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Tema 2: Conceitos Básicos e Pressupostos

acerca da Personalidade

Introdução
Neste segundo capítulo, abordaremos o conceito de personalidade,
que significa como cada indivíduo se comporta e se relaciona com os
demais, como externa seus sentimentos, pensamentos e reações.

Assim as características individuais, aliadas da relação que o


indivíduo estabelece com o meio, agregando as tendências inatas e
experiências vivenciadas na vida, constitui a personalidade.

Quando as pessoas convivem com outras e com as instituições, há


uma tendência de surgimento de conflitos, que podem ter um grande
impacto no convívio social. Conhecer a personalidade humana na sua
totalidade, é uma tarefa muito complexa, pois haverá aspectos e elementos
que não poderão ser acessados ou escapar da nossa compreensão.

Para tentar entender essa complexidade multifacetada da


personalidade humana, várias teorias e classificações foram desenvolvidas.
Abordaremos três modelos teóricos: a Teoria Psicanalítica de Sigmund
Freud, e a Cognitivo Comportamental de Aaron Beck e o modelo
de Abraham Maslow

Outra temática a ser explorada neste capítulo será sobre o papel da


hereditariedade e às influências do ambiente sobre a personalidade

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humana. Para finalizar, vamos conhecer as noções de personalidade sobre
o enfoque do jurídico.

Personalidade
Os estudos acerca da personalidade vêm desde a antiguidade, onde
se buscava entender acerca do ser humano e suas características.
Etimologicamente, a palavra é originada do latim persona, que fazia
menção a uma máscara teatral usada por atores romanos nos dramas
gregos para projetar um papel ou uma falsa aparência.

De uma maneira geral, pode-se dizer que a personalidade é o que


diferencia uma pessoa da outra, sendo definida por um grupo individualizado
de características que constituem o sujeito.

Juridicamente, a personalidade é, basicamente, a condição para ser


sujeito de direitos. Já na Psicologia, é possível dizer que a personalidade é
um “reflexo” da constituição biopsicossocial de cada sujeito, permitindo que
haja adaptação na relação com o meio e consigo mesmo. Dessa forma, a
personalidade é construída e segue em transformação, não sendo

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constituída por características imutáveis e adquiridas já no nascimento,
diferente do que muitos imaginam.

Embora o estudo acerca da Personalidade no âmbito psicológico


tenha tido seu início formalizado em 1930, com o trabalho do estadunidense
Gordon Allport, até hoje não se chegou a um consenso entre os psicólogos
no que diz respeito a um único conceito sobre o tema. Por esse motivo
existem diversas Teorias da Personalidade.

O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª


edição (DSM-V) de 2014, refere-se a Transtornos da Personalidade quando

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existe um padrão persistente de comportamento ou experiência interna que
se desvia do esperado socialmente, com traços tornam o sujeito inflexível
ou desadaptado em diferentes áreas.

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Teorias da Personalidade

Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud

Sigmund Freud, conhecido como o pai da psicanálise, classifica o


aparelho psíquico humano como uma estruturação do funcionamento
mental. Embora este aparelho não tenha um local físico a ocupar no corpo
humano, hoje em dia a ciência psicológica compreende as relações entre a
emoção e o funcionamento cerebral. Uma das composições deste aparelho
é a Personalidade.

A Primeira Tópica do aparelho psíquico, sobre a estrutura e o


funcionamento da personalidade, é apresentada por Freud em 1900, no livro
A interpretação dos sonhos, é caracterizada por três sistemas: o
inconsciente, o pré-consciente e o consciente.

Consciente: é aquilo de que temos consciência no momento.

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Pré-consciente: contém o que está armazenado na memória: não
está sendo acessado, mas é de fácil acesso.

Inconsciente: é a parte da mente que não se acessa livremente.


Como se fosse um depósito inacessível de ansiedade, produzindo
pensamentos e impulsos.

Para o criador da Psicanálise, o comportamento humano é


impulsionado pela relação entre consciente e inconsciente, portanto os
processos mentais não acontecem por acaso, a sua maior parte ocorre de
maneira inconsciente. Mesmo sendo um comportamento o mais horrível,
bizarro e surpreendente, ele tem um motivo e razão para acontecer, mas o
indivíduo pode agir sem perceber o porquê está fazendo.

