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Psicologia

Social
1. Conceitos Gerais 4

2. A Sociedade e as Instituições 9
A Família 10
O Estado 12
A Escola 14
Religião 15

3. A Identidade como Instituição Social 18

4. Tribos Urbanas 22

5. Referências Bibliográficas 28

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03
PSICOLOGIA SOCIAL

1. Conceitos Gerais

Fonte: Pixabay1

A o se estudar a psicologia social,


é necessário que se tenha com-
preensão do seu conceito básico.
a Sociologia, agregando valores
dessas duas áreas científicas.
Assim sendo, este ramo consi-
dera o indivíduo como influen-
Neste sentido, CARVALHO e COS- ciado pelo meio que o forma e
também o sujeito como elemen-
TA JÚNIOR contribuem afirmando to que altera o ambiente em que
que: vive. (2017, p.2)

A Psicologia Social, pode ser Nota-se uma gradual ascensão


entendida como o estudo das do estudo, partindo do indivíduo e
relações humanas, a partir de abrangendo posteriormente o estu-
um viés individual até uma
perspectiva mais ampla, ou so- do de toda a sociedade, destacando-
cial, sendo que, este ramo en- se o foco no ser individual, objeto
foca mais o indivíduo. Como es- primeiro e mais relevante do pensar
creve Sousa (2011), trata-se de
uma ponte entre a Psicologia e psicológico e sociológico.

1 Retirado em https://pixabay.com/pt/

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PSICOLOGIA SOCIAL

Souza (2011), também define assuntos semelhantes e relaciona-


que este campo de estudos faz um dos com os quais frequentemente é
link entre outros dois, a saber, a psi- confundida, sendo eles:
cologia e a sociologia, tornando-os  A sabedoria popular;
conhecimentos complementares e  A psicologia da personalidade
essenciais ao entendimento do ser e;
humano. Neste sentido, pode-se es-  A sociologia.
truturar que, o sujeito não é simples-
Neste material pretende-se
mente fruto do meio, um agente
abordar resumidamente os três as-
inerte recebendo influências da soci-
suntos. Sobre a sabedoria popular
edade, sendo também, um agente
CHERRY nos informa que:
que gera mudanças onde quer que
esteja.
“[...] se baseia em observações
Citando GORDON ALLPORT, anedóticas e interpretação sub-
o mesmo autor declara que: jetiva, [enquanto] a psicologia
social emprega métodos cientí-
ficos e o estudo empírico dos fe-
“À psicologia social é a disci- nômenos sociais. Os pesquisa-
plina que usa métodos científi- dores não fazem apenas suposi-
cos para entender e explicar co- ções ou suposições sobre como
mo o pensamento, os sentimen- as pessoas se comportam; eles
tos e os comportamentos dos planejam e realizam experi-
indivíduos são influenciados mentos que ajudam a apontar
pela presença real, imaginada relações entre diferentes variá-
ou implicada de outros seres veis.” (2019)
humanos” (2011).

Sua visão é esclarecedora,


Assim, pode-se notar que, por
principalmente no que diz respeito à
se tratar de um saber científico, são
definição do limiar, que divide os ti-
requeridos métodos específicos para
pos de conhecimento, sendo um
compreensão e explanação de como
comprovado e por isso científico, e
o pensamento e os sentimentos
outro baseado em induções e dedu-
(subjetivo) e o comportamento (ob-
ções de casos gerais, que serão apli-
jetivo) são afetados por influência da
cados à toda sociedade, causando
convivência, ou até mesmo da supo-
uma generalização que não condiz
sição de que há interação com outros
com os fatos.
indivíduos.
Já ao abordar a divergência
CHERRY (2019), nos orienta
entre psicologia da personalidade e
com relação à importância de dife-
psicologia social, CHERRY escreve o
renciar a psicologia social de alguns
seguinte:

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PSICOLOGIA SOCIAL

“Enquanto a psicologia da per- picos semelhantes, estão anali-


sonalidade se concentra em tra- sando essas questões sob dife-
ços, características e pensa- rentes perspectivas.” (2019)
mentos individuais, a psicolo-
gia social se concentra em situ-
Neste caso, o fator que dife-
ações. Os psicólogos sociais es-
tão interessados no impacto rencia as ciências é a abrangência do
que o ambiente social e as inte- objeto de estudo, sendo a sociologia
rações em grupo têm sobre ati-
tudes e comportamentos.”
mais geral e ampla e a psicologia so-
(2019) cial mais restrita a indivíduos que a
instituições.
Observa-se que, ao comparar Tendo em mente, que a psico-
duas ciências objetivas em que os logia social trata de identidades e
métodos empíricos foram aplicados, como são afetadas pelo meio, cabe
a autora as diferencia, não pelo tipo dar uma definição de identidade, e
de conhecimento, mas pelo campo para isto, será utilizada a visão de
de estudos, deixando delimitado à EWALD e SOARES citando Clain e o
psicologia da personalidade o estu- Grand Dictionnaire Universalle du
do de ações e pensamentos individu- XIXe Siècle:
ais, enquanto, por outro lado, o cam-
po da psicologia social também de- “O termo identidade vem desig-
monstra interesse no convívio com nando, primeiramente, o cará-
ter do que é idêntico. Pode-se
outros e seu impacto no indivíduo.
pensar a identidade a partir,
Por fim, ao realizar a distinção por exemplo, da matemática ou
entre psicologia social e sociologia a da natureza, onde a ideia de
uma essência é compartilhada,
autora citada afirma: como já era visível nas defini-
ções do século XIX (Grand Dic-
“Finalmente, é importante dis- tionnaire Universelle du XIXe
tinguir entre psicologia social e Siècle, 1873, p. 548). Mas, ao
sociologia. Embora existam usarmos o termo em relação à
muitas semelhanças entre os existência subjetiva, ele ganha
dois, a sociologia tende a consi- em sentido de permanência e
derar o comportamento social e de continuidade e o termo iden-
as influências em um nível mui- tidade cultural acentua a di-
to amplo. Os sociólogos estão mensão intersubjetiva, formal e
interessados nas instituições e concreta, da identidade pessoal
culturas que influenciam o (Clain, 1990, p. 1211).” (2007)
comportamento das pessoas.
Em vez disso, os psicólogos se
concentram em variáveis situa- O autor dá a entender, que em-
cionais que afetam o comporta- bora haja a definição de identidade
mento social. Enquanto a psico- como algo que é igual, quando esse
logia e a sociologia estudam tó-

