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Psicologia Social

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Apontamentos de: Leontina Agostinho

E-mail: leontina.a@gmail.com

Data: 2006/2007

Livro: Psicologia Social - Volume I

Autor: Félix Neto

Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O
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O Homem é por natureza um animal social; um indivíduo que é associal
naturalmente e não de modo acidental, ou está abaixo da nossa consideração ou é
mais que um ser humano… A sociedade é algo por natureza que precede o
indivíduo. Alguém que não possa ter a vida comum ou que seja tão auto-suficiente
que não necessite de tal, e por isso não participe na sociedade, ou é uma besta ou é
um deus.

Aristóteles
I. DOMÍNIO DA PSICOLOGIA SOCIAL

1. Introdução
Nós os ser humanos somos animais sociais. Vivemos em grupos, sociedades e culturas.
Organizamos as nossas vidas em relação com outros seres humanos e somos
influenciados pela história, pelas instituições e pelas actividades.

O estudo humano é também encarado por outras disciplinas como sejam a sociologia, a
antropologia, a história, a economia, as ciências sociais e a biologia. A focalização dos
problemas e as metodologias utilizadas diferenciam as diversas ciências do
comportamento.

2. O que é a Psicologia Social?


Há várias formas de responder a esta questão. Uma delas é avançar uma definição
formal do campo; outra é fazer uma lista pormenorizada de tópicos investigados pelos
psicólogos sociais; outra é comparar e contrastar a psicologia social com campos
conexos, ainda uma outra é situar os seus níveis de análise.

2.1 – Tentativa de Definição:


Definir formalmente a grande maioria dos domínios científicos é uma tarefa complexa.
No caso da Psicologia Social, as dificuldades ampliam-se devido a duas ordens de
factores:
a) A diversidade do domínio;
b) A sua rápida taxa de mudança.

Allport, afirma que a Psicologia Social tenta “compreender” e explicar como os


pensamentos, sentimentos e comportamentos dos indivíduos são influenciados pela
presença actual, imaginada ou implicada de outros”.
Pode-se efectivamente conceber a psicologia social em termos entradas para o
indivíduo e de saídas do indivíduo.
Entradas, são as presenças actuais imaginadas ou implicadas de outras pessoas;
Saídas, são os pensamentos, sentimentos e comportamentos do indivíduo.

Se a presença de outras pessoas influencia pensamentos, sentimentos e


comportamentos, na definição de Allport transparece também que as outras pessoas
podem influenciar-nos mesmo sem estarem fisicamente presentes. A presença
imaginada ou implicada de outras pessoas afecta o comportamento.

Nos últimos 100 anos ocorreram duas mudanças importantes.

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Em primeiro lugar, há cerca de 100 anos os cientistas começaram a aplicar o método
científico à compreensão do comportamento social humano.
Um segundo desenvolvimento trouxe a psicologia para a cena: as modernas viagens e as
comunicações de massa multiplicaram as relações sociais e as potencialidades para a
interacção social. As várias tentativas para nos influenciarem quotidianamente através
da televisão, rádio, cinema, revistas, jornais, etc. tornaram a psicologia social
fundamental.

2.2 – Tópicos da Psicologia Social:


Uma outra forma de responder á questão “O que é a Psicologia?” é descrever os tópicos
que ocupam os psicólogos sociais. A Psicologia Social cobre um vasto domínio
existindo muitos tópicos que são abarcados por ela.
Alguns exemplos de tópicos:

۩ Agressão ۩ Interacção Social


۩ Ajuda ۩ Investigação intercultural
۩ Assuntos de Disciplina ۩ Investigação em lei e crime
۩ Atitudes e mudanças de atitude ۩ Investigação em leis de personalidade
۩ Atracção e Afiliação ۩ Locus de controlo
۩ Atribuição ۩ Papéis sexuais e diferenças sexuais
۩ Auto - Apresentação ۩ percepção da pessoa
۩ Autoconsciência ۩ Personalidade e diferenças individuais
۩ Comparação Social ۩ Processos cognitivos
۩ Comunicação não-verbal ۩ Psicologia populacional e ambiental
۩ Conformidade e Condescendência ۩ Questões étnicas e raciais
۩ Desenvolvimento Social e da Personalidade ۩ Questões metodológicas
۩ Dissonância ۩ Realização
۩ Distância interpessoal e superpovoamento ۩ Satisfação vital
۩ Equidade, Justiça distributiva e troca social ۩ Stress, emoção e activação
۩ Negociação e formação de alianças ۩ Vítimas
۩ Influência Social

Os psicólogos sociais abordam uma ampla gama de comportamentos humanos, essa


lista tem vindo a aumentar cada vez mais.
Apesar dos psicológicos sociais reconhecerem a existência de uma perspectiva ampla na
sua disciplina os seus focos de interesse na investigação limitam-se a pontos restritos

As áreas de comportamento humano podem ser divididas em três grupos: fisiológico,


cognitivo-atitudial, e de realização.

Num grupo submetido a uma determinada situação podem-se medir as mudanças


fisiológicas ocorridas nos seus elementos (pressão arterial, temperatura, adrenalina,
etc.).
Os psicólogos sociais têm utilizado estas medidas no estudo de contextos sociais. Por
exemplo, para se mostrar que o sobrepovoamento é activante, têm-se comparado as
mudanças psicológicas que ocorrem em grupos muito grandes com grupos mais
pequenos.

Os psicólogos sociais têm-se ocupado tradicionalmente das atitudes das pessoas, das
opiniões, das crenças, dos valores, os sentimentos, das representações sociais. Este
domínio inclui, entre outros, estudos sobre as intenções de voto nas eleições, os

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estereótipos atribuídos a outros grupos, o impacto dos valores parentais nos filhos, a
conformidade no sexo masculino ou feminino.

Um outro domínio de medida é constituído pela habilidade das pessoas em realizar


tarefas. Exp. estudos que avaliam a realização após uma experiência agradável ou
desagradável, os efeitos da pressão grupal sobre a produtividade do individuo, resolução
de problemas em grupo sobre diferentes estilos de liderança. Os estudos clássicos sobre
os efeitos da presença das outras pessoas recorrem muitas vezes a medidas de
realização.

2.3 – Relações com outros campos:


A Psicologia Social mantém uma relação próxima com vários campos, em especial com
a Sociologia e a Psicologia.

Para Moscovici (1984) a Psicologia Social distingue-se quer da Sociologia, quer da


Psicologia pela mesma característica. As últimas duas põem em relação um sujeito
(individual ou colectivo, segundo o caso) e um objecto (meio, estimulo).
Na Psicologia Social a relação dual (sujeito-objecto) é substituída por uma relação
ternária: sujeito individual (ego), sujeito social (alter) e objecto (físico, social,
imaginário ou real).
Há assim uma mediação constante entre o sujeito e o objecto que se traduz em
modificações do pensamento e do comportamento de cada um.

A Psicologia é o estudo científico do indivíduo e do comportamento individual.


Habitualmente os psicólogos abordam o indivíduo fora do contexto social ocupando-se
de vários processos internos (percepção, aprendizagem, memória, inteligência,
motivação e emoção).

A Sociologia é o estudo científico da sociedade humana. Os Sociólogos analisam o


comportamento humano num contexto mais amplo. Abordam tópicos tais como
instituições sociais (família, religião, politica), estratificação dentro da sociedade
(classes sociais, raça e etnicidade, papeis sexuais), e a estrutura de unidades sociais
(grupos, redes, organizações formais, burocracias). Dão maior importância às normas
que guiam o comportamento, resultado de pressões externas.

A Psicologia Social estabelece a ponte entre a psicologia e a sociologia.


Psicólogos e Sociólogos contribuem para o comportamento psicossocial. Os psicólogos
sociais para explicar o comportamento recorrem a factores individuais e sociológicos.
Os processos intrapsíquicos desempenham um papel determinante no comportamento
de uma pessoa, o contexto social desse comportamento fornece-lhe os estímulos sociais,
motivos e objectivos.

São vários os factores que influenciam as actividades de um indivíduo em relação a


outros, pois o comportamento social resulta de diferentes causas:
1) O comportamento e as características das outras pessoas;
2) A cognição social (pensamento, atitudes, recordações acerca das pessoas que nos
rodeiam);
3) Variáveis ecológicas (influências directas ou indirectas do meio físico);
4) Contexto sócio-cultural em que ocorre o comportamento social;
5) Aspectos da nossa natureza biológica relevante para o comportamento social.

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(Geogoudi e Rosnow, 1985)

2.4 – Níveis de Análise:


Existem várias psicologias sociais diferentes e múltiplas explicações para as
experiências humanas e as acções.
Encontram-se duas variantes principais em psicologia social, a Psicologia Social
Sociológica (PSS) e a Psicologia Social Psicológica (PSP).
Ambas têm áreas em comum mas também diferem na focalização central e nos métodos
de investigação.

Diferenças entre:

Psicologia Social Psicológica: Psicologia Social Sociológica:

→ A focalização central é no indivíduo; → A focalização central é no grupo ou


→ Os investigadores tentam na sociedade;
compreender o comportamento social → Os investigadores tentam
mediante a análise de estímulos compreender o comportamento social
imediatos, estados psicológicos e traços mediante a análise de variáveis
de personalidade; societais, tais como estatuto social,
→ O objectivo principal da investigação papéis sociais e normas sociais;
é a predição do comportamento; → O objectivo principal da investigação
→ A experimentação é o principal é a descrição do comportamento;
método de investigação. → Inquéritos e observação participante
são os principais métodos de
investigação.

São várias as razões para se proceder ao estudo das duas psicologia sociais.

A primeira é que ambas as abordagens fornecem informação complementar acerca dos


mesmos problemas.
Cada uma destas abordagens tem os seus pontos fortes e fracos. A sua combinação
contrabalança algumas das fraquezas de cada perspectiva com as forças da outra. Por
exemplo, a limitação dos métodos experimentais dos psicólogos em situações sociais
controladas é compensada pela focalização dos sociólogos nos meios sociais naturais.
As abordagens combinadas propiciam uma compreensão mais fecunda de um assunto
que qualquer abordagem só por si.

Em segundo lugar, as duas abordagens convergem. Todas as teorias da psicologia social


tentam compreender os indivíduos no seu contexto social. Todas reconhecem a
influência recíproca do indivíduo e da sociedade na construção social da realidade,
havendo cada vez uma maior interacção dos assuntos e dos métodos das duas
psicologias sociais.

Técnicas de investigação utilizadas em:

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Psicologia Social Psicológica:
→ Experiências de laboratório;
→ Investigação por inquérito;
→ Estudos de campo;
→ Experiências de campo;
→ Experiências naturais;
→ Investigação bibliotecária;
→ Investigação de arquivo;
→ Outras…

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Psicologia Social Sociológica:
→ Investigação por inquérito;
→ Investigação bibliotecária;
→ Estudos de campo;
→ Experiências de laboratório;
→ Experiências de campo;
→ Experiências naturais;
→ Outras…

Em terceiro lugar, a atenção ao mundo subjectivo do indivíduo é a única contribuição


da psicologia social que é partilhada pela psicologia social sociológica e pela
psicologia social psicológica.
Ambas as perspectivas acentuam o meio percepcionado pelo indivíduo e não tanto o
meio actual.
Ambas as psicologias sociais se focalizam nas interpretações cognitivas da realidade e
nos comportamentos subsequentes com base nestas interpretações.

Sendo o comportamento variado e as suas causas diversas, não é de admirar que em


psicologia social se recorra a diferentes níveis de análise

Doise (1982) sintetizou essas explicações distinguindo quatro níveis:


No primeiro é abordado o estudos dos processos “psicológicos” ou “intra-
dividuais” que deveriam dar conta do modo como o indivíduo organiza a sua
experiência do mundo social, (aqui o psicólogo pelos processos que permitem a um
individuo ter uma opinião global sobre alguém, a partir da integração de diferentes
traços de personalidade que lhe são apresentados).
Um segundo nível tem em conta a dinâmica de processos “inter-individuais” e
“intra-situacionais” que ocorrem entre indivíduos (estudo da atribuição de intenções a
outrem).
Terceiro nível, faz intervir diferenças de “posições” ou “de estatutos sociais”
para dar conta de modulações de interacções situacionais (quando uma argumentação
convence mais facilmente um individuo porque quem a apresenta tem um estatuto
social mais elevado).
O quarto nível mostra como determinadas “crenças ideológicas universalistas”
induzem representações e condutas diferenciadoras, ou até mesmo discriminatórias.
(Segundo Lerner (1980) as pessoas têm uma profunda convicção de que o “mundo é
justo” e o que acontece às pessoas é merecido).

Numa mesma situação pode haver diferentes níveis de análise o que revela vários
processos psicológicos nesta situação social.

3. Esboço Histórico da Psicologia Social:


Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O
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Ebbinghaus (1908) escreveu que a “Psicologia tem um longo passado mas só tem uma
breve história”.

A Psicologia Social é um dos campos mais novos da psicologia, sendo ela própria
uma disciplina jovem. Atribui-se frequentemente como data de nascimento da
psicologia científica o ano 1879, ano em que o primeiro laboratório de psicologia foi
fundado em Leipzig na Alemanha, por Wilhelm Wundt.
Se bem que as raízes da psicologia social estejam historicamente distantes, tais como
as da psicologia em geral, o seu reconhecimento como domínio separado só aconteceu
algumas décadas mais tarde.

3.1 O longo passado do pensamento sócio-psicológico:


A Psicologia Social começou a esboçar-se enquanto centro de interesse científico em
finais do séc. XIX e nos alvores do séc. XX, mas já antes encontramos autores que se
referiam às relações entre o psiquismo e a vida colectiva.

G. Allport (1985) afirma que a história da filosofia não pode ser esquecida na medida
em que até há um século todos os psicólogos sociais eram filósofos e muitos os
filósofos eram psicólogos sociais.

Os filósofos gregos foram provavelmente os primeiros teóricos em psicologia social.


Platão e Aristóteles focalizaram a atenção do homem ocidental na sua natureza social.

De Platão até ao séc. passado todas as teorias sobre a natureza social do homem
diziam respeito à teoria do Estado. Por essa razão, G. Allport considerava que até
então a psicologia social era em grande parte um ramo da filosofia política.

Graumann (1996), sintetiza cinco questões centrais desse pensamento social:


1. Se as pessoas são concebidas como indivíduos, cada uma sendo única ou
fundamentalmente semelhante às outras;
2. Se a pessoa é vista como uma função da sociedade ou pelo, pelo contrário, a
sociedade é vista como um produto e função dos indivíduos que a compõe;
3. Se a relação entre indivíduo e sociedade é uma questão com sentido ou é uma
expressão de uma ideologia escondida;
4. Se a natureza do seres humanos é fundamentalmente egoísta e necessita de
técnicas e processos de educação para possibilitar as vidas das pessoas em
grupos ou estados, ou se os seres humanos são sociais “por natureza”, sendo as
boas ou más influências que os tornam sociais ou anti- sociais;
5. Se os homens e mulheres são agentes livres e responsáveis ou são
determinados por forças naturais e sociais.

As respostas avançadas ainda são controversas no pensamento contemporâneo e


tornaram-se suposições para as abordagens sócio-psicológicas.

Platão (437-347 a.C.) expõe na república que os Estados se formam porque o


indivíduo não é auto-suficiente e necessita de ajuda de muitos outros. Se os homens
formam grupos sociais é porque precisam deles.
Platão raciocinava que a partir do momento que as pessoas se juntam para satisfazer
as suas necessidades, a especialização das tarefas poderia ajudar. O equilíbrio de para

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uma sociedade depende do lugar que ela saiba dar a três actividades: artesanal,
guerreira e à da magistratura.
Platão, considera que o espírito humano tem três componentes: comportamental,
afectivo, e cognitivo que se localizam no abdómen, no tórax e na cabeça. Apesar de
estas ideias de Platão tenham sido banidas, muitos psicólogos sociais ainda encontram
útil esta tricotomia dos fenómenos.

Aristóteles, (384 – 322 a.C.) vê as pessoas como “animais políticos”, gregários por
instinto. Ele pensa que a interacção social é necessária para o desenvolvimento normal
dos seres humanos. É este seu instinto gregário que leva o homem a afiliar-se com os
outros.
Quer Aristóteles quer Platão acreditam que os indivíduos diferem nas suas
habilidades. Uns têm disposições inatas para a liderança e outros para serem
seguidores.

Hobbes (1588 – 1679) escreveu uma ficção intelectual sobre a origem de um estado
hipotético, o Leviatã. Para Hobbes os homens não têm tendência a amar-se, mas o seu
estado natural é a guerra contra todos. Hobbes desenvolveu uma análise dos processos
interpsicológicos que levam o homem à socialização: paixão de ambição, paixão de
dominação, sentimento de insegurança.
Este pensador procura nas bases do comportamento, as bases da sociedade.

Para Rousseau (1712 – 1778) as condições sociais transformam verdadeiramente o


homem. Foi o primeiro autor que não se contentou em afirmar, mas que procurou
analisar a influência das instituições sobre a psicologia dos indivíduos. No “Discurso
sobre as ciências e as artes” (1750), defendia que as ciências e as artes corromperam o
homem como toda a civilização. A natureza não destinava o homem à vida em
sociedade tendo vivido o homem durante milénios só e independente.

Bentham (1748 – 1832) defendeu que todo o comportamento humano é motivado


pela procura de prazer, princípio conhecido como hedonismo. Todo o comportamento
social é hedonista. As pessoas, nas suas interacções, procuram maximalizar os seus
benefícios e minimizar os seus custos.

Para Graumann (1996) muitas das teorias modernas de condicionamento e de


motivação têm como ideias subjacentes a satisfação individual (reforço, recompensa,
redução de tensão, de dissonância, de incerteza…), são variações do princípio de
prazer ou utilidade.

Para Fourier (1792 – 1837), socialista utópico, a sociedade ideal, o falanstério


assentava nas “paixões humanas”. Essa sociedade ideal constrói-se a partir de uma
boa utilização das paixões humanas e não da sua correcção ou repressão.

Segundo, Karl Marx (1818 – 1883) o comportamento social é determinado pelas


condições económicas. Por exp, uma economia feudal suscitaria um determinado
padrão de pensamentos, sentimentos e de acções entre os cidadãos, ao passo que uma
estrutura comunista levaria a um padrão muito diferente. Segundo esta perspectiva,
para mudar o modo das pessoas pensarem, sentirem e agirem é fundamental mudar
antes as instituições económicas. Segundo a psicologia social moderna, indivíduos e
instituições económicas influenciam-se mutuamente.

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Moritz Lazarus (1824 – 1903) e Heyman Steinthal (1823 – 1899) autores alemães
fundadores de uma revista de Psicologia dos Povos. Para eles, o “povo” era uma
realidade espiritual, mas colectiva, cujo espírito não é um mero produto, pensando
descobrir os processos mentais dos chamados povos primitivos através do estudo dos
mitos, línguas, religiões e artes.

Wundt (1832 – 1920) fundador da psicologia experimental, deu uma maior autonomia
à consciência individual.

3.2 As Origens da Psicologia Social:


O húmus propício à eclosão de uma abordagem específica da psicologia social,
encontramo-la na confluência de duas correntes: uma francesa e outra anglo-saxónica.

3.2.1 Corrente francesa:


Comte (1798 – 1857), inventou o termo “sociologia” e fez muito para situar as
ciências sociais na família das ciências, sendo o primeiro autor a te concebido a ideia
de
Psicologia Social. Apesar de desprezar a Psicologia.
Duas das suas contribuições são geralmente conhecidas:
A primeira é a famosa “lei dos três estados” que nos chama a atenção para a
emergência gradual das ciências do estado teológico (em que os acontecimentos são
explicados e personificados pelos deuses); metafísico (em que os acontecimentos são
explicados por poderes impessoais e pelas leis da ciência) até ao positivo (em que os
acontecimentos são explicados pela sua invariabilidade e constância).
A segunda é a classificação das ciências fundamentais abstractas que tratam de
fenómenos irredutíveis, de acontecimentos fundamentais e primários, e ciências
concreta que tratam de fenómenos compósitos, de “seres” concretos e das aplicações
das ciências abstractas.
Entre as ciências concretas encontra-se a geologia, a meteorologia, a botânica, a
zoologia e a educação.
No final da sua vida Comte, procurava a “Verdadeira Ciência Final” edificada
simultaneamente na biologia e na sociologia. A esta “Verdadeira Ciência Final”
chamava-lhe “Moral Positiva”.
Ele viu-se obrigado a inventar esta “Moral Positiva”, pois necessitava de uma ciência
que tratasse dos indivíduos e do modo como os indivíduos combinam influências
biológicas e societais.

Émile Durkheim (1855 – 1917) defende a posição de Comte segundo a qual o social é
rigorosamente irredutível ao individual.

Tarde, defendia a alternância de dois fenómenos propriamente psicológicos, a


invenção e a imitação. A invenção bastante rara, é fruto de individualidades poderosas
que deste modo asseguram o progresso. A imitação assegura a unidade e a
estabilidade sociais. Uma sociedade pode definir-se como “um grupo de homens que
se imitam”.

Segundo Gustave Le Bon, a multidão modifica o indivíduo, pois dota-o de uma “alma
colectiva”. Esta alma faz com que os indivíduos, na situação da multidão, sintam,

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pensem e ajam de modo completamente diferente do que sentiriam, pensariam,
agiriam cada um isoladamente.
Em primeiro lugar a multidão obedece à lei da unidade mental. Além disso, a
multidão coloca os indivíduos perante emoções rápidas, simples, intensas e mutáveis.
Adopta um raciocínio rudimentar qualitativamente inferior ao dos indivíduos que a
compõem.
Estes comportamentos são explicados por uma causa interna, o contágio mental, e
uma externa, a existência de líderes.

Charcot, em finais do séc. XIX fizera experiências sobre a hipnose e a sugestão.

A noção de multidão não é claramente delimitada, misturando os grupos, os


agregados, a multidão e a massa. Por outro lado deixa transparecer uma desconfiança
em relação à influência das massas e das ideias democráticas.

Ringelmann, levantou a seguinte questão: como é que a presença de outras pessoas


influencia a realização de um indivíduo? Este autor descobriu que, em comparação
com o que as pessoas faziam por elas mesmas, a realização individual diminuía
quando trabalhavam conjuntamente em tarefas simples como puxar uma corda ou
empurrar uma carroça.
A investigação de Ringelmann está na origem dos modernos estudos de psicologia
social sobre preguiça social.
Um século mais tarde Latané e seus associados (1979) concluíram que o fenómeno de
preguiça social está vivo, o grupo produzindo reduções na realização individual.

3.2.2 – A Corrente anglo-saxónica:


Gustav Ratzenhofer, sociólogo alemão, fazia entrar na sociologia considerações sobre
os indivíduos e as suas motivações. Procurava nos “interesses humanos” os factos de
base para a explicação sociológica.

Em 1898 Triplett, observou que os ciclistas rodavam mais depressa com outra pessoa
do que quando rodavam sozinhos.

As pessoas obtêm melhor desempenho sós ou acompanhadas?

Em 1924, Floyd Allport, fez a distinção entre facilitação social (a influência do grupo
nos movimentos do individuo) e rivalidade (o desejo de ganhar).

Em 1965, Robert Zajonc sugeriu que a mera exposição à presença de outras pessoas
aumenta o desempenho das respostas dominantes (isto é, bem aprendidas), mas
interfere com o desempenho das respostas não dominantes (isto é, novas).

Edward Ross (1866 – 1951) procurou aplicar as leis da sugestão e da imitação a


diversos acontecimentos do passado e do presente: moda, opinião pública, etc.

3.3 Evolução da Psicologia Social:


Manual (pág.67 à 70)

Sherif (1936) interessou-se pelo estudo de normas sociais, ou seja, regras que
suscitam os comportamentos das pessoas.

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Por vezes há pessoas que podem mudar a direcção de todo um domínio do saber:
Darwin e Mendel, alteraram a moderna biologia;
Galileu e Newton, alteraram a trajectória da física;
Freud revolucionou a psicologia clínica.
Já no domínio da psicologia social não há tais gigantes, contudo se alguma figura de
primeiro plano influenciou a orientação geral desse domínio foi Kurt Lewin. Formou-
se como psicólogo na Alemanha e trabalhou no Instituto de Psicologia de Berlim.
Emigrou para os Estados Unidos em 1933 tendo-se dado conta que os Nazis fariam a
vida impossível a alguém que não partilhasse as suas ideias políticas.

Kurt Lewin formulou a “teoria do campo” segundo a qual o comportamento humano


deve ser considerado como uma função das características do indivíduo em interacção
com o seu meio.
Na resposta à questão sobre o que determina o comportamento humano, Freud
acentuou os processos psicológicos internos ao indivíduo;
Marx sublinhou as forças externas;

Lewin optou por ambos os factores: factores internos e externos influenciam o


comportamento humano. Esta perspectiva constitui uma versão temporã do que hoje
se chama de perspectiva interaccionista (Blass, 1984). Esta abordagem combina a
psicologia da personalidade com a psicologia social, que tradicionalmente têm
sublinhado respectivamente diferenças entre indivíduos e diferenças entre situações.

Tendo em conta a influência de Lewin que se fez sentir a vários níveis, não é
surpreendente que várias pessoas o considerem como sendo o pai da psicologia social
contemporânea.

