Sumário

Fundamentos da Educação
parte 1 - Sociologia

Rita de Cássia da Silva Oliveira

Ponta Grossa - 2020

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Apresentação
Prezado(a)s aluno(a)s!

Sejam bem-vindo(a)s à disciplina de Fundamentos da Educação. Esta disciplina é muito importante

para a sua formação, porque oferece subsídios teóricos que irão nortear a sua prática docente.
A educação acontece dentro de um contexto social. Assim, ela recebe influência desse contexto ao
mesmo tempo em que o influencia por meio da formação dos indivíduos inseridos na sociedade em
questão em determinado período histórico.
A educação se caracteriza por ser um processo que acontece ao longo da vida do indivíduo, além
disso, não é neutra, acrítica ou desvinculada dos interesses das classes dominantes.
Nesta disciplina, são propostos conteúdos que irão auxiliá-lo(a) a compreender melhor a realidade social
e os alunos como seres sociais e históricos que exercem influência e são influenciados pela sociedade.
Basicamente, a disciplina apresenta três abordagens: Sociologia da Educação, História da Educação
e Filosofia da Educação.
Você será estimulado(a) a refletir sobre a sociedade atual, seus desafios e as novas exigências que se
colocam ao professor e à escola, de modo que você possa perceber as responsabilidades que lhe cabem
enquanto profissional da Educação.
A disciplina de Fundamentos da Educação contribui para a pesquisa e a reflexão sobre os saberes e
as práticas do trabalho do professor, enfocando-os de maneira dinâmica e integrada, visando uma ação
consciente, crítica, voltada para as exigências da sociedade atual.

Bons estudos!

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Objetivos de Aprendizagem
• Compreender os determinantes econômicos, políticos e sociais que permearam a educação
brasileira;
• Entender, ao longo da história, a constituição da educação pública no país;
• Perceber as formas de organização da cultura do período colonial ao século XXI, possibilitando
a compreensão articulada das transformações e permanências nos processos educacionais
do passado e suas relações com a realidade atual.

Roteiro de Estudos
• Seção 1: Antecedentes da educação pública no Brasil
• Seção 2: A organização da educação pública no Brasil
• Seção 3: A educação pública no contexto do período democrático

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UNIDADE I

A EDUCAÇÃO EM SUA DIMENSÃO SOCIAL

INICIANDO NOSSA CONVERSA

• SEÇÃO 1 - EDUCAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO

• SEÇÃO 2 - AGENTES SOCIALIZADORES E O PROCESSO EDUCATIVO

• SEÇÃO 3 - CULTURA E EDUCAÇÃO

• SEÇÃO 4 - PARADIGMAS DO CONSENSO E CONFLITO

• SEÇÃO 5 - TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS

REFERÊNCIAS
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unidade I
A Educação em sua
dimensão social

Objetivos da Aprendizagem Conteúdos da Unidade

• Compreender a educação como prática social relacionada a um 1 – Educação e socialização

contexto histórico-cultural específico;
• analisar a ação educativa dos principais agentes socializadores; 2 – Agentes socializadores e o processo educativo
• reconhecer a contribuição dos principais teóricos ao campo de 3 – Cultura e educação
estudo da Sociologia da Educação;
• refletir sobre a importância dos estudos sociológicos da Educação 4 – Paradigmas do consenso e conflito
na formação do educador; 5 – Tendências pedagógicas
• analisar as tendências pedagógicas liberais e críticas e suas
repercussões na Educação e na escola.

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INICIANDO A NOSSA CONVERSA
Prezado(a)s Aluno(a)s,
Vamos iniciar nossas leituras com reflexões sobre a importância da
socialização na constituição do ser social. Será abordada também a
educação e sua dimensão social, assim como os diferentes agentes
socializadores que influenciam na formação do indivíduo.
Nós vivemos em uma sociedade e adquirimos a cultura dessa mesma
sociedade. A cultura é transmitida de geração para geração, e só o homem
é capaz de transformar a natureza para satisfazer às suas necessidades,
logo, criar cultura. Cultura é o conjunto de formas e expressões que
caracterizam uma sociedade em determinado tempo histórico.
A educação é muito relevante nesse processo, porque dá forma e
conteúdo à cultura.
A cultura se modifica conforme as necessidades e exigências
do homem nos diferentes tempos históricos. Hoje, temos “cultura
popular”, “cultura erudita”, “cultura digital”, “cultura de massa” e
outros conceitos que devemos conhecer. Vivemos numa sociedade
multicultural e todos devem ser respeitados. Os conceitos mais
importantes serão apresentados na seção referente à cultura.
Na sequência, vamos abordar os paradigmas do consenso e do
conflito e a contribuição de alguns teóricos.
As tendências educacionais se pautam por determinadas visões
de homem e de sociedade, daí assumindo uma postura conservadora
ou crítica, a qual orienta as práticas dos professores. Você vai estudar
sobre isso na seção 5.
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Com esses conteúdos, você poderá ultrapassar a visão do senso
comum que todos temos sobre a vida social: irá entender a sociedade,
as relações que nela se estabelecem, a cultura e a educação com uma
visão científica necessária a todo profissional da educação.
SEÇÃO 1: EDUCAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO
Socialização: a formação do ser social
Você vai iniciar seus estudos nesta disciplina no campo da Sociologia,
fazendo uma reflexão sobre uma frase clássica: “o homem não nasce
humano, ele se torna humano”.
Você concorda com essa afirmação?
O homem ao nascer é o ser mais indefeso e dependente. Precisa ter
cuidados de outro para sobreviver: alguém que o alimente, o proteja, lhe dê
afeto e amor, essenciais para o seu desenvolvimento. Ao contrário, outros
animais, com poucos dias de vida, conseguem se locomover conforme as
características de sua espécie e já emitem o som que os distingue.
E o ser humano, o que faz sozinho logo que nasce?
Ao nascer, o ser humano se manifesta por meio do choro, suga
para se alimentar e faz as suas necessidades biológicas, mas precisa de
ajuda para se desenvolver e se locomover; ele não busca seu alimento
sozinho nem faz sua própria higiene. Assim, é dependente de outro
indivíduo para adquirir as características humanas.
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A criança aprende a se locomover como a sua espécie, ou seja,

de forma bípede, por volta do primeiro ano de vida e aprende a falar,
se comunicar com outras pessoas, formando frases, articulando e
expressando suas ideias, por volta dos dois anos.
O homem, em geral, nasce pertencendo a uma família, que é o
primeiro grupo social de que faz parte. A partir da convivência com
outros homens, vai adquirindo as características de sua espécie e se
torna membro integrante da sociedade, ao mesmo tempo em que
amplia a sua participação social e passa a pertencer a diferentes grupos
sociais, como grupos de amizade, da vizinhança, da escola, da igreja,
profissionais, clubes sociais, entre outros.
Ao nascer, o homem possui uma natureza biopsíquica e, pela
interação com outros seres humanos, vai adquirindo a natureza
social, construindo a consciência de grupo e desenvolvendo a sua
personalidade individual.
Você já ouviu falar sobre Homo ferus?
Vivendo entre lobos
“Duas meninas, Amala e Kamala, foram descobertas em 1921, numa
caverna da Índia, vivendo entre lobos. Essas crianças, que na época
tinham aproximadamente 4 e 8 anos de idade, foram confiadas a um
asilo e passaram a ser observadas por estudiosos. Amala, a mais jovem,
não resistiu à nova vida e logo morreu. A outra, porém, viveu cerca de
oito anos.
“Ambas apresentavam hábitos alimentares bastante diferentes dos nossos.
Como fazem normalmente os animais, elas cheiravam a comida antes de
tocá-la, dilacerando os alimentos com os dentes e poucas vezes fazendo
uso das mãos como instrumento para beber e comer. Possuíam aguda
sensibilidade auditiva e o olfato bastante desenvolvido. Locomoviam-se
apoiadas nas mãos e nos pés, adotando a marcha quadrúpede. Kamala
levou seis anos para utilizar a marcha ereta. Notou-se também que
Kamala não ficava à vontade na companhia de pessoas, preferindo a dos
animais, que não se espantavam quando ela se aproximava e pareciam
até entendê-la”.
(OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2001.
p. 23-24).

Existem alguns casos conhecidos de pessoas que se desenvolveram

Conforme afirmou Aristóteles: “O homem é um animal social”.
longe da sociedade humana e adquiriram as características do animal
com que conviveram. Por não terem as características humanas, como
a postura bípede de locomoção e a comunicação pela linguagem, são
conhecidas como Homo ferus.

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O que significa essa afirmação de Aristóteles? Será que existe apenas um tipo de socialização?

O homem precisa viver em grupo para sobreviver, para adquirir as

características de ser humano e se realizar plenamente como pessoa.
Esse processo se chama socialização, e é por ele que “o indivíduo
se integra ao grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de hábitos
e costumes característicos daquele grupo” (OLIVEIRA, 1989, p. 24).
Assim o homem se torna um ser social.
A socialização possui um teor coletivizante, porque integra o
indivíduo pela aquisição de normas, regras, maneiras de ser e de agir
da sociedade em que convive, bem como desenvolve o sentimento de
pertencimento a ela. Fonte: https://prezi.com/dbgce6gxkikx/processo-de-socializacao-primaria-e-secundaria/
Segundo Oliveira (1989, p. 83): “A socialização é o ato de transmitir
ao indivíduo, de inculcar em sua mente os padrões culturais da Existem dois tipos de socialização: a primária e a secundária.
sociedade”. À medida que o indivíduo vai adquirindo normas e
costumes que orientam a sua conduta na sociedade, passa a pertencer Período da infância no qual a influência dos familiares é grande. A criança
a diferentes grupos sociais, entre os quais a família, a escola, a igreja, Socialização recebe a referência de mundo e de sociedade, interioriza normas e
grupos de trabalho; passa a receber influência e a influenciar esses Primária valores sociais e adquire a sua personalidade social. É a aquisição de
grupos, originando um complexo sistema de relações interpessoais padrões de comportamentos básicos necessários a uma vida normal
na sua sociedade.
(OLIVEIRA, 2001).
Inicia quando a criança passa a participar de outros grupos e instituições.
Como você define socialização? Socialização O indivíduo age segundo as expectativas de comportamento
Secundária desses grupos, desempenhando diferentes papéis sociais. Refere-
se à aprendizagem de padrões de comportamentos especiais para
Socialização é o processo sociopsicológico que objetiva a determinadas posições e situações sociais.
formação da nossa personalidade pela interação com o
ambiente físico e social. É a socialização que torna o indivíduo apto a desempenhar diferentes
papéis na sociedade.

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Quando a socialização secundária termina?
A socialização secundária não termina, porque ao longo da vida
o indivíduo participa de diferentes grupos sociais e instituições, dos
quais adquire valores e comportamentos. Todas as diferentes posições
que ele ocupa na sociedade exigem uma série de comportamentos
específicos que deve desempenhar, o que se denomina papel social.
A socialização apresenta-se como um processo dinâmico e
contraditório, pois os indivíduos nem sempre acatam as normas sociais,
podendo ocorrer rebeldias discretas ou, até mesmo, inconformismos
e conflitos sérios capazes de gerar rupturas e mudanças na própria
estrutura dos grupos sociais.
Presente em todas as sociedades, a socialização é um processo
dinâmico e varia em tempo e lugar conforme o contexto político,
econômico, científico e cultural que a envolve.
Os grupos sociais marcam a vida das pessoas, e a ação dos grupos
sobre os indivíduos pode ser responsável pelas semelhanças e também
pela diversidade entre os seres humanos.
Nos grupos, partilham-se representações, crenças, informações,
emoções. Desenvolvem-se habilidades, aprende-se a desempenhar
papéis. O indivíduo constrói certa visão de mundo, dos semelhantes
e de si mesmo a partir das interações estabelecidas. Esse processo
de aprendizagem, que ocorre mediante os contatos, a interação e a
comunicação com os demais, mediado pela cultura e pela linguagem,
é o processo educacional.
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O meio social exerce grande influência sobre o indivíduo, mas,
ao mesmo tempo em que o indivíduo recebe influência, também
influencia, num sistema de trocas e relações interpessoais.
É através da socialização que o indivíduo pode desenvolver a sua
personalidade e ser admitido na sociedade. A socialização é, portanto,
um processo fundamental não apenas para a integração do indivíduo
na sua sociedade, mas também para continuidade dos sistemas sociais
(VILA NOVA, 2000, p. 49).
A socialização é um processo permanente, sendo mais intenso
durante a infância e a adolescência.
SEÇÃO 2:
AGENTES SOCIALIZADORES E O PROCESSO EDUCATIVO
Existem diferentes agentes socializadores que agem na formação
da personalidade do indivíduo.
Além disso, precisamos destacar que a educação, que, como visto
acima, também está diretamente envolvida com a socialização, ocorre
de diferentes maneiras: informal, formal e não formal. Essas maneiras
de educação e socialização são exercidas por instâncias diversas,
entre as quais se destacam a família, a escola, a igreja, os meios de
comunicação de massa. Em conjunto, transmitem aos indivíduos a
cultura, para fazê-los pertencer à sociedade em que estão inseridos.
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Família A família é o primeiro grupo social com que o indivíduo se comunica.

Nela se inicia o processo de socialização, permitindo ao indivíduo
adquirir a personalidade própria e desenvolver suas potencialidades.
Embora muitos aspectos do processo de socialização familiar não
sejam percebidos, como a aquisição da língua, das relações afetivas, de
hábitos e costumes sociais, eles passam a fazer parte da personalidade
do indivíduo.
Aranha (1996, p. 61) afirma que a instituição família é...:

o local privilegiado para o desenvolvimento humano. Do ponto de vista

biológico, o homem é o mais frágil dos animais e não sobrevive sozinho;
psicologicamente, são extremamente importantes as relações afetivas
para a saúde mental; socialmente, a presença de adultos confiáveis e
o exercício da autoridade asseguram a solidariedade necessária para o
convívio democrático.

Fonte: https://bebeativo.com.br/wp-content/uploads/2019/04/Fam%C3%ADlias.png
Atualmente, muito se discute sobre o papel dos pais e os limites de sua
atuação. Qual a sua opinião sobre essa questão?
O primeiro agente socializador é a família, considerando aqui todos
os diferentes arranjos familiares que a sociedade atualmente apresenta,
não se restringindo ao conceito tradicional (um homem, uma mulher
e filhos).