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PSICOLOGIA SOCIAL

significado é direcionado à existên- Há, portanto, uma intrínseca


cia subjetiva o sentido cambia para relação entre identidade na moder-
permanência e continuidade. No de- nidade e subjetividade.
senvolvimento o autor também cita
definições da subjetividade, afir-
mando que:

“Para Boaventura de Sousa


Santos (1994), “o primeiro no-
me moderno da identidade é a
subjetividade” (p. 120). A pala-
vra foi formada a partir do ter-
mo subjetivo, designando aqui-
lo que pertence à consciência
individual, como também o
pertencente ao pensamento hu-
mano (Faye, 1990, p. 2477).
Mas subjetividade diz respeito à
constituição, isto é, ao funda-
mento, aquilo que viabiliza es-
sas identidades, mas que fica
subjacente. Retoma-se, neces-
sariamente, o sentido da pala-
vra grega traduzida para o latim
como subiectum, “a noção do
que é fundamental e que per-
manece ‘subjacente’”. Pode-se
dizer, dessa forma, que a subje-
tividade corresponde à existên-
cia de uma essência “subjacen-
te” à experiência, pois designa a
consciência de si (Faye,1990, p.
2477) que, no dizer de Merleau-
Ponty (1962, p. 230), concilia
no homem os dois extremos: a
consciência individual e o pen-
samento geral na síntese da
consciência de si. Assim, subje-
tividade pode ser definida como
o fundamento da identidade,
social e individual, o que nos re-
mete também à questão da alte-
ridade.” (2007)

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PSICOLOGIA SOCIAL

2. A Sociedade e as Instituições

Fonte: Brasil Escola2

E de conhecimento geral, que o


estudo dos indivíduos não está
dissociado do estudo relativo às ins-
de algo, a saber: nossas necessidades
sociais básicas. A este respeito o au-
tor continua:
tituições. A este respeito CATANEO
(2009), afirma que se pode concei- “As instituições têm como fina-
lidade a satisfação das necessi-
tuar instituição social como:
dades dos indivíduos e dos gru-
pos sociais. Estabelecem pa-
“Uma estrutura relativamente drões, papéis e relações entre os
permanente de padrões, papéis indivíduos da mesma cultura
e relações que os indivíduos re- na satisfação destas necessida-
alizam segundo determinadas des. Este padrão de comporta-
formas sancionadas e unifica- mento dá coesão aos compo-
das, com o objetivo de satisfazer nentes de uma cultura ou grupo
necessidades sociais básicas”, social através dos valores esta-
de acordo com Fichter (apud belecidos, os quais determinam
LAKATOS, 1997, p. 74).” um código de conduta. Toda
(2009) instituição cumpre uma função
na sociedade. Persegue metas
no cumprimento de uma mis-
Ao se ter este conceito em são ou propósito de interesse do
mente, associa-se as relações sociais grupo social. Para tanto, se faz
institucionalizadas com a obtenção necessária uma estrutura com-

2 Retirado em https://brasilescola.uol.com.br/

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PSICOLOGIA SOCIAL

posta de pessoal (elementos hu- versificada como a do território bra-


manos); equipamentos (apare-
sileiro é um desafio que precisa ser
lhamento material ou imate-
rial); organização (disposição enfrentado, e isso vem sendo apon-
do pessoal e equipamentos); tado por vários estudiosos.
comportamento (normas que
regulam a conduta e a atitude
FACO e MELCHIORI, citando
dos indivíduos).” (2009) CAHALIL dizem que:

