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Introdução às ciências sociais

Módulo III. A

O processo de socialização

Conceito de socialização

É o processo de aprendizagem que permite a integração dos indivíduos na


sociedade. É um processo interdependente, isto é, à medida que somos socializados
passamos a ser membros socializadores. A socialização vai fazer com que o indivíduo
tenha uma maneira de ser e de agir tida como o ideal no grupo a que pertence, ou seja,
faz com que o indivíduo adquira valores. Ser membro de uma sociedade pressupõe uma
aprendizagem e interiorização dos valores dominantes e uma assimilação das normas
vigentes. Socializar é, portanto, indicar os modos de pensar, de sentir e de agir do grupo
em que ele está integrado. A interiorização de normas e valores comuns faz aumentar a
solidariedade entre os membros do grupo e, por isso, a socialização é determinante para
a integração social. O processo de socialização tem início no nascimento do indivíduo e
termina com a sua morte, embora com intensidades e contextos diferentes.

 Socialização primária
• Processo de revelação de normas mais intensivas e marcantes e ocorre durante a
infância, mais propriamente, nos primeiros 4 anos de vida.
• É aqui que recebemos as marcas mais significativas – linguagem, regras básicas da
sociedade – que nos irão identificar como membros participantes de um grupo.
• A criança é socializada sobretudo pela família (educadores), sendo as aprendizagens
mais intensas e mais marcantes, uma vez que, se interioriza que estes ensinamentos são
um código moral onde se aprende o que é bem e o que é mal.
• Biologicamente, ela está preparada para receber e assimilar grandes doses de
informações – muito mais do que qualquer outra fase da vida – mas também porque
estão presentes dois grandes fatores importantes:
1. Fator biológico;
2. Fator afetivo, por parte dos seus agentes socializadores (pais, educadores,
entre outros).
 Socialização secundária
• É um processo subsequente que introduz um indivíduo já socializado em novos setores
do mundo objetivo da sua sociedade, que acontece a partir da infância – mais

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propriamente a partir dos 5 anos de idade até falecermos – tendo, por isso, um carácter
de generalidade da socialização primária.
• O indivíduo é, então, “formado pela sociedade.”
• Pode-se dizer também que, a socialização secundária assenta na socialização primária.
 Mecanismos de socialização/aculturação:

Nem sempre são fáceis de distinguir quais os mecanismos de socialização que estão presentes
em casa situação.

1. Aprendizagem

Aprendemos desde cedo, porque tal nos é indicado, os valores e as regras sociais consideradas
corretas e os modelos de comportamentos do grupo a que pertencemos, ou seja, o que
podemos e o que não podemos fazer; o certo e o errado. Aprendemos a ler, a escrever, a
raciocinar dentro de vários moldes, também uma série de competências que vão desde as mais
básicas (como, por exemplo, das boas maneiras à mesa ou então, a maneira de como se
atravessa à rua), às mais elaboradas (por exemplo, a linguagem ou uma profissão). Pressupõe
também, à interiorização de determinadas reações perante as situações sociais, ou seja, a
aquisição de comportamentos que são variados.

2. Imitação

Muitas das atitudes e comportamentos que são visíveis nas crianças, são o resultado das
observações dos seus agentes socializadores – que são fundamentais para a interiorização
desses comportamentos – e, posteriormente procedem a imitações. Até mesmo na idade adulta
e, por vezes, sem nos apercebermos, tendemos a imitar alguns comportamentos, por exemplo,
um gesto ou uma expressão, que observamos e, com o objetivo de nos tentarmos integrar mais
facilmente nas várias situações do nosso quotidiano. Pode passar por dois níveis, por exemplo,
e em primeiro lugar, numa imitação de um colega (comportamentos ou falas); em segundo
lugar, numa imitação de um ídolo nosso ou não.

3. Identificação

A criança identifica-se com pessoas que desempenham certos papéis na sua vida e, essa
identificação faz com que adquira de forma progressiva, os comportamentos que são inerentes
a esses mesmos papéis. Por exemplo, o pai ou a mãe, representam o que para ela significa ser
homem e ser mulher e, através deste processo, a criança consegue interiorizar os
comportamentos do homem e da mulher, face a variadas situações. Mas, também se pode vir a
identificar com outro adulto que lhe seja próximo, como é o caso dos professores; ao longo da

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sua vida ir se identificando com diferentes figuras, sendo eles, heróis de banda desenhada,
atores de cinema ; conhecer alguém pessoalmente e, de uma forma ou de outra, pode
influenciar na sua forma de pensar, agir ou de sentir. Assim, a imitação pode também ser
considerada uma via de identificação.