Não há um modelo único de família, mas “famílias”, que variam no

que se refere aos seus membros e às relações que se estabelecem
entre eles.

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Escola A escola funciona como mediadora entre a cultura acumulada e

as novas gerações. Trata-se de um ambiente capaz de oportunizar a
formação de indivíduos críticos, questionadores, participantes ativos
da transformação da sociedade à qual pertencem.
Diante do caráter dinâmico e mutável da sociedade atual, somado
à valorização da aquisição de conhecimentos, novas exigências se
impõem ao indivíduo. Assim, é premente repensar o cenário educacional
brasileiro, bem como a formação dos professores.

Meios de Comunicação de Massa

Fonte: https://i0.wp.com/direcionalescolas.com.br/wp-content/uploads/2014/07/Captura-de-Tela-
2014-07-29-as-09.29.26.png?fit=665%2C358&ssl=1

A Escola também é um agente socializador de grande relevância.

Ela surge no século XVIII como instituição voltada para a educação
sistemática e responsável por transmitir o conjunto de conhecimentos
acumulados pela humanidade, com a atuação de profissionais
especializados e segundo um planejamento estabelecido.
Atualmente, a escola tem a função de transmitir conhecimentos,
também se constituindo em um local privilegiado para a crítica do
saber que será apropriado pelo aluno. Fonte: http://debiiloide.files.wordpress.com/2013/08/comunicac3a7c3a3o1.jpg?w=390

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Os meios de comunicação de massa (MDCM) exercem grande
influência na formação e na vida dos indivíduos. Os MDCM promovem a
socialização e contribuem para a formação da personalidade ao afetarem
os comportamentos, a aquisição de valores e a tomada de consciência
do lugar que cada um ocupa na sociedade.
Se por um lado os MDCM podem manipular os indivíduos com o poder
que têm de alienar e massificar, por outro, podem informar e despertar a
criticidade, conscientizando os indivíduos sobre a realidade, denunciando
a hegemonia e a manipulação da população pelas ideologias, valores e
normas de conduta da classe dominante.
Os MDCM têm um papel fundamental na atualidade na medida
em que transformam o mundo em uma “aldeia global”, mas não sem
contradições: podem ampliar os horizontes, trazem informações em
tempo real, informam os indivíduos, contribuindo para a superação de
preconceitos e estereótipos; por outro aspecto, podem ser manipuladores,
gerando uma falsa consciência da realidade, legitimando o poder de uma
classe dominante sobre outra, induzindo ao consumismo e à submissão.
A força da televisão se evidencia pelo fato de chegar a substituir os
livros, revistas e a interferir no relacionamento e no diálogo familiar.
A internet, por sua vez, está cada vez mais acessível, inclusive para
indivíduos em idades precoces, oferecendo informações nem sempre
verdadeiras, padrões de comportamentos insatisfatórios e com poder
de influenciar os jovens.
Não se pode negar as possibilidades de crescimento cultural e
transformação social que os MDCM oferecem. Por isso, cabe aqui um
controle e cuidado no que se refere ao acesso das crianças e de jovens
à internet, em especial na seleção dos sites e materiais consultados para
que sejam educativos e de boa qualidade.
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A afirmação de Oliveira (2001, p. 19) a seguir pode também ser
aplicada à internet:
Se o propósito for educativo e cultural, se houver compromisso com a
verdade dos fatos, se a informação não for manipulada para atender
interesses menores e se o público souber selecionar os programas, sem
dúvida a TV pode contribuir para a elaboração de uma visão crítica e
transformadora da realidade.
Vale destacar que o acesso aos MDCM, especialmente a internet, é
fundamental para a formação dos indivíduos exigida na sociedade atual, que
valoriza: a flexibilidade intelectual e a criatividade para atuar em diferentes
áreas; o conhecimento tecnológico; o domínio de diferentes códigos e
linguagens; sem desconsiderar o aperfeiçoamento das relações humanas.
A educação é o processo constitutivo do ser humano. É um fato existencial e
um fato social, porque se refere à sociedade como um todo. É um fenômeno
cultural que se desenvolve sobre o fundamento do processo econômico da
sociedade. A educação é uma atividade teleológica e uma modalidade do
trabalho social, de ordem consciente. A educação é por essência concreta e
por natureza contraditória (PINTO, Álvaro Vieira, 1989).
A educação é instrumento eficiente na transmissão da cultura,
tema da próxima seção.
AMARAL, Vera Lúcia. Os meios de comunicação de massa.
http://ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/
Fasciculos%20-%20Material/Psicologia_Educacao/Psi_Ed_A15_J_
GR_20112007.pdf
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SEÇÃO 3: A importância de ter conhecimento sobre o significado de cultura

CULTURA E EDUCAÇÃO centra-se em perceber as diferentes maneiras de agir e de ser dos
alunos, para que você, professor(a), entenda as diferenças culturais
existentes na escola, o que possibilitará a superação de preconceitos e
estereótipos.

O que é cultura?

Muitas são as definições de cultura, termo que pode ser empregado

em diferentes sentidos.

Fonte: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/10/diversidade-cultural.jpg

Cultura: conceito e principais aspectos

Uma das características do homem é transformar a natureza,

adaptando-a às suas necessidades e objetivos, humanizando-a, criando
cultura.
Existem diferentes culturas, as quais variam de uma sociedade para
outra, no espaço e no tempo.
A cultura de uma sociedade é transmitida de geração para geração
e se faz por meio da educação. Dessa forma, a relação entre cultura e
educação é muito estreita, pois é justamente a cultura que dá forma e
conteúdo à educação. Fonte:https://static.alunosonline.uol.com.br/conteudo_legenda/1687e0178ba05d99af6178a3aaf6d091.jpg

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A palavra “cultura” vem do latim colere, que definia o cultivo das O indivíduo desde o nascimento é afetado pelo meio social em que
plantas, o cuidado com os animais e com a terra. vive, adquirindo traços característicos de estilo de vida, padrões de
Cultura pode ser definida como o modo de ser, de agir de um povo. comportamento, experiências, valores, crenças, religiões.
Outro significado é o aprimoramento das faculdades mentais. Além
disso, designa também a herança cultural de um povo.

A cultura em sentido antropológico tem sua origem na satisfação das
necessidades do homem para adaptar-se ao meio e para adaptar o
meio a si. O conteúdo da cultura varia de sociedade para sociedade e
abrange os elementos da cultura material e não material (SCHIMIDT,
2001, p.28).
A cultura é a ação transformadora do homem sobre a
natureza; varia no tempo e no espaço; pode ser material
e imaterial.

Cultura é o conjunto de formas e expressões que caracterizam uma Em uma sociedade, existe uma cultura dominante que coexiste com
sociedade em determinado tempo histórico. Não existe sociedade subculturas, cuja diversidade deve ser respeitada. Não existe cultura
sem cultura, desde as mais simples às mais complexas, todas possuem superior ou inferior, mas existem culturas diferentes.
cultura. Embora cada povo possua seus traços culturais, influenciam e
são influenciados por outras culturas.
Podemos afirmar que cultura expressa a totalidade da experiência
humana. A aquisição, assim como a perpetuação da cultura, consiste
em um processo que ocorre na sociedade, resultante de aprendizagem,
sendo que cada geração transmite à outra o patrimônio acumulado,
ou seja, a herança social.
A cultura é a forma comum e aprendida da vida compartilhada
pelos membros de uma sociedade e se constitui pela totalidade de
instrumentos, técnicas, instituições, atitudes, crenças, motivações e
sistemas de valores conhecidos pelo grupo (FOSTER, 1964).

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Há muitos anos, nos Estados Unidos, Virgínia e Maryland assinaram

“Na década de 1960, nos Estados Unidos, uma associação
um tratado de Paz com os Índios das Seis Nações. Ora, como as
civil enterrou, a uma grande profundidade, uma cápsula feita de
promessas e os símbolos da educação sempre foram muito adequados
metal muito resistente. No interior da cápsula foram colocados
a momentos solenes como aquele, logo depois os seus governantes
alguns objetos. Na época temia-se que uma guerra nuclear entre
mandaram cartas aos índios para que enviassem alguns de seus
os Estados Unidos e a União Soviética destruísse totalmente a
jovens às escolas dos brancos. Os chefes responderam agradecendo
vida humana. O grupo que enterrou a cápsula pretendia que,
e recusando. A carta acabou conhecida porque alguns anos mais
num futuro distante, se algum visitante de outro planeta a
tarde Benjamin Franklin adotou o costume de divulgá-la aqui e ali. Eis o trecho que
encontrasse, poderia saber, analisando os objetos (artefatos), como viveram os
nos interessa:
homens do nosso planeta. Evidentemente, não fazia sentido colocar livros, pois
corria-se o risco de visitantes espaciais não decifrarem a língua em que estivessem
“[...] Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e
escritos. Colocaram fotos, roupas e outros artefatos.
agradecemos de todo o coração.
“Essa experiência pode nos parecer estranha, mas é assim que os arqueólogos
“Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções
trabalham, quando encontram vestígios de civilizações que viveram há milhares
diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que
de anos. Estudando os vestígios, os arqueólogos podem nos dizer como aqueles
a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa.
povos moravam, o que comiam, como caçavam ou pescavam e até mesmo no que
“[...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e
acreditavam.
aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltaram para nós, eles eram maus
“No primeiro caso, os homens propositalmente deixavam vestígios. Já nossos
corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome.
ancestrais pré-históricos não tiveram tal intenção. De qualquer maneira, fica claro
Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam
que tais vestígios dizem muito, pois expressam a cultura de uma determinada
a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como
sociedade” (FERREIRA, 1993, p. 42).
guerreiros, como caçadores ou como conselheiros.
“Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos
aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia
que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e
faremos, deles, homens” (BRANDÃO, 1988, p. 8-9). Para se relacionar com a natureza e entre si, os homens produzem
artefatos e mentefatos, isto é, valores, normas de conduta, manifestações
No senso comum, cultura é sinônimo de erudição, de refinamento, artísticas, religiosas. Esses elementos da cultura expressam o modo de
de conhecimento. Muitas vezes escutamos alguém dizer: “João é culto” vida do povo e condicionam sua maneira de viver.
ou “João tem cultura”. Isso quer dizer que é um homem que cultiva,
ou seja, desenvolve, pratica, cultua o conhecimento. Assim, o sentido Identidade cultural
mais comum que o termo “cultura” adquire em nossa sociedade é o de
que o homem que tem cultura é um homem culto. Mas cultura é um Cada sociedade elabora sua própria cultura e recebe a influência
fenômeno amplo, presente em toda a vida social do homem. de outras culturas. A cultura é um estilo de vida próprio, um modo de

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vida particular, que todas as sociedades possuem e que caracteriza Cultura: elementos e características
cada uma delas.
A cultura possui os aspectos material e não material.
Você sabe o que é identidade cultural?

Justamente por as pessoas compartilharem esse código, ou seja,

a cultura, é que, embora com capacidades e interesses distintos e até
opostos, transformam-se em um grupo e podem viver juntos sentindo-
se parte da mesma totalidade. Essa sensação de pertencimento é
chamada de identidade cultural. Trata-se de uma construção da própria
identidade individual, que é composta por vários atributos, como:
língua, costumes, religião, expressões artísticas (dança, música etc.).
Assim, os indivíduos que compartilham a mesma cultura apresentam
o que se chama de identidade cultural.
Pode-se afirmar que existe uma identidade individual e uma
identidade social. A individual refere-se ao significado que o sujeito
tem de si mesmo, como indivíduo e ser único. A social refere-se ao
significado compartilhado com outros indivíduos que pertencem à Fonte: https://lh4.googleusercontent.com/-Ee_npdv46tE/TX5jCNyZw9I/AAAAAAAAAA0/EfxA_
mesma cultura e formam um grupo ou sociedade. jPKuTg/s1600/cestarias_indigenas.gif

Para refletir e responder: A cultura material consiste em todo tipo de utensílios, ferramentas,
instrumentos, máquinas, hábitos alimentares, habitação etc. A herança
material pode influenciar no estilo de vida de um grupo.
Você pode identificar alguns aspectos da identidade cultural da Por exemplo: no Nordeste, a farinha de mandioca é alimento básico;
sociedade brasileira? Quais? as redes são usadas por grande parte das pessoas para dormir; as casas
pobres são construídas com barro e folhas de palmeira. Forma-se assim
um estilo de vida fundamentado na cultura material da região.

