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Tipos fundamentais da ação social: tradicional, afetiva e racional

A ação social, portanto, é diferente de um simples comportamento social, pois carrega um sentido a ela
atribuído pelo indivíduo. Assim, a ação social como instrumento de análise sociológica é definida como
toda ação realizada pelos indivíduos levando em conta a expectativa de outra ação dos demais. Dessa
forma, da perspectiva da teoria da ação social, a Sociologia não é entendida como uma realidade exterior
aos indivíduos ou explicada por leis, como ocorre nas Ciências Naturais. A cientificidade da Sociologia
residiria em sua capacidade de compreender racionalmente as ações e as relações sociais.
Na construção de uma teoria da ação social, a observação da realidade levou à identificação de quatro
tipos fundamentais de ação social que orientam a explicação das causas dos fenômenos sociais:
• tradicional;
• afetiva;
• racional orientada a valores;
• racional orientada a fins.
A Sociologia fundamentada nessa perspectiva tem se concentrado principalmente na análise das duas
últimas.
A ação tradicional é motivada por um hábito arraigado ou por um costume. Isto é, quando se pergunta
ao ator social por que ele realiza determinada ação (como cumprimentar alguém com um aperto de
mão), ele responde que é porque sempre o fez e também porque seus pais e antepassados sempre o
fizeram. Um exemplo de ação tradicional é o hábito de benzer-se ao passar em frente a uma igreja, como
fazem muitos católicos. Essa ação, que identifica e integra uma comunidade religiosa específica, quando
realizada de modo espontâneo, encontra explicação em um hábito sobre o qual não se faz uma reflexão
racional. Ela já se transformou em um modo de agir consolidado.
A ação afetiva é determinada por afetos ou estados emocionais. Como exemplo, podemos imaginar um
indivíduo que reage a uma agressão ou ofensa de maneira igualmente agressiva. Ela consiste em uma
reação momentânea a uma situação inesperada. Em outro contexto, a reação poderia ser completamente
diferente.
A ação racional orientada a valores é determinada pela crença consciente em um valor importante para
o indivíduo, sem considerar as consequências das ações em defesa desse valor. Como exemplo desse
tipo de ação podemos citar alguém que aja de acordo com sua convicção política e, ao defender suas
ideias em uma manifestação pública, desencadeie uma repressão que, na prática, vai contra seu objetivo.
Apesar de produzir efeitos contrários aos objetivos, a ação é racionalmente elaborada; o ator social
considera suas consequências positivas e negativas, mas a orienta conforme seus valores, dos quais não
pode abrir mão, independentemente dos resultados negativos que possa vir a provocar.
A ação racional orientada a fins é aquela determinada pelo cálculo racional que estabelece fins objetivos
e organiza os meios necessários para alcançá-los. Um exemplo de ação racional orientada a fins é a
estratégia de um jovem para ser aprovado nos exames de ingresso no Ensino Superior. O aluno define
as ações necessárias para atingir esse objetivo, organiza-as racionalmente, pesando prós e contras para
sua realização, e opta pela estratégia de ação mais eficiente para atingir a meta planejada.
Nessa concepção, a relação entre indivíduo e sociedade é construída com base na primazia da ação do
indivíduo (ação social) em relação à estrutura social, compreendida aqui apenas como a regularidade
de fatos ou padrões observados na ação social. As normas da sociedade não são a estrutura que sustenta
a ação dos indivíduos, porque não podem ser observadas; o único elemento que a Sociologia pode
analisar são as decisões pessoais dos indivíduos que interagem mediante as relações sociais
A sociedade é, nessa perspectiva, o resultado do conjunto das relações construídas pelos indivíduos com
base no sentido a elas atribuído. O sistema econômico, por exemplo, funciona apenas porque os
indivíduos compartilham a crença sobre o uso e o valor da moeda e agem de acordo com essa crença ao
aceitar cédulas, cheques e cartões de débito e crédito como meio de pagamento por seu trabalho. Caso
a crença no setor financeiro deixasse de ser compartilhada, esse sistema econômico sofreria
transformações, pois as pessoas não mais aceitariam determinados meios de pagamento por suas
mercadorias ou serviços.
Em outras palavras, a sociedade não existe como um fim em si mesmo ou como uma estrutura que se
organiza independentemente da consciência subjetiva de seus agentes, mas como expressão histórica
dos valores e da racionalidade dos indivíduos que a constituem.
As leis, por exemplo, são elaboradas por meio de um processo que começa nas consciências individuais.
Ao interagirem uns com os outros, os indivíduos percebem a necessidade de estabelecer uma regra
comum de conduta. Então, é criada uma lei que regula determinado aspecto da conduta desses
indivíduos. Assim, a estrutura legal só existe porque os indivíduos, no processo de interação social,
chegaram a essa conclusão. Contudo, as leis estão subordinadas às particularidades desse processo em
diversos lugares e tempos históricos.

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