 Agentes de socialização
A. Família (tem ainda um papel de agente de socialização, mas ainda mais restrito)
• Era a instituição responsável não só pela socialização primária como também, pela
socialização secundária do indivíduo, na medida em que muitas vezes, a criança
aprendia um ofício que constituía a principal atividade da família e com ela
permanecia durante a idade adulta.
• Esta transmite traços culturais e valores próprios do grupo social de pertença, bem
como, modelos de comportamento, não necessariamente de forma intencional.
• É este agente de socialização que nos ensina (ou não) as regras básicas da boa
educação, os hábitos de higiene e de alimentação, de falar e de nos aproximarmos,
entre outros aspetos.
B. Escola
• Aqui, as crianças aprendem a comportar-se na sala de aula, a ser pontuais, a cumprir
determinadas regras de disciplina, aceitando e respondendo às pessoas que lhes são
superiores, neste caso, os professores.
• Porém, existe todo um conjunto complexo de aprendizagens que são acrescentadas
à socialização proporcionada pela família.
• A criança, vê-se confrontada com os novos tipos de autoridade, de relações, de
pessoas e, sente a necessidade de adquirir um conjunto de conhecimentos que são
substancialmente diferentes dos que já foram adquiridos.

Na verdade, nos agentes – família e escola – existe uma hierarquia das relações interpessoais,
mas junto dos colegas, o grupo de pares, onde ela aprende o que significa ser igual, como
cooperar, conquistar a autoridade ou obter o que se pretende dada uma situação. Contudo,
entre a família (pode ter uma validade valorativa, por exemplo, a etnia cigana) e a escola, nem
sempre há uma continuidade no que se trata à transmissão de valores e nem sempre são
valorizados o mesmo tipo de conhecimentos. Muitas das vezes, são verificadas contradições
entre os currículos escolares e as realidades socioeducativas das crianças, fruto das disparidades
regionais, socioeconómicas e culturais, que tendem a não ser consideradas pela instituição
escolar.

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 Meios de comunicação social

De uma maneira geral, os jornais, as revistas, a rádio, o cinema, a música, a internet, os


telemóveis e a televisão, fazem parte do nosso quotidiano e, apesar de nem sempre nos
apercebermos disso, influenciam-nos fortemente. Assim, os media dão acesso a conhecimentos
de que dependem das nossas atividades sociais. Além de serem uns veículos de valores que, de
uma forma consciente ou inconsciente, moldam a nossa forma de pensar, de sentir e de agir, o
que os torna importantes agentes de socialização.

➢ A rua
• Pode, também, ser um agente de socialização, principalmente em pequenas
comunidades, apresentando um importante espaço de aprendizagem;
• É no meio público que as crianças ampliam e diversificam o conhecimento sobre a
realidade em que vivem, deixando de o limitar à esfera doméstica e à instituição
escolar;
• A observação das crianças, é feita de forma direta, sem a intermediação dos adultos,
sendo que a aprendizagem é informal, distinta dos conteúdos escolares que são
padronizados.

A interação, os valores e os papéis sociais

A interação social

Compreende os diversos mecanismos que os agentes sociais utilizam para comunicarem


entre si num determinado tempo e espaço. Existem diferentes formas de interação social:

1. Interação focada com comunicação verbal;


2. Interação não focalizada e sem verbalização;
3. Interação que é processada à distância.

Não existe vida sem interação, ou seja, sem haver comunicação. É através dela – e da
linguagem, conjunto de regras e de símbolos reconhecíveis numa dada sociedade e num dado
quadro cultural – que me reconheço como eu próprio, diferente dos demais, mas em estreito
contacto. Só há identidade através da troca comunicacional.

As representações sociais

As representações sociais denunciam posições sociais e acabam por revelar-se uma


componente simbólica dos conflitos que atravessam as sociedades.

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• É uma avaliação de uma dada realidade, processo ou situação;
• Existe no plano social ou no plano individual (opinião pessoal;
• É fruto de experiências passadas, ou seja, decorre da nossa socialização;
• Orienta e justifica comportamentos, ou seja, agimos em função das representações que
temos;
• É formada ao nível social, ou seja, é partilhada socialmente (discutida, falada);
• Nomeia, classifica e dá sentido ao que observamos;
• Pressupõe valores.

A interação social

Um dos sociólogos que mais estudaram as formas e contextos de interação foi Erving
Goffman (1922-1982), cofundador da corrente designada por interacionismo simbólico.

