectivo de onde parti
de onde parti­
mos.
mos. A) Que
A) Que significa
significa parapara nós
nós o o conceito
conceito de
de áliguid,
áliquid, B B)) AoAo
que
que na na verdade
verdade êle êle responde?
responde? C) Qual éé aa relação
C) Qual relação dêste
dêste con­
con-
ceito às
ceito às coisas,
coisas, e,e, inversamente,
inversamente, de que natureza
de que natureza é,é, neste
neste caso,
caso, aa
relação do
relação do diverso
diverso realreal ao
ao conceito
conceito umum ee imutado
imutado queque representa
representa
êsse diverso (questão
êsse diverso (questão da analogia). Tentemos
da analogia). Tentemos responder
responder aa es- es­
sas
sas três
três questões:
questões:

A)
A) Que
Que queremos dizer, ee que
queremos dizer, que nos
nos representam
representam por êsse
por êsse
conceito
conceito de
de áliguid?
'áliquid? Uma definição
Uma definição prôpriamente
propriamente dita
dita éé impos-
impos­
sível
sível para êsse
para êsse dado
dado primeiro, mas podemos
primeiro, mas descrevê-la exploran-
podemos descrevê-la exploran­
do
do o o conteúdo
conteúdo da da consciência.
consciência. Designamos
Designamos por por êle
êle tudo
tudo oo que
que éé
real,
real, tudo oo que
tudo que não
não éé nada,
nada, quer
quer coisas, quer acontecimentos.
coisas, quer acontecimentos.

B)
B ) OO que
que lhe corresponde na
Ihe corresponde na realidade? Tudo oo que
realidade? Tudo que é,é,
ou pode ser,
ou pode ser, tudo
tudo oo que
que não
não éé nada,
nada, ee portanto,
portanto, de
de facto,
facto, as
as coi-
coi­
sas
sas mais disparatadas, suas
mais disparatadas, suas próprias
próprias diversidades,
diversidades, oo que
que se
se lhes
lhes
opõem
opõem ee o o que
que as
as faz
faz classificar
classificar nas
nas categorias bem distintas,
categorias bem tudo
distintas, tudo
isso,
isso, não sendo nada,
não sendo cai sob
nada, cai êste conceito
sob êste único, áliquid.
conceito único, áliguid.

C)
C) Qual Qual ééaa relação
relação dêste
déste conceito
conceito às às coisas?
coisas? Aqui começa
Aqui começa
aa dificuldade.
dificuldade. Outros Outros conceitos
conceitos muito usados, ee que
muito usados, que sese aplicam
aplicam
também
também às às coisas
coisas disparatadas,
disparatadas, não não se aplicam aa estas
se aplicam estas coisas,
coisas, não
não
as representam, senão
as representam, senão sob
sob umum aspecto
aspecto comum
comum pelo pelo qual
qual elas nos
elas nos
aparecem,
aparecem, não não mais
mais como diversas mas
como diversas como semelhantes.
mas como semelhantes. Esses Êsses
conceitos
conceitos que deixam fora
que deixam fora dêles para ser
dêles para ser representados
representados por por outras
outras
idéias, os
idéias, elementos de
os elementos de diversidade
diversidade de seu objecto,
de seu objecto, aa unidade imu-
unidade imu-
tada de
tada de tais
tais conceitos,
conceitos, representam
representam sempre
sempre o o mesmo
mesmo objecto
objecto formal
formal


— 173
173 —

eéa própria coisa
e é a própria coisa que permite isolar
que permite isolar êsse objecto formal
êsse objecto formal único
único ee
negligenciar
negligenciar o o resto. Mas no
resto. Mas no caso do ser,
caso do ser, as próprias dispari­
as próprias dispari-
dades são de
dades são de facto
facto representadas pelo conceito
representadas pelo conceito de ens, ee caem
de ens, caem
sob
sob êle.
êle.

