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PSICOLOGIA SOCIAL
Psicologia social é um ramo da psicologia que estuda a forma como as
pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras.
Surgiu no século XX como área de actuação da psicologia para estabelecer
uma ponte entre a psicologia e as ciências sociais (sociologia, antropologia,
geografia, história, ciências políticas).
A sua formação acompanhou os movimentos ideológicos e conflitos do
século 20, a ascensão nazi, do fascismo, as grandes guerras, a luta do
capitalismo contra o socialismo, entre outros.

OBJECTO DE ESTUDO
A psicologia social estuda a forma como os pensamentos, emoções e
comportamentos de um sujeito são influenciados pela presença (real ou
imaginária) de outras pessoas.
(Allport, 1985)

Efeito que as palavras, ações ou a simples presença de


INFLUÊNCIA
outras pessoas têm nos pensamentos, sentimentos,
SOCIAL
atitudes ou comportamentos de outrem.

A psicologia social olha para muitas questões que outras disciplinas


também procuram compreender, mas fá-lo com base no método
científico. Procura compreender quais as condições que são mais
propícias para que determinados fenómenos ocorram.

PSICOLOGIA SOCIAL E OS PARENTES PRÓXIMOS

Explica os comportamentos em termos de traços de


Psicologia da personalidade. Foca-se nas diferenças individuais e
Personalidade tende a ignorar o contributo da influência social e do
contexto da situação.
Estuda os grupos, organizações e sociedades. Não
Sociologia
olha para o indivíduo.

O objectivo da psicologia social é identificar as propriedades


psicológicas que fazem com que quase todos os seres humanos sejam
susceptíveis à influência social, independentemente da sua classe
social ou cultura.
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CONCEITOS
A situação em que um sujeito se encontra não pode ser
desvalorizada. Subestimar o poder da situação é um erro de
Poder da
atribuição fundamental que acontece quando tentamos
Situação
compreender a situação somente com base nas características
da pessoa e seus traços de personalidade.
Forma como o sujeito percepciona, compreende e interpreta o
contexto social. É importante compreender não só como as
Construto
situações influenciam os indivíduos, mas como o sujeito
percepciona e interpreta o comportamento do(s) outro(s).

METODOLOGIA EM PSICOLOGIA SOCIAL


PSICOLOGI Ciência empírica baseada na evidência. Funciona
A SOCIAL com base nas experiências que vai realizando.

As hipóteses têm por base os modelos teóricos que as


Formulação suportam e os dados empíricos obtidos pela
de Hipóteses experimentação anterior, assim como a observação de
situações sociais.

Como qualquer experiência, a primeira coisa que se faz é formular


hipóteses. Lemos, ficamos com dúvidas e formulamos hipóteses, sobre os
efeitos da influência social que é o objecto de estudo da psicologia social.
As hipóteses para serem bem formuladas têm de ter sempre por base os
modelos teóricos que as sustentam. O que é que a investigação já disse sobre
determinada temática para se poder avançar. O que é que já se sabe até à
data.
Será um olhar novo, um olhar para a frente ou um olhar noutra direcção.

Método Pretende descrever o comportamento social.


Observaciona Observação sistemática, útil para descrever a natureza
l de um fenómeno e a criação de hipóteses.
Tem por objectivo predizer o comportamento social.
Método Muito útil para predizer uma variável a partir de outra,
Correlacional através da correlação que existe entre as duas
variáveis.
Responde a questões de causalidade. Se a variável A
Método ao ser manipulada tem efeitos na variável B.
Experimental É o único método que permite comparar relações de
causalidade.
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BASES PSICOLÓGICAS E SOCIOLÓGICAS


DA PSICOLOGIA SOCIAL
PSICOLOGIA SOCIAL – PARADIGMA AMERICANO
A psicologia social tornou-se uma disciplina científica autónoma
nos Estados Unidos da América na primeira metade do século XX. É
uma disciplina com uma curta existência e uma longa história.
Nos EUA a psicologia ganhou uma orientação funcionalista e
pragmatista tendo aplicado esta ciência a outras áreas como a educação,
política, medicina, entre outras. Perspectiva da mente em acção e não
um sujeito passivo que responde a estímulos.
O modelo americano trouxe o modelo de PAPEL SOCIAL, que é o
papel que desempenhamos no contexto social que nos envolve. Acabou,
no entanto, por ter algumas limitações.

PSICOLOGIA SOCIAL EUROPEIA


O fundo do funcional-pragmático americano permitiu o desenvolvimento
de uma psicologia utilitária, mas também impediu os psicólogos de verem
certos aspectos estruturais e outros factores inerentes à vida social. Foi a
psicologia social europeia que veio corrigir esta distorção com os seus
contributos e novas perspectivas.

COGNIÇÃO SOCIAL E COMPREENSÃO


DOS OUTROS
Abordagem da Psicologia Social que se dedica à
compreensão da interacção entre os processos cognitivos,
contexto social e comportamento social.
O objecto de estudo é a forma como o contexto social
Cogniçã influencia as cognições, bem como a influência das
o Social cognições no comportamento social.
Procura compreender a forma como as pessoas
seleccionam, interpretam, memorizam e usam a
informação social para fazerem julgamentos e tomarem
decisões.
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1. ESQUEMAS
2. ATRIBUIÇÃO CAUSAL
3. FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES

1. ESQUEMAS
Estrutura cognitiva que representa o conhecimento sobre um
conceito ou tipo de estímulos, incluindo os seus atributos e a
relação entre estes atributos
(Fiske & Taylor, 1991, p. 98)
Esquem
a É um conjunto de cognições que estão relacionadas entre si
(como pensamentos, crenças e atitudes) e que permitem
categorizar um objecto tendo por base uma quantidade limitada
de informação.
O esquema é ativado por pistas e preenche os detalhes em falta.

FUNÇÃO DO ESQUEMAS
● Organizar informação;

● Compreender a informação;

● Preencher os espaços em branco no conhecimento;


● Compreender situações ambíguas.

O ser humano não gosta de ter espaços em branco uma vez que causa
dissonância cognitiva, dúvidas, então preenche-o muitas vezes com
informação. Isto pode acontecer através de esquemas, pode ser através da
construção de falsas memórias.

Exemplo de ESQUEMA:
Quando é apresentada uma palavra em que lhe faltam uma série de letras,
conseguimos ler a palavra. Dentro de nós já há a representação mental e
conseguimos, com base num pequeno número de informações activar aquela
representação mental que temos. Isto é, uma capacidade adaptativa do ser
humano, ou seja, é a capacidade de processar a informação, construir um
esquema e armazená-lo na cabeça.

Se em todas as situações, enquanto seres humanos, tivéssemos de


perceber como é que nos comportamos, o que é que é esperado e o que é
suposto fazer, isto tornar-se-ía muito difícil. Tão difícil que a esta situação se dá
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o nome de Síndrome de Korsakoff, ou seja, relaciona-se com a incapacidade


das pessoas, de formarem novas memórias, o que faz com que elas vivam as
situações, sempre, como se fosse a primeira vez.
EX: chegar a uma sala de aula e não saber se se deve sentar, se deve andar à
volta, etc…
O esquema permite organizar rapidamente a informação, permite
também compreender a informação à qual estamos a ter acesso. Permite
preencher os espaços em branco no conhecimento. O ser humano vai buscar o
esquema mental que tem e vai colocá-lo naquela situação de forma a
preencher aquela lacuna. Permite, também, olhar para uma situação ambígua
e tentar compreendê-la, tentar perceber o que se está a passar, com base nos
esquemas prévios que já tem construídos.
EXPERIÊNCIA QUE FOI REPETIDA VÁRIAS VEZES (Processo de amostragem por
conveniência, em que a amostra são os alunos de psicologia)
Numa Palestra, havia um palestrante convidado.
Os alunos tiveram acesso a uma pequena biografia do palestrante e a algumas
características deste como “as pessoas que o conhecem descrevem-no como sendo
uma pessoa calorosa, trabalhadora, critica, prática e determinada” ou “as pessoas
que o conhecem descrevem-no como sendo uma pessoa fria, trabalhadora, critica,
prática e determinada” antes de ouvirem uma pequena palestra feita pelo
palestrante convidado.
No final foi pedido que atribuíssem uma classificação à palestra:
Os alunos que ouviram a descrição com a palavra “caloroso” atribuíram melhor
classificação à palestra e participaram mais durante a palestra.
Harold Kelley (1950)

TIPOS DE ESQUEMAS
Não são hierarquizados. Estão ao mesmo nível
É o esquema que se forma em relação a uma determinada
Esquemas de
pessoa, ou seja, é a estrutura cognitiva em relação a essa
Pessoas
pessoa.
Percepções que se tem sobre determinado papel social que
determinada pessoa desempenha.
Exemplo de esquema de papel: quando se vê um piloto, pensamos
nele como que a entrar na cabine de um avião. Portanto temos uma
expectativa sobre o papel que aquela pessoa desempenha.
Esquemas de Quando olhamos para uma pessoa, pelo papel que ela
Papel desempenha, esperamos determinada coisa. Na nossa
cabeça já temos o esquema que vamos activar em relação
àquele papel social que aquela pessoa desempenha. Pode
ser laboral, familiar ou qualquer outro tipo de papel.
Portanto, já se tem uma estrutura cognitiva que se vai
buscar.
Permitem saber o que se deve fazer em determinada
situação.
Esquemas de Exemplo de esquema de guião: quando chego a um restaurante, devo
Guião aguardar para me ser indicada a mesa, saber que se a mesa não
estiver limpa, devo esperar que a mesa seja limpa, saber que me
trazem a ementa para escolher, saber que faço um pedido.
Esquemas Esquema sobre a minha representação, enquanto indivíduo,
sobre o Próprio que vou trabalhando ao longo da vida.
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Supondo que chego a um Convento de freiras. Tenho algum esquema


do que é suposto fazer ali, nomeadamente o não fazer barulho, estar mais
sossegado. Isto é o meu ESQUEMA DE GUIÃO. O que penso em relação às
freiras, o que espero em relação às freiras, ou a uma freira é o meu ESQUEMA
DE PAPEL, e imaginando que conheço uma delas, é a D Maria, que me
conhece desde pequenino e que gosto muito dela. Isto já é um ESQUEMA DE
PESSOA, porque vou associar à D Maria todas as ideias que tenho dela.
Os esquemas podem trabalhar uns com os outros. Isto encontra-se no
seguinte exemplo: vou sozinho a um sítio que já sei o que é para fazer ali.
Neste caso posso só ter o ESQUEMA DE GUIÃO. Vou a esse sítio encontrar-
me com um amigo. Há a mistura do ESQUEMA DE GUIÃO com o ESQUEMA
DE PESSOA. Encontro-me naquele sítio com a pessoa que lá trabalha. Há a
mistura do ESQUEMA DE GUIÃO com o ESQUEMA DE PAPEL.
No entanto, se me encontrar com um amigo, pode acontecer o
ESQUEMA DE PESSOA e o ESQUEMA DE PAPEL, ou seja, tenho a pessoa
em consideração em determinado aspecto. Nós somos pessoas e como
pessoas que somos, desempenhamos vários papéis na nossa vida e esse
amigo tem as suas características pessoais e para mim desempenha o papel
de amigo, portanto quando me encontro com ele, funde-se as duas coisas, os
dois esquemas. O que é que espero do papel social de amigo e o que é que
espero daquela pessoa em particular. As coisas podem ser correspondentes ou
não. Eu posso esperar de um amigo, compreensão, disponibilidade e afecto e
aquele meu amigo pode ser narcisista e egocêntrico. Portanto, às vezes, as
coisas podem ser antagónicas. Ora eu tenho um esquema de papel e a pessoa
pode encaixar ou não. Muitas vezes isto pode originar conflito de papel, ou
seja, na vida acumulo papéis que são incompatíveis uns com os outros.
Ex: Conflito trabalho / família. Pode ocorrer por questões de pressão, por
questões temporais, por várias naturezas de questões, ou seja, o meu papel familiar
/ pessoal não é possível ser realizado porque o meu papel laboral não o permite.
O ESQUEMA SOBRE O PRÓPRIO vai influenciar a nossa percepção
sobre os outros esquemas. Nunca conseguimos tirar-nos das situações. O
ESQUEMA SOBRE O PRÓPRIO está constantemente a ser activado.

UTILIZAÇÃO DE ESQUEMAS
Acessibilidade dos esquemas: o facto de o esquema estar em primeiro plano
faz com que este seja mais acessível e mais frequentemente utilizado ao fazer
julgamentos sobre o mundo social.
EX: quando cozinhamos vamos usar os ingredientes que estão mais à mão. Num
roupeiro, uso a roupa que está mais à mão. Ou seja, vou usar o que está mais
acessível.

O que é que torna um esquema mais acessível?


1. As experiências passadas. Os esquemas podem tornar-se crónicos ao
serem constantemente usados. Para interpretar situações ambíguas se usar
constantemente aquele esquema vai-se tornar crónico e as minhas
experiências passadas vão fazer com que o meu esquema esteja mais
acessível.
2. Estar relacionado com o objectivo actual. O que está mais premente traz
um esquema como sendo o mais acessível.
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3. Experiências actuais prévias à situação – Aquilo que aconteceu


imediatamente antes de determinada situação. Isto conduz ao PRIMING.
Processo pelo qual as experiências recentes aumentam a acessibilidade de
um esquema, característica ou conceito.

AQUISIÇÃO, DESENVOLVIMENTO e MUDANÇA


Formamos esquemas através da abstracção.
Inicialmente os esquemas são abstractos. À medida
que vão sendo reforçados tornam-se cada vez mais
ricos, complexos e mais organizados (com maior
AQUISIÇÃO e ligação entre os elementos esquemáticos).
DESENVOLVIMENTO Se tiver um esquema que não uso muitas vezes ele
centra-se no campo da abstracção, ao passo que, se
fôr um esquema que use, que vou completando e
agregando informação, consigo que tenha nitidez e
complexidade.
1. Processo gradual como resposta a novas
evidências. Obtendo nova informação, faz com que
elabore sobre o esquema que tenho, mudando o
meu esquema existente. Isto é gradual.
2. Não confirmação de informação vai sendo
acumulada até que há um factor precipitante que
MUDANÇA leva a uma alteração súbita;
3. Formação de subcategorias, através da alteração
da sua configuração.
Ex. Como me comportar num restaurante que é para
acelerar. Como me comportar num restaurante que é
para andar devagarinho. Há uma alteração na
configuração do esquema.

2. ATRIBUIÇÃO CAUSAL
A atribuição causal é o processo de atribuir uma causa ao comportamento –
do próprio ou de terceiros. As explicações causais são bases importantes para
a predição e para a sensação de controlo.
Os seres humanos gostam muito da sensação de controlo, porque quando não
sentem controlo sentem-se vulneráveis e o ser humano não gosta da
vulnerabilidade.
Uma das questões que a COVID 19 trouxe, foi a baixa percepção de controlo, a
qual aumenta muito a nossa percepção de vulnerabilidade. O ser humano não
gosta disto, gosta de prever as coisas, gosta de segurança, porque se fizer as
coisas de uma determinada maneira, os resultados que obtém são aqueles e
isto é muito importante para o ser humano.
Aquilo que muitas vezes fazemos nesta lógica da atribuição causal é sempre
procurar os motivos subjacentes ao comportamento do outro. Para nós, seres
humanos, o comportamento do outro tem sempre de ter um motivo e às vezes
o motivo pode ser apenas a pessoa estar tão distraída que nem reparou no que
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estava a fazer. No entanto eu não vou interpretar as coisas assim, vou procurar
uma causalidade, eu vou procurar, na intenção do outro, alguma coisa que
consiga justificar o seu comportamento.
Exemplo: final das relações.
Tantas vezes procuramos um motivo e às vezes o motivo é somente porque a outra
pessoa deixou de gostar, porque os sentimentos mudam, crescem, evoluem no
sentido que têm de evoluir. E às vezes o sentimento também acaba. Outras vezes
os motivos são muito grandes. No entanto procuramos sempre muita
intencionalidade no comportamento do outro para o conseguir compreender e para
o conseguir justificar e para o conseguir prever.

HEIDER
Teoria da Psicologia Ingénua

Uma das figuras mais importantes da psicologia social é HEIDER. Na


obra “Psicologia das Relações Interpessoais”. Heider falou muito sobre a noção
da consistência cognitiva e da noção de equilíbrio cognitivo. Realça o
processo de atribuição olhando muito para as relações que os seres
humanos estabelecem entre eles. O autor compreendeu que a Psicologia
Social beneficiava se olhasse para as noções do senso comum e teorias
psicológicas quotidianas, pois estas influenciam quer a percepção, quer o
comportamento do sujeito. É como se este senhor tivesse dito: calma gente
nós não precisamos de ir para Marte estudar os humanos, nós tê-mo-los aqui à
nossa frente. Não precisamos de lhes pôr teorias super complexas, porque eles
já fazem isto. Eles já criam teorias, já procuram encontrar relações de
causalidade.
Assim, pegou nesta Teoria Ingénua para compreender de que forma é
que o ser humano atribui causas ao comportamento.
Este modelo de cognição social compreende a análise causa-efeito que
o sujeito faz para compreender o mundo que o rodeia. Heider compreendia
os sujeitos como sendo psicólogos intuitivos ou ingénuos porque constroem
teorias causais sobre o comportamento humano.
Refere a importância da forma como o sujeito ajusta internamente as
suas cognições de modo a estar em equilíbrio interno, bem como o
ajustamento que o sujeito faz ao contexto social onde se insere. O
sujeito procura equilíbrio e harmonia.
Faz uma análise factorial que conjuga os aspectos do outro, do
contexto e do imprevisto associado à acção. (a variável imprevisto, a variável
que não se controla, foi Heider que a trouxe para este contexto).
Isto é importante entrar na nossa análise factorial. A forma como vou ver
factores que se relacionam entre si, permite-me chegar a processos de
causalidade. Portanto, é o aspecto do outro, do contexto envolvente e do
imprevisto.
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3 PRINCÍPIOS – BASE DA PSICOLOGIA INGÉNUA


1. O sujeito compreende que na origem do seu comportamento estão factores
que não são aleatórios (não fazemos as coisas por acaso. Fazemos as
coisas por um motivo) e, por esse motivo, assume o mesmo pressuposto
para o comportamento dos outros e procura compreender os motivos que
o originam.
EXEMPLO
Se eu não faço as coisas por acaso, a outra pessoa também não as faz. Portanto,
vou olhar para o comportamento do outro e vou estar à procura dos motivos que
estão na origem do seu comportamento.
Quando tenho pouco material para determinar a causalidade do comportamento da
pessoa, vou atribuir, na mesma, causalidade. A isto, em psicologia social, chama-se
inferência errónea ou errada
2. O sujeito elabora teorias causais que lhe permitam predizer e controlar o
ambiente à sua volta, procurando propriedades e caraterísticas estáveis no
contexto envolvente.
EXEMPLO
A Natureza. Tenho necessidade de saber que em Dezembro caem ou já caíram as
folhas todas, que está frio, que tenho de usar roupas mais quentes. Isto permite-me
ter uma noção de estabilidade e permite-me ter linhas orientadoras para as minhas
condutas.
Este é o exemplo da Natureza, mas pode ser de outras coisas.
3. Distinção entre factores internos ou disposicionais (os que são meus) e
factores externos ou situacionais (que são os que estão à minha volta).
Apesar de sabermos que existem factores situacionais, imaginamos que os de
maior quantidade são os internos e os de menor quantidade os externos,
quando na realidade não é assim. Na verdade podem ser factores internos,
mas podem, muitas vezes, ser factores externos ou situacionais e o sujeito
tem, na sua essência, a tendência de ir mais para os factores internos ou
disposicionais do que para os externos, o que muitas vezes faz com que, na
minha tendência de procurar estabilidade vá atribuir traços à pessoa, que ela
pode não os ter, mas eu vou atribui-los para ganhar estabilidade, coerência e
segurança.
Há uma tendência de enviesamento pois o sujeito tende a realizar com
mais frequência atribuições causais internas do que externas - tendência
para sobrestimar a influência dos factores pessoais, nomeadamente o
esforço, motivação e capacidade, e subestimar a influência dos outros
factores. Isto é a nossa tendência enquanto seres humanos.
O austríaco Fritz Heider formulou, em 1958, a primeira
teoria da atribuição causal para explicar os factores que
influenciam a nossa percepção das causas dos
eventos.
HEIDER As pessoas agem como ‘cientistas ingénuos’:
Teoria da conectamos eventos a causas não observáveis para
Atribuição Causal entender o comportamento de outras pessoas e prever
eventos futuros, obtendo assim uma sensação de
controle sobre o meio ambiente. No entanto, tendemos a
fazer atribuições causais simples que levam em
consideração principalmente um tipo de factor.
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O modelo de atribuição de Heider distingue entre atribuições internas


ou pessoais e externas ou ambientais. Embora a capacidade e a motivação
para realizar comportamentos sejam factores internos, o destino e a dificuldade
da tarefa destacam-se entre as causas situacionais.
Se atribuímos o nosso próprio comportamento a causas internas, assumimos a
responsabilidade por ele, enquanto que, se acreditarmos que a causa é
externa, isso não acontece.

JONES & DAVIS


PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO E AS INFERÊNCIAS
CORRESPONDENTES

Explica a forma como as pessoas inferem que o


comportamento do outro corresponde a um traço de
Teoria das
personalidade ou a uma predisposição, ou seja,
Inferências
factores estáveis que tornam o comportamento do
Correspondentes
outro previsível, o que aumenta a percepção de
controlo individual.

A teoria da atribuição de Jones e Davis foi proposta em 1965. O


conceito central deste modelo é o de “inferência correspondente”, que
se refere às generalizações que fazemos sobre o comportamento
que outras pessoas terão no futuro, dependendo de como explicamos o
seu comportamento anterior.
Fundamentalmente, Jones e Davis afirmaram que fazemos
inferências correspondentes quando acreditamos que certos
comportamentos de uma pessoa são devidos ao seu modo de ser. Para
fazer estas atribuições, primeiro é necessário afirmar que a pessoa tinha
a intenção e a capacidade de realizar a acção.
É mais uma forma de ver a questão para novamente dar
previsibilidade e percepção de controle. Procurar no outro, evidências
que me permitam aferir que o comportamento dele deriva de um traço de
personalidade.
Se for possível, se a informação de que se dispõe permitir chegar a
esta inferência é produzida uma atribuição com elevado grau de
confiança que permite ter expectativas sobre comportamentos futuros,
mas caso não seja possível é preciso recolher informação sobre a
situação.

Fontes de recolha de informação para fazer uma inferência correspondente:


1. O facto de o comportamento resultar de uma livre escolha do actor e não
de factores externos. Isto permite ter acesso a mais informação;
Exemplo
Aquela pessoa fez isto porque quis e não foi obrigada a tal.
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2. Desejabilidade social: quanto menor a desejabilidade social e mais


inesperado fôr o comportamento, mais informações teremos sobre o actor e
maior a probabilidade de se privilegiarem os factores pessoais;
Agir de acordo com o
que é espectável ou
Desejabilidade social desejável, numa
determinada situação
ou em sociedade.
Exemplo
● É expectável que uma pessoa diga “boa tarde” quando entra numa sala e está lá
alguém;
● É espectável que num transporte público, dê o lugar a uma grávida ou um idoso.
Estou a agir de acordo com a desejabilidade social.
3. O comportamento resultar em efeitos não comuns;
4. O comportamento do outro ter consequências para o sujeito;
5. Se percepcionar, no outro, a intenção directa de me beneficiar ou me
prejudicar.

Se conseguir compreender que a pessoa quando agiu tinha o intuito de me


bem eficiar ou prejudicar, eu tenho aqui mais uma fonte de informação.

Efeitos não comuns são efeitos que não podem ser


Efeitos não
associados a vários comportamentos.
comuns

Efeitos em que posso perceber que há uma série de


comportamentos que podem ter originado aquele efeito.
Efeitos Exemplo
A pessoa está a rir. É porque alguém lhe fez cócegas, ou porque
comuns
alguém lhe contou uma anedota, é porque viu uma imagem
engraçada, etc. há várias coisas que conduzem àquele
comportamento

PISTAS INFERÊNCIA CORRESPONDENTE


O acto foi escolhido livremente O acto reflecte alguma
O acto produziu um efeito incomum, característica "verdadeira" da
não esperado pessoa (traço, motivo, intenção,
O acto foi considerado socialmente atitude, etc)
desejável
O acto teve um impacto directo em
nós (relevância hedónica)
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O acto parecia ter a intenção de nos


afectar (personalismo)

KELLEY

PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO E CO-VARIAÇÃO


Modelo centrado no processo de atribuição global – aplica-se a
actores e aos observadores de um efeito social.
Conceitos base para o processo de atribuição: pessoas, cenário e
situação.
As pessoas atribuem a causa do comportamento a factores causais que
co-variam de forma próxima ao comportamento – atribuição de um papel
causal. Procedimento semelhante à ANOVA.

Procedimento estatístico, em que se usa mais do que uma


amostra para ver a variação de uma determinada variável.
ANOVA
Fazemos o mesmo, com a variável dependente e a independente,
mas em vez de ser com uma só amostra, é com mais do que uma.

Os factores causais (pessoas, cenário e situação) têm variações


que estão relacionadas entre si. Quando fazemos uma ANOVA, vamos
comparar amostras independentes, ou seja, vemos a variação em
amostras independentes. Kelley vai ver qual a relação e a variação entre
eles.
Kelley formulou em 1967 uma teoria que distingue entre atribuições
causais baseadas numa única observação comportamental e as
baseadas em múltiplas observações.
Segundo Kelley, se fizermos apenas uma observação, a atribuição
é feita com base na configuração das possíveis causas do
comportamento. Para isto, usamos os esquemas causais, crenças
sobre os tipos de causas que causam certos efeitos.
Estes efeitos destacam o esquema de múltiplas causas suficientes,
que é aplicado quando um efeito pode ser causado por uma de várias
causas possíveis e o de várias causas necessárias, segundo as quais
várias causas devem concordar para que um efeito ocorra. O primeiro
destes esquemas é geralmente aplicado a eventos habituais e o segundo
a eventos menos frequentes.
Por outro lado, quando tivermos informações de várias fontes,
atribuiremos o evento à pessoa, às circunstâncias ou ao estímulo,
dependendo da consistência, da distinção e do consenso em torno do
comportamento.
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Especificamente, atribuímos mais facilmente um evento às


disposições pessoais do actor quando a consistência é alta (a pessoa
reage da mesma maneira em diferentes circunstâncias), a distinção é
baixa (comporta-se da mesma maneira a vários estímulos) e o consenso
também (outras pessoas não executem o mesmo comportamento).

Assim, conjugamos 3 tipos de informação:


1. Consistência – diz que o comportamento A ocorre sempre com o estímulo
B;
Exemplo
Se alguém fizer A acontece, sempre, B.
● Se se dá um osso a um cão, o cão associa aquela hora ao osso e no dia
seguinte, àquela hora está a pedir um osso.
● Quando os bombeiros tocam a sirene ao meio dia, as pessoas já sabem que é
meio-dia.

2. Distintividade ou clareza – a informação sobre se a reacção do outro


ocorre apenas com um estímulo ou se é frequente acontecer com vários
estímulos;
Exemplo
Os efeitos não comuns. Só se associam a um comportamento e é isto que
permite ver se há distintividade ou clareza.
Percebemos que aquilo só acontece com aquele estímulo ou se pelo
contrário acontece com vários estímulos.

3. Consenso – a forma como os outros sujeitos reagem ao estímulo em


questão.
Exemplo
● Este comportamento é característico da Madalena ou é característico dos
portugueses?
● É algo que é somente daquela pessoa ou é algo que é uma norma
generalizada?

Com base nestes tipos de informação, conseguimos atribuir causalidade


aos comportamentos das pessoas. Isto é importante, para se ter controlo e
prever o comportamento das outras pessoas. Daí a ATRIBUIÇÃO CAUSAL.

Consistência Distintividade Consenso Atribuição


Desconto
Baixa (procura de uma
causa diferente)
Alta Externo
Alta Alta (atribuído ao
estímulo)
Alta Baixa Baixa Interno
(atribuído à
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pessoa)

Com a conjugação destas 3 dimensões percebemos como se faz a


atribuição.
Se o comportamento tiver baixa consistência, baixa distintividade e
baixo consenso, não conseguimos atribuir uma causa. Temos de procurar
outra informação.
Se, pelo contrário, se observarmos que o comportamento tem alta
consistência, alta distintividade e alto consenso, então atribuímos a causa
a um estímulo externo.
No entanto, se observarmos que o comportamento tem alta
consistência mas baixa distintividade e baixo consenso, vou atribuir as
causas daquele comportamento à pessoa.

ERRO FUNDAMENTAL DA ATRIBUIÇÃO


Corresponde à tendência para subestimar o papel dos factores pessoais
disposicionais e a subestimar o impacto dos factores da situação na
determinação do comportamento do outro.
Exemplo
Um gerente de vendas atribui o fraco desempenho da equipe à preguiça dos
vendedores e não a um produto concorrente.

O erro é simples, é o justificar as coisas com base na pessoa e não pensar que
pode haver uma situação que justifique o comportamento. Isto é o Erro
Fundamental da Atribuição.