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exteriorização; também as religiões necessitam de templos e altares e

outros elementos materiais para que possam ser praticadas.
A cultura possui algumas características:

Cultura é Cultura é Cultura é estável

apreendida dinâmica e contínua

- O homem é agente e paciente da cultura. Ao mesmo tempo em

que o homem cria a cultura, é também criado por ela. Embora o homem
possua uma herança biológica, após o convívio social, ele aprende
a dominar seus impulsos, a ordenar seus desejos e a atualizar suas
potencialidades. À medida que incorpora as normas de sua sociedade,
Fonte: https://lh3.googleusercontent.com/-6ZC_zFNzmsw/TX5kmlTa_VI/AAAAAAAAAA4/
o indivíduo se endocultura, ou seja, absorve a maneira de pensar, agir
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e sentir própria da cultura em que se insere.
A cultura não material abrange os aspectos não materiais da
- A cultura é uma herança social. As verdades e as ideias são
sociedade, como normas sociais, religião, costumes, ideologia,
concebidas ao longo da história e ensinadas e transmitidas a cada
ciências, artes, folclore etc. Por exemplo: a maioria da população
geração. Toda cultura é simbólica, e os símbolos pertencem ao
brasileira segue a religião católica; não há pena de morte na legislação
patrimônio social de uma cultura.
brasileira; e, embora proibido por lei, o preconceito racial é bastante
difundido no país.
- A cultura é apreendida. Por meio da interação, na família, na escola
Existe uma interdependência entre o material e o não material da
e em outros grupos sociais, aprende-se a ter ideias a respeito do mundo.
cultura. Os grupos realizam a sua cultura não material apoiados na
As pessoas absorvem os aspectos da cultura de sua sociedade, bem
cultura material, que são os meios de execução da cultura. Por exemplo:
como as ideias comuns da organização social. Assim, identificam-se e
uma orquestra, em suas apresentações, utiliza instrumentos para a sua
tornam-se parte da sociedade, da qual aprendem a cultura e diversos

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 Sumário

aspectos, como a língua, crenças, o uso de certos objetos, ciência, arte, Para refletir e exercitar:
filosofia, religião. Os indivíduos são portadores e ao mesmo tempo
criadores da cultura.
Procure exemplos na sua vida em que a cultura se modificou
por acumulação e por substituição.
- A cultura é dinâmica e ao mesmo tempo estável e contínua. A
cultura está sempre se transformando para satisfazer às necessidades
do homem, entretanto apresenta certa estabilidade para que os traços
sejam internalizados, possibilitando o repasse para as futuras gerações.
As relações que os homens estabelecem entre si para produzir a
Essas transformações ocorrem pela continuidade da cultura, na qual
cultura se dão em diversos níveis, os quais não se excluem, mas se
cada nova geração, em suas descobertas e invenções, tem como ponto
complementam.
de partida o patrimônio cultural recebido do passado.
Por questões didáticas, divide-se em:
Pode-se considerar que na cultura existe estabilidade na
- Relações de trabalho: são materiais, produtivas e caracterizadas
dinamicidade e dinamicidade na estabilidade.
pelo desenvolvimento das técnicas e atividades econômicas.
- Relações políticas: relações de poder, que possibilitam a organização
- A cultura está sempre se transformando. Essa transformação se
social e a criação das instituições sociais.
faz por acumulação e por substituição.
- Relações culturais ou comunitárias: resultam da produção e
Acumulação: se dá por acréscimo de novos traços em algo já
difusão do saber.
existente, sendo a base para uma mudança ou aperfeiçoamento.
Ex.: os aviões atuais são produtos de acumulação de inventos que
aperfeiçoaram os primeiros aviões que o mundo conheceu. A televisão
em preto e branco evoluiu para a televisão colorida.
É fácil adaptar-se às mudanças resultantes do processo cumulativo,
já que não representam algo totalmente novo.
Substituição: acontece quando um traço cultural substitui outros.
Significa implantar algo novo, o que resulta em maior complexidade
para adaptação e aceitação pelos indivíduos. Ex.: os automóveis atuais
substituíram as carruagens; os lampiões a gás deram vez para a luz elétrica.

19
 Sumário

Conceitos importantes relacionados à cultura Sincretismo – é a fusão de elementos culturais análogos.

É importante você conhecer alguns conceitos básicos relacionados
com a cultura. Confira a seguir:
Endoculturação: é o processo de aprendizagem da cultura,
assimilação dos modos de vida e dos valores da sociedade a que o
indivíduo pertence.
Subcultura: “sub-” significa “dentro de”. É uma forma peculiar
de cultura, uma parcela dentro de uma cultura global, embora não
se constitua em uma cultura inferior. A subcultura possui valores,
crenças, normas, padrões de comportamento que a caracterizam e
são exclusivos dela.
Transculturação – é a troca de elementos culturais entre diferentes
sociedades.
Deculturação: é o processo de degenerescência de uma cultura,
podendo levar ao seu desaparecimento. Por exemplo: a cultura indígena.
Podemos também verificar a deculturação quando um traço cultural
substitui outro. Verifica-se isso nas inovações materiais da sociedade,
como, por exemplo, a substituição do fogão a lenha pelo fogão a gás.
Etnocentrismo: tendência a supervalorizar as maneiras de proceder
dos grupos dos quais se faz parte como sendo as melhores, as mais
corretas, muitas vezes desmerecendo ou menosprezando os demais
grupos que não se identificam com eles.

Contracultura: utiliza-se esse termo em referência à manifestação Escolha dois conceitos básicos descritos
de grupos contra valores culturais tradicionais. Muitas vezes esses anteriormente e exemplifique
grupos estão insatisfeitos e buscam inovar, contestar, propondo novos
modos de vida. Representam a crítica e a rejeição às normas e valores
da cultura dominante em uma sociedade.
Os homens são seres culturais. Suas visões de mundo resultam da
socialização. A toda cultura corresponde uma sociedade. Assim, não
Aculturação: é a fusão de duas ou mais culturas diferentes, ou seja,
existe sociedade sem cultura e nem indivíduo sem cultura. Cultura é o
é a troca de padrões culturais, de maneira impositiva ou espontânea, e
resultado de várias manifestações da atividade humana.
resulta em um produto cultural novo, diferente das matrizes culturais
que lhe deram origem. O Brasil recebeu influência de diferentes
culturas: indígena, africana, europeia. No processo de aculturação,
pode-se considerar o sincretismo e a transculturação.

20
 Sumário

A cultura possui diferentes elementos como:

Conhecimento
Linguagem

Valores

Símbolos
ELEMENTOS
DA CULTURA Normas

Crenças Fonte: https://nossaciencia.com.br/wp-content/uploads/2018/09/bandeira-do-brasil.jpg

Sanções

Tradições As normas também estão presentes na vida social, e não

Fonte: elaborado pela autora.
Símbolos: a linguagem é um símbolo, e a comunicação verbal
é enriquecida de símbolos de outra ordem. Roupas, cores, gestos
e bens em geral são símbolos que podem representar condições
socioculturais. Além de representarem a satisfação de necessidades
de origem sociocultural, também constituem conforto material.
existe sociedade sem normas compartilhadas coletivamente. O
comportamento do homem está regulado por normas e, por serem
reguladoras de conduta, também estão ligadas a valores, que podem
variar de cultura para cultura.
Os valores e as normas são padrões de comportamento que o
homem criou para viver em sociedade; por isso, existem diferentes
modos de agir. Aprendemos as normas e os valores em interação
com grupos, organizações formais, comunidades e sociedades. Os
valores são elementos abstratos e de longo prazo; são os princípios
organizadores e as preferências de uma sociedade ou de um grupo
social. Eles orientam as ações dos indivíduos.

21
 Sumário

Existe estreita relação entre valor e norma, os quais ligam-se às
crenças coletivas, pois estas explicam os valores.
As crenças que orientam as ações sociais incluem os valores, mas
não se reduzem a eles. As crenças são o conjunto das ideias do indivíduo
e servem para ele interpretar os acontecimentos e orientar suas ações.
A cultura também exerce a função de controle social. A sociedade
impõe sanções aos indivíduos que desafiam os costumes e as normas
estabelecidas.
Cultura popular e cultura erudita

Os homens adquirem cultura pelo processo de socialização e pelas

diferentes formas de educação ao longo de suas vidas, as quais
orientam suas maneiras de ser, agir e pensar, desenvolvendo o
sentimento de pertencimento àquela determinada sociedade. Todos
os indivíduos, pelo processo de endoculturação, adquirem os traços
comuns da sociedade em que vivem.

Funções da cultura

Podemos afirmar que a principal função da cultura é satisfazer

às necessidades humanas. Dessa maneira, o dinamismo cultural é
importante para acompanhar a evolução social e as demandas que
dela surgem.
A segunda função da cultura é limitar e regular a satisfação das Fonte: https://img.docero.com.br/photo/l/8cc5nc.png

necessidades humanas. Cada cultura possui suas especificidades,

Você já ouviu falar em cultura popular e cultura erudita?
como, por exemplo, hábitos de alimentação, horários de atividades
laborais, maneiras de comer, formas de comportamento.
A terceira função da cultura é a criação de necessidades para o homem, Cultura erudita é associada à leitura e à escrita, ao conhecimento
que surgem conforme as mudanças e inovações culturais criadas por científico mais elaborado, geralmente transmitido pela escola.

ele próprio. Essas necessidades criadas pela cultura são assimiladas pelo Cultura popular é associada ao folclore, à capacidade criativa do povo,
homem por meio da socialização e da educação. Por exemplo: formas às festas, aos ritos, à culinária, aos artefatos, às vestimentas, às artes.
de se vestir em determinadas ocasiões (SCHIMIDT, 2001).

22
 Sumário

A cultura erudita é associada à leitura e à escrita, ou seja, é uma

cultura letrada, vinculada ao pensamento acadêmico e científico. Os Com base nos conceitos de cultura erudita e
produtores dessa cultura fazem parte de uma elite política, econômica cultura popular, exemplifique cada uma delas.
e cultural. A cultura erudita é transmitida pela escola e confirmada
pelas instituições (governo, religião, economia). É o saber socialmente
valorizado. Cultura de massa e Indústria Cultural
A cultura popular, também conhecida como folclore, se refere às
produções, tradições e manifestações do povo. Consiste nas maneiras
de viver de um povo, que cria as festas, os ritos, a culinária, a religião,
as artes, os artefatos, a casa, as vestimentas (TOMAZI, 1993).
A cultura popular brasileira se expressa através das manifestações
lúdicas, da arte em geral, das lendas, cantigas, linguagens, invenções
e criações anônimas e também através de personagens conhecidos,
levando-se em consideração as relações que todos esses elementos
estabelecem na sociedade a que pertencem.
A cultura popular é uma realidade viva, dinâmica e em constante
transformação, feita e refeita a todo instante graças à criatividade do
povo.
Na sociedade capitalista, existe uma maior valorização da cultura
erudita em detrimento da popular. Essa distinção não tem fundamento,
considerando-se que cada cultura só pode ser compreendida no https://3.bp.blogspot.com/-bdOpSFlx7eg/ViToVIi3_1I/AAAAAAAAD40/tZmCWgcIK7M/s320/
O-que-e-Industria-Cultural.jpg
contexto no qual foi criada.
Os conhecimentos eruditos, das elites culturais, são transmitidos
O termo cultura de massa refere-se à ideia de que a sociedade é
pela escola e registram uma distinção social, atribuindo poder a
formada por grupos de indivíduos padronizados e homogêneos.
determinada classe social. Entretanto, as classes menos favorecidas
Indústria cultural refere-se à produção em série da cultura que passa
elaboram seus saberes criando a cultura popular, que nasce das
a ser uma mercadoria de consumo, inserida na sociedade capitalista,
experiências vivenciadas, sendo também diversificada.
que visa o lucro.

23
 Sumário

A cultura de massa é uma manifestação das sociedades mais Cultura Digital

complexas. Os meios de comunicação são os responsáveis pela
transmissão da cultura de um país, influenciando a maneira de agir e de
pensar dos indivíduos, enaltecendo determinados comportamentos,
criticando e menosprezando outras atitudes e hábitos.
A indústria cultural produz a cultura de massa, que, por sua vez, é
difundida pelos meios de comunicação, os quais são instrumentos de
dominação política e imposição cultural.
Segundo Tomazi (1993), a expressão “cultura de massa” remete à
visão de que a sociedade moderna é uma sociedade de massas, com
multidões padronizadas e homogêneas ou compartimentalizadas em
setores; já a expressão “indústria cultural” foi criada no século XX, por
Adorno e Horkheimer, e leva à ideia de produção em série, de comércio
e lucro, de indústria produtora e distribuidora de mercadorias culturais,
característica do sistema capitalista. https://img.mandic.com.br/blog/2019/04/vida-digital-empresas-750x375.jpg
No mundo globalizado, no qual os padrões culturais estão se
tornando universais, é importante que cada povo valorize e preserve O contexto atual é marcado pelo surgimento de grandes redes de
a sua própria cultura, que invista na análise e na crítica, não se informação e de comunicação, além da informática. Com isso, está
submetendo passivamente aos valores da indústria cultural, na qual a sendo produzida uma nova cultura que influencia significativamente os
tendência é valorizar a cultura burguesa e depreciar a cultura popular. indivíduos nos seus comportamentos e pensamentos: a cultura digital.
O acesso a novos recursos, que oferecem lazer, estudos,
conhecimento sobre lugares, comunicação com pessoas de maneira
virtual, sem a presença física, está gerando uma nova realidade.
No que se refere à escola, a cultura digital modifica e cria novos
paradigmas sobre ensinar e aprender, nos quais a distância física deixa
de ser um obstáculo e ganha diferentes estruturas pedagógicas por
meio da tecnologia.

24
 Sumário
Podemos aqui referenciar a educação a distância que, por meio
de mídias interativas, contribui para disseminar oportunidades de
formação educacional, diminuir as distâncias territoriais, desigualdades
econômicas, além de favorecer a superação do paradigma tradicional de
ensino, ressaltando a interatividade, a interação virtual, a cooperação
intelectual e a autonomia do aluno.
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTUJGZIBOYVFdgxcg5UqnwsFrfiHBYC_
RXllL_pGnAHIIxxuM-A&s
A utilização da internet na escola tem provocado inúmeros debates
entre educadores e apresenta vantagens e desvantagens. Constitui sem
dúvida uma fonte rica de informações atualizadas e de pesquisa; por
outro lado, pode favorecer a preguiça intelectual, facilitar o plágio e a
25
cópia de materiais encontrados em diferentes sites, cujas informações
nem sempre têm credibilidade científica.
Entretanto, a internet, os diferentes recursos da mídia e o
e-mail encurtaram distâncias, aproximaram pessoas virtualmente,
possibilitando uma democratização e acesso ao conhecimento por um
número maior de pessoas. Ademais, apresentam-se novos desafios
para os professores, como a reformulação das grades curriculares, a
superação dos métodos tradicionais, a utilização da internet em sala
de aula para estimular a aprendizagem.
Qual a sua opinião sobre a utilização da internet na escola?
Os programas da televisão constituem-se em instrumentos
alienantes?
 Sumário

Multiculturalismo ou Pluralismo Cultural, Hibridação Cultural Na hibridação cultural, processos socioculturais nos quais estruturas
ou práticas discretas existiam de forma separada se combinam para
Multiculturalismo ou Pluralismo Cultural são termos que se referem gerar novas estruturas, objetos e práticas.
à existência de muitas culturas em uma localidade, cidade ou país, Estudar os processos culturais é relevante para conhecer formas
sem que uma delas predomine; apesar de separadas geograficamente, de situar-se na heterogeneidade e entender como se produzem
convivem no que se convencionou chamar de mosaico cultural. as hibridações em uma sociedade globalizada, na qual se vive e se
tem acesso ao supermercado cultural global, onde é oferecida uma
variedade de informações, produtos e identidades, potencializada
pelas tecnologias e acessível a todos os indivíduos em qualquer parte
do mundo.