Em cada década do século XX os interesses de investigação foram-se modificando e


ampliando:
Anos 40 e 50 a expansão do campo continua em várias direcções. Presta-se
atenção à influência dos grupos e da pertença aos grupos obre o
comportamento individual e abordam-se as relações entre vários traços da
personalidade e comportamento social. As atitudes são também um domínio
de estudo prioritário neste período.

Nos finais dos anos 50, Festinger propôs a teoria da dissonância cognitiva
(postula que as pessoas encontram insatisfatórias as incoerências entre duas
cognições, ou entre os seus pensamentos e o seu comportamento, e procuram
reduzi-las mudando quer os seus pensamentos quer os seus comportamentos)
que focalizou a atenção dos investigadores não só nos anos 50, mas
igualmente nos anos 70.

Nos anos 60 o campo da psicologia social expandiu-se de modo acentuado. Os


psicólogos sociais fizeram incidir a sua atenção em áreas de investigação, tais
como porque é que obedecemos à autoridade, como é que efectuamos
julgamentos acerca do comportamento das pessoas, como negociamos e
resolvemos conflitos, como nos atraímos e fazemos amigos, porque é que os
espectadores muitas vezes nos ajudam em situações de emergência. No
Canadá, Wallace Lambert, Robert Gardner e outros autores dedicaram-se ao

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estudo de aspectos psico-sociais do bilinguismo. Continuando ainda a
investigação em áreas de interesse social, tais como agressão, preconceito e
mudança de atitudes.

Ainda nos anos 60 psicólogos sociais europeus, como Serge Moscovini em


França e Henri na Grã-Bretanha lançaram as bases de uma psicologia social
diferente da dos Estados Unidos, que era vista como estando muito
impregnada nos sistemas de valores individualistas desse país. A psicologia
social europeia colocou a partir daí uma maior ênfase que a norte-americana
no estudo das relações interpessoais e na investigação de tópicos, como a
influência do grupo minoritário, controlo social, aspectos sócio-psicológicos
da economia política e da ideologia.
É discutida a ética dos procedimentos utilizados na investigação (Kelman - 1967), a
validade dos resultados (Rosenthal - 1966) e até que ponto é possível generalizar os
resultados no tempo e no espaço (Gergen - 1973).

Durante os anos 70, para além de se continuarem as linhas de estudo dos anos
anteriores, foram postos em cena novos tópicos ou foram investigados com um
enfoque novo e mais sofisticado. Destaca-se a atribuição, papéis sexuais e
discriminação sexual, psicologia ambiental.

Os psicólogos sociais estão-se a torna mais sensíveis ao impacto da cultura do


comportamento social. Aperceberam-se que os princípios que influenciam um grupo
podem não se aplicar noutro país, nem mesmo a todos os grupos dentro do mesmo
país.
Dado que o mundo se está tornando cada vez mais interdependente, os psicólogos
sociais pensam que o seu campo deve tornar-se cada vez mais internacional e
multicultural.

4. A Psicologia Social como ciência:


Os psicólogos sociais querem compreender as pessoas e ajudá-las a remediar
problemas humanos. Escritores, artistas, músicos, filósofos e muitas outras pessoas
das mais variadas categorias também querem compreender e ajudar os outros,
proporcionando uma compreensão da natureza humana, já os Psicólogos Sociais
diferenciam-se na medida em que enveredam por uma abordagem científica para os
seus assuntos.

Pode-se entender por ciência um corpo organizado de conhecimentos que advêm da


observação objectiva e de testagem sistemática. A palavra ciência refere-se a todas as
áreas que podem ser estudadas de modo sistemático e objectivo e não a um assunto
particular.

 As ciências naturais, como a biologia, a botânica, a física, a química e a


zoologia tentam explicar observações acerca da natureza e do mundo físico;
 As ciências comportamentais, como a antropologia, a etologia, a psicologia e a
sociologia, abordam observações acerca de actividades, como sejam operações
mentais e respostas motoras, de animais e de seres humanos;
 As ciências sociais referem-se às ciências comportamentais e disciplinas fins
(economia, ciência politica) que abordam actividades das pessoas inseridas em
comunidades humanas;

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 A Psicologia Social investiga as acções de indivíduos e de indivíduos dentro
de grupos, sendo assim uma ciência comportamental e social.

No âmbito das ciências, as teorias ajudam-nos a compreender como e porque é que as


coisas acontecem.
 O termo “teoria” designa para os cientistas uma descrição de relações
entre símbolos que representam a realidade (Hall e Lindzey, 1978);
 A atitude é um símbolo abstracto utilizado para representar a realidade
de que os indivíduos têm preferência por certos objectos específicos.
Não pode ver ou tocar uma atitude, pois não é real, mas utiliza-se o
conceito de atitude para representar coisas que são reais;
 O termo “construto” aplica-se quando um símbolo abstracto numa
teoria é definido em termos de acontecimentos observáveis. O
construto locus de controlo é muitas vezes definido em termos de
resposta a um questionário.
Todas as teorias contêm aspectos que não podem ser provados como verdadeiros em
sentido absoluto, na medida em que são abstractos, mas todas as teorias apresentam
objectivos comuns.

4.1 Investigação Científica:


A psicologia social utiliza o método científico para estudar o comportamento social.

A recolha de observações pelos cientistas implica que eles sigam um certo número de
regras estabelecidas. Mas a ciência não se limita a ficar por observações precisas,
exigindo explicações. São as teorias que nos ajudam a explicar o que se observa.
 Uma teoria consiste na formação de regras gerais tendo por alicerce
observações específicas efectuadas.
A esta passagem de observações específicas a regras gerais ou teorias chama-se
indução lógica.

Mas uma teoria não se formula só para explicar observações precisas. Deve também
poder explicar e sugerir novas observações que se podem utilizar para testar a teoria.
Uma teoria deve ser capaz de fazer predições acerca de fenómenos com recurso à
lógica dedutiva, ou seja, uma teoria deve gerar hipóteses susceptíveis de serem
testadas.

Karl Popper (filósofo da ciência) mostrou que uma teoria científica não pode
logicamente ser provada como verdadeira, mas pode ser refutada, defende que para
uma teoria ser científica deve, em princípio, ser capaz de refutação empírica. Uma
teoria nunca pode ser verdadeira, pois não há garantia que no futuro será a mesma que
no passado.

Ryckman – 1985, Shaw e Constanzo – 1982, defendem que o valor de uma teoria
depende de um certo número de qualidades:
1) Uma teoria deverá estar em concordância com dados conhecidos,
incorporando o que se encontrou acerca do comportamento humano;
2) Uma teoria é compreensiva, tentando compreender e explicar um amplo leque
de comportamentos;
3) Uma teoria é parcimoniosa, não contendo mais que os elementos necessários
para explicar o assunto m questão;

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4) Uma boa teoria tem de se poder testar, fornecendo meios mediante os quais,
hipóteses específicas e predições podem ser suscitadas e subsequentemente
testadas por investigação. Se uma teoria não permite suscitar predições que se
possam testar, nesse caso a sua validade empírica nunca pode ser avaliada de
modo satisfatório;
5) Uma teoria deve ter o seu valor heurístico, isto é, em que medida estimula o
pensamento e a investigação e desafia outras pessoas a desenvolverem e
testarem teorias opostas;
6) Também a utilidade ou valor aplicado de uma teoria é um atributo importante.
Os psicólogos sociais interessam-se pelas teorias porque desejam ajudar a sociedade a
viver melhor. As teorias podem ajudar as pessoas aumentando a compreensão,
sensibilização e ando acesso a novos modos de se comportar.

Os psicólogos sociais tentam apreender os padrões de vida social e criar termos para
que as pessoas possam comunicar sobre eles. As teorias permitem compreender e
comunicar esta compreensão aos outros.

As teorias servem também para sensibilizar, identificar os factores susceptíveis de


influenciar a vida quotidiana e para testar atenção às consequências das suas acções.
Podem ainda sugerir eventuais cenários e os seus motivos, sendo assim possível
preparar o futuro com a ajuda dessas sugestões. As teorias servem ainda para
aumentarem na pessoa a tomada de consciência de deficiências na vida quotidiana
guiando-a para opções mais satisfatórias, esta teoria chamada de generativa dá às
pessoas a possibilidade de se interrogarem sobre o que acreditavam antes e permite
optar por novas relações em vez de conservarem crenças dogmáticas.

4.2 Objectivos científicos da Psicologia Social:


Os objectivos centrais da investigação em Psicologia Social podem condensar-se em
quatro: descrição, explicação, predição e controlo:

 A descrição emana da colecção sistemática de factos e de observações acerca


de qualquer fenómeno descrevendo o que se observa;
 A explicação pressupõe a identificação das relações causais que produzem
comportamentos particulares. Uma coisa é descrever padrões de
comportamento e outra é desenvolver teorias para explicar o que se observou;
 A melhor medida de uma teoria é a sua capacidade em fazer predições certas.
A sociedade defronta-se com problemas importantes para os quais predições
fidedignas seriam preciosas;
 O controlo: controlar quando ou se ocorrem fenómenos comportamentais.

Em resumo: a investigação pode fornecer informação fidedigna sobre a sociedade,


explicá-la, permitir predições e controlar a ocorrência de fenómenos
comportamentais.

4.3 – O Processo de Investigação em Psicologia Social:


Os psicólogos sociais para estudarem de modo o comportamento social, devem
planear meticulosamente e executar os seus projectos de investigação. Este processo
cientifico pode sintetizar-se em sete etapas:

15
 A primeira etapa no processo de realização de um estudo é seleccionar um
tópico de investigação. É necessário desenvolver uma ideia acerca do
comportamento que valha a pena explorar. A inspiração pode advir da
investigação de alguém, de um incidente nas notícias quotidianas, ou até
mesmo de alguma experiência pessoal ocorrida na vida do investigador.
Geralmente os psicólogos sociais investigam tópicos que são relevantes para
as suas próprias vidas e para a sua cultura;
 A segunda etapa é a busca do documento de investigação que permite
delimitar os estudos anteriores efectuados sobre o tópico. Poderá acontecer
que não se tenha ainda fixado um tópico de investigação até se efectuar a
procura da documentação;
 A terceira etapa consiste na formulação de hipóteses. As hipóteses são
expectativas específicas sobre a natureza das coisas decorrentes de uma teoria.
São as implicações lógicas da teoria;
 A quarta etapa consiste na escolha de um método de investigação que
permitirá testar as hipóteses. Os dois métodos utilizados nas suas investigações
são o correlacional e o experimental. A maior parte da investigação de
laboratório recorre ao método experimental, ao passo que a maior parte da
investigação de campo é correlacional;
 A quinta etapa é a recolha de dados. Existem três técnicas básicas de recolha
de dados: 1) auto-avaliações (que permite observar as percepções das pessoas,
emoções, atitudes, etc), 2) observações directas (aqui os investigadores
observam directamente o individuo e as suas reacções sem interferências), 3)
informação de arquivo.
 A sexta etapa é efectuar a análise de dados, o hoje em dia exige um
conhecimento aprofundado de procedimentos estatísticos e de programas de
computador. As duas espécies básicas de estatísticas utilizadas são: a
descritiva (permite fazer um sumário e uma descrição do comportamento ou
das características de uma amostra particular de participantes num estudo) e
inferencial (vai para além de um descrição e permite fazer inferências acerca
de uma ampla população de que foi extraída a amostra, esta estatística é
utilizada para avaliar a probabilidade de que uma diferença encontrada nas
pessoas estudadas também seria encontrada se alguém da população
participasse no estudo);
 A sétima etapa é apresentar o relatório dos resultados. Pode acontecer
publicando artigos em revistas científicas, fazendo apresentações em
congressos, ou informando pessoalmente outros investigadores na disciplina.

4.4 – Meta-análise:
Um dos problemas com que os investigadores se defrontam muitas vezes é que o
processo de investigação conduz frequentemente a resultados contraditórios de um
estudo para o outro.
No passado os investigadores utilizavam a “regra da maioria”. Actualmente para obter
resultados mas credíveis, têm recorrido a técnicas denominadas de meta-análise
(Schmidt, 1992).
A meta-análise é uma técnica estatística que permite aos investigadores combinar
informação de muitos estudos empíricos sobre um tópico e avaliar objectivamente a
fidelidade e o tamanho global do efeito (Rosenthal, 1984).

16
5. Teorias em Psicologia Social:
Os psicólogos sociais desenvolveram muitas ideias diferentes sobre a vida social no
entanto, nenhuma teoria permite explicar de modo adequado todos os fenómenos
sociais. Certas teorias são globais ou gerais, enquanto que outras são mais particulares
e restritas na sua aplicação e predições. As principais teorias são as de aprendizagem,
teorias cognitivas e as das regras e papéis.
As teorias de aprendizagem têm as suas origens nos princípios básicos do
behaviourismo que salientou o condicionamento clássico e aprendizagem através do
reforço ou recompensa;
As teorias cognitivas têm as suas origens na psicologia de gestalt.
As teorias das regras e papéis, põe em evidência a ideia de que os pensamentos e os
comportamentos dos indivíduos são o resultado de interacções que têm com outras
pessoas e do significado que elas dão às interacções e papéis.

No seio destas três orientações teóricas gerais é possível desenvolverem-se modelos


mais limitados, chamados de mini-teorias, tentando explicar um leque mais restrito do
comportamento humano.

5.1 – Teorias da Aprendizagem:


O seu núcleo é a ideia de que o comportamento de uma pessoa é determinado pela
aprendizagem anterior. A teoria da aprendizagem tornou-se popular nos anos 1920,
estimulada pelos trabalhos de Pavlov e do americano John Watson. Esta abordagem,
aplicada ao comportamento social por Albert Bandura entre outros, chamou-se de
aprendizagem social.

5.1.1 – Mecanismos de Aprendizagem Social:


Há três mecanismos gerais mediante os quais as pessoas coisas novas:
1) Através da associação ou condicionamento clássico, (experiências de Pavlov
com os cães);
2) Outro mecanismo é o reforço. As pessoas aprendem através de castigos e de
recompensas;
3) Outro mecanismo é a aprendizagem observacional ou imitação. Uma parte
importante do comportamento humano é adquirido através de instrução
directa e por observação do comportamento dos outros (Bandura e Walters,
1963; Miller e Dollard, 1941)

5.1.2 – Contribuições:
As teorias da aprendizagem têm-se utilizado para explicar muitos fenómenos sócio-
psicológicos, como a atracção interpessoal, a agressão, o altruísmo, o preconceito, a
formação de atitudes, a conformidade e a obediência. Por exemplo, Byrne (1971)
propusera que gostamos das pessoas que são semelhantes a nós numa série de
dimensões porque tal semelhança é agradável.
As teorias de aprendizagem têm sido particularmente úteis na estimulação, por parte
dos investigadores, da procura de acontecimentos ambientais ligados às acções das
pessoas. Estes teóricos defendem que uma melhor compreensão do efeito de
acontecimentos ambientais torna possível prever a sua influência. É então possível
assegurar um controlo sobre acontecimentos influenciando as pessoas a terem vontade
de agir de determinado modo em detrimento do outro.

17
5.2 – Teorias Cognitivas:
As teorias de aprendizagem são muitas vezes criticadas por terem uma “caixa negra”
para o comportamento humano. É salientado o que entra na caixa (estímulo) e o que
sai da caixa (resposta) mas é prestada pouca atenção ao que se passa dentro da caixa.
As teorias do interior são a principal preocupação das teorias cognitivas.
A ideia principal das teorias cognitivas é que o comportamento de uma pessoa
depende do modo como percepciona a situação social.

Kohler e Koffka interessam-se em saber como é que os processos interiores do


indivíduo impõem uma forma ao mundo exterior.

5.2.1 – Princípios básicos:


Uma ideia central para esta orientação é que as pessoas tendem espontaneamente a
agrupar ou a categorizar objectos. Uma segunda ideia central é que percepcionamos
imediatamente algumas coisas como sendo salientes (figura) e outras como estando
atrás (fundo). Geralmente percepcionamos os estímulos coloridos, em movimento,
barulhentos, únicos, próximos, como figura, e os estímulos suaves, monótonos,
estacionários, quietos, longínquos, como fundo.

Estes dois princípios não são só centrais para a nossa percepção de objectos físicos,
são também centrais para a nossa percepção do mundo social, sendo importantes para
o modo como interpretamos o que as pessoas sentem, querem e que tipo de pessoas
são.

Os princípios cognitivos estudam como é que as pessoas processam a informação,


aborda o modo como processamos informação social acerca das pessoas, de situações
sociais e de grupos.
A investigação sobre a cognição social tem sido efectuada em três áreas: percepção
social, memória social e julgamentos sociais.

 Ao nível perceptivo os psicólogos sociais interessam-se em como certas


estruturas cognitivas nos ajudam a prestar atenção a vastas quantidades de
informação acerca das outras pessoas e das situações sociais;
 Ao nível da memória social, os psicólogos sociais examinam como é que os
indivíduos armazenam informação acerca de pessoas e de acontecimentos
sociais. As representações que as pessoas têm nas suas cabeças acerca de
pessoas e de acontecimentos chamam-se de esquemas;
 Ao nível dos julgamentos sociais, os psicólogos examinam os modos como as
pessoas integram ou juntam informação para chegar a inferências e conclusões
acerca do mundo social.

Outra direcção de investigação cognitiva é o estudo de atribuições causais, ou seja, o


modo como as pessoas usam a informação para determinar as causas do
comportamento social. Nesta perspectiva teórica as pessoas são vistas como cientistas
ingénuos que consideram ao mesmo tempo várias fontes de informação para efectuar
conclusões sobre as causas do comportamento.

5.2.2 – Contribuições:
As teorias cognitivas permitem explicar situações que parecem numa primeira
abordagem incompreensíveis. A orientação cognitiva não olha tanto para os

18
acontecimentos actuais quanto para os pontos de vista de cada elementos acerca
desses acontecimentos.
Exemplo: dois alunos que tiveram notas iguais mas as suas reacções foram
completamente diferentes.

5.3 – Teoria dos Papéis:


Há autores que encaram a Psicologia Social como um domínio de encruzilhadas entre
as disciplinas da Psicologia e da Sociologia.
Ainda que seja possível delinear o seu começo nas concepções dos papeis teatrais há
mais de dois milénios em autores gregos, foi George Herbert Mead (1913) que tornou
o conceito de papel popular na sua análise do self em relação com as pessoas que nos
rodeiam.

5.3.1 – Princípios Básicos:


Esta abordagem presta pouca atenção aos determinantes individuais do
comportamento. Raramente recorre a conceitos de personalidade, atitudes, motivação,
em vez disso o indivíduo é visto como um produto da sociedade em que vive e como
um indivíduo que contribui para essa sociedade.
A teoria dos papéis dá mais atenção a amplas redes sociais.

O termo “papel” é central para esta abordagem. Pode definir-se como a posição ou
função que uma pessoa ocupa no seio de um determinado contexto social (Shaw e
Constanzo, 1982). Uma pessoa pode desempenhar simultaneamente vários papéis.
Estes vários papéis são guiados por determinadas expectativas que os outros têm
acerca do comportamento. Esses papéis também são guiados por normas que são
expectativas mais generalizadas acerca do comportamento, internalizadas no decurso
da socialização.

Conflitos de papéis ocorrem quando uma pessoa ocupa diversas posições com
exigências incompatíveis (conflito interpapel – uma estudante tem de escolher entre
estudar para o exame do dia seguinte ou sair com o namorado) ou quando um só papel
tem expectativas que são incompatíveis (conflito intrapapel – uma estudante tem de
escolher entre estudar para um exame ou terminar um trabalho ambos para o dia
seguinte).

5.3.2 – Contribuições:
Este conceito dá conta da possível mudança de comportamento das pessoas quando a
sua posição na sociedade muda.
O conceito de doença mental pode ser revisto a partir da teoria dos papéis, acredita-se
que o doente mental é o produto de uma personalidade perturbada que tem problemas
profundos e duradoiros, nada tendo a ver com a sua situação. Todavia, segundo a
teoria dos papéis, a doença mental é muitas vezes quase como alguém aprende um
papel numa peça de teatro. A pessoa que entra num hospital psiquiátrico aprende a
desempenhar o papel de um doente mental, a não aprendizagem destas regras acarreta
castigos institucionais.

Mais recentemente as ideias da teoria dos papéis têm contribuído para o incremento
do estudo do autoconceito. O trabalho sobre este tópico tem mostrado que as pessoas

19
se comprometem activamente em estratégias comportamentais, para dirigir a
impressão das outras pessoas a respeito de si próprias.

5.4 – Uma comparação de teorias:

TEORIA
Dimensão Teorias de Teorias cognitivas Teoria do Papel
Aprendizagem
Conceitos centrais Estímulo-resposta, Cognições, Papel
Reforço Estrutura cognitiva
Comportamentos Aprendizagem de Formação e Comportamento no
primários novas respostas; mudança de papel
explicados processo de troca crenças e de
atitudes
Suposições acerca As pessoas são As pessoas são As pessoas são
da natureza hedonistas; os seus seres cognitivos
conformistas e
humana actos são que agem com base comportam-se de
determinados por nas suas cognições acordo com
padrões de reforço expectativas de
papéis
Factores que Mudança na Estado de Mudanças nas
produzem quantidade, tipo, ou insconsistência expectativas de
mudança no frequência de cognitiva papéis
comportamento reforço

6. A Psicologia Social Contemporânea:

6.1 – Uma ciência em ebulição:


O período actual caracteriza-se por uma explosão dos conhecimentos, das descobertas
e das publicações (Bok, 1986).
A maioria das publicações importantes aparecem em revistas americanas, a língua
inglesa é a língua de eleição no domínio da psicologia social.

6.2 – Uma plêiade de investigadores:


Há um quarto de século o domínio da Psicologia Social era constituído por m
monopólio reduzido de investigadores, hoje em dia são cada vez mais numerosos os
investigadores que apresentam contribuições de valor para esta ciência.

6.3 – Empregos em Psicologia Social:


A psicologia social constitui um domínio muito popular na psicologia. A maioria dos
empregos em psicologia social é obtida ao nível do ensino e da investigação, em
postos de professores ou de cientistas em meio universitário ou secundário.

20
As competências de um psicólogo social podem ser exercitadas em muitas espécies de
trabalho: investigação de mercado, sondagens de opinião pública, avaliação de
investigação nos negócios e no governo (investigação que avalia os efeitos de novos
programas), e análise estatística de dados comportamentais.

7. Perspectivas Internacionais:
Enquanto que as raízes da psicologia social emergiram na Europa, grande parte da sua
história tem sido amplamente dominada por investigadores dos Estados Unidos. Uma
das razões importantes para esta mudança foi o crescimento do fascismo na Europa
nos anos 30.
O primeiro mundo (Estados Unidos) exporta conhecimento psicológico para o
segundo nações industrializadas como Canadá, Grã-Bretanha, Austrália, França e
Rússia), e terceiro (Índia, Nigéria e Cuba) mundos, sendo por sua vez pouco
influenciado pela psicologia dos outros dois mundos. O terceiro mundo é sobretudo
importador de conhecimentos psicológicos.
Os psicólogos nos três “mundos estão cada vez mais a ser sensíveis até que ponto a
psicologia do primeiro e segundo “mundos” é relevante para as sociedades do terceiro
mundo (Moghaddam, 1987). Cada vez mais se assiste a investigações e experiências
psico-sociais são levadas a cabo em diferentes culturas dos diferentes “mundos”.
Tudo leva a crer que anos vindouros surja uma ciência mais rica, fecundada por
cruzamentos de ideias e de dados de diversas culturas.

 Aplicações: O Estudo da Caverna dos Ladrões (pág. 117; 118)

Resumindo:
Há vários modos de caracterizar a psicologia social:
1) A psicologia social pode definir-se como o estudo de como as pessoas
influenciam os pensamentos, sentimentos e acções de outras pessoas;
2) A disciplina tem vários tópicos fundamentais;
3) A psicologia social tem relações próximas com outras ciências sociais,
especialmente a sociologia e a psicologia;
4) Embora enfatizem diferentes questões, quer psicólogos quer sociólogos
contribuíram para a psicologia social.

Ainda que a interpretação do comportamento social remonte a vários milénios, o


estudo científico deste último é recente. Como a psicologia, a psicologia social tem as
suas raízes no questionamento filosófico.

A investigação em psicologia social foi fortemente influenciada pelo “espírito do


tempo” (Zeitgeist).

A psicologia social é simultaneamente uma ciência comportamental e social. É aceite


como ciência na medida em que obedece a todos os requisitos do método científico:
descrição, previsão e controlo;

Há três orientações teóricas principais na actual Psicologia Social: as teorias de


aprendizagem, as teorias cognitivas e a teoria do papel;

21
Hoje em dia a psicologia social tornou-se um sector em ebulição. Numerosos tópicos
são estudados e várias mini-teorias foram formuladas para o explicar.

Ao nível das aplicações a psicologia social sociológica e a psicologia psicológica


deveriam ser estudadas conjuntamente porque cada uma complementa a outra e cada
uma tem desvantagens que podem ser compensadas em parte pelas vantagens da
outra.

I I . S ELF

1. Introdução:
Já aconteceu estar numa festa muito barulhenta e ouvir alguém do outro lado da sala
referir o seu nome? Este é o chamado “fenómeno sarau-cocktail”, ou seja, a
capacidade em apreender um estímulo relevante para si próprio num meio complexo
(Moray, 1959).
Para os psicólogos cognitivos o fenómeno denota que as pessoas são selectivas na sua
percepção dos estímulos. Já os psicólogos sociais tal ilustra também que o self não é
só mais um estímulo social. Pode tratar-se do mais importante objecto da nossa
atenção.