3 . FORMAÇÃO DE IMPRESSÕES
“Formar uma impressão é organizar a informação disponível acerca de uma
pessoa de modo a podermos integrá-la numa categoria significativa para nós.”
As impressões são formadas com base em indícios - não é necessário ter-se
observado o atributo.
Exemplo
Posso ter tido uma pista que me indicou que aquela pessoa é simpática, a pessoa
sorriu – a pessoa não me cumprimentou, a pessoa não falou com mais ninguém –, a
pessoa sorriu uma vez e este indício é o suficiente para eu formar uma impressão,
não preciso ter observado o atributo na sua plenitude. A impressão não é menos
forte, porque eu não observei o atributo na sua plenitude.

FORMAR UMA IMPRESSÃO – termo designado por ASCH, que acabou por
ficar esta designação: formar impressões. Se bem que actualmente seria mais
correcto dizer ORGANIZAÇÃO DE IMPRESSÕES”.

As primeiras impressões correspondem à categoria avaliativa (que é


afectiva ou instrumental), mas não ficam por aí… a partir desta primeira
avaliação o sujeito sente-se capaz de fazer inferências acerca da pessoa em
causa.
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Eu consigo extrapolar características daquela pessoa com base nesta


primeira impressão. Para tal usamos os esquemas cognitivos para completar a
informação em falta. (Hamilton et al.,
1980).
A formação de impressões (é dos processos mais complexos e
imediatos que acontecem na nossa mente) permite definir certos traços
como estáveis, o que permite ter coerência sobre o comportamento da
pessoa e até predizer o futuro.
(Vala e Monteiro, 2017)

ABORDAGENS
● CONFIGURACIONAL

● INTEGRAÇÃO DA INFORMAÇÃO

● BASEADA NA MEMÓRIA

ABORDAGEM CONFIGURACIONAL DE ASCH

ABORDAGEM GESTÁLTICA, significa isto que considera as coisas como um


todo, interagindo estas e o todo, sendo mais do que a soma das partes. Há,
aqui, um valor diferente
Para formar uma impressão o sujeito integra os vários elementos
informacionais, reinterpretando-os se necessário, de forma a construir um
todo coerente (vou reinterpretar a informação para que ela tenha coerência).
Trata-se de um processo holístico onde o significado de cada elemento é
construído em função das suas relações contextuais com os restantes.

Experiência 1 de ASCH, 1946


Seis grupos. Deu-lhes a ler a descrição de uma pessoa composta por uma lista de 7
características. Depois deveriam formar uma impressão sobre a pessoa de quem
ouviram falar.
Pegou no 1º e 2º grupo e deu-lhes a ler, a um uma lista, ao outro a outra lista. E
assim sucessivamente com os restantes grupos.
Três metodologias:
A. Pediu ao 1º e 2º grupo que fizessem uma apreciação sobre a pessoa descrita;
B. Pediu ao 3º e 4º grupo que fizessem uma lista de palavras a partir da informação
obtida
C. Pediu ao 5º e 6º grupo que assinalassem numa lista de pares de adjectivos
opostos aqueles que melhor descreveriam a pessoa.

Todos os grupos tiveram acesso às mesmas listas de palavras. As palavras


não variaram. O que variou foi a forma como as pessoas escreveram a sua
impressão. Isto para consolidar os dados que foram encontrados. Foi um
procedimento feito de várias formas para ver se há consistência ou não.
Independentemente da forma como respondem foi sempre da mesma maneira.

Lista A: inteligente, hábil, industrioso, caloroso, determinado, prático e cauteloso.


Lista B: inteligente, hábil, industrioso, frio, determinado, prático e cauteloso.
(Vala e Monteiro, 2017)
16

Resultados:
● As impressões das pessoas que ouviram a lista A foram muito mais positivas;

● Da lista de adjectivos foi possível verificar que há um conjunto de traços que são
atribuídos à pessoa calorosa e outro à pessoa fria. Existem ainda traços que não
sofreram alterações;
● As características não têm todas o mesmo peso – há traços centrais e periféricos.

INDUSTRIOSO = TRABALHOSO
Experiência 2 de ASCH, 1946
Lista A: inteligente, hábil, industrioso, polido, determinado, prático e cauteloso.
Lista B: inteligente, hábil, industrioso, rude, determinado, prático e cauteloso.
(Vala e Monteiro, 2017)
Resultados:
● A mudança de um traço periférico traz menos mudanças do que a mudança
de um traço central.

ASCH concluiu que estas palavras – polido e rude – tornam-se um traço


periférico e não num traço central, tal como o são “caloroso” e “frio”.

Experiência 3 de ASCH, 1946


Lista A: obediente, fraco, superficial, caloroso, não ambicioso, frívolo.
Lista B: frívolo, astuto, sem escrúpulos, caloroso, superficial, invejoso.
(Vala e Monteiro, 2017)
Resultados:
Em ambas as listas “caloroso” foi considerado um traço periférico, perdendo
relevância face a outras características mais centrais.

ASCH percebeu que não podemos dizer que só por si “caloroso” é um


traço central. Se estiver alinhada com outras palavras, deixa de ser central e
passa a ser periférico., ou seja, o contexto faz a diferença. Asch diz que esta
abordagem gestáltica congrega as várias informações tendo em conta a
interacção e os valores contextuais. A forma como estão relacionadas umas
com as outras.
Com base nisto, Asch concluiu:
Existem características mais centrais e outras mais periféricas. Não
depende tanto da característica em si, mas da relação desta no contexto
envolvente. Assim os traços não são independentes do contexto onde se
inserem, podendo ocorrer uma mudança de significado, isto é, a mesma
característica tem um peso diferente caso seja central ou periférica.

Três principais conclusões (ASCH):


1. Alguns traços determinam os conteúdos e a função de outros traços. Os
primeiros são os traços centrais e aos segundos, os traços periféricos.
2. Há um processo de discriminação entre traços centrais e periféricos,
pois nem todos os traços ocupam o mesmo valor na impressão final. A
mudança de um traço central pode alterar completamente a impressão,
enquanto a mudança de um traço periférico tem um efeito mais fraco.
3. Tanto o conteúdo cognitivo de um traço como o seu valor funcional são
determinados pela relação com o seu contexto.
17

Questão de investigação:
“Como é que com apenas acesso a alguma informação/traço se conclui que a
pessoa possui também outro traço?”
A resposta surge nas “teorias implícitas da personalidade” (Bruner & Tagiuri,
1954) que refere a existência de categorias comuns que são usadas pelas
pessoas para descreverem outras e crenças sobre relações entre os atributos
da personalidade.
São teorias porque se baseiam num conjunto estruturado de categorias e
crenças. Implícitas porque não têm validação empírica. Segue um pouco a
psicologia ingénua de Heider.
Funcionam como um mapa cognitivo interno que orienta a interacção
entre as pessoas. Estamos sempre à procura destes pontos de referência. E
formamos estas teorias e é com base nelas que vou inferir que uma pessoa
sorridente é uma pessoa simpática, calorosa, disponível, quando na base só vi
um indício: um sorriso.

ABORDAGEM INTEGRAÇÃO INFORMAÇÃO DE ANSERSON

ABORDAGEM ASSOCIACIONISTA
Cada elemento da informação tem um valor próprio e contribui de uma
forma independente para a impressão geral. O contexto perde relevância,
pois a impressão resulta da combinação dos valores de cada item. O que
interessa são os itens e não o contexto. É uma perspectiva associacionista –
cada item dá o seu próprio contributo para a formação de impressões.

ABORDAGEM BASEADA NA MEMÓRIA

A formação de impressões depende da memória e esta abordagem


procura analisar os processos relativos à aquisição, armazenamento e
recuperação da informação (e.g. Brewer, 1988; Fiske e Neuber, 1989; Hastie el al., 1980) .
Andam sempre em torno destes processos. É necessário recorrer à
informação anterior para formar uma nova memória.
Esta teoria foi trabalhada por vários autores.

FACTORES QUE INFLUENCIAM A FORMAÇÃO DE


IMPRESSÕES

EFEITOS DE ORDEM
1º FACTOR: EFEITO DE PRECEDÊNCIA

Efeito de Efeito que o primeiro item a ser apresentado, exerce sobre os


Precedência restantes.
Exemplo
18

Numa festa em que vejo alguém, que não conheço, e essa


pessoa mostra que não é simpática, que não está interessada
em conhecer-me, esse comportamento pode condicionar todas
as interacções que vou ter com essa pessoa ou todas as
impressões que vou ter acerca dessa pessoa – efeito de
precedência.

Recentemente descobru-se um efeito onde os últimos itens desempenham um


impacto maior do que a informação anterior, muito provavelmente condicionado
pelo facto de o sujeito não manter a sua atenção ao longo da exposição e
prestar mais atenção à última informação que lhe é fornecida.
Portanto, os efeitos de ordem têm estão relacionados com a ordem de
apresentação dos factos e sabe-se que os que aparecem em primeiro ou em
último lugar podem condicionar a impressão que formamos.

2º FACTOR: EFEITO DE HALO

Tendência para percepcionar características na pessoa que


sejam consistentes com a impressão formada. Ocorre a partir de
pistas verbais e não-verbais.
Efeito Ou seja, vou procurar pistas que corroborem a minha primeira
de Halo impressão. Sejam elas positivas ou negativas.
Exemplo
Nos processos de avaliação de desempenho, o efeito de halo é a
interferência causada pela simpatia que o avaliador tiver pela pessoa
que está a ser avaliada.

Em 1920, Thorndike descreveu o que designou por "efeito de halo", ou seja,


criada uma primeira impressão global sobre uma pessoa, temos a tendência
para captar as características que vão confirmar essa mesma impressão. A
primeira impressão vai afectar as nossas avaliações em relação à pessoa
observada.
Exemplo
O chefe considera um funcionário competente, por nunca chegar atrasado.
3º FACTOR: DISTORÇÕES DE POSITIVIDADE E NEGATIVIDADE
Predisposição genérica em que se realizam mais
Distorções de
avaliações positivas do que negativas. Também conhecido
Positividade
como “efeito de brandura”, “distorção da positividade” e
ou “Efeito de
“efeito de Poliana”. É mais frequente em situações de
Brandura”
cooperação e menos usual em situações de competição.

As distorções de positividade, relacionam-se com o facto de o ser humano ter


uma tendência geneticamente adquirida para procurar mais traços positivos do
que negativos. É também conhecido como “Efeito de Brandura” ou “Efeito de
Poliana” que se relaciona com bonecos, que nos fazem ver o mundo todo com
unicórnios, póneis, etc, coisas muito fantasiosas, muito doces e felizes.
É mais frequente haver distorções de positividade quando trabalhamos em
situações de cooperação e não em situações de competição.
Exemplo
19

Os trabalhos de grupo que os alunos têm de apresentar.


É suposto que os colegas de grupo tenham um trabalho colaborativo entre eles. A
tendência, quando os colegas não se conhecem, é fazerem distorções de
positividade, porque estão numa óptica colaborativa.

No caso de o docente pedir que 3 pessoas façam um trabalho para ver quem é
o melhor, neste caso existe uma situação de competição e as distorções de
positividade, são menos frequentes.

Sindrome Tendência que as pessoas têm de se lembrarem mais facilmente


de Poliana de coisas agradáveis do que de coisas desagradáveis.

Ocorre quando a impressão negativa determina uma


Distorções de primeira impressão desfavorável e é mais comum quando
Negatividade estamos perante informação moral ou afectiva com cariz
negativo.

Quando são características morais ou afectivas, negativas, temos uma


distorção de negatividade muito grande.
Exemplo
Uma mãe e a criança.
A criança está a pedir atenção à mãe, a chorar e a pedir que a mãe lhe dê atenção e
a mãe ignora a criança. Só vemos esta imagem, no entanto vamos formar uma
impressão muito mais negativa do que se estivéssemos numa situação em que 2
desconhecidos que estão na rua.
Um fala para o outro e o outro não lhe responde, aí vai ser menos provável
formarmos uma impressão negativa. Quando achamos que aquela acção é
afectivamente e moralmente condenável, formamos uma impressão muito negativa.

Tendencialmente um traço negativo é mais saliente e traz maior valor


informacional. De uma forma geral é mais difícil mudar uma primeira
impressão desfavorável do que favorável.
20

Esquema Mental - Cognição Social

Conjunto de cognições que estão


relacionadas entre si e que
Esquema permitem categorizar um objecto
com base numa quantidade
limitada de informação

Atribuição Processo de atribuir uma causa ao


Causal comportamento

Psicologia Ingénua
Processamento de
de Heider
Processamento de
informação e as
informação e Co-
inferências
variação
correspondentes
de Jones & Davis

Predizer o comportamento,
Erro
percepção de estabilidade e
Fundamental
controlo
da Atribuição

Organizar a informação
Formação de impressões disponível acerca de uma
pessoa, de modo a integrá-
la numa categoria
significativa

Abordagem Abordagem de integração


configuracional Abordagem baseada
da informação de Anderson na memória
de Asch

Efeitos de Ordem, Efeito de Halo, Distorções de


Positividade e de Negatividade
21

ATITUDES
FORMAÇÃO e MUDANÇA
CONCEITO DE ATITUDE
Avaliação de um objecto que pode variar do extremamente negativo
ao extremamente positivo, mas também admite que as pessoas
Atitude podem estar em conflito ou ambivalentes, em relação ao significado
de um objecto e que podem em momentos diferentes expressar
tanto atitude positiva como negativa para o mesmo objecto.

Allport menciona a atitude como sendo o conceito mais indispensável da


Psicologia Social e é um Construto hipotético referente à «tendência
psicológica que se expressa numa avaliação favorável ou desfavorável de
uma entidade específica»

● Não é directamente observável. Eu não observo as


atitudes. Eu observo, a manifestação comportamental.
Construto
Hipotético ● O que se observa é o comportamento e a partir deste,
realiza-se uma inferência sobre os processos
psicológicos internos do sujeito.

Tendência ● Estado interior com alguma estabilidade temporal;


Psicológica
● As atitudes são aprendidas e estáveis.

As atitudes expressam-se através de um julgamento avaliativo com três


dimensões:
1. Direcção: é favorável ou é desfavorável;
2. Intensidade: pode ser uma atitude forte ou uma atitude fraca;
3. Acessibilidade na atitude: a atitude acessível é aquela que está mais
disponível. É mais provável que seja activada na memória.

Acessibilidade: é determinada pela probabilidade de a atitude ser activada na


memória quando o sujeito se encontra com o objeto da atitude, Uma atitude
acessível exerce maior influência no comportamento, é mais estável e
resistente à mudança.
(Fazio, 1995).
Atitude é o que está na cabeça. Comportamento é o que se executa.
Sobre um qualquer assunto vou ter uma Tendência Psicológica. vou construir
algo, vou ter uma percepção sobre aquele assunto. Isto é algo que construo e
elaboro na cabeça. E fica cá. Mas as outras pessoas não observam. As outras
pessoas observam o comportamento. Esta noção, este construto sobre algo,
22

pode ser mais acessível ou menos acessível. Se fôr mais acessível, o objecto
da atitude evidencia-se. Uma atitude acessível como é mais usada exerce
maior influência no comportamento e é mais estável e resistente à mudança,
está muito trabalhada.

Exemplo: Um carro eléctrico.


O objecto da atitude é o carro eléctrico. A atitude, é o que se pensa acerca do carro
eléctrico e o comportamento é aquilo que se vai expressar, que se vai fazer. Pode ser
dizer, espreitar o carro. Mas é o que é observável. A atitude não é observável.

FORMAÇÃO DAS ATITUDES


PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS ATITUDES
Deriva de:
● Experiências do sujeito;

● Reacções emocionais do sujeito;

● Influência dos outros.


Exemplo
● Uma mesa de café.
A minha experiência quando vou ao café é agradável. Sinto-me bem, o café é bom,
tenho um bom momento, costumo divertir-me. As pessoas com as quais vou ao café,
também gostam muito de lá estar e sentem aquele espaço como muito agradável. A
atitude que vou formar sobre o café vai ser favorável.
● Tourada
Já vi uma tourada, portanto já tive uma experiência de touradas. Eu não gosto de
touradas porque as reacções foram negativas, embora os que estivessem à minha
volta dissessem que era uma situação cultural. No entanto, eu disse que não gosto.
Estes factores são muito influentes para mim.

ATITUDES E COGNIÇÃO
Heider falou na consistência cognitiva e no equilíbrio psicológico e mantém o
mesmo princípio.

Princípio do Equilíbrio Refere-se o à função organizadora do ambiente


(Heider) subjectivo do sujeito.

Sujeito

Entidade (pessoa ou objecto) Entidade (pessoa ou objecto)


23

TRÍADE: interacção entre o sujeito (eu), entre a entidade (pode ser uma
pessoa ou um objecto) e entre outra entidade (pode ser uma pessoa ou um
objecto).

Ambiente São os vários objectos atitudinais com os quais o sujeito se vai


Subjectiv cruzando ao longo da vida
o

Segundo Heider, vamos sempre procurar ter equilíbrio entre os elementos da


tríade, entre o sujeito e a entidade e a outra entidade.

Exemplos:
● Situação de Equilibrio (concordância)
O João gosta da Maria – concordância
O João gosta de sushi – concordância
A Maria gosta de sushi – concordância
● Situação de Desequilíbrio (discordância)
O João não gosta da Maria – discordância
O João gosta de sushi
A Maria não gosta de sushi – discordância

O facto de a Maria não gostar de sushi, não é importante para o João porque
ele não gosta da Maria, portanto, é-lhe indiferente. Como o João não gosta da
Maria e a Maria não gosta de sushi, isto é uma relação de equilíbrio.

O João gosta de bolo – brigadeiro.


O João não gosta da Maria.
O João gosta do bolo – brigadeiro da Maria
Neste caso há desequilíbrio

A Madalena não gosta de touradas.


A Madalena gosta do João.
O João é forcado.
Neste caso há desequilíbrio
Como a Madalena gosta do João e ele é toureiro, a Madalena vai ter
dificuldade em gerir a situação, porque isto não vai promover equilíbrio e o ser
humano está motivado para manter o equilíbrio.

Eu posso não gostar de uma determinada pessoa, mas o que ela faz é bom e
eu posso gostar daquilo que ela faz, continuando a não gostar dessa pessoa.
Isto continua a ser uma situação de desequilíbrio.
Mas se a minha atitude em relação a essa pessoa fôr fraca, este desequilíbrio
não vai ser importante para mim.
24

O João não gosta de touradas.


O João gosta do Miguel.
O Miguel é forcado.
Este exemplo é uma situação de desequilíbrio pois há percepção de
discordância em relação a uma pessoa de quem gosta.

Nos casos apresentados atrás, o desequilíbrio refere-se ao sujeito (nós


mesmos). No caso da Tríade, é do sujeito perante outras 2 entidades.

PRINCíPIO DA REDUÇÃO DA DISSONÂNCIA


COGNITIVA
- FESTINGER -
Necessidade, do indivíduo, de procurar uma ligação entre as
suas cognições (conhecimento, opiniões ou crenças). A
Dissonânci
dissonância ocorre quando existe uma incoerência entre as
a Cognitiva
atitudes ou comportamentos que acredita serem certos e o que
realmente é praticado.
Exemplos
● A maioria das pessoas desejam fazer boas escolhas quando compram um
produto. No entanto, é muito comum quando de repente, por algum motivo, se
arrependem de ter gasto dinheiro ou mesmo, acham que o produto não era o
que esperavam. Nesta situação, o cérebro entra em conflito com as
crenças já existentes na sua cabeça. Desta forma, fá-lo entrar em
confronto com a sua mente.
● Fumar, sabendo que é prejudicial para a saúde.

● Comer doces em excesso também ajuda a entender o conceito, recordando


que o excesso pode ser fatal para quem sofre de diabetes.
● Estacionar no lugar de um deficiente é outro exemplo, mesmo sabendo que é
proibido.
● COGNIÇÃO A: Em 2020 o medicamento xpto, salvou a vida a 156478
pessoas.
● COGNIÇÃO B: O medicamento xpto teve efeitos adversos que levaram à
morte de 7 pessoas.
● O João gosta de mim, mas o João bate-me. Isto faz-me dissonância.

● O João é boa pessoa, mas o João maltrata animais.

O ser humano procura ter consonância entre as diversas cognições que tem
a respeito de um mesmo objecto. A dissonância cognitiva é psicologicamente
desagradável, por isso o sujeito está motivado para a reduzir.
Como é que reduzimos a dissonância cognitiva?
● Aumento do número ou da importância das cognições consonantes;
25

● Diminuição do número ou da importância das cognições dissonantes.


Exemplo: A Raposa e as Uvas, de Esopo.
Quando a raposa percebe que não consegue alcançar as uvas, decide que, de
qualquer forma, não as quer. É um exemplo da formação adaptativa de preferências,
com o objectivo de reduzir a dissonância cognitiva.

FUNÇÕES COGNITIVAS DAS ATITUDES


As atitudes influenciam o processamento da informação. Há um enviesamento
selectivo congruente com a atitude.
Vou influenciar a forma como processo a informação através de:
● Exposição selectiva;
Eu vou-me expor à informação que seja congruente com a minha atitude.
● Percepção selectiva;
Tenho acesso a uma determinada quantidade de informação e vou
percepcionar aquela como mais relevante do que a outra.
Exemplo
A vacina da AstraZéneca provocou 1000 tromboses.
A vacina da AstraZéneca não provocou 1000 tromboses
Aquilo que nos está a ser dado é uma percepção selectiva. Em 1000, ela provocou
1. A percepção selectiva é: provocou 1. Não é ela não provocou 999 casos
● Memória selectiva.
Exemplo
A energia eólica é positiva, ajuda-nos muito a não poluir tanto o ambiente. Vou fazer
uma exposição selectiva, no sentido de ir procurar dados que vão validar a
positividade da energia eólica e isto para reforçar a minha percepção da mesma.
Exponho-me mais ao que gosto.

ATITUDES E ACÇÃO
Sabendo a atitude, sei o comportamento? Não. Se sei a atitude, posso vir a
saber o comportamento, mas esta ligação não é causal. Pela atitude não se
chega ao comportamento e pelo comportamento não se chega à atitude.

EXPERIÊNCIA
26

Nos anos 30 do séc. XX, nos USA havia um grande preconceito contra os
chineses. Haviam placas que diziam “proibida a entrada a cães e a chineses”.
LAPIERRE resolveu fazer uma viagem com um casal de amigos chineses. E
foram a uma série de hotéis e restaurantes e foram recebidos em todos eles.
Só houve 1 restaurante que disse que não aceitava os chineses. Todos tinham
o sinal à porta, mas aceitaram-nos em quase todos (cerca de 270 espaços
visitados por Lapierre e seus amigos). Perante este comportamento “aceitarem
o casal de chineses”, ver se a atitude destas pessoas em relação aos chineses
era igual aquela que elas tiveram no comportamento. E mandou uma carta
para os mesmos sítios a dizer: “vou viajar com um casal de chineses e gostava
de saber se vocês nos aceitam lá”. 50% respondeu-lhe. E destes 50%, 92%
disseram que não aceitavam chineses. Ou seja, mostraram uma atitude
desfavorável em relação aos chineses e o comportamento que tiveram não foi
congruente. A atitude não foi consonante com o comportamento. Isto permitiu
perceber que pode haver tolerância comportamental e intolerância atitudinal. É
uma inconsistência entre atitudes e comportamentos.
Posso não gostar de touradas, mas tolerar o comportamento de quem gosta.

LAPIERRE
Há inconsistência e o facto de haver inconsistência, diz-nos que isto não é uma
relação causa – efeito. Com base neste estudo de LaPierre foram feitos mais
estudos.
Assim, existem 3 teorias:

TEORIA DA ACÇÃO REFLECTIDA


= Fishbein e Ajzen =
O comportamento é o resultado da escolha do sujeito entre um conjunto de
possíveis acções.
Quando olhamos para uma atitude temos de olhar paras as crenças e para
uma avaliação que fazemos em relação ao resultado do comportamento. Se eu
tiver este comportamento, chego a este resultado. Sim ou Não? Qual é a minha
crença? Se comer doces, eu engordo? Sim ou Não? Qual é a minha crença?
Engordar. É bom ou mau? Qual é a minha avaliação? Com base nas crenças e
na avaliação, formo a atitude. Mas não é a única. Depois há a norma
subjectiva. Como vivemos em sociedade a norma subjectiva é a norma social.
O que é que a minha sociedade diz sobre o tema.
Exemplo
Em Lisboa é razoável ter touradas.
Em Estocolmo são contra as touradas.
Em Sevilha são o mais possível a favor das touradas.
A norma subjectiva de cada uma destas cidades, pode variar. Então, na norma
subjectiva, há a crença e a motivação. Sobre o quê? Sobre o comportamento e
sobre as pessoas e os geupos que estão à minha volta. Então estas pessoas e
os grupos, acham que devo ter aquele comportamento? Sim ou Não? Qual é a
minha crença? As pessoas acham que devo ir à tourada? Sim ou Não?
Importo-me com o que as pessoas dizem? Se me importar muito quero saber.
Se não me importar, não quero saber.
27

Crença

Resultados
Comportament Atitude
o

Avaliação

Importância
Relativa
Intenção Comportament
o

Crença

Pessoa / Grupos
& Norma
Comportament Subjectiva
o

Motivação
Assim, há estas 2 dimensões: a atitude, que é minha, e a norma subjectiva,
que é dos que me circundam. E ainda a importância relativa que cada uma
destas coisas tem para mim, em cada momento da vida. Para um determinado
assunto a minha atitude pode pesar muito e a norma subjectiva pode pesar
pouco. Para outro assunto, a norma subjectiva pode pesar muito e a minha
atitude a pesar pouco. Ou seja, não há uma regra concisa. Varia. Tudo isto, a
atiude e a norma subjectiva, determinam a minha intenção de realizar o
comportamento. Aquilo que vejo é o comportamento, mas a intenção
comportamental, é o que se situa mais perto da atitude.
Exemplo
SITUAÇÃO:
O João está sentado no autocarro e vê uma grávida entrar. Não há mais nenhum
lugar sentado e o João é a pessoa mais nova do autocarro.
Atitude: A gravidez é fisicamente exigente para uma mulher.
● Crença: Ela tem dificuldade em estar de pé.

● Avaliação: É difícil para ela ir em pé.


Norma Subjectiva: As pessoas com menos mobilidade têm prioridade nos lugares
sentados.
● Crença: As pessoas esperam que eu dê o meu lugar.

● Motivação: Se der o meu lugar, faço o correcto.


Intenção Comportamental: dar o lugar
Comportamento: dar o lugar

TEORIA DA ACÇÃO PLANEADA


28

= Ajzen =
Atitude

Norma
Intenção Comportamento
Subjectiva

Controlo
Comportamenta
l Percebido

Exemplo
SITUAÇÃO:
O João está sentado no autocarro e vê uma grávida entrar. Não há mais nenhum
lugar sentado e o João é a pessoa mais nova do autocarro.
Atitude: A gravidez é fisicamente exigente para uma mulher.
Norma Subjectiva: As pessoas com menos mobilidade têm prioridade nos lugares
sentados.
Controlo Comportamental Percebido: Sou capaz de ir o resto da viagem de pé.
Intenção Comportamental: Dar o lugar
Comportamento: Dar o lugar

Se o controlo comportamental percebido for muito alto (exemplo: o João está


habituado a fazer a viagem de pé) este pode actuar directamente sobre o
comportamento.

Nesta teoria de Ajzen, além da atitude e da norma subjectiva, temos o


Controlo Comportamental Percebido que se traduz pela minha expectativa
de ter um resultado favorável a uma determinada acção. Isto é a autoeficácia.
No caso do exemplo do bolo brigadeiro, o controlo comportamental percebido
traduz-se no comer o bolo ou não comer o bolo.

MODELO MODE
= Fazio (1990) =
Activação Percepção
Presença Automátic Selectiva
do a da
Objecto Atitude
Acessível
Definição do
Comportamento
Acontecimento

Norma dos
Grupos

Exemplo
SITUAÇÃO:
29

O João está sentado no autocarro e vê uma grávida entrar. Não há mais nenhum
lugar sentado e o João é a pessoa mais nova do autocarro.
Presença do Objecto: Mulher grávida
Atitude: A gravidez é fisicamente exigente para uma mulher.
Percepção Selectiva: A grávida parece estar com um ar cansado.
Definição do acontecimento: Dar o lugar à gravida vai ser bom para ela.
Norma dos grupos: As pessoas com menos mobilidade têm prioridade nos lugares
sentados.
Comportamento: Dar o lugar

Fazio diz que a presença do objecto (e o objecto pode ser um carro eléctrico)
vai-nos activar automaticamente a atitude acessível e isto é a chave do modelo
de FAZIO. É a atitude ser acessível. Se a atitude fôr acessível na presença do
objecto é de imediato activada. Se não fôr acessível, incorro num esforço para
ir buscar a atitude. Isto faz com que se defina o acontecimento, isto é, bom ou
mau, se é positivo ou negativo, e a partir daqui a pessoa começa a agir.
Como vivemos em sociedade e inserimo-nos em grupos, a norma dos grupos
influencia tudo isto.