Supondo
Supondo resolvida
resolvida aa dificuldade
dificuldade escotista,
escotista, afirmamos
afirmamos sem sem
controvérsia,
controvérsia, nana escola de São
escola de São Tomás,
Tomás, queque asas próprias
próprias diversidades
diversidades
são formalmente
são formalmente ens ens ee áliquid.
áliguid. A questão
A questão precisa
precisa éé pois:
pois: Como
Como
(pois de facto se impõe, e não se trata senão de “como” ou ainda
(pois de facto se impõe, e não se trata senão de "como" ou ainda
do “de
do que direito")
"de que direito”) umum conceito
conceito umum ee imutado
imutado pode representar,
pode representar,
com verdade,
com verdade, objectos diversos, sob
objectos diversos, sob o o mesmo
mesmo aspecto
aspecto em
em queque êles
êles
são diversos,
são permanecendo sempre
diversos, permanecendo sempre no plano criteriológico,
no plano criteriológico, quer
quer
dizer, sendo
dizer, sendo dados
dados dede uma parte oo objecto,
uma parte objecto, ee dede outra
outra oo conceito,
conceito,
tais como acabamos de os descrever, parece que sese deve
tais como acabamos de os descrever, parece que deve dizer
dizer
necessáriamente:
necessariamente: :

1)
1) Que Que êsse
êsse conceito
conceito umum ee imutado
imutado representa
representa com verda-
com verda­
de objectos
de objectos diversos como tais.
diversos como tais. E É impossível
impossível que
que os represente
os represente
todos
todos ee cada
cada um
um por identidade formal.
por identidade formal. O O princípio
princípio dede identi­
identi-
dade,
dade, sobsob aa forma
forma dodo terceiro, equivalente aa êle,
terceiro, equivalente êle, se opõe de
se opõe de ma-ma­
neira absoluta.
neira absoluta. É
2) Que
2) Que aa relação
relação dodo conceito representativo aos
conceito representativo aos objectos
objectos
representados aa todos
representados todos ee aa cada
cada um,
um, não
não pode ser senão
pode ser senão uma
uma rela­
rela-
ção
ção de
de semelhança
semelhança inferior
inferior àà identidade.
identidade.

3)
3) Que,Que, por por consequência,
consequência, as as coisas
coisas diversas,
diversas, enquanto
enquanto di- di­
versas, ou
versas, ou asas suas
suas próprias
próprias diversidades
diversidades no no concreto,
concreto, assemelham-
assemelham-
-se entre
-se entre elas,
elas, pois
pois assemelham-se
assemelham-se tôdastôdas aa uma repreentação co-
uma repreentação co­
mum.
mum. Por êste
Por êste último
último ponto,
ponto, éé preciso notar que
preciso notar que o o conceito
conceito de de
ente comum
ente representa as
comum representa as realidades
realidades diversas dadas, qualquer
diversas dadas, qualquer queque
seja, contudo,
seja, contudo, aa origem,
origem, aa fonte,
fonte, oo princípio
princípio ou ou aa razão
razão formal
formal
dessa diversidade. São os diversos blocos de realidade, ee tais
dessa diversidade. São os diversos blocos de realidade, tais
como são,
como são, quer
quer dizer,
dizer, diversos,
diversos, que, por tôda
que, por tôda aa sua realidade di­
sua realidade di-
versa, assemelham-se
versa, assemelham-se entre entre sisi suficientemente
suficientemente para para serem
serem repre­
repre-
sentados com
sentados com verdade
verdade porpor umum conceito
conceito único que sese aplica
único que aplica aa cada
cada
um dêles,
um sem nada
dêles, sem nada deixar
deixar nêles que não
nêles que seja por
não seja por êle
êle representado.
representado.
4)
4 ) DeDe onde
onde resulta
resulta que
que todos
todos aquêles
aquêles que
que admitem, con-
admitem, con­
tra os
tra os escotistas,
escotistas, que
que asas diferenças
diferenças do ens são
do ens são formaliter
form aliter ens.
ens. ee