O self engloba as características que uma pessoa reclama como sendo suas e ás quais
dá um valor afectivo. Ao longo da história, filósofos, poetas e estudiosos da
personalidade apresentam o self como sendo um aspecto estável da personalidade
humana. Enquanto que os psicólogos sociais acham que o self pode, de certo modo,
ser maleável mudando de uma situação para a outra. Tendo o self diferentes rostos
(Markus e Kunda, 1986).

O self é uma construção social que se forma mediante a interacção com outras
pessoas. O self constitui a base das interacções sociais afectando um amplo leque de
comportamentos sociais.

Grupos e organizações podem contribuir para a emergência do self, no entanto só o


indivíduo tem self. O self social é o domínio natural do psicólogo social.

2. O Self em Psicologia Social:


Desde há séculos que diversos pensadores têm abordado a natureza do self.
 Platão considerou o self equivalente à alma e sentiu que era o lugar da
sabedoria;
 Buda acreditou que cada um de nós cria o seu próprio sentido de identidade
pessoal, mas esta autocompreensão é muitas vezes distorcida e incompleta;
 Decartes baseou o self na nossa capacidade em pensar;
 Hume considerou o self como equivalente com experiências de percepção;
 Kant notava que o self não é tanto a nossa perspectiva de quem acreditamos
que somos como do que somos realmente (Baumeister, 1987; Hattie, 1992).

22
O self ajuda-nos a compreender o nosso comportamento. Ele pode efectivamente
ajudar a percepcionar-nos, como uma pessoa com certas atitudes, valores ou
comportamentos.

Podemos qualificar o final do século dezanove e o início do século vinte de “idade de


ouro” do self. Os primeiros teóricos do self exprimiam à sua maneira a ideia de que
não só nos conhecemos através dos outros, como também que a nossa compreensão
dos outros depende do conhecimento que temos de nós próprios.

Um artigo publicado em 1913 por John Watson pôs fim à idade de ouro do self.
Watson defendia que o self não pode ser medido e que por isso não deveria ser
objecto de estudo científico. É impossível saber com precisão o que se passa na
cabeça de outra pessoa.

Nas décadas de 60 e 70 a investigação sobre o self floresceu na psicologia clínica.


Hoje em dia, na psicologia social contemporânea, o self e construtos conexos
constituem materiais importantes de explicação do comportamento social.
Este breve sobrevoo histórico faz ressaltar três pontos:
• O primeiro é que o autoconceito não é certamente indispensável para a
psicologia social e que é possível analisar o comportamento social sem
recorrer a ele;
• Em segundo, vários teóricos defendem mesmo que não seja indispensável, o
auto conceito pode ser muito útil;
• Em terceiro lugar o uso científico do autoconceito suscita vários problemas
em psicologia social.

3. Definindo o Self: autoconceito:


Existem diferentes tipos de processo de definição do self, ou seja diferentes
maneiras de se definir.
O conceito de self foi discutido em pormenor por muitos teóricos, tais como
William James (1890), Charles Cooley (1902/ 1922), George Herbert Mead
(1934) e Harry Sullivan (1953). Embora todos estes autores realcem mais certos
aspectos do self, todos eles concordam sobre a construção do self.
O autoconceito pode ser definido como o conjunto de pensamentos e sentimentos
que se referem ao self enquanto objecto (Rosenberg, 1979). O autoconceito não
constitui necessariamente uma visão “objectiva” do que somos, mas antes um
reflexo de nós próprios tal qual nos percepcionamos.

3.1 – Componentes do autoconceito:


William James (1890) descreveu a dualidade básica que está no âmago da nossa
percepção do self
Em primeiro lugar o self é composto pelos nossos pensamentos e crenças acerca
de nós próprios, o que James denominou de “conhecido” ou mais simplesmente o
“mim”. O conceito de James do “mim” contém três componentes distintos.

Mim, o self conhecido:


Características que cremos possuir;
O self como um objecto de reflexão

23
Self material: Self espiritual; Self social:
O corpo de uma pessoa, Traços de personalidade, O que amigos, namorado,
Possessões físicas atitudes, valores, pais, professores, etc.,
percepções sociais conhecem de mim

Em segundo lugar o self é também o processador activo de informação, o


“conhecedor” ou o “eu”. O seu self é simultaneamente um livro, repleto de conteúdos
fascinantes recolhidos ao longo do tempo, e o leitor do livro pode ter acesso a um
determinado capítulo ou acrescentar um novo.

3.2 – Autoconceito de trabalho:


Nem sempre damos a mesma resposta à questão “Quem sou eu?” dado que só se pode
ter acesso cognitivamente a uma parte do self de cada vez. Recolheu informação sobre
si durante muitos anos, por isso o seu autoconceito de trabalho inclui somente os
atributos que são activados pela situação social actual (Markus e Kunda, 1986;
Markus e Nurius, 1986).
A saliência de certas características no autoconceito espontâneo pode ser influenciado
pelo meio. O autoconceito reflecte muitas vezes características da identidade que
tornam as pessoas distintas das que as rodeiam.
O autoconceito de trabalho inclui geralmente as características menos comuns.
O autoconceito espontâneo pode também ser influenciado pelas circunstâncias
imediatas.
O autoconceito pode também ser influenciado pelo meio cultural mais amplo.
Características políticas e sociais podem afectar as auto-representações.

As três dimensões mais importantes da identidade postas em evidência, por meio de


recurso a análises multidimensionais foram as referências identificatórias sociais,
nacionais e as psicológicas.

Definimo-nos a nós próprios tendo em conta as nossas diferenças em relação a outras


pessoas, o que ilustra a importância dos factores sociais do autoconceito. O nosso
autoconceito armazena uma vasta quantidade de informação acerca das nossas
experiências e relações sócias. Todavia qualidades que nos diferenciam de outras
pessoas tendem a ser mais salientes que os nossos atributos mais comuns.

3.1 – Auto-esquemas:
Esquemas são colecções organizadas de informação acerca de algum objecto. Por isso
um auto-esquema é um tipo especial de esquema construído com tudo o que
conhecemos, pensamos e sentimos acerca de nós próprios.
Para Hazel Markus, 1977, os auto-esquemas são “generalizações cognitivas acerca do
self, derivadas da experiência passada que organizam e guiam o tratamento de
informação que se refere a si próprio contida nas experiências sociais do indivíduo.”

Como qualquer outro esquema, um auto-esquema não só organiza, como também guia
o processamento de informação. Isto significa que os nossos auto-esquemas podem

24
influenciar as nossas percepções, memória e inferências acerca de nós próprios (Fiske
e Taylor, 1991).

Hazel Markus (1977) conduziu uma experiência para investigar os efeitos de auto-
esquemas sobre o processamento de informação. Markus, formulou a hipótese de que
os sujeitos esquemáticos seriam capazes de decidir mais depressa se as palavras
relevantes dos seus auto-esquemas os descrevessem a eles próprios do que os
aesquemáticos, porque ter um esquema faria com que fosse mais fácil para eles
processar informação relevante para os esquemas.

Os auto-esquemas não se limitam só a material verbal. Parte do nosso autoconceito


implica imagens visuais.

As pessoas com um autoconceito complexo acham ser relativamente mais fácil


absorver as contrariedades da vida (Linville, 1985). Se uma pessoa só tem uma ou
duas identidades principais, qualquer acontecimento único pode ter um impacto na
maior parte dos aspectos do autoconceito.
Por exemplo se uma mulher se vê sobretudo como esposa, fica arrasada quando o
casamento acaba. Mas se por exemplo se se vê não só como esposa mas também
como mãe, engenheira, amiga e nadadora, terá outros papeis a que se agarrar se o
papel de esposa já não está disponível.

3.4 – Memória Autobiográfica:


Os auto-esquemas afectam também o modo como relembramos o passado. Sem
memória autobiográfica, ou seja, as nossas lembranças da sequência de
acontecimentos que tocaram a nossa vida (Rubin, 1986), não teríamos auto-
representações. Quem seríamos nós se não pudéssemos lembrar-nos dos pais, dos
colegas de infância, dos lugares onde vivemos, da experiência havida com pessoas em
determinados locais?

Greenwald (1980) propôs que o self actua como o ego totalitário que processa a
informação de modo enviesado. Este autor identificou três viés principais:
egocentração, beneficiação e conservadorismo cognitivo.

3.4.1 – Egocentração:
Descreve a tendência para o julgamento e a memória se focalizarem no self.
Acontecimentos que afectam o self são lembrados melhor que informação que não é
relevante para o self. Perguntou-se a casais até que ponto tinham contribuído nos
problemas de casa, em média cada um respondeu que tinha efectuado a contribuição
principal cerca de 70% das vezes. Trata-se de uma impossibilidade lógica reflectindo
o viés egocêntrico.
Para além destas tendências egocêntricas há a crença que as pessoas têm de controlar
acontecimentos que ocorrem meramente por acaso
A egocentração também se manifesta no viés do falso consenso, ou seja, a tendência
geral para as pessoas acreditarem que a maior parte das pessoas se comporta e pensa
como nós (Ross, Greene e House, 1977).
Outra forma de egocentração no autoconhecimento é a crença que tem a maior parte
das pessoas que são melhores que a média em qualquer categoria ou traço socialmente
desejável (Felson, 1981)

25
3.4.2 – Beneficiação:
Este processo opera quando tiramos conclusões acerca de nós próprios a partir das
nossas acções. Para mantermos um conceito positivo do self, chamamos a nós o
sucesso e negamos a responsabilidade pelo fracasso. A beneficiação é um viés da
autocomplacência que preserva o nosso sentido de competência. Exp., estudantes
tiram boas notas dizem que os exames foram elaborados de modo correcto se pelo
contrário tiram más notas dizem que o exame estava mal elaborado ou que o
examinador não soube corrigir o exame.
Este viés é muitas vezes apresentado como universal, sendo específico a certos
elementos da cultura ocidental. Numa série de investigações efectuadas no Japão
(Markus e Kitayama, 1991) não foi evidenciado nenhum viés de auto-valorização na
comparação social, produzindo-se o inverso, um forte viés de auto-apagamento.

3.4.3 Conservadorismo cognitivo:


Significa que os nossos autoconceitos tendem a resistir á mudança. A maior parte das
vezes as pessoas em situações susceptíveis de reforçar os seus auto-esquemas
existentes, procurando confirmar informação e evitar situações que possam suscitar
informação inconsistente.
Apesar da tendência a resistir à mudança, os nossos autoconceitos, atitudes e valores
podem mudar com o tempo. Quando tal acontece, as pessoas mantêm a sua imagem
de consistência distorcendo a sua memória das suas atitudes anteriores, lembrando-as
como estando mais perto das atitudes actuais do que realmente estavam (Bem e
McConnel, 1970). A memória aparece como sendo maleável e é reconstituída para
permitir que uma pessoa mantenha uma perspectiva consistente do seu self.

3.5 – Origens do Self:


3.5.1 – Avaliação reflectida:
O autoconceito inclui crenças acerca das nossas características e uma avaliação de
cada característica, quer se trate de aspectos positivos ou negativos. Muitos de nós
gostaríamos que o nosso autoconceito não estivesse dependente do que os outros
dizem, todavia uma fonte de informação central acerca do autoconceito são as
reacções que as pessoas têm em relação a nós, tais como amigos, familiares,
professores, colegas, dizem a nosso respeito.
Cooley (1902) afirma que aprendemos acerca de nós próprios através dos outros. As
pessoas que estão à nossa volta agem como um espelho social, reflectindo e dizendo-
nos que somos.
As avaliações reflectidas são percepções das pessoas sobre o modo como outras
pessoas as vêem. A importância das avaliações reflectidas para modelar o
autoconceito tem sido ressaltada por investigação que mostra que as auto-avaliações
estão geralmente correlacionadas de modo positivo com o que as pessoas pensam dos
outros (Shrauger e Schoeneman, 1979).

Todavia a informação dos outros nem sempre é percepcionada de modo totalmente


correcto. As nossas atitudes, valores e outras partes dos nossos auto-esquemas podem
fazer com que haja uma distorção da informação recebida.

3.5.2 – Comparação Social:


Como é que um estudante pode decidir em que medida é inteligente? O que lhe é
transmitido pelos pais, professores, os resultados de um teste de inteligência ou outras
fontes externas são susceptíveis de fornecer alguma informação. Outro modo de

26
avaliar a inteligência é através da comparação do seu nível de inteligência com o dos
colegas.
Festinger (1954), um dos teóricos que mais influenciou a moderna psicologia social,
desenvolveu a teoria da comparação social para explicar este processo. A sua teoria
afirma que na sua ausência de um padrão físico ou objectivo de exactidão,
procuramos as outras pessoas como meio para nos avaliarmos.

As comparações com os outros podem pôr em evidência comparações positivas,


também podem salientar que as pessoas são piores que outras. As crianças podem ser
especialmente vulneráveis a estas comparações negativas, uma vez que o seu
autoconceito se está a desenvolver.

3.5.3 – Comparação Temporal:


As pessoas podem também auto-avaliar-se efectuando comparações entre o seu self
presente e o seu self passado, ou seja, efectuando comparações temporais (Albert,
1977). Frequentemente as pessoas efectuam comparações entre a sua realização
passada e actual. As avaliações efectuadas com base nas tendências temporais podem
ser fonte de satisfação quando a realização melhorou (Campbell, Fairey e Fehr,
1986).

Quando se efectuam comparações temporais pode haver uma relativa distorção. As


pessoas podem esquecer-se até que ponto mudaram. As pessoas podem ser
“historiadores revisionistas” na medida em que têm a capacidade de reescrever as suas
histórias pessoais do modo que lhes convém (Ross e McFarland, 1988).

3.5.4 – Autopercepção:
Uma outra fonte de informação acerca do self baseia-se nas inferências e observações
que as pessoas fazem quando observam o seu próprio comportamento. A teoria da
autopercepção propõe que as pessoas conhecem as suas próprias atitudes, emoções e
outros estados internos, parcialmente inferindo-os de observações do seu próprio
comportamento e ou de circunstâncias com que este comportamento ocorre (Bem,
1972).

A teoria da autopercepção tem implicações importantes para a motivação humana.


Quando se paga às pessoas para fazerem algo, elas não gostam tanto desse trabalho
como quando elas o fazem e não são pagas ou quando iniciam elas próprias a acção
(Derci e Ryan 1980). Realizar uma acção sem razões externas claras leva o autor a
inferir que deve ter valores que levem a este comportamento.

3.6 – O Self num Contexto Cultural:


O nosso sentido do self combina aspectos privados ou internos de uma pessoa e
aspectos mais públicos ou sociais de alguém que se identifica com vários grupos,
sejam eles grupos culturais, raciais, religiosos, políticos, sexuais, etários ou
profissionais, etc. Os aspectos mais privados do self fornecem-nos um sentido de
identidade pessoal, ao passo que os aspectos mais públicos do self propiciam-nos um
sentido de identidade social (Tajfel e Turner, 1979).

Um sentido do self mais privado e separado dos outros tem sido sugerido como sendo
típico das culturas ocidentais, ao passo que um sentido do self mais socialmente
integrado, tem sido apresentado como sendo mais típico das culturas orientais.

27
O desenvolvimento de um sentido do self foi visto como ocorrendo só através de
interacção com outras pessoas e com a sociedade.

3.6.1 – A importância de um grupo para o sentido do self:


A pertença grupal é muito importante para o autoconceito de uma pessoa. A sua
identidade social é aquela parte do seu autoconceito que advém de ser membro de
grupos sociais e da identificação com eles. Distingue-se da identidade pessoal que
engloba os aspectos únicos e individuais do seu autoconceito.

Muitas vezes o nosso sentido de valor do self está ligado ao grupo a que pertencemos
ou com que nos identificamos. Uma proposição fundamental da teoria da identidade
social é a de que os indivíduos procuram manter ou realizar uma identidade social
positiva e distintiva. Em primeiro lugar, estamos preocupados com que o nosso grupo
se possa distinguir de outros grupos, o que nos assegura uma identidade. Em segundo
lugar, estamos também preocupados com que os nossos grupos sejam avaliados
positivamente em relação a outros grupos existentes na sociedade.

Para se estabelecer se o nosso grupo tem uma identidade social positiva ou negativa
usa-se a comparação social intergrupal. Comparamos o estatuto e o respeito do nosso
grupo com outros grupos na sociedade.
Os teóricos da identidade social caracterizam os numerosos movimentos nacionalistas
e étnicos que têm ocorrido no mundo como exemplos de luta por uma identidade
social avaliada de modo positivo e separado. A identidade social tem implicações no
domínio do preconceito e da discriminação.

3.6.2 – Self e cultura: Identidade social através das culturas:


Um dos aspectos mais importantes da identidade social de uma pessoa é a sua cultura
que tem sido definida como o sistema organizado de significações, percepções e
crenças partilhadas por pessoas que pertencem a um grupo particular (Neto, 1997). A
compreensão partilhada de uma cultura passa de geração em geração e
simultaneamente modela e é modelada por cada geração sucessiva.

 Influência do individualismo-colectivismo na estrutura do self:

Ponto de vista individual Ponto de vista colectiva


O self deve ser independente do grupo; O auto-conceito é dependente do grupo;
O auto-conceito é sobretudo definido por O auto-conceito é prioritariamente
atributos internos; definido pelos papéis e pelas relações
sociais;
As pessoas são socializadas por forma a As pessoas são sociabilizadas por forma a
serem únicas, a validarem os seus pertencerem e ocuparem o seu lugar e
atributos internos, a promoverem os seus envolverem-se em grupos adequados e a
próprios objectivos e a dizerem o que “lerem as mentes dos outros”;
pensam;
A auto-estima baseia-se na capacidade de A auto-estima baseia-se na capacidade de
se auto-exprimir e na capacidade de cada um se ajustar ao grupo, restringir os
validar atributos internos. seus próprios desejos e manter a
harmonia social.

28
Este quadro mostra como as diferenças culturais a propósito do individualismo-
colectivismo influenciam a estrutura do autoconceito.

Triandis (1989) refere as distinções entre o self privado (a avaliação do self por si
próprio), o self público (a avaliação do self por um outro generalizado) e o self
colectivo (a avaliação do self por um grupo de referência particular).
Este autor defende que a probabilidade de que um individuo escolha cada um destes
três aspectos do self varia segundo as culturas.

4. Avaliando o Self: auto-estima:


O conceito de auto-estima é um dos que ocorre com muita frequência na literatura
sobre auto-representações. A auto-estima refere-se à avaliação de si próprio (a), seja
de modo positivo ou de modo negativo, contendo julgamentos sociais que as pessoas
internalizaram. Também abarca numerosos auto-esquemas; as pessoas avaliam-se a
elas próprias de modo favorável nalguns aspectos, mas não noutros (Fleming e
Courtney, 1984).

Autoconceito e auto-estima não são totalmente independentes. Não se pode valorizar


algo a não ser que já se tenha uma ideia clara do que é. E, inversamente, ter uma ideia
clara de algo inclui certamente sentimentos avaliativos disso, ambos estão ligados.

4.1 – Avaliação da auto-estima:


A nossa auto-estima global depende do modo como avaliamos as nossas identidades
de papéis específicos, isto é, conceitos do self em papéis específicos (estudante,
amigo, filha, …) e as qualidades pessoais. Avaliamos cada uma delas como sendo
relativamente positivas ou negativas.
Segundo a teoria, o nosso nível global de auto-estima é o produto destas avaliações
individuais, como cada identidade pesada segundo a sua importância (Rosenberg,
1965).

Habitualmente estamos inconscientes do modo preciso como combinamos e pesamos


as avaliações das nossas identidades específicas. Se pesamos as identidades avaliadas
positivamente como mais importantes, podemos manter um elevado nível global de
auto-estima ainda que admitindo uma certa fraqueza. Se damos muito peso às
identidades avaliadas negativamente teremos baixa auto-estima global mesmo s temos
muitas qualidades de valor.

Uma das mais populares medidas de auto-estima é a escala elaborada por Rosenberg
(1965), permitindo prever emoções e comportamentos das pessoas.

4.2 – Desenvolvimento da auto-estima:


As raízes da auto-estima mergulham na infância. Segundo Gordon Allport (1961), a
auto-estima torna-se uma parte importante da auto-consciência entre os 2 e 3 anos.
Por essa altura as crianças começam a exercer controlo sobre elas próprias e sobre os
outros objectos. Se fracassam constantemente ou são frustradas nas suas tentativas de
autonomia, a sua auto-estima ressente-se.
Uma baixa auto-estima na idade adulta na idade adulta pode desenvolver-se a partir de
experiências infantis desagradáveis, tais como medo de castigo, preocupações com as

29
notas escolares, ou a percepção de que uma pessoa é feia (Kaplan e Pokorny, 1970).
Outras experiências negativas da infância associadas a uma baixa auto-estima incluem
a hospitalização de um dos pais por doença mental, um outro casamento de um dos
pais, ou a morte de um pai (Kaplan e Pokorny, 1971).

4.3 – Auto-estima e comportamento:


A auto-estima tem uma grande influência na vida quotidiana. As pessoas com elevada
auto-estima muitas vezes comportam-se de modo bastante diferente das pessoas com
baixa auto-estima. A investigação indica que alta auto-estima está associada com
implicação social activa e propiciadora de conforto, ao passo que baixa auto-estima é
um estado debilitante (Rosenberg, 1979; Wylie, 1979).

Crianças, jovens e adultos com elevada auto-estima são sociáveis e populares com os
seus colegas, confiam mais nas suas próprias opiniões e julgamentos e estão mais
seguras das percepções de si próprias (Campbell, 1990). São mais assertivas nas suas
relações sociais, mais ambiciosas, e obtém melhores resultados académicos.
Pelo contrário os estudantes com baixa auto-estima envolvem-se menos em
discussões e nos grupos formais e usualmente não acedem à liderança. As pessoas
com baixa auto-estima são infelizes e vêem-se a elas próprias como fracassadas. Uma
vez que prevêem fracasso no futuro, não tentem tarefas difíceis e abandonam o que
apresenta obstáculos (Coopersmith, 1967; Ickes e Layden, 1978; Rosenberg, 1965).

4.4 – Variações na Auto-estima:


Muito embora os níveis de auto-estima sejam relativamente estáveis, pode no entanto
haver variações. Muitas vezes essas variações ocorrem alguns minutos, outras vezes
durante anos.

4.4.1 – Adolescência:
Os acontecimentos da adolescência podem abanar a auto-estima. Tanto a transição
para o terceiro ciclo do ensino básico como o início da puberdade podem ser
traumáticos. O crescimento rápido e outras mudanças podem causar grandes estragos
na imagem corporal e lançar desordem na auto-estima. Alguns desses efeitos podem
ainda persistir na idade adulta. Contudo, de modo gradual, a auto-estima recompõe-se
e continua a aumentar até à idade adulta.

4.4.2 – Experiências:
A investigação mostra que as boas avaliações dos professores, dos experimentadores
ou dos (as) namorados (as) levantam a auto-estima, e as más avaliações baixam-na,
pelo menos temporariamente (Metalsk, 1993).
Mesmo circunstâncias que produzem um aumento ou abaixamento temporário no
nosso estado de espírito podem produzir um efeito correspondente na nossa auto-
estima (Esses, 1989).

4.4.3 – Identidade étnica de grupos minoritários:


Muitas vezes tentamos aumentar a nossa auto-estima à custa dos outros. Fazemos tal
sobreavaliando os grupos e os membros dos grupos com que nos associamos, ou seja,
que formam a nossa identidade social, e subavaliando outros grupos e seus membros.

Os membros de minorias étnicas podem ter problemas especiais no desenvolvimento


da auto-estima positiva. Por causa de preconceitos, os membros de grupos

30
minoritários podem ter uma imagem negativa deles próprios como reflexo das
avaliações das outras pessoas. Por isso poder-se-á defender que membros de grupos
minoritários interpretarão as suas realizações como evidenciando a sua falta de valor e
de competência.

A maioria dos estudos oferecem pouco apoio para a conclusão que as minorias étnicas
têm uma auto-estima substancialmente mais baixa. Há estudos que indicam que as
minorias negras têm uma auto-estima tão alta ou um pouco mais alta que os brancos
(Rosenberg e Simmons, 1972; Rotheram-Barus, 1990).

Um modo como as minorias étnicas se têm confrontado com a intolerância é mediante


a redescoberta da sua própria herança étnica e a rejeição activa dos estereótipos
negativos da sociedade (Sandstrom, 1991). A identidade étnica que é um tipo de
identidade social, é o sentido de identificação pessoal de um indivíduo com um
determinado grupo étnico (Hutnik, 1991).

Jean Phiney (1989) propôs um modelo de formação da identidade étnica em três


estados:

Estádio 1: Identidade étnica não examinada:


Falta de exploração da etnicidade, em virtude da falta de interesse ou de ter adoptado
simplesmente opiniões sobre etnicidade de outras pessoas.

Estádio 2: Busca de identidade étnica:


Envolvimento na exploração e na procura da compreensão do sentido da própria
etnicidade, muitas vezes por causa de algum incidente critico que focalizou a atenção
no estatuto na minoria da cultura dominante.

Estádio 3: Identidade étnica realizada:


Sentido claro e confiante da sua própria identidade; capaz de identificar e de
internalizar os aspectos da cultura dominante que são aceitáveis e revoltar-se contra os
que são opressores.

