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1.

Visão

Sumário
1. Espectro electromagnético
2. Óptica da visão
3. Estrutura do globo ocular e anexos
4. Retina
5. Vias ópticas
6. Movimentos oculares
7. Processamento central
8. Lesões cerebrais e perturbações visuais

A visão é a modalidade sensorial mais desenvolvida no ser humano e


consequentemente a mais necessária. O olho pode ser comparado a um
aparelho de fotografia composto por uma parte óptica que foca a imagem
numa superfície sensível. No caso do olho, a parte óptica é formada pela
córnea, pupila e cristalino, e a superfície sensível é constituída pela retina.
As imagens são enviadas para o cérebro através dos nervos ópticos e vão
formar-se nos lobos occipitais.

1. Espectro electromagnético
Do vasto espectro electromagnético (Fig.1) que inclui as ondas de rádio, de
televisão, de radar, as microondas, os raios X e os raios gama, o olho
humano é sensível apenas a uma pequena parte a que chamamos luz visível.
Esta luz visível vai desde o vermelho até ao violeta passando pelo amarelo,
verde e azul.

1 – Visão 1
2. Óptica da visão
A luz propaga-se em linha recta e a grande velocidade. De cada ponto de um
objecto partem raios luminosos em todas as direcções. Para se formar uma
imagem nítida é necessário que os vários raios luminosos que partem de
cada ponto do objecto dêem origem a um só ponto na imagem. Esta função
pode ser cumprida por um sistema óptico ou por um pequeno orifício como
no caso da câmara escura (Fig. 2).

Fig. 2 – De cada ponto de um objecto partem vários raios luminosos. Através de


uma lente ou de um pequeno orifício consegue-se que apenas um raio de cada ponto
do objecto contribua para a formação da imagem.

1 – Visão 2
A incapacidade do sistema óptico para focar a imagem na retina leva a que a
visão não seja nítida. No caso de o olho ser maior, como nos míopes, a
imagem fica desfocada porque se forma antes da retina (Fig. 3). O defeito
corrige-se com lentes divergentes que levam a imagem a formar-se na retina.
Se pelo contrário o olho for mais pequeno a imagem surge desfocada porque
se forma depois da retina. É isto que sucede nos hipermétropes e corrige-se
com lentes convergentes. Nas pessoas com presbiopia o cristalino deixa de
conseguir focar as imagens na retina por perda da sua flexibilidade. As
pessoas com presbiopia e hipermetropia tendem a afastar os objectos dos
olhos. No caso dos míopes há a tendência contrária de aproximar os objectos
dos olhos. Em termos práticos quanto mais afastado está o objecto do olho
mais próximo do cristalino se forma a imagem.

Fig. 3 – (1) Olho normal. (2) Olho com miopia a imagem forma-se antes da retina.
(3) Correcção de miopia com lente divergente. (4) Olho com hipermetropia, a
imagem forma-se depois da retina. (5) Correcção de hipermetropia com lente
convergente.

Quanto mais próximo está o objecto do olho mais longe do cristalino se


forma a imagem. No astigmatismo existe uma variação da refracção nos
diferentes ângulos surgindo uma imagem distorcida. As cataratas consistem
numa opacidade do cristalino que quando é completa pode levar à cegueira.

1 – Visão 3
3. Estrutura do globo ocular e anexos
3.1. Estruturas anexas.
O globo ocular situa-se no interior da cavidade orbitaria. As pálpebras, as
pestanas e as sobrancelhas participam na protecção mecânica do globo
ocular. As pálpebras impedem a entrada de corpos estranhos, protegem da
luz e, através do pestanejar e das lágrimas, humedecem o globo ocular e a
córnea. As lágrimas são produzidas na glândula lacrimal que tem a forma
de uma amêndoa e está localizada na porção anterior e externa da órbita
(Fig. 4). A glândula lacrimal abre-se através de vários canais na pálpebra
superior. A drenagem das lágrimas faz-se para o canto interno do olho. Aí
existem dois pequenos canais que drenam, as lágrimas, para o saco lacrimal
o qual se abre nas fossas nasais.
Glândula lacrimal Canais lacrimais

Ponto de drenagem
das lágrimas

Canal de drenagem
das lágrimas

Saco lacrimal

Canal nasolacrimal

Cavidade nasal
Corneto inferior

Meato inferior

Seio maxilar

Fig. 4 – As lágrimas são produzidas na glândula lacrimal que se localiza na porção


externa da pálpebra superior. Depois de lubrificarem a conjuntiva são recolhidas
pelos canais lacrimais e encaminhadas para o saco lacrimal.