— 174
174 —

portanto, na
portanto, na prática,
prática, todos
todos osos discípulos
discípulos de de São
São Tomás
Tomás deveriam
deveriim
estar de
estar acôrdo para
de acôrdo para afirmar
afirmar queque essas diferenças, enquanto
essas diferenças, enquanto tais,tais,
são entre
são entre elas
elas semelhantes,
semelhantes, pois pois são,
são, enquanto
enquanto tais,tais, representadas
representadas
com verdade por
com verdade por um
um sósó ee mesmo conceito, que
mesmo conceito, que êle, evidentemente,
êle, evidentemente,
não os
não representa aa todos
os representa todos ee cada
cada um,um, senão
senão pelapela simples seme-
simples seme­
lhança.
lhança. E êle
E êle faz
faz aa seguinte
seguinte notanota em rodapé: no
em rodapé- no queque se vai
se vai
seguir, conforme essa
seguir, conforme essa maneira
maneira de de ver,
ver, explicaremos
explicaremos êste êste facto
facto que
que
uma certa diversidade
uma certa irreductível condiciona
diversidade irreductível condiciona o o simples
simples seme­seme-
lhante, ao
lhante, recorrer aa esta
ao recorrer expressão de
esta expressão de forma dialéctica, mas
forma dialéctica, mas de de
aparência um
aparência um tanto paradoxal: diversa
tanto paradoxal: diversa qua diversa sunt
qua diversa sunt similia
similia
(os diversos
(os diversos enquanto diversos são
enquanto diversos são semelhantes).
semelhantes). Mas Mas deve
deve serser
bem
bem entendido
entendido que que não
não damos
damos àà partícula
partícula guaqua um sentido redu-
um sentido redu-
plicativo
plicativo ou ou causal;
causal; nósnós aa empregaremos
empregaremos apenas apenas no sentida es-
no sentido es­
pecífico
pecífico ou,ou, se
se se
se quer,
quer, formal.
formal. (Frick(Frick — — Lógica
Lógica n.º n.° 86).
86). E Eoo
sentido
sentido éé êste:
êste:

A —
A Uma certa
— Uma diversidade éé condição
certa diversidade condição sine qua non
sine qua noti da
da sim-
sim­
ples semelhança
ples semelhança que de outro
que de outro modo seria aa identidade
modo seria identidade formal.
formal. ;

BB —
— Ela
Ela não
não éé aa razão
razão formal,
formal, sendo
sendo dado
dado oo sentido
sentido da
da
palavra símiles,
palavra que indica
símiles, que sempre uma
indica sempre uma relação tendente, não
relação tendente, não pre-
pre­
cisamente
cisamente àà de
de semelhança
semelhança pura,
pura, mas
mas àà identidade.
identidade.
EE êle
êle prossegue, então, no
prossegue, então, no texto:
texto: “as teses que
"as teses que se
se vão seguir
vão seguir
não têm
não têm outro
outro fim
fim senão
senão oo de desenvolver êste
de desenvolver ponto de
êste ponto de vista
visti ee
esta explicação,
esta antes de
explicação, antes de tudo critica, do
tudo crítica, do problema
problema do do um
um ee dodo
múltiplo”.
múltiplo’’.

CC —— UmaUma explicação
explicação metafísica. Dissemos no
metafísica. Dissemos no comêço
comêço queque
êsse conceito
êsse conceito de de ens,
ens, em posse do
em posse qual nós
do qual nós nos
nos encontramos,
encontramos, exigeexige
uma explicação.
uma explicação. Tudo Tudo oo que indicamos aa seguir
que indicamos seguir limitar-se-á
limitar-se-á úni-
uni­
camente aa pôr
camente pôr coerência
coerência emem nossos
nossos pensamentos;
pensamentos; em em outros têr-
outros têr-
mos, aa estabelecer
mos, dialêcticamente quais
estabelecer dialècticamente quais são
são asas afirmações
afirmações que que éé
mister fazer,
mister fazer, ou
ou éé mister
mister abster-se,
abster-se, ao
ao dissertar sôbre êsse
dissertar sôbre êsse dado
dado
primeiro do
primeiro do ser,
ser, para
para esclarecer tanto quanto
esclarecer tanto quanto se se possa,
possa, sem
sem cair
cair
em contradições.
em contradições. Mostraremos
Mostraremos que que aa timidez,
timidez, que
que impediria
impediria de de
dizer:
dizer: "as“as diferenças, como tais,
diferenças, como são semelhanças,
tais, são semelhanças, ee aa simples se-
simples se­
melhança
melhança éé formalmente
formalmente um um grau
grau dede diferença”,
diferença", sob sob aa aparência
aparência
de uma prudente
de uma moderação, não
prudente moderação, não éé outra
outra coisa
coisa que
que uma contra-
uma contra-


