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Psicologia Social (41052)

I DOMINIO DA PSICOLOGIA SOCIAL – TENTATIVA DE


DEFINIÇÃO (pág. 23-89)

2) Perspetivar uma definição de Psicologia Social:


A Psicologia Social tem como objeto o estudo da influência do meio social no
comportamento, pensamento e sentimentos dos seres humanos, ou seja, é o
estudo das interações sociais (através da observação individual e grupo). O ser
humano é um ser social que é afetado pelo meio social onde está inserido e
também modifica o ambiente em que vive. As relações afetam o comportamento
e os estados mentais dos indivíduos; a psicologia social busca analisar as
interações na sociedade e o comportamento social. A psicologia social é a ponte
entre a psicologia e a sociologia, enquanto a sociologia estuda a influencia de
instituições, e da cultura no comportamento dos indivíduos, por outro lado, a
psicologia social considera outras várias que afetam o comportamento. O filósofo
francês Auguste Conte, é o pai da sociologia, mas enquanto científica e
sistemática depois da 1ª Guerra Mundial em 1920.

Depois da 1ª Guerra Mundial a sociedade encontrava-se completamente tensa


e transtornada por causa da crise, então os pesquisadores procuravam tentar
manter os valores e direitos humanos da sociedade. Nesse período o foco do
estudo era a sociedade, os padrões de comportamento, as motivações,
preconceitos, conflitos de valores. Durante algumas décadas houve um clima de
otimismo relativamente aos resultados das pesquisas em psicologia social,
porém, devido a uma crise mundial que veio agravar e os resultados de
pesquisas contraditórios, a ciência acabou por entrar em declínio (crise da
psicologia social na década de 70). Na década de 70 houve muitas críticas
quanto à aplicabilidade de conhecimentos em psicologia no EUA e na Europo,
devido a não considerarem que cada país tem as suas caraterísticas, onde as
sociedades diferem na cultura, modo de pensar e estar. A partir daí, foram feitas
alterações, em que se identifica como uma ciência em que deve observar não
só indivíduo, mas também todo o contexto onde está inserido, no âmbito social,
político, histórico e cultural. Esta ciência, infelizmente, ainda é confundida com o
senso comum, onde são feitas observações subjetivas e evidências individuais;
já a psicologia social é uma ciência, ou seja, ela emprega métodos científicos,

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fazem experiências, pesquisas qualitativas e quantitativas, não são suposições


são fatos. Quando os cientistas sociais dizem que vivemos numa sociedade
patriarcal, machista é porque existem provas e estudos científicos.

2.1) Tentativa de definição

A Psicologia Social estuda as pessoas no modo de relações sociais, sendo


complexa a tarefa de definir os domínios da mesma, contudo essas dificuldades
aumentam devido a duas ordens de fatores: a diversidade do domínio e a sua
súbita taxa de mudança.

De acordo com o autor ALLPORT define a Psicologia Social “compreender e


explicar como os pensamentos, sentimentos, e comportamentos dos indivíduos
são influenciados pela presença atual, imaginada ou implicada de outros” (Neto,
1998, p. 37-38). Pode-se interpretar a Psicologia Social em termo de entradas e
saídas do individuo, ou seja, as entradas dizem respeito às presenças atuais,
imaginadas ou que são implicadas de outras pessoas e as saídas referem-se
aos pensamentos, sentimentos e comportamentos do individuo. Assim, de
acordo com o autor ALLPORT, se a presença de outrem influencia o indivíduo,
também pode influenciar mesmo não estando presente (através da presença
imaginada).

Por conseguinte, nos últimos 100 anos existiram duas grandes e importantes
mudanças: os cientistas aplicaram o método científico à compreensão do
comportamento social humano, de forma a procurar descobrir relações causa-
efeito, compreendendo-as através de uma observação objetiva e da
experimentação; e as modernas viagens e as comunicações de massa fizeram
com que as relações e as potencialidades se multiplicassem na interação social
do individuo.

2.2) Tópicos da Psicologia

Podemos responder à questão “o que é a Psicologia Social?” através da


descrição por tópicos que os psicólogos sociais trabalham: papeis sexuais,
diferenças individuais, diferenças sexuais, atração inter-pessoal, agressão,
comunicação não-verbal, lei e crime, percepção da pessoa, stress e emoção,

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autoconsciência. Contudo, a Psicologia Social abarca vastos tópicos: realização,


ajuda, auto-apresentação, atração e afiliação, questões étnicas e raciais,
processos de grupo, personalidade e diferenças individuais, investigação em
questões de personalidade, etc. Os Psicólogos Sociais tratam de diversos
comportamentos humanos, sendo que os seus focos de interesse se limitam a
pontos reduzidos.

Estas áreas do comportamento humano podem ser divididas em três grupos: o


fisiológico (ex: temperatura corporal ou adrenalina), cognitivo-atitudinal
(opiniões, crenças, representações sociais) e realização (resolução de
problemas em grupos, diferentes estilos de liderança). As investigações por
parte dos Psicólogos Sociais são inúmeras e uns continuam no tempo enquanto
outros deixam de existir.

2.3) Relações com outros Campos

A Psicologia Social é a ponte entre a Psicologia e a Sociologia, enquanto a


Sociologia estuda a influência de instituições e da cultura no comportamento dos
indivíduos, por outro lado, a Psicologia Social considera outras variáveis que
afetam o comportamento; tanto os psicólogos como os sociólogos contribuem
para o conhecimento psicossocial. Assim, podemos dizer que a Psicologia Social
tem uma relação ternária: sujeito individual, sujeito social e objeto.

São diversos os fatores que influenciam as atividades de cada individuo face aos
outros, uma vez que o comportamento social tem por base diferentes causas,
entre elas são: o comportamento e as características individuais dos outros; a
cognição social (ex: pensamentos, atitudes e recordações dos outros); variáveis
ecológicas (meio físico influenciado direta ou indiretamente); contexto
sociocultural que determinado comportamento social ocorre; e os aspetos
biológicos individuais que são importantes para o comportamento social. Como
é evidente as explicações de determinado comportamento por parte de individuo
depende muito da análise pelo investigador; verifica-se no comportamento de
Van Gogh quanto mutila parte da sua orelha, o que nos faz pensar o que o levou
a fazer tal ato, perspetivando vários pontos de partida (forma de agradar a

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mulher, não gostava da sua orelha e ofereceu, um ato de carinho para com a
mulher...).

2.4) Níveis de Análise

Pode-se dizer que existem várias psicologias sociais que se focam em diferentes
tópicos com múltiplas explicações para todas as ações dos indivíduos, contudo,
encontram-se associadas à Psicologia Social duas variantes: a Psicologia Social
Psicológica (PSP) e Psicologia Social Sociológica (PSS). A Psicologia Social
Psicológica (nomes ligados: Mead, Goffman, French, Homans e Bales) centra-
se no indivíduo, são compreendidos os comportamentos sociais através de
estímulos, estados psicológicos e traços da personalidade, tendo como objetivo
principal prognóstico do comportamento; e método de investigação é a
experimentação. Quanto à Psicologia Social Sociológica (nomes ligados: Lewin,
Festinger, Schacter, Asch, Campbell e Allport) centra-se no grupo ou
sociedade/comunidade, compreendem o comportamento social através de
variáveis societais: papeis sociais, normas sociai ou estatuto social, tem como
objetivo da investigação a descrição do comportamento e os métodos de
investigação são os inquéritos e a observação participante. Ambas as
psicologias sociais premeiam informações complementares sobre o mesmo
problema, tem o foco nas interpretações cognitivas da realidade social e nos
comportamentos.

As principais razões para proceder ao estudo das duas Psicologias (PSS e PSP):
a primeira mencionada pelo autor VISSCHER (Neto, 1998, p. 49) sugerindo
algum cuidado nas abordagens por apresentarem pontos fortes e fracos; a
segunda é que ambas abordagens convergem porque tentam entender os
indivíduos nos seus contextos sociais, reconhecendo de uma forma explicita ou
implícita de que a influencia mutua entre o individuo e sociedade é inevitável
para a construção da realidade social: no que refere o autor CARTWRIGHT
(Neto, 1998, p. 50) “atenção ao mundo subjetivo do individuo é a única
contribuição da psicologia social que é partilhada pela sociologia social
sociológica e pela psicologia social psicológica”; ambas as psicologias focam-se
no meio percecionado e não no meio em que inseridos.

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Desta forma, uma vez que o comportamento é variado e as causas são diversas,
a psicologia social recorre-se a diferentes níveis de análises:

Segundo o autor DOISE (Neto, 1998, p. 50-51) distingue quatro níveis: (1)
aborda através do estudo dos processos psicológicos (Intra individuais) o modo
como o individuo organiza a sua experiencia vivencial na realidade social; (2)
processos “inter individuais” e “intra-individuais” que ocorrem entre indivíduos;
(3) as diferenças de “posições” e ou “estatutos sociais” dão conta da forma de
modular as interações situacionais; (4) identifica as “crenças ideológicas
universalistas” induzindo representações e condutas
diferenciadoras/discriminatórias.

De acordo com o autor LERNER (Neto, 1998, p. 51), os seus trabalhos


desenvolvidos vão de encontro ao quarto nível, em que as pessoas se
convencem de que o “mundo é justo” e o que acontece quando as pessoas
sofrem é merecido. Os diversos níveis de análise podem-se coincidir uns nos
outros, uma vez que estes fenómenos são diferentes e se associam a diferentes
níveis, isto é, analisa-se a mesma situação em diferentes níveis de análise.

3) Esboço Histórico da Psicologia Social

Segundo o autor EBBINGHAUS (Neto, 1998, p.55) a “psicologia tem um longo


passado, mas só tem uma breve história”. Sendo que a Psicologia nasceu em
1879 no primeiro laboratório na Alemanha, Leipzig pelo autor Wilhelm Wundt.
Efetivamente a Psicologia Social é um dos campos mais recentes da Psicologia
que se foi desenvolvendo nos finais do século XIX e inícios do século XX.
Inicialmente encontrou-se autores que relacionavam as relações entre o
psiquismo e a vida coletiva.

No que concerne à história da Filosofia, não pode ser esquecida, uma vez que
até um seculo todos os filósofos eram considerados psicólogos sociais e vice-
versa. Provavelmente, os primeiros filósofos em Psicologia Social até foram os
filósofos gregos. Quanto aos filósofos Platão e Aristóteles, focaram atenção do
homem ocidental na natureza social; salientando o Platão, as suas teorias sobre
a natureza social diziam respeito à teoria do Estado. Para o autor ALLPORT

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(Neto, 1998, p. 56) via a Psicologia Social como um ramo da filosofia política,
salientando cinco questões acerca desse mesmo pensamento: se os indivíduos
são concebidas de forma única, sendo cada um único e semelhante aos outros;
se a pessoa tem uma função na sociedade ou a sociedade é o produto e função
das pessoas que a constituem; se a relação individuo – sociedade é algo com
sentido ou faz parte de uma ideologia oculta; se as pessoas precisam de
educação para que possam viver em grupo ou estados ou se são sociais por
natureza, apenas havendo as boas ou más influencias eu as tornam sociais ou
anti sociais; se tanto mulheres como homens são agentes livres e com
responsabilidade ou as forças naturais e sociais é que o determinam.