Há 3 formas de medição das atitudes:


● Medidas cognitivas questionários - Escalas de medidas
o ESCALA DE LICKERT – “de 1 a 5, quanto favorável é a sua opinião
sobre determinado tema”. Concordo plenamente ou Discordo
plenamente;
o DIFERENCIADORES SEMÂNTICOS – “relativo ao seguinte tema, o
que é que acha? – possui uma série de adjectivos em que
seleccionamos um ou outro;
o ESCALAS DE GUTTMAN – quando aceito umitem, estou a aceitar
automaticamente todos os que estão para baixo. Ex. as bonecas
matrioskas.
● Medidas fisiológicas (ao nível da pupila, se ela dilata ou não, qual a
reacção da pupila – isto permite compreender se há algo que tenha uma
maior ressonância para o indivíduo ou não, se é algo que não desperta
tanto impacto; através da sodorização da pele, dos sorrisos, dos músculos
que se usam na face e que permitem se determinado assunto é favorável
ou desfavorável ao indivíduo)
● Medidas comportamentais (em meados do séc. XX havia muito racismo e
uma das coisas que era feita era estudar as atitudes racistas das pessoas,
vendo onde a pessoa se ía sentar. Estava um indivíduo de uma
determinada etnia num espaço e se a pessoa se sentasse mais perto,
assumiria que não tinha preconceito ou discriminação; se a pessoa
sentasse mais longe, assumiriam que havia discriminação. Da mesma
forma verificaram as manifestações políticas ou a posição pro-aborto ou
contra aborto. Como? Deixavam cair cartas e as cartas que chegassem
mais aos remetentes indicavam a medida, sem ser feita directamente em
experiência, verificando quais atitudes das pessoas sobre determinado
assunto.
30

● RESSALVA: É muito difícil medir atitudes. Assim, LaPierre disse que podia
haver incongruência entre atitudes e comportamento. Portanto, as atitudes
são o que pensamos sobre um determinado tema, que tem uma
componente avaliativa e é um construto hipotético por não ser directamente
observável. O que observamos são os comportamentos.

MUDANÇA DAS ATITUDES


A mudança de atitudes começou com a 2ª Guerra Mundial e como os meios de
comunicação social conseguiram fazer uma tão grande promoção “nazi” e
contribuíram para a mudança de atitudes das pessoas.
De repente, num país civilizado, houve pessoas a acharem que outros por
terem uma religião diferente, características diferentes, mereciam certas coisas
e deveriam ser segregados. Isto aconteceu através da mudança de atitudes.
Isto intrigou muito os investigadores, como é que nós conseguimos mudar
atitudes tão fortemente.

PERSUASÃO

A comunicação persuasiva pretende mudar a atitude e os comportamentos.


Este é o objectivo da comunicação persuasiva, fazer com que a pessoa mude a
atitude e mude os comportamentos.

⮚ CARL HOVLAND
MODELO DE COMUNICAÇÃO PERSUASIVA de Carl HOVLAND
Características para a validade de uma fonte:
● Credibilidade da Fonte

● Ser um especialista no tema

● Ter confiança na fonte

● Grau de atracção da fonte

● Estatuto Social

Carl HOVLAND fez um estudo em que havia uma frase para duas audiências.
Experiência
A primeira audiência ou viu a frase “A pandemia aumentou as dificuldades em
dormir”. Foi dita por uma menina, estudante. A segunda audiência, ouviu a
mesma frase, mas dita por uma grande especialista na área do sono no nosso
31

país. O impacto vai ser diferente na audiência. A credibilidade na fonte é um


dos aspectos importantes. Foi tida mais em conta a frase dita pela especialista
do que a dita pela aluna.

EFEITOS DA FONTE

Hovland chegou à conclusão que a CREDIBILIDADE DA FONTE é importante.


Quem diz a mensagem é que assume a importância. Assim o ser uma fonte
credível (A ESPECIALISTA DO TEMA) teve um grande impacto. Ser uma
pessoa em quem se acredita que pode ser ou não um especialista. Há pessoas
que estão próximas de nós, que nos são muito credíveis, mas não são
especialistas nos temas. Contudo, TEMOS CONFIANÇA nessas pessoas. É
claro que se fôr um especialista num determinado tema, TEMOS CONFIANÇA
NA FONTE, daí que acreditamos muito rapidamente.

Há também outros dois pontos importantes, que são o GRAU DE ATRACÇÃO


DA FONTE. Se a pessoa fôr mais atraente, terá mais sucesso, isto significa
que achamos as pessoas mais atraentes, mais simpáticas e isso faz-nos levá-
las mais a sério. Temos maior receptividade e maior disponibilidade a ouvir
quem achamos mais atraente. Normalmente escolhem-se as pessoas mais
atraentes para difundir as mensagens.
Outra característica é o ESTATUTO SOCIAL. Ouvem-se melhor as pessoas
que têm estatutos sociais diferentes daquele que o indivíduo tiver, do que se fôr
do mesmo nível social. Os “INFLUENCER” são pessoas muito boas para a
persuasão da mensagem que estão próximas de nós, não fazem parte das
socialites hollywoodescas, onde o comum mortal não chega e a forma como
transmitem a mensagem é muito útil para a mudança de atitudes e para a
mudança de comportamentos. Podem não ser do nosso estatuto social, mas
estão próximas de nós, são pessoas com as quais temos maior semelhança.
Estas pessoas são de estatutos sociais próximos o que vai fazer com que haja
uma maior persuasão da sua mensagem.

Exemplo
As pessoas que vão às aldeias falar com os aldeãos e lhes conseguem tirar as
poupanças, são pessoas que usam estas técnicas da persuasão.
Vão trabalhar a confiança com os idosos, vão apresentar-se como pessoas credíveis
e especialistas. São bem-falantes. Como existe este princípio de que alguém que é
bem falante, é credível, é uma fonte idónea, as pessoas mais facilmente aceitam a
sua mensagem e têm-na como válida.

EFEITOS ou CARACTERÍSTICAS DA MENSAGEM


O Apelo ao medo (moderado) potencia a aceitação dos argumentos da fonte.
Se a mensagem tiver uma conclusão implícita potencia a aceitação dos
argumentos, comparativamente com uma mensagem com uma conclusão
explicita. A apresentação de argumentos a favor de um lado é mais eficaz
para pessoas com baixos níveis de educação e atitudes favoráveis em relação
ao tema.
O apelo ao medo exacerbado ou fraco não tem muito efeito (deve ser visto
caso a caso) no entanto o moderado, está comprovado que é o mais eficaz.
32

Exemplo
Se estivermos numa sociedade ditatorial em que estamos a apelar ao medo e
sabemos que estamos em risco, vamos aceitar as mensagens que nos transmitem.
Podemos não concordar com as mensagens, mas há um contexto envolvente que
nos leva a aceitar, porque além do medo há a ameaça real.

Quando se pretende persuadir alguém, há que ter em atenção qual a nossa


audiência. E se a nossa audiência, tem menos habilitações académicas, vale
mais apresentarmos só argumentos favoráveis, do que estarmos a apresentar
favoráveis e desfavoráveis, porque isto vai confundir as pessoas. Estas
pessoas que estão menos habituadas a elaborar sobre um assunto, não vão
tão favoravelmente aceitar a mensagem.

EFEITOS DO TIPO DE AUDIÊNCIA

● Autoestima. Uma pessoa com uma baixa autoestima, é muito mais


influenciável do que uma que tenha uma grande autoestima. Quanto maior
fôr a autoestima da pessoa, mais difícil é de ser influenciada.
A autoestima baixa tem menor resistência à persuasão. Quando a
autoestima é exacerbadamente grande há uma baixa resistência à
persuasão. Pessoas com baixa autoestima têm fraca resistência à
mudança. Pessoas com boa autoestima forte resistência à mudança. A
partir de determinado ponto deixa de haver esta ligação. As pessoas com
elevada autoestima, passam a ter, também, menor capacidade de serem
resistentes à mudança.
● Inteligência. Tem o mesmo comportamento que a autoestima.

● Género – as mulheres são mais facilmente persuadidas? (após terem sido


feitas algumas experiências) Os items que estavam a ser avaliados eram
tendencialmente masculinos, quer isto dizer que as mulheres não têm maior
capacidade de serem persuadidas, mas o instrumento utilizado era mais
adaptado para o género masculino que para o feminino.
● Diferenças individuais

DUAS VIAS PARA A MUDANÇA DE ATITUDES


(HSM)
MODELO EURÍSTICO – SISTEMÁTICO DO
PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO PERSUASIVA
CHAIKEN
Chaiken afirma que não nos envolvemos sempre em longos percursos para
aceitar uma informação como válida. Muitas vezes usamos as eurísticas, “short
cuts”, para aceitar uma informação

PROCESSAMENTO EURÍSTICO (definido por Chaiken)


33

● Exige menor envolvimento e esforço cognitivo, o que significa que


não se validam todos os passos daquele processo
● Utilização de uma eurística para avaliar a situação

É um processo mental simples que ajuda a encontrar


respostas adequadas, embora várias vezes imperfeitas,
Processamento para perguntas difíceis.
É um processo cognitivo empregue em decisões não
Eurístico racionais, sendo definido como estratégia que ignora
parte da informação com o objectivo de tornar a escolha
mais fácil e rápida.

O ser humano tem o princípio de poupar recursos e sempre que o pode fazer,
euristicamente, fá-lo sem se envolver em esforços cognitivos.
Uma eurística é um atalho cognitivo que se faz para chegar a determinado
assunto, a uma determinada conclusão. São formas de processar a informação
de forma directa. O esquema é a representação que se tem sobre determinado
assunto. Uma eurística não é uma atitude, é uma ligação directa a um
esquema.

Eurística do Especialista: existe muito em publicidade em que são escolhidas


pessoas, de bata branca, para transmitirem mensagens, consideradas
especialistas. O facto de determinada mensagem ser transmitida por um
especialista, activa nas pessoas a eurística do especialista. Se é um
especialista que a diz, as pessoas aceitam-na como verdadeira. A publicidade
coloca muito os especialistas a falarem sobre determinados temas e as
pessoas aceitam essa informação como verdadeiro.
Eurística dos gráficos e dos Números: Tomando por exemplo, a COVID 19,
todos os gráficos apresentados nas televisões, revistas ou jornais, ajudam
muito a aceitar a informação como verdadeira, do que a ausência de gráficos.
Estas representações gráficas e estatísticas, é algo que vai activar a eurística e
é algo que faz com que mais rapidamente se assimile as informações.
Eurística da Felicidade: relaciona-se com forma a que as pessoas falam, com
a velocidade de transmissão da informação. Transmite mais confiança um
orador que fale depressa que se entende como uma fonte mais credível, logo
as pessoas vão passar a usar mais rapidamente a eurística do que de um
modo sistemático.
A quantidade de argumentos. Se a pessoa vir que tem ali uma lista de
argumentos favoráveis é mais provável que vá activar o processamento
eurístico do que o processamento sistemático.
Eurística da Simpatia: pessoas simpáticas não querem enganar. Uma pessoa
que sorri, é uma pessoa simpática e uma pessoa sincera, logo não pretende
enganar.
Exemplo: Anúncio da Colgate versus Pepsodent
Aparece um senhor, médico dentista, de bata branca com a sua identificação, que diz
“estudos científicos (e mostra muitos estudos científicos, com apontador a apontar
para os gráficos) mostram que a Colgate, previne n% a formação de tártaro. A
Colgate é a melhor pasta de dentes e eu, médico dentista, recomendo aos meus
34

pacientes”. Depois aparece um paciente, ao lado, muito sorridente “sim, eu uso


Colgate e nunca mais tive tártaro”. Este paciente, é muito sorridente, muito genuíno.
Estão aqui todas as premissas para o espectador activar as suas eurísticas e vá
associar a Colgate previne o tártaro dentário.
Intenção de persuasão clara. Neste exemplo, a pessoa percebe que está a ser alvo
de persuasão.

Num campo onde a pessoa percebe que não há a intenção de persuadir e a


outra pessoa estiver a dar uma opinião mais favorável a algo, é mais provável
que a pessoa active ainda uma eurística.

PROCESSAMENTO SISTEMÁTICO (definido por Chaiken)

● Processo de pensamento controlado e faseado;

● O resultado depende da qualidade dos argumentos e da quantidade


fontes independentes.

Processo de pensamento controlado e faseado. Não é


automático. É algo pelo qual as pessoas vão passar por
Processamento
diferentes passos e sobre o qual as pessoas vão deliberar.
Sistemático
Neste caso o resultado depende da qualidade dos
argumentos e da quantidade de fontes independentes.

Enquanto no caso do Processamento Eurístico, o facto de me


apresentarem muitos argumentos, não tendo de ser necessariamente bons,
apenas muitos, era suficiente, no Processamento Sistemático já não interessa
a quantidade, mas a qualidade dos argumentos. E interessa, também, a
quantidade de fontes independentes. Posso apenas ter um argumento, mas ser
muito válido, muito pesado e que é corroborado por várias fontes
independentes e credíveis.
O processamento sistemático é o que acarreta mudanças mais estáveis,
uma vez que, as atitudes mudam através de um processamento sistemático
sendo mais estáveis, resistentes à mudança e ligadas aos comportamentos.

MODELO DE PROBABILIDADE DE ELABORAÇÃO


PETTY e CACIOPPO
Grau em que a pessoa pensa nos argumentos relevantes
Elaboração
existentes na mensagem.

O que estes psicólogos variaram foi na elaboração, tendo definido duas vias:
1. Via Periférica = processamento heurístico.
A mudança de atitudes ocorre através de processos cognitivos que exijam
fraca elaboração. Aquilo que faz com que a pessoa não tenha que elaborar
35

muito faz com que vá por uma via periférica. Não que vá por uma via
central.
2. Via Central = processamento sistemático.
Elevada elaboração e ponderação que permite mudar uma atitude que
integre a informação obtida.
Quando a pessoa tem que ponderar, elaborar e integrar a informação
obtida, fá-lo pela via central. É um assunto que é preciso elaborar, assim
tem de haver uma maior dedicação a esse assunto.

Condições que influenciam a probabilidade de elaboração:


● Motivação
o Quando é necessário ser preciso no julgamento, o
processamento de informação é mais elaborado;
o Se o tema for relevante para o sujeito;
o Características de personalidade do sujeito.
Exemplo: Um homem que tinha tanto a necessidade de ser aceite.
Acabava sempre por concordar com as posições das pessoas, nunca dizia “não” a
nada, nunca tinha uma posição desagradável, nem desfavorável e concebia todos os
cenários possíveis, caso fosse desagradável com determinada pessoa. Concebia
todos os cenários possíveis que pudessem justificar o comportamento desagradável
de determinada pessoa, inclusive tinha diálogos internos de uns com os outros. O
argumento A, jogava com o argumento B. tinha estes diálogos internos para ter todos
os comportamentos perante os outros, que fizessem com que ele fosse mais aceite.
Era uma pessoa que a sua necessidade de pertença e aceitação era tão alta que
levava a que frequentemente fizesse processamentos centrais por assuntos que a
maioria das pessoas faz com processamentos periféricos.
Como já levava à exaustão, entrava no campo patológico.
A necessidade de aceitação leva a que a pessoa elabore mais sobre os assuntos.

● Capacidade
o Concentração – no sentido de haver muitos distratores, ou
poucos. Quanto mais distratores existem, maior é a dificuldade
em elaborar sobre um assunto. Se houver menos distratores, há
uma maior capacidade para elaborar sobre determinado assunto.
o Conhecimento – é o conhecimento que se tem sobre
determinado tema.
o Capacidade de processamento da informação.

DIFERENÇAS NOS DOIS MODELOS

As diferenças nos 2 modelos relacionam-se com o carácter automático do


pensamento que é menos elaborado cognitivamente:
o O modelo heurístico-sistemático pressupõe a activação automática de
eurísticas. Neste modelo há um automatismo, utiliza-se uma eurística,
automaticamente.
36

o O modelo da probabilidade de activação salienta há menor elaboração


cognitiva sem haver processamento automático. Neste modelo não há
automatismo. Há menos elaboração mas sem automatismo.

COMPREENSÃO DOS GRUPOS NA


SOCIEDADE
A psicologia social estuda a forma como os pensamentos, emoções e
comportamentos de um sujeito são influenciados pela presença (real ou
imaginária) de outras pessoas (Allport, 1985).

Efeito que as palavras, acções ou a simples presença de outras


Influência
pessoas têm nos pensamentos, sentimentos, atitudes ou
Social
comportamentos de outrem.

Sherif pensou sobre os quadros de referência e interessou-se por saber como


é que o sujeito organiza, constrói e modifica os seus quadros de referência.
Qual o papel da subjectividade individual?

Forma como cada pessoa organiza as suas experiências. A


pessoa estabelece relações entre os estímulos e cria unidades
funcionais que lhe permitem compreender e integrar a nova
Quadros de informação.
Referência Organiza uma nova experiência de forma a, perante vários
estímulos, criar unidades que permitem compreender a
informação que chega a essa pessoa e integrar a nova
informação.

Experiência de
Musafer SHERIF
Numa 1ª experiência, Muzafer Sheriff convidou várias pessoas para se
sentarem numa sala escura. Uma de cada vez, já que a sala era pequena.
Disse à pessoa para carregar num botão quando visse, na sala escura, um
ponto luminoso e voltasse a carregar no botão quando esse ponto luminoso
desaparecesse e que descrevesse o movimento que aquele ponto tinha feito.
As pessoas não sabiam que o ponto não se mexia. Em plena escuridão,
as percepções visuais perdem o seu quadro de referência habitual e o ponto
luminoso parece deslocar-se: é o fenómeno do efeito autocinético.
Sherif verificou que a pessoa, sozinha, desenvolveu quadros de
referência idiossincráticos (que revela características distintivas dos demais)
e estáveis, mesmo quando não há qualquer fundamento para a organização
(tendência para a auto-organização), ou seja, num ponto inamovível, a
37

necessidade de estabilidade do indivíduo, é tão grande que procura formas de


organizar aquela informação (atribuição causal).
Neste caso as pessoas estabeleceram, com lógica, esquemas de
referência com base num movimento que não aconteceu, ou seja agarraram na
informação e agruparam-na de forma a ter coerência, mesmo quando essa
informação não passa de um efeito de óptica.
No final as pessoas escreveram sobre o que viram e foram entrevistadas
por Sherif e com base nesta avaliação quantiqualitativa, conseguiu perceber a
necessidade que o indivíduo tem de criar auto-organização.
De seguida foi ver a reacção em grupo. Se sozinhos organizam a
informação desta forma, como será em grupo? Nesta 2ª experiência, replicou
a mesma, mas em vez de ser apenas com uma pessoa, pediu aos restantes
elementos do grupo que se juntassem na sala, a ver o mesmo ponto luminoso.
Verificou-se uma convergência de opiniões. As pessoas falaram e
convergiram numa mesma opinião em grupo, portanto, há tendência para a
convergência no grupo. Enquanto sozinhas, essa tendência foi menor. Ou seja,
converge-se para aquilo que é a tendência do grupo.
Juntou-se um especialista. Como a credibilidade da fonte é acentuada
a tendência para a convergência é maior.

Estes foram os grandes contributos do senhor Sherif para a


compreensão da influência social.

Experiência de
Solomon ASCH
Nesta experiência, Solomon Asch verificou que quando formamos
impressões, existem características que têm um peso maior que outras. E
nesta experiência estavam várias características, entre elas, “caloroso” e “frio”.
Chegou à conclusão que existem traços centrais, traços periféricos, que
a palavra em si, não desempenha sempre o mesmo papel, varia consoante o
contexto em que se insere mas que isto é informação importante para se
conseguir formar uma impressão a respeito de alguém.

Processo que permite atribuir características a uma determinada


Formar
pessoa com base num determinado indício observado nessa
Impressã
pessoa. Pode não ter sido visto o atributo, mas foi visto o indício
o
do atributo e aí são atribuídas características.

As experiências de conformidade de Asch (experiências de conformidade


com grupos) foram uma série de experiências realizadas em 1951, que
demonstraram o poder da conformidade nos grupos.

Esta experiência vai revelar até que ponto a indução (as palavras) pode
influenciar.
Asch agarrou no conceito de sonambulismo social (ocorreu no pós-guerras,
em alturas em que ocorreram situações muito más, graves) em que se vê o
38

certo e o errado como conceitos transmitidos, em que a realidade é


conceptualizada, em que se percebe que se se imitar o comportamento das
outras pessoas, obtém-se uma recompensa. A experiência diz que a imitação
traz resultados benéficos.

Nesta experiência, 8 sujeitos foram


colocados à frente de um quadro com várias
cartolinas. Cada cartolina tinha, do lado
esquerdo uma linha vertical (figura de
base), e do lado direito três linhas verticais
de comprimentos diferentes, A, B e C,
sendo que uma das quais representava a
linha de base.
No grupo experimental, apenas um
dos sujeitos é o verdadeiro sujeito
experimental, e por isso é o sujeito ingénuo,
enquanto os restantes 7, são “amigos” do experimentador. Cada um dos
sujeitos dá a avaliação em voz alta, sendo que os “amigos” dão 12 respostas
erradas em 18 ensaios experimentais. Estes respondem antes do sujeito.
Deste modo, o sujeito ingénuo encontra-se numa posição minoritária e, apesar
de não existir qualquer tipo de pressão explícita por parte do grupo, este chega
a cometer erros que atingem os 5 cm.
Como resultado, Asch obteve que apenas 30% dos sujeitos experimentais não
se conformaram à pressão implícita pelo grupo, ou seja, um terço dos sujeitos
mantiveram-se independentes o que leva a colocar a questão de quais são os
factores que explicam o conformismo.
O conformismo do sujeito será aumentado se reforçarmos a
dependência do indivíduo em relação ao grupo.
Exemplo
Se o grupo é apresentado como particularmente atraente, o indivíduo deseja integrar-
se nele. No entanto, é preciso notar que, quando o sujeito está de novo sozinho, ele
volta às estimativas correctas.

Por outro lado, se as respostas do sujeito forem confirmadas pelo


experimentador, a sua confiança será reforçada, e numa nova situação
experimental ele vai questionar as aptidões do grupo.
Esta experiência permite perceber que quando se tem acesso a uma
informação válida, pode-se pôr em causa o que se vê para ir ao encontro do
grupo. Isto faz perceber muitos dados que estão inerentes ao comportamento
humano.

Nesta experiência Asch definiu que são independentes os que não


cometeram mais de 2 erros. Nesta experiência viu 2 categorias:
● Os verdadeiros independentes são os que acreditam genuinamente
que estavam certos;
● Os falsos independentes, que eram os que sabiam que estavam certos
e a maioria errada, mas mudaram de opinião, porque se deviam
conformar ao experimentador.
39

Este senhor era um experimentador muito importante que levou a que


algumas pessoas que, sabendo que estavam certas, mas para não irem contra
o experimentador, levou a que respondessem mal.
Depois dos independentes há os conformistas que são os que cometeram
entre 3 a 12 erros. Portanto, ou é independente ou é conformista.
Entre os conformistas, Asch identificou 3 níveis:
1. NÍVEL PERCEPTIVO. Não repararam que algo se passou na experiência.
Isto foi uma minoria.
2. NÍVEL DE JULGAMENTO. São os que identificaram dar respostas
diferentes do que tinham percebido, mas como todos davam respostas
diferentes, assumiam que eram eles que estavam errados.
3. NÍVEL COMPORTAMENTAL. Aqueles que sabiam que estavam certos e a
maioria errada, mas respondiam assim para não darem nas vistas.

Uns acham que enquanto a maioria está toda numa direcção e eles estão
noutra direcção então é porque não perceberam bem. Os outros, disseram que
era numa direcção, mas vão todos na outra direcção, então vou com eles para
não destoar.
As pessoas para tentarem resolver a situação que não estavam a conseguir
compreender, para não gerarem instabilidade, conformaram-se, acomodaram-
se. Puseram-se em causa. Puseram os outros em causa, mas aceitaram a
opinião deles que eles sabiam estar errada. Procuraram soluções alternativas.
Fizeram uma série de alterações que permitisse manter a estabilidade.
Interiormente pensaram que não queriam destabilizar o grupo, então
conformaram-se. É algo tão simples como ver o tamanho das linhas. É muito a
necessidade de aceitação.
Com base nesta experiência, Asch percebeu que quando a pessoa está
numa situação que não é ambígua, ou seja, perante duas figuras geométricas
diferentes, uma redonda e outra quadrada, a pessoa percepciona a redonda e
percepciona a quadrada, assim a pessoa tem a informação e os recursos
necessários para realizar uma tarefa, que será dizer que as duas figuras são
iguais ou são diferentes. Nesta condição em que não há ambiguidade, seria
espectável que o comportamento fosse um determinado, ou seja, dizer “isto é
uma esfera e isto é um cubo”. Esta resposta seria a espectável.
Nesta experiência de Asch, o que verdadeiramente aconteceu não foi isto, a
influência social esteve marcadamente presente, tendo mudado o
comportamento. Sem a influência social, o comportamento poderia ter sido
diferente, mas a influência social, que é poderosa, mostrou-se como influente
tendo mexido no comportamento e tendo trazido ambiguidade a uma situação
que não era ambígua. A situação era clara. A, B e C eram diferentes.

Conformismo O conformismo define o comportamento de um indivíduo ou


de um subgrupo que é determinado pela regra de um grupo.
A pressão à conformidade supõe a existência de uma maioria
e de uma minoria. A maioria liga-se à regra e toda a
interacção social tem como objectivo a imposição dos seus
40

pontos de vista à minoria.


Através de um sistema de sanções ou de valorizações, os
indivíduos minoritários são levados a aceitar as regras da
maioria. Há uma redução dos desvios e reforço das regras do
conjunto maioritário.
As situações de conformismo social são encontradas sempre
que o isolamento e a confrontação com novas normas
provocam ansiedade. Isolado dos seus quadros de referência,
o indivíduo acaba por adoptar os quadros de referência do
novo grupo.

Asch percebeu que o conformismo gosta de unanimidade e se esta é


quebrada o conformismo perde força. A 2ª coisa que asch percebeu foi que se
as pessoas não tiverem que assumir uma posição diferente do grupo sentem-
se mais à vontade para poder dar uma resposta que seja divergente.

Norma Se fôr um grupo de 3, a tendência é para seguir a norma do


Grupal grupo. A unanimidade faz com que a norma grupal prevaleça.

Apoio Social para o não conformismo. Ocorre quando, num grupo,


existem 2 pessoas que são unânimes na mesma opinião e se uma delas emite
a sua opinião a outra sente-se confortável para, também, partilhar a sua porque
sente apoio. O conformismo verifica-se quando há unanimidade na opinião.
Se se quer terminar com o conformismo, então o melhor é ter, no grupo,
pessoas que pensem de forma diferente e se sintam à vontade para expressar
a sua opinião.

CONFLITO
Conformismo VS Independência

Apesar de ter se ter verificado maior ocorrência da independência, houve


bastante influência social. E Asch verificou que não havia sonambulismo
social em que normalmente se fazem as coisas, meio adormecidos, sem
pensar no que se faz. Asch verificou que há uma actividade cognitiva intensa.
Porque houve pessoas que disseram “eu estou certo, mas há pessoas que
estão a ver diferente de mim, será que estou errado? Não, é melhor não
responder para não perceberem que estou a ser diferente, para não destoar,
vou ao encontro do que o experimentador me diz”. Isto são sinais de actividade
cognitiva intensa. Se neste caso houvesse algum sinal de sonambulismo social
seriam os do erro de percepção, aqueles que não se aperceberam que algo se
passou na experiência. A grande maioria do grupo tem uma actividade
cognitiva intensa e cede à influência social.

A teoria de que se fazem as coisas num estado de sonolência, em que não há


consciência do que se faz, não existe. Há actividade cognitiva intensa. Foi isto
que Asch trouxe à psicologia.
41

O fim das experiências condiciona muito a memória com que se fica da mesma
e se há a lembrança dessa experiência como positiva ou negativa. O estudo
que foi feito foi-o onde seria difícil haver margem para dúvidas.
Exemplo: Pessoas que foram fazer uma colonoscopia
O exame demorou 30 minutos e houve 2 amostras. Metade fez o exame normal e a
outra metade fez o exame com mais 2 minutos, mas esse tempo foi utilizado para
retirar o tubo e fez com que aquela experiência fosse menos desagradável.
O que os investigadores viram, foi que aquela amostra que teve com o tubo da
colonoscopia, durante mais 2 minutos, que teve um final de experiência mais positivo
comparativamente ao outro grupo que teve menos 2 minutos, mas sem um final de
experiência positivo, esta amostra, com o fim positivo lembrou de forma mais positiva
o exame do que os outros. Quando ao cabo de alguns meses lhes perguntaram
“lembra-se da colonoscopia que fez? Qual a sua avaliação? Deram um sorriso verde,
ao passo que o outro grupo deu um sorriso amarelo ou vermelho. Este grupo apenas
teve um final de experiência mais agradável. Isto veio reforçar que o fim das
experiências conta muito.

GRUPO
Grupo é um conjunto de pessoas que:
● Interagem entre si;

● Se percepcionam como membros do grupo (isto quer dizer que aqui há


uma auto percepção da identidade grupal);
● Mantêm uma relação de interdependência (o contributo de uma só pessoa
no grupo, irá fazer com que o resultado final de um trabalho, seja diferente,
ou seja, as coisas estão interligadas);
● Exercem relações de influência entre si;

● Juntam esforços para o alcance de um objectivo comum (um objectivo é


partilhado pelas várias pessoas do grupo e as várias pessoas esforçam-se
para o conseguirem alcançar);
● Pretendem satisfazer uma necessidade através da pertença ao grupo (a
necessidade de se ser aceite no grupo);
● As interacções têm por base um conjunto de normas e papéis.
Johnson and Johnson (1987)

Normas As orientações do indivíduo para a sua conduta no grupo.