A educação é um eficiente instrumento na disseminação da

cultura. Por ser um processo, a educação não é a mesma em
todas as sociedades, nem em todos os tempos.
Dessa maneira, embora a educação exista em todas as
sociedades, se apresenta com características diferentes e pode
(ou não) seguir tendências pedagógicas distintas.
Na Sociologia, podemos considerar dois paradigmas: Consenso
e Conflito, que abordam as diferentes tendências educacionais.
Esse tema será abordado na próxima seção.

Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSX2NkA4HSNpDTYHTuW3
D5JPTbc_6QdSfOhePmXbDCC-DVtrI1q&s

Outro conceito importante é o de hibridação cultural, utilizado

para descrever processos que ocorrem entre etnias, processos de
descolonização, ações globalizadoras, questões relativas à superação
de limites de fronteiras, fusões artísticas, literárias e nas comunicações.

26
 Sumário

SEÇÃO 4: oposições. As principais linhas teóricas são o marxismo e a perspectiva

PARADIGMAS DO CONSENSO E CONFLITO neoweberiana.
A análise e o conhecimento desses dois paradigmas são relevantes
para o entendimento dos fenômenos sociais, contribuindo para
No campo da Sociologia, o estudo dos fenômenos sociais possibilita
a formação da consciência crítica capaz de perceber os limites da
a elaboração e identificação de modelos teóricos, conceitos, métodos,
manutenção da ordem e das mudanças sociais.
campos de análise e investigação da organização social. Dependendo
da concepção que norteia as diversas teorias sociológicas, os estudos
Paradigma do Consenso
se situam nos paradigmas do consenso ou do conflito.

Paradigma é a maneira pela qual é visto o campo de estudos,

identificando os temas para investigação, com a especificação de
conceitos e métodos legítimos.

O paradigma do consenso, como o nome já enuncia, se caracteriza

pelo consenso entre os membros da sociedade, enaltecendo a eficácia
dos mecanismos sociais para garantir a assimilação de valores, a
cooperação, a socialização e o controle social. As bases teóricas são o
positivismo, o funcionalismo, o evolucionismo e o neoevolucionismo.
O consenso e a homogeneidade eram itens recorrentes na Augusto Comte.
constituição e funcionamento das organizações, apesar da consciência Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
sobre as diversidades trazidas pelos avanços tecnológicos e pela divisão Auguste_Comte
do trabalho, proporcionados pela sociedade industrial (CARVALHO;
SILVA, 2006). Émile Durkheim.
Já o paradigma de conflito se caracteriza por processos dissociativos Fonte: http://sociologiadaeducacaouff.blogspot.
que alteram as relações entre indivíduos e grupos, pela dominação
com/2014/03/ii-forum-emile-durkheim.html
de uma classe sobre outra, gerando desequilíbrio social, tensões e

27
 Sumário
O paradigma do consenso tem suas bases no positivismo, criado
por Auguste Comte, o qual sustenta “que os fenômenos apreendidos
mediante os sentidos, por isso denominados positivos, constituem a
fonte do conhecimento humano” (TEBCHERANI, 2001, p. 50).
Outra base teórica desse paradigma é o funcionalismo, tendo Émile
Durkheim como principal representante. A sociologia é, para Durkheim,
uma ciência independente das demais, tendo como objeto de estudo
os fatos sociais, definidos como as maneiras de pensar, sentir e agir
de um grupo social. Esse teórico postula que os fatos sociais devem
ser tratados como coisas e se caracterizam pela coercitividade, pela
exterioridade e pela generalidade.
Na perspectiva funcionalista, a sociedade se apresenta como
imenso corpo social, semelhante ao corpo humano, no qual cada órgão
possui uma função específica e depende dos outros órgãos: se cada
um funcionar bem, o corpo todo será saudável. Por analogia, cada
instituição (família, Estado, escola, igreja, clubes, sindicatos etc.) é como
um órgão do corpo, possuindo objetivos próprios diferentes entre si,
mas uma depende da outra para que a sociedade se desenvolva em
harmonia.
Essa interpretação do social recebe o nome de “funcionalismo”
porque ressalta que toda instituição possui uma função, e é na
especificidade das funções que as instituições se completam, compondo
o corpo social. Essa corrente teórica também defende que a moral
social é responsável por tornar a sociedade saudável, na medida em
que existem os valores ou ideias compartilhadas coletivamente, que
se convertem em leis morais e determinam o comportamento dos
indivíduos, que agem conforme a moral social de determinada época.
28
Quando os indivíduos agem fora dessas leis, são punidos por vários
meios: desde uma desconsideração até a exclusão do indivíduo do
convívio social.
Para o Funcionalismo, o Estado deve reelaborar e zelar pela ordem
moral, bem como organizar a sociedade por meio dos interesses
coletivos e sociais. Nesse caso, a função da moral social (consciência
coletiva) seria manter a ordem, porque, sem essas leis de convivência,
a vida em sociedade não seria possível. A moral social é o fator
preponderante que mantém o corpo social saudável.
Para Durkheim, a organização social só é possível mediante o consenso
ou a consciência coletiva, e a harmonia na sociedade inicia-se com a
solidariedade e com as regras morais estabelecidas pelos indivíduos, a
partir do momento em que existem valores compartilhados por todos.
Dessa concepção de organização social surgiu a denominada corrente
do equilíbrio, que preconiza a manutenção da ordem e a estabilidade
da sociedade (TEBCHERANI, 2001, p. 59).
Apesar de reconhecer a presença de problemas sociais, Durkheim
defende que a sociedade sob o capitalismo pode ser uma sociedade
perfeita. Ele acreditava que a base da sociedade capitalista não
precisava de mudanças; apesar de suas falhas, é boa e necessita realizar
apenas pequenas reformas. Por isso, Durkheim é conhecido como um
sociólogo conservador.
Para ele, a divisão do trabalho nas sociedades capitalistas
proporciona o aumento da solidariedade, pois as pessoas passariam a
necessitar cada vez mais umas das outras, em diferentes aspectos, não
só no econômico, gerando a cooperação. O funcionalismo considera a
integração o fenômeno social mais relevante, assim, a dependência dos
 Sumário

indivíduos uns dos outros é vista como uma garantia de estabilidade Paradigma do Conflito
social. Além disso, os valores morais são considerados a base da
ordem na sociedade, e a escola, o meio mais adequado para realizar a
educação moral.
Durkheim considera que a evolução da sociedade apresenta um
descompasso, em que a consciência coletiva não teria se adaptado a esse
novo Estado mais evoluído. Portanto, segundo esse autor, o problema
da sociedade é a existência de crise moral, sendo preciso criar novos
hábitos e comportamentos no homem moderno e perceber os aspectos
em que a moral está falhando para desenvolver um plano de ação no
qual a moral antiga fosse substituída por outra que oriente melhor a
conduta social dos indivíduos diante das mudanças da sociedade.
Uma das críticas que é feita com relação ao positivismo refere-se à
conservação e à preservação da ordem capitalista preconizada por essa Karl Marx. Fonte: https://www.infoescola.com/biografias/karl-marx/
teoria, desconsiderando o dinamismo e a evolução das sociedades.
O principal representante do paradigma do conflito é Karl Marx, que
considerava necessário haver uma transformação econômica, política
Leia o texto “O Pensamento Educacional de Émile Durkheim”
e social. Marx idealizou o comunismo e o socialismo na medida em
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/40/art18_40.pdf que propôs a derrubada da classe dominante (burguesia) por meio de
uma revolução do proletariado.
Marx considerava a divisão social do trabalho uma das formas
pelas quais se manifestavam as relações de exploração, antagonismo e
alienação: nas relações de exploração do trabalho humano, o homem
perde a posse do que produz, alienando-se do que produziu. Nesse
sentido, o homem deixa de ser referência de si mesmo, não escolhe
mais o salário ou o ritmo de trabalho, passando a ser comandado pelo
capitalista. Assim, para o indivíduo recuperar sua condição humana,

29

faz-se necessária uma crítica ao sistema econômico, político, à vida
social e à filosofia efetivada na práxis.
Você sabe o que é práxis?
Práxis é a ação política e transformadora da sociedade.
Falar de práxis “é dizer que toda a ação humana é
sempre carregada de teorias (explicações, justificativas,
intenções, previsões, etc.). Também toda teoria, como
expressão intelectual de ações humanas já realizadas ou
por realizar, resulta da prática” (ARANHA, 1998, p. 22).
O elemento principal da visão marxista é o trabalho, por meio do
qual os indivíduos estabelecem suas relações sociais, criam cultura,
determinam sua visão de mundo. O foco é a organização do trabalho, o
qual origina as classes sociais: os proprietários dos meios de produção
exploram os não proprietários, determinando a luta de classes na
sociedade capitalista e não a harmonia social.
Dessa maneira, Marx evidencia as desigualdades sociais reforçadas
pelo fato de os trabalhadores terem sido expropriados dos instrumentos
de trabalho e submetidos à dominação econômica. A sociedade o valor da força de trabalho do operário, ou seja, o salário, e o quanto
capitalista, no viés marxista, vê a força de trabalho como mercadoria esse trabalho rende a mais ao capitalista, ou seja, o valor excedente
que produz lucro para a classe burguesa.
Além disso, Marx discute a dominação cultural pela imposição de
valores, ideias, crenças da classe dominante sobre os trabalhadores
Sumário
por meio da ideologia, a qual é imposta de várias maneiras: pelos
meios de comunicação, pelas leis, pela educação, pelos jornais, pela
religião. Dessa forma, os trabalhadores, ao aceitarem os valores da
classe dominante como corretos, possibilitariam a manutenção do
processo de exploração que esta classe exerce sobre a sociedade.
A análise da sociedade capitalista segundo Marx é realizada sob uma
visão pessimista, centrada nos processos de exploração e dominação
da classe burguesa sobre a classe proletária.
Podemos considerar alguns aspectos principais do pensamento
marxista:
• os fatores econômicos são determinantes fundamentais da estrutura e da
mudança social;
• a história é a história da luta de classes, que é o motor da sociedade. As classes
se encontram em oposição com base na situação econômica;
• a ideologia caracteriza a cultura da sociedade de classes e está condicionada pelos
meios de produção, que controlam a difusão intelectual e também a educação.
Outro conceito fundamental da teoria marxista é a mais-valia. Existe
produzido pelo operário, que é a mais-valia.
30
 Sumário

O paradigma do conflito enfatiza os processos dissociativos da

Materialismo Histórico e Dialético sociedade, o estado de contradição e luta entre interesses e grupos
sociais como fator de transformação. Isso não significa que negue a
O método aplicado por Marx e que estabelece os pressupostos existência da integração das pessoas na sociedade, mas vê o consenso
de sua análise da sociedade é denominado de Materialismo Histórico como imposto pelo grupo dominante.
e Dialético. O marxismo é uma teoria materialista por centrar-se nas Considerando o conflito como conceito-chave, nesse paradigma, a
condições materiais da organização social, ou seja, a infraestrutura. sociedade apresenta-se como um jogo de forças antagônicas, ao invés
Segundo o materialismo histórico, a história do homem é a história da de um equilíbrio baseado na integração harmônica.
luta de classes; o motor da história é o antagonismo entre as classes O marxismo, aqui, representa então outro quadro teórico,
sociais. Existe um conflito constante entre as classes sociais por diametralmente oposto ao funcionalismo e demais teorias do consenso.
terem interesses opostos: enquanto uns são proprietários dos meios Podemos afirmar que, por ter suas bases na história, na crítica e na
de produção (classe burguesa), outros são expropriados, possuindo dialética, o marxismo se revela um trabalho teórico mais consistente.
apenas a força de trabalho, a qual vendem como mercadoria (classe
proletária). Além disso, a ideologia burguesa impõe determinadas
condutas e valores a toda a sociedade, reforçando a dominação
dessa classe sobre o proletariado, o que gera uma falsa consciência,
ou seja, reproduz-se a consciência da classe dominante ao invés da
tomada de consciência do proletariado sobre sua própria condição.
O método de Marx também é dialético porque baseia-se na
visão de que a sociedade é dinâmica, tudo nela se transforma,
tudo se relaciona dentro de uma visão de totalidade. Nada existe
isoladamente, pois todos os fenômenos estão relacionados. Assim,
as condições materiais da sociedade geram os padrões mentais e
culturais (superestrutura), o que explica o fato de a dominação da
classe burguesa não se resumir à estrutura de trabalho, mas também
interferir nas ideias e na consciência social.

31
 Sumário

Observe o quadro a seguir, que sintetiza as características mais SEÇÃO 5:

importantes dos dois paradigmas aqui apresentados: TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
Considerando os paradigmas do consenso e do conflito, a educação
CARACTERÍSTICAS CONSENSO CONFLITO pode ser estudada por meio de diferentes tendências pedagógicas, as quais
Um sistema de forças
surgem em determinado momento histórico e se modificam conforme a
Concepção de Uma unidade baseada evolução social.
em desequilíbrio e
sociedade na ordem moral A cada um dos paradigmas referem-se algumas tendências pedagógicas.
conflito permanente Isso evidencia que toda prática escolar contém, explícita ou implicitamente,
Consenso ideológico. pressupostos teóricos ou fundamentos científicos que irão dar suporte à
Base da coesão social Consenso espontâneo ação docente, a qual se dirige aos valores que a sociedade considera no
Força e poder
período de desenvolvimento social e político em que se encontra.
Ênfase Integração Conflito e mudança

Principal Aspectos normativos e Mudança social e Você sabe o que é “tendência pedagógica”?
preocupação formais da sociedade análise do poder
Tendência: disposição natural, propensão, inclinação.
Estabelecimento
Integração, manutenção Pedagógica: referente à educação, ao processo educativo.
Função da Educação e manutenção da
do consenso
dominação Tendência pedagógica: disposição, propensão, aspiração e esforço
no sentido de melhorar os resultados da prática escolar e da atuação
Fonte: a autora. concreta do processo educativo.

As tendências pedagógicas se referem a toda e qualquer orientação

de cunho filosófico e pedagógico que determina padrões e ações
educativas, ainda que nem sempre sejam precedidas de uma reflexão
e de uma intencionalidade mais concreta por parte do professor,
que pode ou não ser consciente dos pressupostos que balizam sua

32
 Sumário

prática educacional. As diferentes tendências pedagógicas podem

conceber a educação como instrumento de manutenção da ordem
social vigente ou podem atuar no sentido da transformação dessa
ordem social. Percebemos, assim, que a educação é analisada dentro
dos dois paradigmas anteriormente discutidos, sendo atribuídas a ela
diferentes funções.