Ver nos apontamentos “Resumo _PS_1” – Platão, Aristoteles, Hobbes,


Rousseau, Bentham, Fourirer, Karl Marx, Moritz Lazarus e Heyman Steinthal
(pág. 57, 58, e 59).

3.2) As Origens da Psicologia Social

A Psicologia é definida como ciência do comportamento humano e a Psicologia


Social é o ramo dessa mesma ciência que lida com a interação humana, sendo
o seu propósito o estabelecimento de leis por meio da observação sistemática.
O seu aparecimento advém do resultado de uma evolução progressiva. Existem
duas correntes: a Francesa e a Anglo-Saxónica.

✓ CORRENTE FRANCESA:

Na corrente francesa, Auguste Conte (1798-1857), foi um autor que contribuiu


e concebeu a ideia de Psicologia Social, contribuindo de duas formas:

1ª. Lei dos três estádios – salienta a emergência gradual das ciências do estádio
teológico em que todos os acontecimentos são explicados pelos Deuses; estádio
metafísico os acontecimentos são explicados por poderes impessoais e pelas
leis da ciência e, estádio positivo em que os acontecimentos são explicados pela
estabilidade.

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2ª. Por seu turno este autor classifica as ciências fundamentais abstratas,
fazendo distinção entre as ciências abstratas (tratam os fenómenos inflexíveis
não podendo se decompor) e as ciências concretas (tratam de fenómenos
compósitos).

Comte viu-se obrigado a criar a “moral positiva” por necessitar de uma ciência
que tratasse dos indivíduos e do modo como combinam influências biológicas e
societais; esta moral relaciona os fundamentos biológicos de acordo com a
abordagem da moderna psicofisiologia, e aborda o individuo num contexto
cultural e social, constituindo a perspetiva da psicologia social da atualidade.
Ainda persiste uma questão: como é que o individuo pode ser a causa e a
consequência da sociedade em simultâneo? Segundo o autor ALLPORT
Auguste Comte foi o fundador da Psicologia Social, no entanto, é difícil afirmar
tal certeza.

O real desenvolvimento da Psicologia Social deve-se a Gabriel Tarde (1843-


1904) e a Gustave Le Bon (1841-1931). Por seu turno, segundo o discípulo de
Comte, Émile Durkheim opõem-se a Tarde; Durkheime defende que “o social é
rigorosamente irredutível, não se pode decompor ao individual” (Neto, 1998, p.
61). Consequentemente, Durkheim vai chocar com a posição de Tarde, que
mesmo não negando os fenómenos sociais uma certa especificidade, estes
conjugavam-se em fenómenos psicológicos: a invenção “bastante rara, é fruto
de individualidades poderosas que deste modo asseguram o progresso” e a
imitação “assegura a unidade e a estabilidade sociais” (Neto, 19998, p. 62). A
sociedade define-se assim, como um conjunto de homens que imitam uns aos
outros. Na perspetiva de Tarde a ciência social é uma interpsicologia, por colocar
as evidencias e os diferentes modos seguindo os quais as pessoas interagem.

O autor Gustave Le Bon (1841-1931) é um autor com vasto leque de obras


publicadas sobre a psicologia e filosofia social, sendo a mais famosa é a
“Psicologia das Multidões”, a sua obra é subjugada de brilhante e superficial.
Referindo que a multidão modifica o indivíduo tornando-o por adotar uma “alma
coletiva”. Na linha de pensamento, o individuo inserido nessa multidão vai-se
sentir, agir e pensar de uma forma diferente se se encontrar sozinho. Desta
forma, a multidão obedece à lei da unidade mental, colocando o individuo numa
posição em que sente emoções rápidas, básicas e simples e intensas, adotando
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um modo de raciocinar muito básico e abaixo. O livro do autor proporcionou


abordagem de um tema interessante, o comportamento coletivo – as multidões.

✓ CORRENTE ANGLO-SAXÓNICA:

Nos E.U.A apresentam as origens em 1898, sendo a primeira experiência em


Psicologia Social é em 1908.

O autor Robert Zajonc (1969) compara entre as datas das primeiras medidas
científicas e a do primeiro estudo experimental em Psicologia Social; a primeira
medida científica antecedeu a primeira medida psicossocial em 21 séculos;
elaborou um artigo em que menciona que a presença de outros indivíduos
aumenta o desempenho das respostas dominantes, interferindo com as
respostas não dominantes.

Quanto ao autor Triplett (1898), publica a experiência da competição sobre o


desempenho humano, assinalando que o desempenho é melhor quando há
competição.

O autor Floyd Allport (1924) faz a diferenciação entre a facilitação social, ou


seja, a influencia do grupo sob os movimentos do indivíduo; a rivalidade, isto é,
o desejo de superar/ganhar. Efetivamente o texto deste autor vai de encontro
com a Psicologia contemporânea, o comportamento é influenciado por diversos
fatores, nomeadamente, os que incluem a presença dos outros e as suas ações.
O seu texto aborda a habilidade em reconhecer as emoções das outras pessoas
mediante as expressões faciais, a conformidade e o impacto do publico na
realização de tarefas. Tendo sido o primeiro livro em Psicologia Social que
permitiu a integração desta disciplina nos departamentos de psicologia das
universidades americanas.

O autor Edward Ross (1866-1951) publica em 1908 a obra intitulada “Psicologia


Social”; em 1901 publicou a obra “Controlo Social” em que a psicologia social
como um estudo das inter-relações psíquicas entre o homem e o seu meio. Ross,
influenciado pelo colega Tarde que procurou aplicar as leis da sugestão e da
imitação a diversos acontecimentos do passado e presente: moda, opinião
pública.

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3.2) Evolução da Psicologia Social

Após a publicação do texto de F. Allport deu-se um crescimento acelerado da


Psicologia Social. Desenvolveram-se técnicas de investigação e expandiu-se o
trabalho efetuado.

Vários foram os autores que marcaram e sobressaíram: Darwin e Mendel


alteraram a trajetória da Física; Galileu e Newton alteraram a sua trajetória da
Física; Freud revolucionou a Psicologia Clínica; Kurt Lewin considerado o pai
da Psicologia Contemporânea, por desenvolver a “teoria do campo”, quando se
deu conta que os nazis faziam a vida impraticável aos indivíduos que não
partilhassem as mesmas opiniões; todo o seu trabalho e esforço constituiu um
referencial básico que norteou a Psicologia Social e perdura até à data.

Na década de 40/50 deu-se uma grande importância à influência dos grupos e


da pertença, abordando as relações entre diversos traços da personalidade e
comportamento social. O autor Festinger, no final dos anos 50 propõe uma
teoria da dissonância cognitiva em que existe incoerência entre duas cognições
face aos comportamentos e pensamentos. O autor Fritz Heider, associado à
“Psicologia Ingénua”, em que se estuda como os indivíduos dão sentido à sua
vida tentando controlar de alguma forma o meio.

É nos anos 60 que a Psicologia Social amplia e os psicólogos sociais incidem a


atenção em determinadas áreas: porque se obedece à autoridade; como se faz
os julgamentos sobre determinados comportamentos dos indivíduos; como se
negoceia e resolve os conflitos; como há atração e se faz amizades; porque os
espetadores não ajudam em situações de acidentes.

Os autores Wallace Lembert e Robert Gardener dedicaram-se ao estudo


psicossocial do bilinguismo, preconceito, agressão e mudanças de atitudes.
Taylor e Moghaddam mencionam que a Psicologia Social Europeia ultrapassou
a norte americana através da investigação de influência do grupo minoritário;
controlo social e aspetos sociopsicológicos de economia política e da ideologia.

No decorrer dos anos 70, após continuarem na mesma linha de pensamento os


estudos desenvolvidos anteriormente, introduziram novos tópicos: a atribuição,
papéis sexuais, discriminação sexual, psicologia ambiental. Contudo nos anos

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70 e 80 atravessaram duas tendências: a influencia crescente da perspetiva


cognitiva e a enfase na vertente aplicada. É através desta perspetiva que
procura-se saber como “opera o raciocínio, e como é integrada a informação pela
mente humana em processos sociais complexos, como por exemplo, nos
estereótipos e nas decisões de grupo” (Neto, 1998, p. 74).

Muitos são os investigadores que focam a sua atenção no impacto emocional e


nas complicadas interações entre o afeto e conhecimento. Efetivamente, além
da sua influência na perspetiva cognitiva os psicólogos estão atentos à cultura
enquanto fator que incide no comportamento social, devido à multiculturalidade
e à mobilidade internacional de indivíduos.

4. A Psicologia Social como Ciência:

O ser humano é um ser bio cultural dado que o seu comportamento resulta de
forças biológicas e da influência do meio sociocultural. Os Psicólogos Sociais
que recorrendo também aos conhecimentos da sociologia e antropologia, que
vão procurar identificar de que modo a sociedade, através das suas normas,
regras e padrões de comportamento, marca o individuo. Entende-se por Ciência
“um corpo organizado de conhecimentos que advêm da observação objetiva e
de testagem sistemática” (Neto, 1998, p. 81). Existem várias ciências e todas
elas são pertinentes para o estudo dos indivíduos e grupos; as ciências naturais
que se focam na observação da natureza e do mundo físico (química, botânica,
zoologia); as ciências comportamentais são as que incidem nas observações
sobre atividades, operações mentais, e respostas dos seres humanos e animais
(antropologia, psicologia, sociologia, etologia); e as ciências sociais são as que
estudam as atividades das pessoas integradas em comunidade (economia,
ciência política). A Teoria é “descrição de relações entre símbolos que
representam a realidade” (Neto, 1998, p. 81).

4.1) Investigação Científica:

Alguns autores referem que método científico implica uma observação


sistemática; um desenvolvimento de teorias que explanem essas mesmas
observações; o uso de teorias que originam prognósticos sobre as observações

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futuras; a existência de revisão quando necessárias, ou seja, quando a teoria


não está correta. As Teorias são o que ajuda a explicar o que é observável; as
observações especificas são consideradas de indução lógica. A Teoria deve ser
capaz de fazer prognóstico de um determinado fenómeno com ajuda da lógica
dedutiva, ou seja, teoria que gera hipóteses que são possíveis de serem
testadas. Após serem testadas são consideradas teorias com evidencias, por
seu turno, quando as teorias são negativas elas são consideradas contra a
teoria.

Segundo o autor Karl Popper a teoria pode ser refutada quando a teoria não
pode ser provada como verídica.

Para que uma Teoria seja boa, tem de apresentar-se com cinco qualidades,
contudo, ela depende do número de qualidades: (1) a teoria deve ter
concordância com os dados conhecidos; (2) deve ser compreensiva; (3) deve
ser parcimoniosa; (4) dever ser testada; (5) ter um valor heurístico; e (6) ter um
valor aplicado ou útil para colocar em prática. Para os psicólogos sociais é
importante que haja uma diversidade de teorias uma vez que cada uma delas
poderá ajudar as pessoas a aumentar a compreensão, a sensibilização e a ter
novos modos de se comportar.