O que é esperado de cada um, no grupo. O papel de cada um no
Papéis
grupo.
42

Tudo isto são as características do grupo. É com base nestas características


que se sabe que um conjunto de pessoas pode ou não fazer um grupo.
Exemplo
O conjunto de pessoas que está na paragem para apanhar o eléctrico, não é um
grupo.
Tem que haver outras características entre elas. Tem de haver relações de
interdependência, têm de se percepcionar como membros do grupo, têm de ter
normas, têm de ter papéis. Têm de investir esforços para alcançar um objectivo e têm
de ter alguma influência social sobre os outros.

DIMENSÃO DO GRUPO
A dimensão do grupo varia. Quanto maior fôr o grupo, menor serão as
interacções.
Em 1958, Slater, foi buscar o número mágico do Miller, o número “7” +
ou – 2 e definiu, aceitando-se, que o número ideal de pessoas para um grupo
podem ser 7. Não significa que não possam ser mais ou menos. Segundo Kurt
Lewin, “3” é o número mínimo para um grupo. No entanto, o número ideal é o
número mágico “7” mais ou menos 2 de Miller. Este senhor diz-nos que com
este número os processos de grupo acontecem de melhor forma.

VARIÂNCIA NOS GRUPOS


Os grupos, todos eles são diferentes. Assim temos o grupo das mulheres, o
grupo dos homens, o grupo dos indianos, o grupo com uma longa duração
como o da religião católica, ou um grupo mais pequeno, como um grupo de
amigos. Pode haver um grupo onde as coisas são muito organizadas, muito
estruturadas. Pode haver um grupo onde as coisas são mais informais, onde
não há tantas regras e normas. Pode haver um grupo que esteja no mesmo
local, ou um grupo que (acontece actualmente) esteja no zoom, em que as
coisas acontecem à distância. Tudo isto permite dizer que existe muita coisa
para levar ao mesmo sítio.

Esta definição é dada por Rabbie e Lodewijkx, sendo que


estas categorias foram descobertas muitos outros psicólogos.
eles pegaram nas descobertas de outros psicólogos e
encadearam-nas como um “contínuo” atribuindo-os à
variância dos grupos.
● CATEGORIA SOCIAL: categorização de 2 pessoas ou
mais, com base num qualquer aspecto, qualquer
Variância característica.
nos Grupos Exemplo
As duas amigas têm o cabelo ruivo, ou vestem-se de branco.
● GRUPO PSICOLÓGICO: ocorre quando 2 pessoas se
comportam de uma determinada maneira e se
percepciona-se como parte dessa categoria.
Exemplo
Duas pessoas, se se percepcionarem como parte da categoria de
se vestirem de branco, essas pessoas serão um grupo
43

psicológico. Característica aleatória.


● CATEGORIA SOCIOLÓGICA: se se definir a categoria,
não como côr de cabelo, mas como algo com base
sociológico – idade, formação, nacionalidade, etc.
Exemplo
Se em vez de se vestirem de branco, ao olhar para essas
pessoas, eu disser que pertencem ao sexo masculino, então
estaremos na presença de uma categoria sociológica.
Característica sociológica.
● GRUPO MÍNIMO: ocorre quando se espera que duas
pessoas se comportem de determinada maneira, tenham
uma interacção entre elas e constituam um grupo quando
na verdade não se comportam dessa forma.
Exemplo
A Maria e a Bárbara, são morenas. Vão ter um determinado
comportamento. Elas nem se conhecem. Para mim elas
pertencem ao mesmo grupo.
● GRUPO SOCIAL: ocorre quando 2 pessoas pertencem a
uma categoria, é como se tivessem um destino comum,
têm uma condição comum.
Exemplo
Quando 2 pessoas sentem que por usarem camisolas brancas se
percepcionam pertencer a um mesmo grupo. Teriam que se
percepcionar que por fazerem parte do grupo da camisola
branca, tinham uma condição comum, um destino partilhado.
● GRUPO COMPACTO: neste grupo, trabalha-se em
conjunto para se alcançar objectivos independentes. Cada
um tem o seu, mas unem esforços para alcançarem esses
objectivos independentes.
● GRUPO ORGANIZADO: grupo com grande organização,
com uma estrutura hierárquica, onde existem normas,
poder, papéis.
● ORGANIZAÇÃO SOCIAL: é uma estrutura mais
complexa. É um conjunto de grupos vários organizados.
44

ESQUEMA MENTAL DAS ATITUDES

Formação de atitudes: experiências,


reacções emocionais, influência dos
outros

Constructo hipotético referente à tendência


Atitude psicológica que se expressa numa avaliação
favorável ou desfavorável de uma identidade
específica

Cognição Comportamento

Teoria da Acção
Princípio do Equilíbrio
Refletida
Heider
Enviesamento Fishbein e Ajzen
cognitivo
congruente Teoria da Dissonância Teoria da Acção
com a atitude Cognitiva Planeada
Festinger Ajzen

Modelo MODE
Fazio

Mudança
de Atitude

Modelo de Comunicação Modelo Modelo Probabilidade


Persuasiva Heurístico-Sistemático de Elaboração
Hovland Chaiken Petty e Cacioppo
45

EFEITOS DE
GRUPO
FACILITAÇÃO SOCIAL
Ocorre na presença de outros ou numa situação de avaliação, onde há
tendência para:
● Realizar melhor, tarefas simples;

● Realizar pior, tarefas complexas.

HIPÓTESES EXPLICATIVAS
Na presença dos outros:
● A pessoa fica mais alerta e vigilante (tende-se a estar mais activado, mais
alerta, mais vigilante quando nos encontramos na presença de outras
pessoas. Basta pensar quando se está sozinho e quando se está com
alguém ao lado. Algo muda. Se a pessoa fôr muito próxima, está-se mais
descontraído, porém quando a pessoa é mais distante, tende-se a ficar
mais alerta e vigilante);
● A pessoa fica mais apreensiva sobre a forma como está a ser avaliada
(qualquer pessoa precisa de saber a forma como é avaliada. Isto é
importante e faz com que a pessoa fique apreensiva para perceber os
critérios de quem avalia);
● Há mais distratores e menos atenção na tarefa a realizar (se se tiver que
realizar uma tarefa sozinho, ela pode correr bem porque há menos
distratores do que realizá-la em grupo).

EFEITO PREGUIÇA
Na presença de outros ou numa situação em que não haja avaliação, a
tendência é para:
● Realizar pior tarefas simples;

● Realizar melhor tarefas complexas.

O efeito preguiça foi percebido em tarefas simples como o jogo da corda, em


que estão uns a puxar de um lado e outros a puxar do outro. Percebeu-se,
então, que as pessoas, como o seu esforço é diluído no meio do esforço do
grupo, as pessoas esforçam-se menos.
Quando há um grupo de 5 pessoas a puxar uma corda, se não houver um
prémio, se houver uma situação mais descontraída, as pessoas descontraem
46

mais e há um que puxa menos. Isto acontece muitas vezes nos grupos. Há uns
que vão conduzidos pelos outros. Isto é o que se chama efeito preguiça.
Normalmente vê-se nas tarefas simples, porque nas tarefas complexas,
normalmente a performance é melhor. Como as pessoas não têm a
componente negativa da activação, estão activadas, mas não estão
apreensivas, não estão com medo, não há tensão, as pessoas focam-se mais
na tarefa e conseguem ter melhores desempenhos, porque se abstraem dos
outros factores. O efeito da facilitação social vê-se em tarefas simples.
São fenómenos que acontecem. Num, na presença de outras pessoas ou
numa situação de avaliação, a pessoa faz melhor as coisas simples e pior as
coisas complexas; e noutro, na presença de outras pessoas, sem situação de
avaliação, fazem-se melhor as coisas complexas e pior as coisas simples.
Entre uma situação e outra varia a avaliação. Pode-se inferir, a partir daqui,
que quando se é observado, há mais pressão, a nossa atitude muda.

DESINDIVIDUALIZAÇÃO
Perda dos constrangimentos individuais quando se está em grupo. Isto
pode gerar mais comportamentos impulsivos ou desviantes

1. O facto de se estar em grupo faz com o sujeito se sinta menos responsável


pelos seus actos;
2. A presença de outros diminui a autoconsciência e desvia a atenção dos
padrões morais;
3. Aumenta a possibilidade de se agir segundo a norma grupal.
Exemplo
Os grupos de skinheads inserem-se neste tipo de efeitos de grupo
Um grupo pode entrar num clima de histeria que faz coisas que as pessoas, sozinhas,
não fariam.
Quando se está num grupo, que normalmente tem condutas muito normais, muito
correctas, por um mero acaso, num dia, ter havido consumo de álcool a mais, logo
houve uns disparates a mais e quando nos percebemos, a situação cresceu a um
ponto que, individualmente, não teriam crescido.
47

ESQUEMA MENTAL
GRUPOS

SHERIF ASCH

Influência grupal e conformidade


Situação sujeito Grupo: tendência
(convergência das respostas individuais no
sozinho: para a convergência
sentido da norma do grupo)
desenvolvimento de no grupo.
quadros de referência
estáveis (auto-
organização)

Conformidade Informacional: aceitação da Conformidade Normativa: aceitação da


opinião do grupo por se achar que este deve posição do grupo por se temer a sua
estar certo, apesar de evidências contrárias reação, caso se desvie dela

GRUPO Conjunto de pessoas que interagem entre si, se percepcionam como


membros do grupo, mantém uma relação de interdependência, com
relações de influência, esforçam-se para o alcance de um objectivo
comum, partilham um conjunto de normas e papéis, procuram satisfazer
uma necessidade pela pertença ao grupo

Processos de grupo

Facilitação Social Efeito Preguiça Desindividualização

Na presença de outros ou Na presença de outros, Perda dos constrangimentos


numa situação de tendência para realizar individuais quando se está
avaliação, tendência para pior tarefas simples e em grupo - pode originar
realizar melhor tarefas melhor tarefas comportamentos impulsivos
simples e pior tarefas complicadas ou desviantes
complicadas
48

ESTEREÓTIPOS,
PRECONCEITO E
DISCRIMINAÇÃO
Padrão, imagem ou conceito pré-estabelecido pelo senso
comum, baseado na ausência de conhecimento profundo sobre
algo ou alguém.
Representações que se têm da realidade, com base nas
crenças que a sociedade passa, desde criança.
VANTAGENS
Estereótipo
Permite responder rapidamente às situações, porque antes
pode-se ter tido uma experiência semelhante.
DESVANTAGENS
Faz com que se ignorem as diferenças entre as pessoas, logo,
pensam-se coisas sobre os outros que podem ou não
corresponder à realidade (ou seja, fazem-se generalizações).

Henri Tajfel (1979), refere-se aos estereótipos como uma


generalização não objectiva, a respeito de um grupo de pessoas ou subgrupos
em comparação com o “nós”- grupo interno e “eles” – grupo externo. Por
esta razão é que há piadas de loiras, prostitutas, gays, negros, pobres, entre
outras. Estas piadas, mesmo sendo narrativas com o intuito humorístico, não
deixam de reforçar os estereótipos ou crenças prontas sobre as pessoas do
grupo externo, o grupo-alvo.
Assim, uma pessoa pode ser chamada de “comilona” por ser obesa,
contudo poderá ter problemas na tiróide. Um homem pode ser chamado de
“efeminado” ou homossexual só porque quer aprender a tricotar. Uma aluna
pode ser chamada de “burra” só por ter aclarado o cabelo com água oxigenada
e assim estar no grupo alvo das "loiras". Os estereótipos dependem de traços
visíveis e compartilháveis para sua dinâmica operacional de divulgação.

Estereótipos é a generalização sobre os membros de um grupo – é


assumido que todos os membros partilham as mesmas características e não
se tem em conta a variação entre os sujeitos.
Exemplo
Porque tem a côr branca, assumimos que têm todos as mesmas características. Se
49

tiverem a côr negra, assumimos que têm todos as mesmas características. Não tem
em conta a variação individual.

Os estereótipos funcionam com base no conhecimento e


expectativas que se tem. São estruturas cognitivas que
influenciam os julgamentos e avaliações sobre os outros,
Conhecimentos com base no grupo em que se incluem. Estas estruturas
e Expectativas cognitivas têm por base os meus conhecimentos e
expectativas.
São resistentes à mudança, mesmo com base em nova
informação.

Exemplo: Motard
Quando me dizem “motard”, vou activar a minha estrutura relativa ao motard e vou
buscar as características que tenho associadas ao motard. Normalmente associa-se
ao motard, um indivíduo de cabelo comprido e casaco de cabedal. Porém pode
aparecer à minha frente um motard, completamente diferente do estereótipo que
possa ter relativamente a ele. Pelo facto de nunca ter convivido com um motard,
formei uma determinada impressão ou crença a respeito dos motards.
Assim, tenho acesso a nova informação. Logo individualizo aquele motard, mas não
mudo o meu estereótipo.

Todos fazemos estereótipos. Os estereótipos têm a função de poupar


recursos. Consegue-se rapidamente “pegar” numa pessoa e encaixá-la em
determinado grupo. Isto é um processo que o ser humano faz e que muitas
vezes é adaptativo. Permite-lhe seguir em frente. É bom quando o ser humano
tem vontade de não ir ao encontro da ideia estereotipada.
Exemplo: Os Ciganos
Raça ostracizada por quase todas as pessoas, independentemente das pessoas
terem tido boas ou más experiências com ciganos. E têm associado a eles um
estereótipo muito negativo. Se falarmos com determinadas pessoas que tiveram
experiências junto de ciganos, se calhar, nunca tiveram. Souberam de alguém que
algum dia, na vida teve uma má experiência e isso justifica tudo.
Há massas políticas que dizem: “eu vou acabar com os ciganos”

É característico dos seres humanos que quando se fala com alguém ou


se lê algo ou se vê algo, na televisão, e surge uma palavra ou imagem,
automaticamente o cérebro humano activa o estereótipo.
Exemplo: Laranja
Quando me falam de laranja, eu associo de imediato a fruta, côr de laranja, sumo.
Activo o meu estereótipo em relação à laranja.

Segundo Gordon Allport (um dos pais da noção de estereótipos), os


estereótipos são etiquetas psicológicas (rótulos) com base em indícios
perceptivos. Um qualquer indício saliente faz com que se atribua a
determinada pessoa uma etiqueta psicológica. Mas estes indícios perceptivos
não são apenas uma categoria social. Vai-se a estes indícios perceptivos
associar marcadores de valores sociais.
Não é o simples processo de dizer “olhos azuis para a esquerda, olhos
castanhos para a direita”. É dizer “as pessoas com olhos verdes são
misteriosas, são pessoas traidoras. As pessoas com olhos azuis são
mentirosas, são desligadas, as pessoas com olhos castanhos são leais, são
50

fiéis”. É isto que é fazer estereótipos. Cada pessoa activa, perante


determinadas situações, os seus estereótipos, que podem ser diferentes dos
da outra pessoa. Ou seja, retiraram-se características com marcadores
sociais valorativos, com base apenas naqueles indícios.
Os estereótipos podem conduzir a julgamentos errados, discriminação
(sendo uma das mais importantes), imagens pré-concebidas, generalizações,
etc.
Gordon Allport concluiu que os estereótipos têm uma função muito
importante: através da lei do menor esforço, a pessoa não está disposta a
investir muito esforço cognitivo, logo vai activar o seu estereótipo para arrumar
determinada pessoa, em determinada categoria. Disse também, que os
estereótipos fazem ter uma simplificação da informação que pode levar a
generalizações abusivas e uma racionalização da posição social.
Exemplo
Eu não conheço a pessoa, mas só porque a pessoa passou por mim com um blusão
de cabedal, faço dela um motard.

● Simplificação da informação;
Exemplo
Tenho à minha frente o Miguel. O Miguel é homem logo, com base
nisto, tem as características da categoria de homem
● Generalizações abusivas. Ocorre quando se assume que
as pessoas partilham características só porque pertencem
ao mesmo grupo, sem conhecermos as pessoas.
Exemplo
● Só pelo facto de o Miguel ser homem, fico com uma série de
confabulações a respeito dele, que podem ser verdadeiras ou
Estereótipos
não.
● Pelo facto de ter um grupo de pessoas à minha frente, vou
pensar que são todas iguais só porque pertencem ao mesmo
género.
● Racionalização da posição social.
Exemplo
Com base nas crenças e nas ideias que se tem sobre um
determinado grupo, consegue-se ter um fundamento teórico para
se agir de determinada maneira, para se compreender aquela
posição. Racionaliza-se sobre isso, com base na informação que
se tem.

Todos pertencemos a grupos estereotipados. Os estereótipos permitem


identificar uma série de características das pessoas que pertencem ao grupo,
sem se ter acesso a toda a informação. Os estereótipos funcionam como
etiquetas psicológicas que colocamos nas pessoas com base em qualquer
indício perceptivo. Juntam-se a este indício, marcadores de valores sociais,
não é um indício neutro, é algum valor social que se junta a este indício
perceptivo, logo esta etiqueta psicológica, não é uma etiquete que permita
distinguir se é “arroz basmati ou agulha”, é uma etiqueta que diz “o arroz
basmati é de melhor qualidade que o arroz agulha”.
51

Relativamente à generalização abusiva, o facto de se usar estereótipos,


faz com que se incorra nestes 3 processos: na simplificação da informação,
nas generalizações abusivas e na racionalização da posição social. Isto faz
parte do princípio de funcionar pela lei do menor esforço. Se se pode fazer
um procedimento com um mínimo de esforço possível, não se vai, à partida,
activar um processo que implique maior esforço. Significa isto que tem
vantagens adaptativas e tem, também, desvantagens. Não se pode ficar com a
ideia de que os estereótipos são uma função errada do ser humano que só
servem para sermos maus uns com os outros. Os estereótipos permitem que a
informação em relação a outras pessoas, seja arrumada.
Exemplo negativo: As beatas que frequentam a igreja.
São pessoas religiosas, que frequentam as igrejas todos os dias, mas sentam-se a
falar mal das outras pessoas ou delas mesmas.
Exemplo positivo: Médicos sem fronteiras
Quando se pensa em médicos sem fronteiras, pensa-se em voluntariado, ajuda,
altruísmo.
Foi-se a esta classe e procurou-se uma série de características positivas.

Os estereótipos não têm que ser todos negativos. Chama mais a


atenção se houver vários estereótipos negativos. Pese embora o estereótipo
tenha as duas vertentes, maioritariamente pesam mais as características
negativas. Na maioria dos casos dá-se mais atenção ao que está errado, uma
vez que o ser humano não lida bem com a diferença e a diferença é sempre
qualquer coisa diferente do que costumamos observar, o que faz que perante
pessoas que são diferentes de nós, lhe atribuamos características menos
positivas.
Com base nas crenças e nas ideias que se tem sobre um determinado
grupo, consegue-se ter um fundamento teórico para se agir de determinada
maneira, para se compreender determinada posição. Racionaliza-se sobre
isso, com base na informação que se tem. E esta racionalização vem-nos,
principalmente, da infância. Esta informação é-nos dada desde que nascemos
até que morremos, mas a infância é a altura que a informação tem um impacto
muito grande no ser humano.

CRENÇAS SOCIAIS (KATZ E BRALY)


Na visão dos psicólogos KATZ E BRALY os estereótipos são crenças transmitidas
pelos agentes de socialização, nomeadamente na infância. Estes psicólogos
disseram que as crenças são independentes do conhecimento real, ou seja,
não é necessário ter contacto com determinada pessoa ou determinado grupo
para ter uma noção como verdadeira.

CONSENSO DE INFORMAÇÃO: as pessoas que transmitem a informação,


normalmente, transmitem-na, todas, da mesma maneira.
Exemplo
Não é usual ter uma pessoa a dizer: “os comunistas comem criancinhas ao pequeno-
almoço” e ter outra pessoa a dizer: “viva la revolucione e Che Guevara é que é”. Não
é usual haver uma disparidade tão grande de informação. Se o meu pai diz que ao
pequeno-almoço os comunistas comem criancinhas, a minha mãe vai refutar a sua
opinião e não vai ser, aqui, um membro do partido comunista.
Assim, há um consenso na informação que chega até à criança
52

DEPENDÊNCIA DO CONTEXTO: o indivíduo não tem acesso a uma


determinada informação e a informação que lhe chega, é num determinado
contexto, numa determinada forma. Assim, só tem acesso a um lado da
informação, que é o lado daquele estereótipo. Isto faz com que estes
estereótipos comecem a ser desenvolvidos desde tenra idade e vão sendo
perpetuados, porque as suas crenças estão muito atrás e às vezes é
necessário ir aos anais da história para perceber donde veio com determinada
ideia, estereótipo. Isto é muito dos efeitos de socialização.

CURIOSIDADE: origem da expressão “os comunistas comem criancinhas


ao pequeno-almoço”
Esta expressão teve origem na Rússia comunista em que havia muitas aldeias
a morrer à fome, havia muita fome na altura, como era um país comunista,
com muitas movimentações comunistas, reza a lenda que a fome era tanta
que se comiam crianças.
Durante o Estado Novo, o comunista Álvaro Cunhal começou a ser mais activo
e a distribuir o jornal do “Avante”. Foi quando surgiu esta ideia, para distanciar
Portugal dos comunistas da Rússia. A ideia principal era esta. Ou seja, como
havia muita fome, surgiu a ideia de um certo canibalismo por causa da fome.
Foi uma crença muito partilhada, nos anos 50, 60 do séc. XX, com uma taxa
de analfabetismo muito grande e que criou um estereótipo acerca dos
comunistas comerem crianças ao pequeno almoço para lhes matar a fome.

Um agente credível a dar uma informação (como a anterior), a pessoas que


não têm muita formação ou informação, faz com que as pessoas tenham medo.

TAJFEL
Refere-se à assimilação intracategorial e diferenciação
intercategorial.
A acentuação perceptiva conduz à construção cognitiva de
categorias sociais. Por vezes bem demarcadas.
Acentuação Exemplo
Perceptiva Os políticos são todos iguais. É muito comum ouvir-se que os
políticos são corruptos, logo se é político, é corrupto.
Atribuo a uma categoria social uma ideia negativa. Estou a colocar
determinada pessoa naquela categoria e não exploro a sua
individualidade
Significa que determinado grupo, ou pessoas, são todos iguais.
Fazer-se uma assimilação intra categorial, é o mesmo que ver
Assimilação as pessoas, todas, como se fossem muito parecidas. Não vou
Intra ver diferenças entre os indivíduos, ou seja, os que pertencem a
Categorial determinado grupo são todos quase como que fotocópias
Exemplo
Os políticos são todos iguais
53

Há uma diferenciação em relação aos outros. Aqui há uma


Diferenciação
Inter
diferenciação em relação a mim e aos outros.
Categorial Exemplo
Eles são todos iguais e eles são diferentes de mim, ou de nós.
Não se contesta o juízo de valor, há menos importância dada
ao emissor e há menos acesso à informação.
A assimilação de valores conduz à organização das categorias
Assimilação
sociais por diferenciais valorativos.
de Valores Cria-se um ranking de valores (por vezes maus) em relação às
várias categorias.
Exemplo
Este é bom, este é pior, este nem se fala, este é melhor, este é
muito bom.

As premissas da ACENTUAÇÃO PERCEPTIVA e ASSIMILAÇÃO DE


VALORES, Tajfel referenciou-as como muito importantes no estereótipo. Haver
uma acentuação perceptiva das semelhanças dos outros entre si e das
diferenças de mim para os outros e haver uma assimilação de valores.
Não contesto este juízo de valor. Esta pessoa, que é uma fonte credível, diz-
me que é assim, então eu acredito. Pesa mais o emissor que a informação.

Enxogrupo São todos iguais


Endogrup São todos diferentes
o

INCLUSÃO NUM ESTEREÓTIPO

● MODELO DE FISKE E NEUBER (1990)

Este modelo requer pouco esforço cognitivo. Fala de Categorias primitivas


ou críticas.
o Género
o Idade
o “Raça”

Com base num qualquer indício, exemplo: é uma pessoa do género feminino,
logo vai para a categoria das mulheres”. Neste caso há pouco esforço cognitivo
para saber qualquer coisa acerca de daquela pessoa.
Exemplo
Se por acaso estiver na rua com uma criança e por qualquer motivo preciso que
alguém fique a tomar conta da criança. Tenho à minha frente uma mulher e um
homem. Posso achar que a mulher será mais maternal, mais dócil, para ficar com a
criança. Há pontos positivos que posso retirar desta situação. A questão é que com a
maior parte das pessoas com quem cruzo, não faço nenhum esforço cognitivo para
saber mais sobre elas. Agrupo-a em determinada “gaveta” e por lá fica.
Se por algum motivo aquela pessoa me interessar, vou buscar o meu estereótipo de
homem e vou ver se os indícios daquela pessoa são congruentes com a informação
54

que o meu estereótipo contempla. Se forem congruentes, óptimo. Arrumo aquilo no


estereótipo. Se não forem congruentes, vou procurar mais indícios. Se mesmo assim
não chegar a nenhuma conclusão, vou dizer “adeus” aos estereótipos e vou buscar o
processo de formação de impressões. Deixo de ver o indivíduo como estereótipo e
passo-o a ver como ele é e vou querer conhecê-la.

⮚ MODELO DE ZARATE e SMITH (1990)


Estes psicólogos falaram do modelo em que as categorias mais salientes são
aquelas que se afastam da norma cultural e que há uma saliência das
características das categorias minoritárias e não das categorias
maioritárias. Ora a norma cultural é o que é mais frequente. Assim, aquilo que
é dominante, é aquilo que é mais frequente.
Exemplo
Estamos em Portugal. A norma cultural é termos cerca de 1,80, as mulheres cerca de
1,65 / 1,70. Uma alemã, que terá cerca de 1,80, afasta-se da norma cultural
portuguesa, ao passo que a portuguesa, na Alemanha, afasta-se da norma cultural.

Como vemos o que é mais frequente, colocamos determinada pessoa naquela


categoria. Se essa pessoa se afasta da norma, vai para a categoria minoritária.
Esta é a forma como agrupamos a informação e a forma como às vezes é
necessário arranjar subcategorias para conseguir colocar lá as pessoas.

● PRINCíPIO DO METACONTRASTE (identificado por Turner – 1987)


O contexto em que a situação ocorre influencia a categorização (é feita de um
modo heurístico)
Exemplo
Ao estar perante um grupo de pessoas e vou ver que é homem, mulher, velho, novo –
agrupo as pessoas em categorias –, mas o meu contexto é olhar apena para aquelas
pessoas. De repente aquelas pessoas estão com paus na mão a baterem em várias
coisas. Agrupei as pessoas no grupo dos que têm paus. O contexto moldou, ou seja,
já não estou interessado se são homens, mulheres, novos ou velhos, mas que têm
paus na mão. O contexto é muito importante.

Os estereótipos têm a sua lógica, mas o contexto, por vezes, faz com que se
olhe mais para o que se está a passar e para a categoria onde vou estar a
colocar determinada pessoa, do que estar a ver as outras categorias que se
estava a ver para trás.
Não interessa se a pessoa é budista ou católica, se a pessoa estiver a cometer
um acto negativo qualquer, (exemplo) se estiver a bater em alguém, vou ver
aquela pessoa como um agressor e não como budista ou católico. Portanto, o
contexto que nos cerca, é responsável pelo agrupamento daquela ou daquelas
pessoas, perante a situação em si e não perante as outras categorias.

Os estereótipos levam sempre ao preconceito?

Preconceito Atitude hostil ou negativa sobre os elementos de um


determinado grupo, baseada apenas no facto de as pessoas
55

pertencerem a esse grupo.

Exemplo
Sou da polícia e quero fazer uma missão. Preciso de ir buscar um agente para me
acompanhar nesta missão. Tenho dois agentes, um homem e uma mulher. Escolho o
homem para vir comigo, porque a mulher é mais fraca. Isto é um preconceito.
Porém se der outros dados tais como, tenho necessidade de uma pessoa com uma
taxa de força maior que a outra. Portanto, seleciono o homem e não a mulher. Assim
já não é preconceito.
Uma atitude não é observável. Quando a comissária diz que necessita de ser
acompanhada pelo homem porque as mulheres têm menos força que os homens, a
isto chama-se preconceito.

Os estereótipos existem e os indivíduos, relativamente a um ou mais


estereótipos, podem ser preconceituosos. Se a atitude acerca de determinado
grupo fôr desfavorável, então o indivíduo é preconceituoso.
O estereótipo é geral e socialmente partilhada e o preconceito é individual e
pejorativo.
Exemplo: Os ciganos.
O estereótipo dos ciganos, é que são maus. O preconceito parte se se achar que
efectivamente são maus, ou seja se o indivíduo achar que são maus. Isto ocorre
porque o preconceito é individual.

ESTEREÓTIPO DA OBESIDADE
É um tipo de estereótipo, muitíssimo violento, praticamente não é falado e, no
entanto, há uma quantidade gigantesca de pessoas que se inserem neste
estereótipo e que são simplesmente esquecidas, estereotipadas e vitimas de
preconceito e discriminação, por causa do excesso de peso que têm.
As pessoas com excesso de peso são maioritariamente vistas como pessoas
preguiçosas com menos força de vontade, menos inteligentes, menos
motivadas, menos capazes e na verdade não são nada disto. São apenas
pessoas com obesidade e para se ter consciência da profundidade deste
estereótipo que é fortíssimo temos de ver o seguinte: não se fala da doença.
Não se fala de alguém com cancro, mas fala-se do “gordo”, do obeso.
Este estereótipo é fortíssimo com um imenso impacto em muitas áreas da vida
da pessoa. Na área da vida profissional, as pessoas com obesidade são menos
recrutadas, duram menos nos empregos, são mais facilmente despedidas e
sobem menos na hierarquia profissional.
Exemplo: estudo realizado para candidatura a emprego.
Numa entrevista de emprego, foi uma candidata que respondeu às perguntas que
devia responder. Passados uns dias, a mesma candidata foi novamente à entrevista,
mas maquilhou-se, caracterizou-se com excesso de peso.
Enquanto a candidata magra foi aceite, a candidata obesa, não foi aceite. Foi posta
de lado, apenas porque tinha excesso de peso.
A candidata era a mesma, contudo o que mudou foi apenas a segunda personagem,
caracterizada com excesso de peso.