Resumindo, a auto-estima é uma disposição relativamente estável, correlacionada


muitas vezes com outros indicadores de adaptação psicológica.
Experiências infantis, em especial os estilos educativos dos pais, criam um padrão
para a auto-estima aquando da idade adulta. Todavia a auto-estima também flutua
com as circunstâncias. As mudanças físicas da puberdade, acontecimentos vitais
significativos, a identificação com os grupos étnicos e mesmo estados de espírito
efémeros podem modificar o modo como nos sentimos acerca de nós próprios.

4.5 – Autodiscrepâncias:
As listas que se seguem representam auto guias, ou padrões pessoais:

1) O Self que gostaria de ser, englobando todas as esperanças e objectivos (o self


ideal);
2) As características que as pessoas mais importantes (exp, pais, professores,
etc) desejam que atinja (o self ideal para os outros);
3) As características que sente que deve ter em termos de um sentido de dever,
responsabilidade e obrigações para os outros (o self devido);

31
4) As características que outras pessoas importantes sentem que deve ter (o self
devido aos outros).

Com base na teoria da autodiscrepância (Higgins, 1989) podem-se usar estas listas
para predizer não só o nível de auto-estima, como também o seu bem-estar emocional.

Efeitos de discrepâncias com o auto-conceito. As emoções e possíveis desordens


associadas com quatro tipos de autodiscrepâncias:

Discrepância Estado emocional Desordem


Deveres próprios Agitação por auto-critíca Ansiedade
(culpa)
Deveres dos outros Agitação por medo e Ansiedade
ameaça (vergonha)
Ideais próprios Desânimo por falta Depressão
percepcionada de auto-
realizacão (desilusão)
Ideais dos outros Desânimos por perca Depressão
antecipada de afecto social
(falta de orgulho)

Segundo Higgins (1989) as consequências emocionais da autodiscrepância dependem


de dois factores: a quantidade e a acessibilidade. Quanto maior seja a quantidade de
discrepância, mais intenso será o desconforto emocional, e quanto mais conscientes
estejamos desta discrepância mais intenso será o desconforto.

4.6 – Autoconsciência:
A auto-focalização, ou seja, em que medida a atenção de uma pessoa está dirigida
para dentro de si em oposição para fora de si, para o meio (Fiske e Taylor, 1991), está
ligada à memória e à cognição. Só nos podemos focalizar em nós próprios se
relembrarmos acontecimentos passados relevantes e processarmos informação actual
relevante. Um breve período de autofocalização é susceptível de melhorar o
autoconhecimento.

Com base num total de 4 700 observações, somente 8% dos pensamentos registados
eram sobre o self. A atenção dos sujeitos estava muito mais focalizada em actividades
específicas que ocupavam o seu tempo, como trabalho, tarefas quotidianas ou que não
tinham nenhuns pensamentos. Ainda com mais interesse é que quando os indivíduos
pensavam sobre eles próprios, referiam que se sentiam relativamente infelizes e que
desejavam fazer outra coisa.

4.6.1 – Estados de autoconsciência:


Segundo Robert Wicklund e seus associados, na sua teoria de autoconsciência,
geralmente não estamos autofocalizados; no entanto certas situações levam-nos de
modo previsível a voltarmo-nos para o interior e a tornarmo-nos objecto da nossa
própria atenção.
Sabe-se que em certos tipos de contextos sociais aumentam a autoconsciência. A
autoconsciência pode ser induzida pelo facto de nos vermos num espelho, de
ouvirmos a nossa voz gravada, de sermos fotografados, de estarmos num contexto não
habitual, ou de estarmos em minoria num grupo.

32
Segundo Robert Wicklund a autoconsciência induz um processo de auto-avaliação em
que as pessoas começam a focalizar-se até que ponto o seu comportamento se
compara com normas, regras ou padrões que se integram no autoconceito.
Muitas vezes esta auto-avaliação revela uma discrepância entre a sua condição
habitual ou comportamento e os seus padrões ou objectivos.
Se a comparação do self com o padrão é positiva, as pessoas poderão então sentir-se
bem e até procurar mais auto-refleção.
Perante o desconforto, as pessoas têm dois recursos: comportar-se de modo a reduzir a
discrepância ou fugir do estado de autoconsciência. A escolha efectuada depende se as
pessoas esperam poder reduzir com sucesso a sua discrepância.

4.6.2 – Diferentes tipos de autoconsciêcia:


A autoconsciência privada diz respeito à capacidade de prestar atenção aos
sentimentos e pensamentos pessoais (“penso muito sobre mim próprio”);

A autoconsciência pública define-se como uma consciência geral do próprio enquanto


objecto social que tem um efeito sobre os outros (“preocupo-me com a maneira como
me apresento”);

A ansiedade social define-se pelo mal-estar em presença dos outros (“sinto-me


ansioso quando falo perante um grupo”).

A autoconciência privada e pública referem-se a um processo de atenção centrada no


próprio, enquanto que a ansiedade social desponta como reacção a este processo.

Embora os sujeitos autoconscientes privada e publicamente estejam nalgum sentido


atentos a eles próprios, os seus diferentes modos de estar auto-atentos deveriam
acarretar diferentes espécies de comportamentos, havendo evidência para tal.

4.6.4 – O que é que causa diferenças individuais na autoconsciência:


– Experiências de vida significativas durante os anos de formação;
– Efeitos culturais – há alguma evidência que individualistas têm maiores níveis de
autoconsciência privada que colectivistas.

4.7 – Protecção da auto-estima:


As pessoas estão motivadas a proteger a sua auto-estima, seja ela alta ou baixa,
As pessoas utilizam várias técnicas para manter a sua auto-estima (McCall e
Simmons, 1978) referiram quatro:

4.7.1 - Manipulação de avaliação:


Associação com pessoas que partilham a nossa perspectiva do self e evitamos fazê-lo
com pessoas que as não partilham; e interpretar as avaliações das outras pessoas como
sendo mais favoráveis ou desfavoráveis do que são;

4.7.2 - Processamento selectivo de informação:


Prestar mais atenção às ocorrências que são consistentes com a nossa auto-avaliação
(a memória também trabalha na protecção da auto-estima; pessoas com alta auto-
estima lembram actividades boas, responsáveis e bem sucedidas mais frequentemente,

33
ao passo que as pessoas com baixa auto-estima são mais susceptíveis de relembrar as
actividades más, irresponsáveis e mal sucedidas);

4.7.3 - Comparação social selectiva:


Quando não dispomos de padrões objectivos para nos avaliarmos a nós próprios,
recorremos a comparação social. Escolhemos com cuidado as pessoas com que nos
comparamos, podemos adicionalmente proteger a nossa auto-estima (geralmente
comparamo-nos com pessoas que são semelhantes em idade, género, profissão, classe
social, capacidades e atitudes – uma vez que as pessoas fazem uma comparação
social, tendem a sobreavaliar os seus padrões relativos);

4.7.4 - Compromisso selectivo com identidades:


Protege auto-estima global porque a auto-avaliação está baseada mais nas identidades
e qualidades pessoais que consideramos mais importantes (as pessoas tendem a
enaltecer a auto-estima dando mais importância a identidades, religiosas, raciais,
profissionais, familiares, que consideram particularmente admiráveis. Aumentam ou
diminuem também a identificação com um grupo social quando o grupo se torna uma
fonte potencial de auto-estima maior ou menor.

5. Relacionando o Self: auto-apresentação:


Os psicólogos sociais utilizam o termo auto-apresentação para referir os processos
pelos quais as pessoas tentam controlar as impressões que os outros formam.

5.1 – O self nas interacções sociais:


Cooley (1902/1922) e Mead (1934), autores que se inscreveram na corrente do
interaccionismo simbólico sublinharam que os participantes tentam tomar o papel do
outro e ver-se a si próprios da maneira como os outros os vêem. Este processo permite
simultaneamente conhecer o modo como se aparece aos outros e guiar o
comportamento social para ter o efeito desejado.

Erving Goffman sugeriu que a vida social é como uma representação teatral em que a
representação de cada participante é delineada tanto pelo efeito no público como pela
expressão aberta do self. Os participantes desempenham papéis e tentam manter as
suas identidades sociais mediante autoapresentações que sejam apropriadas.

Goffman defendeu que cada pessoa segue um papel, à semelhança do que acontece
numa peça. A principal característica do papel é a aparência, o valor social positivo
obtido da interacção. O objectivo da interacção social não é manter a aparência.
Manter a aparência é uma condição para que a interacção social continue. Incidentes
que ameaçam a aparência de um participante ameaçam também a sobrevivência da
relação. É por isso que quando acontecimentos desafiam a aparência de um
participante, iniciam-se correctivos para impedir que o embaraço possa interferir na
conduta.

Alexander, sugeriu também que a auto-apresentação é uma faceta fundamental da


interacção social. As identidades tendem a ser situadas, isto é, as identidades são
muitas vezes apropriadas com a base para as interacções unicamente em certas
situações (ex.: a relação professor-aluno que se verifica numa sala de aulas não é apropriada
quando as 2 pessoas se encontram num café).

34
Estas três teorias de auto-apresentação estão em consonância ao considerar que as
outras pessoas estão sempre a formar impressões a nosso respeito e utilizam estas
impressões para orientar as suas interacções connosco.

5.2 – Motivos da auto-apresentação:


Na gestão da impressão foram identificados 2 componentes:
– Impressão motivação – refere-se até que ponto se está motivado para controlar o
modo como os outros nos vêem, para criar uma impressão particular nas mentes dos
outros. Resulta de 3 motivos primários: o desejo de obter recompensas sociais
(aprovação, amizade e poder) e materiais (subida de ordenado); para manter ou para
aumentar a auto-estima; e para facilitar o desenvolvimento de uma identidade.

– Impressão construção – implica a escolha de uma imagem particular que se quer


criar e alterar o comportamento de outra para modos específicos em vista a realizar
este objectivo.

A auto-apresentação pode ser também um meio de criar ou reforçar uma identidade.


Comportamentos de auto-apresentação que obtêm recompensas também aumenta a
auto-estima e ajuda a estabelecer identidades desejadas.

5.3 – Auto-apresentação e embaraço:


Uma auto-apresentação bem sucedida é uma condição “sine qua non” para toda a
interacção social. Uma auto-apresentação bem sucedida suscita uma auto-imagem
positiva (Jones, Rhodewalt, Berglas e Skelton, 1981).
Se o papel é mal desempenhado, o sujeito “perde a face”. Há então divergência entre a
identidade que este apresentar e a identidade resultante. A pessoa em causa encontra-
se numa situação difícil. O embaraço é uma emoção desagradável quando cremos que
não podemos representar um papel de modo coerente numa situação pública.

5.3.1 – Embaraço, uma forma de ansiedade social:


O embaraço é geralmente visto como uma forma de ansiedade social intimamente
relacionado com a timidez, a ansiedade em público e a vergonha – emoção
caracterizada por sentimentos de culpa, embaraço e evitamento.

A timidez, surge quando há uma discrepância antecipada entre a auto-apresentação de


uma pessoa e o seu padrão para a auto-apresentação ou quando a resposta de um
sujeito depende em grandes parte das respostas dos outros, isto é, situação de
desconforto, embaraço e inibição na presença de outros (Neto, 1996).

Assim, a Vergonha reflecte um desvio de um ideal objectivo e universal do que é ser


uma pessoa de valor. Normalmente refere-se a sentimentos de auto-estrada ou de auto
repugnância.

O Embaraço reflecte desvio da concepção do indivíduo do seu carácter ou pessoa.


Surge provavelmente quando é percepcionada uma discrepância entre a auto
apresentação de uma pessoa e o seu padrão para a auto apresentação (Asendorpf,
1984).

35
MOTIVOS PRIMÁRIOS PARA A ANTECEDENTES
AUTO-APRESENTAÇÃO DISPOCIONAIS / SITUACIONAIS
Obter Recompensas Sociais ou Impressão é Relevante para os
Materiais – aprovação; amizade; Objectivos de Uma Pessoa – o
poder; estatuto; dinheiro comportamento é visível; a pessoa está
dependente de uma alvo
Manter ou Elevar a Auto- + Os Objectos São Altamente Motivação para
Estima – elogio; sentir que se Valorizados – os recursos escassos; = a gestão da
fez boa impressão elevada competição; elevada necessidade impressão
de aprovação; o alvo tem poder e
estatuto.
Criar ou Reforçar uma Grande Discrepância Entre Auto-
Identidade – indica posse de Imagens habituais e desejadas –
identidade características fracassos prévios; sentir que os outros
relevantes têm uma imagem negativa a nosso
respeito.

5.3.2 – Modelo multifacetado do embaraço:


O modelo proposto por Edelmann pressupõe uma complexa interacção de
acontecimentos e de avaliações destes acontecimentos e não tanto uma clara
sequência de acontecimentos. Para esta perspectiva as respostas emocionais podem
ser inatas, mas os estímulos evocadores, as avaliações subsequentes e as estratégias de
confronto são aspectos aprendidos.

Os principais temas do modelo podem sintetizar-se do seguinte modo:


1) Nas situações sociais os indivíduos tentam controlar imagens do autoconceito
perante audiências reais ou imaginadas;
2) Um certo número de consequências comportamentais está associado com o
aumento da auto-atenção pública que resulta de uma ruptura observada da
rotina social. A autofocalização em aspectos específicos pode ter como efeito
a intensificação da experiência de embaraço;
3) Como é difícil esconder o embaraço, determinadas estratégicas remediativas
podem ser adoptadas para recuperar a aprovação social perdida e restaurar a
imagem pública do actor.

Esta avaliação cognitiva pode ter como consequência respostas fisiológicas,


comportamentais e a experiência subjectiva do embaraço.

Estratégias de confronto com o embaraço podem ser suscitadas após uma avaliação
inicial de estímulos e das reacções da pessoa a esses acontecimentos.

5.3.3 – Antecedentes, respostas e estratégias de confronto com o embaraço:


Geralmente os acontecimentos embaraçosos estão ligados a um passo em falso, uma
inconveniência, uma transgressão que suscita na imagem projectada do actor uma
impressão que ele não deseja.

Modigliani (1968) distinguiu as seguintes classes de acontecimentos embaraçosos:


 Situações em que a pessoa fica desacreditada pela sua auto-apresentação
através de algum disparate cometido inadequadamente, como por exemplo o
escorregar e cair num lugar público;

36
 Situações em que a pessoa se encontra incapaz em responder de modo
adequado a um acontecimento inesperado que ameaça impedir o calmo fluxo
de interacção, como, por exemplo, prestar atenção a algum estigma físico de
um interlocutor;
 Situações em que o actor perde o controlo da sua auto-apresentação não tendo
um papel bem definido, como, por exemplo, quando somos apresentados a um
vasto grupo de pessoas;
 Situações em que há um embaraço empático, isto é, a pessoa observa outra
que parece estar numa situação embaraçosa. É um exemplo disso, o facto de
alguém com que estamos se comportar de modo não adequado;
 Situações em que o individuo se encontra envolvido em incidentes com
conotações sexuais não adequadas, como por exemplo entrar numa casa de
banho ocupada por um elemento de outro sexo.

As reacções específicas ao embaraço caracterizam-se por corar, aumento da


temperatura, aumento do ritmo cardíaco, tensão muscular, rir, desvio do olhar e tocar
a face;

As principais estratégias verbais são: pedir desculpa; comentar os próprios


sentimentos; exclamação; explicação; desculpa mais explicação; explicação mais
justificação; justificação; gozar, etc.

Estratégias não verbais: sorrir; procurar o contacto ocular; evitar o contacto ocular;
comportamento motor; postura…

5.3.4 – Implicações sociais do embaraço:


Geralmente tentamos comportarmo-nos de modo socialmente apropriado para
assegurar que uma determinada imagem de nós próprios seja apresentada aos outros
(Goffman, 1959).

À medida que o embaraço vai aumentando, a dádiva da ajuda diminui em presença de


vastos públicos. Quanto maior é o público, menor ajuda prestarão as pessoas.

Outros factores que contribuem para a inibição social da dádiva de ajuda são situações
ambíguas, situações embaraçantes e quando o pedido de ajuda é efectuado por uma
pessoa deficiente ou desfigurada.
Pelo contrário a dádiva da ajuda pode aumentar no caso do pedido ser efectuado após
acontecimento embaraçante realizado pela pessoa que dá ajuda.

O medo de embaraço pode desempenhar um papel importante na possibilidade de se


dar ajuda aos outros ou de se procurar ajuda. Um modo frequente do embaraço se
tornar conhecido no mundo social é através do que as pessoas farão para o evitar.

5.4 – Tácticas de Auto-apresentação:


São várias as formas/tácticas utilizadas pelas pessoas para se apresentarem umas às
outras. Foram identificadas 5 tácticas principais de auto-apresentação, diferindo no
tributo particular que a pessoa está a tentar ganhar (Jones e Pittman, 1982).

Insinuação – tem como objectivo principal ser visto como uma pessoa
simpática; os insinuadores querem que os outros gostem deles (ex.: cumprimentar

37
outras pessoas, ser um bom ouvinte, amigável, fazer favores e conformar-se nas
atitudes e comportamento)

Intimidação – procura projectar identidade como sendo uma pessoa forte e


perigosa (através de olhares ameaçantes, de palavras zangadas, de ameaças de
violência, os intimidadores tentam ganhar condescendência induzindo medo nos
outros. Intimidador tipo: ladrão com arma, atletas de equipas contrárias)

Autopromoção – querem respeito para as suas actividades; esta táctica envolve


tentativas da parte de um actor para realizar uma identidade como sendo uma
pessoa competente e inteligente – importante para obter resultados imediatos
(ingressar num curso ou emprego de difícil acesso).

Exemplificação – tem como objectivo modificar o comportamento do público-


alvo; projectando uma imagem de moralidade, de integridade e de dignidade; com
uma actuação admirável uma pessoa amplifica um determinado código, norma ou
padrão de conduta que deveria orientar o comportamento de todas as pessoas.

Súplica – leva a que uma pessoa pareça fraca e dependente. Pode ser a única
táctica disponível para aquela pessoa que não dispõe dos recursos requeridos pelas
tácticas precedentes. Esta táctica funciona porque há normas espalhadas na nossa
cultura que vão no sentido de que as pessoas necessitadas devem ser ajudadas.
Estas normas são mais salientes quando a dependência não aparece como sendo da
responsabilidade do sujeito como, por ex., uma pessoa que nasceu deficiente em
oposição a uma pessoa que se tornou alcoólico. Mas é óbvio que demasiada
súplica tem os seus custos. Por um lado, as pessoas fracas raramente podem estar
seguras de que os outros viverão em conformidade com essas normas e, por outro
lado, a fraqueza não é muito atractiva.

Tácticas Técnicas Objectivo


Insinuação Lisonjear, concordar Ser visto como simpático

Intimidação Ameaça Ser visto como perigoso


Autopromoção Jactar-se Ser visto como competente
Exemplificação Blasonar Ser visto como moralmente
puro
Súplica Rogar Ser visto como Fraco

As cinco tácticas de auto-apresentação podem ser utilizadas pela mesma pessoa em


situações diferentes. Por consequência, mesmo se uma pessoa pode ser “especialista”
numa ou noutra táctica, é muito provável que cada um de nós utilize cada uma dessas
tácticas em diversas ocasiões. É também possível que se usem elementos de mais de
uma táctica na mesma ocasião.

As tácticas têm como objectivo influenciar o modo como os outros nos vêem, mas
também podem mudar o modo como nos vemos. Podem influenciar o nosso
autoconceito (Rhodewalt e Agustsdottir, 1986).

38
5.5 – Estilo de Auto-apresentação: Autovigilância:
Todos nós recorremos a estratégias de auto-apresentação. Contudo algumas pessoas
são mais susceptíveis de enveredarem por auto-representações estratégicas que outras.
Segundo Mark Snyder (1974,1987) estas diferenças estão relacionadas com um traço
de personalidade denominado de autovigilância (“self-monitoring”) que é a tendência
para usar pistas de auto-apresentação das outras pessoas, para controlar as suas
próprias auto-apresentações. As pessoas com elevada autovigilância estão conscientes
das impressões que suscitam nas interacções sociais e são sensíveis às pistas sociais a
propósito de como se deveriam comportar em diferentes situações. Os seus
comportamentos expressivos são o reflexo dos seus estados interiores permanentes e
momentâneos.

Exemplificações e súplicas – as pessoas diferem na sua motivação e habilidade em


controlar a sua autoapresentação.
As pessoas altas em autovigilância estão conscientes das impressões que suscitam e
são sensíveis as pistas sociais acerca de como as pessoas deveriam comportar-se em
diferentes situações. As pessoas baixas em autovigilância falta-lhes quer a habilidade
quer a motivação para regular a sua auto-apresentação expressiva e tendem a
comportar-se de modo consistente com a sua própria auto-imagem e não tanto com a
situação.

Autovigilância e autoconsciência – ao princípio podem parecer que são semelhantes,


mas não são, Carver e Scheier (1981) defendem que embora estejam relacionadas,
medem algo diferente.
– A autovigilância focaliza-se mais nas habilidades de auto-apresentação.
– A Autoconsciência focaliza-se mais na auto-atenção.

RESUMO:
SELF – AUTOCONCEITO

Cada vez mais os psicólogos têm chamado atenção para a importância do self.
A Psicologia Social contemporânea reconhece a importância do self: o termo
autoconceito refere-se a todos os nossos pensamentos acerca de quem somos. O
autoconceito tem muitas componentes que podem ser afectadas por várias
características ambientais. Os auto-esquemas são pois generalizações cognitivas
acerca do self que têm influência no modo como organizamos e nos lembramos de
acontecimentos.

A memória de acontecimentos vitais desempenha um papel relevante nas auto-


representações. Em 1º lugar a memória autobiográfica é egocêntrica, as
pessoas têm a tendência a sobreavaliar o alcance do seu próprio papel nos
acontecimentos passados.

Diversas fontes podem contribuir para o self das pessoas. A avaliação


reflectida refere-se as percepções que as pessoas têm de avaliação dos outros
acerca delas próprias.

As pessoas podem também aprender acerca delas próprias mediante


comparações sociais com outros semelhantes sobre atributos relacionados com

39
a realização. A comparação da realização presente de uma pessoa com a
realização passada também pode ser uma fonte do autoconceito.

A Teoria da Identidade Social sugere que os grupos a que pertencemos


formam uma fonte importante da nossa identidade. Os grupos Culturais são
uma fonte importante de identidades sociais e podem determinar a nossa
compensação do SELF.

A auto-estima refere-se a avaliação positiva ou negativa que temos de nós


próprios. A maior parte das pessoas tentam manter uma auto-estima positiva.
A auto-estima global depende das avaliações das identidades de papéis
específicos. As pessoas com auto-estima mais elevada tendem a ser mais
populares, assertivas, ambiciosas, com melhor sucesso académico, mais bem
adaptadas e mais felizes. As práticas educativas e outros acontecimentos
significativos nas nossas vidas podem afectar a nossa auto-estima.

A teoria da autodiscrepância prediz que a nossa auto-estima também é


influenciada pelo fosso que percepcionamos existir entre o nosso self actual e
as várias autoguias, ou padrões que temos para nós próprios. Alguns destes
padrões provêm do que pensamos que as outras pessoas esperam de nós,
alguns vêm dos nossos objectivos.

Não gastamos todo o nosso tempo a pensar sobre nós próprios. Todavia há
condições que podem suscitar um estado de autoconsciência, durante o qual
focalizamos a atenção nalgum aspecto do self e comparar-nos-emos com
algum padrão interno. Há também evidência eu algumas pessoas estão
cronicamente mais atentas a elas próprias que às outras, e que essa
autoconsciência crónica pode estar dirigida quer para aspectos privados
(crenças, atitudes e valores) quer para aspectos públicos (aparência). A
autoconsciência está associada com o uso e abuso do álcool.

Podemos recorrer a numerosas técnicas para proteger a autoestima. Mais


especificamente procuramos avaliações reflectidas consistentes com as nossas
próprias perspectivas, processamos informação selectiva, escolhemos com
cuidado as pessoas com quem nos comparamos e atribuímos maior
importância a qualidades que fornecem uma retroacção consistente.

As pessoas enveredam muitas vezes por estratégias de auto-apresentação para


influenciar a impressão que causam nas outras pessoas.

O embaraço é geralmente visto como forma de ansiedade social, tal como a


timidez, a ansiedade em público e a vergonha. O embaraço surge quando é
percepcionada uma divergência entre a auto-apresentação de uma pessoa e o
seu padrão para a auto-apresentação.

Tácticas específicas de auto-apresentação incluem insinuação, intimidação,


autopromoção, exemplificação e súplica. As pessoas diferem na sua motivação
e habilidade em controlar a sua auto-apresentação.

40
A função do procedimento educativo M/81 reside numa tomada de
consciência pessoal em relação aos determinantes das preferências
profissionais. Esta técnica não pretende ser mais do que uma das componentes
possíveis de um conjunto de técnicas educativas com vista ao favorecimento
da maturação das preferências profissionais

III – CRENÇAS DE CONTROLO E ATRIBUIÇÕES


O homem é uma autonomia contingente. Sem ter a última palavra nos
acontecimentos, configura-os contudo. Mas até esse privilégio perde quando descrê
de si. Então é os deuses podem tudo.
Miguel Torga
1.Introdução:
A vida é uma permanente busca de controlo. Desde a mais tenra idade e até ao fim da
vida o ser humano defronta-se com situações em que as questões de controlo estão
presentes. Aí surgem a agressão e o conflito, dominação e submissão, negociação e
cooperação.
Em suma, o tema do controlo em todas as suas variações permeia todos os aspectos da
vida real. Não admira que a psicologia do controlo se tenha tornado uma área de
investigação dominante. Numerosas subdisciplinas na psicologia, desde a
educacional, social, industrial à clínica, têm fornecido uma ampla evidência do
impacto da psicologia do controlo.