(Ver 4.2; 4.3; e 4.4 – Resumos de Aida)

5. TEORIAS EM PSICOLOGIA SOCIAL

As Teorias de uma maneira geral existem para explicar de modo adequado


todos os fenómenos sociais, sendo que umas são mais gerais e outras mais
especificas. Segundo o investigador terá de ter por base a orientação teórica
de forma a colocar as questões adequadas ao comportamento que está a
estudar.

5.1. Teoria da Aprendizagem:

É durante a segunda metade do século XIX que há uma independência das


diversas ciências da Mãe Filosofia, onde cada uma desenvolve as suas

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particularidades. Nasce a Psicologia (em 1879 com Wundt) que vai contribuir
para o desenvolvimento das diferentes teorias sobre aprendizagem.

A Aprendizagem está imperativamente associada à história do Homem,


desde a sua construção e evolução como um Ser Social que tem capacidades
de adaptação a novas situações. Os Seres Humanos têm uma grande
capacidade de se adaptarem a diversos contextos, circunstâncias e desafios,
ou seja, como o comportamento do Homem é flexível, baseia-se no que é
aprendido através da experiência e não por padrões de comportamentos
inatos. Porém, a aprendizagem é manipulada pela experiência, ou seja, a
natureza não nos dá algo que é tendência fixa para aprender, nós enquanto
Seres Humanos herdamos a capacidade inata para aprender.

Existem duas formas de aprendizagem, a habituação e a observação do


comportamento dos outros. A habituação alude a um conjunto estímulos
que quando ouvidos pelo sujeito tornam-se familiares e acabam por não surtir
qualquer efeito após serem repetidos diversas vezes, exemplo: um ruído
provocado por uma porta; no que diz respeito à observação do
comportamento dos outros, sublinha-se o fato de um individuo aprender
algo imitando o outro, ou seja, tomemos como exemplo uma criança que vê
o pai a bater na mãe recorrentemente, vai achar que é normal, e a criança na
fase adulta também ira refletir esses comportamentos com a sua
companheira, pois foi o que aprendeu.

Watson foi quem concebeu a Teoria da Aprendizagem por associações do


tipo comportamentalista: em que a associação de estímulos (E) provenientes
do meio provoca uma resposta (R) do organismo, que leva a uma repetição,
havendo uma associação mental, surge assim a aprendizagem.

Pavlov, foi quem descobriu os princípios básicos do Condicionamento


Clássico – o autor estudou a ação da saliva dos cães enquanto estes
comiam, sendo que a salivação +e um comportamento reflexo que ajuda na
digestão, mas os cães salivavam antes de provarem a comida. Tal fato
poderia ser explicado porque associariam a comida aos tratadores que
levavam a comida. Porem, Pavlov achara que seria possível ensinar os cães
a salivar como resposta a novos estímulos, como o som da campainha. O

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estímulo que provoca ao cão um comportamento reflexo chama-se estímulo


incondicionado (EI); o comportamento que é provocado pelo estímulo
incondicionado é a resposta incondicionada (RI). Tomemos como exemplo o
som da campainha, é um estímulo neutro, que após várias sessões o som-
estímulo adquire influencia no comportamento, passando a estímulo
condicionado (EC), e o comportamento reflexo desencadeado pelo estímulo
condicionado torna-se resposta condicionada (RC). Assim, segundo Pavlov
existia dois tipos de ocorrências: aquando ao som da campainha deve
aparecer sempre a apresentação da comida. Podemos dizer, que este
estudo, pode ajudar a compreender as nossas emoções, atitudes face a
situações, como a morte ou a doença.

Skinner, menciona que os nossos comportamentos são adquiridos e


conservados através do Condicionamento Operante, e não pelo
condicionamento clássico. Chama-se Condicionamento Operante porque o
organismo reage sobre o meio, sendo que qualquer ação é seguida por
consequência ou acontecimento. A título de exemplo: o aumento ou a
diminuição de um comportamento acontecer tem influência pela recompensa
ou punição; sendo este voluntário e não um reflexo como no condicionamento
clássico. O pioneiro dos primeiros estudos do Condicionamento Operante foi
Thorndike, que coloca gatos esfomeados em caixas e colocou comida do
lado de fora da caixa; os gatos só teriam acesso à comida se batessem com
a pata na alavanca. O autor opta por chamar de Condicionamento
Instrumental, uma vez que a resposta é instrumental pois conduz a uma
busca depois do efeito – acesso à comida. Assim, pode-se dizer que a
relação entre o estímulo que é a comida e a resposta que é bater na alavanca,
é o princípio da lei do efeito, em que as consequências (efeito) de uma dada
resposta determinará a tendência do estímulo para produzir essa resposta
novamente, que pode ser fortalecida ou enfraquecida.

Ambos os autores se referem ao mesmo fenómeno dando nomes diferentes:


em que o organismo tem um comportamento e que se segue uma
consequência que poderá ser um reforço (positivo – recompensa/negativo –
remoção de um estímulo) ou uma punição.

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Alberto Bandura – estuda a aprendizagem social por observação ou


aprendizagem por modelação, desenvolveu um conjunto de experiências para
fundamentar a sua teoria. Segundo o autor, a experiência dos outros pode
conduzir à aquisição de novos comportamentos, levando a um individuo a
adquirir novos comportamentos a partir da observação de um modelo (mãe-
filha). A este processo designa-se de modelação que envolve a observação, a
imitação, e a integração que o indivíduo aprende um comportamento que a
integrar o seu quadro de respostas. Esta teoria processa-se através da
socialização que decorre desde o nascimento até à morte do individuo. Como
referência temos uma criança que aprende a escrever ou a falar por imitação
direta cos comportamentos dos seus adultos (pais, professores). Um
comportamento também poderá ser adquirido através de um conjunto de
instruções, como aprender a utilizar no programa do computador.

O autor Bandura, salienta a pertinência do reforço neste tipo de aprendizagem,


fazendo distinção do reforço direto e de vicariante. O reforço direto refere-se
em que o comportamento desejado o sujeito é reforçado (quando uma criança
pinta bem o desenho ouve um elogio, é reforçada); o reforço vicariante é o
reforço recebido pelo modelo (a criança observa um adulto a ter um determinado
comportamento é recompensado, estimulando a criança imitar esse mesmo
comportamento).

Tem-se verificado fatores que influenciam a aprendizagem, de modo, a serem


mais suscetíveis a tornarem-se modelos. Os fatores identificados são: a
proximidade afetiva do modelo (dos agentes socializadores: pais, professores,
grupos de pertença e referência); a idade, o género e o estatuto (a importância
na fase da puberdade/adolescência com o grupo de pares, é uma fase em que
assumem muitos comportamentos dos elementos do grupo de pertença –
conformismo). Contudo, para além das caraterísticas são especialmente
importantes a atenção (a influência da aprendizagem por modelação depende
do nível da atenção e concentração com que o modelo é observado); e a
motivação que quanto mais interessado o individuo estiver em aprender, melhor
observará e imitará o modelo). O comportamento humano manifesta-se através
de um conjunto de aprendizagens: aprendizagem motora, de discriminação,
verbal, de conceitos e de resolução de problemas.

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5.2. Teorias Cognitivas

Teoria da Forma/Gestaltismo – esta Teoria advém de um grupo de psicólogos –


Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Kohler (1887-1967) e Kurt Koffka
(1886-1941) é baseada na ideia da compreensão da totalidade para que haja a
perceção das partes. Esta escola de psicologia surge na Áustria e Alemanha no
início do século XX, rejeitando os princípios básicos do elementalista e
estruturalista de Wundt. O “Gestalt” é de origem alemã que significa “forma” ou
“figura”. O seu objeto de estudo é a perceção e o pensamento como totalidade,
e o método é a introspeção e experimental. Assim, o ponto de partida para a
compreensão de um comportamento é a perceção, entre o estímulo que o meio
fornece e a resposta do indivíduo encontra a perceção. Os Gestaltistas propõem
que existe uma tendência em juntar os elementos em busca de uma forma
chamada de campo psicológico; para garantir a boa forma, devem ser tidos em
consideração alguns princípios: proximidade, continuidade, semelhança,
complementação e figura-fundo.

5.3. Teoria dos Papéis

Esta Teoria baseia-se nos conceitos da Psicologia Social e da Sociologia, em


que a maior parte da atividade diária de um indivíduo atua em categorias
socialmente definidas na realidade social. Um indivíduo tem um conjunto de
deveres, direitos, normas e comportamentos que deve cumprir socialmente.
Tomemos como exemplo: um indivíduo é marido, empresário, joga futebol, é
escuteiro, é filho e pai. O comportamento do individuo é específico em
determinado contexto baseando-se na posição social. Também é conhecida
esta teoria por teoria dos papéis teatrais abordada por George Herbert Mead,
Talcott Parsons, Ralph Linton, Jacob L. Moreno e Georg Simmel. Os conceitos
abordados pelo autor Mead são o self e a mente.

Esta teoria alude o indivíduo como “um produto da sociedade em que vive e
como um individuo que contribui para essa sociedade” (…) “dando mais atenção
a amplas redes sociais” (Neto, 1998, p. 99). A teoria dos Papéis sustenta-se no
comportamento social: abordando a divisão do trabalho em que se deteta na
sociedade através da interação entre as posições a que se chama de papéis;

15
Psicologia Social (41052)

nesses mesmos papéis sociais estão incluídos formas de comportamento


consideradas apropriadas e permitidas vigentes pelas normas sociais, que
determinam as expetativas; estas papéis são ocupados por indivíduos ou atores;
quando os indivíduos assumem um papel incorrem em conformar-se com as
normas e os que não cumprirem sujeitam-se a serem punidos. Existem vários
conflitos de papéis que correspondem entre dois ou mais status (ex: uma
adolescente que engravida, vai lidar com o papel de adolescente e de ser mãe).
A existência de conflitos de papéis só se deve quando há diferenças entre os
diversos papéis que o indivíduo ocupa socialmente. Assim, pode-se dizer que
existe o conflito interpapel “quando uma pessoa ocupa diversas posições com
exigências incompatíveis”; e o conflito intrapapel “quando um só papel tem
expectativas que são incompatíveis” (Neto, 1998, p. 99 e 100).

16
Psicologia Social (41052)

IV ATITUDES – MODELOS DE ATITUDES E FORMAÇÃO DE


ATITUDES (337-366)

A nível da linguagem do senso comum, confunde-se atitude com


comportamento. A atitude é uma tendência para responder a um objeto social
(situação, pessoa, acontecimento, de modo favorável ou desfavorável). A atitude
não é, portanto, um comportamento, mas uma predisposição, uma tendência
relativamente estável para uma pessoa se comportar de determinada maneira.
As atitudes não são diretamente observáveis: inferem-se dos comportamentos.
Também é possível, a partir de um comportamento, inferir a atitude que esteve
na sua origem. Assim, se soubermos que uma pessoa tem uma atitude negativa
face ao tabaco, podemos prever a forma como se comportará face a uma
campanha publicitária antitabágica, ou como reagirá se fumarmos junto a ela. De
igual modo, as reações de uma pessoa face a uma situação podem permitir
prever a atitude que lhe está subjacente.