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Na década de 1920, Freud faz uma renovação da teoria do aparelho
psíquico, cria a Segunda Tópica, e aparecem as denominações de id, ego
e superego:

Id: é a personalidade original, a única parte presente desde o nascimento


e da qual emergem as duas outras partes da nossa personalidade.

– Reside na mente inconsciente


– Inclui as nossas pulsões ou impulsos instintivos biológicos,
as partes primitivas da personalidade localizadas no nosso
inconsciente
– Opera de acordo com o princípio do prazer, isto é, exige
gratificação imediata para esses impulsos sem se preocupar
com as consequências dessa gratificação
– Não distingue entre a realidade e a fantasia

Ego: começa a se desenvolver durante o primeiro ano de vida para


encontrar saídas realistas e socialmente aceitáveis para as necessidades
do id:
– Opera de acordo com o princípio da realidade, encontrando
gratificação para os impulsos instintivos dentro dos limites da
realidade (as normas e leis da sociedade); entende realidade
e lógica.
– Parte do ego é inconsciente (ligada ao id) e parte é
consciente e pré-consciente (ligada ao mundo externo)
– Funciona como o gerente ou executivo da personalidade;
mediador entre o id e o superego

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Superego: Representa a nossa consciência e os padrões de
comportamento idealizados da cultura:

– Internalização dos padrões morais da sociedade;


– Opera de acordo com o princípio da moralidade, ameaçando
nos inundar com culpa e vergonha
– As demandas do superego e do id entrarão em conflito e o
ego terá de resolver esse tumulto dentro dos limites da
realidade
– Para evitar ser esmagado pela ansiedade ao tentar satisfazer
as demandas do id e do superego, o ego usa o que Freud
chamou de mecanismos de defesa, processos que distorcem
a realidade e nos protegem da ansiedade.

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O Ego possui mecanismos de defesa para garantir seu equilíbrio,
por perceber que a realidade é muito dolorosa, constrangedora e
desorganizadora. Para afastar e reduzir a ansiedade, facilitando a
adaptação ao meio, os indivíduos refazem ou modificam a realidade (a
percepção externa não é registrada, não permitindo que o psiquismo tenha
acesso aos conteúdos).

De acordo com a Teoria Psicanalítica, são vários os mecanismos de


defesa usados para “deformar” a realidade. O ego é responsável por sua
realização e acontecem independente da vontade (inconscientes). A seguir,
será exposto nas tabelas, alguns Mecanismos de Defesa do Ego.

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Personalidade segundo a Teoria Cognitiva Comportamental

Para Beck e Alford (2000), a personalidade pode ser compreendida


como o que caracteriza os padrões de ações tomadas pelo sujeito, assim
como sua forma de pensar, suas reações emocionais e suas necessidades
motivacionais, padrões esses que permitem sua interação com o ambiente
e do ambiente consigo.

De acordo com Beck e seus colaboradores (2005), existem traços de


personalidade que são inaptas e outras que são resultados da interação entre
a genética e o meio, características aprendidas. Por conseguinte, tem-se o
entendimento de que existem os traços filogenéticos que podem ser
potencializados ou atenuados a partir das experiências e da atividade reflexiva
do sujeito.

Para o conceito comportamental da Teoria Cognitivo Comportamental,


os dois teóricos mais relevantes são Skinner e Bandura. Para o psicólogo
Burrhus Frederic Skinner determinante para que se repita um
comportamento é o tipo de reforço que o sujeito recebe, positivo ou negativo.

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Albert Bandura, psicólogo canadense, sustenta que os reforçadores
são sociais, como atenção, sorrisos ou demonstração de interesse. Outro
ponto de Bandura é a sustentação de que um indivíduo, ao observar o
comportamento de outros, é capaz de garantir aprendizado sem que
necessariamente passe por tal experiência, garantindo, através da
observação, o entendimento do que deve ou não ser reproduzido.