Você sabe qual é a função da educação no paradigma do consenso?

E no paradigma do conflito?

PARADIGMA DO CONSENSO PARADIGMA DO CONFLITO

Educação Educação
Fonte: a autora
• Função social de evitar a • Instrumento de dominação e de
contradição dissimulação da dominação.
• Existente entre os interesses • Reprodutora das desigualdades
pessoais e sociais. sociais.
• Reproduzir valores morais da • Perpetuadora das diferenças de
sociedade. classe
• Elemento adaptador e
normalizador básico de integração
indivíduo e sociedade.

Fonte: a autora

Vejamos como as tendências pedagógicas, com visões e funções

diferentes para a educação, podem ser classificadas nos paradigmas
de consenso e de conflito. Fonte: a autora

33
 Sumário
Fonte: a autora
Tendências pedagógicas liberais conservadoras
As tendências aqui agrupadas, apesar de serem denominadas
liberais, não são tendências democráticas, mas sim conservadoras,
porque buscam a manutenção da sociedade capitalista, na medida
em que não questionam o modelo de sociedade e desconsideram
que as desigualdades sociais e educacionais entre os indivíduos
são decorrentes das relações de classe estabelecidas e do modo de
produção dominante no meio em que vivem.
Conforme essas tendências, é função da escola preparar os
indivíduos para desempenharem papéis sociais de acordo com suas
aptidões individuais. O indivíduo é visto como responsável pelo seu
sucesso ou fracasso pessoal e social.
34
Tendência liberal tradicional (Pedagogia Tradicional)
Fonte: https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/ensino-tradicional.jpg
A Pedagogia Tradicional baseia-se no princípio da educação como
direito de todos e dever do Estado. Essa concepção corresponde ao
tipo de sociedade no período da ascensão burguesa e aos interesses
dessa nova classe que se consolidava no poder. O objetivo, quando do
surgimento dessa perspectiva tradicional de educação, era consolidar
a democracia burguesa e construir uma sociedade democrática. Assim,
essa tendência guarda relações com o desenvolvimento do capitalismo.
Historicamente, para o alcance do objetivo proposto, era necessário
vencer a barreira da ignorância, buscando transformar os súditos em
cidadãos, isto é, indivíduos livres, que só alcançariam essa condição
por serem esclarecidos. A escola era vista como o instrumento para
equacionar o problema, ou seja, transformar os súditos em cidadãos,
 Sumário
devendo transmitir os conhecimentos acumulados pela sociedade e
sistematizados logicamente. A educação passou a ser vista como um
instrumento de equalização social.
A Pedagogia Tradicional valoriza a cultura geral e o ensino
humanístico e considera o indivíduo um receptor passivo, que deve
incorporar o maior número possível de informações para enriquecer
sua cultura individual e assim poder ser útil à sociedade.
Você pode perceber, portanto, que o principal objetivo da Pedagogia
Tradicional é transmitir ao aluno os saberes e valores relacionados a
determinadas matérias de estudo, cujos conteúdos são estabelecidos
pelas autoridades educacionais, tendo como fonte o acervo de
conhecimentos incorporados na cultura dominante.
A tendência tradicional baseia-se em um conceito abstrato de
homem que não corresponde a nenhum homem concreto. Parte do
pressuposto de que existe um modelo ideal de homem caracterizado
por determinadas virtudes morais, intelectuais e físicas. Dessa maneira,
concebe que o objetivo da educação é incutir nos alunos conhecimentos,
hábitos e valores compatíveis com esse modelo de homem ideal.
A escola tradicional possui o compromisso de preservar e
sistematizar a cultura e deve constituir-se num ambiente simplificado,
sem estímulos que desviem a atenção dos alunos. Outra característica
é o fato de desvincular-se do contexto a que pertence e dos problemas
sociais.
Além disso, a figura central da educação é o professor, responsável
por transmitir, por meio de aulas expositivas, os modelos aos alunos,
que passivamente deverão assimilá-los, desconsiderando as diferenças
individuais que possam apresentar. O professor assume uma postura
35
de disciplinador: deve ser severo, rigoroso, distante, objetivo e exigente
para desempenhar sua função de transmissor do conhecimento e
modelador dos alunos.
Sendo assim, o relacionamento em sala de aula é vertical, marcado
pelo autoritarismo do professor, que impõe uma disciplina rígida
aos alunos, exigindo silêncio, passividade, não permitindo qualquer
intervenção ou manifestação da classe.
A escola tradicional faz a separação entre o pensamento e a ação,
entre a teoria e a prática. A educação é vista como um produto, uma vez
que os modelos e metas a atingir são pré-estabelecidos, não havendo
ênfase no processo de ensino-aprendizagem. O ensino volta-se para a
quantidade e variedade dos conceitos adquiridos pela memorização, e
não há preocupação com a formação do processo reflexivo.
No que se refere à avaliação, a aprendizagem é constatada por meio
da exatidão das respostas, apresentadas mecanicamente, sob a forma
de exercícios e provas, nas quais o professor estabelece as respostas,
e o aluno deve reproduzir o que foi transmitido pelo professor, não
propiciando o pensamento divergente.
Enfatizam-se a retenção, a memorização, a atenção, a concentração,
o esforço e a disciplina para a apreensão do conhecimento.
Os valores norteadores da pedagogia tradicional são absolutos,
eternos e imutáveis; são formulações abstratas, genéricas, universais,
orientadas por uma cultural geral, sem considerar as diferenças
individuais dos alunos.
Paulo Freire caracteriza a educação tradicional como educação
bancária, fundamentada em depositar no aluno conhecimentos e fatos
que ele deve receber passivamente, armazenando-os para aplicar no
 Sumário

futuro. O importante é aprender para ajustar-se à sociedade, aplicando

aquele conhecimento adquirido na escola.
A tendência tradicional não conseguiu a universalização do ensino
como se objetivava, porque nem todos ingressavam na escola e mesmo
os que ingressavam nem sempre foram bem-sucedidos. Além do mais,
nem todos os bem-sucedidos se ajustavam ao tipo de sociedade que
se queria consolidar, o que reforçava a marginalização.
Embora essa tendência seja situada como pertencente ao passado,
encontramos ainda hoje uma educação nesses moldes em algumas
escolas e na prática de alguns professores.
As críticas a essa abordagem surgem diante da impossibilidade
de se continuar pensando em modelos prontos em um mundo em
transformação. Na era do conhecimento, o homem precisa aprender
conhecimentos flexíveis e não fixar conteúdos predeterminados
desvinculados da realidade.
A pedagogia tradicional, intelectualista, a qual modelava os homens
para o regime democrático, não satisfaz. A burguesia, desiludida com Fonte: a autora
esse modelo de escola pública, universal e gratuita, não se mostra capaz
de redimir os males do mundo, além de não conseguir a universalização
do ensino nem a solução dos problemas sociais típicos da sociedade
capitalista, reforçando a exclusão e a marginalidade. A razão do fracasso
foi atribuída ao tipo de escola, que precisaria ser reformulado.

36
 Sumário

Pedagogia liberal renovada (Escola Nova) ativo e diferenciado, o qual vive e interage com um mundo dinâmico.
Ganhavam impulso as tendências psicológicas.
Um dos principais referenciais de pensamento para a Escola
Nova remonta ao século XVIII: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
propôs uma verdadeira revolução educacional, colocando a criança
no centro do processo pedagógico. Essa mudança no pensamento
sobre a educação influenciou Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827)
e Friedrich Froebel (1782-1852). Destaca-se também a influência de
William James (1842-1910), John Dewey (1859-1952) e William Heard
Kilpatrick (1871-1965) nos Estados Unidos. Na Europa, os nomes mais
influentes foram Ovide Decroly (1871-1932), Maria Montessori (1870-
1952), Célestin Freinet (1896-1966), Édouard Claparède (1873-1940),
entre outros.
No Brasil, o movimento da Escola Nova começou no século XX,
Fonte: https://lideraassessments.com.br/wp-content/uploads/2018/05/PBL_table-1024x512.jpg por volta de 1930, com diversas reformas no ensino. Em 1932, com o
Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, as ideias escolanovistas foram
Muitas mudanças sociais, descobertas científicas e progresso expressas mais claramente e se disseminaram na sociedade brasileira.
tecnológico, além da contribuição das Ciências Humanas, em especial Essa tendência pedagógica parte de outra concepção de homem,
a Sociologia e a Psicologia, contribuíram para uma nova maneira de considerado um ser em contínua interação com o meio, de natureza
pensar e organizar a educação escolar. mutável, maleável, determinada pelo processo humano de ajustamento
A Nova Pedagogia inicia-se por efetuar uma crítica à Pedagogia social. Além disso, entende-se que o mundo não é estático, mas está
Tradicional, considerada ineficiente. Surge um movimento que ficou em constante transformação, inclusive pelos avanços científicos e
conhecido sob o nome de Escolanovismo. Essa tendência pedagógica visa tecnológicos; a realidade é concebida como resultado da interação
adequar a escola às mudanças na sociedade e às novas realidades sociais. do homem com o ambiente em que está inserido. A Pedagogia Nova
O surgimento da Escola Nova no final do século XIX foi uma tentativa também entende que os valores que norteiam os comportamentos
de superar a pedagogia da essência pela pedagogia da existência, são criados pelos grupos sociais e pelos indivíduos e também são
voltando-se para a problemática do indivíduo, considerado único, modificados constantemente.

37
 Sumário
A Escola Nova coloca a criança no centro do processo educativo,
percebendo a aprendizagem como uma atividade de descoberta,
autoaprendizagem, na qual o ambiente é apenas um meio estimulador.
Defende-se que o ensino deve possibilitar ao aluno entender a
realidade global, sendo consideradas as individualidades, ressaltando
os diferentes ritmos, respeitando a aptidão de cada um no
desenvolvimento das atividades. Valorizam-se a observação, a análise,
a reflexão e a criatividade, os quais devem ser desenvolvidos nos alunos
pelos métodos ativos. O corpo também é valorizado nas atividades de
Educação Física, bem como no desenvolvimento da motricidade.
O professor, nesse viés, assume o papel de estimulador e
facilitador da aprendizagem, colaborando para o desenvolvimento
da personalidade do aluno, sem conduzi-lo, mas estimulando os
interesses, despertando as necessidades morais e intelectuais das
crianças. A principal virtude do professor deve ser o entusiasmo.
Surge a correlação entre interesse e necessidade no ensino, assim o
aluno decide o que quer aprender. Coordenar o ensino às necessidades
dos alunos é visto como um meio de torná-lo interessante, não sendo
necessários modelos educativos, mas atribuindo importância aos
fatores motivacionais.
Nessa tendência pedagógica, o conhecimento capaz de influenciar
significativamente o aluno deve ter o caráter de conquista pessoal,
algo que requer atividade, participação e energia do aluno. A melhor
maneira de adaptar e preparar a criança para a vida em sociedade
seria fazer com que, em lugar de acumular conhecimentos, ela aprenda
como eles são criados. A ênfase não está no acúmulo de informações,
38
mas nas formas e métodos que possibilitam chegar a elas. Assim, o
diretivismo é substituído pelo não diretivismo na aprendizagem.
A concepção de escola é a de uma sociedade em miniatura,
porque reflete e reproduz os princípios fundamentais da vida social,
trabalhando numa perspectiva de reprodução dos valores do mundo
adulto, pressupondo uma identidade com os valores da criança.
A educação da Escola Nova, por sua vez, possui como pressuposto
político que, ao reproduzir uma sociedade democrática no seio da
escola, isso levará a criança a sentimentos comunitários, formando-a
para a democracia. Daí a valorização do trabalho em grupo, o qual
levaria à vivência comunitária, superando o egoísmo e trabalhando
para uma obra comum.
Como a Escola Nova destaca a sociedade sempre em mudança,
defende que é preciso educar para o improvável, sendo necessário
preparar para a autonomia. Pelo afrouxamento das normas, busca-se
a noção de responsabilidade, a capacidade crítica e o estabelecimento
de uma disciplina voluntária.
Dewey foi um dos maiores defensores da integração escola-
sociedade, justificando que o trabalho escolar deve levar à compreensão
do mundo e ao cumprimento dos deveres da cidadania, conduzindo a
transformações sociais.
Ocorre, ainda, uma reformulação na organização escolar. Os alunos
são agrupados segundo as áreas de interesse em lugar de classes pré-
determinadas, valorizam-se as atividades livres, os trabalhos em grupos,
a dinâmica, o debate e outras técnicas que incentivem a experiência, a
prática de aprender fazendo.
 Sumário

Escola Nova contribui para uma elitização do ensino pela ênfase dada
à exigência de escolas aparelhadas e a professores qualificados; fez a
escola pública se colocar em posição inferiorizada, impossibilitada de
introduzir as novidades didáticas. A escola pública sofre um decréscimo
na qualidade de ensino.
Assim, ao invés de promover a democracia, essa tendência
pedagógica concorre para o agravamento da marginalização das
camadas populares da sociedade, tornando a educação mais elitista.
Em contrapartida, aprimora a qualidade do ensino destinado às elites.
A Escola Nova implica em custos muito altos (exige espaços livres,
laboratórios, oficinas, muitos equipamentos) e com isso organizou-
se basicamente na forma de escolas experimentais ou como núcleos
raros, muito bem equipados, mas restritos a pequenos grupos de elite.
Fonte: http://www.rafaelaraujo.com.br/editorial/revista-nova-escola/
No Brasil, ainda se evidencia essa tendência. Entretanto, muitas
vezes é mal interpretada, o que acaba ocasionando uma espécie de
A Pedagogia Nova preconiza um ambiente escolar estimulante, laissez-faire por parte do professor em nome do respeito à liberdade
assumindo um ar alegre, colorido, dinâmico, com variedade de do aluno.
materiais didáticos, superando aquele aspecto sombrio, disciplinador Como a educação não redimiu os males da sociedade como se
e silencioso da Pedagogia Tradicional. preconizava, outra tendência emergiu no Brasil nas décadas de 1960
O objetivo da escola passa a ser ensinar o aluno a pesquisar para e 1970, impulsionada pelas relações do governo militar brasileiro com
que possa criar conhecimentos em lugar de recebê-los prontos. os Estados Unidos, sendo conhecida como tendência liberal tecnicista
A avaliação é compreendida como um processo válido para o ou Pedagogia Tecnicista.
próprio aluno e por isso constitui uma das etapas da aprendizagem,
não visando apenas a aspectos intelectuais, mas também as atitudes e
a aquisição de habilidades.
Embora de maneira dissimulada, é importante observar que o
objetivo é adaptar o indivíduo à sociedade para não transformá-la. A