Os psicólogos sociais estudam de que forma as nossas atitudes, pensamentos,


emoções e ações são influenciadas pelos outros indivíduos. Recorrendo a um
exemplo: quando um indivíduo visita uma mesquita, enquanto turista, vai ter de
se enquadrar nos mesmos moldes, tirar os sapatos e percorrer o espaço em
silêncio, tendo o mesmo comportamento que as outras pessoas que lá estão.

As atitudes são pertinentes para a Psicologia Social uma vez que influenciam
comportamentos, através da atração entre as pessoas (escolha de amigos,
namorados); a discriminação que podemos praticar em relação a determinados
grupos sociais e raciais; as escolhas que fazemos quando compramos produtos
e bens de consumo; a forma como determinamos as prioridades na nossa vida;
quando decidimos em que partido votar nas eleições; ou a maneira como se
escolhe o filme X em vez do filme Y. Podemos dizer que uma atitude consiste
numa avaliação de outras pessoas, de objetos e de temas, avaliação essa que,
não só envolve a cognição como também envolve sentimentos, e
comportamentos. A atitude de um individuo acerca dos sem-abrigo inclui
pensamentos sobre as causas dessa situação social; essa atitude foi aprendida,
ou seja, não se nasce com esta atitude sobre os sem-abrigo, sobre a política, ou
sobre a organização da sociedade. A atitude é duradoura e não passageira como
17
Psicologia Social (41052)

as emoções ou o estado de espírito. Por exemplo, ao longo da vida um indivíduo


pode manter a atitude face ao aborto, ao sexo oposto, à opção partidária, ou à
proteção do ambiente.

Construídas ao longo da vida, mas com especial incidência na infância e


adolescência, as atitudes envolvem diferentes componentes interligados. Nas
atitudes pode-se distinguir três componentes: a cognitiva – conjunto de
ideias, informações e crenças que se têm sobre um dado objeto social (pessoas,
grupo, objeto); afetiva – conjunto de valores, emoções, positivas ou negativas,
relativamente ao objeto social (pessoa, grupo, objeto); comportamental –
conjunto de reações de respostas face ao objeto social (pessoa, grupo, objeto),
esta disposição para agir de determinada maneira depende das crenças e dos
valores que se têm relativamente ao objeto social.

Efetivamente as atitudes podem desempenhar várias funções: ter uma


função avaliativa, ou seja, apoiar o processo de tomada de decisões; de controlar
os comportamentos; ter uma função de adaptabilidade à realidade; e
contribuição para a personalidade (identidade), determinando a forma como
agimos ou pensamos.

Existem três modelos de atitudes:

(1) numa abordagem tradicional temos o modelo tripartido clássico, proposto


por Rosenberg e Hovland 1(1960) considera-se que estão na base das atitudes
três componentes: afetiva (emoções associadas ao objeto das atitudes);
cognitiva (crenças associadas ao objeto da atitude); e comportamental
(informação em relação a comportamentos passados ou a intenções
comportamentais). Importa mencionar que em várias situações a presença de
um componente implica a presença dos outros.

(2) numa abordagem unidimensional, uma atitude vai representar a resposta


avaliativa (afeto), que pode ser favorável ou desfavorável, em relação ao objeto
de atitude. Desta forma, a atitude constitui a resposta que se situa o objeto em
posição do continuum de avaliação. De acordo com o autor Thurstone (1931)
selecionou um modelo de atitude de apenas um componente, em que define a

1
NETO. (1998), “Psicologia Social”, Vol I, Lisboa: Universidade Aberta, p. 339

18
Psicologia Social (41052)

atitude como sendo um “afeto a favor ou contra um objeto psicológico2”. Os


autores Fishbein e Ajzen (1975) sustentam que a unidimensionalidade das
atitudes apoia-se nos três componentes (afetiva, comportamental e cognitiva),
mas de forma separada e que poderão estar interligadas ou não.

(3) modelo tripartido revisto, por Zanna e Rempel, abordam uma atitude
através da tripla composição das atitudes que são compostas pelas
crenças/sentimentos (componente afetiva); formas de agir (componente
comportamental) e crenças informacionais – o indivíduo acredita em
determinados fatos de uma situação, e em crenças avaliativas – bem/mal,
justo/injusto (componente cognitiva).

Nesta perspetiva os autores acreditam que as atitudes são consideradas o


resultado da avaliação das crenças relativas ao objeto.

As atitudes apresentam-se com características: a direção (existem dois pólos


opostos ou se gosta ou não se gosta, ou concorda ou discorda sobre algum
assunto, fenómenos, tema); a intensidade (refere-se à forma como estamos a
favor ou contra algo, e que é representada por uma escala neutralmente,
moderadamente ou totalmente); a extremidade (apesar do individuo identificar a
sua opinião a favor ou contra ele reforça ainda mais, ex: concordo totalmente
com a lei do aborto/discordo totalmente com adoção de crianças por casais do
mesmo sexo) e a acessibilidade (“a solidez da associação entre o objeto de
atitude e a sua avaliação afetiva3”).

As atitudes podem apresentar-se três funções: ajuda a definir os grupos


sociais, ou seja, o que leva um grupo a sentir-se unido são as mesmas atitudes
partilhadas face a algum grupo; ajudam a estabelecer as nossas identidades,
isto é, as atitudes proporcionam a auto-representação, a forma de agir, sentir,
estar; e ajudam no nosso pensamento e comportamento,

2
NETO. (1998), “Psicologia Social”, Vol I, Lisboa: Universidade Aberta, p. 340.
3
NETO. (1998), “Psicologia Social”, Vol I, Lisboa: Universidade Aberta, p. 343.

19
Psicologia Social (41052)

Em suma, podemos aludir que as atitudes são basicamente as predisposições


que adquirimos e que são estáveis, que proporcionam a que o individuo reaja de
forma positiva ou negativa face a um objeto social.

Formação das Atitudes:


As atitudes são aprendidas no processo de socialização, no meio onde o sujeito
está inserido socialmente. Desta feita, são vários os agentes sociais
responsáveis pela formação e modificação das atitudes: os pais e a restante
família (irmãos, avós, tios, primos), a escola (professor-aluno), o grupo de pares
(escuteiros, catequese, futebol, escola) e os mass media (rádio, tv, cinema,
redes sociais). Na família são os parentes mais próximos, nomeadamente, os
pais, que exercem um papel fundamental na formação das primeiras atitudes
nas crianças. São modelos que estas imitam e com os quais se procuram
identificar. Para além dos professores e dos grupos de pares, os meios de
comunicação social têm também uma influência na formação de novas atitudes
ou no reforço das já existentes. Apesar da relativa estabilidade das atitudes,
estas podem mudar ao longo da vida por influência dos diferentes agentes de
socialização.

Importa referir que uma forma de criar as atitudes é através da “modelação”. A


aprendizagem de comportamentos sociais e das atitudes é feita frequentemente
por observação dos outros indivíduos que são tidos em alta consideração pela
família, pelo grupo, pela comunidade e pela sociedade em que o indivíduo está
inserido. Quando age de acordo com uma atitude que a sociedade aprecia, o
indivíduo recebe recompensas e sente-se estimulado a manter esse
comportamento. Por vezes o individuo vive situações de conflito, pois mesmo
dentro da mesma sociedade recebe informações contraditórias. Tal exemplo é
quando os pais de um adolescente desaconselham que fume, mas o grupo de
amigos pode tentar convencer para que o mesmo tome essa atitude, tornando-
se independente da sua família.

Uma pergunta pertinente é saber como se formam as atitudes? Uma vez que
não nascemos com atitudes, elas são recomendadas aos indivíduos desde a sua
tenra idade. A criança aprende com os pais e com todos os elementos que a

20
Psicologia Social (41052)

rodeiam a conhecer (e a reconhecer) os objetos, aprende o que deve sentir


relativamente aos objetos, como deve atuar em relação a eles. Tal é, que em
relação aos répteis, a criança aprende a distingui-los de outros animais e
interioriza o medo. Os seus pais ensinam aos filhos pequenos que se deve temer
as cobras e aranhas, que se deve fugir ou evitar esses mesmos animais.
Contudo, se um filho assiste a um jogo de futebol pela TV e vê que o pai aplaude
os desportistas de um clube e profere injurias aos jogadores de outro clube, a
criança poderá/tenderá a adotar esse comportamento semelhante ao do seu pai,
ou seja, vai funcionar como um modelo.

Teorias de Aprendizagem através:

1- Condicionamento Clássico – Estímulo neutro emparelhado com


estimulo incondicional, provocando uma resposta semelhante que dá um
estimulo condicionado (ex: os cidadãos de nacionalidade inglesa são na
sua grande maioria conotados como sendo frios, hostis e mal humorados;
enquanto que os cidadãos portugueses são vistos como muito
tradicionais, com raízes vincadas, acolhedores, simpáticos).
2- Condicionamento Operante / aprendizagem instrumental – dão
especial importância no papel do reforço, ou seja, quando o indivíduo
recebe uma aprovação social pelas suas atitudes estas serão reforçada
(ex: um jovem é aplaudido pelo seu desempenho numa competição de
patinagem, estes aplausos vão dar mais motivação para o mesmo
trabalhar para obter mais e melhores resultados).
3- Aprendizagem Social – (Albert Bandura) – menciona que aprendemos
novas respostas e novas atitudes através da observação e imitação do
comportamento dos outros que o rodeiam (ex: as crianças tem por
tendência a imitar os seus pais, e quando observam que os seus pais têm
recompensas pelos seus comportamentos, a tendência das crianças é
assumir os mesmos comportamentos; assim como os pais, também são
agentes de socialização os mass media, que reforçam atitudes ou as que
já existiam).
4- Aprendizagem por experiência direta – existe uma mudança quando o
individuo experiencia por si próprio algo, ou situação (ex: um individuo que
acha que os País de Gales é um país agradável pelo seu clima, o individuo

21
Psicologia Social (41052)

que esteja a experienciar uma estadia percebe que o clima não é igual a
Portugal, é mais frio, húmido, escuro).
5- Observação do próprio comportamento – (Teoria da Auto-Perceção) –
esta teoria refere-se à nossa perceção relativamente às próprias atitudes,
emoções e estados internos. (ex: quando estamos nervosos por causa da
matéria, questionamos a professora acerca da matéria, mas não
conseguimos expor corretamente por estarmos nervosos/ansiosos).

MEDIDAS DAS ATITUDES (367-387)


O psicólogo social tem como objetivo não só saber o que são as atitudes, como
se formam, mas também medi-las, avaliar e a sua direção e intensidade.