O cerne da sua análise situa-se no estudo dos papéis sociais (todos nós apresentamos um
conjunto de papéis sociais), enquanto quadros de normas e regras de comportamento no
interior dos quais se exprimem e individualizam as personalidades dos atores sociais.

 O espaço da interação

O projeto de uma dada impressão e a interpretação dessa impressão constituem dois


momentos fundamentais no processo de interação.

A interpretação da impressão transmitida não depende apenas da representação. Existem,


o que Goffman chama de “indícios” de informação, como por exemplo, a relação que se
pode estabelecer entre a aparência e o estatuto socioeconómico do ator.

Nas situações em que a interação é focalizada e verbal, a de um encontro e conversa, o


contexto ou cenário da interação tornam-se cruciais.

Os atores e grupos sociais

Estatutos sociais

O estatuto social resulta precisamente da avaliação que se faz de um determinado papel


social, em função de variáveis ligadas à estrutura mais profunda das sociedades, como o
rendimento, a escolaridade, a ascendência ou linhagem, idade, género, etnia, religião, modo de
vida, entre outros. Podem classificar-se em duas categorias:

• Estatutos de atribuição ou inatos: o indivíduo não os controla, já que nasceram


com ele (ascendência, género, etnia, …);

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• Estatutos de realização ou adquiridos: resultam das aquisições do indivíduo
(escolaridade, profissão, modos de vida, …), condicionadas pelos recursos de
que dispõe.

Papéis e expectativas sociais

Os papéis sociais são essenciais para a codificação de normas e condutas que orientam o
jogo de expectativas da situação de interação, conferindo-lhe alguma previsibilidade: eu sei o
que posso esperar e exigir dos outros, os outros sabem o que podem esperar e exigir de mim.

O papel social estipula, os limites à liberdade humana, conduzindo-nos para determinadas


condutas, posturas e linguagens e influenciando mesmo as nossas aspirações. Para que se possa
compreender uma dada situação de interação, é muito importante considerar a interferência
de certos fatores exteriores ao próprio momento (poder, divisão do trabalho, desigualdades
sociais e de género, …).

O conceito de grupo social

Para o sociólogo francês Georges Gurvitch (1894-1965), os grupos são “unidades coletivas
reais, contínuas e ativas”. Significa que constituem bem mais do que meros agregados sociais
(conjunto de pessoas que se encontram num mesmo espaço físico – na paragem de um
autocarro, na audiência de um cinema, numa sala de aula – sem que, por esse facto, se criem
laços sociais).

A interação que se gera entre os membros de um grupo tem em vista, antes de mais, a
prossecução de um ou vários objetivos comuns. (por exemplo, um conjunto de jovens que se
reúne com o intuito de formar uma banda de garagem. Possui, na verdade, um objetivo ou
propósito bem definido que orienta os seus comportamentos e o tipo de interação que entre si
se estabelece).

 Características:
• É distinto e distintivo – tanto pode ser identificado pelos seus membros como por
elementos exteriores;
• É estruturado – cada elemento ocupa uma posição específica relativamente aos demais,
através da distribuição dos papéis sociais;
• Promove interesses, objetivos e valores comuns;
• Equaciona a relação entre meios e fins;
• Exerce um maior ou menor controlo social sobre os seus membros, tendendo para a
coesão.

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Os grupos têm um certo nível de consciência coletiva, isto é, de pertença a um Nós, por
oposição a um Outro. Por isso mesmo, também, são fonte de identidades sociais. Um sujeito
sente-se membro de um grupo por integração (partilha de objetivos, símbolos, rituais, …) mas,
igualmente, por diferenciação (existem “barreiras”, físicas ou simbólicas, face aos restantes
grupos).

Grupos de pertença e Grupos de referência

Pretende-se distinguir grupos de pertença e grupos de referência, que são propostos pelo
sociólogo americano Robert Merton (1910-2003).

Os grupos de pertença dizem respeito aos grupos em que efetivamente estamos inseridos
e mais ou menos integrados, devido à classe e contexto social onde nascemos e vivemos, à
família que temos e aos papéis sociais que desempenhamos. No entanto, frequentemente
orientamos os nossos comportamentos não em função dos objetivos dos grupos a que
pertencemos (e a que, muitas vezes, somos como que “obrigados” a pertencer, mesmo não o
desejado) mas sim, em relação à imagem que possuímos dos grupos (de referência) em que
queremos entrar.

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