1 – Visão 4
A conjuntiva é uma membrana mucosa transparente que cobre a porção
interna das pálpebras e a porção anterior do globo ocular. É ricamente
enervada e muito vascular.
Existem seis músculos que se inserem no globo ocular e que permitem os
seus movimentos (Fig. 5). Quatro deles chamam-se rectos e têm o nome do
movimento que desencadeiam. O recto superior permite o olhar para cima,
o recto inferior o olhar para baixo, o recto interno o olhar para dentro e o
recto externo o olhar para fora. Os outros dois músculos são o grande
oblíquo e o pequeno oblíquo.

Fig. 5 – Músculos responsáveis pelos movimentos do globo ocular

3.1. Estrutura do globo ocular.


O globo ocular é uma esfera com cerca de 25 mm de diâmetro. No pólo
anterior da esfera existe um conjunto óptico formado pela córnea e pelo
cristalino que focam a imagem no interior do globo ocular. Entre a córnea e

1 – Visão 5
o cristalino situa-se a íris cujo orifício se chama pupila. Funciona como o
diafragma de uma máquina fotográfica e controla a entrada de luz no olho.
A parede do globo ocular apresenta três camadas. A mais externa é a
esclerótica que é esbranquiçada e na sua porção anterior tem uma zona
transparente que permite a passagem da luz que é a córnea. A túnica média
chama-se úvea porque faz lembrar uma uva sem pele. A úvea inclui a
coroideia que é muito pigmentada e ao mesmo tempo muito vascular, o
corpo ciliar que comanda o grau de contracção do cristalino e a íris que
controla o diâmetro da pupila. A camada mais interna é a retina que
funciona como receptor das imagens.
Entre a córnea e o cristalino existe um líquido chamado humor aquoso. O
humor aquoso é produzido pelo corpo ciliar estando em equilíbrio a
produção e a reabsorção para o canal de Schlemm. O humor vítreo é uma
substância gelatinosa que preenche o espaço entre o cristalino e a retina.

Fig. 12 – Componentes do globo ocular

1 – Visão 6
Do pólo posterior do globo ocular parte o nervo óptico que conduz a
informação visual para o encéfalo.

4. Retina
A retina é a camada mais interna do globo ocular onde se formam as
imagens. É considerada uma parte do encéfalo tendo origem no telencéfalo.
Podem considerar-se três camadas de células na retina. Os fotorreceptores
formam a camada mais profunda da retina e são formados por cones e
bastonetes. São estas células que detectam a presença da luz. Os cones como
o nome indica são células com a forma de um cone (Fig. 7). Em número de
6,5 milhões são responsáveis pela visão diurna e pela visão colorida e
existem em grande quantidade na fóvea. Os bastonetes, mais numerosos,
têm a forma de bastões. São cerca 130 milhões e permitem a visão nocturna
e não distinguem as cores. Não existem bastonetes na fóvea. As células
bipolares fazem a sinapse entre as células fotorreceptoras e as células
ganglionares. Os neurónios das células ganglionares formam o nervo
óptico. As células horizontais e amácrinas estabelecem ligações entre
cones, bastonetes e células bipolares.

Fig. 7 – Células que formam a retina. (1) Bastonete, (2) Cone, (3) Célula horizontal,
(4) Célula bipolar, (5) Célula amácrina, (6) Célula ganglionar. Os neurónios das
células ganglionares formam o nervo óptico.

1 – Visão 7
A percepção das cores tem a ver com os comprimentos de onda dos raios
luminosos. A retina contem cones que são sensíveis ao vermelho, ao verde e
ao azul. Quando o objecto é visto como branco é sinal que reflecte todas as
cores; pelo contrário se surge como preto é sinal que absorve todas as cores
não reflectindo nenhuma. Nas pessoas com daltonismo podem faltar cones
sensíveis ao vermelho o que impede a percepção dessa cor.

5. Vias ópticas
Os nervos ópticos são formados pelos neurónios que abandonam a retina. Os
dois nervos ópticos fundem-se no quiasma que tem a aparência de um X e
se situa por cima da hipófise e por baixo do hipotálamo. A palavra quiasma
vem da letra X que em Grego se lê (qui). No quiasma as fibras dos
quadrantes internos da retina cruzam a linha enquanto as dos quadrantes
externos se mantêm do mesmo lado.