A escala de atitudes constitui uma técnica a que os psicólogos sociais recorrem


para conhecer as atitudes e opiniões das pessoas. São constituídas por
questionários formados por um conjunto de afirmações relativamente às quais
as pessoas registam o seu posicionamento. As escalas de atitudes podem se
divididas em duas categorias: direta – Escala de Likert e diferenciador
semântico; e indireta – técnicas projetivas.

A Psicologia utiliza três formas de medir as atitudes: medidas através da auto-


descritivas que se baseia em escalas (concordo, concordo fortemente e não
concordo), medidas fisiológicas que se verificam através das reações corporais
(como pupilas dilatadas), e as técnicas observacionais (observar no local).

As escalas mais utilizadas são as escalas de Lickert e de Thurstone, sendo


que o objetivo é o mesmo: conhecer as atitudes; distinguem-se pelo modo como
se regista a concordância face às afirmações.

MEDIDAS DIRETAS:

✓ A Escala de Lickert é descrita da seguinte forma: face a uma


afirmação, as pessoas têm de registar o seu nível de concordância
que pode variar numa escala de cinco valores (concordo totalmente;
concordo; não concordo nem discordo; discordo; e discordo
totalmente).

22
Psicologia Social (41052)

✓ A Escala de Thurstone face a uma afirmação, as pessoas manifestam


a sua concordância assinalando verdadeiro ou falso ou a sua
discordância assinalando com um “X”.
✓ Análise de conteúdos das comunicações – Thomas e Znaniecki, o
método consistiu em aferir os diferentes tipos de documentos escritos
através de uma grande amostra de coleção de cartas.
✓ Escala de Avaliação com um item – é um método económico que
recorre em medir uma atitude recorrendo a uma escala de diversos
graus (ex: sondagens de opinião).
✓ Escala de Distância Social – está relacionada com a diferença entre
grupos da sociedade, tais como a noção de etnia, sexualidade,
género.
✓ Escala de Guttman – escala cumulativa, o padrão para decidir é de
acordo a desacordo ou sim/não; a medição é feita com uma medição
única (unidimensional) face ao respetivo fenómeno social; os itens da
sua escala podem ser ordenados de forma diferente, sendo que o que
para uma população pode funcionar para outra poderá não funcionar.
✓ Diferenciador Semântico – esta escala possibilita medir diferentes
atitudes com a mesma escala, é uma técnica de medida da
significação psicológica; é confiável, versátil.

MEDIDAS INDIRETAS:
✓ Técnicas Fisiológicas – é a forma de como as atividades psicológicas
produzem respostas fisiológicas (ex: é o estudo do sistema nervoso,
consoante as várias respostas, na pele na pupila, que podem traduzir-
se em respostas positivas ou negativas consoante o estímulo).
✓ Comportamentais – Mehrabian refere que o comportamento é
consistente com as atitudes, uma vez que o individuo demonstra uma
atitude positiva/ de agrado face aos homossexuais, prossupondo de
que é possível medir as atitudes à distância, através da distância
ocular, tensão corporal.
✓ Técnicas Projetivas - envolvem estímulos ambíguos, sendo que o
indivíduo projeta a sua personalidade, atitude, opinião e autoconceito;
23
Psicologia Social (41052)

apresenta vantagens em que pressupõem respostas socialmente


aceites; quanto à desvantagem apresenta-se com dificuldade em
medir a intensidade.

ATITUDES E COMPORTAMENTO (391-407)


As atitudes e os comportamentos fazem parte do quotidiano dos seres humanos,
na relação entre os indivíduos em sociedade. A atitude apresenta-se com uma
tripla composição em que é composta pelas crenças, sentimentos (afetos),
tendências de ação.

O modelo usualmente acolhido da relação atitude/comportamento é referenciado


pela Teoria da Ação Refletida, desenvolvida pelos autores Fishbein e Ajzen
(1975), que foi mais tarde denominada de Teoria do Comportamento
Planificado. Esta teoria lida com as atitudes não na relação a indivíduos,
instituições ou objetos, mas às ações. Esta teoria tenta prever o sentido de voto
dos indivíduos tendo em consideração a sua atitude (ex: comportamentos de
consumo, voto, saúde, recreativos e organizacionais).

Na sua forma original, a teoria permite que o comportamento é determinado por


uma intenção de realizar algo, que é influenciada pela atitude (quer seja positiva
ou negativa) e pela norma subjetiva (pressão social para desempenhar o
comportamento). Esta norma subjetiva surge a partir da perceção que cada
indivíduo tem sobre os comportamentos que são tidos como lícitos ou ilícitos de
acordo com os grupos socias. As consequências antecipadas do não
desempenho ou do mesmo, afetam tanto a atitude como a norma subjetiva.
Quanto à atitude, as crenças que determinam um comportamento dão origem a
resultados que se relacionam com as avaliações dos resultados. Quanto às
normas subjetivas, as crenças que temos sobre os outros esperarem que seja o
nosso comportamento está relacionado com a nossa motivação para agir de
forma com a opinião dos mesmos.

Esta teoria é experienciada e simples e tem grande valor explicativo, tendo sido
aplicada com sucesso no comportamento de consumo, saúde. É aplicável
apenas ao comportamento voluntario, por o individuo controlar o seu
comportamento.

24
Psicologia Social (41052)

No que respeita à Teoria do Comportamento Planeado, os autores elaboraram


esta que incluiu os comportamentos que não estavam alcançados tendo em
consideração o controlo voluntário, em que as ações estão sujeitas a
interferências quer a nível externo quer interno. Tendo em conta a teoria anterior,
o que ressalta face à nova, é o acrescento da variável controlo comportamental
percebido, ou seja, é a crença que o indivíduo tem sobre a dificuldade ou
facilidade de desempenhar um comportamento. Desta forma, a nova variável
influencia a intenção, atitude e a norma subjetiva assim como o comportamento.

https://edif.blogs.sapo.pt/98218.html (pág. 357) (pesquisa)

25
Psicologia Social (41052)

“O pensamento é por natureza comunicativo. Considerar o pensamento na


cabeça de um só é privá-lo de tudo o que o torna vivo e importante para as
pessoas”4.

Serge Moscovici

V. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

A forma de compreender a realidade social é estudar a sua representação social,


como forma de conhecimento social. Primeiramente, numa tentativa de
definição, as representações sociais são uma construção mental em relação a
um objeto, um conjunto de informações, conhecimentos, ideias e atributos
relativos ao mesmo. Seguem-se por sua vez, os sentimentos que acompanham
a tomada de consciência, assim, os elementos afetivos são considerados
constituintes. Daremos destaque a alguns autores, relativamente ao conceito de
representações sociais. Para o autor JODELET o conceito representação social
é “uma forma de conhecimento socialmente elaborado e partilhado, com uma
orientação prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a
um conjunto social” (NETO, 1998, p. 438). Porém, o autor MOSCOVICI refere
“uma representação social define-se como a elaboração de um objeto social por
uma comunidade” (NETO, 1998, p. 439).

De acordo com o autor DOISE, a teoria das representações sociais foi construída
sobre “noções de sistema e de meta-sistema antes de estar na moda o
pensamento sistémico” (NETO, 1998, p. 423). Por seu turno, o autor
MOSCOVICI concluiu que no pensamento infantil e no do adulto, intervêm dois
sistemas cognitivos que estão na base das suas características “vemos em ação
dois sistemas cognitivos, um que procede por associações, inclusões,
discriminações, deduções, isto é, o sistema operatório, e o outro que controla,
verifica, seleciona com ajuda de regras, sejam elas lógicas ou não; trata-se de
uma espécie de meta-sistema que trabalha de novo a matéria produzida pelo
primeiro” (NETO, 1998, p. 424).

Considerando a perspetiva do autor MOSCOVICI, encara as representações


sociais como sinónimo de conhecimento fenómenos culturais, sociais que são

4
https://www.scielo.br/j/paideia/a/v5LHqbWSsgTcDDy3XhrYVRv

26
Psicologia Social (41052)

elaborados e transformados através da linguagem e trocas comunicacionais.


Desta feita, as representações concebem-se nesta troca nas relações dos atores
sociais. Nesta perspetiva, as representações sociais não são simplesmente um
reflexo da realidade, elas dependem de uma organização que ao mesmo tempo
depende de fatores como a natureza, dificuldades, contexto, lugar do indivíduo
e sua história. As representações funcionam como um sistema de interpretação
da realidade que articula as relações das pessoas com o meio; também deve ser
considerada como um sistema de pré-decodificação da realidade por determinar
conjunto de antecipações e expetativas associadas.

Podemos dizer que os fenómenos de representações sociais vão além dos


conceitos de opinião, atitude e preconceitos.

Para o autor MOSCOVICI a comunicação social desempenha um papel


fundamental no que respeita à construção do comportamento. Segundo o autor
a comunicação tem um papel fundamental na formação das opiniões, atitudes e
modelos sociais. Desta forma, destaca estratégias de comunicação que ajudam
na perpetuação das representações, que são: a difusão, a propagação, e a
propaganda. A propaganda é a forma mais centralizada de comunicação; a
propagação é referida como um exercício comunicativo dependente da crença;
e a difusão, sendo um género menos limitativo e aberto à variedade de opiniões.
A teoria das representações de MOSCOVICI para melhor compreensão passa
por três fases: a formação de um núcleo figurativo, a implementação de um
instrumento de categorização e a atividade modelo que auxilia a conduta par a
dar sentido aos acontecimentos. Porém, estas fases decorrem de dois processos
que especificam a formação das representações: processos de objetivação
(refere-se como se organizam os elementos referentes da representação e como
se tornam expressões de uma realidade vista como natural) e de ancoragem
(este processo precede à objetivação, levando a sua sequência, transformando
o que não é familiar em familiar).

Em suma, por um lado a teoria das representações sociais apresenta-se como


sendo uma teoria das formas do conhecimento que existe na sociedade, em que
incide especialmente sobre alguns conceitos e ideias fixas tradicionais, que são
do senso comum e partilhadas no quotidiano através das interações sociais em
cada realidade social; por outro lado, a teoria das representações trata de uma
27
Psicologia Social (41052)

determinada forma em criar ou apreender as realidades representacionais, que


são vivenciadas através do processo de comunicação, práticas sociais,
experiencia vivida e diferentes modos de mediação e intervenção. Como se sabe
as representações sociais surgem com o decorrer das interações sociais, que
posteriormente surgem representações sociais a partir de relações
interpessoais.

https://www.scielo.br/j/prc/a/B8xn3m8C4y3SfMqSTkw3RPc/?format=pdf&lang=
pt (só para consultar representações sociais e preconceito – pág. 2)

ANÁLISE PSICOSSOCIOLÓGICA DA REPRESENTAÇÃO


SOCIAL

A representação social deverá ser abordada como um produto e como processo


de “uma elaboração psicológica e social do real”. (Neto, 1998, p. 451). Segundo
a autora Jodelet5 alude que os “processos e produtos são indissociáveis, só se
pode descobrir a obra nos seus efeitos, estudar os mecanismos na base da sua
produção” (Neto, 1998, p. 451).