39
 Sumário
Tendência liberal tecnicista (Pedagogia Tecnicista)
Fonte: https://i.ytimg.com/vi/gTR1x4O54Qk/maxresdefault.jpg
Muitas são as críticas à educação tradicional e à Escola Nova. A
partir da década de 1960, surgem propostas de inspiração tecnicista,
baseadas na convicção de que a escola só se tornaria mais eficaz se
adotasse o modelo empresarial. Isso significa inserir a escola no modelo
de racionalização e produtividade típica do sistema de produção
capitalista.
Incorporam-se à educação os resultados do processo de trabalho
parcelado levado a efeito por Frederick Taylor (1856-1915), o qual
estabelece os parâmetros de um modelo científico de racionalização
da produção conhecido como taylorismo. Esse modelo empresarial
40
visa ao aumento da produtividade por meio da divisão de tarefas,
da economia de tempo e da supressão de gestos e comportamentos
desnecessários no interior do processo produtivo.
Esse sistema foi implantado nos Estados Unidos e extrapolou o
domínio das fábricas, atingindo outros tipos de empresas, os esportes,
a medicina e a escola. Aplicada à educação, essa lógica promove a
busca pela racionalidade e pela eficiência no processo educacional,
princípios básicos para o planejamento e a organização racional do
trabalho pedagógico.
A tendência tecnicista é influenciada pelo positivismo e procura
reduzir as interferências subjetivas que possam colocar em risco a
eficiência do que é proposto. Também recebe influência do behaviorismo
na ideia de condicionar, por meio de estímulos adequados, o processo
de aprendizagem dos alunos.
Dessa maneira, o ensino e a aprendizagem são mecanizados,
estabelecendo os objetivos que devem ser alcançados. Além disso, as
exigências da sociedade industrial servem de molde para a escola, a
qual também deve utilizar-se da tecnologia no processo de ensino e
aprendizagem. A função da escola passou a ser preparar os “recursos
humanos”, ou seja, qualificar a mão de obra para a indústria.
Pretende-se uma objetivação do trabalho pedagógico. O planejamento
deve estabelecer objetivos instrucionais e operacionais a serem atingidos,
com uma sequência lógica visando as metas previamente estabelecidas.
Os comportamentos são mensurados e avaliados.
Elimina-se a liberdade de o aluno criar, pois ele deve ficar restrito a
responder de maneira objetiva o que for solicitado, para atingir as metas.
A eficiência da educação é garantida pela organização do processo,
compensando e corrigindo possíveis deficiências do professor.
 Sumário
No modelo tecnicista, tanto o professor como os alunos assumem
papéis secundários, porque são considerados executores do processo,
o qual é bem organizado (planejamento, controle, supervisão) sob
a responsabilidade de especialistas. Como decorrência, a relação de
professor e aluno não possui afetividade e não ocorrem debates, pois
a postura do professor é a de um técnico que transmite conhecimento
técnico e objetivo utilizando recursos tecnológicos. O professor é visto
como um instrutor e cabe a ele treinar o aluno para realizar com êxito
uma tarefa qualquer. O aluno, por sua vez, deve reagir aos estímulos
que lhe são determinados.
Constata-se a padronização do sistema de ensino por meio do
planejamento bem elaborado, que deve se ajustar às diferentes
modalidades de disciplinas e práticas pedagógicas. O elemento
principal é a organização racional dos meios. A escola tecnicista deve
oferecer um eficiente treinamento para a execução das múltiplas
tarefas demandadas continuamente pelo sistema social. A educação é
concebida como um subsistema, no qual o funcionamento eficiente é
essencial ao equilíbrio do sistema social de que faz parte.
Na tendência tecnicista, os teóricos e técnicos americanos passam a
influenciar os países latino-americanos em vias de desenvolvimento. No
Brasil, essa tendência foi impulsionada pelas autoridades educacionais do
governo, principalmente durante os anos do regime militar. Após o golpe
de 1964, foram feitos muitos acordos entre os Estados Unidos e o Brasil.
O acordo MEC-USAID veio a público em 1966. Por meio dele, o
Brasil recebia dos Estados Unidos assistência técnica e cooperação
financeira para a implantação da reforma educacional, o que resultou
nas leis 5540/1968, voltada ao Ensino Superior, e 5692/1971, referente
41
ao ensino de 1º e 2º graus.
Houve uma proliferação de procedimentos didáticos baseados nos
objetivos operacionais, como a instrução programada, os testes e as provas
objetivas, as aulas de microensino, o tele-ensino, as máquinas de ensinar.
No Brasil, não ocorreu uma plena implantação, porque muitos
professores estavam imbuídos da tendência tradicional e da Escola
Nova, entretanto tiveram que adotar muitas imposições surgidas em
decorrência de decretos-leis.
Intensificou-se a burocracia; os professores afogaram-se em papéis
para o detalhamento dos objetivos; as funções do professor foram
inferiorizadas, restringindo-o, juntamente com os alunos, a mero
executor de ordens.
Ao tentar transpor a forma de funcionamento empresarial à escola,
perdeu-se a especificidade da educação, ignorando que a articulação
entre escola e processo produtivo se dá de modo indireto e por meio
de mediações complexas.
A pedagogia tecnicista contribuiu para aumentar o caos no campo
educativo, gerando descontinuidade, heterogeneidade, fragmentação,
o que praticamente inviabiliza o trabalho pedagógico. Assim, aumentou
a fragilidade da educação brasileira, com altos índices de evasão e de
repetência que contribuíram para a elitização do ensino.
Essa tendência, baseada num ideal tecnocrático, oculta, sob uma
pretensa neutralidade técnica, uma atividade apolítica.
As tendências apresentadas até aqui não questionam o sistema
capitalista nem as desigualdades sociais, considerando a educação
como a principal via de mudanças sociais.
 Sumário
A seguir serão enfatizadas as teorias que questionam o modelo
socioeconômico capitalista e denunciam a educação como instrumento
de perpetuação desse sistema.
Tendências pedagógicas crítico-reprodutivistas
Fonte: https://i.pinimg.com/736x/10/dc/9f/10dc9fc6414cec9428778dd95de90310.jpg
As crescentes dificuldades políticas, econômicas e sociais não
resolvidas pela proposta das tendências pedagógicas conservadoras
propiciaram o surgimento de tendências relacionadas ao paradigma
do conflito.
42
Paralelamente ao predomínio da tendência tecnicista que emerge no
Brasil na década de 1970, surge um conjunto de estudos agrupados sob a
terminologia de “tendência crítico-reprodutivista”, segundo os quais não é
possível conhecer a educação senão pelos seus condicionamentos sociais.
Os estudiosos vinculados a essas teorias chegam à conclusão de que a função
da educação é a reprodução da sociedade.
Embora a escola, em sua origem, tivesse uma função equalizadora, acaba
se evidenciando cada vez mais dominadora e repressiva. Dessa maneira,
evidencia-se a dependência da educação em relação à sociedade. Os
teóricos dessa linha consideram que o sistema educacional tem a função de
legitimar as desigualdades sociais, reproduzir a ideologia cultural da classe
dominante, perpetuando o status quo e tornando a escola uma instituição
altamente discriminadora e repressiva.
Dessa forma, essas teorias denunciam o caráter reprodutivista da
educação e postulam a dependência da escola em relação aos seus
condicionantes sociais, políticos e econômicos: a função da educação escolar
acaba sendo reproduzir e reforçar as condições de desigualdade e a divisão
em classes sociais, marginalizando as classes mais humildes. Portanto, nessa
abordagem, entende-se que a educação não busca a democratização da
sociedade, mas reforça o modo de produção capitalista.
Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica
Dois representantes dessa teoria são Pierre Bourdieu (1930-2002) e Jean
Claude Passeron (1930-), que escreveram o livro “A Reprodução: elementos
para uma teoria do sistema de ensino”, no qual registram a violência simbólica
exercida na escola por meio da comunicação, da cultura, da linguagem,
legitimando a dominação de uma classe sobre as demais.

Pierre Bourdieu
Fonte: http://teoriasociologicadois.
blogspot.com/2017/10/bourdieu-e-
complexidade-social.html
Fonte: https://images-submarino.b2w.io/
produtos/imagens/6795930/6795931_1GG.jpg
Sumário
Jean ClaudePasseron
Fonte: http://passeron123.blogspot.
com/2011/06/sua-biografia.html
43
Essa teoria não trata de uma análise da educação como fato social,
mas da explicitação das condições lógicas de possibilidade de toda e
qualquer educação para toda e qualquer sociedade de toda e qualquer
época ou lugar.
Advoga-se que toda sociedade se estrutura como um sistema de
relações de força material entre grupos e classes. A dominação social
tem por fundamento um sistema de força gerador da violência material
(dominação física, econômica) que os grupos dominantes aplicam
sobre os dominados.
Ao lado da violência material, o mecanismo de dominação
social utiliza-se também da violência simbólica (dominação cultural-
ideológica), que tem a função de dissimular a exploração social, ao
mesmo tempo em que lhe reforça a potência.
Esses autores desfazem a ideia de que a educação é neutra e não
está a serviço de nenhuma classe social. Além disso, desconstroem a
noção de autonomia absoluta do sistema escolar, argumentando que,
ao contrário, a escola se constitui em uma instituição a serviço das
classes dominantes. A escola não está separada do contexto social,
mas sim em total dependência em relação à sociedade, marcando os
indivíduos submetidos à educação de maneira inevitável e irreversível.
O que é violência simbólica?
Consiste em diferentes canais pelo quais se difunde a cultura dominante.
Por exemplo: meios de comunicação de massa, pregação religiosa,
atividades artísticas e literárias, propaganda, moda, educação familiar e
sistema de ensino. O exercício da violência e da dominação se dá mediante
as forças simbólicas, por meio da persuasão das ideias transmitidas.
 Sumário
Os sistemas simbólicos em geral e a cultura são considerados
instrumentos de poder e legitimação da ordem vigente. Essa teoria
explica que se inculca habitus na criança, inicialmente pela família e
depois pela escola; os indivíduos interiorizam as normas e formas de
proceder da classe social a que pertencem. Assim, enquanto as crianças
das classes privilegiadas recebem uma educação similar à que será
oferecida nas escolas, as crianças das classes desfavorecidas possuem
um universo cultural diferente e expressam-se de maneira distinta,
o que provoca uma descontinuidade entre o ambiente familiar e o
ambiente escolar, contribuindo para o insucesso destes estudantes.
O que é habitus?
É uma formação durável e transportável; um conjunto
de esquemas comuns de pensamento, de percepção, de
apreciação e de ação.
Os autores afirmam que a ação pedagógica institucionalizada ou
sistema escolar surge como imposição arbitrária da cultura dos grupos
ou classes dominantes aos grupos ou classes dominadas. Essa ação
pedagógica implica necessariamente na autoridade pedagógica como
um poder arbitrário legitimado, que aplica sanções obrigando ao
reconhecimento da legitimidade da cultura imposta. A ação educativa
se exerce pela autoridade pedagógica que se realiza por meio do
próprio trabalho pedagógico, visto como um trabalho de inculcação
que permite a formação durável.
44
A eficácia da ação pedagógica é garantida pela existência de um
sistema de ensino institucionalizado, burocratizado, o que se pode
constatar pelas avaliações, aparentemente neutras, as quais excluem
os menos dotados, dissimulando os laços existentes entre o sistema
escolar e a estrutura das relações de classe, desconsiderando, portanto,
o capital cultural diferente que cada um traz para a escola.
O que é capital cultural?
Capital cultural refere-se à competência cultural
e linguística socialmente herdada e que facilita o
desempenho na escola. Esse conceito é usado num sentido
paralelo ao dos bens econômicos, que são produzidos,
distribuídos e consumidos pelos indivíduos. O capital
cultural não é distribuído equitativamente entre os
grupos e as classes sociais, de modo que as possibilidades
de sucesso na escola são também desiguais.
O currículo escolar enfatiza a adestração, o formalismo, a palavra
oral e escrita, limitando as possibilidades dos estudantes. Aqueles
que possuem uma grande quantidade de capital cultural são bem
sucedidos. Mas, caso contrário, os estudantes encontrarão barreiras e
dificuldades devido à descontinuidade entre a escola e o seu background
(conhecimentos/ experiências).
O trabalho pedagógico valorizado pela sociedade, nessa perspectiva,
é aquele que reconhece a pretensa universalidade dos valores da cultura
 Sumário

dominante. A escola utiliza a meritocracia para justificar a perpetuação Teoria da Escola enquanto Aparelho Ideológico do Estado
da desigualdade social.
A educação longe de ser um fator de superação da marginalidade, O autor da teoria da escola enquanto Aparelho Ideológico do Estado
constitui um elemento que a reforça. A ideia de que a educação é Louis Althusser (1918-1990). Ele critica a educação na sociedade
contribui para superar a marginalidade é uma ilusão, para dissimular e capitalista analisando a escolaridade não como uma função isolada,
também cumprir eficazmente sua função de marginalização derivada mas inserida num contexto global.
da reprodução social exercida pela escola. A função da educação
é reproduzir as desigualdades sociais e, pela reprodução cultural, a Louis Althusser é o autor
educação promove a reprodução social, reforçando a marginalidade e da teoria da Escola
a discriminação.
enquanto Aparelho
A instituição escolar exerce a violência simbólica na medida em
que reproduz culturalmente os conhecimentos e valores necessários à Ideológico do Estado.
transmissão social das desigualdades e injustiças.
Nessa perspectiva, a escola é considerada como uma agência
especializada em promover a inculcação ideológica, contribuindo para
preservar as estruturas do poder e a opressão social.
A escola, sob a aparência de neutralidade, dissimula uma violência
simbólica, reproduzindo os privilégios já existentes na sociedade
favorecendo os já socialmente favorecidos. A escola não promove Fonte: https://bloglavrapalavra.files.wordpress.
a democratização e a ascensão social, mas reafirma os privilégios já com/2018/03/imagenes_althusser_825a5e92.jpg?w=640
existentes, impõe uma cultura de classe dominante sobre a classe
dominada. Sendo assim, a ação pedagógica é a inculcação dos modos
de pensar, agir e sentir de um determinado grupo.