— 1175 —
75 —
dição lógica.
dição lógica. Nós não
Nós não teremos
teremos ainda alcançado, portanto,
ainda alcançado, portanto, aa ex­ ex-
plicação
plicação metafísica.
metafísica. Eis aa questão
Eis questão que que essa
essa explicação
explicação deve deve re­ re-
solver.
solver. AA unidade
unidade do do conceito
conceito de de ser acomoda-se àà diversidade
ser acomoda-se diversidade
pura ee simples
pura simples de seus inferiores;
de seus inferiores; aa aparente
aparente anomalia
anomalia dialéctica
dialéctica
éé descartada
descartada pela pela noção
noção de de semelhança
semelhança simples,
simples, o o queque éé perfeito
perfeito
como solução
como lógica, mas
solução lógica, mas estaesta semelhança,
semelhança, esta esta própria
própria semelhan­
semelhan-
ça ou,
ça ou, sese se prefere, essa
se prefere, essa diversidade
diversidade dada dada dos dos sêres,
sêres, deve
deve serser to­
to-
mada como
mada como um um facto sempre misterioso
facto sempre misterioso na na sua constituição me­
sua constituição me-
tafísica, enigma
tafísica, enigma fundamental,
fundamental, impossível
impossível de de desvelar,
desvelar, sem sem caircair
imediatamente na
imediatamente na contradição.
contradição. Ou, Ou, ao ao contrário,
contrário, não não sese pode
pode
descobrir aa razão
descobrir razão profunda
profunda da da diversidade,
diversidade, oo princípio
princípio radical
radical on­on-
tológico em
tológico em virtude
virtude do do qual
qual oo ser se opõe
ser se opõe assim
assim aa si si mesmo,
mesmo, sendosendo
tudo ser,
tudo ser, ee ser diferente?
ser diferente? Pelo facto
Pelo facto do do conceito
conceito de de semelhança
semelhança
poder ser
poder ser considerado lôgicemente como
considerado lògicamente primeiro, uma
como primeiro, uma vezvez dada
dada
umaa similitude
im similitude real real ee indistinta
indistinta da da diferença,
diferença, que que se se trata
trata dede ex-
ex­
primir por
primir por êsse
êsse conceito,
conceito, segue-se
segue-se que que esta
esta similitude
similitude real real sese im­
im-
põe, ela
põe, ela também,
também, como primeira, ee recusa
como primeira, recusa tôdatôda explicação
explicação me­ me-
tafísica ulterior,
tafísica ulterior, ao ao menos
menos tôda tôda explicação
explicação metafísica
metafísica que que façafaça
apélo aa constitutivos
apêlo intrínsecos.
constitutivos intrínsecos. A única
A explicação metafísica
única explicação metafisica
da
da semelhança
semelhança dos dos sêres
sêres diversos
diversos consiste,
consiste, nestz caso, em
neste caso, em demons-
demons­
trar
trar qual
qual éé aa primeira?
primeira? Qual éé àa fonte,
Qual fonte, quer
quer próxima
próxima ee intrín­inttin-
seca,
seca, quer distante ee extrínseca,
quer distante extrínseca, da da semelhança
semelhança real? real? O O proble­
proble-
ma
ma estáestá colocado
colocado ee exige exige uma uma solução.
solução. Na verdade, Descoqs
Na verdade, Descogs
colocou-o não
colocou-o não só para aa Escolástica,
só para Escolástica, mas mas para têda aa Filosofia.
para tcda Filosofia.

Matêticamente podemos
Matèticamente podemos oferecer
oferecer aa solução
solução do diiquid, da
do áliquid, da
seguinte maneira:
seguinte maneira:

AA primeira
primeira providência
providência aa tomar
tomar éé que
que saibamos
saibamos oo que en-
que en­
tendemos por áliguid,
tendemos por qual éé aa intencionalidade
áliquid, qual intencionalidade ao empregar êste
ao empregar êste
têrmo?
térmo?

Observando etimolôgicamente, oo têrmo


Observando etimològicamente, têrmo éé formado
formado de de alius
alias
ee quid,
quid, significando um quid
significando um de outro,
quid de outro, ou um qui
ou um quidd outro.
outro. Por-
Por­
tanto,
tanto, aa intencionalidade
intencionalidade de de nossa
nossa mente ao dizer,
mente ao dizer, dliguid
áliquid consiste
consiste
em afirmar
em afirmar queque há um quid
há um quid que distinguimos, porque,
que distinguimos, porque, desde
desde oo
momento que
momento que éé outro
outro que outro, que
que outro, que um
um têrmo
têrmo éé outro que outro,
outro que outro,
êle
êle oo éé distinto
distinto do outro em
do outro em algum
algum guid.
quid. Então
Então êle é, dliquid.
êle é, áliquid.


