Você está na página 1de 12

14/05/2020

A INTERAÇÃO SIMBÓLICA
TERESA M. F. HAGUETTE

PROF. DR. SÉRGIO LUIZ RIBEIRO


CURSO DE PSICOLOGIA – UNIP BAURU

◦ A escola da interação simbólica tem origem nos clássicos da


Sociologia do fim do século XIX, como Charles Horton Cooley (1864-
1929), W. I. Thomas (1863-1947) e George Herbert Mead (1863-1931).

◦ Os pontos comuns destes três autores:

- as concepções da sociedade como um processo,


- o indivíduo e da sociedade como estreitamente inter-relacionados,
- o aspecto subjetivo do comportamento humano como uma parte
necessária no processo de formação e manutenção dinâmica do
self social e do grupo social

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

1
14/05/2020

◦ Alguns deste conceitos já se incorporaram à terminologia


sociológica como a "introspecção simpatética" de Cooley, a
"definição de situação"' de Thomas ou "o outro generalizado" de
Mead.

◦ A obra de Mead foi a que mais contribuiu para a conceptualização


da perspectiva interacionista.

◦ Neste texto apresentará alguns fundamentos das ideias deste autor.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

◦ Mead não publicou uma obra completa e sistemática sobre sua


teoria.
◦ Todos os seus quatro livros são póstumos e organizados por editores a
partir de palestras, aulas, notas e manuscritos fragmentários.

◦ Seu sistema de Psicologia Social é apresentado de forma mais


completa no livro Mind, Self and Society (1934).

◦ Nesta obra ele explora a complexa relação entre a sociedade e o


indivíduo, expõe a gênese do self, o desenvolvimento de símbolos
significantes e o processo de comportamento da mente.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

2
14/05/2020

◦ Mead ensinou na Universidade de Chicago no período de 1893 a


1931, quando faleceu.

◦ Ele próprio se referia à sua teoria em termos de “Behaviorismo Social“


– ou seja, a descrição do comportamento do nível humano, cujo
dado principal é o ato social concebido não somente como o
comportamento externo observável, como também a atividade
encoberta do ato.

◦ Deste modo, sua teoria se opõe ao Behaviorismo Radical de John B.


Watson - que reduz o comportamento humano aos mesmos
mecanismos encontrados no comportamento animal e na qual a
dimensão social é vista como uma mera influência externa sobre o
indivíduo.
Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

◦ Outra diferença é que Watson insistia no estudo estritamente


científico do comportamento aparente e Mead permitiu uma
instintiva investigação compreensiva de aspectos do
comportamento.

◦ A lógica do pensamento de Mead indica a precedência da


sociedade sobre o self e, por último, a mente

◦ Deste modo, em ordem inversa do título de sua principal obra: Mind,


Self and Society.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

3
14/05/2020

A sociedade

◦ Mead afirma que toda atividade grupal se baseia no


comportamento cooperativo.

◦ Embora algumas sociedades animais ajam conjuntamente, fazem-


no levadas pelas características biológicas de seus membros.

◦ Insetos, por exemplo, são determinados fisiologicamente sem que


seus padrões de associação se alterem mesmo ao longo de
inúmeras gerações.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

◦ Já a cooperação humana, com sua diversidade, atesta que os


fatores fisiológicos não podem explicá-la totalmente.

◦ A associação humana surge somente quando:


a) cada ator individual percebe a intenção dos atos dos outros e,
b) constrói sua própria resposta baseado naquela intenção.

◦ Isto significa que para haver cooperação entre seres humanos é


necessário que alguns mecanismos estejam presentes, de forma que
cada ator individual:

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

4
14/05/2020

a) possa entender as linhas de ação dos outros e,


b) possa direcionar seu próprio comportamento a fim de acomodar-
se àquelas linhas de ação.

◦ O comportamento humano não é uma resposta direta às atividades


dos outros, mas envolve uma resposta às intenções dos outros - ao
futuro e intencional comportamento dos outros e não somente às
suas ações presentes.

◦ Estas intenções são transmitidas através de gestos que se tornam


simbólicos, isto é, passíveis de serem interpretados.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

◦ A sociedade se funda na base do consenso, de sentidos


compartilhados sob a forma de compreensões e expectativas
comuns.

◦ Quando os gestos assumem um sentido comum, quando adquirem


um elemento linguístico, podem ser designados de símbolos
significantes.

◦ O componente significativo de um ato, que representa uma


atividade mental, acontece através do role-taking - o indivíduo deve
colocar-se na posição de outra pessoa, deve identificar-se com ela.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

10

5
14/05/2020

◦ Para Mead a relação dos seres humanos entre si surge do


desenvolvimento de sua habilidade de responder a seus próprios
gestos.

◦ Esta habilidade permite os diferentes seres humanos respondam da


mesma forma ao mesmo gesto, possibilitando compartilhar
experiências e a incorporação entre si do comportamento.

◦ O comportamento é social e não meramente uma resposta aos


outros.

◦ O ser humano responde a si mesmo da mesma forma que outras


pessoas lhe respondem e, ao fazê-lo, imaginativamente compartilha
a conduta dos outros .
Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

11

◦ De acordo com Blumer (1969, p. 82), segundo o conceito de Mead:

“A sociedade humana deve ser vista como consistindo de pessoas


em ação e a vida da sociedade deve ser vista como consistindo de
suas ações. As unidades atuantes podem ser indivíduos separados,
coletividades cujos membros agem conjuntamente com vistas a uma
ação (quest) comum, ou organizações atuantes em benefício de
uma constituência (constituency). Respectivos exemplos são compras
individuais em um mercado, um grupo que joga ou uma banda
missionária, e uma cooperação de negócios ou uma associação
profissional nacional. Não existe nenhuma atividade empiricamente
observável em uma sociedade humana que não surja de alguma
unidade de ação”.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

12

6
14/05/2020

◦ Ainda de acordo com Blumer, a ação comum ocorre em relação a


um lugar e a uma situação.