Ao ditar um código de condu- “Com as mudanças econômi-


ta, as instituições estão fazendo com cas, políticas, sociais e culturais
ocorridas ao longo dos tempos,
que o meio afete o indivíduo, modu- a sociedade está sendo obrigada
lando seu comportamento o desen- a reorganizar regras básicas pa-
ra amparar a nova ordem fami-
corajando a fazer o que pode ser
liar. No código de 1916, “família
classificado como socialmente ina- legítima” era definida apenas
dequado. Isto pode ser feito através pelo casamento oficial. Em ja-
neiro de 2003, começou a vigo-
de:
rar o Novo Código Civil, que in-
 Pessoas; corporou uma série de novida-
 Equipamento; des, sendo que a definição de
 Organização e; família passou a abranger as
unidades formadas por casa-
 Comportamento. mento, união estável ou comu-
nidade de qualquer genitor e
São inúmeras as instituições descendentes. O casamento
passou a ser “comunhão plena
que compõem a sociedade, porém, de vida, com base na igualdade
neste material, pretende-se focalizar de direitos e deveres dos cônju-
as que são consideradas as mais im- ges” (Cahalil, 2003, p.467); os
filhos adotados ou concebidos
portantes, a saber: família, estado, fora do casamento, passaram a
escola e religião. ter direitos idênticos aos dos
nascidos dentro do matrimô-
nio; a palavra “pessoa” substi-
A Família tuiu “homem” e o “pátrio po-
der” que o pai exercia sobre os
Considerada o núcleo da soci- filhos passou a ser “poder fami-
edade, a família é uma das institui- liar” e atribuído também à mãe.
A Lei do Divórcio, de 1977, atri-
ções mais importantes para o bom buía a guarda dos filhos ao côn-
ordenamento social. A seguir algu- juge que não tivesse provocado
mas definições de família serão evi- a separação ou, não havendo
acordo, à mãe. Hoje, é conce-
denciadas. Para isso, deve-se ter em dida a “quem revelar melhores
mente que, estudar o contexto fami- condições para exercê-la”
liar em uma escala tão extensa e di- (Cahalil, 2003, p.480).” (2009)

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PSICOLOGIA SOCIAL

O referido código antigo, afir- Fato importante é relacionar


mava que o casamento oficial, era le- tais mudanças a fatores sociais, eco-
gitimado entre apenas um homem e nômicos, políticos e culturais. A esse
uma mulher, dando ao homem o po- respeito os autores (2009) se pro-
der exercido sobre os filhos e tratan- nunciam citando outros autores ale-
do de maneira segregada os filhos gando que:
adotivos ou concebidos fora do casa-
mento. “Petzold (1996) propõe um con-
ceito de família definida como
Com as mudanças trazidas pe-
“um grupo social especial, ca-
lo novo código civil, foi aberto espa- racterizado por intimidade e
ço para estruturas novas serem con- por relações Inter geracionais”
(p. 39), conceito que consegue
cebidas como familiares, destacan- explorar inúmeras variáveis.
do-se a comunhão de vida e igual- Esse autor apresenta a defini-
dade de direitos e deveres entre seus ção eco psicológica da família,
baseada no modelo bioecoló-
participantes. Também foram equa- gico de Bronfenbrenner (1994,
lizados os direitos relativos aos fi- 1999), em que o indivíduo é
lhos adotivos ou extramatrimoniais, compreendido dentro de um
processo de inter-relações
sendo agora, tratados como os filhos constantes e bidirecionais com
do casamento, sem nenhuma distin- vários sistemas, incluindo a fa-
ção. Cabe também ressaltar a impar- mília. Nessa definição, Petzold
(1996) destaca quatro sistemas:
cialidade jurídica na decisão da tu- macros sistema, exossistema,
tela das crianças e adolescentes en- mesossistema e microssistema,
volvidas em uma separação, deixan- compostos de catorze variáveis
como: casais casados ou não;
do esta incumbência ao responsável partilha ou separação de bens;
que melhor estiver preparado para morar juntos ou separados; de-
desenvolvê-la. pendência ou independência fi-
nanceira; com ou sem crianças;
FACO e MELCHIORI (2009) filhos biológicos ou adotivos;
também ressaltam o fato de que os genitores morando juntos ou
dados do IBGE, em pesquisa reali- separados; relação heterosse-
xual ou homossexual; cultura
zada em 2003 apresentam a plastici- igual ou diferente; entre outras
dade e adaptação das famílias mo- variáveis que, combinadas, ofe-
dernas, diminuindo-se o número de recem 196 tipos diferentes de
família. Isto significa que o mo-
casais com filhos, aumentando o nú- delo nuclear de família compos-
mero de mulheres sem cônjuge, au- to por pai, mãe e seus filhos bi-
mentando o número de casais sem ológicos não é suficiente para a
compreensão da nova realidade
filhos e de pessoas que moram sozi- familiar que incorpora, tam-
nhas. bém, outras pessoas ligadas pe-