— 1176 —
76 —
Assim, noèticamente,
Assim, noêticamente, incluindo
incluindo todo
todo oo desenvolvimento
desenvolvimento psi-
psi­
cológico, podemos dizer
cológico, podemos dizer que
que oo têrmo
têrmo diiguid
áliquid refere-se
refere-se aa alguma
alguma
coise, ou
coisa, ou aa algum
algum têrmo que éé passível
têrmo que passível de
de determinação
determinação ee de
de afir-
afir­
mação.
mação.

Considerando-se
Considerando-se agora,
agora, ontolôgicamente,
ontològicamente, o o logos
logos de áliquid,
d e áliquid,
seria aquéle
seria aquêle Jogos pertencente aa qualquer
logos pertencente qualquer têrmo
têrmo que que permite
permite essa
essa
determinação como
determinação como outro
outro que
que outro.
outro. Conseguentemente,
Conseqüentemente, oo con­ con-
ceito de
ceito de áliguid quer referir-se
áliquid quer referir-se aa alguma
alguma coisa positiva, afirmati­
coisa positiva, afirmati-
va, e,
va, e, portanto,
portanto, aa alguma
alguma entitas.
entitas.

Em suma,
Em suma, tôda
tôda ee qualquer
qualquer entitas
entitas éé áliguid também. como
áliquid também, como
tudo o
tudo o que
que éé áliquid
áliguid éé uma entitas; pos
uma entitas; por isso,
isso, áliquid
áliquid ee entitas são
entitas são
conceitos transcendentais
conceitos transcendentais ee convertem-se
convertem-se com com oo conceito
conceito de
de ente,
ente,
porgve, o
porque, o que tem entitas
que tem entitas éé algum
algum ser;
ser; oo que
que éé áliquid,
áliguid, éé algum
algum ser.
ser.

Não
Não podemos,
podemos, porpor ex., atribuir êsse
ex., atribuir êsse áliquid,
áliquia, predicar
predicar êsse
êsse
áliquid de nada, porque nada não é alguma coisa outra. Nada,
áliquid de nada, porque nada não é alguma coisa outra. Nada,
não éé algo
não algo outro,
outro, algum
algum outro
outro queque sese coloca ante outro,
coloca ante outro, porque
porque
éé nada.
nada. Sômente
Somente aoao nada
nada relativo,
relativo, poder-se-ia
poder-se-ia dizer que éé áiiquid,
dizer que áliquid,
mas dando-lhe
mas como conteúdo
dando-lhe como conteúdo real
real aa referência recusada per
referência recusada por êsse
êsse
nada relativo,
nada relativo, que
que como
comc sabemos,
sabemos, éé aa recusa
recusa de alguma positivi-
de alguma positivi-
dade.
dade.

AA dificuldade
dificuldade proposta
proposta por
por Descogs
Descoqs de que como
de que como éé pcssível
possível
que
que ercontro
encontro diversos, dliguid ee portanto,
diversos, áliquid de certo
portanto, de modo, oo m
certo modo, mes-
es­
mo, éé uma
mo, uma dificuldade
dificuldade aparente, porque aa diversidade
aparente, porque diversidade não
não indica
indica
um abismo
um abismo intransponível,
intransponível, porque
porque os os sêres são semelhantes
sêres são semelhantes ee di­
di-
ferentes e,
ferentes e, aa diversidade,
diversidade, nunca
nunca éé absoluta.
absoluta. Apenas
Apenas indica que
indica que
pertencem aa gêneros
pertencem gêneros remotos
remotos que são os
que são mesmos, ee não
os mesmos, não aa gêneros
gêneros
próximos, porque
próximos, porque se se entre
entre um homem ee uma
um homem pedra há
uma pedra diversidade,
há diversidade,
há inclusive
há inclusive também muitos pontos
também muitos pontos de de semelhança
semelhança, emem gêneros
gêneros
mais longínquos.
mais longínquos. De forma que,
De forma que, dizer-se,
dizer-se, diversidade, não se
diversidade, não se
diz
diz dede modo
modo absoluto,
absoluto, aa ausência
ausência de de semelhança.
semelhança.

De maneira
De que, oo facto
maneira que, facto de
de dois
dois sêres
sêres serem
serem diversos
diversos ee se­
se-
melhantes em
melhantes em alguma
alguma coisa não implica
coisa não implica contradição,
contradição, como Descogs
como Descoqs
parece querer
parece ressaltar.
querer ressaltar.