◦ Toda e qualquer unidade de ação: um indivíduo, uma família, uma


escola, uma igreja, uma firma, um sindicato - é feita para uma
situação específica.

◦ Deste modo, a ação é construída através da interpretação da


situação, consistindo a vida grupal de unidades de ação
desenvolvendo ações para enfrentar situações nas quais elas estão
inseridas.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

13

O self

◦ Afirmando que o ser humano possui um self, Mead enfatiza que da


mesma forma que o indivíduo age socialmente com as outras
pessoas, ele interage socialmente consigo mesmo, pode tornar-se o
objeto de suas próprias ações.

◦ O self, como outros objetos, é formado através das definições feitas


por outros, que servem de referencial para que ele possa ver-se a si
mesmo.
◦ Desta forma, o ser humano pode tornar-se objeto de suas próprias
ações dentro da sociedade e que precede a existência do self.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

14

7
14/05/2020

◦ A sociedade representa o contexto dentro do qual o self surge e se


desenvolve.

◦ Este desenvolvimento tem início no estágio de imitação por parte da


criança, sem qualquer componente significativo.

◦ Em seguida ela passa a assumir o papel de outros em relação a si


própria: como o de "mãe", "professora", "bandido", "mocinho“.

◦ Quando a criança é capaz de fazer o jogo de diferentes papéis, já


constrói o que Mead chama de generalized other ou papel coletivo
- o que ela adquiriu no curso de sua associação com os outros e
cujas expectativas internalizou.
Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

15

◦ A formação do self, assim como o ato humano, tem uma


fundamentação social, embora nem o self nem o ato social são
estáticos.

◦ Eles evoluem ou se modificam de acordo com as mudanças nos


padrões e nos conteúdos das interações que o indivíduo
experiencia, não só com os outros, como consigo mesmo.

◦ Por o indivíduo possuir um self é capaz de ter uma vida mental: ele
pode fazer indicações para si próprio — o que constitui sua própria
mente.
◦ Por possuir uma mente, tem a possibilidade de dirigir e controlar seu
comportamento, e não apenas ser um agente passivo dos impulsos
e estímulos. Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

16

8
14/05/2020

A mente

◦ Mead considera indispensável o aparato fisiológico do organismo


para o desenvolvimento da mente (sistema nervoso central e
córtex).

◦ É através dele que a gênese das mentes e dos selves se torna


biologicamente possível nos humanos através dos processos sociais
de experiência e comportamentos, dentro de uma matriz de
relações sociais e interações.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

17

◦ O cérebro é necessário para a emergência da mente, mas ele


sozinho não faz a mente.

◦ É a sociedade-interação social, usando os cérebros, que forma a


mente.

◦ O comportamento humano inteligente é "essencialmente e


fundamentalmente social" (TROYER, 1972).

◦ Segundo Mead a mente é um processo que se manifesta sempre


que o indivíduo interage consigo próprio usando símbolos
significantes. Esta significância ou sentido é também social em na
sua origem.
Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

18

9
14/05/2020

◦ A mente é social tanto em sua origem como em sua função, pois


surge do processo social de comunicação.

◦ Dentro deste processo, o organismo seleciona os estímulos relevantes


para suas necessidades, rejeitando outros irrelevantes. Todo
comportamento implica em uma percepção seletiva de situações.

◦ A percepção não pode, deste modo, ser concebida como uma


mera impressão de alguma coisa do exterior no sistema do indivíduo.

◦ Os animais, por outro lado, vivem em um mundo de objetos que


constituem seu ambiente circundante.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

19

◦ O ser humano, diferente dos animais, é capaz de formar seus


próprios objetos - através de sua atividade ele estabelece seu
ambiente e os objetos sociais que dele fazem parte.

◦ Deste modo, os objetos são destacados pela mente através da


percepção, possibilitando ao indivíduo planejar suas ações.

◦ A atividade mental necessariamente envolve sentidos que são


atribuídos aos objetos, definindo-os.

◦ "O sentido de um objeto ou evento é simplesmente uma imagem do


padrão de ação que define o objeto ou o evento“ (MELTZER, 1972).

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

20

10
14/05/2020

Principais contribuições de Mead para a Psicologia Social e


Sociologia

- A ênfase nos aspectos encobertos, subjetivos do comportamento;

- Sua crença de que o comportamento humano é em termos do que as


situações simbolizam e de que a mente e o self são sociais ao invés de
biologicamente dados;

- A importância que aloca à linguagem como mecanismo de


emergência da mente e do self;

- Sua definição de self como um agente ativo;


Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

21

- A concepção de "ato" enfatizando a tendência dos indivíduos de


construir seu comportamento no curso da atividade e descobrir os
objetos e seu ambiente circundante;

- A discussão da maneira como os indivíduos constroem seu mundo


comum;

- A forma como ilumina o caráter da interação social, concebendo-a


como o compartilhar de comportamentos, ao invés de resposta
passiva a um estímulo externo.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

22

11
14/05/2020

Referência

◦ HAGUETE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. 12ª ed.


Petrópolis: Vozes, 2010, p. 25-47.

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ribeiro - Curso de Psicologia UNIP Campus Bauru

23

12

Você também pode gostar