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PSICOLOGIA SOCIAL

la afinidade e pela rede de rela- “[...] antes da configuração clás-


ções.” (2009) sica assentada na Paz de West-
fália (1648), Hobbes já retra-
Tendo, somente por um autor, tava de forma imperiosa o que
196 tipos de família, fica evidente seria reservado à soberania co-
mo reserva de forças do Estado
que o conceito tido por normativo centralizado. A Razão de Es-
pelo senso comum é ineficaz no que tado já fora anunciada por Ni-
colau Maquiavel (de certo
diz respeito à classificação das diver-
modo ligado ao Estado-Nação),
sas formas de relacionamento fami- mas em Thomas Hobbes a so-
liar concebidos na atualidade. berania é avocada como essen-
cial, indissolúvel, ilimitada. Em
Os quatro sistemas e catorze
Hobbes, trata-se de um Estado
variáveis demonstram a diversidade Policial, voltado à necessidade
familiar que ocorre por diversos fa- de se assegurar a vida a cada ci-
dadão. No entanto, o Estado é
tores internos e externos ao seio fa- uma construção política que
miliar, transformando a sociedade e visa assegurar a segurança ele-
sendo por ela transformada. mentar à organização civil (des-
de o século XV). E é nisto que se
dá uma reta razão, como es-
O Estado forço de combinação do pensa-
mento (racionalidade) com a
Sendo responsável pela manu- política (necessidade de ter no
tenção da ordem, o estado se confi- Estado o suporte do espaço co-
gura como uma das instituições mum de convivência). Nasceria
a Razão de Estado.” (2013)
mais importantes para coerção so-
cial, podendo ser entendido como Ao caracterizar o Estado Mo-
“governo de um povo em determi- derno como soberano, Hobbes afir-
nado território, sendo que este go- ma, que sua autoridade independe
verno pode ser democrático ou auto- de outra autoridade. Em seus textos
crático.” (MARTINEZ, 2013). também delimita o campo de ação
O referido autor, também pon- deste Estado, quais as pessoas te-
tua que, para fins didáticos e peda- riam vínculo jurídico com esse es-
gógicos, pode-se definir o estado tado (seu povo nacional), quais pes-
em: soas teriam poder (seus governan-
 Moderno; tes) e distinguiria a sociedade civil
 Liberal clássico; do mesmo.
 De direito e; Mencionando o segundo tipo
 Democrático. de estado, também conhecido por
Estado Gendarme ou Guarda-No-
Ao dar a primeira das defini- turno, MARTINEZ (2013), afirma
ções acima menciona que: que:

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PSICOLOGIA SOCIAL

“[...] reserva a prestação da Se- Já no Estado de Direito, o go-


gurança Pública e outros servi-
verno não impõe o que não está pre-
ços essenciais ao Estado e des-
carta os demais serviços (soci- visto em lei, nem atua contra a legis-
ais) aos recursos individuais lação existente. Sobre este modelo
disponíveis, aos interesses de
mercado ou à sorte de cada um.
MARTINEZ (2013) contribui da se-
No pensamento inaugural do li- guinte maneira:
beralismo de John Locke (sécu-
los XVI-XVII), o Estado Gen- “Após a centralização do Poder
darme é responsável pela segu- Político (apontada desde Ma-
rança e pela civilização que daí quiavel e Hobbes), a separação
decorre; como Guarda Notur- dos poderes e a atenção à von-
no, o Estado é o vigilante que tade geral (Montesquieu e Ro-
assegura a passagem da guerra usseau) viriam assegurar que o
ao convívio organizado. Enfim, poder seria melhor controlado,
para Locke, o estado de guerra evitando-se todo possível re-
é oposto ao estado de natureza.” gresso ao autoritarismo. O perí-
(2013). odo revolucionário (Revolução
Americana e Francesa, no sé-
culo XVIII) inauguraria um de-
Embora, no Estado Liberal, bate acerca da soberania popu-
serviços essenciais e segurança ain- lar, como forma de regular/le-
da sejam obrigações estatais, todo o gitimar o poder e limitar o pró-
prio sentido de soberania como
restante é de responsabilidade do poder absoluto. A formatação
próprio cidadão. Cabe lembrar que do Poder Judiciário, com toda a
neste modelo se valoriza a liberdade série de garantias à administra-
ção da Justiça, ainda traria o
de cada um, seja social, política ou resguardo necessário do Esta-
econômica, desde que ao exercer do-Juiz. O controle jurídico que
essa liberdade o cidadão não viole a se fez exercer sobre o poder
confirmou o chamado Estado
liberdade e os direitos de outrem. de Direito (na Alemanha do sé-
O modelo apresentado de- culo XIX).” (2013)
monstra respeito ao individualismo
e o direito de que todos sejam trata- A separação dos poderes e a
dos da mesma forma, independente- atenção à vontade popular, ocorre-
mente de qualquer fator. Como con- ram após a centralização do poder
sequência, o governo tolera os indi- político, temendo a volta do autori-
víduos, que podem se manifestar li- tarismo. Por fim, após o fim das
vremente, inclusive utilizando-se de duas grandes guerras mundiais,
meios de mídia para tal. O governo MARTINEZ (2013) afirma que:
não interfere em questões trabalhis-
“[...] verificou-se a urgência de
tas, pois o mercado de autorregula. se construir outras salvaguar-