Contudo, a grande popularidade da psicologia do controlo suscita um certo número de


problemas. Entre eles a proliferação dos conceitos relacionados com o controlo. Estes
incluem, entre outros, locus de controlo, locus de causalidade, controlo desejado,
controlo participado, controlo partilhado, controlo percebido e real, julgamentos
contingentes, auto-eficácia, mestria, motivação para o poder, autonomia, liberdade,
responsabilidade, reactância psicológica, desânimo aprendido, optimismo aprendido,
ilusão do controlo, crença num mundo justo,...

O que é então o controlo? Adler fala em “vontade de poder”, “procura de


superioridade”. Outros autores falam de vontade de se sentir causa ou protagonista.
Heider e Kelley (teóricos da atribuição causal) explicam a busca de causalidade como
sendo a necessidade de controlo e de poder. Kelley (1971) afirma que o objectivo da
análise causal “é o controlo efectivo”.

O locus de controlo é definido como uma crença, percepção ou expectativa de


controlo do reforço. Por sua vez, as atribuições causais surgem tomando por base
crenças que permitem explicar e controlar acontecimentos da vida quotidiana.

Socialmente é mais valorizada a crença de controlo (internalidade) em termos de


sucesso, de saúde psicofísica ou de adaptação social. É a chamada norma de
internalidade que não provém apenas de um puro determinismo psicológico, mas pode
encontrar fundamento nas práticas educativas visando o controlo do poder.

2.A Ilusão de Controlo:


Conforta-nos a ideia de que conseguimos controlar o nosso destino. Muitas vezes as
pessoas enganam-se a si próprias, pensando que têm mais controlo do que

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efectivamente têm, surgindo assim a ilusão de controlo. A tendência para acreditar
que os acontecimentos são controláveis é tão forte que bastarão alguns resultados
positivos para provocar a ilusão de controlo. O sucesso numa tarefa pode criar uma
ilusão de controlo.

Langer (1975) ilustrou as manifestações desta ilusão de controlo, definindo-a como


sendo a expectativa de uma possibilidade de sucesso muito superior à probabilidade
objectiva.

3. Locus de controlo:
Locus – Lugar (locus de controlo – lugar de controlo)

3.1 – Popularidade e definição:


A grande atenção dos psicólogos (clínicos, educacionais e sociais) prestada a este
construto deve-se à importância das expectativas, do valor do reforço e da situação
para a interpretação do comportamento humano (Rotter, 1975). O locus de controlo
toca a complexidade da pessoa e do seu comportamento, dada a importância das
expectativas de controlo de reforço e do valor do mesmo reforço para o
comportamento, considerando sempre o contexto.

Rotter, considerado o pai deste construto, na sua monografia de 1966, onde teorizou
sobre esta variável e apresentou a sua escala, inicialmente não usava a expressão locus
de controlo, mas controlo interno-externo de reforço, considerando-o uma crença,
uma percepção (usa o verbo perceber), uma expectativa, ou ainda uma interpretação.
Esporadicamente denomina também esta variável de atitude.

Rotter descreve deste modo o controlo interno e externo:


Controlo Externo – “quando o reforço é percebido pelo sujeito como seguindo-se a
alguma acção sua, mas não estando completamente dependente dessa acção, então na
nossa cultura é tipicamente percebido como resultado da sorte, do acaso, do destino
ou sob o controlo de outros poderosos ou como imprevisível, dada a grande
complexidade de forças que o rodeiam.”
Controlo Interno – “Quando a pessoa percebe que o acontecimento depende do
próprio comportamento ou das suas características relativamente permanentes.”

O controlo interno-externo refere-se ao grau segundo o qual o individuo cré que o que
lhe acontece resulta do seu próprio comportamento ou então é resultado da sorte, do
acaso, do destino ou de forças para além do seu controlo”

Rotter criou uma escala que permite, de algum modo, medir a internalidade-
externalidade (Escala I-E), que é considerada o protótipo das escalas de LOC.

Outros autores, citam outros construtos mais ou menos próximos do locus de controlo,
procurando distingui-los, como percepção de controlo, controlo pessoal, controlo real,
necessidade ou desejo de controlo, controlo pessoal, controlo real, necessidade ou
desejo de controlo, percepção de competência, poder/impotência, auto-estima, crença
num mundo justo, motivação intrínseca, crença meios-fins, resultados antecipados ou
esperados, expectativas de reforço, automotivação, etc. Alguns destes conceitos
situam-se “para além do locus de controlo” (Palenzuela, 1966).

42
3.2 – Diferenças Comportamentais:
Situações competitivas: as pessoas com um locus de controlo externo têm mais
tendência para desistir, os internos excedem-se mais quando está evolvida a
competição mas em situações de cooperação os comportamentos são semelhantes
(Nowicki, 1982).

Relativamente à resistência à influência, os internos são menos influenciáveis, que os


externos, por terem maior confiança em si próprios. Uma das provas em apoio desta
hipótese advém de se ter mostrado que os internos se conformam menos facilmente
que os externos com a opinião de um grupo. os externos mostram maiores tendências
a conformar-se (Odell, 1959).

O trabalho de Spector (1982) tem em conta a distinção entre conformidade normativa,


ou seja, a que corresponde ao desejo de não cortar com os outros, e conformidade
informativa, ou seja, a que denota a necessidade de responder com a maior certeza
possível tendo em conta as respostas dos outros como informações.
Os resultados indicam que os externos se diferenciam dos internos relativamente à
conformidade normativa. Relativamente à conformidade informativa os dois grupos
não se diferenciam.

Nas interacções sociais os internos tentam controlar os resultados e as situações. São


também os internos que denotam condutas de liderança e mais comportamentos de
ajuda aos outros.

Em contexto laboral seria de esperar que o aumento de salário agisse como um


incentivo para se trabalhar mais e se estar mais satisfeito com o trabalho.
Earn (1982) sugere que os internos interpretam as recompensas como denotando o
seu grau de competência. Ao invés, os externos vêem a recompensa como uma
indicação de que a tarefa deve ser desagradável. Em contexto laboral, são também os
internos que se sentem mais motivados e envolvem-se mais com o trabalho.

Cummins (1989)analisa o papel do suporte social e do locus de controlo como


determinantes da satisfação ou da insatisfação (stress) no trabalho. O tipo de suporte
ou desintegração social estava associado com a satisfação no trabalho, dependendo
também da percepção de controlo do reforço. As diferentes dimensões de locus de
controlo (internalidade, externalidade devido à sorte, externalidade devido ao poder
dos outros) produzem igualmente efeitos na satisfação no trabalho,
independentemente do nível de suporte social.

Foi igualmente demonstrada a capacidade dos internos em prestarem atenção à


informação do meio em situações da vida real. Estes são muito mais levados a reagir a
informações de índole médica para uma mudança dos seus hábitos de vida que os
externos. Além disso, os internos têm mais em conta os avisos dados relativos à
aproximação de uma catástrofe natural e iminente, procurando abrigo (Sims e
Baumrann, 1972).
Os internos levam uma vida mais sadia e mais segura que os externos. Há mesmo
quem emitisse a hipótese de que há uma relação entre a orientação interna e a
capacidade de cura do cancro (Holden, 1978).

43
Escovar (1977) caracteriza a psicologia comunitária com um “processo pelo qual o
homem adquire mais controlo sobre o seu ambiente”. Para ele, as transformações
comunitárias devem começar pela transformação das pessoas, sentindo-se mais
responsáveis pelo seu destino e mais confiante na mudança.
Este autor avança um modelo psicossocial do desenvolvimento, neste modelo é
salientada a necessidade de se romper o círculo vicioso em que as atitudes das
populações carecidas conduzem a atitudes e comportamentos que, por sua vez, retro-
alimentam essas mesmas características. Entre os factores que contribuem para o
status quo, é referida a característica da externalidade. Assim a sorte, o azar, a vontade
divina, o destino, os outros poderosos, etc., são considerados por estas pessoas como
responsáveis pelos seus destinos. Este tipo de pessoas encontra-se com frequência
entre as comunidades mais desfavorecidas.
Ao invés um dos factores que visa o desenvolvimento da comunidade é o
desenvolvimento da crença de que as pessoas podem interferir nos seus destinos, o
que caracteriza as pessoas consideradas internas. Estas estarão menos dependentes da
ajuda dos outros e serão capazes de ter uma maior influência no seu destino.

Resumindo: os resultados referidos são suficientes para ilustrar que os interesses


usufruem de uma melhor representação que os externos. Quando se é interno é-se
mais bem sucedido e adaptado social e emocionalmente do que quando se é externo.
O estudo da distribuição social de crenças de controlo mostra que as explicações
internas são mais expressas nos grupos sociais favorecidos.

3.3 – Investigação Intercultural:


Os estudos interculturais do locus de controlo podem-se agrupar em duas rubricas:
uma referente a estudos comparativos interculturais de grupos de nacionalidades
diferentes e outra referente a estudos de grupos étnicos minoritários no seio da mesma
nação. O estudo de diferenças em grupos nacionais e étnicos são, segundo Phares
(1976), importantes, não só porque podem medir diferenças grupais em certas
espécies de comportamento, mas também por causa das suas implicações em relação
aos antecedentes das crenças de internalidade.

3.3.1 – Comparações Nacionais:


Tendo em conta as grandes semelhanças culturais entre países anglo-saxónicos, não se
pode esperar grandes diferenças no locus de controlo entre estes países.
Também as diferenças entre países europeus e entre a Europa e os Estados Unidos
tendem a ser pequenas (Dyal, 1984). Pelo contrário há diferenças consistentes entre
americanos e asiáticos, obtendo os japoneses um score alto em externalidade. Os
estudantes japoneses são mais externos que os dos Estados Unidos.
Uma ideia que também tem sido evidenciada é a de que as pessoas das nações
industrializadas são mais internas que as dos países em vias de desenvolvimento

3.3.2 – Comparações com grupos étnicos e minoritários:


As investigações apontam para uma maior externalidade dos grupos minoritários.
Resultados de experiências puseram em evidência uma interacção entre a raça e a
classe social, sendo as crianças negras da classe mais baixa as mais externas. Lefcourt
e Ladwing (1966) efectuaram um estudo com prisioneiros adultos relativamente
homogéneos quanto à classe social; os negros eram mais externos que os brancos.

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Quanto aos americanos de origem hispânica não se diferenciam americanos anglo-
saxónicos.
Os americanos de origem chinesa eram significativamente mais externos que os
americanos de origem anglo-saxónica e menos externos que os chineses de Hong
Kong.

De referir também as investigações em que se comparou o locus de controlo de


pessoas que emigraram recentemente ou de residentes temporários, com pessoas da
mesma cultura que ficaram no país de origem ou da sociedade receptora. As pessoas
que emigravam eram mais externas que as outras.

3.4 – Desejo de Controlo:


Jerry Burger e seus colegas distinguem entre:
o Locus de controlo refere-se ao controlo pessoal que as pessoas percepcionam
ter.
o Desejo de controlo refere aquele que gostariam ou aquele que preferem ter.
Os dois não são a mesma coisa e são possíveis diferentes combinações de cada um

Locus de controlo e desejo de controlo são diferenças individuais no modo como


vemos as nossas relações com as situações. Afectam o comportamento em contextos
diferentes. São diferentes e podem revestir-se de diversas nuances (ex.: uma pessoa
pode preferir ter um alto grau de controlo sobre a sua vida, mas acredita que
actualmente tem pouco. As pessoas com desejo de controlo têm maior tendência para
controlar uma conversa, para se envolver com a comunidade, são também mais
susceptíveis de sobressair na realização das tarefas).

Burger (1992) sugere quatro razões para a tendência das pessoas altas no desejo de
controlo, sobressaírem:
– Têm objectivos mais elevados e ajustam os seus objectivos de modo apropriado
após a comunicação do seu resultado;
– Fazem um esforço extra em ocasiões apropriadas;
– Persistem mais tempo em tarefas difíceis;
– Sujeitos com alto desejo de controlo tendem a assumir os seus sucessos e a atribuir
os seus fracassos à sorte, são mais susceptíveis de fazer mais esforço nas tarefas
subsequentes

4. Reacções à Perda de Controlo:


Muito embora possa ser gratificante acreditar que se tem controlo sobre os
acontecimentos, nem sempre se pode ter esse controlo.

4.1 – Teoria da Reactância:


Esta teoria explica algumas das nossas reacções à perda de controlo ou liberdade de
escolha (Brehm, 1966)
A reactância psicológica é uma motivação para restaurar liberdades comportamentais
ameaçadas.
Fruto proibido é o mais apetecido, ou seja, temos tendência para contrariar tentativas
de limitação da nossa liberdade.

4.2 – Desânimo Aprendido:

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Desânimo aprendido foi definido por Seligman (1975) como sendo uma crença que os
resultados de uma pessoa são independentes das suas acções. (a 1ª investigação sobre
esta problemática foi efectuada com animais (cães). Seligman sugeriu 3 espécies de
défices em resultado de experiências com resultados incontroláveis:
 Défice motivacional, pelo que o animal não tenta aprender novos
comportamentos;
 Défice cognitivo, pois a aprendizagem não se efectua;
 Défice emocional, tornando-se o animal deprimido porque os resultados são
incontroláveis.

Para Seligman a depressão é uma forma de desânimo aprendido em virtude de


experienciar resultados incontroláveis.
A depressão que se associa à falta de controlo devido a factores internos (falta de
capacidade), estáveis (traço de personalidade) e globais (inteligência geral), do que
devido a factores externos, instáveis ou específicos. O desânimo aprendido observado
nos animais é também, uma resposta humana.

A noção de desânimo aprendido tem também sido evocada para explicar as reacções a
uma ampla variedade de agentes de stress, como: ruído, desemprego,
sobrepovoamento e desastres tecnológicos. O desânimo aprendido pode ser uma
resposta para as pessoas que sentem que não têm controlo das situações.

4.3 – Dependência Auto-Induzida:


Uma ilusão de incompetência pode ser criada por um certo número de situações
(Langer, 1978) levando a que as pessoas se tornem realmente incompetentes. A teoria
baseia-se em que a pessoa convence-se a si própria que não é capaz, mesmo que tenha
capacidade. Esta teoria demonstra que quando se está acostumado a estar dependente
de alguém, das suas decisões, das suas acções, cria-se um sentimento de dependência
que não lhe permite ir mais além (ex.: terceira idade – o facto de se rotularem os
idosos de dependentes ... esse rótulo pode efectivamente criar dependência)

5 – Atribuições:
O tema da atribuição é um dos domínios mais importantes da investigação na
psicologia social nas 2 últimas décadas.

A atribuição ajuda-nos a prever e controlar a nossa experiência social. Se


acreditarmos que compreendemos as causas de determinado comportamento,
reagiremos com certos pensamentos, sentimentos e respostas. A atribuição acerca de
acontecimentos do passado tem influência nas nossas expectativas de futuro.

Apesar da diversidade e multiplicidade de teorias existem 4 princípios gerais que são


habitualmente aceites (Harvey e Weary 1984):
A atribuição de causalidade é uma actividade com ampla difusão na vida
quotidiana;
As atribuições podem não ser exactas, mas sujeitas a erros;
O comportamento das pessoas depende da maneira como percebem e
interpretam os factos;
A actividade atribucional desempenha uma função adaptativa.

46
5.1 – O que é uma atribuição:
5.1.1 – Definição:
A atribuição é a dedução (inferência) que pretende explicar porque é que um
determinado acontecimento ocorreu ou pode ainda tentar determinar as disposições,
reacções de uma pessoa.
A questão do porquê que nos colocamos tanto pode ser os nossos próprios
comportamentos como sobre os dos outros. A explicação que se avança torna-se então
a causa percepcionada de um acontecimento ou de um comportamento
correspondendo a uma atribuição. Convém realçar que uma atribuição representa uma
causa percepcionada que pode não estar certa (ex.: uma estudante pode interrogar-se
porque é que reprovou o último exame de Psicologia Social. As atribuições emitidas
por esta estudante terão um efeito decisivo sobre os seus comportamentos futuros. Se
a estudante crê que o seu fracasso se deve à falta de capacidade, pode abandonar a
matéria; se, pelo contrário, atribui o seu fracasso à pouca sorte, poderá continuar as
aulas esperando ter mais sorte da próxima vez. As atribuições desempenham, pois, um
papel importante no comportamento social).

5.1.2 – Tipos de Atribuições:


Podem-se reagrupar as atribuições emitidas em três tipos principais:
 Atribuições Causais – são efectuadas a propósito de causas de um
acontecimento (ex.: causas utilizadas para explicar um sucesso ou um fracasso
ou para explicar uma falta de controlo sobre um acontecimento);
 Atribuições Disposicionais – procuram determinar até que ponto uma acção
levada a cabo por uma pessoa, permite retirar ilações sobre as suas
características, a sua personalidade;
 Atribuições de Responsabilidade – são mais difíceis de apreender, podem
revestir-se de 3 tipos: responsabilidade relativa a um efeito produzido;
responsabilidade legal (pode-se cometer um delito sem se ser responsável –
autodefesa, loucura); e responsabilidade moral – auto-censura (quando uma
pessoa se julga culpada do que acaba de acontecer).

5.1.3 – Avaliação das Atribuições:


O método mais comum de medida das atribuições refere-se à avaliação das
atribuições causais específicas, através de:
1. questionários de resposta aberta ou não estruturada, onde os sujeitos referem
porque é que obtiveram sucesso ou insucesso numa dada tarefa;
2. medidas de percentagem das causas, em que os indivíduos indicam a contribuição
de cada causa para o resultado obtido (somatório das avaliações de percentagem
deve ser = 100%);
3. escalas de Likert, onde os sujeitos indicam o grau de importância de cada causa
como determinantes de um dado acontecimento.

As atribuições disposicionais e de responsabilidade são também medidas através de


questionários e codificação de conteúdos.

Hoje em dia são sobretudo as dimensões causais subjacentes às atribuições que se


utilizam na investigação. Assim, os investigadores não medem directamente as
atribuições, mas antes as dimensões causais que descrevem a atribuição em questão.
Com este intuito, Russel desenvolveu a Escala de Dimensões Causais (CDS).
Compõe-se de 8 situações hipotéticas de realização a que os sujeitos respondem

47
indicando as causas responsáveis pelo sucesso e insucesso, avaliando, em seguida,
cada uma dessas causas em 9 escalas semânticas diferenciais (com formato Likert em
9 pontos). A Escala possui 3 itens para cada dimensão causal (locus de causalidade,
estabilidade e controlabilidade).

As questões relativas às atribuições de responsabilidade são mais directas (ex.: “até


que ponto pensa que o seu vizinho é responsável pelos estragos havidos no seu
apartamento?”) e implicam a noção de censura

5.2 – Teorias:
Uma teoria da atribuição analisa o modo como nos julgamos a nós mesmos e aos
outros.
As teorias seguintes não oferecem uma explicação diferente do comportamento, mas
oferecem uma explicação consoante a informação disponível e o tipo de explicação
em que se está interessado.

5.2.2 – Causalidade e Psicologia Ingénua:


Heider, defende que a maior parte das pessoas são psicólogos “ingénuos” que tentam
compreender os outros, de forma a tornar o mundo mais previsível.

Para explicar um acontecimento, podem ser invocados 2 conjuntos de condições:


 As causas internas são factores no interior da pessoa (ex.: o esforço, a
capacidade e a intenção);
 Os factores externos situam-se no exterior da pessoa (ex.: dificuldade da tarefa
e a sorte).

As pessoas ao observarem uma determinada acção de um sujeito, tentam verificar se a


mesma se pode atribuir a factores internos a ele, e/ou a factores do meio.

Quando alguém observa uma acção A de um sujeito, vai imputá-la a factores internos
a esse sujeito (FI) e/ou a factores do meio (FM), donde a equação A = f(FI, FM)

É importante lembrar que a teoria da atribuição se refere não tanto às causas reais do
comportamento de uma pessoa como às inferências que o observador faz acerca das
causas.

Segundo Heider, os atributos pessoais são mais evidentes quando o meio permite um
leque de possíveis comportamentos. Uma vez inferida uma característica acerca de
um indivíduo, pode ser usada para predizer o comportamento.

5.2.2 – Inferências Correspondentes:


Esta teoria (Jones e Davis, 1965) aborda como é que os indivíduos fazem um certo
número de inferências sobre as intenções de uma pessoa; sugerem que o
comportamento reflecte os traços estáveis de um indivíduo.

Os dois critérios fundamentais para que um observador possa aceder às intenções


subjacentes de um actor são o conhecimento e a capacidade.

As inferências correspondentes são influenciadas por 3 factores:

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1) As suas acções dependerem de escolha livre (comportamentos que resultam
de livre escolha tendem a produzir inferências correspondentes, não sendo o
caso de comportamentos que são resultado de escolha forçada)
2) Prestamos atenção aos comportamentos que produzem efeitos não comuns,
elementos do padrão escolhido de acção que não são partilhados com padrões
alternativos de acção. Esses efeitos servem para explicar a atribuição,
eliminando-se os efeitos comuns, pois não contribuem com informações
susceptíveis de orientarem a escolha (uma aluna numa aula levanta-se, fecha a
janela e veste uma camisola. Poderíamos pensar que o ruído exterior a
incomodava, mas o efeito não comum de vestir a camisola leva-nos a inferir
que efectivamente a aluna tinha frio);
3) Prestamos mais atenção nas nossas tentativas para compreendermos os outros,
às acções que realizam revestidas de baixa desejabilidade social, que às
reacções altas nesta dimensão. Jones, Davis e Gergen mostraram que as
condutas que se afectavam das exigências de um determinado papel numa
situação, suscitavam mais informações ao observador do que as que
correspondiam a esse papel (se acção de uma pessoa não vai de acordo com o
socialmente aceite, torna-se mais facilmente característica de uma pessoa, do
que se efectivamente as suas acções vão de acordo com a sociedade).

5.2.3 – Covariação e Esquema Causal:


O princípio da covariação diz que “um efeito pode ser atribuído a uma das possíveis
causas com que ao longo do tempo varia”. Segundo Kelley (1967) as inferências
causa-efeito são feitas a partir de um padrão sistemático de relações; refere que temos
várias oportunidades de observar a mesma pessoa e suas reacções face a um mesmo
problema e observar diversas pessoas relativamente a um mesmo problema.

Tipos gerais de explicação a utilizar quando se tenta interpretar o comportamento de


alguém:
 Uma atribuição ao actor (pessoa que está envolvida no comportamento em
questão);
 Uma atribuição à entidade (pessoa alvo com quem o actor está interagindo);
 Uma atribuição às circunstâncias (contexto particular em que o
comportamento ocorre).

O modelo de covariação de Kelley afirma que a atribuição a um destes componentes


(actor, entidade, circunstâncias) depende de três aspectos do comportamento:
 Distintividade – um comportamento pode ser atribuído com exactidão a uma
causa e só ocorre quando essa causa está presente.
 Consistência – sempre que a causa está presente o comportamento é o mesmo
ou muito semelhante.
 Consenso – os outros comportam-se do mesmo modo em relação à mesma
entidade.

As atribuições feitas a factores internos (actor) ou externos (entidade, circunstâncias)


dependem do nível atribuído a cada um destes aspectos.
Exemplos:
. Queremos saber porque é que uma colega Judite se comportou de modo simpático
com outra pessoa, Antónia.

49
De acordo com o modelo de covariação para se definir se a atribuição é interna ou
externa devemos avaliar um conjunto de factores: a Judite é simpática com quase
todas as pessoas (baixa distintividade); a Judite é quase sempre simpática com a
Antónia (alta consistência); não há muitas pessoas que sejam simpáticas com a
Antónia (baixo consenso).
Neste caso, a teoria de Kelley indica que provavelmente se atribui o comportamento
a causas internas (a Judite é uma pessoa simpática).
. Agora combinam-se outros factores: a Judite raramente é simpática com outras
pessoas (alta distintividade); a Judite é quase sempre simpática com a Antónia (alta
consistência); a maior parte das pessoas são simpáticas com a Antónia (alto
consenso).
Agora atribuímos o comportamento a causas externas (a Antónia faz com que as
outras pessoas sejam simpáticas com ela).

Resumo, os acontecimentos podem ser atribuídos: actor, entidade ou circunstâncias


consoante a combinação particular de informação de que dispomos acerca das pessoas
envolvidas.

5.2.4 – Atribuições de Sucesso e de Fracasso:


Weiner avança com um modelo de atribuição referente a uma área mais específica do
comportamento: explicações para o sucesso ou fracasso das pessoas no desempenho
das suas tarefas; pressupõe que as nossas avaliações dependem de causas internas ou
externas; acrescenta uma segunda dimensão: causas estáveis e causas instáveis e ainda
uma terceira: causas controláveis e causas incontroláveis (ex.: a capacidade é um
factor interno, estável e incontrolável; a sorte é um factor externo, instável e
incontrolável)

Ex.: Classificação das causas do sucesso e do insucesso escolar de acordo com as


dimensões causais
Internas Externas
Estáveis Instáveis Estáveis Instáveis
Incontroláveis Capacidade Humor Dificuldade da Sorte
tarefa
Controláveis Esforço imediato Esforço do Viés do invulgar Ajuda habitual
professor dos outros

Posteriormente, os teóricos do modelo reformulado do desânimo aprendido


formularam uma outra dimensão já referida: globalidade vs. especificidade. Os
elementos causais específicos afectam as acções individuais específicas, enquanto que
os elementos causais globais afectam as acções do indivíduo numa ampla variedade
de situações.