As pessoas com excesso de peso são muito mais discriminadas em


todas as áreas da sua vida. Na escolha para os amigos, na escolha para os
relacionamentos amorosos, etc.
56

Não tem o mesmo impacto de ser um homem ou uma mulher com


excesso de peso. Nas mulheres é muito pior. Nos homens com excesso de
peso, pode ser percepcionado como um homem forte. A mulher com excesso
de peso não é percepcionada como uma mulher forte.
Exemplo: lutadores de Sumo
Estes homens quanto mais fortes forem, mais deuses são considerados e porque
assim obriga o desporto. Mais pessoas gostam destes indivíduos.

Se para uma pessoa já é difícil ter excesso de peso, para uma mulher
mais difícil é, porque lhe traz muitos atributos negativos associados. No que se
refere à auto-estima, depressões, preconceitos, estas pessoas (obesas) não
estão nos bons indicadores, em questões práticas, uma mulher com excesso
de peso tem muitas dificuldades em encontrar lojas de roupa para si. Agora já
há algumas secções, mas continua a ser muito difícil.
Se se deseja ajudar uma pessoa obesa a mudar o seu comportamento,
a sua relação com a comida, então deve-se ter consciência dos estereótipos
que existem, qual a relação que se tem com estes estereótipos e perceber se
aquela pessoa foi vítima de estereótipos a vida toda, ou pelo menos desde que
se encontra com excesso de peso.
Se se pretende ser um agente catalisador da mudança que esta pessoa
procura, deve-se começar a trabalhar isto, interiormente. E o trabalho é muito
interior. Isto não significa que se seja preconceituoso em relação às pessoas
com excesso de peso. Se alguém discrimina um obeso, normalmente o que diz
é: “se está assim, é porque quer. Merece”.
Portanto, o estereótipo da obesidade não é muito falado. As pessoas
vão vítimas de discriminação e isto passa-nos ao lado.

Nos estereótipos existem 3 categorias muito importantes:


1. Ser uma alteração da imagem corporal.
2. Ser percepcionado como responsabilidade da outra pessoa.
3. Ser visível.

Se se olhar para uma pessoa com obesidade, ela encaixa nestas 3


características. Tem uma alteração na imagem corporal, porque não está
dentro dos padrões considerados ideais de beleza, nem nos padrões
considerados normativos em termos de peso. Se se olhar para o índice de
massa corporal e se vir que o índice de massa corporal normal está entre os
18,5 e os 24.5 e uma pessoa com excesso de peso, está acima disso; é uma
alteração de imagem corporal bastante visível, a pessoa tem excesso de peso,
volumetricamente ocupa espaço e as pessoas sentem que a pessoa com
obesidade tem excesso de peso por sua responsabilidade e que só está
naquela situação porque não quer mudar. Isto faz com que este estereótipo
seja dos mais agressivos que existem. Se se fôr racista com alguém, essa
pessoa vai dizer: “alto, estás a ser racista, estás a ser incorrecto. O erro é teu”.
Esta pessoa que foi vítima protege-se e atribui ao outro o comportamento
errado. Com um obeso, as coisas são diferentes. Se alguém discriminar
outrem, por causa do peso e se alguém tiver um comentário menos próprio por
causa do peso, essa pessoa vai dizer que o outro está a agir assim com ele
porque tem excesso de peso e a responsabilidade de ter excesso de peso é
sua.
57

O efeito protector que os estereótipos têm na pessoa, de atribuir ao outro de


incorrer num estereótipo e agir com base nisso, ser preconceituoso ou
discriminar, o estereótipo numa pessoa com obesidade isto não acontece,
porque esta pessoa não se vai proteger, vai assumir a responsabilidade por
estar naquela situação e vai carregar com o impacto que o estereótipo tem em
si.
Deve-se falar sobre este estereótipo, das pessoas com obesidade, afim de
se combater este estereótipo e para se aceitar esta pessoas e se conseguir,
caso estas pessoas queiram mudar comportamentos, ser-se alguém que os
ajude a mudar comportamentos. Ninguém muda comportamentos, obrigado, a
pessoa muda comportamentos porque quer e a pessoa muda comportamentos
especialmente se se encontrar num espaço onde se sinta aceite, onde não se
sinta julgada, onde sinta que a pessoa que ali está, a aceita como ela é. Juntos
podem trabalhar na perda de peso e melhoria da relação com a comida. Nem
todas as pessoas com obesidade têm uma relação patológica com a comida,
há apenas pessoas que comem demais, gostam muito de comer e comem
muito. Enquanto existem pessoas com compulsões alimentares, também há
pessoas que comem demais, os hiperfágicos prandiais (prandial = digestão),
que são aquelas pessoas que gostam muito de comer e que comem
desmesuradamente. Não significa que tenham uma relação disfuncional com a
comida, podem ter apenas uma relação hedónica com a comida. A comida é
uma fonte de prazer e muitas vezes as pessoas comem pelo bem-estar que a
comida lhes dá, mas as pessoas que têm compulsões alimentares, têm uma
relação patológica com a comida, que já vem descrita no DSM. São as novas
introduções, as compulsões alimentares, as dependências on line, porque a
compulsão alimentar existe, a relação patológica com a comida existe e isto
tem de ser trabalhado. Por isso os psicólogos devem ser agentes activos de
mudança nesta área.
O tema do estereótipo da obesidade é pouco falado e é um dos temas com
o qual os psicólogos vão lidar bastante ao longo da prática profissional. Uma
pessoa com obesidade, foi uma pessoa discriminada muitas vezes e desde
sempre.

CURIOSIDADE
Se se pedir a uma criança para desenhar uma pessoa que não faça parte do seu
endogrupo, de outra raça, amputada, meninos com obesidade, se se der a uma
criança a oportunidade de copiar uma destas gravuras, nunca irão copiar o menino
com excesso de peso, fica de lado. Preferem copiar meninos amputados, de outras
raças, do que meninos com excesso de peso e isto é um grande aviso, num país que
tem uma prevalência de 30% de índice de obesidade.

Acções negativas injustificadas em relação aos elementos


Discriminação de um determinado grupo, baseada apenas no facto de as
pessoas pertencerem a esse grupo.

ESTEREÓTIPO, PRECONCEITO e DISCRIMINAÇÃO

GRUPO ATITUDE COMPORTAMENTO


58

● ESTEREÓTIPO
o Tem uma dimensão cognitiva
● PRECONCEITO
o Tem uma dimensão afectiva
● DISCRIMINAÇÃO
o Tem uma dimensão comportamental

Esquema Mental
Estereótipo, Preconceito e Discriminação

Estereótipos Estruturas cognitivas que


influenciam os julgamentos e
avaliações sobre os outros, com
base no grupo em se que incluem

Inclusão num estereótipo:


Categorias primitivas ou críticas
Allport Katz e Braly Tajfel
Categorias mais salientes
Princípio do metacontraste

Acentuação percetiva
Crenças sociais
Assimilação valores

Atitude hostil ou negativa sobre os


elementos de um determinado
Preconceito grupo, baseada apenas no facto
de as pessoas pertencerem a
esse grupo
59

Acções negativas injustificadas


Discriminação em relação aos elementos de um
determinado grupo, baseada
apenas no facto de as pessoas
pertencerem a esse grupo.

IDENTIDADE SOCIAL
Endogrupo Grupo com o qual o sujeito se identifica.
Exogrupo Grupo com o qual o sujeito não se identifica.

É o sentimento de um indivíduo para se enquadrar (pertencer) a


um determinado grupo social (segmentos, categorias) possuindo
Características e desejos semelhantes aos outros indivíduos do
Identidad
grupo.
e Social
Esta Teoria formulada pelos psicólogos sociais Henri Tajfel e
John Turner tem como principal área de aplicação as relações
intergrupais.

A identidade social, é a noção (crença) do indivíduo de pertencer a


determinadas categorias, sendo que esta cognição é sempre acompanhada por
uma componente afectiva - um sentimento de pertença.
Cada indivíduo tem uma variedade de identidades sociais que
habitualmente se apresentam de maneira estruturada e num processo de
reelaboração contínua. Isto é, a identidade social parte da constatação de que
o indivíduo se enquadra, quase automaticamente, as outras pessoas e a si
próprio nas mais variadas categorias de classificação, como por
exemplo: europeu, mulher, homem, educador, conservador, desportivo, etc.

TIPOS DE IDENTIDADE SOCIAL


É um processo cognitivo que facilita o indivíduo a uma maior
organização no seu mundo social, por meio de uma
Categorização simplificação da realidade das pessoas, através de
Social esquemas e estereótipos, agregando indivíduos, instituições,
ideias etc. em grupos com características comuns e que são
percebidos como iguais pelos seus participantes.
O sujeito procura fazer parte de algum grupo que possua
Identificação uma característica do seu interesse, a partir de um
Social objectivo/desejo pessoal, por exemplo, aumentar a sua
autoestima.
Comparação A pessoa faz comparação dela com outros indivíduos e do
60

seu grupo com outros, fazendo com que se aproxime


Social
daqueles que tenham características semelhantes às suas.
Elementos que detêm maior capacidade de processar uma
Dimensão grande quantidade de informações, fazendo com que
Cognitiva acrescentem elementos novos dentro do seu grupo ou
mesmo à categoria à qual pertencem.
Dimensão Pessoas que sentem a necessidade de participar em grupos para
Motivacional se sentirem valorizadas, mantendo uma autoestima positiva.

MODELO DE IDENTIDADE SOCIAL


ESCOLA DE BRISTOL
O modelo da Escola de Bristol é o dos psicólogos TAJFEL e TURNER.
A representação social das relações entre grupos contribui para a definição
da identidade social do sujeito. O indivíduo constrói a sua identidade, também
com base, nos grupos onde se insere e nas representações sociais qiue estes
grupos têm.
A pertença a um grupo social está imbuída de significado emocional e
avaliativo.
Tajfel, 1957

TRÊS PROCESSOS DA IDENTIDADE SOCIAL


1. Categorização social – é o processo cognitivo que permite a organização
e a simplificação da informação e realidade social e assim, fala dos juízos
perceptivos (Aumentam a diferença com base uma dimensão que tenha
um cariz valorativo). As avaliações que o indivíduo faz, com base em certos
indícios (o atributo não precisa estar presente basta, apenas, haver um
indício, que logo se assume que o indício está lá. Basta o indivíduo ter uma
percepção, não precisa ter a certeza, que logo faz um juízo).
2. Identificação social – relaciona-se como o indivíduo se situa e se
identifica, em relação a um determinado grupo. Isto permite-lhe desenvolver
o sentido de pertença.
Exemplo
Se faço parte de um grupo, ao qual eu associo muitos valores positivos, que muito me
esforcei para pertencer a este grupo, que tem muito significado emocional para mim,
isto irá ter um input muito positivo na construção da minha identidade.
Eu decidi fazer este curso. Ao estar no curso que escolhi fazer e para o qual trabalhei,
vai contribuir para a minha identidade.
E é esta forma como me vejo, em relação ao grupo, à forma como vejo o grupo na
sociedade, que vai reforçar e me ajudar a desenvolver a minha identidade e o meu
sentido de pertença.

3. Comparação social – nós contra os outros. Vai fazer a valorização social


do grupo ao qual o indivíduo pertence e tornar mais óbvia a sua identidade.
Isto vai acontecer sempre, ou seja, o indivíduo vai fazer sempre estas 3
categorias. São processos que se fazem com muita frequência.
61

PARADIGMA DOS GRUPOS MÍNIMOS


Tajfel

O paradigma dos grupos mínimos, de Tajfel, diz que há um


autofavoritismo em relação ao endogrupo. Há uma tendência no sujeito para
favorecer o endogrupo, mesmo que não seja um grupo de verdade.
Mesmo no vazio social, favorecemos aquilo ao qual nós achamos que
pertencemos e fazemos isto numa situação em que há:
● Ausência de interacção prévia

Exemplo
Não eram alunos da mesma escola, não eram amigos, não eram companheiros de
futebol, eram rapazes da mesma idade, nunca tinham interagido. Não se conheciam.

● Ausência de competição

Exemplo
O grupo que ganha mais pontos, não ganha nada. É indiferente ter 20 pontos ou ter
10 pontos ou ter 0 pontos. A competição está ausente.

● Ausência da noção de destino comum

Exemplo
Só tinham um caderno na mão. Não se conheciam, não tinham noção do que se iria
fazer a seguir. Apenas partilham um caderno com uma capa diferente da outra.

Mesmo nestas situações favorece-se o endogrupo.


Tajfel, veio dizer que a categorização social, dá-nos o conhecimento da
pertença; e a identidade social, dá-nos o significado emocional e
avaliativo. Isto faz com que o sujeito favoreça o seu grupo.
A categorização social e a identidade social vão favorecer o
endogrupo.
A Categorização social, a Identificação social e a Comparação social,
integram os processos cognitivos na dinâmica intergrupal.
Na dinâmica entre os grupos existem processos cognitivos e esses
processos são estes. Na forma como os grupos se relacionam uns com os
outros, estão presentes.

Turner foi fazer uma nova experiência com grupos mínimos, mas muito
parecida. Fez várias variações e uma variação em que o sujeito conseguia dar
mais pontos a ele próprio e menos pontos ao grupo, pois conseguia receber
mais com isso. E na experiência de Turner, ele viu que se juntar a competição
social, o favoritismo individual aparece. Passa-se a estar na óptica do
favoritismo individual e deixa-se de ter o favoritismo pelo endogrupo. Portanto,
quando aparece a competição, o que aparece primeiro é o favoritismo
individual e não o favoritismo do endogrupo.
Turner acaba por dizer que há uma competição social para uma
identidade social positiva. A categorização e comparação, regulam-se pela
motivação de satisfazer a necessidade de um self positivo. Sai da óptica do
62

intergrupal e vai para a óptica do intragrupal e acaba por perceber a relação do


self do indivíduo com o seu grupo e de que forma isto vai condicionar a sua
interacção com o mesmo e de que tem uma motivação para ter um self
positivo. Os grupos, por vezes podem servir como estruturas temporárias que
permitem ao indivíduo satisfazer o seu self positivo.

A competição está muito ligada à discriminação e ao preconceito.


Exemplo
Se num grupo de trabalho, ao ser competitivo, seleccionar determinado tipo de
elementos estarei a ser preconceituoso?
1. Se a selecção das pessoas se baseou no muito trabalho que elas fazem, na sua
organização e na sua eficiência, não estou a discriminar, nem estou a ser
preconceituoso.
2. Se a selecção de pessoas se basear na idade delas ou na côr da pele, aí estarei a
ser preconceituoso e discriminador.

Se o sujeito tiver hipótese de se beneficiar o favoritismo


Competição social
individual substitui o favoritismo pelo endogrupo.

MODELO DE IDENTIDADE SOCIAL


ESCOLA DE GENEBRA
Os autores da Escola de Genebra falam de um processo de
diferenciação categorial, em que a categoria é um processo psicológico de
estruturação do contexto. O sujeito procura organizar o contexto onde está
inserido, procura estruturar a informação à qual tem acesso, para lhe fazer
sentido e um todo coerente e conseguir agrupar a informação em diferentes
categorias. Este processo está integrado na organização situacional ou
estrutural das relações entre grupos.
Nesta escola foi feita uma outra experiência em que em vez de haver um
vazio social, as pessoas estavam inseridas no contexto. Ora eram alemãs, ora
eram francesas e tiveram a possibilidade de distribuir pontos, quer por si, quer
pelos outros e tal como na Escola de Bristol, o que eles verificaram, é que o
facto de se poder atribuir pontos a pessoas que são do mesmo grupo social faz
que se favoreça o seu próprio endogrupo.
Estes autores falam-nos muito no conceito de REPRESENTAÇÕES. As
suas representações de alemães, de franceses, qual é o papel que isto vai ter
na diferenciação entre os grupo. Estes autores identificam três funções das
representações: a selecção, a justificação e a antecipação.

A função selectiva das representações permite ter a


capacidade de escolher as informações mais relevantes
num determinado contexto.
Função de
Dada uma panóplia de informação que se tem ao dispôr,
Selecção
escolhe-se o que é mais relevante naquele contexto.
Permite, também, fazer uma diferenciação positiva no
sentido de beneficiar o endogrupo.
Função de Prende-se com a justificação da interacção do indivíduo, ou
63

num comportamento hostil, com base na imagem do


exogrupo.
Justificação
Vai buscar a informação que pretende justificar aquele
comportamento.
Permite ter algum nível de expectativa sobre a forma como
os outros se irão comportar e permite orientar a relação
Função de entre os grupos.
Antecipação Saber o que é esperado do outro lado, como é que a
própria pessoa se costuma comportar, como é que
regulamos a nossa interacção.

Esquema Mental
Identidade Social

Exogrupo Endogrupo

Modelo de Identidade
Social - Escola de Bristol

Categorização
Identificação Social Comparação Social
Social

Paradigma grupos mínimos - Tajfel

Modelo de Identidade Social


- Escola de Genebra
64

Modelo Diferenciação Social Representações

Funções:
Selecção
Justificação
Antecipação

REPRESENTAÇÃO SOCIAL
As representações sociais são construções psicológicas
do sujeito que interferem na forma como se interpretam os
Representação
acontecimentos.
Social
Permitem a criação de uma realidade que valide as
previsões e as explicações da representação.
Resulta da actividade mental do sujeito e das relações
Representação
que mantém com o objecto.

A representação social não é uma realidade. É a realidade que cada um


constrói na sua cabeça e nesse momento passa a ser a sua realidade. É uma
construção psicológica, individual, naturalmente influenciada pelo contexto
grupal e intergrupal nos quais o indivíduo está inserido, mas é uma construção
psicológica sua, em que há significado, há valor individual, há o simbolismo
individual que o sujeito atribui ao acontecimento ou ao objecto. Permite-lhe
interpretar os acontecimentos com base nas suas representações.
O ser humano está constantemente à procura deste sentido, de
esquemas representativos.
A representação social tem 3 critérios:
1. CRITÉRIO QUANTITATIVO – A representação social não é idiossincrática,
é partilhada por um conjunto de pessoas. Há um conjunto de pessoas que
partilham as mesmas representações sociais.
2. CRITÉRIO GENÉTICO – A interacção é coletivamente produzida
(resultam das interações e comunicações de um grupo social);
3. CRITÉRIO DA FUNCIONALIDADE – Permite organizar as relações entre
os actores sociais. E actor social é qualquer pessoa. Qualquer pessoa que
faça parte do meu endogrupo, do meu exogrupo, qualquer pessoa com que
se interaja é um actor social.

TIPOLOGIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS


MOSCOVICI

Representações Sociais Formas de entendimento e significado que são


HEGEMÓNICAS ou partilhadas por um grupo muito estruturado.
COLECTIVAS
Ajudam a dar estrutura ao grupo e são uniformes e
65

indiscutíveis.
Resultam de um grupo muitíssimo estruturado, com
uma estrutura muito sólida. Todas as pessoas
partilham da mesma crepresentação e está muito bem
construída. Estas representações ajudam a dar
estrutura ao grupo, são uniformes e indiscutíveis. São
aceites como verdadeiras e são pontos que orientam a
conduta e acção.
Exemplo
A igreja, um partido político
Afastam-se das hegemónicas. Têm um grau de
autonomia comparativamente às anteriores.
Há trocas de significados diferentes sobre o
objecto entre grupos.
Resultam da relação de cooperação entre grupos.
Exemplo
● O objecto da política da União Europeia, em que se
Representações Sociais tenta através de vários grupos que têm
EMANCIPADAS representações sociais muito marcadas, numa
relação de cooperação, construir representações
sociais emancipadas.
● Os guardas prisionais e os prisioneiros. Grupos
completamente distintos. Com objectivos diferentes.
No entanto, terá de haver alguma cooperação entre
eles de modo a haver harmonia. O objecto é viverem
na mesma sociedade e serem libertos.
Representações Sociais Significados exclusivos ou antagonistas.
POLÉMICAS Enquanto as anteriores resultavam de relações de
cooperação, estas resultam da relação de conflito
entre grupos.
Exemplo: Os grupos igreja e homossexuais.
● O choque causado pela igreja em relação aos
homossexuais e destes em relação à igreja. A
representação social seria sobre a união entre duas
pessoas hétero ou homo, em que a igreja preconiza
que só se deverão unir duas pessoas heterossexuais
e não do mesmo sexo. E os homossexuais desejam
que a igreja passasse a ver como legítimas as uniões
entre pessoas do mesmo sexo. É uma representação
social polémica porque o objecto da representação
social é a relação, o casal, em que para a igreja a
construção da representação social é no sentido de
um casal heterossexual e aqui existem valores
positivos e o significado é positivo, ao passo que ao
casal homossexual estão associados valores
negativos e significados negativos.
A representação da igreja sobre o casal hétero é
positiva e sobre um casal homo é negativa.
Os homossexuais têm uma representação social
positiva dos casais heterossexuais e positiva dos
66

casais homossexuais e neste ponto divergem com a


igreja católica, tendo aqui posturas e significados
antagonistas.
● Facções diferentes de uma mesma religião. O
Judaísmo e o Cristianismo. Têm os seus pontos de
divergência, em que já tantos conflitos foram criados
por causa desses pontos de divergência.

(exemplo de representação social emancipada)


A igreja católica não reconhece, na actualidade, o casamento
homossexual. Na representação social de casamento, na igreja católica, é um
casamento heterossexual. Os homossexuais, na actualidade, reconhecem o
casamento homossexual como válido e na representação social deles de
casamento na igreja, um casamento católico, a união que eles têm encaixa
naquela representação social. São 2 representações sociais antagónicas.
Imagine-se pois, que dentro destes 2 grupos há um Papa Francisco, que diz
que se calhar os homossexuais são pessoas que gostam umas das outras e se
o Papa Francisco colaborasse com um grupo de homossexuais e em conjunto
construíssem uma nova representação social sobre o Amor de uma forma
generalizada e a igreja católica, seria uma representação social emancipada.
Ou seja, a representação social da igreja católica é: a relação amorosa só pode
ser entre duas pessoas de géneros distintos e dentro da igreja católica pode
haver um subgrupo que pense de uma forma diferente e esse subgrupo pode
dizer que concebe uma relação afectiva entre duas pessoas,
independentemente desde que consentida e independentemente do género
das pessoas. E este subgrupo pode interagir com um subgrupo de
homossexuais e haja aqui a partilha de significados mais próximos e construam
uma nova representação social. Aqui estaríamos na representação social
emancipada. É o que eventualmente poderá vir a acontecer dentro de alguns
anos. Porém, neste momento, estamos numa situação de conflito, em que as
opiniões são antagónicas e não há a construção de uma representação social
emancipada.
Mesmo em relação à igreja, o divórcio. Os casais poderem passar a
divorciar-se. Poder ser aceite em que os casais divorciados – antes não se
podiam divorciar, não existiam divórcios – e neste momento já existem
sacerdotes que não se importam de fazer uma cerimónia para um casal com
um ou dois elementos divorciados que se voltem a casar pelo civil. Isto é uma
representação social emancipada, em que o conceito de união de casamento e
de divórcio se juntou ao conceito de união e casamento da sociedade e
construíram, de alguma forma, um novo significado
Imaginando que a igreja, a partir de agora, aceitava o casamento entre
homossexuais, a representação era emancipada porque derivava de duas
representações sociais distintas., dois grupos que cooperam – o grupo dos
homossexuais e o grupo da igreja católica – e cooperavam no sentido de criar
uma nova representação social que tivesse significados de cada um e
construíssem uma nova representação social.
67

FORMAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Para a formação das representações sociais, há dois objectos básicos ou


processos sociocognitivos: objectivação e ancoragem.

Forma de organização dos elementos constituintes e o


modo como se tornam materiais:
● Construção selectiva - selecciona a informação que é
útil. A informação que vai ao encontro daquilo que para a
pessoa é a sua representação social (do grupo).

Objectivação ● Esquematização - organização dos elementos. A forma


como o sujeito vai organizar os vários elementos. Os
elementos úteis que seleccionou na informação à qual
teve acesso.
● Naturalização – É a construção mental de categorias
naturais e com materialidade (a percepção torna-se
realidade)
Processos que permitem que o não familiar se torne
Ancoragem familiar. Processos que permitem que a representação
seja um organizador das relações sociais.
Exemplo: representação social de um polícia
Posso conhecer outra força de autoridade. Com base na representação social que
tenho do polícia, vou associar a mesma à desta nova força de autoridade.

⮚ FUNÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

As representações permitem atribuir um sentido ou elaborar uma


organização significante do real. Este é dos princípios do ser humano.
As representações permitem:
● Identificar os modos de ação considerados adequados;

● Construir o significado do objeto estímulo e da situação;

● Dar sentido e justificar os comportamentos.

⮚ REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E DIFERENCIAÇÃO SOCIAL

A especificidade da situação do grupo social, permite ter a especificidade da


representação, que permite diferenciar os grupos. Porque os grupos têm
representações diferentes. Assim, isto são momentos de diferenciação
intergrupal que o sujeito tem tendência para fazer. As representações
intergrupais modelam as representações e as representações indicam a
direcção das relações intergrupais. Ou seja, há uma interacção entre a
relação intergrupal e a representação. Não são entidades distintas, mas
interagem. Uma influencía a outra e esta influência é recíproca.
68

O grupo dispõe das representações que lhes permitem antecipar o


comportamento do outro e definir a conduta a adoptar.

Esquema Mental
Representação Social

Representação Construções psicológicas do


Social sujeito que interferem na
forma como se interpretam os
acontecimentos

Critério
Critério Quantitativo Critério Genético Funcionalidade

Moscovici

Tipologia das Formação das


Representações Sociais Representações Sociais
69

Representações Representações Representações


sociais colectivas sociais emancipadas sociais polémicas

Objectivação Ancoragem

CONFORMIDADE e OBEDIÊNCIA
OS PSICÓLOGOS SOCIAIS ESTÃO INTERESSADOS EM COMPREENDER
PORQUE É QUE AS PESSOAS TÊM TENDÊNCIA PARA SE CONFORMAR,
MAIS DO QUE FAZER JULGAMENTOS SOBRE OS OUTROS.

⮚ NORMAS SOCIAIS E CONFORMIDADE

Formas geralmente aceites de pensar, sentir e se


comportar, que as pessoas de um grupo concordam
serem correctas.
Exemplo
Neste momento a professora só conhece os alunos via
Normas Sociais zoom, não conhece pessoalmente os alunos. Em contexto
de sala de aula, todos iriam concordar que quando um
colega fala os outros estão calados, senão seria uma
anarquia e não se conseguiriam ouvir. Isto é uma norma
social que se vai aceitando e verificando que faz sentido
neste grupo dos alunos
Convergência de respostas individuais em direcção às
normas do grupo.
Isto foi dito por Sherif quando disse:” atenção, estas
pessoas vão organizar o seu pensamento, vão organizar
Conformidade os seus quadros de referência por uma coisa que não
aconteceu e estas mesmas pessoas se tiverem em
grupo, vão convergir no sentido umas das outras.
Exemplo
Numa coisa que não aconteceu, vamos convergir de modo
a pensar que foi tudo igual.
70

A Conformidade ocorre por necessidade de aceitação e aprovação do grupo,


bem como pela crença de que o grupo está correcto.

⮚ CONFORMIDADE INFORMACIONAL E NORMATIVA

É a aceitação da opinião do grupo por se achar que este


deve estar certo, apesar de evidências contrárias.
Exemplo: a experiência de Asch
Conformidade Viu-se claramente que a resposta correcta era a 2 e todo o
Informacional grupo dizia que era a 3. Então essa pessoa respondia de
acordo com o que as pessoas diziam. Aceita-se o que o
grupo diz, mas as evidências apontam todas no sentido
contrário.
É a aceitação da posição do grupo por temer a sua
reacção, caso o sujeito se desvie dela.
Exemplo: No presente contexto de pandemia
Venceu um clube. Estão todos sem máscara a comemorar
Conformidade e um sujeito está sentado no seu lugar, com máscara. E
alguém lhe diz que é um chato que está sempre com
Normativa
máscara e que nunca mais o chamam para nada e que
nesse dia é uma festa. A certa altura o indivíduo tira a
máscara e diz que não é chato e que não o deixem de
chamar para coisas, ou mantém-se com máscara e diz que
não e que fica no seu canto.

A desindividualização é um extremo disto. É um fenómeno de grupo em que se


age indo ao encontro da conformidade do grupo e das normas grupais,
extrapolando os comportamentos, havendo comportamentos que não existiriam
noutro contexto e desresponsabilizar dos mesmos.

⮚ TEORIA DO IMPACTO SOCIAL – LATANÉ

Teoria proposta por Bibb Latané que ajuda a


compreender e a relacionar alguns dos factores
que afectam a influência social.
A teoria do impacto social afirma que as
Teoria do Impacto Social repercussões de uma fonte ou fontes de
Latané influência sobre um alvo, aumentam com a
força, proximidade e quantidade destas fontes,
ou seja, uma pessoa é mais afectada quando
há fontes de influência mais intensas, mais
próximas e em grande quantidade.