São vários os autores, inclusive Moscovici que mencionam que a


representação-produto surge como um universo de opiniões/crenças, contudo
o autor considera este universo sob três aspetos: a informação (relaciona-se com
o fato de o individuo ter conhecimento sobre determinado objeto de
representação, e que podem diferir de acordo com o grau de instrução dos
indivíduos), a atitude (refere-se à orientação quer positiva quer negativa
nomeadamente ao objeto de representação; sendo que a atitude tem dupla
função: reguladora pois orienta o comportamento, e energética porque transmite
uma certa orientação e troca com o social com uma intensidade emocional e
afetiva), e o campo de representação (é um conteúdo restrito sobre um aspeto
especifico do objeto de representação). Estes elementos constitutivos da
representação social referem-se ao seu conteúdo e sentido, permitindo por sua
vez, fazer distinção de opiniões, estereótipos e atitudes face a um objeto social.
Quanto à representação-processo o autor Moscovici dá especial destaque de

5
Ver figura 1. Campo de estudos da Representação Social – adaptado da autora Jodelet.

28
Psicologia Social (41052)

que forma a realidade social transforma um conhecimento em representação e


de que forma esta representação transforma a realidade social, ou seja, as
representações são explicações da realidade, que são criadas mediantes dois
processos: a objetivação e a ancoragem. Estes dois mecanismos transformam
o que é estranho em familiar, transferindo a forma como comparamos e
interpretamos e posteriormente reproduzir sobre as coisas que se vêm e se
tocam e controlamos. Por um lado, a objetivação ajuda a compreender sobre
como os mecanismos sociais intrometem-se na construção das representações
sociais e, por sua vez, como interfere nas interações sociais. No processo de
objetivação dá-se em simultâneo a classificação/seleção, a formação de um
núcleo figurativo e a naturalização. A seleção refere-se como responsável por
catalogar informações alusivas ao objeto a representar, a seleção não é arbitrária
sofrendo influências de regras socioculturais e normativos; o núcleo figurativo
tem por objetivo a inserção de uma qualidade icónica de uma ideia, Moscovici
define “um complexo de imagens que reproduzem visivelmente um complexo de
ideias”; a naturalização o indivíduo assimila os elementos do núcleo figurativo,
ou seja, esquece que outrora foram estranhos, sendo que as imagens tornam-
se elementos da realidade. A ancoragem define-se como uma atividade onde
introduz o estranho e desconhecido em categorias que são familiares ao
individuo; transformando o significante em signo e o objeto é representado.

https://www.serie-estudos.ucdb.br/serie-estudos/article/view/746/679 (só para


consultar - Ancoragem e Objetivação)

Figura 1. Campo de estudos


da Representação Social –
adaptado da autora Jodelet.

29
Psicologia Social (41052)

ÁREAS DE INVESTIGAÇÃO (p. 465)


1- Campo social ou no campo educativo;
2- Questões clássicas da psicologia: cognição, conflito e negociação,
relações interpessoais e inter-grupais;
3- Contextos sociais reais: estudo da teoria cientifica como a psicanálise;
os papéis sociais como os da mulher, da criança; de bens da sociedade
como a cultura; suportes de valores sociais como a saúde, a doença
mental ou o corpo.

VARIAÇÕES SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS (p. 469-481)


Representações sociais:
educação,
teoria do núcleo central,
emigração,

30
Psicologia Social (41052)

VI. PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÃO (p. 493-583)

DEFINIÇÕES: PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E GRUPOS


MINORITÁRIOS:
Nós classificamos as pessoas segundo os grupos a que pertencem: idade
(novos/velhos); género (masculino/feminino); opção política (esquerda/direita),
entre outros. Porém, atribuímos aos grupos a que não pertencemos,
características homogéneas. Assim, considera-se que “os jovens são
irresponsáveis”, “os velhos são conservadores e lentos”.
Efetivamente estas ideias, generalizadas que construímos sobre grupos
sociais, os estereótipos, persistem no tempo, isto é, tendem a manter-se, dado
que integramos nossos quadros de interpretação as experiências e informações
que obtemos. Frequentemente o estereótipo conduz aos preconceitos, que lida
geralmente com ideias preconcebidas sobre a idade, o sexo, o grupo étnico a
que se pertence, com a diferença significativa que envolve atitudes de
discriminação. Os estereótipos consistem na atribuição de características
psicológicas gerais a grandes grupos. O estereótipo corresponde
essencialmente à componente cognitiva do preconceito. Ao adquirir um
estereótipo, uma pessoa tem admiração e amor por todos os indivíduos que se
comportam da forma que ele espera; ou então sente raiva ou rancor quando
alguém “quebra” inesperadamente o comportamento previamente estabelecido
como o correto ou adequado; esta é a componente afetiva. Assim, um indivíduo
com ideias estereotipadas pode ficar surpreendido se um idoso manifesto ideias
muito revolucionárias ou vanguardistas; ou pode ficar chocado se uma jovem
prova pelo seu comportamento ser um conformista com ideias retrógradas.
Os preconceitos são atitudes que se formam muitas vezes antes do
contato direto com um grupo ou uma pessoa. Decorrem de um estereótipo,
sendo geralmente negativos (o preconceito é, em princípio, positivo quando se
refere ao grupo a que pertencemos). Segundo o autor ALLPORT “note-se que
muito embora o preconceito possa ter uma tonalidade positiva ou negativa, no
Ocidental tem assumido sobretudo conotações negativas” (Neto, 1998, p. 507).

31
Psicologia Social (41052)

Ao termo preconceito está associada a diferenciação dos termos


endogrupo e exogrupo que não só contribui para a promoção do preconceito
como é um aspeto para desenvolver comportamentos discriminatórios. Os
indivíduos identificam-se com os grupos com os quais pertencem, interiorizando
os seus autoconceitos. Por norma avaliam o seu próprio grupo de maneira
positiva, aderem a uma estratégia que favorece à proteção do autoconceito
(endogrupo). A esta avaliação positiva do próprio grupo é relacionada à
avaliação negativa dos grupos externos (exogrupo) “estes grupos psicológicos
definidos em função dos termos “nós” e “eles” são o produto de um dos
processos mais fundamentais do ser humano, a categorização” (Neto, 1998, p.
507).
Podemos dizer que os preconceitos originam “comportamentos e ações
que podem ter sérias implicações não só na vida quotidiana como no bem-estar
da sociedade”. (Neto, 1998, p. 508). Desencadeiam comportamentos
extremados e resistem à mudança, aos argumentos lógicos. Muitos estudos
efetuados, demonstram que os preconceitos levam geralmente, à discriminação,
ou seja, a um comportamento negativo que afeta, os membros de um grupo por
pertencerem a esse grupo. A discriminação é um conceito que se refere tratar
o outro de forma diferente, é apresentado por indivíduos preconceituosos e
expressa-se através da manifestação de padrões de preferência que podem ser
do mesmo grupo ou a rejeição de outros membros dos grupos externos. Existem
alguns preconceitos, tais como: preconceitos raciais que se referem a ideia de
superioridade de uma raça sobre a outra, que conduziu à segregação racial em
escolas dos E.U.A até à década de 60 e ao regime de Apartheid na África do
Sul; os preconceitos profissionais que se verificam em afirmações como “as
mulheres desempenham muito melhor determinadas tarefas do que os homens,
como as de enfermeiras de idosos, e de doentes terminais”, ou “os homens
desempenham melhores determinadas tarefas profissionais, podendo ser
administradores de empresas, de bancos, deputados, presidentes”. Muito destes
preconceitos em relação ao desempenho de profissões por parte de homens e
mulheres foram abalados com o alistamento de soldados durante a II Guerra
Mundial; muitos trabalhos que eram tradicionalmente destinados aos homens
foram atribuídos a mulheres. Desta forma, muitos dos países envolvidos nesse
conflito passou a ser vulgar mulheres trabalharem como operárias da construção

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Psicologia Social (41052)

civil, mecânicas, carpinteiras, condutoras de veículos pesados, ou seja, em


tarefas que eram apenas destinadas para os homens; os preconceitos
religiosos que se exprimem em afirmações como: “o meu credo religioso é
bastante superior ao daquele grupo de pessoas que têm uma religião primitiva e
atrasada”, podem levar à proibição de casamentos entre indivíduos de credos
opostos. Os conceitos preconceito e discriminação podem não estar associados,
mas são interdependentes, contudo, os conceitos preconceito e estereótipo
associam-se à discriminação.
O etnocentrismo é um preconceito segundo o qual o país, a cultura a
que se pertence é superior a todos os outros. O preconceito baseado na cor da
pele designa-se por racismo e o preconceito baseado no género sexual designa-
se por sexismo; o preconceito contra pessoas que gostam do mesmo sexo
designam-se por homossexuais ou lésbicas; é bastante real na nossa sociedade,
havendo indivíduos que associam a homossexualidade a questões da SIDA, ou
seja, permanece um “sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que
exalta heterossexualidade e crítica e estigmatiza qualquer forma não
heterossexual de comportamento ou de identidade” (Neto, 1998, p. 520), assim
se define o heterossexismo; outro conceito que começou a ser mais
recentemente abordado pelos psicólogos sociais foi o idadismo, ou seja, é a
forma como os jovens percecionam as pessoas com mais idade, variando de
acordo com as sociedades, estrutura familiar, tradições, grau de contato e
modernização; tendencialmente estão associados aos mesmos as
características físicas, traços de personalidade, e de papéis. Um outro conceito
pertinente são as minorias ou grupo minoritário que são grupos socialmente
excluídos por questões étnicas, de origem, financeiras, género ou sexualidade.
Não esquecendo que também existem outras formas de preconceito e
discriminação como os imigrantes, os deficientes, os gordos, as pessoas de
baixa estatura.
Importa questionar: como surgem estas atitudes radicais/extremas? As
teorias cognitivistas defendem que elas surgem como uma resposta inevitável a
um mundo socialmente cada vez mais complexo. Neste caso, existem tantas
pessoas e uma tal variedade de situações e de comportamentos que a maneira
mais eficaz de lidar com esta complexidade é a de classificar as pessoas e os
comportamentos em tipos e em categorias bem definidas, de forma, a que as

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Psicologia Social (41052)

pessoas que recorrem aos estereótipos possam funcionar e responder


rapidamente a situações inesperadas com este tipo de ideias feitas.
Definições:

Preconceito – atitude que parte de um pré-julgamento, na maior parte das vezes


negativo, sobre um objeto social (pessoas, situações ou grupos). É uma atitude
sem fundamento, constituída na maior parte das vezes, sem haver contato direto
com o objeto, que pode conduzir à discriminação.

Estereótipo – conjunto de ideias simplificadas, rígidas que resultam de


generalizações sobre pessoas, grupos ou situações. É um esquema cognitivo
que condensa um conjunto de caraterísticas; pode ser positivo ou negativo.