Na vida devemos determinar muitas vezes as causas do nosso sucesso ou fracasso. O


resultado deve-se a uma causa interna ou do meio?
A categorização das causas em dimensões tem levantado alguns problemas a nível
empírico. Pode-se interrogar se a atribuição causal é igual para todas as pessoas; e
pode-se perguntar se uma mesma causa não poderá exprimir diferentes significados
em diversos contextos.

50
O modelo de Weiner é mais limitado do que os outros, pois focaliza-se só nas
explicações para o sucesso e insucesso em contextos de realização. Além disso,
investigação recente pôs em evidência que as nossas reacções aos acontecimentos e as
suas explicações podem ser mais complicadas dos que os 3 factores indicados.

5.3 – Aplicações das Teorias da Atribuição:


Kurt Lewin (um dos fundadores da moderna Psicologia Social): “Nada é tão prático
como uma boa teoria” – uma vez que o investigador esteja na posse de um
conhecimento sólido e científico de algum aspecto do comportamento social, pode
utilizar esse conhecimento de modo prático.
No que toca à atribuição, estas palavras de Lewin aplicam-se na perfeição. São
inúmeros os campos da vida social em que as teorias da atribuição têm sido aplicadas:
realização escolar, realização profissional, satisfação no trabalho, crime, delinquência,
alcoolismo, divórcio, etc.

Áreas de aplicação da teoria da atribuição:

5.3.1 – Violação:
Nos últimos 20 anos os investigadores em ciências sociais têm estudado
extensivamente a atribuição de responsabilidade por incidentes em que os homens têm
sido acusados de violar mulheres.

Ryan (1971) refere-se à tendência cultural: “censurar a vítima”. Efectivamente, as


pessoas que sofrem crimes e acidentes tendem a ser duplamente vitimadas: 1º durante
o próprio acontecimento e depois pela tendência da sociedade em considerá-las
responsáveis pelo acontecido.

Janoff-Bulman – sobre a auto-censura da vítima de violação: auto-censura


comportamental – a vítima sabe que está fazendo algo de néscio (tal como andar
sozinha a uma hora tardia da noite, deixar entrar uma pessoa estranha em casa, não
fechar o carro, etc.), trata-se de comportamentos voluntários e, por conseguinte,
susceptíveis de se evitarem no futuro; e auto-censura caracteriológica – a falta
encontra-se no próprio carácter da pessoa: “Sou 1 pessoa fraca, não assertiva”, etc.
A auto-censura caracteriológica é mais difícil de modificar que a comportamental.

Resultados: auto-censura é uma resposta frequente da vítima de violação; e a auto-


censura comportamental ultrapassava a caracteriológica. Este trabalho chama-nos a
atenção para a aceitação por parte das vítimas da sua própria responsabilidade pelo
que lhes aconteceu.

Howard – resultados sugerem a tendência para considerar as vítimas femininas +


responsáveis pelo que lhes aconteceu que as vítimas masculinas, e também para se
atribuir a auto-censura comportamental a vítimas masculinas e a auto-censura
caracteriológica a vítimas femininas.
Os resultados ilustram o impacto de factores sociais e culturais que vitimam certas
vítimas. Parece, ser ainda habitual, sobretudo nas pessoas com atitudes tradicionais
acerca dos papéis masculinos e femininos, censurar a vítima de violação,
especialmente se a vítima é do sexo feminino. Além disso, muitas mulheres aceitam a
perspectiva de censurar a vítima, por vezes de modo + acentuado do que os homens.

51
Trata-se aparentemente de padrões atribucionais que estão em consonância com
estereótipos sexuais.

5.3.2 – Desemprego:
Dado o lugar proeminente que o trabalho ocupa na maior parte da nossa vida
quotidiana, a perda de emprego representa não só um duro revés, como também
suscita a procura de alguma explicação.

Feather e Davenport referem as pessoas que se sentiam mais deprimidas acerca das
circunstâncias, eram mais susceptíveis de censurar as condições económicas da
sociedade do que a elas próprias; quando se censuram as condições económicas,
muitas pessoas têm dúvidas sobre o controlo do seu próprio destino e assim sentem-se
abandonadas e deprimidas.

Em ambos os estudos reflecte-se uma semelhança entre o modo como as vítimas e os


observadores do desemprego julgam as suas causas. Ambos focalizaram-se mais em
atribuições externas do que na censura da vítima.

Em suma, em ambos os casos de desemprego imaginado ou experienciado as pessoas


fazem o mesmo tipo de atribuições. O emprego é visto como sendo o resultado de
algo relacionado com as pessoas e o desemprego como sendo o resultado de algo
relacionado com a sociedade.

5.3.3 – Acidentes:
Se passarmos à explicação da responsabilidade do acidente, emerge novamente a
tendência geral para censurar a vítima. Berger (1981) refere uma fraca tendência para
atribuir mais responsabilidade a uma vítima de um acidente quando a gravidade do
acidente aumenta. Há também uma tendência para baixar a responsabilidade da vítima
do acidente quando o sujeito e a vitima são ambos semelhantes.

5.3.4 – Relações interpessoais:


Fincham sugere que se desenvolvem em 3 fases:
 Durante o estádio de formação, as atribuições reduzem a ambiguidade e
facilitam a comunicação e uma compreensão da relação;
 Na fase de manutenção a necessidade de se fazerem atribuições diminui,
porque relações estáveis foram construídas;
 A fase de dissolução caracteriza-se por um aumento nas atribuições com vista
a obter-se de novo uma compreensão da relação.
5.4 – Erros de Atribuição:
Embora os modelos de atribuição pretendessem na origem ver as pessoas como
fazendo atribuições de modo lógico e racional, depressa se descobriu que a
racionalidade nem sempre é a regra; existem vários modos das explicações poderem
estar enviesadas. É importante conhecê-los porque muitas vezes são eles que se
encontram por detrás dos conflitos:

5.4.1 – Diferenças entre actor e observado:


Existem diferenças nas atribuições feitas pelas pessoas implicadas num determinado
comportamento (os actores) e as que só observam o comportamento. Os actores têm
tendência a fazerem atribuições para o seu próprio comportamento a causas externas
ou situacionais, enquanto que os observadores são mais susceptíveis de fazerem

52
atribuições internas ao comportamento dos outros. Esta tendência é conhecida pelo
nome de efeito actor-observador.

A focalização da percepção é uma explicação para este efeito. Se somos o actor,


somos mais susceptíveis de nos focalizar nos acontecimentos circundantes, ao passo
que se observarmos outra pessoa geralmente essa pessoa é o foco de atenção. Outra
explicação para a diferença actor-observador advém da diferença na informação
disponível para actores e observadores.

Há factores que podem alterar as diferenças actor-observador. Se passar do papel de


actor para o papel de observador também se conseguem diminuir as atribuições
situacionais. O modo de se fazerem atribuições causais não é sempre o mesmo.
Diferentes perspectivas e diferentes tipos de informações podem contribuir para
enviesar as nossas explicações num sentido ou noutro.

5.4.2 – Erro Fundamental:


Normalmente dá-se mais importância a factores disposicionais do que situacionais.
Actores e observadores dão maior relevo a disposições do que a situações quando
tentam explicar determinado comportamento. A este exagero de importância dado aos
factores pessoais chama-se erro fundamental; resultando atribuições erradas porque os
determinantes situacionais são ignorados.

É um erro fundamental porque a divisão de causas do comportamento em


internas/externas é fundamental para a abordagem da atribuição. Quando se observa o
comportamento de outra pessoa centramo-nos nas suas acções e temos tendência para
retirar importância ao contexto social em que elas ocorrem; o contexto não é
considerado como sendo importante, quando realmente é muito importante.

5.4.3 – Complacência na Atribuição da Causalidade:


Este erro refere-se ao facto das pessoas tenderem a chamar a si a causa dos seus
sucessos e a atribuir os seus fracassos a factores externos; pode ocorrer em relação ao
próprio comportamento dos observadores, como em relação a quem estão associados;

Este erro resulta de 2 fontes diferentes, embora estejam relacionadas:


1º Permite-nos proteger a nossa auto-estima, se somos responsáveis pelos resultados
positivos, mas não nos censuramos pelos negativos, os nossos sentimentos sobre nós
próprios podem ser mantidos;
2º Permite-nos melhorar a nossa imagem pública.
5.4.4 – Efeitos Temporais da Atribuição:
Nem sempre são apresentadas explicações no momento em que um acontecimento
ocorre.
Um dado acontecimento pode ser atribuído a uma determinada causa, no momento em
que ocorre, mas passado algum tempo essa atribuição pode ser feita a outra causa
completamente diferente. Com o passar do tempo as atribuições tendem a deixar de se
focar nas pessoas para passar para as situações, para o contexto. Uma explicação para
este efeito é o facto de a nossa necessidade de prever e controlar não ser tão acentuada
quando se reflecte sobre o passado, do que quando se reflecte sobre o presente.

5.5 – Atribuições e Relações Interpessoais:

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A teoria da atribuição tem tentado compreender como é que uma pessoa atribui causas
a outra pessoa ou a ela própria.
A tendência na atribuição relativamente a grupos reflecte basicamente o que acontece
a tendência com cada pessoa em particular, ou seja, é a chamar a si as razões do
sucesso e de acções socialmente desejáveis e de apontar factores externos como
razões para o insucesso e para acções socialmente indesejáveis. Quando há
comparação de grupos, defende-se o endogrupo e atribuem-se as causas das coisas
negativas ao exogrupo.

5.6 – Atribuições e Diferenças Culturais:


Para além da problemática da atribuição aplicada às relações intergrupais, pode-
se levantar a questão se factores culturais mais gerais serão susceptíveis de
desempenhar um papel nos processos de atribuição.
Gergen (1973) refere que o chamado erro fundamental pode ser um fenómeno
cultural.
Nisbett e Ross (1980) mencionam que a tendência dos indivíduos em explicar os
comportamentos mais em termos de disposições pessoais que em termos de
factores situacionais pode ser característico de se ter sido socializado na cultura
americana.

As culturas particulares têm não só diferentes tipos de explicação como também


diferentes temas de categorização.

Em toda uma série de estudos em que se abordam as atribuições de sucesso e do


fracasso com diversas técnicas emergem dois padrões que se aplicam a um vasto
leque de culturas:
a) Elevada capacidade e elevado esforço (em comparação com baixa
capacidade e baixo esforço) são recompensados e percepcionados como
preditores de alta realização;
b) O sucesso é explicado por causas internas (capacidade e esforço),
enquanto que o fracasso está mais fortemente associado a causas externas
(sorte e dificuldade da tarefa.

Em suma: a investigação intercultural tem evidenciado nesta área semelhanças e


diferenças entre as culturas. Se as semelhanças parecem deixar transparecer que
as características fundamentais dos esquemas causais são universais, tal não
significa que as diferenças encontradas sejam meras variações de menos
importância. Assim o viés sociocêntrico e o erro fundamental da atribuição, dois
fenómenos atribucionais amplamente replicados nas culturas ocidentais, não
parecem ser fenómenos universais.
6 – Normas de Internalidade:
O que muitas vezes é uma fonte de erro na óptica de teóricos de atribuição, é o
que há de melhor na perspectiva do locus de controlo. Perante esta inquietação
surgiu a “norma de internalidade” (Jellison e Green, 1981; Beauvois, 1984).

6.1 – Norma de Internalidade:


Jellison e Green, mostraram que as explicações internas no controlo dos reforços são
objecto de desejabilidade social. Foram esses os primeiros autores a considerar que a

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ligação entre a internalidade e a tendência a exprimir crenças socialmente desejáveis
não é um artefacto, mas uma das componentes da internalidade.

Normalmente a tendência é para atribuir a si o que é de bom, o que é socialmente


desejável... daí que a norma da internalidade esteja ligada à desejabilidade social.
Segundo a norma da internalidade: explicações internas são socialmente desejáveis;
explicações internas das condutas e reforços são mais escolhidas pelos indivíduos que
pertencem a grupos favorecidos. A norma da internalidade é objecto de uma
aprendizagem social.

6.2 – Norma de Internalidade na sociedade portuguesa:


Essa norma pode ser suscitada pela referência a estudantes portugueses da 2ª geração,
sujeitos que viveram longos anos numa outra cultura. As investigações que se
inscrevem nesta linha chamam a nossa atenção para o facto de que o psicólogo
intuitivo é normativo quando efectua explicações causais. Não procura a verdade
científica, mas a aceitação social.

7 – Níveis de análise distintos mas relacionados?


Há uma primeira perspectiva que sugere que o controlo percebido se relaciona, de um
modo ou de outro, com tantos construtos que pode ser considerado como um único
construto genérico;

Uma segunda perspectiva considera que o controlo percebido pode dividir-se em


construtos que se relacionam com crenças de controlo percebido e atribuições de
controlo. As atribuições são vistas como sendo específicas ao contexto e estão
relacionadas, com tipos específicos de acontecimentos, problemas ou
comportamentos;

Uma terceira perspectiva questiona se o controlo percebido forma a base do construto,


ou é correlato do construto. Assim o locus de controlo (Rotter, 1966) e a auto-eficácia
(Bandura, 1977) são construtos que se alicerçam na noção de controlo percebido.

Aplicações: Estilo Atribucional


As pessoas apresentam diferenças no seu estilo atribucional, que podem afectar a
maneira como respondem a acontecimentos incontroláveis da vida. O que determina
as reacções a acontecimentos incontroláveis baseia-se em atribuições: internas vs.
externas, estáveis vs. instáveis e globais vs. específicas. As pessoas que fazem
atribuições internas para acontecimentos incontroláveis tendem a experienciar uma
auto-estima mais negativa. As pessoas que fazem atribuições estáveis e globais para
acontecimentos incontroláveis são mais susceptíveis de se sentirem desamparadas em
acontecimentos futuros. Quando os 3 tipos de atribuições negativas são usadas
habitualmente para explicar acontecimentos da vida que suscitam stress, esta
tendência atribucional é denominada de estilo explicativo depressivo, na medida em
que se encontrou que as pessoas com este padrão têm um maior risco de depressão;
para as pessoas com este estilo atribucional, um acontecimento infeliz tem uma causa
interna (é por minha culpa), uma causa estável (será sempre assim), e uma causa
global (isto acontece-me em muitas situações). Pelo contrário quando lhes acontece
algo de bom (positivo) tendem a atribuir esse facto a causas externas, instáveis e
específicas.

55
Estilo Explicativo Optimista – os optimistas, pelo contrário, explicam os
acontecimentos negativos como sendo uma causa externa (é culpa de alguém), uma
causa instável (não me acontecerá de novo) e uma causa específica (é só nesta área).
Por outro lado, as atribuições de acontecimentos positivos são feitas através de causas
internas, estáveis e globais.

Sumário:
Mesmo em situações determinadas pela sorte as pessoas têm uma ilusão
de controlo. Segundo os teóricos da aprendizagem social, se tem um
locus de controlo interno acredita que as suas acções podem influenciar o
resultado dos acontecimentos. Se tem um locus de controlo externo
acredita que os resultados são controlados por forças ou acontecimentos
exteriores a si (destino, sorte ou previdência). As crenças no locus de controlo
podem afectar a nossa saúde física e a nossa adaptação psicológica.

Muitas vezes as pessoas reagem á perda do controlo seja ele real ou


percepcionado. Segundo a teoria da reactância, as pessoas tentarão restaurar o
seu sentimento de liberdade quando essas ameaças são percepcionadas. O
desânimo aprendido pode ser induzido mediante a exposição de uma pessoa a
uma situação em que os resultados ocorrem de modo não contingente. A
dependência auto-induzida pode desenvolver-se mesmo na ausência desses
resultados. A rotulagem de pessoas como sendo dependentes pode suscitar
abaixamentos no comportamento ulterior.

A abordagem da atribuição procura compreender como é que as pessoas


atribuem causas ao seu próprio comportamento e ao comportamento das outras
pessoas.

Foram examinadas as quatro teorias principais da atribuição. Heider estabeleceu


os alicerces defendendo que as pessoas percepcionavam o comportamento como
sendo causado, e que a causa era quer interna (disposição subjectiva) quer
externa (situacional ou ambiental). As inferências correspondentes são
observações acerca do comportamento que concordam com outras acções
observadas. As inferências correspondentes são aumentadas pelos efeitos não
comuns, quando não há desejabilidade social e quando a pessoa que está a ser
observada actua sob livre escolha. O modelo de covariação requer conhecimento
sob como uma pessoa se tem comportado no passado (consistência), em
diferentes situações (distintividade) e como se comportam as outras pessoas
(consenso). O modelo do esquema causal aplica-se quando temos informações
acerca de como uma pessoa se comporta numa só ocasião. O modelo de Weiner
diz respeito às explicações para o sucesso e o fracasso de pessoas na realização
de uma tarefa.

Foram assinalados 4 erros de atribuição: A) diferenças entre actor e


observador, os actores fornecem mais atribuições externas e os
observadores mais atribuições internas; B) o erro fundamental da
atribuição, ou seja, as tendências das pessoas darem geralmente
atribuições internas, mesmo se as externas fossem mais apropriadas; C)
complacência na atribuição, em que, por exemplo, as pessoas fornecem
atribuições para o sucesso e o fracasso que servem para aumentar ou

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manter a sua auto-estima; D) efeitos temporais na atribuição, as
atribuições podem-se tornar mais situacionais com o passar do tempo.

O contexto social afecta o tipo de atribuições que são feitas. A


investigação intercultural tem evidenciado a propósito das atribuições
semelhanças e diferenças entre culturas.

A norma de internalidade consiste na valorização social da internalidade.


A valorização social dos acontecimentos psicológicos (comportamento e
reforços) acentua o peso dos actores como factor causal.

A propósito dos construtos que gravitam na órbita de controlo percebido


há evidência empírica que apoia a distinção entre crenças e atribuições.
Trata-se no entanto de aspectos que a investigação futura deve aclarar
melhor.

Ao nível de atribuições foram apresentadas diferenças individuais no


estilo atribucional. As pessoas que tendem a atribuir acontecimentos
negativos a causas internas, estáveis e globais, e acontecimentos positivos
a causas externas instáveis e específicas têm um estilo explicativo
depressivo. Ao invés, as pessoas com um estilo explicativo optimista
tendem a enveredar por atribuições exactamente opostas. Os optimistas
também tendem a ser mais saudáveis.

IV. Atitude:
1. Introdução:
Se fizer uma introspecção das bases desta sua atitude, seja qual for a sua tonalidade,
muito possivelmente há um certo número de semelhanças que emergem:
– As suas atitudes estão fortemente associadas a valores que defende pessoalmente;
– Estas atitudes assentam num certo número de crenças;
– Estas atitudes aparecem associadas a uma emoção forte ou afecto;
– Para modelar a sua atitude poderá ser algum comportamento passado ou experiência
pessoal.

O conceito de atitude tem ocupado um lugar de destaque ao longo da história da


psicologia social. Podemos dizer uma atitude é uma tendência ou predisposição de um
modo característico a objectos, pessoas, de forma positiva ou negativa; ou seja, a
atitude está relacionada com um estado mental. Apesar de ser um termo bastante
comum na vida quotidiana não é fácil encontrar uma definição clara para Atitude.
Gordon Allport argumentou mesmo que é mais fácil medir as atitudes do que defini-
las.

2. Sinopse Histórica:
O termo atitude, derivado da palavra latina “aptitudo” que significa a disposição
natural para realizar determinadas tarefas, designou a posição corporal dos modelos
dos pintores italianos do renascimento. Mediante determinada posição corporal era
expresso um sentimento, um desejo. Assim a atitude recebe uma significação que é
susceptível de ser compreendida pelas outras pessoas. Mais tarde, o termo entrou na

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linguagem corrente para se referir já não tanto a uma postura corporal como a uma
“postura da mente”. Hoje em dia, quer para o público em geral quer para os
psicólogos sociais, as atitudes referem-se a estados mentais.

Para Darwin este conceito implica respostas motoras estereotipadas associadas com a
expressão de uma emoção, geralmente no sentido de postura de todo o corpo. As
atitudes neste sentido desenvolver-se-iam para instaurar uma função de
restabelecimento do equilíbrio.

Thomas e Znanieki (1918) utilizaram o conceito de atitude para se referirem ao


sentimento que as pessoas dirigiam para algum objecto, como dinheiro ou trabalho.

Muitos psicólogos defendem que as atitudes eram muito simplesmente


“comportamentos em miniatura”. Assim para se poder prever o comportamento tudo o
que se tinha de fazer era determinar a atitude das pessoas em relação a um objecto do
comportamento.

McGuire (1985) assinala 3 períodos diferentes no estudo das atitudes, tendo em conta
a sua focalização dominante.
 Primeiro período corresponde aos anos 30 focalizando-se sobretudo na
medida das atitudes;
 Segundo período ocorreu entre os anos 50 e 60 em que se desenvolveram a
maior parte das teorias sobre a mudança de atitudes;
 O terceiro período está em curso e focaliza-se preponderantemente nos
sistemas atitudinais.

3. O que são as atitudes?


Atitude trata-se de um termo popular utilizado na vida quotidiana, quase todas as
pessoas têm uma ideia do seu significado. Contudo os psicólogos sociais devem
definir o termo de modo preciso se pretenderem utilizá-lo como um conceito
científico.

Este conceito tem uma enorme multiplicidade de definições o que deixa transparecer
que este conceito é uma realidade psico-social ambígua e difícil de apreender.

3.1 – Modelos de atitudes:


Espécie de planos de arquitecto que tornam a sua operacionalização mais fácil.

Uma abordagem tradicional tem considerado as atitudes como sendo


multidimensionais com uma organização relativamente duradoira.
Para o Modelo tripartido clássico – Rosenberg e Hovland (1968) a atitude é uma
disposição que resulta da organização de 3 componentes:
– Componente cognitivo – implica um conjunto de crenças e opiniões relativas a um
objecto, é o que acreditamos de verdadeiro sobre um objecto, embora nem sempre
sejam conscientes. (ex.: uma pessoa pode considerar o aborto um crime)
– Componente afectivo – refere-se aos sentimentos subjectivos e às respostas
fisiológicas que acompanham uma atitude (ex.: a pessoa que partilha desta crença
não gosta tão pouco ouvir falar sobre o aborto, pois fá-la sentir-se mal);
– Componente comportamental – diz respeito ao processo mental e físico que prepara
o indivíduo a agir de determinada maneira (ex.: a esta atitude, as pessoas participam

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em campanhas contra o aborto e tentam convencer e aconselhar a que ninguém
pratique o aborto)

É necessário ter presente: que nem sempre as atitudes são expressas directamente
em acções:
Componente cognitiva – uma pessoa pode crer que os estudantes universitários são
arrogantes;
Componente afectiva – pode sentir-se tensa em face a um estudante universitário;
Componente Comportamental – pode recusar-se a dar boleia a um estudante para ir
assistir às suas aulas.

Não é claro o modo como se interrelacionam cada um destes componentes; Bagozzi –


1978 – em muitas situações a presença de um componente implica a presença de
outros. Suponha que a sua atitude em relação à caça à raposa é extremamente
negativa. Há uma festa e encontra lá uma pessoa que costuma ir à caça da raposa
começando a contar as suas aventuras a esse respeito:
Componente afectiva – pode sentir repulsa por essa pessoa;
Componente cognitiva – formar diversas opiniões negativas acerca do caçador;
Componente Comportamental – tentar ver o modo de se desembaraçar da conversa
com essa pessoa.

Breckler – 1984 – cada componente pode contribuir com algo de único para o que
se chama atitude – possível existência de uma cobra:
Componente afectiva – mediu o ritmo cardíaco e os humores das pessoas na presença
da cobra;
Componente cognitiva – crenças favoráveis ou desfavoráveis acerca de cobras;
Componente Comportamental – perguntou-se às pessoas como reagiriam a uma cobra
e observa-se a que distância queria aproximar-se de uma cobra.

Encontrou que cada componente, se bem que moderadamente relacionado com os


outros, forneceu uma contribuição importante e distinta para o construto que
chamamos de atitude. As três dimensões convergem para assegurar uma significação
comum, mas também existe uma validade dscriminante entre cada uma delas.

Modelo unidimensional clássico – defensores deste modelo consideram a atitude


como sendo unidimensional; isto é uma atitude representa a resposta avaliativa
(afecto), favorável ou desfavorável, em relação ao objecto de atitude. Neste âmbito
Fishbein e Azjen (1975) definem a atitude como sendo ”predisposição apreendida
para responder de modo consistentemente favorável ou desfavorável em relação a
dado objecto”. Para esta abordagem a atitude em relação ao aborto, por exemplo, seria
definida pela resposta afectiva ao aborto. Thurstone define a atitude como a
intensidade de afecto a favor ou contra um objecto psicológico.