A probabilidade de agir de acordo com a influência social depende de:


● Força - Qual a importância do grupo para o sujeito? É um grupo muito
importante para ele?
Exemplo
71

O meu clube ganhou ontem. Os meus amigos são todos deste clube. É um grupo
importante para mim?

● Proximidade – Quão presente é o grupo na vida do sujeito? São os


meus colegas de trabalho? São aqueles com quem por vezes faço
formações?
● Número – a quantidade de elementos do grupo (7, mais dois, menos
dois)

⮚ FORÇA E PROXIMIDADE
A tendência para a conformidade e para a aceitação das pressões
normativas aumenta se o grupo for relevante e importante para a pessoa,
bem como pelo facto de se ter uma relação próxima com o grupo.
Exemplo
O grupo são os amigos, a família. São grupos importantes para o indivíduo, então é
natural que haja maior tendência para o conformismo do que se fôr um grupo que não
tem qualquer impacto na vida do indivíduo – grupo de condóminos, nem conhece as
pessoas, ninguém fala com ninguém. Não é um grupo relevante para o indivíduo.

Grupos com os quais o sujeito se identifique muito e com o qual esteja


comprometido exercem maior influência social do que os grupos que estejam
na situação contrária.

⮚ NÚMERO

Deriva do estudo de Asch, em que se verificou que a partir de 4 elementos


deixa de ser relevante. O impacto é significativo até ao 4º, a partir deste deixa
de ser relevante. O facto de haver muitos mais elementos não vai ter impacto
no sujeito e na tendência para o conformismo. Até 4 é relevante, a partir daí
deixa de o ser.

OBEDIÊNCIA
Fenómeno comum nas relações entre grupos e sujeitos, que
Obediência
permite garantir o funcionamento eficaz das estruturas socias.

EXPERIÊNCIA DE MILGRAM
Experiência clássica da Psicologia Social que tenta perceber as questões da
autoridade, porque é que as pessoas seguem a autoridade, mesmo quando
isto implica terem de fazer coisas que vão contra os seus valores ou contra
aquilo que acham correcto.
72

Nesta experiência há vários pormenores que têm impacto nos participantes da


experiência, ou seja, o senhor de bata branca, que dá um ar de certa
distância, com conhecimento científico e que também tinha uma forma de
falar bastante assertiva.
O aparelho que dava os choques, que era um aparelho que visualmente
tinha muito impacto. Tinha o pormenor de o visitante ir visitar a outra sala onde
o suposto aluno levava choques e ver que ele estava ligado à máquina.
Portanto existem uma série de pormenores que ajudam a compreender o efeito
que as coisas têm.

CONTEXTO HISTÓRICO DA EXPERIÊNCIA DE MILGRAM


Milgram começa a sua experiência sobre a OBEDIÊNCIA em 1961,
pouco tempo depois do mundo ter assistido ao julgamento do criminoso de
guerra, Adolf Eichmann, que entre outras coisas era acusado de ter condenado
à morte milhões de judeus. A defesa de Eichmann era, neste caso, de que
apenas se limitou a cumprir ordens.
Milgram realizou a experiência na Universidade de Yale, onde recrutou
40 homens através de anúncios em jornais. Os participantes eram informados
(falsamente) em que o estudo em que iriam participar relacionava-se com a
memória e a aprendizagem. Foi-lhes dito que uma pessoa assumiria o papel de
professor e a outra o papel de estudante, papéis estes que eram escolhidos por
sorteio. Cada participante escolhia ao acaso uma pequena folha (na verdade,
as folhas tinham todas a palavra “professor”). Os “alunos” eram actores,
cúmplices de Milgram. Assim todos os participantes desconhecidos ficavam
intensionalmente com o papel de professor, convencidos de que tinha sido uma
atribuição aleatória.
Esta experiência tinha como objectivo o estudo das reacções individuais
face a indicações concretas de outros. A obediência era medida através das
acções manifestas e implicava comportamentos de sofrimento para outros.

1. Um voluntário apresentava-se para


participar na experiência, sem saber que
seria avaliado na sua capacidade de
obedecer a ordens. Era colocado no
comando de uma falsa máquina de infligir
choques. Os sujeitos eram
encarregues num suposto papel de
“professor” numa experiência sobre
“aprendizagem”.

2. A máquina estava ligada ao corpo de um


homem mais velho e afável, que era
submetido à uma entrevista numa sala ao
lado. O voluntário podia ver o homem mais
velho, mas não era visto por ele;

3. O voluntário era instruído por um


investigador a acionar a máquina de
73

choques todas as vezes que a pessoa errava uma resposta. A intensidade


dos choques aumentava supostamente 15 volts por cada erro cometido,
desde 15 (marcado na máquina como “choque ligeiro”) até 450 volts
(marcado na máquina como“perigo: choque severo”);

4. À medida que a intensidade dos choques


aumentava a pessoa queixava-se cada vez
mais até que se recusa a responder;
O experimentador ordena ao sujeito para
continuar a administrar choques: ”Você não
tem alternativa, tem que continuar”;

Mesmo a observar o sofrimento, a maior parte


dos voluntários continuava a obedecer às
ordens, infligindo choques cada vez maiores. A intensidade máxima, 450 v,
significaria hipoteticamente matar a outra pessoa. 65% das pessoas
obedeceram às ordens até ao fim e deram o choque pretensamente fatal.

⮚ RESULTADOS

Os resultados dizem que, na experiência de Milgram, dos 40 sujeitos críticos,


ou seja, os que foram até ao final da experiência, 35 ultrapassaram os 300
volts e 26 foram até aos 450 volts. Mais de metade aceitou dar, pelo menos
uma, descarga eléctrica de 450 volts.
Os resultados dizem que as pessoas fazem o que lhes mandam se a
indicação lhes for dada por uma autoridade que considerem legitima.
A autoridade responsabiliza-se e o sujeito desresponsabiliza-se.

⮚ VARIAÇÕES EXPERIMENTAIS

1) Proximidade da vítima da obediência – quando a proximidade aumentou,


há uma menor obediência.
2) Proximidade da autoridade – maior proximidade conduz a maior
obediência. Quanto menor a proximidade com a autoridade, menor é a
obediência.
3) Prestígio da autoridade – Sem efeito. A credibilidade ou o prestígio da
autoridade não vão ter tanto efeito.
4) Influência dos outros e o peso do apoio social para a desobediência –
Maior impacto na facilitação da desobediência do que na promoção da
obediência.
Exemplo
Há 5 pessoas na sala e uma ou duas desobedecem, o indivíduo sente-se maias
apoiado para desobedecer. Quando não há unanimidade, há um maior apoio à
desobediência.
74

5) Consistência da autoridade (a autoridade é sempre a mesma pessoa, é


congruente no que diz) - aumenta a obediência.

Houve várias variações a este estudo, uma vez que não pode ser generalizado
daí que esta experiência tenha sido contextualizada. Tiveram de perceber as
várias dimensões, nomeadamente a competência da autoridade e não apenas
a legitimidade da mesma.
Exemplo
Se um médico me mandar atravessar a Av Liberdade pelo meio, sem ser nos
semáforos ou na passadeira, eu não vou atravessar. Vejo-o como figura de
autoridade, mas não lhe reconheço competências para me dizer onde vou atravessar
numa estrada. Contudo, se fôr um policia sinaleiro a mandar atravessar algures, vou
atravessar onde ele disser.
Se fôr um piloto de avião a dizer que vou tomar o antibiótico todos os dias, não lhe
reconheço competências para o dizer, mas se e3ste piloto de avião disser: “srs.
Passageiros apertem os cintos que estamos com turbulência” já lhe reconheço
competência.

⮚ GENERALIZAÇÃO DOS RESULTADOS

● Competência da autoridade e não apenas legitimidade da mesma

● Contexto envolvente – é muito importante.

● Desresponsabilização não é total. Apesar de passar a responsabilidade


para o investigador, diz que se desresponsabiliza, o sujeito não se
desresponsabiliza totalmente. Embora verbalizem a desresponsabilização,
internamente não estão alinhadas, ou seja, o que se pode generalizar é:
sujeitos comuns em condições particulares são capazes de actos
cruéis. É isto que se pode generalizar.

⮚ CONFORMIDADE NORMATIVA
A pressão normativa faz com seja mais difícil recusar prosseguir com a
experiência – se as outras pessoas demonstrarem uma grande vontade para
que o sujeito faça algo, é mais difícil este dizer que não. Ainda mais relevante
perante uma figura de autoridade.

⮚ CONFORMIDADE INFORMACIONAL
Numa situação ambígua o sujeito tende a procurar pistas no
comportamento das outras pessoas. A conformidade informacional é mais
forte se a situação for ambígua, de crise ou se o outro for percepcionado
como sendo mais experiente. Assim, fazem-se as coisas pelo que o outro faz,
ou se se estiver em crise ou numa situação ambígua, procuram-se pistas na
pessoa que se encontrar ao nosso lado.
75

⮚ MOTIVOS PARA A OBEDIÊNCIA

● Conformidade com a Norma errada – ocorre quando o sujeito não se


apercebe de que a norma que está a seguir é incorrecta ou pouco ajustada
à situação. A pessoa realiza aquele comportamento porque pensa que o
que está a fazer, não é incorrecto.
● Autojustificação – A tomada de uma decisão difícil pode gerar
dissonância cognitiva – o sujeito envolve-se em esforços para diminuir a
dissonância e restabelecer o equilíbrio. Uma forma de diminuir a
dissonância é justiçar a decisão, o que aumenta a propensão para
desenvolver acções semelhantes.
● Agressão – o facto de se poder acreditar que se faz mal a alguém faz com
que o sujeito o seja capaz de agredir? Milgram diz que pode ser.

EXPERIÊNCIA DA PRISÃO DE STANFORD


PHILIP ZIMBARDO
Esta experiência é muito conhecida e impactante, de tal forma que se fizeram 2
filmes e um documentário acerca desta experiência, que ocorreu 10 anos
depois da experiência de Milgram, na mesma universidade, tendo tido o
patrocínio dos militares (não se sabe qual o ramo). Esta experiência teve uma
preparação bastante complexa.

EXPERIÊNCIA DE STANFORD
● O que acontece quando se põem pessoas boas num lugar mau?

● Será que a humanidade ganha ou será que o mal triunfa?

● Uma experiência que foi planeada para durar duas semanas, teve de terminar ao
fim de 6 dias, pelo efeito que estava a ter nos participantes.
● Foi colocado um anúncio que pedia estudantes universitários, masculinos, para
uma experiência sobre a vida numa prisão, durante uma a duas semanas e em
troca recebiam 15 dólares por dia.
● Responderam 70 homens, aos quais foram feitas entrevistas de diagnóstico e
aplicados testes de personalidade, por forma a garantir a ausência de problemas
psicológicos, médicos, historial de crimes ou de abuso de substâncias.
● Foram seleccionados 24 estudantes dos EUA e Canadá, saudáveis, inteligentes e
da classe média.
● Os participantes foram divididos, de forma arbitrária, em dois grupos – o dos
guardas e o dos prisioneiros.
● Sem aviso prévio, numa manhã de domingo, um carro da polícia apareceu à porta
76

da casa de cada estudante, que tinha sido escolhido para prisioneiro, e era
algemado, levando-o preso.
● Os “prisioneiros” eram informados da acusação e dos seus direitos, encostados
ao carro da polícia, de pernas abertas, revistados e algemados, à vista de toda a
gente, amigos, familiares, vizinhos.
● Na esquadra seguiam os procedimentos normais, lidos os direitos, tiradas as
impressões digitais, identificados.
● Depois eram levados para a prisão, para uma cela, de olhos vendados, sem visão
para o exterior, sem relógio e com poucos estímulos sensoriais.
● Cada “prisioneiro” era revistado, despido e submetido a um spray desinfectante.

● Usavam apenas um uniforme, sem roupa interior, chinelos e uma meia de nylon
na cabeça. Nos tornozelos colocaram-lhes correntes.
● Nas celas e prisão, só podiam usar o número que tinham na tshirt e quando se
referiam a outro prisioneiro era sempre pelo número. Os nomes tinham sido
abolidos.
● Aos “guardas” foi dito que deveriam fazer o que fosse necessário para manter a
ordem e o respeito dos prisioneiros.
● Os “guardas” usavam uniforme e óculos de sol.

● Às 2:30, os prisioneiros eram acordados para a contagem.

● Quando os prisioneiros quebravam as regras, tinham castigos – inicialmente


flexões (push ups) – algo comum nos campos de concentração nazis.
● No segundo dia, os prisioneiros tentaram um motim.

● Ao fim de 36 horas alguns participantes demonstraram sinais de stress e


problemas psicológicos.
● Os castigos tornaram-se diferentes. Por exemplo, limpar as sanitas com as mãos.

Stanford não é uma prisão, é uma universidade cuja cave foi


transformada em prisão, mas o que preocupava ZIMBARDO, que foi quem
pensou na experiência e nela participou, embora um pouco mais retirado, era o
que acontecia às boas pessoas quando as colocamos num lugar mau, ou seja,
até que ponto podemos dizer que há pessoas boas ou pessoas más e até que
ponto as circunstâncias também nos podem levar a fazer coisas que nunca
esperaríamos fazer, ou que podem levar a que uma pessoa boa possa fazer.
Esta era a grande questão para Zimbardo. Portanto, era isto que se queria
estudar, ainda que de uma forma exploratória. Não se queria provar nada, o
desejo era perceber o que acontece em determinadas situações e
circunstâncias. Será que há pessoas que praticam crimes, atrocidades porque
têm qualquer coisa má dentro de si? Porque têm uma natureza diferente? É
qualquer coisa que em determinadas circunstâncias faz com que todas as
pessoas possuam essa potencialidade? Será que a parte mais humana das
pessoas ganharia? Ou será que as circunstâncias, neste caso, isto é uma
terminologia que o Zimbardo usa muito, ou o mal triunfaria? Ou seja, são os
77

nossos valores e a nossa bondade que acabam por ganhar no confronto com
circunstâncias terríveis, ou será que as circunstâncias levam sempre a melhor?
Esta experiência da prisão de Stanford estava planeada para durar duas
semanas, mas teve de terminar ao fim de 6 dias porque esta experiência
estava a ter nos participantes, efeitos extremamente graves não só no seu
bem-estar físico mas sobretudo psicológico. A própria experiência teve de ser
interrompida, sensivelmente a meio. Não chegou a meio.

(Aconselhável ver imagens da prisão de ABU GRAHIB e compará-las com


as da prisão de STANFORD).
Em ABU GRAHIB estavam prisioneiros acusados de alguns crimes
importantes e que os carcereiros, ou os responsáveis, ou os policias, oo
militares que estavam responsabilizados pela prisão de Abu Grahib também
foram acusados de tortura.
Pode-se comparar ambas as prisões – Abu Grahib e Stanford – e verificar que
os pontos de partida eram diferentes.
Abu Grahib saiu para as bocas do mundo depois de terem sido publicitadas
fotografias onde os militares aplicavam torturas humilhantes aos presos.

FALAR SOBRE STANFORD


No início foi colocado um anúncio a pedir estudantes universitários, do
sexo masculino, para experiências sobre a vida numa prisão. Seria cerca de
duas semanas e ofereciam 15 dólares por dia. À partida todos os participantes
seriam homens e estudantes universitários, não havia diversidade, pelo menos
a nível da escolaridade.
Responderam a este anúncio 70 homens e a todos foi feito uma série de
entrevistas de diagnóstico, testes de personalidade por forma a garantir que
nenhum dos participantes desta experiência tinha nenhum problema
psicológico, à partida, nenhum problema médico, nenhum deles esteve,
anteriormente, envolvido em crimes, nem tinham nenhum histórico de abuso de
drogas. Portanto era aquilo que nós, noutro contexto, podíamos dizer: eram
bons rapazes.
Destes 70 foram selecionados 24 estudantes americanos ou do Canadá
que estavam em Stanford, eram saudáveis a nível físico e psicológico,
inteligentes e todos da classe média. Um grupo muito homogéneo.
Estes participantes foram divididos em 2 grupos, arbitrariamente. Não
sabiam em que grupo iriam participar e não houve nenhum critério para
selecionar os participantes para os grupos. Foi pela forma de “atirar a moeda
ao ar: Cara ou Coroa”. Metade dos participantes foi atribuído a função de
“guarda” e a outra metade ficou com a função de “prisioneiro”. Não foi por
nenhuma característica psicológica ou física, nenhuma característica específica
do indivíduo que os fez participar como guardas ou prisioneiros. 2 grupos de
rapazes, saudáveis divididos por papéis.
Numa manhã de Domingo, para os que tiveram a sorte de calhar no
grupo dos prisioneiros, apareceu um carro verdadeiro da policia à porta de
casa de cada estudante e eram presos – tal como acontece nos Estados
Unidos, quando alguém é acusado por um crime e procurado pela policia –
sendo que lhes eram lidos os seus direitos, encostados ao carro da policia, de
pernas afastadas, revistados, algemados e isto tudo no meio da rua, à porta de
sua casa, com amigos, familiares e vizinhos a ver o espectáculo e sem grande
78

poder de resposta. Aqui há já uma carga emocional muito grande, uma vez que
a experiência começa muito antes das portas da esquadra da polícia.
Chegados à esquadra, faziam aquilo que fazem às pessoas, eram-lhes
lidos os direitos, tiradas as impressões digitais, era feita a identificação e eram
levados para uma cela, de olhos vendados, onde ficavam sozinhos durante um
bom bocado. Ninguém lhes disse que já fazia parte da experiência, nem que
isto poderia acontecer, portanto, podiam pensar o porquê daquela situação.
Depois, finalmente eram levados para a prisão, a tal prisão que era uma
parte da Universidade de Stanford que foi alterada para parecer uma prisão
verdadeira. Era um local sem janelas, sem vista para lado nenhum, não tinha
relógio, portanto, muito pouco estimulante. Só se veem mesmo grades e
paredes de prisão.
Cada um era revistado, tal como na realidade fazem aos prisioneiros,
despido e enquanto estavam despidos eram pulverizados com spray, caso
tivessem piolhos, germes ou infecções. Portanto, eram desinfectados desta
forma. Como roupa usavam uma espécie de uniforme, não tinham roupa
interior. A parte de cima do uniforme fazia lembrar um vestido, tipo túnica,
segundo o que reportam os que estavam a observar. Os participantes depois
de começarem a usar esta roupa, começaram a mover-se de forma diferente
daquela que costumava ser a sua forma normal de se moverem, de se
sentarem, etc. tinham chinelos para os pés e tinham uma meia de nylon que
punham na cabeça que foi uma forma de aproximação àquilo que às vezes há
nas prisões que é rapar o cabelo
O cabelo, assim como a nossa roupa e o nosso nome, é uma forma de
expressão individual. Não é por acaso que há pessoas que nunca cortam o
cabelo, outras cortam muitas vezes, outras pintam o cabelo, outras põem o
cabelo com rastas, outras põem o cabelo espetado, há quem faça caracóis,
tranças, nada disto é por acaso, faz parte da nossa expressão e da nossa
individualidade.
Portanto, tudo aquilo que é uma forma comum de as pessoas se
expressarem, a roupa que escolhem, o cabelo que usam, o próprio nome, tudo
isto desaparece, uma das formas mais comuns de comunicação desaparece e
os tornozelos tinham uma corrente, o tempo todo.
Cada uniforme tinha um número, que era o seu número de prisioneiro e
a partir do momento em que vestiam o uniforme deixavam de poder utilizar o
seu nome. Se lhes perguntassem quem eram, tinham de responder com o seu
número de prisioneiro e também se quisessem chamar por outro prisioneiro
tinham de chamá-lo pelo número e nunca pelo nome.
Aos guardas, não foi dada nenhuma formação prévia, apenas que a sua
função era manter a ordem na prisão e manter o respeito, que os prisioneiros
tivessem um comportamento respeitador face aos guardas. Estas eram as
funções que foram pedidas aos “guardas”. Os guardas usavam uniforme de cor
verde caqui e óculos de sol. Os óculos de sol, espelhados é qualquer coisa que
nos impede de ter um olhar directo, mesmo quando alguém olha para nós
através dos óculos de sol, nós não conseguimos ver muito bem qual o olhar e a
expressão da pessoa. Portanto há uma menor capacidade de relação e menor
capacidade de perceber a emoção do outro.
No 1º dia, às 2:30, os prisioneiros foram acordados para a contagem e
quando os prisioneiros quebravam as regras – por exemplo dar uma resposta,
um olhar, considerado pelos guardas desrespeitador – os guardas impunham
79

castigos e inicialmente os castigos que impunham eram as flexões – push ups


– e os psicólogos que observavam esta experiência, inicialmente acharam que
era um castigo um bocadinho infantil. Na realidade é uma coisa muito comum,
enquanto castigo, e até nos campos de concentração nazis eram impostos
estes castigos. Isto aconteceu logo no início da experiência.
No 2º dia, os prisioneiros tentaram um motim. Tentaram ganhar o poder
dentro da prisão.
Ao fim de 36 horas, menos de dois dias, alguns dos participantes
começaram a mostrar sinais de stress e problemas psicológicos. No início não
foram levados a sério e ainda hoje existe polémica relacionada com isto, se as
pessoas estavam assim tão mal, se era mais um truque para manipular a
experiência, ou se era para sair da experiência, e os castigos passaram
também a ser diferentes. Deixaram de ser as flexões e passaram a ser, por
exemplo, limpar as sanitas com as mãos.
Durante a experiência, também foram visitados por um padre.
Esta experiência teve de ser parada porque o objectivo desta
experiência era testar o ser humano, sendo bom, e colocado num sítio mau, se
era influenciado a ter atitudes más, contudo estava a ter repercussões
psicológicas graves nos intervenientes e isto não é éticamente correcto.
Houve alterações aos planos logo do primeiro para o segundo dia em que os
prisioneiros resolveram revoltar-se e a partir daí foi uma bola de neve.
Para fazermos estudos não temos que deixar as pessoas doentes,
obviamente que este não era o objectivo, mas a realidade é que isto estava a
acontecer. Ainda hoje, Zimbardo é um defensor de que as circunstâncias são
muito mais determinantes do que as nossas qualidades individuais, porque de
facto o que se passou foi que não seria possível continuar e atingir os 15 dias
porque o que se estava a desenhar era demasiado parecido com o que se
passou em Abu Grahib e noutros contextos prisionais, em que humanos
torturam humanos, no entanto muitas vezes tendemos a desvalorizar isto e
pensar que são pessoas diferentes, que são terroristas, são pessoas que têm
uma vida de crime, são pessoas que são más, que já praticaram coisas
horríveis e portanto, isto aos olhos de muita gente minimiza o sofrimento pelo
qual alguns poderão estar a passar. Aqui, nesta experiência, em menos de
uma semana, as pessoas tiveram que enfrentar humilhações relativamente
fortes, tão fortes que lhes toldou esta visão real de que eram pessoas numa
experiência. Não eram prisioneiros. Repetidamente houve situações em que os
próprios prisioneiros repetiam “nós não podemos sair daqui, isto é impossível
sair daqui”.
Quando entrou o rapaz que substitui o que foi para casa, a primeira
coisa que lhe disseram foi “tu não podes sair. Isto é uma prisão a sério”. E o
que é que torna uma prisão a sério? Não é o sítio, porque o espaço era uma
universidade. São as pessoas e a dinâmica que se passa entre elas. E neste
caso as pessoas nem eram criminosos, nem pessoas habituadas a este estilo
de funcionamento.
A experiência quer para os guardas, quer para os prisioneiros, foi
chocante. Deixou-lhes marcas, embora saibamos que era apenas uma
experiência. Com alguma estratégia teremos que lidar sempre com situações
que muitas vezes nos colocam em situações que serão sempre superiores a
nós mesmos e para as quais não temos preparação, tal como os guardas e os
prisioneiros que se voluntariaram para esta experiência.
80

A experiência da prisão de Stanford, de Zimbardo diz o seguinte: não são


pessoas erráticas que têm comportamentos erráticos, seres humanos comuns
em condições específicas podem ter condutas menos apropriadas.

PSICOLOGIA DO MAL
ZIMBARDO
Exclui as formas de dano que não são voluntariamente
desejadas. Por vezes as pessoas fazem mal a terceiros,
mas sem intenção de o fazerem.
Psicologia do Mal
Comportamento voluntário que pretende causar danos
Zimbardo
significativos a terceiros. Inclui os comportamentos
corporativos que acarretam consequências para
terceiros e mesmo assim são mantidos.

⮚ DEZ PASSOS PARA CRIAR ARMADILHAS DO MAL

1. Disponibilizar uma ideologia que contenha uma grande mentira que


justifique as atitudes e os comportamentos – naturalmente que esta
mentira não é veiculada como sendo mentira, mas como sendo uma grande
verdade.
Exemplo
É como se a pessoa que apregoa “aquela verdade” fosse detentora de um
conhecimento único e nos quisesse transmitir a verdade que eles, os outros, nos
tentam sonegar e tentam que nós estejamos constantemente enganados. E esta
ideologia é a base para tudo.

2. Organizar alguma forma de obrigação contratual para decretar o


comportamento – procura de alguma espécie de vínculo entre a entidade e
o sujeito. Este vínculo pode ser escrito ou verbal, mas alguma forma de
criar compromisso entre o sujeito e a entidade de forma a estabelecer uma
ligação mais forte estre estes e de forma a reforçar o sentimento de
comprometimento que o sujeito pode ter.
3. Permitir que os sujeitos desempenhem papéis significativos – alguém
que tenha um papel que compreenda que a interacção que vai ter com o
outro é no sentido de o ajudar. Normalmente o outro está enganado, ou
precisa ser salvo, ou precisa ser ajudado e a pessoa ao torturá-lo até à
morte está a fazer com que ele seja salvo. Ao fazer com que a pessoa
mude a ideologia ou seja castigado por ter uma qualquer orientação sexual,
ou qualquer ideologia religiosa, por estar a torturar alguém, o indivíduo
acredita que essa pessoa precise de ser ensinada, corrigida e ele tem o
dever de o fazer.
4. Apresentar regras (vagas e arbitrárias) para serem seguidas – as regras
não são claras mas podem ir mudando. Houve uma regra, mas ela mudou e
aqui, quando se puxa pelo mal do outro, as regras vão mudando as vezes
81

que forem necessárias de forma a justificar o comportamento e a


necessidade do mesmo.
5. Mudar a significação semântica dos actos, de modo a ir ao encontro
da mensagem veiculada – ajudar, mudar, salvar. Dar papéis significativos
às pessoas e mudar a forma como se diz aquilo que elas estão a fazer.
6. Dar oportunidades para que a mensagem seja difundida – não há uma
figura responsável, todos têm uma parte na responsabilidade do processo e
todos põem a responsabilidade na outra pessoa. A responsabilidade é
distribuída para fazer que haja uma menor responsabilização individual e
fazer com que o sujeito cometa mais actos, pois sente menor
responsabilidade.
7. Começar cada acção gradualmente, com pequenos passos
Exemplo
Na experiência de Milgram, não se começaram a dar choques de 450 volts.
Começaram a dar choques de 15 volts e pouco a pouco foram aumentando.
8. Fazer com que a intensidade da acção aumente gradualmente, de
modo que o agressor não tome tanta consciência – gradualmente não
nos apercebemos dos bocadinhos que vamos fazendo e quando nos
apercebemos a acção é muito intensa.
9. Manter a influência da autoridade, apesar de esta ir passando de justa
para injusta – a autoridade está presente, a autoridade é quem manda, a
autoridade é quem sabe e não abdicar desse ponto.
10. Tornar os custos da saída elevados e reforçar o valor do sujeito –
reforçar o valor do sujeito no sentido de lhe transmitir o quão indispensável
é a participação dele, o quão rico é o seu contributo, o valor que tem para a
missão que se está a fazer. Tornar os custos de saída elevados prende-se
com tudo aquilo que a pessoa vai perder ao sair, todas as dificuldades com
as quais ela se vai deparar, todo o suporte que ela vai perder e o risco de
vir a tornar-se um dos outros.
82

Esquema Mental
Conformidade e Obediência

Conformidade

Informacional Normativa

Teoria do Impacto
Social - Latané

Proximidade Força Número

Fenómeno comum
nas relações entre
grupos e sujeitos que
Obediência permite garantir o
funcionamento eficaz
das estruturas sociais

Experiência de
Milgram

Conformidade Conformidade
Informacional Normativa

Prisão de
Standford
83

CONFLITO E AGRESSÃO
Incompatibilidade percebida entre os objectivos de duas ou
Conflito
mais partes.
Comportamento cuja finalidade é prejudicar alguém.
Exemplo
● O grupo Y, saber que o grupo Z, já tinha marcada a
apresentação de um trabalho para o dia 3 e fazer
propositadamente que aquele grupo ficasse no dia em que já
Agressão
tinha outra apresentação para ter mais dificuldade, visto que
já tinha duas apresentações para fazer no mesmo dia.
● A prisão de Stanford é claramente um exemplo de agressão,
uma vez que tinham a intenção de causar danos aos outros.
Agressão implícita e explícita

Tipos de Conflito
O ganho de uma das partes implica a perda total da outra.
Exemplo
Conflito Real
Num desporto. No final da taça, em que o único resultado
possível é a vitória.
Não resulta numa perda total para nenhuma das partes,
podendo haver uma solução de compromisso ou de
cooperação.
Conflito Artificial Exemplo
No tribunal, a disputa de dois pais pela guarda patilhada do
filho, em vez de uma parte ficar com a guarda total, tentarem
arranjar uma solução que possa permitir que o outro também
tenha contacto com a criança.
O líder cria um conflito com outro grupo para promover
uma maior coesão do seu grupo.
Exemplo
Donald Trump. A forma como criou um conflito com os
mexicanos e como os mexicanos eram os maus ele tinha de
travar a emigração. Isto foi um conflito induzido. Não havia
Conflito Induzido
conflitos entre os EUA e o México, embora haja problemas
com a emigração, houve sempre muitos mexicanos a
emigrarem para os EUA e o Donald Trump ao criar este
conflito induzido entre “nós e os outros” promoveu a coesão
do seu grupo.
O conflito induzido é algo que aproxima muito o grupo.
Conflito Violento O conflito violento recorre à força, o conflito não – violento
vs não-violento tem por base a retórica.
Exemplo
Conflito violento – duas pessoas que batem com o carro e
começam a agredir-se.
Conflito não violento – duas pessoas que batem com os
carros e dialogam para perceber quem foi o culpado, o
responsável, como vão resolver a situação, mesmo que
84

tenham divergência de opiniões.