Apora
Agora oo facto,
facto, então,
então, de
de que podemos predicar
que podemos predicar o
o mesmo
mesmo

— 177
— —
177 —
predicado de
predicado coisas que
de coisas que são completamente opostas,
são completamente opostas, isto
isto implica
implica
apenas
apenas no no seguinte;
seguinte; porque mesmo asas coisas
porque mesmo opostas, desde
coisas opostas, desde queque
não sejam contraditórias,
não sejam contraditórias, em em outros
outros tipos
tipos de oposição, tem
de oposição, tem de de
qualquer
qualquer formaforma algoalgo que
que asas analoga,
analoga, ee que que asas analoga,
analoga, em em úl­
úl-
tima
tima instância,
instância, éé Oo serem áliquid, serem
serem áliquid, serem alguma coisa, porque
alguma coisa, porque
quando
quando se se diz
diz 'áliquid,
áliguid, se se diz apenas aa propriedade
diz apenas propriedade do do ser em
ser em
poder ser
poder ser alguma
alguma coisacoisa outra
outra queque outro ser.
outro ser. Esta
Esta éé aa solução,
solução,
porque
porque não não devemos esquecer que
devemos esquecer que dliquid
áliquid éé apenas
apenas uma proprie-
uma proprie­
dade, ee converte-se
dade, converte-se com com oo serser na mesma lei
na mesma das conversões
lei das conversões das das
propriedades,
propriedades, ee esta esta éé aa razão
razão porque
porque essas
essas conversões
conversões não não podem
podem
ser
ser tomadas
tomadas de de modo absoluto, mas
modo absoluto, sômente de
mas somente de modo relativo,
modo relativo,
quer dizer, elas
quer dizer, elas se
se convertem
convertem apenas
apenas dentro
dentro do do que elas dizem
que elas dizem
que são, se
que são, convertem segundo
se convertem segundo aa sua sua própria
própria essência,
essência.

Todo
Todo o o ser
ser éé uma
uma entitas,
entitas, todo ser éé áliquid,
todo ser áliquid, éé res,
res, todo
todo ser
ser
éé veritas,
verilas, todo
todo Oo ser é, enfim,
ser é, qualquer dos
enfim, qualquer dos transcendentais esta-
transcendentais esta­
belecidos,
belecidos, mas êstes distinguem-se
mas êstes distinguem-se qüididativamente,
quididativamente, o o que
que revela
reveli
que oo ente
que ente enquanto
enquanto ente pode ser
ente pode distinguido qüididativamente
ser distinguido qiididativamente
segundo
segundo as suas propriedades,
as suas propriedades, não não são
são aa suasua essência,
essência, mas
mas que
que
constituem predicações necessárias,
constituem predicações necessárias, como
como já já mostramos,
mostramos, não, não, po­
po-
rém, aa essência,
rém, porque aa essência
essência, porque essência dodo ser
ser éé afirmação,
afirmação, positividade,
positividade,
ee perduração.
perduração. Estes são
Êstes são osos elementos
elementos que compõem ou
que compõem ou expres-
expres­
sam prôpriamente
sam pròpriamente aa essência
essência dodo ser.
ser. EE suas
suas propriedades
propriedades são são osos
transcendentais.
transcendentais.
O ser
O ser enquanto
enquanto oo serser pode
pode ser
ser tomado
tomado por por uma
uma das suas pro­
das suas pro-
priedades como
priedades como áliquid,
áliguid, etc.
etc. De De maneira
maneira que que o o problema
problema não não
oferece as
oferece as dificuldades
dificuldades que Descogs salientou.
que Descoqs salientou. O O problema
problema que que
surge
surge para
para êleêle de
de que não se
que não se pode
pode descobrir
descobrir aa razão
razão profunda
profunda da da
diversidade,
diversidade, o o princípio
princípio radical
radical ontológico
ontológico em virtude do
em virtude do qual
qual o o
ser
ser se opõe aa si
se opõe si mesmo,
mesmo, sendo
sendo tudotudo ser, êste problema
ser, êste problema está
está mal
mal
colocado, porque o
colocado, porque o ser
ser se
se opõe
opõe aa sisi mesmo
rr.esmo nãonão enquanto
enquanto ser;
ser; êle
êle
não
não sese opõe
opõe aa sisi mesmo
mesmo enquanto áliguid, enquanto
enquanto áliquid, enquanto unidade,
unidade, en­en-
quanto verum, apenas
quanto verum, apenas êle
êle se opõe aa sisi mesmo
se opõe mesmo segundo
segundo o o seu
seu mo-
me­
do
do de ser.
de ser.