Levando estas duas ideias em consideração, podemos dizer que o


comportamento pode ser reforçado, assim como Skinner aponta, mas
através de reforçadores advindos do meio em que o sujeito está inserido.

Neste modelo, a Personalidade possui suas particularidades com o


objetivo de levar a adaptação e sobrevivência do sujeito ao ambiente, e
ainda garantir sua reprodução.

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Teoria das Necessidades de Abraham Maslow

Os seres humanos são racionais, bons e conscientes, segundo


Abraham Maslow (1962), são responsáveis pela sua evolução e destino.
Para ele, existem fatores motivacionais que mobilizam a personalidade, os
indivíduos buscam a satisfação de uma necessidade, que são diferentes e
não ocorrem no mesmo estágio de vida das pessoas.

Elaborou uma hierarquia de necessidade, que são organizadas de


acordo com a sua importância, no formato de uma pirâmide. As
necessidades da base precisam serem satisfeitas antes que surgem as
necessidades topo. Quando o sujeito conseguiu chegar ao topo das
necessidades, aquelas que estão na base, perdem um pouco a sua
importância.

Em função do desenvolvimento do ciclo vital e das privações da vida,


uma necessidade que já foi superada, pode tornar-se fundamental durante
esse período.

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A criminalidade poderia ser explicada por essa teoria, segundo
Trindade (2017), em função da falta de meios para alguns indivíduos
conseguirem atingir as necessidades e metas, tais como: dinheiro, bens
materiais, bem-estar e prestígio.

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Hereditariedade e Ambiente
A personalidade recebe influência tanto da hereditariedade, como das
forças do ambiente onde se desenvolvem. Caracterizando as diferenças
entre os indivíduos e a complexidade para o entendimento do
comportamento humano.

Uma característica que é fortemente genética e herdada, tem uma


forte contribuição no desenvolvimento do indivíduo, porém não é
determinante para caracterizar o comportamento (raramente essas
características são imutáveis) que pode ser alterada pelo impacto do
ambiente. Os fatores ambientais têm uma intensa influência nos aspectos
psicológicos dos indivíduos.

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Como os indivíduos estão em constante desenvolvimento por toda a vida,
esse desenvolvimento é caracterizado pela relação das forças da
hereditariedade e do ambiente.

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Personalidade na perspectiva jurídica
Desde o nascimento até a morte do ser humano, o indivíduo é dotado
de personalidade, que na perspectiva jurídica “consiste na aptidão para
exercer o direito e contrair obrigações” (TRINDADE, 2017, p. 90).

Os direitos da personalidade estão ligados ao pleno desenvolvimento


dos aspectos psíquicos, morais e físicos.

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O mais sagrado e fundamental de todos os direitos, o Direito à vida,
que está relacionado ao princípio da dignidade das pessoas segundo a
Constituição Federal e cabe ao Estado assegurar. O Direito ao nome, diz
respeito a como a pessoa se designa, individualizando a pessoa e o seu
pertencimento familiar. O Direito de imagem, está relacionado com a
expressão da imagem física (visual, sonora e gestos), cabe ao Direito
preservar e tutelar os abusos cometidos pela exposição da imagem pelos
meios de comunicação. O bem estar emocional é garantido pelo Direito à
integridade psíquica. A Constituição Federal estabelece o Direito à honra,
à intimidade e privacidade da vida, estipulando a reparação por qualquer
dano ou violação desse direito, essa reparação pode ser material ou moral.

Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5 – Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BECK, Aaron T.; ALFORD, Brad A. O poder integrador da terapia


cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

BECK, Aaron T., FREEMAN, Artur e DAVIS, Denise. D. Terapia cognitiva


dos transtornos da personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2005.

BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologias.15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos


Transtornos Mentais. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.

FIORELLI, José Osmir. MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia


Jurídica. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2020.

18 SOUZA, M.B.
HALL, Calvin. S., LINDZEY, Gardner, CAMPBELL, John B. Teorias da
Personalidade. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000.

ROCHA, N.Q. . A teoria da personalidade na Terapia Cognitiva de Beck,


Universidade Federal de Juiz de Fora. Instituto de Ciências Humanas. 2013.

TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do


direito. 8ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017.

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