Conflito Cara a
É mais usual em grupos de menor dimensão.
Cara
É mais frequente em grupos de maior dimensão. Há a
Conflito Mediado
intervenção de um agente externo para mediar o conflito.

Fases do Conflito
Deve-se compreender se é um real desacordo ou se se trata
de má compreensão ou mal-entendido;
Desacordo
Deve-se perceber se o conflito pode ser resolvido mudando
alguns aspectos situacionais.
Ideais ou comportamentos incompatíveis com os de outros
membros, surge a resistência e o confronto, com as pessoas
Confronto
a comunicarem as suas opiniões de uma forma racional e
emocional.
Aumenta a tensão, os subgrupos ganham força e surgem
mais divergências. Existem mal-entendidos e a confiança
Escalada diminui, as pessoas afastam-se, diminuem as respostas
cooperantes e surgem respostas cada vez mais competitivas
que aumentam a frustração.
A comunicação torna-se mais cooperativa e racional.
Começa a negociação ou a procura de uma solução
equilibrada para ambas as partes.
Atenuação
A confiança volta a surgir, lentamente, mas este pode ser um
aspecto problemático em grupos onde o conflito escalou e
houve confronto e desacordo.
O conflito encontra-se completamente resolvido quando os
Resolução problemas que estiveram presentes na sua origem,
desapareceram.
É o resíduo que sobra das fases anteriores que pode ter
efeitos a curto e a longo prazo.
Rescaldo
O conflito fará parte da história do grupo e dos seus
intervenientes.

⮚ ESTILOS DO CONFLITO

Evitamento As pessoas tendem a ignorar o


conflito e a agir como se este não
existisse.
Este estilo não permite obter os
resultados desejados, no entanto
pode evitar a existência de um
conflito se se considerar que os
motivos que estão na sua origem
podem ter consequências gravosas.
Exemplo
O adiamento de um divórcio. Há um conflito, mas uma das
ignora e tenta que as coisas continuem esperando que a
85

coisa possa ocorrer de modo a ultrapassar o problema.


A pessoa tenta cooperar com o outro,
adotando este estilo quando considera
que os objectivos dos outros são
superiores aos seus.
Acomodação Pode ser benéfico para a harmonia e
manutenção da relação, mas se o
estilo for mantido frequentemente não
desenvolve outras formas de gerir
conflitos e perde poder.
Ocorre quando o sujeito quer
dominar a situação. Caracterizado
por comportamentos agressivos e
sem cooperação, onde a pessoa
procura envolver os outros no
confronto direto para ganhar com uma
perda resultante para o outro lado.
Competição Frequentemente quando há uma
relação de interdependência entre as
duas partes e para uma ganhar a
outra tem de perder, pois os
objectivos individuais são
incompatíveis.
Exemplo
Todo o desporto é um conflito. Saudável, mas não deixa
conflito.
Resulta de concessões de ambas as partes, tentado dividir
a diferença entre ambas. A dificuldade deste estilo reside no
Compromisso facto de, por vezes uma das partes aceitar a primeira opção
sem procurar aquela que pode ser mais benéfica para si, ou a
solução encontrada ser prejudicial para ambas as partes.
Neste tipo de situação as partes
procuram compreender os motivos de
ambas e encontrar a solução para
ambos. Exige tempo e um elevado
investimento na situação.
Colaboração
É o melhor estilo de resolução de
conflitos, porém não é aplicável em
todas a situações uma vez que não há
tempo nem recursos para gerir assim
todos os conflitos.

NOTA:
As pessoas têm sempre dois motivos, um bom motivo e o motivo
verdadeiro. Se se ficar só pelo bom motivo, perde-se o que está realmente na
sua essência e só se consegue chegar ao motivo verdadeiro através da
relação.

Acomodação A preocupação é exclusiva com os objectivos dos outros.


Competição A preocupação é exclusiva com os próprios objectivos.
86

Há uma preocupação de ambas as partes com os objectivos,


Colaboração
de uma forma mais ampla.

⮚ AGRESSÃO E AGRESSIVIDADE

Ocorre quando as pessoas percebem os seus objectivos


como sendo incompatíveis com os objectivos dos outros,
Agressividade
podendo tentar prejudicar-se. É esta intenção que define
determinado comportamento como sendo agressivo.
Forma possível de comportamento adoptado, com o
objectivo de adquirir recursos materiais e de nos
relacionarmos com os outros afim de obtermos o seu
respeito (motivações fundamentais da Psicologia Social).
Quando se escolhe a estratégia agressiva (e a sua forma de
expressão) em detrimento de outra estratégia é feito com
base em:
1. Avaliação individual sobre a possibilidade de sucesso e
eficácia da agressão (pensamento individual).
Agressão Exemplo
A cobiça e inveja que se tenha de alguém, que tenha mais do
que nós e que nós ambicionamos ter tanto e melhor que essa
pessoa, o que nos leva a falar com essa pessoa “sobre o
ombro”, levando a que a outra pessoa se sinta destratada por
mim (resultado). A taxa de eficácia e sucesso reside na forma
em que se deixa a outra pessoa a sentir-se mal e conseguimos
igualar os sentidos negativos.

2. Normas relevantes (influência social).

⮚ AGRESSÃO INSTRUMENTAL E EMOCIONAL


“Três amigos foram abordados por um assaltante, que queria o blusão de um deles. Pela
sua superioridade numérica, os amigos resolveram ignorá-lo e afastaram-se. O assaltante
disparou sobre os três (matando um dos amigos)”.
Agressão Agressão com uma determinada finalidade (ameaçou os
Instrumental amigos para obter o blusão).
Oportunidades óbvias para ganho (possíveis vítimas
debilitadas ou mais fracas), passam a mensagem de que “a
agressão compensa”.
Exemplo
As pessoas com um ar deprimido, que estão a olhar para o chão,
distraídas com telemóvel, são as que os assaltantes vão prestar
mais atenção para escolherem como vítimas.
“para que é que vou escolher uma vitima que me dá muito
trabalho, se posso ter uma vitima que não me vai dar trabalho
nenhum e o lucro é muito maior?” “para que é que vou fazer um
roubo, se posso fazer um furto?”
FURTO – Não há contacto físico
ROUBO – Há contacto físico
87

A nossa postura vai influenciar a forma como os outros


olham para nós e como os outros têm aqui a mensagem de
que a agressão compensa ou não.
Agressão como um fim em si mesmo (disparar sobre os
amigos, num acesso de raiva).
● Não é motivada por ganhos ou perdas materiais.

● Pode mesmo ocorrer na iminência de castigo imediato.

● Sentimentos de zanga e fúria estão frequentemente na


sua base.
Agressão
● Decorrem de ameaças à autoestima e ao status (ser
Emocional
insultado, desrespeitado e minimizado, ridicularizado), de
casos de rejeição social.
● As ameaças à autoestima tornam-se maiores se a
situação ocorrer em público, tornando também mais
violenta a sua resposta.
● O sentimento de ameaça depende da percepção
individual.

As emoções negativas (incluindo raiva) podem despoletar a agressão,


muitas vezes sem que se tenha em conta as consequências.

Oportunidade Agressão Provocação Agressão


de ganho Instrumental percebida Emocional

Percepção e interpretação individual do outro

Se se vê que há uma oportunidade de ganho, então avança-se para uma


agressão instrumental. Se se vir uma provocação percebida pode-se avançar
para uma agressão emocional.
Exemplo
Crianças recompensadas em jogos agressivos
Agressão aos outros previne agressão contra si próprio

A Testosterona é uma hormona que nos faz ser agressivos. É necessária,


porém faz-nos ser agressivos.

⮚ FACTORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO


INDIVIDUAL
88

● Capacidades individuais

● Diferenças de género

● Não ter nada a perder

⮚ NORMAS E AGRESSÃO
As normas sociais podem promover ou restringir a agressão. Estas
normas são activadas pelo comportamento de modelos que testemunhamos.
As normas que limitam ou restringem a agressão são geralmente aplicadas aos
nossos semelhantes (endogrupo).

⮚ NORMAS PROMOTORAS DE AGRESSÃO


As normas promotoras de agressão diferem entre sociedades.
Exemplo
● Os rapazes menos populares da escola são os mais calmos e ordeiros; os mais
“aguerridos” são mais populares.
● Os crimes passionais são vistos de forma mais favorável (“matou por amor”).

⮚ AGRESSÃO
Ao nível dos modelos de agressão, o comportamento dos outros oferece-nos
pistas sobre a actuação da agressão. A existência de modelos que usam
formas não agressivas para resolver conflitos, pode reduzir a ocorrência de
comportamentos agressivos.
Exemplo
O facto de se assistir a filmes violentos estimula pensamentos e sentimentos
violentos.
O facto de se assistir constantemente a agressão e da agressividade ser o que está à
volta do indivíduo, aumenta a probabilidade de ter pensamentos e sentimentos
agressivos e ajuda-o a preencher “o espaço em branco” com agressividade.

⮚ FACTORES QUE AJUDAM A LIMITAR A AGRESSÃO

O pensamento complexo ajuda a limitar a agressão.


Exemplo
Se o indivíduo se envolver em elaborar sobre uma situação, aparece o tempo e assim
o impulso passa. O tempo conta e o impulso segue a sua curva e o tempo passa,
portanto a probabilidade de o indivíduo ser agressivo, é menor.

Exemplo: O que é elaborar sobre o assunto?


89

Supondo que alguém dá uma resposta torta e a pessoa pode não pensar nisso e dar
uma resposta automática ou a pessoa ficou a pensar que tal pessoa foi agressiva ao
dar a resposta torta, portanto não gostou e da próxima vez vai reagir com tal pessoa
de forma agressiva, ou pode pensar “será que aquela pessoa deu mesmo uma
resposta torta ou fui eu que percebi mal? Esta resposta foi dada a mim ou foi dada à
situação? Será que há factores na vida de tal pessoa que podem justificar a resposta
que ela deu?”
Juntar mais peças à equação vai permitir que o indivíduo consiga desenvolver um
raciocínio mais completo sobre a situação. “tal pessoa agiu daquela forma e eu não
gostei da forma como agiu, se eu agir da mesma forma, também estou a agir de
forma incorrecta, vou estar a agir de uma forma que não gosto.”
Isto é ter um pensamento mais complexo sobre a situação e faz com que diminua a
agressividade do indivíduo para com tal pessoa.

1. Capacidade de pensamento complexo, de predição e de controle


emocional, pode limitar um indivíduo – se a pessoa não estiver
habituada a desenvolver este tipo de raciocínio, vai usá-los com menos
facilidade, se a pessoa não estiver habituada a desenvolver raciocínios
mais complexos, mais abstratos, é natural que tenha a psique pouco
desenvolvida, ou seja, a falta de capacidade de ver mais à frente, de não
conseguir compreender que se tiver aquele comportamento hoje, amanhã
poderá vir a ter determinada consequência. O baixo controlo emocional do
indivíduo, não lhe permite reconhecer e reagir sobre as suas emoções, são
factores que diminuem o pensamento complexo.
2. Ameaça e excitação emocional (interferem com pensamento
complexo).
3. Utilização de álcool (frequentemente encontrado em crimes violentos;
reduz percepção, raciocínio lógico e valorização de riscos).

Esquema Mental
Conflito e Agressão

Tipos de Incompatibilidade percebida


Conflito entre os objetivos de duas
ou mais partes

Real Artificial Induzido Cara a cara Mediado Violento Não-violento

Fases do
Conflito

Desacordo Confronto Escalada Atenuação Resolução Rescaldo


90

ATRACÇÃO INTERPESSOAL E
LIGAÇÃO COM OS OUTROS
É uma ferramenta analítica para o estudo de interacções
entre os grupos, ou seja, é uma técnica de avaliação das
escolhas e percepções sociais.
Foi desenvolvida pelo psicoterapeuta Jacob Levy Moreno nos
seus estudos sobre a relação entre estruturas sociais e bem-
estar psicológico.
Exemplo
Sociometria Uma pessoa pode ter uma boa ligação com outra, a nível de
realizarem uma tarefa, mas a nível social poderão não ter uma
boa ligação social. Pode uma destas pessoas ter uma boa
ligação social com uma outra, ou a segunda ter uma boa ligação
social com a terceira. Possívelmente, as primeiras duas podem
escolher-se mutuamente para fazer um trabalho, mas depois não
se escolhem para irem “jantar juntas” e as duas escolheriam a
terceira pessoa para irem jantar. Isto é um exemplo e
sociometria.
91

⮚ CONCEPTUALIZAÇÃO DA ATRACÇÃO INTERPESSOAL

A atracção do sujeito A pelo sujeito B

Sentimentos e emoções
Avaliação positiva e Acções de A que o
que A vivencia ao
estável de A sobre B aproximam de B
interagir com B

Atitude Estado emocional Comportamento

Componentes cognitiva, afectiva e comportamental – 3 dimensões da


atracção.

Estas 3 componentes existem e têm ponderações diferentes nesta equação. A


atracção tem estas três dimensões que é exactamente a cognitiva, a afectiva e
a comportamental. É a dimensão afectiva que consegue fazer sair do contexto
experimental da psicologia social e ir para o contexto de interacção humana,
onde o indivíduo tem mais dificuldade em perceber atitudes e
comportamentos, porque as emoções estão misturadas e baralham tudo.

1. TEORIAS DE ORGANIZAÇÃO COGNITIVA


2. TEORIAS DO REFORÇO E DA TROCA SOCIAL

1. TEORIAS DE ORGANIZAÇÃO COGNITIVA


Teoria do Equilibrio
O princípio do equilíbrio diz respeito à função
organizadora do ambiente subjectivo do sujeito.
Heider, 1958

Sujeito
92

Outro Entidade
(pessoa, objecto,
acontecimento)
Este conceito é uma tríade entre o Sujeito, o Outro e entre a Entidade
que pode ser uma pessoa, um objecto ou um acontecimento.
Isto impacta da seguinte forma: o ser humano tem relações e a primeira
dimensão destas relações é a unidade. A unidade é o conjunto de cognições
que as pessoas que pertencem àquela relação têm. Duas pessoas que estão
numa relação têm cognições, uma sobre a outra e sobre o facto de estar em
relação. A outra dimensão, são os sentimentos, que podem ser agradáveis ou
desagradáveis, o gostar ou não gostar. Isto são os vértices do triângulo.
Podemos ter Situações de Equilíbrio em que a unidade e o sentimento
têm o mesmo sinal que pode ser positivo ou negativo.
Exemplo
Quando numa relação afectiva há uma ajuda mútua, ambas as pessoas concorrem
para que tal aconteça, para um mesmo objectivo e no caso de haver alguma
discordância, não há discussão, mas existe um amparo.
A gosta de B e B gosta de A. A relação é favorável, ambos têm o sinal +. A unidade e
o sentimento têm o sinal +

Também podemos ter Situações de Desequilíbrio, em que a unidade e o


sentimento têm sinais diferentes.
Exemplo
A gosta de B, mas B não gosta de A. A relação é desequilibrada. Unidade e
sentimentos têm sinais diferentes.

A relação de unidade remete para uma relação positiva de sentimentos.


quando há uma relação negativa de sentimentos, isto vai causar ruptura à
relação de unidade. Deixa de haver convergência nos sentimentos.

Teoria da Comparação As pessoas avaliam os seus desejos e opiniões


Social através da comparação com outros indivíduos.
O sujeito tem necessidade de autoconhecimento
Festinger e autoavaliações

Quando o sujeito não consegue responder à necessidade de


autoavaliação, procura a resposta nos outros, ou seja, na ausência da
comparação objectiva, o sujeito vai sempre estabelecer uma comparação com
o outro e é aqui que muitas vezes consegue estabelecer a sua avaliação e o
seu conhecimento. Isto vai permitir a desejada validação. Aqueles que
valorizam são os seus semelhantes, amigos, família.
É mais provável que o sujeito encontre a validação nos seus
semelhantes, do que naqueles que lhe são muito diferentes. A necessidade de
validação do indivíduo, faz com que vá constantemente procurar pessoas que
lhe sejam semelhantes.
93

2. TEORIA DO REFORÇO E DA TROCA SOCIAL


TEORIA DO REFORÇO – Byrne & Clore
O sujeito tende a gostar de quem o faz sentir bem – reforço positivo
Associação de uma pessoa a aspectos positivos (recompensa) ou negativos
(punição). Naturalmente o indivíduo procura pessoas que o façam sentir bem,
pessoas às quais vai associar emoções positivas.
Exemplo
Cada vez que o sujeito conversa com o João, sai de ao pé dele, sempre a rir. Ele é
bem disposto, está sempre a contar anedotas, está sempre a cantar. A pessoa sai de
ao pé do João sempre com boa disposição.
Sempre que o sujeito conversa com o Zé dos Anzóis, sai de ao pé dele “com uma
nuvem negra” sobre a cabeça, que tem de ir tomar um banho de sal para aquilo sair,
porque é uma energia negativa. É as contas que são caras, o patrão que não paga, o
carro que não pega, tudo é mau, tudo é um constante queixume.
Portanto, evita estar com este tipo de pessoas, porque não lhe fazem bem.

O exemplo atrás é o que esta teoria vem estabelecer. O indivíduo vai procurar
estabelecer e manter relações com aquelas pessoas que o fazem sentir bem
às quais associa momentos positivos e evita manter relações com pessoas que
o façam sentir mal e às quais associa momentos negativos.

TEORIA DA TROCA SOCIAL – Homans


Troca social: rácio de custos e benefícios

Tendência para minimizar os custos e


Princípio da maximização
aumentar os benefícios – importância da
/ minimização
comparação social para esta avaliação.

Um indivíduo olha para uma pessoa e vai perceber o que isto lhe custa e
o que tem a ganhar. Todos fazem isto, mais ou menos conscientemente. Não
se pensa na perspectiva interesseira, temos os processos mais ou menos
deliberados na forma como nos relacionamos com as pessoas. Pode-se pensar
numa pessoa e ver que é uma pessoa afável, disponível para o
estabelecimento de interacções, logo não há um grande custo em estabelecer
uma relação com essa pessoa e a recompensa que se pode ter, pode ser uma
relação de amizade, com uma pessoa que é bem disposta, afável, portanto, vai
ser uma recompensa positiva. Faz-se uma análise dos custos e das
recompensas e decide-se por ter uma relação com essa pessoa. Isto é uma
forma que as pessoas têm de se avaliarem mutuamente e decidirem estar em
relação.
Fazemos também, o princípio da maximização e da minimização.
Tende-se a minimizar os custos e a aumentar os benefícios. O sujeito procura
tender ter relações que lhe sejam menos dispendiosas e que lhe permitam ter
uma maior quantidade de lucros possíveis. O problema é que determinada
pessoa não pensa da mesma maneira, não tem a mesma necessidade e se
quiser investir sempre menos e ganhar sempre mais, a balança fica
desequilibrada. Nos direitos e deveres é importante haver um equilíbrio.
94

Como se faz isto? Novamente com comparação social. Olha-se para os


modelos, olha-se para aquilo que é a noção de uma relação afectiva
equilibrada e é com base nisto, do que podem ser os custos e os benefícios
desta relação e validam-se os custos e os ganhos.
Exemplo
Se se achar que o custo de uma relação com outra pessoa pode ser, que uma delas
tem mais tempo que a outra, então será a primeira pessoa que cozinha todas as
refeições. Mas os benefícios que tem são o afecto, o companheirismo, a partilha, o
amor, todos estes benefícios e isto pesa mais que o custo de cozinhar as refeições.
No modelo de relação, em que estas variáveis afectivas devem estar presentes, a 1ª
pessoa procura isso numa relação e compreende que há custos. A 1ª pessoa tem
uma forma de agir em determinadas situações que pode ser desagradável para a 2ª
pessoa com quem está, se esta forma for algo que a 1ª pessoa compreenda, que não
é agradável, pode mudar um pouco a sua acção. Imaginando que a 1ª pessoa tem o
hábito de refilar com os empregados num restaurante, porque acha que pode, isto
pode ser constrangedor para a 2ª pessoa, logo se a 1ª pessoa olhar para o seu
comportamento e perceber que o seu comportamento não é positivo, talvez o possa
mudar. Mas isto vai ter um custo, mas o custo que isto tem, é inferior àquele que
ganha com a relação com a 2ª pessoa. Se a balança for ao contrário e a 1ª pessoa
tiver de investir muito, se tiver que deixar de ser quem é, se tiver de passar a ser
conforme a 2ª pessoa quer, ou seja, se tiver de mudar tudo para poder ter uma
relação com a 2ª pessoa, então os custos pesam muito mais que os benefícios e
provavelmente a pessoa terá menos probabilidade de estabelecer esta relação.

⮚ O QUE É QUE AUMENTA A ATRACÇÃO?

As pessoas que nos são próximas são mais acessíveis,


interagir com elas implica menor esforço (menor custo e
Proximidade maior recompensa).
É natural procurar pessoas dentro do círculo que rodeia a
pessoa do que círculos distantes.
Efeito de Exposição. Pelo facto se se ser submetido,
constantemente, ao mesmo estímulo, ou exposto ao
mesmo estímulo, a pessoa começa a familiarizar-se com
Familiaridade ele. Vai tornar-se algo comum na sua realidade e vai
aumentar a probabilidade da pessoa estabelecer uma
relação com determinada pessoa, ou pelo menos
aumentar a sua atratividade perante ela.
Características Personalidade.
Pessoais Autorrevelação – há uma tendência para se gostar mais
de quem exprime o que sente, é sensível e responsivo à
autorrevelação do outro.
Quando se partilham os sentimentos com a outra
pessoa, aumenta-se a probabilidade de se tornar mais
atractivo perante ela e é essencial que se seja
responsivo e sensível aos sentimentos da outra pessoa.
Não é falar exclusivamente de si mesmo (isto não torna
atraente, pelo contrário, é maçador e aborrecido) é a
pessoa fazer uma partilha e estar disponível para
acolher o que o outro partilha com consigo.
95

A autorrevelação é algo que ajuda a construir e


principalmente a manter uma relação. É uma dimensão
muito importante.
Estereótipos sociais de variáveis morfológicas:
beleza = traços de personalidade positivos.
Tende-se a achar que as pessoas bonitas têm uma série
de qualidades positivas. São mais simpáticas, são mais
inteligentes, são mais engraçadas, são mais disponíveis.
Tende-se a valorizar mais as pessoas que consideramos
bonitas ou que estão dentro do estereótipo de beleza
física.
Visível em: educadores de infância que tratam melhor as
crianças bonitas, têm mais paciência para elas,
estimulam-nas mais, são mais queridas e mais meigas
para elas; os professores fazem as mesmas coisas às
crianças bonitas e também às figuras parentais
(especialmente as mães); os juízes tendem a conceder
penas mais brandas a pessoas bonitas do que a pessoas
menos bonitas; os técnicos de recrutamento e selecção
tendem a seleccionar mais pessoas bonitas do que
Beleza Física pessoas menos bonitas.
Isto pode levar à autorrealização de profecias que pelo
facto de se estar constantemente a valorizar determinada
pessoa, conduz invariavelmente a que tenha uma maior
autoestima, conduz ao desenvolvimento de mais
competências, por ter menos medo de errar e vai ter
características mais valorizadas, porque testa mais,
porque erra mais e porque as consequências do seu erro
são menores.
Há um estereótipo que facilita a forma como se tratam as
pessoas bonitas e deve-se dar muita atenção a isto.
Processos de emparelhamento heterossexual (escolha
de pessoas de beleza relativamente equiparável) ou
mecanismos compensatórios. Uma pessoa é muito
bonita e outra muito inteligente. A pessoa inteligente é
menos bonita, mas tem uma série de outros atributos,
portanto, acaba por haver uma compensação quando não
há emparelhamento.
Física. Procura-se os que são mais próximos e familiares.
Atitudes. quando uma pessoa tem atitudes semelhantes
a outra, é natural que haja uma maior conexão entre elas.
É importante que haja congruência e compatibilidade de
atitudes, porque permite haver uma validação
Semelhança
consensual e isto permite ter lógica no mundo social que
Interpessoal
o ser humano tanto procura.
A dissemelhança conduz ao afastamento. Pessoas que
não são próximas e que não partilham das mesmas
atitudes, é natural que levem ao afastamento de
determinada pessoa, delas.
96

Autoestima – que a pessoa tem.


Consideração social – que a pessoa acha que tem e
que os outros lhe colocam.
Consistência cognitiva
Exemplo
A pessoa tem a autoestima em 50. Fazem-lhe elogios – 100.
Aqui não há consistência cognitiva. É importante que isto
esteja minimamente alinhado.
ESTUDO / EXPERIÊNCIA
Estudo feito com um grupo de pessoas que fez a experiência
todos juntos, em que se avaliou a sua autoestima e foram
divididos em pessoas com alta autoestima e pessoas com
baixa autoestima.
Receberam uma ponderação favorável ou desfavorável da
parte do avaliador. Isto é o que as pessoas sabem. Depois
disto, a pessoa devia dizer o quão atraído se sentia pelo
avaliador. A lógica é sentir menos atração pelas pessoas que
Apreciação dão uma pontuação desfavorável do que pelas que dão uma
pontuação favorável.
positiva dos
Nas pessoas com baixa autoestima, esta relação foi
outros desequilibrada. A diferença foi grande. O que quer dizer que
a autoestima foi uma variável moderadora muito influente
nesta relação.

Estratégias de sedução – são os comportamentos que


visam o poder sobre o outro através de atribuições sobre
as suas características.
é importante ter presente 3 situações:
● qual o ganho que vou ter;

● qual a probabilidade de ter sucesso;

● quais as normas ou referências morais que aputam a


minha actuação
com base nestas 3 variáveis, as estratégias de sedução
podem variar. Se percepcionar qual o ganho que posso
ter, qual o sucesso que posso ter e quais as normas para
a minha conduta.

Esquema Mental
Atracção Pessoal e Ligação com os Outros

Teorias de Organização
Cognitiva

Teorias do Teorias da
Equilíbrio - Heider Comparação Social -
Festinger
97

COMPORTAMENTO
PRÓ - SOCIAL
Efeito do
● O sujeito tem menor probabilidade de prestar auxílio
Espectador
numa situação de emergência se estiver
acompanhado, do que se estiver sozinho.
Quando o sujeito está em grupo, é menos provável que
Darley & Latané
preste auxílio do que quando está sozinho. Adopta uma
postura passiva, mais do espectador do que do
interveniente.
98

● A probabilidade de ajudar alguém é inversamente


proporcional ao número de pessoas presentes na
situação.
Os investigadores conseguiram perceber que quanto mais pessoas estiverem
presentes, menor a probabilidade de cada uma delas ajudar individualmente.
Quanto menos pessoas estiverem, maior a probabilidade de se ajudar outrém.
Tendência para assumir que alguém irá assumir a
responsabilidade – o sujeito sente-se menos
responsável.
(Hogg & Vaughan, 2011; Aronson, Wilson &. Sommers 2019)
Difusão da Ocorre quando se passa por uma situação e se acha que
Responsabilidad alguém vai assumir a responsabilidade – difusão da
e responsabilidade –. A outra pessoa vai fazer, não
preciso de ser eu.
A pessoa sente-se menos responsável porque não é a
única pessoa a estar naquela situação, não é a única
pessoa a ter acesso à informação e acha que alguém que
está na mesma situação que a sua, vai agir.
Tendência para evitar agir perante a situação, pois os
restantes elementos não o fazem e o sujeito tem receio
de estar a exagerar – medo de cometer um erro social e
vontade de evitar o ridículo.
Exemplo
● Alguém que está com o seu grupo de amigos no Bairro
Alto. Surge um grupo que cria desacatos. Essa pessoa
vê que os amigos se mantêm como se nada se passasse
e essa pessoa tenta não dar importância porque olha
para o lado (à procura de pistas – e as pistas que
aquelas pessoas lhe estão a dar é, “não se passa
nada”). Como essa pessoa quer sempre ser “aceite”,
logo não vai agir de forma díspar da maioria das
Inibição pela pessoas. Se as pessoas estão a reagir com normalidade
Audiência e a ignorar aquela pista, a pessoa vai ao encontro do
que estas pessoas estão a fazer e essa pessoa vai,
também, demonstrar que ignora a pista para não ser
diferente. Para não passar uma imagem diferente dos
outros elementos. Para que o seu comportamento seja
congruente com o deles. Para não cair no “ridículo”. A
pessoa reage conforme a “norma grupal”.
● Está um grupo no Bairro Alto e vê uma miúda deitada no
chão. Parece que está com uns copitos a mais. O grupo
diz que prefere seguir a sua noite, que estão cansados e
que vão para casa, que não é preciso ficar ali ninguém a
tomar conta dela. Alguém do grupo quer ajudar aquela
miúda, mas pensa que no grupo não vão achar bem, vão
olhar de lado para si, vão rejeitá-lo, portanto, vai ignorar.
Vai agir de acordo com a “norma do grupo”.
Influência Social Do modelo dado pelos outros espectadores.
Se numa situação alguém vai ajudar outra pessoa, então
99

o modelo que estão a dar, é o de ajuda e não o modelo


de ignorar como se nada se passasse. Isto é a influência
social.