Não há
Não há nenhum
nenhum aspecto
aspecto misterioso
misterioso aa ser
ser desvelado
desvelado no
no refe­
refe-
tente
rente àà diversidade,
diversidade, desde
desde oo momento
momento que
que compreendemos
compreendemos que
que éé
semelhante em gêneros
semelhante em gêneros mais remotos, ee que
mais remotos, que aa diversidade
diversidade existe
existe


— 178 —
178 —
apenas num
apenas num grau
grau dede aproximação
aproximação àà species
species specialissima.
specialissima. Mas,
Mas,
dentro da
dentro espécie, há
da espécie, há identificação.
identificação. As diversidades
As diversidades se se dão
dão em
em
outros aspectos
outros aspectos pertencentes
pertencentes aa outros
outros gêneros remotos que
gêneros remotos que podem
podem
ser subordinantes,
ser subordinantes, ee gêneros
gêneros próximos,
próximos, porque
porque sabemos
sabemos que os
que os
gêneros se
gêneros se dividem
dividem em em suas
suas espécies
espécies ee essas espécies assumem
essas espécies assumem às às
vêzes
vêzes extremos contrários.
extremos contrários.

Dête modo
Dête modo não não há há nenhum problema.
nenhum problema. AA razão
razão da da hetero-
hetero­
geneidade não
geneidade não encontra
encontra aqui aqui dificuldade
dificuldade na na sua
sua solução.
solução. Êle Ele
encontra
encontra em em outros
outros aspectos.
aspectos. Não Não nesse
nesse precisamente
precisamente que Des-
que Des­
cogs
coqs quis acentuar. A
quis acentuar. A razão
razão da da heterogeneidade
heterogeneidade encontra-se
encontra-se na na
própria omnipotência do
própria omnipotência do Ser
Ser Supremo.
Supremo. Sem Sem um um Ser Ser Omnipo-
Omnipo­
tente,
tente, que contenha eminencialmente
que contenha eminencialmente tôdas tôdas as as possibilidades
possibilidades de de
ser, não poderia
ser, não poderia surgir surgir aa heterogeneidade.
heterogeneidade, A própria
A própria heteroge-
heteroge­
neidade
neidade está está afirmando,
afirmando, porque porque oo heterogêneo,
heterogêneo, o o ser
ser um diverso
um diverso
de outro, está
de outro, afirmando os
está afirmando os pontos
pontos de de convergência,
convergência, os os pontos
pontos dede
similitude,
similitude, está está afirmando,
afirmando, portanto,
portanto, uma uma origem.
origem. EE esta
esta origem
origem

só pode
pode ser compreendida na
ser compreendida na omnipotência
omnipotência absolutaabsoluta que que contém,
contém,
eminencialmente,
eminencialmente, tôdas tôdas as as possibilidades
possibitidades de de ser,
ser, ee as diversas ma­
as diversas ma-
neiras de
neiras de oo ser ser apresentar-se
apresentar-se são são justificadas
justificadas por êsse poder,
por êsse poder, des-
des­
de oo momento
de momento que que esta
esta maneira
maneira de de ser
ser não contraria ee nem
não contraria pode
nem pode
contrariar,
contrariar, porque porque desde desde queque elas
elas são,
são, jájá prova
prova queque não não contradi-
contradi­
zem ao
zem ao ser,
ser, elas
elas estão automáâticamente contidas
estão automàticamente contidas eminencialmente
eminencialmt nte
no ser
no ser e, e, como
como tal, tal, são
são possibilidades
possibilidades que que se se actualizam,
actualizam, ou ou não.
não.
Os problemas
Os problemas que que surgem
surgem são são outros,
outros, nãonão êste;
êste; o o problema
problema sur-sur­
gido aqui
gido aqui decorre
decorre de de umauma má colocação da
má colocação questão.
da questão.


— 1179 —
79 —
Este livro foi
Êste livro composto e
íoi composto e impresso
impresso na
na
Gráfica
Gráfica ee Editôra
FEditóra MINOX Ltda.
M I N O X Ltda.
Av.
Av. 3ng. Armando de
Eng. Armando de A.
A. Pereira,
Pereira, 665
665
(Jabaquara)
(Jabaquara) :
SÃO PAULO
SAO PAULO

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