Fonte: https://images-na.ssl-images-amazon.com/
images/I/51N4bkrfk-L._SX333_BO1,204,203,200_.jpg

45

Althusser parte do princípio demonstrado por Marx de que toda
produção precisa assegurar a reprodução das suas condições materiais.
Assim, através do sistema escolar capitalista e de outras instituições, é
feita a reprodução qualificada (diversificada) da força de trabalho.
Entende-se que a escola é o instrumento mais acabado e significativo
da reprodução das relações de produção capitalista, construído pela
burguesia para garantir e perpetuar seus interesses; ao mesmo tempo,
a escola ensina e reproduz a ideologia dominante, contribuindo para a
formação da força de trabalho e para a inculcação da ideologia burguesa.
Segundo a teoria de Althusser, o Estado é o instrumento de repressão
que assegura a dominação de uma classe sobre a outra com o intuito
de preservar o poder das classes dominantes na sociedade capitalista,
sendo composto por dois aparelhos:
- Aparelho repressivo: compreende o governo, a administração, o classes, por constituir-se em uma verdade parcial de um grupo ou de
exército, a polícia, os tribunais. Utilizam-se da força pela violência e uma classe. A ideologia decorre de um posicionamento da consciência
por isso recebem o nome de repressivos.
- Aparelho ideológico: esse conceito abrange uma pluralidade de
instituições distintas e especializadas pertencentes ao domínio privado
e que funcionam não predominantemente pela repressão (violência),
mas pela ideologia.
Sumário
O que é ideologia?
Ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações
e de normas ou regras de conduta que indicam e prescrevem aos
membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar,
o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como
devem fazer, ou seja, ela consiste num corpo explicativo e prático, cuja
função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma
explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais,
ocultando a real causa dessas diferenças.
A ideologia é um fenômeno típico das sociedades divididas em
diante da realidade social.
Ideologia tem existência material. Ela existe sempre radicada em
práticas materiais reguladas por rituais materiais definidos por
instituições materiais. A ideologia se materializa em aparelhos, os
Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE).
Althusser classifica os Aparelhos Ideológicos de Estado em religioso,
familiar, jurídico, político, sindical, de informação, da cultura, escolar.
Entre os AIE, a escola desempenha um papel dominante. Ela não
possibilita chances iguais a todos e determina de antemão a reprodução
46
 Sumário

da divisão das classes sociais. Assim, a escola é vista como um eficiente Christian Establet e Roger Baudelot
veículo de inculcação ideológica que serve à classe dominante, ou seja,
reproduz, no plano cultural, os conhecimentos, as normas e os valores
que contribuem para a continuidade das relações sociais exploradoras.
Portanto, a escola é um mecanismo construído pela burguesia para
garantir e perpetuar seus interesses. Ao contrário do que é preconizado,
a escola não é um instrumento de equalização social.
Apesar dessa constatação, Althusser (diferente de Bourdieu e
Passeron) reconhece que a escola pode criar uma contraideologia (da
classe dominada) para escapar do controle das classes dominantes, na
medida em que, conscientes, professores e alunos se rebelem contra a
ideologia dominante, utilizando como instrumentos a reflexão, a crítica
e o saber.
Entretanto, embora reconheça essa possibilidade, o teórico a encara
como difícil de obter êxito. Fonte: https://voxeurop.eu/files/images/author/Christian-
Baudelot-Roger-Establet_0.JPG?1254222241

Teoria da Escola Dualista

A teoria da Escola Dualista foi elaborada por Roger Establet (1938-) e

Christian Baudelot (1938-) e sistematizada no livro “A escola capitalista
na França” (1971).

Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/
images?q=tbn:ANd9GcTCzeyykFV7CH-
TKqKnDrKcSvE1xaoK_vfu-J75TyTxyoTx4aQrSQ&s

47
 Sumário
Para os autores, vivemos em uma sociedade dividida em classes,
de modo que não é possível haver uma escola única. Assim, para eles
existem duas escolas radicalmente diferentes quanto ao tempo de
escolaridade, aos itinerários e aos fins da educação.
Essas duas escolas não são apenas diferentes, mas opostas,
heterogêneas, antagonistas, uma vez que o sistema educacional é um
aparelho ideológico da burguesia a serviço de seus interesses.
Nessa visão, existem duas redes de escolaridade: Secundário
Superior (SS) e Primário Profissional (PP), que correspondem à divisão
da sociedade em burguesia e proletariado.
A rede Primária Profissional tem por base as séries finais dos estudos
primários com continuidade nas aulas práticas, nos colégios técnicos
e na aprendizagem no próprio local de trabalho. Já a rede Secundária
Superior tem base no segundo ciclo e conduz ao nível superior.
A divisão dessas duas redes não ocorre no fim da escolarização,
como se poderia supor, mas desde o começo: os filhos dos proletários
estão destinados a não atingir níveis superiores, encaminhando-se
para atividades manuais. A escola primária decide a orientação dos
indivíduos para uma ou outra rede. Sendo assim, ela tem a função de
reprodução das divisões sociais já existentes.
Nesse ponto de vista, a escola reafirma a divisão entre trabalho
intelectual (rede SS) e trabalho manual (rede PP), já que nessa dicotomia
repousa a possibilidade material da manutenção da estrutura, sendo
que a classe empresarial se escolariza para perpetuar-se na condição
de classe dirigente; mas, na prática, essas duas formas de escolarização
coexistem de maneira dissimulada.
Pela teoria da Escola Dualista, uma função básica da escola é a
48
formação de força de trabalho. Para conseguir conter a força ativa do
proletariado com relação aos interesses da classe dominante, além de
disfarçar e recalcar a nascente ideologia do proletariado, a escola possui
também a função da inculcação da ideologia burguesa, pois Establet e
Baudelot constatam que o proletariado possui uma ideologia, a qual
se origina fora da escola, nas diversas organizações de operários.
Aescolaseapresentacomoúnica,universal,oferecendooportunidades
a todos. Essa aparência mascarada se alicerça na ideologia.
Establet e Baudelot reafirmam a ideia de Marx sobre a escola como
instituição reprodutora da ideologia, que serve aos interesses da classe
dominante apresentando-os como se fossem de todos.
Nesse contexto, a escola reproduz os valores, as ideias, a cultura, o
mundo da classe empresarial como sendo a única possibilidade.
Os autores denunciaram que a escola sutilmente, através de sua
linguagem identificada com a da classe dominante, marginaliza a criança
pobre e procura desmistificar a ideia que atribui à própria criança e a sua
família as causas do fracasso na escola. Ainda, o professor, a partir do
eixo recompensa-punição, encontra meios para controlar seus alunos,
inibindo os que possuem valores sociais diferentes dos encontrados na
escola, e favorece o aparecimento do aluno-padrão (submisso).
A escola qualifica o trabalho intelectual e desqualifica o trabalho
manual, sujeitando o proletariado à ideologia burguesa.
Para os autores, descarta-se a ideia de a escola se constituir em um
instrumento de luta do proletariado.
É muito importante a análise desses autores para a compreensão
dos mecanismos da escola dentro de uma sociedade dividida em
classes. Mas o radicalismo dessa crítica leva a um pessimismo imobilista,
 Sumário

na medida em que a escola é considerada mera reprodutora das A pedagogia progressista constitui-se em um instrumento de luta
desigualdades sociais. Surge, assim, uma situação de impotência, em do professor ao lado de outras práticas sociais dentro da sociedade
que não parece haver alternativas a não ser por uma revolução social. capitalista.
Essas teorias progressistas têm como objetivo central conceber
Essas teorias elaboram a crítica do sistema de ensino nas sociedades criticamente a educação e a escola na sociedade capitalista, buscando
capitalistas, mas não apresentam proposta pedagógica efetiva para perceber de que forma a educação e a escola podem ajudar no
impedir que a escola seja um instrumento de reprodução cultural a processo de superação das desigualdades sociais, contribuindo para a
serviço das classes dominantes. Não oferecem saída para a formulação construção de uma nova sociedade. A função da educação consiste em
de uma pedagogia comprometida com os interesses populares, elevar o nível de consciência do aluno a respeito da realidade social
empenhada na luta pelo fim da injustiça e da exploração social. que o cerca, capacitando-o a atuar no sentido de sua emancipação
social, política, econômica e cultural.
Tendências progressistas

Dentro do contexto criado pelas teorias crítico-reprodutivistas,

surgem as teorias progressistas, na busca por outros caminhos a partir
de uma nova concepção de educação, de homem e de sociedade.
O termo “progressista”, empregado por Georges Snyders (1917-
2011), designa as tendências que, partindo de uma análise crítica
das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades
sociopolíticas da educação.
As tendências progressistas não consideram que a educação é uma
forma de adaptar o indivíduo ao meio social ou de apenas reproduzir
as desigualdades sociais, mas a concebem como instrumento
de transformação social. Dessa forma, a educação relaciona-se
dialeticamente com a sociedade, apesar de sua vinculação aos Fonte: https://i.ytimg.com/vi/WQ2KvkJ84AU/hqdefault.jpg
determinantes histórico-sociais.

49
 Sumário
Para a construção de uma nova pedagogia social e crítica é necessária
a tomada de consciência quanto às relações de opressão da sociedade,
para que se direcionem as novas formas de ação pedagógica.
O que se pretende é possibilitar cada vez mais o acesso das
camadas populares à educação, mesmo reconhecendo os limites do
empreendimento. É preciso tornar a escola o local da socialização
do conhecimento elaborado. A escola integra o todo social, aparece
como um elemento de continuidade, mas também de ruptura, local
onde é possível conviver com as contradições sociais e problematizar
a realidade.
Partindo-se das condições existentes, é possível garantir um trabalho
transformador não só em nível escolar, mas em sentido amplo, dirigido
à transformação da sociedade.
A escola figura como espaço específico onde se dá a apropriação/
desapropriação/reapropriação do saber, residindo aí o principal motivo
para o processo de sua revalorização (socialização do conhecimento
elaborado). A decisão sobre o que fazer e o que saber está na
dependência das necessidades sociais vividas, de modo que a prática
deve estar inserida na prática social global. Só assim existe o potencial
de superação das dicotomias teoria/prática, trabalho intelectual/
trabalho manual, ou seja, partindo do homem concreto como conjunto
das relações sociais.
Por acreditar na possibilidade do progresso histórico, social,
humano, no qual o trabalho coletivo é a alavanca básica, essa linha
educativa recebe o nome de progressista. A educação progressista
quer formar o homem pelo e para o trabalho, em oposição à aquisição
de uma cultura supérflua, como propunha a educação tradicional.
50
O trabalho deve ser integrado à escola, como atividade existencial
humana fundamental, pois o homem, ao trabalhar, transforma a
natureza e a si mesmo. O que interessa não é a preparação de mão de
obra qualificada, mas que o aluno consiga compreender o processo do
fazer em todas as técnicas (politecnia).
O aluno é considerado um ser ativo que trabalha a partir de
conteúdos significativos constantemente reavaliados. São utilizados
modelos pedagógicos, mas que tenham relação direta com os alunos.
Nas tendências progressistas, o saber é necessário para as classes
trabalhadoras, porque só ele clarifica a respeito do mundo físico e
social. Assim, devem ser transmitidos os conteúdos necessários para se
atingir a consciência crítica sobre as práticas sociais por meio das quais
o mundo é construído. Para isso, todos devem ter iguais oportunidades
de acesso ao saber acumulado pelas gerações.
A disciplina surge como resultado geral de todo o trabalho educativo
e assume papel importante no processo de formação do aluno.
Uma pedagogia que valorize o saber socialmente significativo tem
que promover o confronto entre a experiência do aluno e os conteúdos
cuja apreensão é necessário garantir. Isso só ocorre mediante a
intervenção crítica do professor.
O professor não deve apenas satisfazer as necessidades ou disciplinar
os estudos, mas propor conteúdos compatíveis com experiências
vividas, para que o aluno se mobilize para uma participação ativa. O
professor precisa estar capacitado para o exercício de suas funções
educativas, assumir uma atitude séria, simples, porque o exemplo é
um dos melhores métodos educativos.
 Sumário
Dá-se grande importância à formação do professor e à sua
conscientização a respeito da educação como prática social
transformadora. Para isso, deve-se aliar competência técnica e
compromisso político que norteiem o professor nas escolhas das
prioridades em educação.
Os teóricos progressistas não querem criar uma postura idealista
de ver na escola a solução para os problemas sociais, mas criar a
necessidade de lutar por uma escola mais crítica integrada socialmente.
As propostas progressistas orientam-se não só para a democratização
das oportunidades de ensino, mas também supõem que o próprio
trabalho na escola não seja autoritário. Assim, o professor deve partir
de onde o aluno se encontra, cuidando para não desmerecer a visão
de mundo e as necessidades fundamentais do aluno.
Para a escola cumprir sua tarefa nesse processo de mudança, deve
garantir às camadas populares a aquisição de conhecimentos que
favoreçam sua inserção na dinâmica mais geral de mudança.
A escola deve se fortalecer como estratégia de melhoria de vida
e pré- requisito para a organização política, sem ser promotora da
igualdade, uma vez que a sociedade é por excelência desigual, nem
revolucionária que extravasa os seus limites possíveis. Pretende-se que
a escola se coloque a serviço dos interesses populares garantindo a
todos um ensino de boa qualidade, baseado em conteúdos significativos
para o aluno e também socialmente.
Reavalia-se, assim, a função da escola, que passa a ser vista como
a difusora de conteúdos vivos, concretos, indissociáveis das realidades
sociais, tornando acessível aos menos favorecidos economicamente
o conhecimento que só a elite alcança. A finalidade é evitar maiores
51
disparidades entre as camadas da população e policiar para que
não ocorram distorções que, para suprir necessidades nas áreas de
saúde, nutrição e psicomotricidade, levem à oferta de uma educação
compensatória por parte da escola, acarretando um rebaixamento do
nível de exigência de estudo.
A educação, nessas tendências, tem com o social uma relação
crítica, histórica, política, pensando uma situação de integração entre
educação e sociedade.
O ensino deve ter como ponto de partida a prática social comum a
professores e alunos, propiciando o entendimento crítico da realidade
e a possibilidade de sua transformação. Logo, a educação não pode ser
isolada do contexto social e político no qual ela se insere. Não existe
educação neutra. A pseudoneutralidade educacional compactua com
a ideologia da classe dominante. A clareza da dimensão política da
educação e o trabalho do professor são especificamente pedagógicos,
mas não se podem desligar da compreensão do processo político no qual
se inserem, justamente para não sucumbirem à ideologia dominante.
Dentro dessas tendências, não se pode deixar de mencionar
Antonio Gramsci (1891-1937), pensador político que, considerando
a sociedade como um todo, forneceu um referencial teórico para a
análise política e a prática educativa na sociedade capitalista para
a elaboração de um conceito emancipatório de educação, no qual
a pedagogia assume poder político visando a libertar a população
desfavorecida da hegemonia das classes dominantes.
Gramsci atribui importância ao poder e à luta política na sociedade
civil e conduz os pedagogos do conflito a defenderem a possibilidade
de repensar a educação em uma visão dialética.
 Sumário
Como autores das tendências progressistas, podem-se citar: Anton
Makarenko (1888-1939), Moisey Pistrak (1888-1937), Gramsci, Freinet,
Michel Lobrot (1924-), Mario Alighiero Manacorda (1914-2013),
Snyders.
Embora com pontos comuns, entre os quais o que se refere à
concepção crítica da sociedade capitalista, as tendências progressistas
divergem na visão de como a educação pode transformar o social,
apresentando diferentes propostas de ensino.
As tendências progressistas serão abordadas a seguir.
Pedagogia Libertadora
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcReHjGsC8eaIXzMFK1DJ7LGeB7wpoSqJMTDlj5_ZFwChE-
cBHMZOQ&s
52
Partindo do princípio de que as pedagogias tradicional, nova e
tecnicista são domesticadoras, com o objetivo de adaptar o indivíduo
ao meio social, elas acabam por condicionar os alunos a aceitarem
como naturais as desigualdades do capitalismo. Afinal, nas pedagogias
conservadoras, só existe a preocupação com a transmissão de
conteúdos ao aluno, sem que se identifiquem esses conteúdos com as
relações políticas presentes na sociedade.
O conceito de educação crítica é orientado para a discussão e para
a prática da responsabilidade social e política.
Paulo Freire (1921-1997), no Brasil, elaborou as linhas mestras
sobre conscientização, educação libertadora e pedagogia política.
Liberdade, democracia e participação são ideias-chaves, como
Freire menciona no livro “A educação como prática da liberdade”.
Na obra “Pedagogia do Oprimido”, Freire analisa as relações entre a
educação e a política, denunciando o caráter dominador e domesticador
da educação na sociedade, fundado nas relações de produção, e enuncia
uma educação libertadora, baseada na conscientização, exigindo a
inserção crítica na realidade.
A marca da Pedagogia Libertadora é a atuação não formal. Utiliza-se
de temas geradores que são extraídos da problematização da prática da
vida dos alunos. Adota como forma de trabalho o grupo de discussão,
a quem cabe autogerir a aprendizagem.
Freire distingue a educação bancária da educação libertadora.
A educação libertadora dispensa programas previamente estruturados
e avaliações prontas, que são compatíveis com a educação bancária das
pedagogias conservadoras. Considera-se relevante a avaliação da prática
vivenciada pelo professor e pelo aluno.
 Sumário