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PSICOLOGIA SOCIAL

das à soberania popular. Pri- criativa e eficaz no sentido de


meiro, salvaguardas que conti- mostrar o quanto estas podem
vessem a infusão de guerras in- ser complexas e passíveis de
justas ou o cometimento de cri- análises, as mais diversas, em
mes contra a humanidade, co- termos de referencial teórico,
mo fora o nazi-fascismo; de- podem ser investigadas numa
pois, para que se construíssem perspectiva multidisciplinar.”
bases efetivamente democráti- (2015)
cas e que aprofundassem as for-
mas de participação na constru-
Ou seja, as mais diversas inter-
ção da cidadania. Para tanto, a
Constituição de Bonn, na Ale- pretações podem surgir de uma
manha de 1949, foi seminal. O mesma metáfora, dada a multidisci-
século XX construiu a democra-
cia de massas, o século XXI de-
plinariedade das organizações e de
verá apresentar muitas trans- sua análise por esse meio.
formações em seus institutos FARIAS (2015) afirma que:
políticos e jurídicos.” (2013)
“Recorrendo à obra de Gareth
Os direitos humanos foram ex-
Morgan, intitulada Imagens da
tremamente valorizados no Estado Organização, podemos pensar a
Democrático, pois o terror das guer- escola sob uma nova ótica. O
autor faz uso de metáforas para
ras trouxe um anseio pela paz, pela
explicar como se pode entender
necessidade de evita-las, e seus efei- as organizações. São elas: orga-
tos, como o nazi-fascismo. nização vista como máquina,
cérebro, organismo, cultura,
sistemas de governo, prisão psí-
A Escola quica, fluxo e transformação, e
instrumento de dominação.
A escola tem papel fundamen-
tal na sociedade. Através dela, em Ao analisar estes oito tipos de
conjunto com a família, comunica- metáforas com relação à educação,
se valores culturais às crianças e pode-se compreendê-la de maneira
adolescentes. No ambiente escolar, mais acurada. O autor (2015) segue:
os alunos aprendem a convivência
social, respeito às regras, seguir roti- “[...] pode-se observar que as
nas, além dos conteúdos educacio- máquinas “não são planejadas
para a inovação”, (MORGAN,
nais, que junto à formação pessoal
1996, p. 38) enquanto que as
moldam o cidadão para a vivência organizações, vistas como cul-
em sociedade. tura, têm mais instrumentos
para lidar com a mudança, uma
Sobre este tema FARIAS
vez que são construídas e re-
(2015) afirma: construídas socialmente. Reto-
mando a ideia do item anterior,
“A análise das organizações a
a metáfora mais próxima da
partir de metáforas é bastante

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PSICOLOGIA SOCIAL

imagem da escola que podería- processo de aprendizagem não pode


mos considerar como sendo a
ser automático, todos devem partici-
metáfora ideal é a metáfora da
organização vista como cultura; par.
a cooperação, interdependên-
cia, os interesses e objetivos Religião
compartilhados e a ajuda mú-
tua entre os valores que nela
atuam são pontos a serem sali- Um aspecto de extrema im-
entados e que confirmam essa portância para a reflexão sobre as
ideia. Os significados orientam
organizações é o religioso. A religião,
a vida organizacional. Na ver-
dade, o aluno aprende a se co- enquanto instituição social, promo-
nhecer e a se avaliar. Na medida ve a expressão cultural, transmite
em que se dá a troca com o pro-
fessor, visto como um facilita-
valores, molda o caráter, ensina a vi-
dor da aprendizagem, o aluno vência social, desenvolve habilida-
analisa seu desempenho, faz as des comunicativas e desperta o que
correções necessárias em ter-
mos de conteúdo, mas, sobretu-
há de subjetivo em nós, tornando-o
do, nota-se que cresce o grau de algo palpável, através do uso de sím-
consciência sobre si mesmo.” bolos.
(2015)
Ao citar o processo de pro-
cesso de organização grega MELO e
Dá-se a entender que, embora
SOUZA (2008), apud JARDÉ, des-
haja diferentes maneiras de se visu-
tacam a influência religiosa ao res-
alizar a educação e a escola, vê-la
saltar que:
como cultura, associa mais maleabi-
lidade ao processo educacional, dei-
“A religião era o que mantinha
xando a visão da criança e do adoles- a família unida para poder asse-
cente mais aberta à possibilidade gurar as relações sociais e as
educadora. Neste modelo, não é o atividades que eram executadas
no seio desta comunidade, para
professor ou a escola o único a ava- sua manutenção; por isso, a fa-
liar o aluno, mas ele mesmo, se co- mília era considerada mais uma
nhecendo, aprende a se avaliar. associação religiosa do que uma
associação agregadora. Para
Ainda de acordo com esse au- que um homem pudesse inte-
tor, é primordial ao aluno ter liber- grar a “associação religiosa” co-
dade para aprender, não como um mo membro de determinada fa-
mília era-lhe necessário passar
processo forçado, mas como uma por todo um processo de aceita-
atividade prazerosa. A individuali- ção coletiva: “... para entrar na
família, uma verdadeira associ-
dade também é “fundamental para o
ação religiosa, era preciso que o
bom andamento do processo de indivíduo passasse por uma ini-
aprendizagem do aluno” (2015). O ciação: daí as cerimônias que

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PSICOLOGIA SOCIAL

acompanham o casamento, o “Em primeiro lugar o ser hu-


nascimento, a adoção...” (Jar- mano é, por excelência, um ser
dé, 1977: 203).” (2008) de transcendência. Como afir-
ma Leonardo Boff, nós, seres
humanos, homens e mulheres,
Já na sociedade pós-moderna,
na verdade somos essencial-
com o relativismo cultural, sincretis- mente seres de protestação, de
mos religiosos, movimentos ecumê- ação de protesto. Protestamos
continuamente. Recusamo-nos
nicos e até mesmo a ausência de re- a aceitar a realidade na qual es-
ligião por parte de alguns indiví- tamos mergulhados porque so-
duos, sua importância não é mais a mos mais, e nos sentimos mai-
ores do que tudo o que nos
mesma. Contudo, sua influência não cerca. (BOFF, 2000, p.22).”
deve ser desconsiderada, pois, de (2011)
forma geral, principalmente no Bra-
sil, ainda se tem uma sociedade mui- Isto, de certo modo, justifica-
to religiosa. ria o surgimento da religião e sua
Ao tratar deste tema TOLOVI importância como instituição.
(2011) contribui dizendo que: O autor (2011) afirma ainda
que, por vezes:
“[...] assim como em nossa nar-
rativa das origens Deus criou o “[...] as instituições religiosas
Homem a partir do barro pri- acabam assumindo uma di-
mordial, o mito e a religião são mensão de controle social com
construídos com o barro da cul- impacto direto na política, na
tura de um determinado grupo economia, etc. A religião assu-
social, que busca organizar-se me o cuidado com os inocentes
coletivamente na perspectiva e cuida para que a reação destes
da relação interindividual. Com seja apenas em função do medo
isso, mito e religião passam a (representado pelo diabo) e da
fazer parte das relações sociais, esperança (representada por
sedimentando valores morais Deus).
que se transformam em parâ-
metros institucionais.” (2011)
Em relação a isso, pode-se ob-
Em realidade, pode-se afirmar servar o surgimento da bancada
que o envolvimento com a religião, evangélica, como prova de que a es-
transforma a maneira com que o in- fera religiosa não está dissociada das
divíduo se relaciona com as demais demais, e o surgimento de institui-
instituições e influencia diretamente ções que alienam, principalmente os
o convívio social. mais humildes, a viver em prol de
Citando BOFF, o autor referi- um movimento, mesmo que isso sig-
do (2011) contribui também nos re- nifique ter dificuldades relacionadas
lembrando que: às outras instituições.