Fig. 8 – Vias ópticas: (1) nervo óptico, (9) quiasma, (2) fita óptica, (3) corpo
geniculado externo, (4 e 5) radiação óptica, (6 e 8) área visual primária, (7) sulco
calcarino. Lesões da via óptica: (A) cegueira de um olho, (B) hemianópsia
bitemporal, (C) hemianópsia homónima, (D) quadrantópsia.

1 – Visão 8
Assim os sinais que impressionam os lados direitos e esquerdos de cada um
dos olhos vão para o hemisfério correspondente. Este cruzamento parcial das
fibras leva a que uma lesão de um hemisfério vá afectar os dois olhos.
Depois do quiasma surgem as fitas ópticas que se dirigem para o núcleo
geniculado externo do tálamo (Fig. 8). Este núcleo pode ser dividido em
seis camadas que recebem informação dos dois olhos devido ao cruzamento
a nível do quiasma. Pensa-se que o núcleo geniculado pode modelar a
informação transmitida da retina para o córtex occipital. Daqui partem as
radiações ópticas que terminam no córtex visual primário que se situa no
lobo occipital ao longo da fissura calcarina. Ao córtex visual chama-se
córtex estriado por apresentar uma estria. Um pequeno grupo de fibras
termina nos tubérculos quadrigémios e na substância envolvente do
aqueduto e estão relacionadas com reflexos pupilares e movimentos oculares
conjugados.
Os reflexos pupilares servem para proteger a retina do excesso de luz.
Quando se aponta uma luz para o olho a íris reduz o diâmetro da pupila
impedindo uma entrada excessiva de luz para evitar a lesão da retina. À
contracção da pupila do lado que recebeu a estimulação luminosa chama-se
reflexo directo, à contracção da outra pupila chama-se reflexo consensual.
As vias ópticas podem ser lesadas a vários níveis com consequências
diferentes. A lesão de um nervo óptico leva à cegueira desse olho. A
compressão do quiasma, que pode ser devida a um tumor da hipófise, causa
uma hemianópsia bitemporal. Esta redução do campo visual caracteriza-se
por perda da visão na porção externa dos campos visuais. As lesões da via
óptica atrás do quiasma dão habitualmente uma hemianópsia homónima
contralateral. No caso de a lesão ser no hemisfério direito há perda de visão
no hemicampos esquerdos dos olhos.

1 – Visão 9
6. Movimentos oculares
A nível da retina existe uma zona em que a capacidade visual é muito mais
precisa e que se chama fóvea. Para manter as imagens nesta zona os olhos
têm necessidade de se movimentar. Há necessidade de que este movimento
dos olhos seja conjugado para que o cérebro veja só uma imagem. Chama-se
diplopia à visão de duas imagens. Existem seis músculos inseridos em cada
globo ocular que permitem os seus movimentos. A nível dos lobos frontais
existe uma área que comanda os movimentos dos olhos. O lobo frontal
esquerdo comanda o movimento para a direita e lobo frontal direito faz o
contrário. O olhar na vertical está na dependência do tronco cerebral e dos
tubérculos quadrigémios superiores. O nistagmo é um movimento repetitivo
tipo oscilante dos olhos. Há um movimento lento numa direcção seguido de
um rápido na direcção contrária.

7. Processamento central
O córtex visual primário situa-se na face interna do lobo occipital acima e
abaixo do sulco calcarino. Esta zona designa-se também por V1, córtex
estriado ou área 17 de Brodmann. À volta desta zona situa-se o chamado
córtex visual associativo que interpreta as imagens. Há uma correspondência
entre a imagem captada na retina e a imagem que se forma no córtex visual.
A região central da retina projecta-se na porção mais posterior do lobo
occipital e a porção periférica da retina na porção mais anterior.

1 – Visão 10
Área primária da visão

Face interna do Face externa do


hemisfério direito hemisfério esquerdo

Fig. 9 – Áreas cerebrais descritas por Brodmann. O número 17 representa a área visual primária e os
números 18 3 19 áreas visuais de associação.

8. Lesões cerebrais e perturbações visuais


Na síndrome de Balint há uma lesão parietal bilateral que se acompanha de
uma dificuldade em dirigir o olhar para alvos diferentes. Existe também
dificuldade em localizar um alvo no espaço.
A cegueira cortical, também conhecida por síndrome de Anton, surge nos
indivíduos que sofrem lesões occipitais bilaterais. Estes doentes perdem a
visão mas não têm noção da sua falta; é como se nunca tivessem visto.
Na prosopagnósia o doente, embora tenha uma visão aparentemente normal
não consegue reconhecer rostos. Esta função localiza-se na regiões temporo-
occipitais e em especial na região temporal interna direita.

1 – Visão 11

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