Modelo revisto de atitudes: modelo tripartido revisto – Zanna e Rempel delinearam


que este modelo integra todas as concepções de atitudes (integra os dois anteriores).
Começam por definir a atitude como uma categorização de um objecto-estímulo ao
longo de uma dimensão avaliativa (aborto – favorável ....... desfavorável). Neste
modelo a atitude é, um julgamento (uma opinião) que exprime um grau de aversão ou
de atracção num eixo bipolar. Consideraram a dimensão avaliativa da atitude,

59
considerando que esta avaliação pode basear-se em 3 tipos de informação: cognitiva,
afectiva e comportamental (baseada no comportamento do passado);

Resumo: avaliação pode basear-se em qualquer espécie de informação ou qualquer


combinação de espécies (uma atitude pode, por ex.: só derivar de cognições, ou de
cognições e afecto, ou de cognições, afecto e comportamento passado)

3.2 – Características da Atitude:


A atitude está relacionada com um estado mental. Apesar do termo bastante comum
na vida quotidiana não é fácil encontrar uma definição clara para Atitude. Gordon
Allport argumentou mesmo que é mais fácil medir as atitudes do que defini-las.
Atitude enquanto realidade psicológica possui determinadas características, oriundas
das realidades físicas:

– Direcção – designa o nível positivo ou negativo do objecto de atitude –


Atracção/Repulsa; Concordância/Discordância (ex.: o sujeito pode sentir atracção
ou repulsa – “Somos a favor ou contra a plantação de Eucaliptos?” – a direcção
exprimir-se – á pela concordância ou não em relação à plantação de eucaliptos. O
sujeito também pode ser indiferente a esta questão;

– Intensidade – exprime-se pela força da atracção ou da repulsa em relação ao


objecto. A intensidade está representada pela escala neutralmente, moderadamente,
totalmente. A intensidade foi e continua a ser a propriedade que mais tem atraído a
atenção dos investigadores;

– Dimensão – permite-nos apreender se se trata de um objecto complexo e que não


está bem definido.

– Acessibilidade – ou seja a solidez da associação entre o objecto de atitude e a sua


avaliação afectiva. Mede-se num continuum “não atitude/atitude”. O conhecimento,
o contacto com o objecto de atitude torna essa atitude mais acessível, mais fácil de
se chegar a ela. Não tendo conhecimento nem contacto será muito difícil ter uma
determinada atitude, ou seja a mesma não está acessível, ou seja, a solidez da
associação entre objecto de atitude e a sua avaliação afectiva.

Para além das características referidas, as atitudes têm outras características básicas.
 As atitudes são inferidas do modo como os indivíduos se comportam,
podendo-se aqui incluir o comportamento de preencher um questionário;
 As atitudes são dirigidas em relação a um objecto psicológico ou categoria. Os
objectos de atitude podem ser diversos (objectos tangíveis, pessoas,
comportamentos);
 As atitudes são aprendidas, ou seja, provêm da experiência. Sendo as atitudes
aprendidas, podem ser mudadas ou influenciadas por factores genéticos;
 As atitudes influenciam o comportamento. A atitude que se tem em relação a
um objecto pode fornecer-nos uma razão para nos comportamos em relação a
esse objecto de determinado modo.

3.3 – Funções Psicológicas das Atitudes:


Um outro modo de se obter uma compreensão mais aprofundada das atitudes é
perguntar porque é que as pessoas as têm.

60
Sitt defende que as atitudes podem ter três funções: adaptação social, exteriorização e
avaliação do objecto de atitude;
Katz menciona quatro funções: conhecimento, instrumentalidade (meios a atingir),
defesa do eu (protecção da nossa auto-estima), e expressão de valores (permitindo às
pessoas mostrar os valores com que se identificam e as definem).
Estas funções estão intimamente associadas a diferentes perspectivas teóricas em
psicologia.

Tipo de atitude Função suscitada pela atitude Perspectiva


psicológica
Conhecimento Ajuda a pessoa a estruturar o Cognitiva
mundo em vista a dar-lhe
sentido

Instrumentalidade Ajuda a pessoa a obter Behaviorista


recompensas e a ganhar
aprovação dos outros

Defesa do eu Ajuda a pessoa a proteger-se de Psicanalítica


reconhecer as verdades básicas
sobre si
Expressão de valores
Ajuda a pessoa a expressar Humanística
aspectos importantes do
autoconceito

As atitudes podem ter três funções:


1. Ajudar a definir grupos sociais – uma atitude partilhada pode servir de elo de
ligação entre várias pessoas (Racismo – Anti-Racismo)
2. Ajudar a estabelecer as nossas identidades – as atitudes são elementos fulcrais
nas representações que as pessoas têm delas próprias. Se assumem determinados
papeis, assumem atitudes que lhe estão inerentes.
3. Ajudar o nosso pensamento e comportamento – guiam o modo como se pensa,
sente e age.

4. Atitudes e noções conexas:


Atitudes – conjunto de opiniões estáveis interligados, corresponde a componente
importante de personalidade – são afectivas (emoções, sentimentos)

4.1 – Crenças:
Fishbein e Ajzen (1975) definem as crenças como julgamentos que indicam a
probabilidade subjectiva de uma pessoa ou um objecto tenha uma característica
particular. Crenças e atitudes são claramente distintas: as crenças são cognitivas
(pensamentos, ideias) enquanto que as atitudes são efectivas (sentimentos e emoções).
Ex.: crer que um gelado é saboroso não é a mesma coisa que sentir-se feliz a comer
um gelado quando está calor.

61
4.2 – Opiniões:
Por vezes os termos atitude e opinião são utilizados como sinónimo. As opiniões
envolvem julgamentos de uma pessoa sobre a probabilidade de acontecimentos ou
relações.

4.3 – Valores:
Os valores constituem uma variável psicológica intimamente associada às atitudes.
Muito embora as atitudes se refiram a avaliações de objectos específicos, os valores
são crenças duradoiras acerca de objectivos importantes da vida que transcendem
situações específicas (ex.: “Paz, felicidade, igualdade”). Os valores constituem um
aspecto importante do autoconceito e servem de princípios directores para uma
pessoa.

Os valores têm as seguintes propriedades: são crenças gerais de objectivos e


comportamentos desejáveis, envolvem bondade e maldade e têm uma qualidade de
“dever” acerca deles, transcendem atitudes e influenciam a forma que as atitudes
podem assumir, fornecem padrões para avaliar acções, justificar opiniões e
comportamentos, planificar comportamentos, decidir entre diferentes alternativas e
apresentar-se aos outros.

Estão organizados em hierarquias para uma determinada pessoa e a sua importância


relativa pode variar ao longo da vida. Os sistemas de valores variam segundo
indivíduos, grupos e culturas: Valores Finais – centram-se na pessoa ou grupo, dizem
respeito aos objectivos últimos da vida; Valores Instrumentais – modos de conduta-
moralidade, auto- realização.

Os valores têm as seguintes propriedades (Feather):


 São crenças gerais acerca de objectivos e comportamentos desejáveis;
 Envolvem bondade e maldade e têm uma qualidade de “dever” acerca deles;
 Transcendem atitudes e influenciam a forma que as atitudes podem assumir;
 Fornecem padrões para avaliar acções, justificar opiniões e comportamentos,
planificar comportamentos, decidir entre diferentes alternativas e apresentar-se
aos outros;
 Estão organizados em hierarquias para uma determinada pessoa e a sua
importância relativa pode variar ao longo da vida;
 Os sistemas de valores variam segundo indivíduos, grupos e culturas.

4.4 – Ideologia:
Representa um sistema integrado de crenças, em geral, com uma referência social ou
política; Para Rouquette (1996) a ideologia é o que torna um conjunto de crenças, de
atitudes e de representações simultaneamente possíveis e compatíveis no seio de uma
população.

Para Tetlock (1989) as ideologias podem variar segundo duas características:


1 – Podem atribuir diferentes prioridades a valores particulares (perspectiva
tradicional é de esperar que pessoas de esquerda e de direita ordem “liberdade
individual” e “segurança nacional” de modo oposto).

62
2 – Há ideologias pluralistas e há outras monistas (se uma ideologia pluralista pode
alterar um conflito de valores, uma ideologia monista será bastante intolerante ao
conflito, perspectivando as questões em termos de tudo ou nada)

5 - Formação das atitudes:


As nossas atitudes resultam das diversas experiências vitais. Como tal são
influenciadas pelas pessoas significativas nas nossas vidas e pelos modos como
processamos a informação acerca do mundo.

5.1 – Fontes de Aprendizagem:


As nossas atitudes são formadas por influência das pessoas significativas que
desempenham papéis nas nossas vidas (pais, companheiros, grupos de referência); os
meios de comunicação de massas também influenciam as atitudes.

Os pais são os principais agentes de socialização na infância e as atitudes que


comunicam têm um efeito profundo e muitas vezes perene sobre as pessoas (ex.: as
crianças têm tendência para serem simpatizantes dos mesmos candidatos políticos que
os pais; ou terem tendência para formarem preconceitos contra negros, judeus ou
outros grupos étnicos por influência dos pais);
Depois, à medida que uma criança vai avançando na idade, o impacto das influências
parentais pode começar a diminuir. As atitudes em relação à música, aos modos de
vestir e de pentear, e muitos outros aspectos desenvolvem-se no contexto da
interacção com companheiros.
Quando os adolescentes e jovens deixam o meio familiar, as suas atitudes mudam
muitas vezes de modo profundo como resultado da pertença a novos grupos de
companheiros e da pressão dos grupos de referência.

Os meios de comunicação de massa, particularmente a televisão influenciam a


aprendizagem das atitudes.

5.2 – Condicionamento clássico:


O princípio do condicionamento clássico é que quando um estimulo neutro é
emparelhado com um estimulo que naturalmente provoca uma resposta particular
(estímulo incondicional), o estimulo neutro provocará uma resposta semelhante e
então tornar-se-á um estímulo condicionado.

Processo de aprendizagem estudado por Pavlov, a partir de experiências com cães.


Consiste na aquisição de uma resposta observável (comportamento) a estímulos
também observáveis, sendo inicialmente neutro, adquiriu propriedades de um outro
estímulo – Estímulo Condicionado.

Pode ser particularmente potente na formação de atitudes em relação a coisas quando


não se tem muito conhecimento prévio acerca delas. Processo está subjacente nas
mensagens publicitárias que recorreram a bonitas vedetas para realçar as qualidades
de produtos de consumo (ex: normalmente as anedotas dos alentejanos retratam-nos
como sendo lentos e preguiçosos; quem não tem contacto com o povo alentejano pode
ser levado a considerar esses dados como correctos e daí formar uma atitude
negativa).

63
5.3 – Condicionamento Operante:
Thornike e Skinner, o condicionamento operante baseia-se essencialmente no reforço
na formação da atitude. As atitudes consideradas negativas não são reforçadas
(punições), com vista a levar a pessoa a mudá-las; as atitudes consideradas positivas
são reforçadas, no sentido da pessoa as manter. Os princípios do condicionamento
operante (ou aprendizagem instrumental) enfatizam o papel reforço na formação de
atitudes (ex.: quando os indivíduos recebem aprovação social na formação de atitudes
estas são reforçadas e em caso contrario as atitudes não serão reforçadas).

5.4 – Aprendizagem social:


Bandura (1977) mostrou que muitas vezes aprendemos novas respostas e novas
atitudes – observando e imitando os comportamentos dos outros; ou quando as outras
pessoas nos comunicam o modo como realizam certa actividade – fortalecimento de
instruções (ex.: através da modelagem, várias crianças, adquirem comportamentos dos
seus pais. Vários agentes: pais, grupos, instituições, mass-média (poderosa fonte para
formar atitudes), etc.
Evidentemente que os pais não são os únicos modelos que afectam a formação das
atitudes. Muita aprendizagem de atitudes continua na escola, na igreja e noutras
organizações. Os mass-media são também uma fonte poderosa para formar as
atitudes.

5.5 – Aprendizagem por Experiência Directa:


A experiência directa com o objecto de atitude contribui para a aprendizagem de
muitas das nossas atitudes. Foram examinadas, por exemplo, as mudanças nas atitudes
nacionais em resultado da exposição directa à estadia num país estrangeiro.
Efectivamente nas interacções quotidianas com o objecto de atitude, bem como com
as recordações dessas interacções, podem ser enviesadas por estereótipos.

5.6 – Observação do Próprio Comportamento:


Ao observarmos o nosso próprio comportamento podemos ser levados a modificar as
nossas atitudes. Se dermos connosco tendo um comportamento cordial e simpático
relativamente a alguém com quem julgávamos antipatizar, podemos modificar a nossa
atitude negativa face a essa pessoa; os Psicólogos não podem ignorar a influência
genética sobre as atitudes.

Em suma, as atitudes podem-se formar de diversos modos: desenvolver-se através dos


princípios básicos da aprendizagem e reforço; podem-se formar quando uma pessoa
obtém informação sobre novos assuntos; formadas para servir necessidades da nossa
personalidade.

Medidas das Atitudes:


Os psicólogos sociais não procuram somente saber o que são e como são formadas;
tentam também: medi-las, avaliar a sua direcção e intensidade, o que permite efectuar
comparações entre os indivíduos e os grupos. As atitudes podem ser medidas directa
ou indirectamente.

6. Medidas Directas:

64
Os psicólogos sociais não procuram somente saber o que são as atitudes e como são
formadas. Tentam também medi-las, avaliar a sua direcção e intensidade, o que
permite efectuar comparações entre os indivíduos e os grupos.
As medidas podem ser medidas directa ou indirectamente.

6.1 – Análise de conteúdo das comunicações:


Uma das primeiras tentativas para avaliar as atitudes foi efectuada por Thomas e
Znaniecki (1918). O método que utilizam consistiu fundamentalmente em inferir as
atitudes de diferentes tipos de documentos escritos.

Recentemente, Eiser (1983) propôs que um exame cuidadoso das palavras revestidas
de emoções que as pessoas utilizam em entrevistas pode fornecer uma indicação de
valor sobre a atitudes subjacentes, mesmo que não estejam a fazer afirmações
atitudinais directas.

6.2 – Escala de avaliação com um item:


Recorre-se frequentemente a uma escala de avaliação com um item para medir
atitudes. Trata-se de um método económico de medir uma atitude em muitos estudos
com carácter representativo, como, por exemplo, em sondagens de opinião. Este modo
de medir atitudes defronta-se com um problema de monta: a potencial falta de
fidelidade. As respostas aos itens podem ser influenciadas, entre outros factores, pelo
contexto, pela ordem dos itens, pelo humor da pessoa que responde. Para ultrapassar
uma possível baixa fidelidade, foram construídas escalas de atitude mais complexas.

6.3 – Escala de distância social:


Mede as atitudes étnicas; proposta por Emory Bogardus, 1925. Apresenta-se como
um quadro de dupla entrada, que tem como abcissa o nome de diferentes grupos
humanos, como ordenada dispõem-se 7 preposições que caracterizam o tipo de
relações que o sujeito gostaria de Ter com pessoas pertencendo a esses grupos.
Os números colocados à direita indicam o grau de distância social representado por
cada proposição. Quanto maior for o número, maior é a distância social.

6.4 – Escala de Thurstone:


Thurstone (1928) defende que há um continuum psicológico de afecto ao longo do
qual se podem situar os indivíduos.
Das diversas técnicas de escalas desenvolvidas por Thurstone a que foi mais utilizada
foi a escala de intervalos aparentemente iguais pode ser sintetizada em 8 passos:

1. Obtém-se um determinado número de itens em relação com o objecto da atitude


(cerca de 100);
2. Os itens são avaliados por um conjunto de juízes com características semelhantes
às das pessoas que serviram de sujeitos:
3. Pede-se aos juízes para ordenarem os itens em 11 categorias desde a mais
favorável (1), neutra (6) e mais desfavorável (11). Deve-se estar seguro que os
juízes compreendem que vão classificar as frases e não indicar o seu acordo ou
desacordo com elas;

65
4. Os itens que são ordenados pelos juízes nas mesmas categorias são retidos, ao
passo que os itens em que há um desacordo entre os juízes são afastados;
5. A cada um dos itens atribui-se um valor da escala correspondendo à mediana da
distribuição das respostas dada pelos juízes;
6. Retém-se um certo número de proposições de modo que representem a extensão
dos valores da escala ao longo da dimensão favorável a desfavorável, tendo
aproximadamente intervalos iguais entre pares dos valores adjacentes da escala;
7. Apresentam-se os itens seleccionados numa ordem aleatória a uma população
pedindo-lhes para escolherem aqueles com que concordam;
8. A atitude do sujeito é então determinada pelo cálculo dos valores médios ou
medianos dos valores da escala dos itens escolhidos. Por isso, na análise final, a
atitude de um sujeito será representada por um número entre 1 e 11.

Este tipo de escala tem como principais dificuldades: a sua preparação é morosa, pode
haver um fosso muito grande entre o júri e a população a quem se administra a escala.

6.5 – Escala de Likert:


Rensis Likert concebeu um dos métodos que mais influência tem tido na medida de
atitudes; consiste na apresentação de uma série de proposições, devendo o inquirido,
em relação a cada uma delas, indicar uma de cinco posições (concordo totalmente,
concordo, sem opinião, discordo, discordo totalmente)
.
Podemos sintetizar a construção da Escala de Likert em 3 etapas:

1– Conjunto de itens relacionados com vários aspectos de uma atitude são


relacionados pelos investigadores com base na experiência, intuição ou pré-testes;
2– Os itens são submetidos aos sujeitos a quem se lhes pede para indicarem as suas
opiniões fazendo um círculo à volta de um ponto de uma escala de 5 graus cujo os
extremos são concordo fortemente (5) e discordo fortemente (1); (ex.: Nunca
casaria com um imigrante. Concordo totalmente; Concordo Neutro; Discordo;
Discordo totalmente – 5, 4, 3, 2, 1)
3– A atitude de uma pessoa em relação a um objecto é determinada pela soma das
respostas a todos os itens.

A principal vantagem de uma escala de Likert é que ela constrói-se mais depressa e
com menos gastos que uma escala de Thurstone;
A crítica mais frequente à Escala de Likert é de que se os scores de dois indivíduos
são iguais, estes devem ter a mesma atitude. Porém é frequente observarem-se scores
totais engendrados por diferentes respostas às questões, o que pressupõe atitudes
também elas diferentes.

6.6 – Escala de Guttman:


Baseia-se no pressuposto de que as opiniões podem ser ordenadas segundo a sua
“favoralidade” de modo que a concordância com uma dada afirmação implica
concordância com todos os itens que exprimem opiniões mais favoráveis. Segundo
Louis Guttman (1944), qualquer escala que reproduzisse perfeitamente este modelo
seria perfeitamente unidimensional.
Assim um dado score de atitude numa escala de Guttman só pode teoricamente ser
obtido de uma maneira. Se se conhecer o score de um indivíduo, então conhecer-se-á
o modo como a pessoa respondeu a cada item da escala.

66
Este tipo de escala pode-se sintetizar com 3 etapas:

1– reúne-se um grande número de atitudes que se deseja medir. Estas opiniões


deverão permitir a exploração dos domínios que constituem o campo de expressão
da atitude. As opiniões retidas deverão igualmente permitir aprender todas as
matizes da direcção da atitude (da mais favorável à mais desfavorável). Enfim, as
opiniões serão formuladas de maneira dicotómica, isto é, escolhas de tipo acordo,
desacordo.
2– administra-se o questionário de opiniões a uma população de sujeitos.
3– efectua-se uma análise das respostas para se determinar se correspondem ao
modelo ideal.

Apesar de evitar o problema de diferentes padrões de atitude com o mesmo score,


também mostra alguns problemas. Entre eles os itens podem ser ordenados de modo
diferente, a escala que funciona numa população não quer dizer que funcione noutra.

6.7 – Diferenciador Semântico:


Desenvolvido por Osgood, Suci e Tannenbaum (1957) propicia a possibilidade de se
medirem diferentes atitudes com a mesma escala. Ao contrário das escalas de
Thurstone, Likert ou Guttman que para cada novo objecto de atitude tem de se
construir uma nova escala.

Diferenciador semântico é: uma técnica de medida da significação psicológica que


têm os objectos ou os conceitos para o indivíduo, a combinação de um método de
associações forçadas, mas controladas e de um procedimento de escalas permitindo
obter a direcção e intensidade do significado do conceito. Concretamente, os sujeitos
devem diferenciar um conjunto de escalas bipolares de adjectivos antónimos com 7
graus de intensidade, uma série de conceitos saídos de um campo semântico. A
direcção do julgamento pode ser positiva ou negativa e ir de -3 a +3. Com recurso à
análise factorial, Osgood e seus colegas identificaram 3 dimensões básicas mediante
as quais os conceitos podem ser descritos: a avaliação, a potência e actividade.

O diferenciador semântico tem sido utilizado de diversos modos: estudar as diferenças


sócio-culturais nas atitudes, estudar as diferenças sexuais e para avaliar o auto-
conceito. Pois, tem a vantagem de ser fácil de construir; quase toda a escala
previamente elaborada pode ser utilizada como modelo para outra variável que vai ser
estudada, na medida em que os adjectivos são independentes de qualquer variável.

Críticas: a existência por vezes de falsas bipolaridades, bem como o empobrecimento


das conotações suscitadas pela rigidez das escalas nas 3 dimensões. O campo das
conotações parecer ser maior e mais aberto. Outro problema: a estrutura factorial de
uma escala de um determinado diferenciador semântico variar com o tipo de conceito
que se avalia.

6.8 – Medidas Indirectas:


Os questionários são de longe as técnicas de avaliação das atitudes mais amplamente
utilizadas.
As medidas indirectas mais comuns, em que não se pergunta à pessoa a sua atitude
directamente:

67
Fisiológicas – Assentam no pressuposto de que certos objectos ou certos
acontecimentos levam a determinado comportamento físico (arrepio, dilatação da
pupila, contracção muscular), o que pode indicar uma certa atitude.

Comportamentais – assentam na suposição de que o comportamento é consistente


com as atitudes (se um sujeito é afável com os imigrantes, por ex.: o investigador
presume que o sujeito tem uma atitude favorável em relação aos imigrantes).

Projectivas – aos sujeitos é pedido que descrevam uma figura, contem uma história,
completem uma frase ou indiquem como é que alguém reagiria a determinada
situação, têm a vantagem de que muitas vezes as pessoas projectam nos outros as suas
próprias atitudes.

A utilização de técnicas indirectas para medir as atitudes reveste-se de:


Vantagens; as técnicas são menos susceptíveis de suscitarem respostas socialmente
aceites, a pessoa não conhece a atitude que está a ser medida;
Desvantagens; dificuldade em medir a intensidade da atitude e também podem
suscitar problemas éticos. Apesar disto as medidas indirectas são a única avenida a
seguir quando o investigador trabalha sobre assuntos sociais muito sensíveis.

7 – Atitudes e Comportamento:
Durante décadas os psicólogos sociais estiveram muito interessados no estudo das
atitudes por acreditarem que a partir delas podiam prever o comportamento. No
entanto, prever o comportamento a partir das atitudes não é tão simples como se pode
pensar à partida. A utilidade das atitudes para prever os comportamentos depende de
vários factores pessoais e sociais. Além disso, os psicólogos sociais também estavam
interessados em mudar o comportamento através da influência exercida sobre as
atitudes das pessoas.

7.1 – O dilema da consistência atitude-comportamento:


Um dos primeiros estudos que sugeriram que as atitudes e os comportamentos
poderiam não estar tão estreitamente ligados com os psicólogos sociais da época
pareciam pensar, foi efectuado por LaPiere (1934).

Vários estudos sugeriam a existência de uma certa discrepância entre atitude e


comportamento, suscitam alguns problemas. Por exemplo em nenhum caso foi
avaliada a atitude. Em vez disso uma intenção comportamental foi comparada com
um comportamento.

A revisão de Wicker levou certos psicólogos sociais a concluírem que o conceito de


atitude não era útil e pouco servia para prever o comportamento. Contudo há um forte
apoio empírico da validade preditiva da atitude em relação ao comportamento.

7.2 – Condições metodológicas da predição atitude-comportamento:


Uma primeira tentativa de reavaliação da consistência da atitude e do comportamento
debruçou-se sobre os aspectos metodológicos das investigações.

Uma das possibilidades é que problemas de medida interfiram na nossa possibilidade


em prever de modo exacto o comportamento a partir das nossas atitudes. Pressões

68
para se dizer e fazer coisas socialmente desejáveis pode tornar as medidas das atitudes
e dos comportamentos menos válidos do que se pretenderia. Também pode acontecer
que os instrumentos não sejam suficientemente sensíveis e precisos para avaliar as
atitudes. A discrepância também pode ocorrer devido ao prazo de tempo muito longo
entre a observação de uma variável e da outra. O investigador mede a atitude do
sujeito e só muito tempo depois, o seu comportamento. Entretanto a atitude pode ter
mudado.

Uma outra razão é que se tentam relacionar atitudes gerais (atitudes em relação aos
chineses) com comportamento específico (uma casal chinês acompanhado por um
americano branco).

Princípio de correspondência (Ajzen e Fishbein, 1977) as componentes preditivas do


comportamento (atitude ou crença ou intenção…) e o comportamento previsto
deveriam medir-se a níveis correspondentes de especificidade. Para se aplicar este
princípio é necessário precisar os níveis de correspondência atitude-comportamento
por meio de quatro marcadores: uma acção (fumar), um alvo (fumar cigarros), uma
situação (em locais públicos) e o tempo (nos próximos três meses).

Uma outra questão a considerar atitude/comportamento é o princípio da agregação dos


comportamentos. Para demonstrar que a construção de um índice comportamental
compósito pode aumentar a correlação atitude-comportamento, Fishbein e Ajzen
(1974) efectuaram um estudo relacionando atitudes religiosas com os
comportamentos.