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PSICOLOGIA SOCIAL

3. A Identidade como Instituição Social

Fonte: Senado Notícias3

E mbora cada um seja portador


de sua identidade individuali-
dade e da forma de ver o mundo, ao
impressões são construídos
nessas relações sociais, ou seja,
emanam do contato dos seres
humanos com seres humanos e
abordar essa identidade do ponto de com a natureza. O homem co-
mo ser social, que se faz nas re-
vista psicológico, a mesma será ob- lações sociais, está em perma-
servada como uma instituição, que nente movimento. Essa vocação
não pode ser separada do convívio redunda em transformação,
apesar de aparentemente se
social, pois por vezes, é moldada manter igual (FREIRE, 2008,
e/ou diretamente influenciada pelo pp. 83-87), isso porque o mun-
meio. do interno se alimenta dos con-
teúdos que vêm do mundo ex-
MARTINS (2010) apud FREI- terno e, como a relação com es-
RE cita que: se mundo externo não cessa, a
"digestão" dessas realidades na
composição da identidade se
“A subjetividade humana, isto
torna sobremodo complexa.”
é, esse mundo interno e suas
(2010)

3 Retirado em https://www12.senado.leg.br/

18
PSICOLOGIA SOCIAL

Essa subjetividade está inti- Portanto, embora os fatores


mamente atrelada à identidade de genéticos e de herança cultural ad-
cada ser, sendo única e intransferí- quiridos pela criação sejam impor-
vel. Ao falar de identidade, refere-se tantes, o que mais determina a for-
a um conceito que para muitos con- ma como um indivíduo reage aos es-
figura como abstrato, por isso, ca- tímulos gerados pelo convívio social
rece de definição. De acordo com é sua própria vontade, que a depen-
MIRANDA (2010), apud HABER- der das instituições em que está in-
MAS, identidade pode ser definida serido, pode ser alterada, gerando
como: assim novas identidades ao longo da
vida.
“[...] algo que é diferente dos Visto que toda identidade é
demais, porém idêntico a si
construída, deve-se questionar so-
mesmo. A esse respeito, Haber-
mas faz a seguinte proposta: “a bre como acontece essa construção.
auto identificação predicativa Sobre esse assunto o referido autor
que efetua uma pessoa é, em
certa medida, condição para
(2012) apud CASTELLS nos infor-
que essa pessoa possa ser iden- ma:
tificada genericamente e nume-
ricamente pelas demais” (Ha- “A construção de identidades
bermas, p.147, tradução nossa). vale-se da matéria-prima forne-
Assim a identidade é formada cida pela história, geografia, bi-
dialeticamente entre indivíduo ologia, instituições produtivas e
e sociedade sendo mutável em reprodutivas, pela memória co-
boa medida inconscientemente, letiva e por fantasias pessoais,
num processo que inclui a iden- pelos aparatos de poder e reve-
tificação própria e a identifica- lações de cunho religioso. Po-
ção reconhecida por outros.” rém, todos esses materiais são
(2012) processados pelos indivíduos,
grupos sociais e sociedades, que
Tendo isto em vista o autor organizam seu significado em
(2012) continua: função de tendências sociais e
projetos culturais enraizados
em sua estrutura social, bem
“Habermas concebe que um in- como em sua visão tempo/es-
divíduo é responsável pela con- paço. (Castells, p. 23)
dução de sua biografia e pode Instituições dominantes tam-
construir novas identidades ao bém podem formar identidades
longo de sua existência moti- quando os atores sociais as in-
vado por fragmentações e rup- teriorizam, construindo o seu
turas que conduzem a uma su- significado com base nessa in-
peração, permitindo um novo teriorização. Castells apresenta,
reconhecimento nas interações além da individual, a identida-
sociais em que faz parte.” de coletiva e diz que a constru-
(2012) ção social da identidade ocorre

19
PSICOLOGIA SOCIAL

por relações de poder entre for-


mas e origens. Uma identidade
é considerada por ele como “le-
gitimadora” quando é introdu-
zida por uma instituição domi-
nante visando sua expansão e
também a racionalização da sua
dominação. A identidade “de
resistência” é criada por atores
desfavorecidos ou desvaloriza-
dos, segundo a lógica da domi-
nação, que constroem trinchei-
ras de resistência e sobrevivên-
cia para si. A identidade “de
projeto” caracteriza-se por ser
construída por atores visando
uma redefinição das suas posi-
ções na sociedade, provocando
transformações sociais, como,
por exemplo, o feminismo.”
(2012)

Dados alguns tipos básicos de


identidade, entende-se que, embora
cada ser possua sua individualidade,
busca ser membro de um grupo ou
comunidade, pois se agrada ao sen-
timento de pertencimento a ela, e
por isso, se submete a padrões que
não irão causar estranheza em rela-
ção ao grupo (mesmo que isso custe
uma reação não tão favorável por
parte dos demais grupos sociais).
Neste contexto é que se destaca o
surgimento das tribos urbanas.