A relação entre professor e aluno é horizontal: ambos se posicionam Tendência progressista libertária
como sujeitos do ato de conhecimento, eliminando toda relação de
autoridade, sob pena de inviabilizar o trabalho de conscientização. A Maurício Tragtenberg
horizontalidade nas relações professor-aluno não significa desordem
ou anarquia, pois todos estão envolvidos e comprometidos com a
busca de soluções para os problemas levantados pelo grupo.
Designada também de educação problematizadora por Paulo Freire,
tem expressiva influência nos movimentos populares e sindicais.
A proposta da Pedagogia Libertadora é partir dos problemas
enfrentados pelos alunos no seu cotidiano para que eles possam
compreender criticamente a sua classe social de origem, situar-se
diante das contradições da sociedade em que vivem, para poderem
se posicionar de modo a ter uma prática transformadora da realidade
que os cerca.
Essa tendência destaca a dialogicidade como elemento fundamental
na relação professor-aluno e defende que o compartilhamento de
saberes entre eles é essencial para o processo de aprendizagem.
Fonte: https://2.bp.blogspot.com/-cxSqTmypwLg/
Portanto, a preocupação central é aprender a ler nas desigualdades UKlqWCzDbNI/AAAAAAAAZ0Y/xy8t7w0_KlA/s320/
do capitalismo os caminhos que possam levar à alteração dessa mesma Maur%C3%ADcio+Tragtenberg+2a.jpg
sociedade. Nesse sentido, a Pedagogia Libertadora é progressista,
porque coloca como eixo central a relação Educação – Política. Alguns representantes da tendência progressista libertária são
Embora as formulações de Paulo Freire se restrinjam à educação Lobrot, Adolfo Sánchez Vázquez (1915-2011), Maurício Tragtenberg
de adultos e à educação popular, muitos professores vêm tentando (1929-1998) e Miguel Arroyo (1935-).
colocá-las em prática em diferentes níveis do ensino formal. Nessa tendência, estão incluídos os defensores da autogestão e da
total liberdade do aluno na escola. Faz-se uma crítica à burocracia no
sistema escolar, percebida como instrumento da ação dominadora do

53
 Sumário

Estado, e busca-se a formação de pessoas mais livres. Baseia-se na Tendência progressista Crítico-Social dos Conteúdos ou Histórico-
recusa de qualquer forma de poder, de autoridade e de repressão. Crítica
A relação professor-aluno deve acontecer de forma não diretiva,
José Carlos Libâneo
sendo prejudiciais os métodos baseados em punições e ameaças. O
professor pode sugerir atividades aos alunos, colocando-se à disposição
deles, sem impor sua vontade. O aluno pode negar-se a realizar as Dermeval Saviani
atividades e, por sua vez, o professor também pode negar-se a orientar
os alunos.
A pedagogia libertária preconiza que somente o vivido e
o experimentado são utilizados em novas situações. Assim, o
conhecimento tem relevância pelo seu uso prático, então não faz
sentido a existência da avaliação formal da aprendizagem.

Nas duas tendências anteriormente abordadas, a educação formal

foi um pouco esquecida ou desqualificada. Entretanto, a tendência
progressista histórico-crítica procurou recuperar a importância dos Fonte: https://www.sedufsm.org.br/inc/fotoresize.
conteúdos escolares, da escola e do professor no processo de ensino/ php?imagem=http://www.sedufsm.org.br/
aprendizagem. Fonte:https://1.bp.blogspot.
midia/2019/07/F09-8994.jpg&tmh=600
co m / - s u z Lv 6 9 7 P1 I / T t Zo s KUB d o I /
AAAAAAAAAGo/6q403GpQF9U/s1600/
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A tendência progressista Histórico-Crítica ou Crítico-Social dos

Conteúdos parte do princípio de que a escola pode ser um local de
transformação social.
Enfatiza a importância da escola e dos saberes nela veiculados.
Defende a aquisição do conhecimento, o qual considera como

54
 Sumário
instrumento no processo de transformação social. A escola deve servir
aos interesses das classes populares, eliminando a seletividade e
defendendo a total democratização da escola.
Os alunos não desenvolvem o senso crítico apenas quando o
professor problematiza a vida deles, mas também quando têm acesso
aos conteúdos de modo crítico. É necessário fazer com que o aluno tenha
também seu direito garantido à aquisição do conhecimento acumulado
pela civilização humana. Defende-se que a aquisição do conhecimento
não deve ter como objetivo a erudição, o saber pelo saber, mas sim a
possibilidade de contribuir no processo de transformação social.
O professor é visto como o mediador entre o conhecimento e a
prática social do aluno. O professor e o aluno têm uma postura ativa,
trocando experiências. Exclui-se nessa tendência a não diretividade.
A educação não possui apenas a dimensão política, mas o saber
é essencial para que a classe trabalhadora transforme a sociedade
capitalista. O conhecimento conduz o aluno ao compromisso político.
Valoriza-se o conteúdo, não conteúdos abstratos, mas concretos
e indissociáveis das realidades sociais. É necessária uma postura
crítica frente ao conhecimento. Assim, os conteúdos devem ser
constantemente revistos, repensados e reavaliados diante das novas
realidades sociais.
Os métodos de ensino implicam na valorização da experiência do
aluno e não de um saber distanciado de suas vivências. O trabalho
docente deve valorizar o saber trazido pelo estudante, levando-o
a formas mais elaboradas e sistematizadas do saber. Considera-se o
saber veiculado na escola socialmente significativo e um importante
instrumento de emancipação social, que deve estar ao alcance de
55
todas as camadas sociais. Dessa maneira, o aluno é preparado para o
enfrentamento das contradições do mundo adulto.
É na contradição existente entre o saber tradicional do professor e a
prática cotidiana do aluno que o conhecimento crítico e transformador
aparece. Nesse sentido é que se faz possível a união entre a teoria e a
prática.
A educação é uma atividade mediadora no seio da prática social
global. Essa tendência volta-se para a democratização da sociedade
brasileira, ao atendimento dos interesses das camadas populares, à
transformação estrutural da sociedade brasileira.
Pode-se destacar Dermeval Saviani e José Carlos Libâneo como
educadores brasileiros inseridos nessa tendência.
Muitas críticas são feitas com relação a essas tendências, algumas
por desconhecimento, outras pelo comodismo em busca de uma
reformulação teórica e prática que norteie as atividades.
Cabe a cada professor conhecê-las e refletir criticamente a seu
respeito para poder se posicionar melhor e mais bem desenvolver sua
práxis pedagógica.
Não se pode acreditar na escola como redentora da humanidade em
uma sociedade classista, assim como também não se pode mergulhar
num pessimismo imobilista, mas certamente é preciso repensar: a
postura profissional adotada; a concepção de educação que norteia a
prática do professor, considerando-se que a educação é um fenômeno
pluridimensional inserido em um contexto histórico determinado; a
visão de mundo, devendo ser observado seu dinamismo; a visão de
homem, que deve ser visto como participante da sociedade. Tudo
 Sumário

isso para que se busque uma maior valorização do professor, da

educação na sociedade brasileira e que se tente mapear caminhos
para transformação social, em busca de uma sociedade mais justa e Algumas palavras finais...
verdadeiramente democrática.
As tendências pedagógicas aqui referenciadas não
se articulam com o processo histórico na base de uma
sucessão linear de etapas pedagógicas, em que uma sucede
A favor de quem?
Contra quem? automaticamente a outra, eliminando a tendência anterior.
Embora todas as tendências apresentadas convivam
e conflitem umas com as outras dentro da realidade
educacional concreta da nossa sociedade, há períodos em
que uma tendência está mais em evidência, mas não a ponto
de eliminar as demais. Em termos práticos, as propostas
de cada tendência pedagógica encontram-se mescladas
no cotidiano da prática pedagógica dos professores, ainda
que, em termos teóricos, eles se declarem defensores de
uma delas.
O estudo das tendências pedagógicas não deve ser
utilizado para rotular o professor ou para tolher a sua
criatividade no exercício da profissão. Deve favorecer a
reflexão crítica sobre a sua prática, de modo a ajudar o
professor a compreender melhor o processo de ensino/
aprendizagem e a melhorar o seu desempenho, contribuindo
para uma sociedade comprometida com o direito de todos
os cidadãos: o acesso à educação.

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 Sumário

Escola é

... o lugar que se faz amigos.

Não se trata só de prédios, salas, quadros,
Programas, horários, conceitos... • Texto do livro: LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola
Escola é sobretudo, gente Pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 7. ed. São Paulo:
Gente que trabalha, que estuda Loyola, 1989.
Que alegra, se conhece, se estima.
Disponível em:
O Diretor é gente,
O coordenador é gente, htt ps : / /e d i s c i p l i n a s . u s p . b r / p l u g i nf i l e . p h p / 4 4 3 0 7 2 2 / m o d _
O professor é gente, resource/content/1/2%20-%20LIB%C3%82NEO%2C%20
O aluno é gente, J.C.%20Tend%C3%AAncias%20Pedag%C3%B3gicas%20na%20
Cada funcionário é gente Pr%C3%A1tica%20Escolar..pdf
E a escola será cada vez melhor
Na medida em que cada um se comporte
• Livro: SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Campinas: Autores
Como colega, amigo, irmão.
Associados, 2012.
Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”
Nada de conviver com as pessoas e depois,
Disponível em:
Descobrir que não tem amizade a ninguém.
Nada de ser como tijolo que forma a parede, Indiferente, frio, só.
https://www5.unioeste.br/portalunioeste/arquivos/phc/D_Saviani_
Escola_e_democracia.pdf
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
É também criar laços de amizade, É criar ambiente de
camaradagem,
É conviver, é se “amarrar nela”! • Assista ao vídeo sobre Tendências Pedagógicas

Ora é lógico... https://www.youtube.com/watch?v=HLZtZILFAps

Numa escola assim vai ser fácil! Estudar, trabalhar, crescer,
Fazer amigos, educar-se, ser feliz.
É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo. • Vídeo: Dermeval Saviani – A pedagogia histórico-crítica

(Paulo Freire) https://www.youtube.com/watch?v=13ojrNqMChk

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 Sumário

Referências
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Grossa: Editora UEPG, 2001.
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PINTO, Á. V. Sete lições sobre educação de adultos. 6. ed. São Paulo:
CARVALHO, A. B.; SILVA, W. C. L. (org.). Sociologia e Educação: leituras Cortez, 1989.
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SAVIANI, D. Escola e Democracia. Campinas: Autores Associados, 2012.
FERREIRA, R. M. Sociologia da Educação. São Paulo: Moderna, 1993.
SCHIMIDT, E. Cultura e Sociedade. In: OLIVEIRA, R. de C. da S. Sociologia:
FOSTER, G. M. Las culturas tradicionales y los câmbios técnicos. consensos e conflitos. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2001.
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LIBANEO, J. C. Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico- R. de C. da S. Sociologia: consensos e conflitos. Ponta Grossa: Editora
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VILA NOVA, S. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atlas, 1985.
OLIVEIRA, P. S. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2001.

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