A roupa que se usa influencia em muito a interacção que os outros


estabelecem com o indivíduo.
Exemplo
● Entrar numa loja, bem vestido.

● Entrar na mesma loja com fato de treino.


Em ambas as formas poderemos verificar a forma como somos tratados.
O exemplo atrás referido é excelente para as pessoas analisarem a razão de
terem esta dissonância cognitiva, parcialidade. Qual a razão que leva a ter
estas atitudes distintas para uma situação semelhante. Isto deve levar as
pessoas a questionarem-se sobre este tipo de atitudes. se não se concordar
com estas atitudes, o indivíduo tem de alterá-la.

● Prestar atenção ao que se está a passar. Às vezes


as pessoas podem nem ver.
● Compreender a situação como uma emergência.
Pensar que determinada situação tem necessidade
de ser resolvida rapidamente, não pode esperar
porque “a, b, c ou d” cheguem, tem de ser resolvida.
A pessoa estando naquela situação pode dar um
contributo para que ela seja resolvida (ou não). Pode
agir nesse sentido. A situação é de emergência e a
emergência caracteriza-se por ser uma situação que
tem de ser imediata, não pode ser adiada. No aqui e
agora.
● Assumir a responsabilidade. Quando se vê uma
Ajudar o outro situação em que há a decisão de agir, assume-se a
responsabilidade por aquela situação. Pode-se saber
que pode demorar tempo, que pode ser necessário
dar a identificação, os contactos, mas assume-se
aquela responsabilidade. A pessoa tem de estar
disposta a fazê-lo. A partir do momento em que se
assume a responsabilidade do caso, a pessoa tem
de estar disponível para assumir essa
responsabilidade
● Decidir o que pode ser feito. Numa ocorrência em
que a pessoa não possa parar, pode para e pedir
auxílio telefónico e neste caso está a assumir a
responsabilidade. É uma forma de prestar auxílio, se
não se sentir em segurança para o fazer de outra
forma. Portanto, pode agir sobre a situação.
100

⮚ ESTARÁ O EFEITO DO ESPECTADOR SEMPRE


PRESENTE?

⮚ COMPORTAMENTO PRÓ – SOCIAL

Comportamento realizado com o objectivo de beneficiar o outro. Não está


ligado ao reforço, resulta de uma visão positiva e optimista do ser humano.
O indivíduo tem uma série de comportamentos pró – sociais e estes
comportamentos, são os comportamentos desempenhados com o intuito de
beneficiar alguém sem receber nada em troca. Este tipo de comportamento não
está ligado ao reforço. A pessoa não faz isto para te benefício, fá-lo porque tem
uma visão positiva e optimista do ser humano. Este tipo de comportamento
pode-se ver em acções de ajuda, em que se beneficia a outra pessoa, onde há
altruísmo, onde por vezes a pessoa pode ter algum custo para si, mas
consegue beneficiar a outra pessoa.

⮚ LIMITES DO EFEITO DO ESPECTADOR

● O facto dos sujeitos se conhecerem.

● Caso sejam desconhecidos, existir a possibilidade de se justificarem.

● Vítima: conhecida do sujeito ou ser uma criança.

⮚ VARIABILIDADE INDIVIDUAL

● Estados de humor. Se a pessoa estiver mais bem disposta, está mais


disponível para ajudar e se envolver. Se a pessoa estiver mais zangada
está menos disponível.
● Local da habitação. Viver numa cidade, no meio urbano diminui a
disponibilidade para ajudar, enquanto se viver num meio rural, a pessoa
torna-se mais disponível para ajudar.
● Competência. A pessoa sentir que pode ser útil de alguma maneira (ou
não). Se a pessoa sentir que pode ser útil de alguma maneira, tem mais
probabilidade de agir.

⮚ ENSINAR A AJUDAR

A ajuda não aparece de forma espontânea, mas porque é trabalhada ao longo


da vida. Dar instruções para a pessoa ajudar, ajuda a pessoa a aprender a
ajudar. Reforçar positivamente. Sempre que se ajuda alguém ou se vê uma
criança a ter um comportamento pró-social, deve ser reforçada e não ser
criticada. Modelagem. Capacidade de a pessoa transmitir o exemplo do que
101

deseja que as outras pessoas façam. Não é dizer “tens de ajudar” e seguir a
sua vida.

GRANDES DESAFIOS DA SOCIEDADE:


DEMOGRAFIA E ECOLOGIA

⮚ KURT LEWIN

Kurt Lewin fala da noção de que o comportamento é a noção da pessoa e do


meio que o envolve. Estas duas variáveis são indecomponíveis, ou seja, não se
pode pensar no comportamento se não se vir a pessoa no contexto que a
envolve. Não é possível olhar-se para uma coisa sem se olhar para outra. Tem
de se pensar, sempre, em todas, em conjunto.
Kurt Lewin, fala também de CAMPO PSICOLÓGICO

B = f(P, E)

KURT LEWIN Comportamento (B)


Função da Pessoa (P) e do Meio (E)

Variáveis indecomponíveis
Processos que influenciam a acção do sujeito num
Campo determinado momento.
Psicológico

Kurt Lewin Pessoa, meio e zona fronteiriça das zonas psicológicas e


não psicológicas.
(Vala e Monteiro, 2017)

Kurt Lewin fala, também, de CAMPO PSICOLÓGICO como sendo processos


que influenciam a acção do sujeito num determinado momento. Neste campo
psicológico há vários elementos, como sejam a pessoa, o meio e a zona
fronteiriça das zonas psicológicas e não psicológicas. As zonas psicológicas
são as construções mentais de cada um e as zonas não psicológicas, a
realidade. O real de cada um, o que está no “borderline” entre ser uma
integração da pessoa ou fazer parte do contexto que a rodeia.

⮚ BARKER
102

Barker fala da noção de o comportamento ser influenciado pela situação


objectiva e pelo contexto envolvente. A situação em que está e o que está à
sua volta.

O sujeito tende a comportar-se de acordo com as regras


Cenário existentes no contexto, o que resulta em padrões
comportamental estáveis de comportamento que ocorrem num
determinado contexto.

A pessoa tem a tendência de se comportar de uma determinada maneira, num


determinado cenário, isto irá resultar em padrões de comportamento
relativamente estáveis.
SINOMORFIA – Indecomponibilidade da pessoa e do meio. Não é possível
dissociar a pessoa do contexto que a rodeia. Estão associados. Agem em
conjunto.

⮚ ESCOLA DE CHICAGO
Vendo a densidade populacional que as cidades têm e a repercussão na forma
como os sujeitos interagem uns com os outros, somos chamados à atenção
para o excesso de estimulação sensorial que os grandes meios urbanos têm
alocados. Pessoas, ruído, mensagens, estímulos visuais, há uma série de
estímulos sensoriais e o sistema humano não está preparado para tantos
estímulos. O que acontece? STRESS.
O sujeito tem maior predisposição para entrar em stress com hiperestimulação.
O ser humano não gosta de estar em stress e tenta arranjar todas as
estratégias que lhe permitam diminuir o stress, ao nível da habituação e da
insensibilização. Quanto maior a densidade populacional, maior a quantidade
de estímulos. Para o ser humano não entrar em stress, habitua-se a eles e aí já
não ouve os “barulhos da cidade”. O ser humano aos poucos torna-se
insensível o que o leva a ficar com maior distanciamento emocional em
relação às situações com as quias se depara.

⮚ MILGRAM
Fala do conceito de SOBRECARGA DO SISTEMA. Diz que para o indivíduo
não entrar em sobrecarga, o que vai fazer é “tipo computador”, filtra os
estímulos mais significativos e ignora os restantes, para não entrar em
sobrecarga. Isto conduz a que a pessoa tenha uma ECONOMIA
INTERACTIVA, ou seja, estabelece menos interacções de forma a focar-se nas
que são significativas e desenvolve APATIA EMOCIONAL E COGNITIVA de
modo a prevenir a sua sobrecarga do sistema.

⮚ FISHER

Teoria Subcultural Organização social em agrupamentos de interacção


103

directa, com comportamentos, hábitos, crenças e


Fisher atitudes.

Fisher afirma que pelo facto de o meio urbano ter tanta diversidade, permite
que haja vários submundos, que permitem à pessoa que consiga integrar-se
com pessoas semelhantes a si, o que não seria possível num meio de menor
densidade populacional. Isto faz com que haja subculturas propulsoras de
dinâmicas subculturais nos meios urbanos, uma vez que não há um
consenso cultural, acaba por haver espaço para todos e existem vários
submundos que se vão tocando, mas não se interpenetram. As coisas
podem coexistir neste grande espaço que é o meio urbano.
Exemplo
O clube A, não influencia o clube B.

BEM – ESTAR E SAÚDE SOCIAL


STRESS
● Resposta fisiológica e comportamental normal a algo que
aconteceu ou está para acontecer que nos faz sentir
ameaçados ou que, de alguma forma, perturba o nosso
equilíbrio.
Quando nos sentimos em perigo real ou imaginado, as
defesas do organismo reagem rapidamente, num processo
automático conhecido como reação de "luta ou fuga” ou de
“congelamento". É a resposta ao stress.
● É a percepção de desequilíbrio entre as exigências,
numa determinada situação, e as competências ou
recursos que a pessoa tem para gerir essa situação.
● O stress é uma resposta física, cognitiva e emocional, a
um estímulo que pode ser físico, cognitivo ou emocional.

NOTA
Este estímulo tem de ser uma percepção de ameaça ao
bem-estar da pessoa, porque o estímulo, “de noite a
pessoa vai dormir, não gera nela uma resposta de stress”,
mas o estímulo “é noite vou dormir e só posso dormir duas
horas e estou muito cansado”, gera na pessoa uma
104

resposta de stress, porque a percepção, da pessoa, de


desequilíbrio entre as exigências e as competências, é
grande.

Inicialmente, o stress pode ser positivo, contudo para além de um certo nível,
este deixa de ser proveitoso e começa a prejudicar gravemente a saúde, a
alterar o humor, a produtividade, os relacionamentos e a qualidade de vida, em
geral. São as diferentes fases do stress.

FASES DO STRESS
Fase positiva do stress. O stress positivo ajuda a manter-se
centrado no objectivo que se pretende alcançar, enérgico e
alerta.
Durante uma apresentação estimula a concentração ou pode
levar a pessoa a estudar para um exame quando já está
cansado e preferia estar a realizar outra actividade, em
Eustress alternativa.
Exemplo
Desequilibra-se um pouco a balança, mas tem um efeito motivador
na pessoa. A pessoa estudou, sente-se preparada para fazer um
teste e “bora lá fazer o teste”. Imaginando que há um trabalho para
fazer e deixar o prazo apertar um bocadinho só para que aquela
pressão extra dê um pouco mais de “pica” para se conseguir
trabalhar.
Em situações de emergência, pode salvar a vida, dando a força extra para se
defender, mobilizando a pessoa a agir. Na verdade, o stress protege, em
muitos casos, preparando o corpo para reagir rapidamente a situações
adversas. Esta resposta automática de “luta ou fuga” ajudou a garantir a
sobrevivência do Homem quando o ambiente exigiu reações físicas rápidas
em resposta às ameaças, como as dos animais predadores. Confrontado com
o perigo, o corpo entra em acção, inundando-o com hormonas (hormonas do
stress) que elevam os batimentos cardíacos, aumentam a pressão sanguínea,
aumentam a energia e preparam para lidar com o problema.
Fase normal do stress. Fase negativa do stress. Stress
Distress negativo. Ocorre em situações graves a ponto de causar
sofrimento e ser prejudicial para a saúde.
Burnout Stress disfuncional. O stress disfuncional pode estar ligado ao
burnout ou não, depende da causa.
O burnout é a conjugação de 3 grandes características:
● a exaustão, física ou mental;

● a desvalorização pessoal;

● o sentimento de cinismo, em relação ao objecto.


Exemplo: entrar em burnout em relação ao trabalho
A pessoa passa a ter uma atitude negativa, de algum cinismo e
distanciamento relativamente ao trabalho, aliado a isto passa a ter
uma apreciação global das suas capacidades como negativas, a
sua autoeficácia, o seu autoconceito, a sua autoestima e além disto
há um estado de fadiga emocional, física e psicológica. O estado de
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fadiga tem de estar sempre presente. Não há burnout sem fadiga


física e psicológica, no entanto, não é porque a pessoa está com
fadiga física e psicológica que está em burnout. As outras duas
dimensões têm de estar presentes.

Mesmo de curta duração, o stress pode ter impacto no organismo. O stress


agudo causado por uma desavença com o cônjuge ou por um evento mais
dramático como um terremoto, um acidente, entre outros casos, pode assumir
um impacto ainda maior. Quando a pessoa é sujeita a períodos mais longos de
stress, o mesmo pode tornar-se crónico ou atingir uma situação limite,
conhecida como burnout.

O stress é causa e consequência. É causa no sentido de ser a percepção e é


consequência no sentido da resposta. É dos poucos fenómenos que está na
origem e está no fim. Ao nível do fim estão as reacções fisiológicas, cognitivas
e emocionais e ao nível da causa ou origem está a percepção de desequilíbrio.
Não que o indivíduo não tenha recursos, pode é não ter todos os recursos que
a tarefa lhe exige.
Exemplo: O TEMPO
Por mais que se queira, o tempo não estica e às vezes é uma barreira temporal que a
pessoa não consegue debelar e este recurso pode ser incompatível. O dia tem 24:00
e a pessoa tem uma carga de trabalho de 18:00 por dia, todos os dias. Há, neste
caso, um baixo recurso da pessoa, que é o tempo. Não significa que a pessoa tenha
alguma falha, existe é uma exigência demasiado grande para o recurso que a pessoa
tem.
Assim, o stress não é característico nem da pessoa, nem da situação, mas é uma
interacção entre estas duas situações.

O stress comporta uma causa e uma resposta.


A ansiedade é uma sensação de mal-estar generalizada,
composta por uma componente física, conjugada com
uma sensação de pensamentos muito negativos e
emoções muito negativas, associadas.
Exemplo: a realização de um teste.
Stress Antes do teste a pessoa tem a boca seca, está apreensiva,
se calhar dormiu menos bem. Isto podem ser consequências
do stress. Isto são sintomas de ansiedade, mas variam em
Ansiedade escala.
Se não estiver circunscrito ao momento da avaliação e
estiver espalhado ao longo da vida da pessoa – imagine-se
que uma semana antes do teste a pessoa já não dorme em
condições, já começou com ruminações acerca do teste, já
estava a comer de mais ou de menos, estava já com
alterações de humor – aqui já estaria no campo da
ansiedade.

A fronteira entre o stress e a ansiedade é quase indefinível, uma vez que só


quem já passou por ambas é que consegue evidenciar fisicamente o que é
uma resposta de stress e o que é uma resposta de ansiedade, porque a
ansiedade é muito dolorosa, a ansiedade é uma sensação de medo, de
ameaça, muito marcada. Enquanto o stress se consegue associar ao evento,
àquilo que causa determinado mal-estar, a ansiedade não. A ansiedade é a
106

pessoa estar a sufocar diariamente com receio, às vezes identificado, outras


vezes não, de alguma coisa.
A ansiedade de traço, manifesta-se mais frequentemente e leva a que a
pessoa avalie todas as situações com os “óculos da ansiedade”, sejam elas
quais forem – aquela pessoa está constantemente com ansiedade – e há a
ansiedade de estado que é relativa a determinada situação actual, à vivência
de um determinado momento, que para algumas pessoas poderá ser um teste,
ou seja para estas pessoas o teste poderá ser um momento ansiogénico. Para
a maior parte das pessoas um teste é um momento stressante. Não é um
momento ansiogénico e varia na intensidade da sintomatologia, na duração, na
carga com que a pessoa vive aquela situação, a quantidade de pensamentos.
Para uma pessoa com ansiedade, tudo é muito mais doloroso, muito mais
intenso, a pessoa está num sofrimento muito grande. O stress por si só, não
faz parte do DSN da pessoa. A ansiedade faz, porque há uma alteração do
normal funcionamento da pessoa ao nível de sofrimento elevado e depois há
toda uma carga de respostas físicas, cognitivas e emocionais muito marcadas
e associadas.

⮚ EVENTOS DE VIDA QUE MAIS CAUSAM STRESS


● Reforma;

● Saída de um filho de casa;

● Mudança de casa;

● Natal;

● Pequenas violações da lei;

● Morte do cônjuge;

● Divórcio;

● Lesão / Doença;

● Casamento;

● Despedimento;
Muito mais há para além destes. Segundo estudos científicos estes são os que
mais aparecem.

⮚ STRESS LABORAL
o FACTORES PSICOSSOCIAIS, podem ser factores de
risco ou não, depende da forma como eles estiverem.
Factores Elementos do contexto laboral que podem ser promotores de
Psicossociais stress ou ter um contributo positivo na manutenção e
promoção da salutogénese, ou seja, podem ir para a saúde
ou para a doença (stress).
Um factor de risco psicossocial pode ser o conteúdo do
107

trabalho.
Exemplo
O conteúdo de trabalho pode ser adequado às capacidades da
pessoa, às suas competências, ao seu conhecimento e pode
ser um factor que contribui para a saúde da pessoa, no
trabalho.
Em contraponto, se a pessoa tiver um mau relacionamento com
a sua equipa, o clima organizacional fôr muito negativo, aqui há
a presença de um risco psicossocial.
Assim, os factores psicossociais podem funcionar como risco,
ou não. Depende da satisfação e da percepção individual da
pessoa.

O stress laboral é despoletado pela perceção de que:


● As exigências do papel profissional são maiores do que as capacidades e
recursos para realizar o trabalho;
● Reduzidas exigências e expectativas sobre o desempenho.

⮚ CAUSAS DE STRESS ORGANIZACIONAL


Estas são as causas de stress organizacional, mais frequentes
● Conteúdos do trabalho – no sentido de não ser ajustado às
capacidades e competências do colaborador. A sub exigência também é
stress.
● Carga e ritmo de trabalho – é algo que muitas vezes não está ajustado
ao colaborador. Uma carga de trabalho excessiva pode gerar muito
stress laboral e também o ritmo de trabalho. Empresas que estão
sempre em alta, com ritmos muito grandes, podem ter maior stress
laboral.
Exemplo de carga
No contexto actual, da pandemia do covid 19, reduziram-se os trabalhadores e os que
ficam têm de fazer o trabalho de 2 ou 3 colegas, uma vez que não se reduz a carga
de trabalho e enquanto estes colaboradores forem mantendo a resposta, a
organização não vê a necessidade de contratar mais pessoas.
Exemplo de ritmo
Call – Centers.
Estão constantemente a receber chamadas e não só. Têm de identificar todos os
momentos de pausa. Tudo isso é contabilizado. E pode-se pensar nos 2 pontos de
vista.
Por um lado temos o trabalhador que demora 10 minutos no WC em vez dos 5 que
tinha contemplado e já vai ser prejudicado.
Por outro lado a organização que tem de saber que aquele colaborador não está
disponível para lhe fazerem cair chamadas.
Em parte nenhuma do mundo as pausas “milimétricas” fazem sentido!!!

● Horário – o não cumprimento do horário de trabalho quer por parte do


colaborador, quer por parte da organização. O volume de trabalho é
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tanto que as pessoas precisam de trabalhar mais horas para


conseguirem dar resposta às necessidades.
No actual contexto da pandemia Covid, com o Teletrabalho, o colaborador ao
estar em casa, ao ter acesso facilitado ao trabalho pode ter mais dificuldade em
desligar do trabalho quando acaba o trabalho.
Quem dita as regras é o empregador que aloca uma quantidade de trabalho
absurda ao colaborador e muitas vezes não respeita os horários. O
empregador não respeita o colaborador, quando sabe que o mesmo sai às
18:00 e às 17:30, dá-lhe uma tarefa para fazer. Aqui não está a respeitar o
horário do colaborador, está-lhe a exigir horas extraordinárias, ou mesmo
quando o colaborador entra às 9:00 e lhe marca uma reunião às 8:00.
Exemplo
Enquanto no escritório chegam as 18:00 e o funcionário tem a movimentação de sair,
vai para o trânsito, vai para os seus afazeres, em casa, pode-se dar continuidade ao
trabalho.
Quem está a estudar à noite, pode acontecer, muitas vezes, que o aluno se desligue
do trabalho e se conecte de imediato à aula, transmitida online. Isto vai transmitir
muito cansaço. O aluno não consegue o tempo que vai permitir desligar-se de uma
dimensão e conectar-se com outra, ou seja, não há uma preparação mental que
necessita.

● Cultura organizacional – relaciona-se com o horário normal de trabalho


de uma empresa e quando existe um dos colaboradores que sai mais
cedo, todos o olham de lado.
Exemplo
Num escritório de advogados o normal é terminar o trabalho às 21:00 porém, há um
funcionário que sai às 19:30. Os outros colaboradores olham-no de lado e perguntam-
lhe “então? Hoje tens a tarde livre?...”
A hora normal é saírem às 21:00 e aquele colaborador saiu às 19:30.
Se se observar as consultoras, é de loucos. Os colaboradores acabam o trabalho à
1:00 da madrugada e volta-se a conectar às 9:00. Tem apenas aquelas 8 horas para
dormir e está sempre a trabalhar naquelas horas. E isto muitas vezes de 2ª feira a
Domingo. Sabe-se que quando trabalham nas áreas de auditoria, que têm aqueles
meses mais complicados. Maio e Junho são meses muito fortes para estas áreas,
mas fora dos picos de trabalho também trabalham com intensidade. E estes horários
de trabalho serem normais de trabalhar até às 9 ou 10 da noite, todos os dias, não é
normativo. Para a pessoa trabalhar até estas horas, deve ter entrado muito mais tarde
ao trabalho. Não é expectável que tenha entrado às 9:00 e fique até às 21:00.
Em Portugal, trabalhamos uma média de 41 horas por semana. É muito mais do que
nos outros países da União Europeia. E demora-se uma média de 8,11 horas por
semana em deslocações, o que perfaz cerca de 50 horas/semana a trabalhar ou a ir
para o trabalho. É muito.

O presentismo é uma das causas muito grandes de problemas no trabalho. Se


um colega não produz, os outros devem produzir ou pode influenciar muito a
cultura organizacional. Isto acontece muito nas organizações portuguesas.
Acaba por tirar voz aos colaboradores por causa destes comportamentos. A
culpa não é só de uma das partes. Como diz a psicologia, vai depender da
situação.
Exemplo
Na cultura alemã, se um colaborador sai depois da hora, vai ter uma reunião para se
saber por que razão aquele trabalhador saiu depois do horário dele. Ou lhe estão a
109

dar trabalho a mais ou ele não tem as estratégias necessárias ou ele não tem as
competências, mas alguma coisa tem de ser feita porque o trabalho que ele tem, é
suposto que dê para o horário de trabalho dele. Se não está a dar, é porque alguma
coisa está mal feita.
Na cultura portuguesa, que não é benéfica, é ajustado sair depois da hora, fica bem.
Isto só demonstra ineficácia. Ou então o trabalho não está a ser bem distribuído, ou
seja, se a pessoa tem capacidade de produzir 200, o empregador está a dar-lhe 400.
E isto é uma má distribuição de trabalho.

O facto de se ter estes horários tão “fervorosos” conduz a uma relação


trabalho-família disfuncional. O conflito de trabalho – família é das maiores
causas de stress organizacional. É uma percepção de ineficácia e ineficiência
de não estar a responder às necessidades de um domínio. Sentir que um dos
domínios tem preferência no outro. Isto gera mal-estar na pessoa.
Em França, o estado teve de intervir. As leis laborais neste país, são muito
rígidas no sentido de protegerem os trabalhadores. Para que isto ocorra
actualmente, teve na sua origem uma série de suicídios e burnouts. A saúde
ocupacional acabou por estar no topo das prioridades em vez de estar na
cauda.
Na Nova Zelândia, os colaboradores têm direito a 5 dias de “sic day”. A
pessoa está doente, avisa a entidade empregadora de que não se sente bem,
que está doente. Ele tem direito. Se necessitarem usufruem dos dias, se não
necessitarem não usufruem.

A OPP, está orientada para as questões da saúde ocupacional e fez um


relatório (pré-covid) que refere os principais factores com impacto negativo no
stress organizacional. Estão relacionados com as tarefas laborais, com a
organização do trabalho e com a estrutura da organização. Relacionados
com as tarefas laborais, temos a ausência de autonomia, de significado do
trabalho e oportunidade para aplicar as suas competências, assim como a
repetição das tarefas – o facto de a pessoa fazer determinada tarefa muitas
vezes, de a pessoa não ter autonomia (a ausência de autonomia é das piores
coisas que pode ser dada a alguém. Eu é que mando. Eu é que supervisiono.
Eu é que…eu é que….eu é que…).

● Relações interpessoais;

● Papel organizacional;

● Desenvolvimento de carreira;

● Relação trabalho-família;

● Características individuais.

Mobing Assim como o Bulling está para os mais novos, o Mobing está
para os mais crescidos, os adultos. É o chamado “Bulling do Fato
e gravata”.
Enquanto crianças fazemos ou passamos por Bulling, quando
passamos para o contexto laboral, fazemos Mobing, que se
traduz pelo assédio moral ao colaborador, ao colega, toda esta
110

forma de constante assédio a determinado elemento.


Exemplo
Quando há uma situação de conflito entre a entidade empregadora e
o colaborador e a entidade quer que o colaborador se despeça (para
não lhe pagar indemnização) e o colaborador não se quer despedir.
Quer que seja a entidade a despedi-lo. Então, a entidade
empregadora coloca o colaborador num qualquer sítio, sem acesso a
nenhuma tarefa, para ele se despedir.
A pessoa não está a ter responsabilidade nenhuma, não tem tarefa
nenhuma para fazer e tem que passar, assim, dia após dia, após dia.

⮚ FACTORES PSICOSSOCIAS COM MAIOR IMPACTO


NEGATIVO:
Relacionados com as tarefas laborais:
● A ausência de autonomia, de significado no trabalho e oportunidade para
aplicar as suas competências;
● Repetição das tarefas.
Relacionados com a organização do trabalho:
● Extensos horários de trabalho;

● inexistência de pausas;

● exigências contraditórias.
Relacionados com a estrutura da organização:
● Falta de clareza na definição das funções e papel do colaborador;

● Má comunicação interna;

● Existência de conflitos;

● Falta de oportunidades de promoção e desenvolvimento profissional;

● Inexistência de recompensas.

⮚ RESPOSTA AO STRESS
Vai sempre depender de factores físicos e psicológicos e varia entre indivíduos.
Depende da percepção do stress:
1. Avaliação de consequências do fator de stress;
2. Avaliação dos recursos do indivíduo e da sua própria capacidade de lidar
com o stress.
Há várias consequências e nem todos os stresses são os mesmos.

⮚ COPING
São as estratégias para lidar com… é uma palavra que não tem tradução
para Português. Há estratégias mais adaptativas e menos adaptativas
111

O coping é a forma de lidar com o stress. A forma como lidamos com o stress
influencia a forma como controlamos, reduzimos ou aprendemos a tolerar as
ameaças que levam ao stress.
Existem várias estratégias ou estilos de coping (coping focado no problema,
coping focado nas emoções, etc).
O coping é aumentado pelo suporte social (assistência e conforto dos outros).
Exemplo
Problema: TESTE DE PSICOLOGIA SOCIAL
Coping focado no problema e coping focado nas emoções.
Coping focado no problema: quando é o teste? É dia 16? Qual é a matéria? Como
é que vou organizar o meu estudo? Com quem vou falar para me ajudar? Como é que
vou resolver a situação de estudar para o teste?
Coping focado nas emoções: bem…não percebo nada daquilo, aquilo é imenso, eu
vou jantar fora para descomprimir, estou muito stressado, não sei lidar bem com
aquilo, portanto vou relaxar e depois volto.

E isto diz há forma de resolver a situação que a pessoa não é um agente


passivo na relação entre as exigências, as competências. A pessoa pode ser
um agente activo na forma como a pessoa se mexe nesta situação.

QUAIS OS RECURSOS DA PESSOA E COMO OS POTENCIA


O envolvimento em qualquer tipo de tarefa, envolve recursos. Numa obrigação
familiar a pessoa despende recursos. Tendencialmente o ser humano “estica a
corda”, ou seja, gasta recursos e subestima a importância de repor os recursos
despendidos.
Como é que a pessoa alimenta os seus recursos? Com coisas que lhe dão
prazer e satisfação. Não só nas coisas, mas na frequência com que as realiza.
O que o ser humano tem de questionar é durante quanto tempo vai “esticar a
corda”.
Há que ter a capacidade de a pessoa se conectar com:
O AQUI E O AGORA

2020 – 2021

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