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PSICOLOGIA SOCIAL

4. Tribos Urbanas

Fonte: Todo Estudo4

S OUZA e FONSECA (2009), nos


informam que no meio indíge-
na, tribo tem que ver com sociedade,
pos, para se autoafirmar e demons-
trar o quanto são diferentes. São
compartilhados entre os membros
seja ela em formato de clãs ou de uma mesma tribo: estilo, gosto
aldeias. Nota-se, na segunda metade musical, visão de mundo e outros
do último século o surgimento de fatores, que trazem uma espécie de
muitas tribos em nossa sociedade uniformização, gerando um com-
globalizada, mas agora nos refere-se portamento padrão reproduzido
a um novo conceito: o de tribo ur- entre todos, justamente o que criti-
bana. cam em relação ao restante da so-
Pode se afirmar que, tribo ur- ciedade.
bana é um ajuntamento de indiví- Alguns aspectos importantes
duos, normalmente (mas não exclu- relativos à classificação das tribos se
sivamente) jovens, que têm uma seguem:
necessidade de se organizar em gru-

4 Retirado em https://www.todoestudo.com.br/sociologia/tribos-urbanas

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PSICOLOGIA SOCIAL

Hippies: tendo se originado no iní- fabricassem suas pranchas, o au-


cio da década de 1960 na América do mento exponencial da prática fez
Norte, este grupo fazia parte do que com que surgisse a demanda de uma
se chamava “a contracultura”, ou produção em larga escala, fomen-
seja, uma luta contra o capitalismo e tando o crescimento de indústrias,
os costumes morais da época. Com a que passaram a oferecer o serviço
ideologia de “sexo, drogas e rock and desejado, assim como nos casos dos
roll” os hippies praticavam o sexo hippies mencionados acima.
livre, por vezes abusavam do consu- Skatistas: Na década de 60, com a
mo de drogas e sempre estavam to- popularização do surf surgiu o de-
cando música em suas rodas de vio- sejo de praticá-lo nas cidades e, fa-
lão. Possuíam ideais pacifistas re- zendo uma modificação nas pran-
presentados principalmente pelo le- chas (reduzindo seu tamanho e aco-
ma “paz e amor”. Outra característi- plando rodas) foi possível a criação
ca hippie é o respeito a tudo e a to- do skate, semelhante ao que se co-
dos, e por esse motivo muitos de nhece na atualidade, que, com maior
seus integrantes eram vegetarianos, facilidade consegue burlar os obstá-
não querendo que nenhum animal culos das vias públicas. Posterior-
fosse sacrificado para que pudessem mente seriam desenvolvidos locais
se alimentar. Muitos dos que produ- para a prática do esporte, as chama-
ziam em pequena escala, se torna- das pistas de skate, com rampas pró-
ram donos de fábricas de alimentos prias para a execução das manobras
naturais que hoje fabricam e distri- e até mesmo campeonatos. Porém,
buem milhões de produtos. enquanto tribo, importanos seu mo-
Surfistas: Não se sabe ao certo do de vestir (em geral roupas mais
quando surgiu o surf, mas sua divul- largas e confortáveis, bonés e aces-
gação está associada à pessoa de Du- sórios), o fato de sempre andarem
ke Kahanamoku, que após ganhar em grupos e as músicas que ouvem,
uma medalha olímpica numa prova a saber: hip hop, rap e/ou rock.
de natação, declarou não ser nada- Punks: O estilo punk, é proveniente
dor, mas surfista. Integrantes do da América do Norte dos anos 70,
atual esporte tiveram como origem como uma resposta aos movimentos
um grupo de pessoas que possuía gí- de rock progressivo e hippie. Seus
rias próprias, estilo de vida seme- valores incluíam a individualidade e
lhante e utilizavam roupas leves nor- a independência e por vezes estavam
malmente associadas à prática do mergulhados em causas políticas.
surf. Embora os primeiros surfistas Um dos ideais defendidos pela tribo