A FACE MUTANTE DO PRECONCEITO (p. 525-528)

As formas mais flagrantes e tradicionais do racismo têm-se


verificado mais recentemente. Contudo, existem novas e mais
modernas formas que expressão o preconceito e o racismo,
intensificando muitos comportamentos quotidianos de
discriminação, no âmbito interpessoal e institucional. Desta forma, estas novas
formas que expressão o preconceito e o racismo geram na vertente da psicologia
social várias teorizações, as chamadas teorias do racismo moderno, que são
do racismo simbólico, do racismo aversivo, racismo ambivalente, racismo
regressivo entre outros.
Numa perspetiva histórica pode-se analisar que o preconceito já existe desde
a antiguidade greco-romana, apesar de não ser um preconceito racial por não
existir divisões raciais; este apresenta-se um preconceito cultural contra
escravos. Ao longo dos anos até aos nossos dias temos denotado avanços quer
em Direitos Humanos como também em promover estratégias de resolução dos
conflitos entre grupos (intergrupais). Infelizmente, o preconceito está longe de
ser resolvido, no século XX nas décadas 40 e 50 houve mudanças sociais
(Declaração dos Direitos Humanos) e políticas (abolição do regime nazista),
porém estão longe de terminar com o preconceito, racismo ou discriminação.

34
Psicologia Social (41052)

Efetivamente, as perceções do preconceito e do racismo são pertinentes nas


sociedades com os quais os partidos nacionalistas estão a ganhar mais voz,
traduzindo-se em discursos racistas, xenófobos e que se têm tornado cada vez
mais poderosos em alguns países da Europa6.
De acordo com ALLPORT, o preconceito define-se como uma atitude hostil
contra os indivíduos apenas porque pertencem a um grupo desvalorizado
socialmente. São vários os tipos de preconceito assim como de grupos
minoritários – as mulheres ou sexismo, os velhos ou idadismo, os homossexuais
/ homofobia, pessoas gordas, com deficiência, ou contra os imigrantes. De todas
as formas existentes de preconceito existe um em particular, o preconceito racial
ou étnico. Segundo o autor ALLPORT, preconceito étnico define-se como uma
antipatia dirigida a um grupo ou a um individuo por ele fazer parte de um outro
grupo. Quanto ao racismo este é considerado diferente do preconceito, é mais
do que uma atitude, é um processo de exclusão e discriminação contra
indivíduos ou uma categoria social; por exemplo, um individuo de cor negra
(marca física externa) vai implicar no outro (individuo ou grupo) como sendo
agressivo ou alegre (uma marca cultural interna). O racismo é diferente do
preconceito, porque este apoia-se numa crença na distinção entre grupos, em
que envolve as crenças naturais em que existe diferenças nos grupos, porque
há ideia de que os grupos são diferentes; também aparece a nível cultural,
institucional e individual.
➢ Racismo Simbólico e Racismo Moderno:
O termo racismo moderno surge nos anos 70 através do conceito de racismo
simbólico, sendo que este representa uma forma de resistência a todas as
mudanças no status quo das relações verificadas no E.U.A no pós Declaração
dos Direitos civis. O conceito racismo simbólico alude a sentimentos e crenças
de que os indivíduos negros violavam os valores tradicionais instituídos aos
americanos do individualismo e também da ética protestante (ética do trabalho,
disciplina, sucesso). No que se refere ao racismo moderno baseia-se num
conjunto de crenças e avaliações, em que sugere que a discriminação é algo do
passado pois os negros podem atualmente competir e ter as coisas que desejam;
os indivíduos negros estão a ganhar estatuto e a subir economicamente em

6
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/12/racismo-a-portuguesa-ganha-forca-com-ultradireita-
e-orgulho-do-passado-colonial.shtml

35
Psicologia Social (41052)

setores importantes da sociedade; as instituições dão-lhes demasiada atenção


que não merecem. Este tipo de racismo moderno é mais expressivo e mais
abrangente.
➢ Racismo Aversivo:
Os autores Gaertner e Dovidio fazem distinção de duas formas de racismo. De
acordo com um estudo realizado nos anos 70 por Joel Kovel, os autores Gaertner
e Dovidio afirmaram que existia racistas dominantes (ou flagrantes) e racistas
aversivos. A teoria do racismo aversivo ilustra que as atitudes dos indivíduos
de raça branca para com os negros são ambivalentes nem são favoráveis nem
negativas. Este tipo de atitude racial verificava-se em americanos brancos com
fortes valores igualitários e que expressavam um tipo particular de ambivalência,
que resultaram do conflito entre os sentimentos e as crenças que estavam
associadas a valores igualitários e aos sentimentos negativos respetivamente
aos negros. Resumindo, o racismo aversivo é por um lado assimilação de um
sistema de valores iguais e por outro a vivencia de sentimentos e crenças
negativas em relação aos negros relacionados com dois mecanismos: (1) ao
contexto racista que a própria sociedade lhes impõe; (2) mecanismos de
categorização e o grupo viés endogrupal que facilitaram no desenvolvimento de
estereótipos e preconceitos. Porém, os sentimentos negativos face aos negros
que se relacionavam com ambivalência são de ódio, mas sim de ansiedade ou
nervosismo, proporcionando que os indivíduos evitem o contato.
➢ Racismo Ambivalente:
De acordo com os autores Katz, Wackenhut e Hass, os sentimentos e atitudes
que os indivíduos tomam são ambivalentes tendo repercussões nas interações
sociais e consequências na vida social. Segundo os mesmos, a ambivalência é
uma característica que sobressai nas relações raciais dos indivíduos norte-
americanos brancos, assim, os autores consideraram que os valores
determinam as atitudes e os comportamentos, havendo um suposto conflito.
Primeiramente, a valorização da democracia e do igualitarismo, e seguidamente,
o individualismo que carateriza-se pela expressão de liberdade pessoal,
autoconfiança, realização. Assim sendo ambas as orientações explanadas
poderão vir a suscitar ambivalência de sentimentos e atitudes. Desta feita, ao
aderir a valores de igualdade e humanismo os indivíduos brancos sentem
simpatia e afeição pelos negros que estão em condições mais desfavorecidas.

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Psicologia Social (41052)

Os sentimentos e atitudes de ambivalência geram tensão e desconforto


psicológico para os indivíduos, para reduzir estes sentimentos os indivíduos
teriam de radicalizar as suas atitudes raciais – “response amplification”
(amplificação). A ambivalência, segundo os autores Katz e Hass, estruturam-se
com dois tipos de atitudes: pró (produzem afetos positivos face aos negros:
simpatia, piedade) e anti-negros (crenças e valores negativos associadas aos
negros). Resumindo, a teoria do racismo ambivalente e a teoria do racismo
aversivo são semelhantes por manterem uma imagem pública de pessoas
igualitárias e não preconceituosas.
➢ Racismo Regressivo:
O racismo regressivo verifica-se quando os indivíduos brancos demonstram
sentimos mais igualitários para com os indivíduos negros, mais do que no
passado. Contudo, em situações menos favoráveis há tendencialmente um
revés para regressar aos antigos pensamentos e comportamentos com os
indivíduos de minoria.
Em suma, como podemos verificar existem novas teorias sobre o racismo, que
são por vezes disfarçadas e indiretas, caraterizando por uma intenção de não
ferir a norma da igualdade dos indivíduos. Não se quer dizer que com isto, as
tradicionais formas de racismo deixaram de existir ou que não tem tanta
importância. Apenas se tencionou explanar uma nova forma de expressão de
racismo que procura de uma forma mais harmoniosa conviver com a norma anti-
racista. Contudo, estas novas formas de racismo são tao perigosas e nefastas
quanto as que são consideradas mais abertas e flagrantes, pois são mais difíceis
de serem detetadas e de ser combatidas. Importa mencionar as suas diversas
expressões de racismo e a capacidade de transformar e propagar-se.

BIBLIOGRAFIA:

PEREIRA, Miguel Batista. – “Modernidade, Racismo e Ética Pós-Convencional:


https://www.uc.pt/fluc/dfci/public_/publicacoes/modernidade_ [visualizado a 08-
06-2022];

BLACKWELL, Maylei. NABER, Nadine – “Interseccionalidade em uma era de


globalização: As implicações da Conferencia Mundial contra o racismo para
práticas feministas transnacionais”:

37
Psicologia Social (41052)

https://www.scielo.br/j/ref/a/ggH7nksZZQQ7TbKddg65hQc/?lang=pt
[visualizado a 08-06-2022];

WEBGRAFIA:

“Podemos ser racistas sem dar conta?”:


https://visao.sapo.pt/exame/analise/analise-inconsistenciaproblematica/2020-
06-30-podemos-ser-racistas-sem-dar-conta/

GÉNESE DO PRECONCEITO E DA
DISCRIMINAÇÃO:

Ao longo dos últimos anos temos vindo a verificar uma


luta pelos direitos de grupos minoritários, que estão a ter
avanços em mudanças, nomeadamente, na legislação que impede
manifestações de comportamentos e atitudes discriminatórios. Exemplo disso é
a legislação portuguesa, Lei nº 134/99 de 28 de agosto7 que recentemente foi
alterada e derivou a Lei nº 93/2017 de 23 de agosto8, assim, como a existência
de organizações e associações (ex: APAV) com cariz intervencionista junto de
vítimas, UAVMD- Unidade de Apoio à Vítima Imigrante e de Discriminação Racial
ou Étnica que desenvolve juntamente com o Alto Comissariado para as
migrações apoio a imigrantes.

Segundo o autor Allport formulou seis níveis tendo em conta as causas sociais
mais abrangentes de preconceito até às mais especificas: abordagens históricas,
abordagens socioculturais, abordagens situacionais, abordagens
psicodinâmicas e abordagens cognitivas.

✓ Abordagem Histórica – o autor Allport menciona que é importante


compreender as raízes históricas sobre a génese do preconceito; ele
aparece nos E.U.A com a escravatura, também na África do Sul com o
Apartheid; ou na Irlanda do Norte a nível religioso. Também, é de salientar
o preconceito contra as mulheres que são vistas como um grupo

7
Lei nº 134/99, de 28 de Agosto – “Proíbe discriminações no exercício de direitos”:
https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=230&tabela=leis&so_miolo=
8
Lei nº 93/2017, de 23 de Agosto: “Estabelece o regime jurídico da prevenção, da proibição e do combate
à discriminação, em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território de origem”:
https://dre.pt/dre/detalhe/lei/93-2017-108038372

38
Psicologia Social (41052)

tipicamente frágil, exemplos são nas profissões: existindo profissões que


são consideradas tipicamente masculinas (ex: condutora de veículos
pesados, empresária). Existem as teorias com fatores económicos,
aludida por Karl Marx que defendia a classe dominante de forma a
justificar a exploração existente da classe trabalhadora.
✓ Abordagens Socioculturais – na opinião de sociólogos e antropólogos
existem impactos socioculturais quer no preconceito quer na
discriminação, que são abordados de diversas perspetivas: pelo aumento
da urbanização (cada vez mais pessoas com estatuto e nível económico-
financeiro mudam-se para as cidades); o aumento da densidade
populacional (é devido à melhor qualidade de vida, oportunidades de
trabalho qualificado); a mobilidade de certos grupos, competição para
empregos (quem tem melhores qualificações académicas terá melhor
futuro profissional); mudanças no papel ( mãe, funcionária, escuteira);
função da família.
✓ Abordagens Situacionais – são verificadas através do meio onde o
individuo preconceituoso se insere. Sabe-se que o preconceito tal como
outra atitude é adquirida através da modelação e reforço direto quando
em tenra idade, dessa forma, uma criança poderá ter uma atitude
preconceituosa porque aprendeu com as pessoas adultas que teria de
reagir dessa forma. Também importa referir que os estereótipos são
formas preconceituosas de demonstrar o que pensamos sobre um
individuo ou grupo porque estão incutidas socialmente (ex: os negros são
fortes, alegres). Contudo, os preconceitos podem advir de qualquer faixa
etária desde os jovens como os mais velhos.
✓ Abordagens Psicodinâmicas – está intimamente relacionada com o
preconceito como sendo este o resultado de conflitos pessoais e de falta
de adaptações interiores das pessoas com preconceitos. Desta forma,
segundo o autor Pettigrew refere que existe um momento de
externalização, ou seja, o indivíduo tem atitudes de frustração e agressão
perante as outras pessoas, tais exemplos como o preconceito contra
minorias étnicas, tornando-se, desta forma, vítimas de algo que não tem
culpa (hipótese do bode expiatório).

