Você está na página 1de 2

• Quando, numa aglomeração, indivíduos se reúnem por alguma razão, agem

influenciados por comportamentos de massa, isto é, fazem determinadas


coisas porque simplesmente todos estão fazendo. Essa ação influenciada
também não é uma ação social.
Ao analisar o modo como os indivíduos agem e levando em conta a maneira
como eles orientam suas ações, Max Weber agrupou as ações sociais em quatro
tipos: ação tradicional, ação afetiva, ação racional com relação a valores e ação
racional com relação a fins.
A ação tradicional tem por base a tradição familiar, um costume arraigado.
É um tipo de ação que se adota quase automaticamente, reagindo a estímulos
habituais ou por imitação. A maior parte de nossas ações cotidianas é desse tipo.
A ação afetiva tem o sentido vinculado aos sentimentos e estados emocionais
de qualquer ordem na busca da satisfação de desejos.
A ação racional com relação a valores fundamenta-se em convicções e valores
(éticos, estéticos, religiosos ou qualquer outro), tais como o dever e a transcendência
de uma causa, qualquer que seja seu gênero. O indivíduo age de acordo com aquilo
em que acredita, independentemente das possíveis consequências, tendo por fun-
damento determinados valores que lhe parecem ordenar que realize isso ou aquilo.
A ação racional com relação a fins fundamenta-se num cálculo com base
no qual se procuram estabelecer os objetivos racionalmente avaliados e perse-
guidos e os meios para alcançá-los. Nesse tipo de ação, o indivíduo programa,
pesa e mede as consequências em relação ao que pretende obter.
Frederico Haikal/Hoje em Dia/Futura Press

Alf Ribeiro/Shutterstock
Abrir o guarda-chuva para proteger-se da chuva é uma Manifestação de estudantes e professores contra a
ação imposta pela condição climática. Não se trata, reorganização escolar defendida pelo governo estadual: uma
portanto, de uma ação social. ação social orientada por convicções comuns. São Paulo, 2015.

nas palavras de wEbER


Sobre a ação social
1. A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações de outros, que podem ser
passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques anteriores, réplica a ataques
presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os “outros” podem ser individualizados e
conhecidos ou então uma pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos
(o “dinheiro”, por exemplo, significa um bem – de troca – que o agente admite no comércio porque sua
ação está orientada pela expectativa de que outros muitos, embora indeterminados e desconhecidos,
estarão dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura).
2. Nem toda espécie de ação – incluindo a ação externa – é “social” no sentido aqui sustentado.
Não o é, desde logo, a ação exterior quando esta só se orienta pela expectativa de determinadas

Capítulo 3 | A Sociologia e a sociedade dos indivíduos 29


reações de objetos materiais. A conduta íntima é ação social somente quando está orientada pelas
ações de outros. Não o é, por exemplo, a conduta religiosa quando esta não passa de contemplação,
oração solitária etc. A atividade econômica (de um indivíduo) somente o é na medida em que leva
em consideração a atividade de terceiros. […] De uma perspectiva material: quando, por exemplo,
no “consumo” entra a consideração das futuras necessidades de terceiros, orientando por elas,
desta maneira, sua própria poupança. Ou quando na “produção” coloca como fundamento de sua
orientação as necessidades futuras de terceiros etc.
3. Nem toda espécie de contato entre os homens é de caráter social; mas somente uma ação, com
sentido próprio, dirigida para a ação de outros. Um choque de dois ciclistas, por exemplo, é um
simples evento como um fenômeno natural. Por outro lado, haveria ação social na tentativa de
os ciclistas se desviarem, ou na briga ou considerações amistosas subsequentes ao choque.
[…]
WEbEr, Max. Ação social e relação social. Apud: Foracchi, Marialice M.; Martins, José de Souza. Sociologia e sociedade:
leituras de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro/São Paulo: Livros Técnicos e Científicos, 1977. p. 139.

Para Weber, essa classificação não engloba todos os tipos de ação social. Ela
é composta de tipos conceituais em estado puro, construídos para desenvolver a
pesquisa sociológica. Esses “tipos ideais” são ferramentas (construções) teóricas
utilizadas pelo sociólogo para analisar a realidade. Os indivíduos, quando agem
no cotidiano, mesclam alguns ou vários tipos de ação social.
Como se pode perceber, para Max Weber, ao contrário de Durkheim, as razões
para a ação do indivíduo não são algo externo a ele. O indivíduo escolhe condutas
e comportamentos, dependendo da cultura e da sociedade em que vive. Assim, as
relações sociais consistem na probabilidade de que se aja socialmente com deter-
minado sentido, sempre numa perspectiva de reciprocidade em face dos outros.

Norbert Elias e Pierre Bourdieu: a sociedade


dos indivíduos
Até aqui foram examinadas três diferentes perspectivas de análise da relação
entre indivíduo e sociedade. Para Marx, o foco recai sobre os indivíduos inseridos
nas classes sociais e as contradições e conflitos entre elas. Para Durkheim, o funda-
mental é a integração dos indivíduos na sociedade, sendo que esta se superpõe
a eles. Para Weber, os indivíduos e o sentido de suas ações são os elementos
constitutivos da sociedade. Apesar das perspectivas diferentes, todos buscaram
explicar o processo de constituição da sociedade e a maneira como os indivíduos
se relacionam, procurando identificar as ações e instituições fundamentais.
Dois autores contemporâneos analisaram a relação entre indivíduo e sociedade
procurando integrar esses polos: o sociólogo alemão Norbert Elias e o francês
Pierre Bourdieu. A seguir alguns dos principais conceitos que ambos construíram.

O conceito de configuração
De acordo com o sociólogo alemão Norbert Elias, é comum separar indivíduo e
sociedade, já que parece impossível existirem, ao mesmo tempo, bem-estar e felici-
dade individual e uma sociedade livre de conflitos. De um lado está o pensamento
de que as instituições – família, escola e Estado – devem estar a serviço da felicidade
e do bem-estar de todos; de outro, a ideia da unidade social acima da vida individual.

30 Unidade 1 | Sociedade dos indivíduos: socialização e identidade

Você também pode gostar