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PSICOLOGIA SOCIAL

é o “DIY” (Do it yourself) que forta- de 60 no Reino Unido. Tendo surgi-


lece a noção de um consumo resumi- do como uma resposta ao movimen-
do e consciente. Os punks não com- to hippie, os skins, como são conhe-
pravam suas roupas em grandes cidos, possuíam além da cabeça ras-
centros de comercialização, mas op- pada sapatos bem cuidados e roupas
tavam por brechós ou por fazer sua passadas, fazendo contraste com o
própria moda. Não gravavam seus referido movimento que, em sua
discos em grades gravadores, mas concepção, trazia uma imagem fe-
por vezes realizavam produções in- minina aos integrantes. Embora ini-
dependentes. São exemplos de ban- cialmente a tribo urbana não tivesse
das do gênero: Sex pistols, The Ra- pretensão de segregação racial, o
mones, The Clash e Velvet Under- alto índice de imigrantes somado à
ground. Enfim, o estilo do grupo é crise enfrentada pelo país, fez com
marcado por cabelos arrepiados ou que dissidentes do movimento origi-
moicanos, roupas rasgadas e justas e nal decretassem ódio aos imigran-
pelo estilo visual agressivo. tes. Esses dissidentes trouxeram
Góticos: Tendo sua efervescência uma imagem agressiva ao grupo co-
no Reino Unido nos anos 80, o mo- mo um todo estigmatizando e este-
vimento gótico é marcado pelo uso reotipando aqueles que posterior-
de roupas pretas, maquiagem e pen- mente se uniriam aos skins.
teados alternativos, a música está Emos: Por fim, mas não menos re-
relacionada à decadência da socie- levante está a cultura emo, marcada
dade e ao sombrio, e habitualmente por franjas, piercings e maquiagem
se reúnem em grupos durante à noi- preta. A tribo está associada ao estilo
te. Embora o senso comum associe o musical emocore, que traz letras
estilo gótico ao anticristianismo ou emotivas e sons pesados. Tendo
satanismo o movimento em si é lai- surgido em meados da década de 80
co, não possuindo qualquer vínculo nos Estados Unidos e chegado ao
com sistemas religiosos. Obvia- Brasil em torno dos anos 2000, o
mente religiões que influenciarão o movimento é formado em sua gran-
comportamento, estabelecendo re- de maioria por adolescentes, que
gras de vestimenta ou criando mui- buscam por autoafirmação e identi-
tas restrições não serão compatíveis dade, por isso a temática da rejeição
com o estilo de vida. e melancolia. O grupo sofreu trans-
Skinheads: significando literal- formações consideráveis nas últimas
mente “cabeças raspadas” o movi- décadas e alguns chegam a conside-
mento tem sua origem nas décadas rar o termo emo pejorativo. Associa-

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PSICOLOGIA SOCIAL

da à rejeição do grupo social e o incluir consumo de substância


ilícitas (hippies, clubbers), vio-
olhar discriminatório pela distinção
lência (skins, punks), automuti-
causada aos padrões da sociedade a lação (góticos e emos) promis-
não heteronormatividade é fator cuidade sexual (emos), despor-
tos perigosos (traceurs) e …des-
gerador de preconceitos, visto que pesas (betos e plocs)! ” (2008)
há uma abrangência de emos, que se
definam como bissexuais ou homos- Ou seja, o fazer ou não parte,
sexuais que por vezes, infelizmente, de uma tribo urbana na adolescência
os torna alvos de agressões físicas e ou juventude, irá corroborar de ma-
verbais. neira direta para a formação e inser-
As tribos urbanas são o reflexo ção social do indivíduo na sociedade
da globalização da sociedade moder- em que vive. Embora, em muitos ca-
na. Tanto é, que grupos formados na sos, a identificação com certo grupo,
América do Norte e Europa chega- possa dificultar o contato e convívio
ram ao Brasil, nem sempre pelo direto com as demais tribos, tam-
transporte de seus membros, mas bém podem servir como uma es-
pelo compartilhamento dos seus pécie de “microsociedade” onde os
ideais. Jovens e adolescentes insa- menos sociáveis, podem ter um pro-
tisfeitos com o ordenamento social, tótipo de convivência, que os será
tendem a se unir em causas políticas benéfico futuramente.
ou simplesmente demonstrando não Muitos desenvolvem compor-
ser representados por outros gru- tamentos e modos de ver o mundo
pos. As preferências visuais, gostos que jamais irão abandonar, outros
musicais e cosmovisões irão criar se envolvem em comportamentos
um agrupamento de semelhantes, viciosos ou promíscuos que, embora
que muitas vezes, visto pela socieda- interrompidos, geram consequên-
de de uma forma geral é justamente cias que os irão acompanhar pelo
um grupo diferente, representando resto da vida.
uma subcultura. Os autores citados (2008)
De acordo com SOUZA e MA- concluem:
CIEL (2008):
“As tribos são um fenômeno
“As tribos são um fenómeno dinâmico, ao sabor dos novos
sociológico interessante cujas estilos musicais, interesses e
repercussões a nível da estrutu- angústias dos jovens…enquan-
ração da personalidade do ado- to umas florescem, outras esba-
lescente podem ser importan- tem-se no seio das sociedades.
tes. Comportamentos de risco Diferenças respeitantes à ideo-
associados são claros podendo logia são apontadas como res-

25
PSICOLOGIA SOCIAL

ponsáveis pela rápida renova-


ção das novas tribos que têm
surgido; referidas como super-
ficiais e relacionadas apenas à
questão estética não apresen-
tam o mesmo cariz ideológico
forte que criou e manteve tribos
como os hippies ou os punks,
atualmente com mais de 40
anos de existência. ” (2008).

Analisando as tribos sociais


existentes e aquelas que possuem
seu lugar na história, mas que cada
vez têm perdido mais adeptos, os
autores influem que embora novos
grupos tenham surgido, pelo fato de
serem rasos, superficiais e sem
ideais ou ideologias que perdurarão
e não serão ultrapassados, os mes-
mos se dissipam com a mesma facili-
dade com que foram criados e aque-
les com características opostas per-
duram por décadas.

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27
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PSICOLOGIA SOCIAL

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