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Psicologia Social (41052)

Segundo o autor Adorno e seus colaboradores, desenvolveram um estudo sobre


a “Personalidade Autoritária” que procuravam examinar as diferentes atitudes,
nomeadamente, sobre preconceitos contra grupos minoritários, e quais os traços
de personalidade. Tal estudo demonstrou fortes incidências sobre sujeitos com
fortes preconceitos contra grupos minoritários (judeus), e também demonstraram
que os sujeitos tinham uma personalidade autoritária com “mentes fechadas” e
pensamentos rígidos que estão socialmente integrados (clichés).

✓ Abordagens Cognitivas – nesta perspetiva sugere-se que os


preconceitos resultam de uma abordagem cognitivista, ou seja, a forma
como o individuo processa a informação que vê na realidade social, pode
modificar e ter repercussões na origem do preconceito. Desta forma,
existem quatro aspetos de informação para a compreensão subjetiva do
preconceito: categorização social; estereótipos; processos atribucionais e
crenças sociais.
• Categorização Social – o indivíduo divide o mundo em dois: “eles”
e “nós”, em que os indivíduos que se identificam com o nosso grupo
chama-se “endogrupo” (nós), e os indivíduos pertencentes a outro
grupo são “exogrupo” (eles).
• Estereótipos – referem-se apenas a imagens da cabeça do
individuo que criamos acerca de um grupo ou individuo.
Estereótipos estão nas nossas memórias a longo prazo; são
generalizações sobre categorias de pessoas (ex: grupos étnicos,
sexuais). Conceitos pertinentes é “correlação ilusória”, que significa
uma associação de caraterísticas a um determinado grupo ou
indivíduo de etnia (ex: os brasileiros são falsos); “profecia de auto-
realização” é quando um individuo pertencente a um outro grupo
reage de determinada forma conforma as nossas expetativas.
• Processos Atribucionais - os indivíduos são motivados para
descobrir quais as causas das situações e entender o seu
ambiente, referindo que as relações que os indivíduos estabelecem
com o seu meio ambiente tem influência sobre a forma como nos
comportamos no quotidiano. Nesta atribuição de causas, dá-se
especial importância à “rotulagem enviesada” e ao “erro irrevogável

40
Psicologia Social (41052)

da atribuição” – são interpretações distorcidas do comportamento


dos indivíduos do exogrupo.
• Crenças Sociais – são impostas pela sociedade e “mass media”,
dando conta que o individuo só conseguirá ter algo se for, tiver e
ser de determinado partido, peso, postura (ex: as jovens só
conseguem trabalhar na televisão em novelas se tiverem X de peso
e Y de beleza); introduzindo assim, um conceito de “mundo justo”
que só conseguiu algo porque fez aquilo.

QUADRO INTEGRADOR DE TEORIAS (554-555)

De acordo com o autor Duckitt tendo em conta a abordagem cognitivista é


possível elaborar um quadro integrador dos processos causais do preconceito,
que são quatro: (1) são mencionados processos psicológicos universais
assentes na tendência do homem para o preconceito; (2) as relações dinâmicas
intergrupais dão conta da tendência para os padrões normativos do preconceito;
(3) mecanismos de transmissão como as dinâmicas intergrupais e padrões de
preconceito são transmitidos socialmente aos indivíduos desses grupos; (4)
dimensões de dissemelhanças individuais delimitam a suscetibilidade dos
indivíduos relativamente ao preconceito, e dessa forma modificam o choque dos
mecanismos de transmissão social sobre os indivíduos.

CONSEQUÊNCIAS DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO


(559-561)

Na atualidade verificamos os efeitos do racismo: na Alemanha com Hitler devido


à superioridade da raça ariana, o chefe máximo, Hitler, mandou executar,
torturar, e humilhar milhões de judeus; também, recentemente, face à guerra
entre a Rússia contra a Ucrânia, verificamos atitudes de racismo, preconceito e
discriminação para com um povo pacifico.

O autor Allport refere quais as consequências de uma vítima de preconceito:


agressão para com o outro grupo (exogrupo); militância; afastamento e

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Psicologia Social (41052)

passividade, sendo que estas reções vinham categorizadas de duas formas:


intrapunitivas (auto-culpabildade) e extrapunitivas (a culpa é dos outros).

Segundo os autores Tajfel e Turner acrescentam mais três tipos de respostas


em que os indivíduos vítimas: poderão aceitar a situação com alguma indiferença
e resignação; podem se libertar através da ajuda da sociedade, ou através da
colaboração conjunta de forma a melhorar o estatuto do grupo. Os autores
avanças com cinco estádios de forma a mostrar como os grupos tratam com o
preconceito: relações grupais estratificadas; emergência de uma ideologia
individualista; mobilidade social individual, tomada de consciência e relações
intergrupais competitivos.

CONSEQUÊNCIAS DO RACISMO SOBRE O RACISTA:

Podemos dizer que as consequências relativas ao racismo, abarca tanto os


indivíduos envolvidos como vítimas e agressores, como todos os restantes que
ficam de plateia assistindo.

O autor Dennis, refere que há dificuldade nas pessoas em sair de uma rede
social racista, tornando-se sempre influenciadas, evidenciando efeitos de
socialização racial: a ignorâncias das outras pessoas, o desenvolvimento de uma
consciência psicológica dupla e confusão mental, e a conformidade ao grupo.
Quanto ao autor Karp refere-se a uma explicação sobre o racismo que se
sustenta numa perspetiva psicodinâmica, em que o racismo é um mecanismo de
defesa devido ao passado; que tem repercussões como a culpa, vergonha, mal-
estar.

REDUÇÃO DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO (565-582)

Existem três tipos de técnicas de tomada de consciência para reduzirem a


discriminação e o preconceito, que são as:

Consciencialização de ser oprimido – é a tomada de consciência da pertença a


um grupo minoritário, tal como: mulheres, idosos, migrantes, negros; a tomada
de consciência é importante para que o individuo que se sente oprimido, se sinta

42
Psicologia Social (41052)

capaz junto do grupo ser o elo de empoderamento para ultrapassar todas as


vicissitudes do sistema social;

Aprender a fazer distinções – a importância de termos consciência de que o outro


é igual a nós, é importante para aceitação, relações sociais saudáveis e cordiais.

Assimilador cultural – é importante que os indivíduos aceitem as pessoas quer


seja com diferenças raciais, religiosas, culturais, pois ajuda aos julgamentos
mais assertivos de um grupo ou cultura diferente da nossa.

A HIPÓTESE DO CONTATO (569-573)

Esta hipótese sugere o contacto entre grupos de forma a proporcionar condições


para reduzir o preconceito entre os vários elementos dos grupos maioritários e
minoritários. Este princípio afirma que em condições apropriadas, havendo
contato intergrupal seria uma maneira de reduzir o preconceito, e questões de
estereótipos, discriminação entre grupos rivais e proporcionar melhores relações
entre grupos. Nas últimas décadas a hipótese de contato tem ajudado a reduzir
o preconceito e também, o racismo incluindo o preconceito contras pessoas
portadoras de deficiência (física e mental), mulheres, pessoas LGTB.

Para que haja uma redução de preconceito seria necessário reunir quatro
condições: igualdade de estatuto social, contato íntimo, cooperação intergrupal
e normas sociais que favorecem a igualdade.

https://stringfixer.com/pt/Contact_hypothesis (definição de cada condição escrita


acima)

PARA ALÉM DA HIPÓTESE DO CONTATO (573-574)

CONTATO VICARIANTE ATRAVÉS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO


SOCIAL (574-575)

O contato não necessita necessariamente que seja físico ou presencial, assim,


o meio de comunicação tem um papel pertinente de retratar os preconceitos e
estereótipos, uma vez que são uma grande fonte de socialização juntos das
pessoas.

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Psicologia Social (41052)

Bibliografia

NETO, Félix (1998). “Psicologia Social”. V 1. Lisboa: Universidade Aberta.

WEBGRAFIA:

Legislação:
Lei nº 134/99, de 28 de Agosto – “Proíbe discriminações no exercício de direitos”:
https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=230&tabela=leis&s
o_miolo=
Lei nº 93/2017, de 23 de Agosto: “Estabelece o regime jurídico da prevenção,
da proibição e do combate à discriminação, em razão da origem racial e étnica,
cor, nacionalidade, ascendência e território de origem”:

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Psicologia Social (41052)

https://dre.pt/dre/detalhe/lei/93-2017-108038372 [visualizado a 08-06-2022];

___________________________________________
https://www.amnistia.pt/tematica/discriminacao/ (DISCRIMINAÇÃO FEMININA)

https://ec.europa.eu/social/main.jsp?langId=pt&catId=158 (DISCRIMINAÇÃO NO LOCAL DE


TRABALHO)

https://www.spn.pt/Artigo/contra-a-discriminacao-racial-21-mar (CONTRA A DISCRIMINAÇÃO


RACIAL)

https://ilga-portugal.pt/associacao/porque-existimos/ (INTERVENÇÃO LÉSBICA, GAY,


BISSEXUAL, TRANS E INTERSEXO).

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/12/racismo-a-portuguesa-ganha-
forca-com-ultradireita-e-orgulho-do-passado-colonial.shtml (

https://www.apav.pt/uavmd/index.php/pt/intervencao/discriminacao (Definição:
DISCRIMINAÇÃO)

https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/22539/1/ICS_JVala_Racismos_LAN.pdf
(racismo)

file:///C:/Users/Asus/Downloads/Estere%C3%B3tipos,%20preconceitos%20e%
20discrimina%C3%A7%C3%A3o%20RI.pdf

https://socientifica.com.br/preconceito-estereotipo-e-discriminacao-diferencas-
e-semelhancas/

45
Psicologia Social (41052)

https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/preconceito-a-etica-e-os-
estereotipos-irracionais.htm

https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/sociologia/etnocentrismo-estereotipos-
estigmas-preconceito-discriminacao.htm

46

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