Um outro princípio que ajudou a clarificar a relação atitude-comportamento foi o de


comportamento prototípico. Há objectos que desencadeiam mais facilmente uma
reacção atitudinal que outros. Isso observa-se particularmente quando se está perante
objectos representativos de uma classe de objectos, Lord, Lepper e Mackie (1984).

Podemos também ser levados a pensar que uma atitude em relação a uma minoria
étnica pode activar-se rápida e automaticamente aquando da interacção com alguém
que nos parece ser um representante típico desta minoria.

7.3 - Modelos Teóricos de Predição do Comportamento:


Para se resolver o dilema de consistência houve investigadores que se voltaram para a
“abordagem das outras variáveis” (Wicker, 1971). Apesar das melhorias
metodológicas é possível que haja factores que se possam opor ao comportamento
implicado por uma atitude. A compreensão dos papéis concorrentes de diversas
atitudes pode contribuir para a previsão do comportamento futuro.

7.3.1 – Abordagem das variáveis moderadoras:


Uma variável moderadora representa uma variável que influencia a direcção ou a
intensidade da relação entre uma variável preditora ou independente e uma variável
ou uma variável critério ou dependente (Baron e Kenny, 1986). Trata-se de uma
terceira variável que age sobre a correlação simples entre outras duas variáveis.

Investigadores têm-se debruçado sobre condições em que a atitude e comportamento


serão mais ou menos consistentes, (experiência directa, factores pessoais e
situacionais e diferenças individuais).

69
Um factor que contribui para aumentar a consistência atitude-comportamento é a
experiência directa da pessoa com o objecto da atitude.
Tem sido sugerido que a ligação entre comportamentos e atitudes formada mediante
experiência directa é mais forte porque tais atitudes são mantidas com mais clareza,
confiança e certeza, porque tais atitudes são mais acessíveis e mais fortes e porque são
automaticamente activadas com a apresentação do objecto de atitude, Fazio.

Um segundo factor que afecta a consistência atitude-comportamento é a pertinência


pessoal. Se uma pessoa tem um direito adquirido numa questão aumenta a relação
entre atitude e comportamento. Um direito adquirido significa que os acontecimentos
em questão terão um forte efeito na própria vida da pessoa.

A relação entre atitudes e comportamento também depende do modo como se espera


que nos comportemos em determinada situações.
Diferenças individuais também podem ser importantes. Algumas pessoas estão
naturalmente mais dispostas que outras a expressar consistência entre as suas atitudes
e os seus comportamentos.

Outro factor é a auto-vigilância que consiste numa capacidade de auto-observação e


de autocontrolo dos comportamentos verbais e não verbais em função de índices
situacionais (Snyder, 1979).

As dimensões privada e pública da autoconsciência permitem efectuar predições


diferentes da consistência entre as atitudes e o comportamento.

7.3.2 – Teoria da Acção Reflectida:


Esta teoria descreve a relação entre crenças, atitude e comportamento. Partindo da
crença, esta influencia as atitudes em relação a um comportamento em particular e a
normas subjectivas. Estes dois últimos componentes influenciam as intenções
comportamentais e por sua vez, influenciam o comportamento.

7.3.2 – Teoria do Comportamento Planificado:


Sendo basicamente idêntica à anterior, acrescenta-lhe um factor que deve ser
considerado na previsão do comportamento: o controlo comportamental
percepcionado – até que ponto será fácil ou difícil realizar determinado
comportamento (ex.: um fumador que pense em deixar de fumar (revela uma atitude
positiva em relação ao deixar de fumar). O médico aconselha vivamente este
comportamento (norma subjectiva). No entanto, apesar das duas primeiras condições
preverem o comportamento de deixar de fumar, o fumador depara-se com a grande
dificuldade de abandonar este vício, o que poderá fazer prever que a sua falta de
controlo o leve a abandonar a primeira intenção.
Embora os investigadores afirmem que ambas as teorias podem prever o
comportamento, as comparações dos dois modelos mostram que é mais vantajosa a
teoria do comportamento planificado.

SUMÁRIO:
Poucos conceitos senão mesmo nenhum foram alvo de tanta atenção em
psicologia social como o da atitude, foram feitas muitas tentativas para definir,

70
medir e utilizar o conceito com o intuito de melhorar a comportamento
humano;

Tradicionalmente, as atitudes têm sido definidas como envolvendo crenças,


sentimentos e disposições a agir;

Foram referidas 4 características da atitude: Direcção (atitude negativa ou


positiva) exprime um grau de atracção ou de repulsa em relação objecto
(intensidade), pode ser unidimensional ou multidimensional, a acessibilidade
está associada a força de atitude, quando mais é acessível mais a latencia da
resposta é breve, e mais a atitude é preditora do comportamento;

As atitudes ajudam-nos a definir grupos sociais e estabelecer as nossas


identidades e guiar o nosso pensamento e comportamentos. Pode-se distinguir
as atitudes de crenças que são laços cognitivos entre um objecto é algum
atributo ou características e de valores que envolvem conceitos mais
abstractos, tais como liberdade e felicidade. A ideologia é uma outra noção
conexa;

As atitudes formaram-se através da aprendizagem e são influenciadas pelas


pessoas (grupos) significativas da vida de uma pessoa. O grupo de referência é
um grupo a que o indivíduo aspira pertencer. Os meios de comunicação de
massa também podem contribuir para a formação das atitudes;

O condicionamento clássico é o processo que toma atitudes pelo


emparelhamento repetido de um conceito neutro com outro, com um colorido
social seja ele positivo ou negativo. As atitudes também são apreendidas
através de modelagem e da aprendizagem observacional. A teoria da
autopercepção sugere que as pessoas inferem muitas vezes as suas atitudes do
comportamento;

Existem várias técnicas para medir atitudes. Para além da análise de conteúdo
das comunicações, as técnicas comuns são: auto-avaliação, tais como escalas
de distância social, de intervalos aparentemente iguais, de classificações
somadas, do escolograma e do diferenciador semântico. Alguns procedimentos
alternativos para medir atitudes foram também desenvolvidos, que não são
técnicas de auto-avaliação, tais como técnicas fisiológicas, comportamentais e
projectivas;

Prever o comportamento a partir das atitudes não é tão simples como se


poderia pensar. Mito do trabalho inicial neste domínio partia da ideia de que se
pudesse conceptualizar e medir as atitudes, poder-se-ia esperar uma predição
quase perfeita do comportamento. Contudo várias investigações mostraram
que a relação é contingente, ou seja a utilidade das atitudes para prever os
comportamentos é contingente de vários factores pessoais e sociais;

As atitudes estão ligadas aos comportamentos, mas o estabelecimento desta


relação exige certas condições de foro metodológico. Segundo o princípio de
correspondência, uma atitude particular pode predizes um comportamento
particular se a atitude e o comportamento são especificados por meio de quatro

71
marcadores: acção, alvo, situação e tempo. Uma atitude geral não assegura a
predição de uma acção singular, mas de uma categoria de comportamentos que
formam o índice comportamental compósito;

Para dar conta das numerosas variáveis, para além da atitude, que podem
influenciar, o comportamento foram propostos modelos teóricos. O modelo
mais influente da relação atitude-comportamento é o da teoria da acção
reflectida, posteriormente denominado de teoria do comportamento
planificado. Para o modelo da acção reflectida, o determinante mais imediato
do comportamento é a intenção ou o desejo de agir. Por seu lado, a intenção é
determinada pela atitude e pelas normas subjectivas. Para o modelo do
comportamento planificado o factor de controlo comportamental
percepcionado é acrescentado à atitude e à norma subjectiva. Pressupõe-se que
este modelo tem uma eficácia de predição superior em situações em que o
comportamento só esteja tenuemente sob controlo voluntário;

Os grupos a que as pessoas procuram pertencer ou com quem se identificam,


constituem um factor importante para a formação e manutenção das atitudes
sociais e políticas. Tais grupos de referência fornecem as pessoas padrões para
se julgarem a elas próprias e ao mundo e são susceptíveis de influenciar
decisões muitas vezes ao longo da vida.

V. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS:

1. Introdução:
Tarde, já em finais do século passado, apreendeu a importância da comunicação para
reproduzir e transformar as sociedades humanas, tendo proposto que a psicologia
social se ocupasse antes de mais do estudo comparativo das conversações.

Uma das mudanças com maior impacto na vida quotidiana foi o papel cada vez mais
assumido pelos meios de comunicação de massa na criação e difusão de informações
e de modos de pensar, de sentir e de agir.

O quadro teórico das representações sociais construiu-se à volta de noções de sistema


e de meta-sistema antes de estar na moda o pensamento sistémico (Doise, 1990). Por
meio do estudo da representação social da psicanálise, Moscovici (1961) mostrou
várias semelhanças entre as características do pensamento adulto e do pensamento
infantil.

2. Origens:
A noção de representação tem uma longa história e atravessa um certo número de
ciências sociais interrelacionadas. Moscovici, apoia-se em diversas fontes quando
explica a teoria das representações sociais. Tal vai desde o trabalho antropológico de
Levy-Bruhl que se preocupa com sistemas de crenças de sociedades tradicionais, ao
trabalho de Piaget sobre a psicologia da criança que se focaliza na compreensão e
representação que a criança tem do mundo. Todavia, a influência mais importante
exercida sobre a noção deve-se a Durkheim.

72
O conceito de representação social resulta do empréstimo pelo vocabulário filosófico
do termo representação. No seu “vocabulário da filosofia”, Lalande (1926) dá-lhe
quatro acepções:
A. Facto de representar uma pessoa ou uma coisa;
B. No sentido concreto: conjunto de pessoas que representam outras;
C. Aquilo que está presente no espírito; o que em nós “se representa”; aquilo que
forma o conteúdo de um acto do pensamento, em particular, reprodução de
uma percepção anterior;
D. Acto de representar em si algo; faculdade de pensar uma matéria concreta,
organizando-a em categorias; o conjunto do que em nós se representa como
tal.

O conceito de representação social inscreve-se numa tradição europeia e sociológica,


ao invés da grande maioria dos conceitos de psicologia social que são de origem
anglo-saxónica e procedem da psicologia geral.

3. Noção:
O conceito de representação social designa uma forma de conhecimento socialmente
elaborado e partilhado, com uma orientação prática e concorrendo para a construção
de uma realidade comum a um conjunto social.
Esta definição chama a nossa atenção para a concepção dos modos de pensamento que
nos relacionam com o mundo e com os outros, para os processos susceptíveis de
interpretar e de reconstituir de modo significativo a realidade, para os fenómenos
cognitivos que suscitam a pertença social dos indivíduos com implicações afectivas,
normativas e práticas e configuram aos objectos uma particularidade simbólica
própria nos grupos sociais. Neste último sentido, as representações sociais são a
expressão de identidades individuais e sociais.

O termo de representação designa, num sentido lato, uma actividade mental através
da qual se torna presente na mente, por meio de uma imagem, um objecto ou um
acontecimento ausente.

Aspectos a ter em conta na noção de representação social:


– Há sempre referência a um objecto. A representação, para ser social, é sempre uma
representação de algo;
– As representações sociais mantêm uma relação de simbolização e de interpretação
com os objectos; resultam de uma actividade construtora da realidade e de uma
actividade expressiva;
– Adquirem a forma de modelos que se sobrepõem aos objectos, tornando-os visíveis,
e implicam elementos linguísticos, comportamentais ou materiais;
– São uma forma de conhecimento prático que nos levam a interrogar-nos sobre
determinantes sociais da sua génese e da sua função social na interacção social da
vida quotidiana.

Esta forma de conhecimento permite a apreensão pelos sujeitos sociais dos


acontecimentos da vida corrente, das informações veiculadas, das pessoas do nosso

73
meio próximo ou longínquo. Trata-se do conhecimento do senso comum em oposição
ao conhecimento científico. Conceitos que tendem a qualificar globalmente um
conjunto de actividades intelectuais e práticas, como a ciência, o mito, a religião, a
ideologia, etc., distinguem-se das representações sociais, pois constituem uma
organização psicológica, uma forma de conhecimento particular à nossa sociedade e
irredutível a nenhuma outra.

Como forma de conhecimento, a representação social implica a actividade de


reprodução das características de um objecto. Esta representação não é, porém, o
reflexo puro e fiel do objecto, mas uma verdadeira construção mental.
A imagem é pois, neste ponto de vista, reprodução, reflexo. Além disso, é selectiva,
finalizada: trata-se de um fenómeno passivo, o que a distingue definitivamente da
representação.

A representação social, na medida em que é um processo de construção do real, age


simultaneamente sobre o estímulo e a resposta.

Em suma: se todos estes “objectos parciais” estão integrados nas representações


sociais, estas não são consideradas “como opiniões sobre” ou “imagens de”, mas
“teorias”, “ciências colectivas” sui generis, destinadas à interpretação e à leitura do
real.

Na medida em que a representação social designa uma forma de conhecimento, isso


acarreta o risco de a reduzir a um acontecimento intra-individual. O facto de designar
uma forma de pensamento social, acarreta o risco de a diluir nos fenómenos culturais
e ideológicos.

4. Representações e Comunicação Social:


A representação social desempenha um papel na formação das condutas sociais e das
comunicações, na medida em que é através dela que o grupo apreende o seu meio.
A comunicação social desempenha um papel fundamental nas trocas e interacções
quotidianas.

Segundo Moscovici (1961) podem-se distinguir 3 grandes sistemas de comunicação,


cuja importância relativa varia segundo o momento histórico e os grupos sociais:

 Difusão – é o sistema de comunicação de massas mais patente na nossa


sociedade. A fonte pretende transmitir e difundir o mais amplamente possível
um conteúdo, sem no entanto ter subjacente uma intenção de reforçar ou
convencer. Não se dirige a um grupo definido mas a membros de diversos
grupos sociais;
 Propagação – recorre a mensagens que visam um grupo particular, com
objectivos e valores específicos. A sua finalidade é a integração de uma
informação nova num sistema de raciocínio e de julgamento já existente;
 Propaganda – a propaganda desenvolve-se num clima social conflituoso,
contribuindo para a afirmação e reforço da identidade de um grupo. Constrói a
propósito dos adversários uma representação em conformidade com os
princípios inspiradores. Incita os seus receptores a um determinado
comportamento.

74
Em segundo lugar, Moscovici examinou a incidência da comunicação ao nível da
emergência das representações cujas condições afectam os aspectos cognitivos. Há
três condições que afectam a formação das representações sociais.

 A primeira é a dispersão da informação sobre o objecto da representação;


 A segunda condição relaciona-se com a posição específica do grupo social em
relação ao objecto de representação;
 A terceira condição refere-se à necessidade que sentem os indivíduos de
desenvolverem comportamentos e discursos coerentes a propósito de um
objecto que conhecem mal.

Estes processos dão conta da interdependência entre actividade cognitiva e condições


sociais.

5. Análise Psicossociológica da Representação Social:


Numerosas investigações inscrevem-se neste quadro teórico. A investigação no
âmbito deste quadro teórico difere da investigação mais usual em Psicologia Social
(cognição social). A investigação clássica sobre a cognição social focaliza as
características gerais do processo de percepção, memória e julgamento, sendo
considerado uma característica psicológica universal do homem.
Ao invés, a investigação conduzida no quadro das representações sociais focaliza-se
frequentemente em conteúdos específicos de sistemas de conhecimento,
caracterizadores de grupos e sociedades.
A defesa desta orientação assenta no facto de que são os conteúdos do conhecimento
do senso comum que orientam o comportamento e o pensamento das pessoas
inseridas na comunidade.
Os processos de pensamento estão em grande parte dependentes dos conteúdos de
pensamento. Ou, por outras palavras, as condições sociais em que nos locomovemos
determinam não só o que pensamos, mas também, como pensamos.

Nas investigações sobre as representações sociais pode-se distinguir dois objectos


distintos – os produtos e os processos – esta distinção é artificial. “Processos e
produtos são indissociáveis, só se pode descobrir a obra nos seus efeitos, estudar os
mecanismos na base da sua produção.

5.1 – A representação-produto:
É um universo de opiniões ou crenças organizadas em torno de uma significação
central (objecto). O produto pode ser analisado sob vários aspectos ou dimensões. Na
análise dos produtos Moscovici considera 3 aspectos:

5.1.1 – Informação:
Diz respeito à soma e organização dos conhecimentos sobre o objecto de
representação. É possível conhecer e ter representação do objecto através da
informação que se conhece sobre o mesmo (quer em quantidade, quer em qualidade).

5.1.2 – Atitude:
Exprime a orientação global, positiva ou negativa, em relação ao objecto da
representação. É “uma organização duradoira de processos motivacionais,
emocionais, perceptivos e cognitivos que se relacionam com um aspecto do mundo do
indivíduo”;

75
A atitude é reguladora e energética, supondo uma estruturação dos estímulos e das
respostas.

5.1.3 – Campo de Representação:


É o conteúdo concreto e limitado sobre aspectos precisos do objecto de representação.
Remete-nos para aspectos imagéticos da representação, através de uma ideia de
organização ou de uma hierarquia de elementos.
O estudo dos elementos constitutivos “distingue opiniões, atitudes, estereótipos como
sendo modos de formação da conduta para com um objecto socialmente significativo.

5.2 – Representação-Processo:
Moscovici ressalta dois processos fundamentais que deixam transparecer o modo
como o social transforma um conhecimento em representação e como esta
representação transforma o social, a propósito do estudo de uma teoria científica, a
Psicanálise. Estes dois processos, a objectivação e a ancoragem, mostram uma
interdependência entre a actividade psicológica e as condições sociais.

5.2.1 – Objectivação:
A objectivação é o mecanismo que permite concretizar algo abstracto (ex.: os
sentimentos não são objectos palpáveis, no entanto fazem parte integrante da vida das
pessoas).
Na objectivação, o social reflecte-se na “disposição e na forma dos conhecimentos
relativos ao objecto de uma apresentação”. Articula-se com uma característica do
pensamento social, a propriedade de tornar concreto o abstracto, de materializar a
palavra. A objectivação tem a propriedade de tornar concreto algo que é abstracto. É
uma operação imagética e estruturante.

Este processo pode dividir-se em três fases no caso de um objecto complexo como
uma teoria.
a) Selecção e descontextualização dos elementos da teoria;
b) Obtém-se um “esquema figurativo” que é o núcleo organizador da
representação;
c) A naturalização é a operação pela qual os conceitos se movem “em
verdadeiras categorias de linguagem e entendimento – categorias sociais –
próprias para ordenar os acontecimentos concretos e serem abafados por eles”.

5.2.2 – Ancoragem:
Tal como a objectivação, a ancoragem permite traduzir o que é estranho em algo
familiar. A ancoragem faz a incorporação do que é estranho numa determinada rede
de categorias com características semelhantes.

6. Áreas de Investigação:
Apesar de vários objectos estudados, Jodelet distingue 3 grandes áreas:
1. Uma área que se relaciona especificamente com a difusão de conhecimentos
(no campo social e educativo);
2. Uma área que integra a noção de representação social como variável no
tratamento de questões clássicas de psicologia social: cognição, conflito,
negociação, relações interpessoais e intergrupais;

76
3. Uma área mais ampla em que as representações sociais são apreendidas em
contextos sociais reais ou grupos circunscritos na estrutura social. Os estudos
abordam objectos socialmente valorizados, a propósito dos quais os diferentes
grupos definem os seus contornos e particularidades.

7. Variações sobre representações sociais:


7.1 – Representações sociais e educação:
Para Gilly, só se abordam certos aspectos ou certas manifestações, ou então só se
evocam as representações sociais enquanto determinantes subjacentes (variável
intermediária) que explicam resultados sobre factos que não tem em si mesmo o
estatuto delas.

“O campo educativo aparece como um campo privilegiado para ver como se


constroem, evoluem e se transformam representações sociais no seio dos grupos
sociais e iluminar-nos sobre o papel destas construções nas relações destes grupos
com o objecto da sua representação” Gilly, 1989.

Existem dois tipos de trabalho sobre representações sociais e educação:


o Estudos focalizados em instituições, na escola, nos seus agentes;
o Estudos que abordam representações recíprocas professor-aluno.

7.2 – Estudo experimental das representações sociais – A teoria do


núcleo central:
Esta teoria articula-se à volta de um núcleo central. Este núcleo é o elemento que
determina a significação e a organização da representação. O núcleo central de uma
organização tem duas funções principais:
 Função geradora que cria ou transforma a significação dos outros elementos da
representação;
 Função organizadora na medida em que depende deste núcleo a natureza dos
laços que unem os elementos de representação.

O núcleo central é o elemento mais estável da representação, é o que resiste mais à


mudança. Uma representação transforma-se de modo radical quando o núcleo central
é posto em causa e de modo superficial quando há uma mudança do sentido ou da
natureza dos elementos periféricos.

7.3 – Representações sociais da emigração:


A realidade do fenómeno migratório assume por essência contornos muito movediços.
Uma análise desta realidade efectuada hoje pode já não ser verdadeira no dia seguinte.

Sumário:
As representações sociais constituem um dos objectos de estudo dominantes
na psicologia social europeia no seguimento do trabalho original de
Moscovici;

O conceito de representação social inscreve-se assim numa tradição europeia e


sociológica, ao invés da grande maioria dos conceitos de psicologia social que
são de origem americana e procedem da psicologia geral;

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A noção de representação social situa-se numa encruzilhada com múltiplos
acessos. As representações sociais apresentam-se sob formas variadas, mais ou
menos complexas: imagens, sistemas de referência, categorias, teorias;

O conceito de representação social designa uma forma de conhecimento


específica, o saber do senso comum. No seu sentido mais lacto designa uma
forma de pensamento social. As representações sociais são partilhadas pelos
membros de uma sociedade ou colectividade. Estas estruturas consensuais são
vistas como sendo criadas socialmente através da interacção e da comunicação
social;

A incidência da comunicação pode ser analisada a três níveis: ao nível das


dimensões das representações que se referem à construção do comportamento,
ao nível da emergência das representações e ao nível dos processos de
formação das representações;

Há um certo acordo em abordar a representação social como o produto e o


processo de uma elaboração psicológica e social do real. A título hipotético
Moscovici considera cada universo de representações sobre três aspectos:
informação, atitude e campo de representação.

Dois processos deixam transparecer o modo como o social transforma um


conhecimento em representação e como esta representação transforma o
social: a objectivação e a ancoragem;

A objectivação reflecte do social na representação e pode subdividir-se em três


fases: selecção e descontextualização, esquema figurativo e naturalização; A
ancoragem traduz a intervenção da representação no social. Este processo
articula as três funções-base da representação: função de orientação de
condutas e das relações sociais, função de interpretação da realidade e função
cognitiva de integração da novidade;

A investigação sobre as representações sociais pode ser agrupada em três


áreas: uma referente à difusão dos conhecimentos e à vulgarização cientifica;
outra manipula as representações sociais; a terceira aborda objectos
socialmente valorizados apreendidos em contextos sociais reais;

Cada uma destas três áreas foi ilustrada de modo empírico por estudos sobre as
representações sociais da educação, da teoria do núcleo central e da
emigração, respectivamente;

Ao nível das aplicações mostra-se a utilidade e a importância da noção de


representação social para se compreender e analisar práticas sociais.

VI. PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÃO:

1. Introdução:

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As atitudes indicam-nos o modo como pensamos e sentimos em relação a pessoas,
objectos e questões do meio circundante. Para além disso, podem permitir prever
como agiremos em contacto com os alvos das nossas crenças. A um nível mais geral,
o conceito de atitude está relacionado com graves questões sociais como são os
problemas de preconceito e de discriminação.

O preconceito e a discriminação constituem uma ameaça ao bem-estar humano em


todo o mundo. São diversas as facetas que os psicólogos sociais têm dedicado muito
do seu labor para compreender os processos subjacentes a esses problemas. Entre as
mais importantes refiram-se:
1. A natureza do preconceito e da discriminação;
2. Categorias de intolerância grupal;
3. Factores que contribuem para a sua emergência;
4. Consequências do preconceito e da discriminação;
5. Diferentes soluções que têm sido propostas para reduzir o seu impacto.

2. Definições: preconceito, discriminação e grupos


minoritários:
Preconceito: Pode definir-se como sendo: uma atitude com duas implicações,
geralmente mais utilizado num sentido negativo, o preconceito também pode ser
positivo (ex.: todos os negros são atléticos); sendo uma atitude: o preconceito reveste-
se de três componentes: a componente afectiva (diz respeito aos sentimentos face a
membros ou grupos específicos); a componente cognitiva (refere-se a crenças e
expectativas acerca desses grupos, e também ao modo como a informação acerca
deles é processada); a componente comportamental (refere as tendências de acção
relativamente a esses grupos).

Discriminação: É a manifestação comportamental do preconceito. Enquanto no


preconceito a componente comportamental diz respeito às tendências para a acção,
aqui surge o comportamento afectivo. Quando estamos perante discriminação,
membros de grupos particulares são tratados de modo positivo ou negativo, devido à
sua pertença a determinado grupo.

O comportamento discriminatório pode assumir diferentes formas Allport:


 Antilocução – conversa hostil e difamação verbal, propaganda racista.
 Evitamento – manter o grupo étnico separado do grupo dominante na
sociedade (gueto).
 Discriminação – o grupo minoritário é excluído de direitos civis, do emprego
e do acesso a certas formas de alojamento.
 Ataque Físico – violência contra pessoas e propriedades que pode vir de
organizações racistas, de grupos não organizados de sujeitos. Há alguma
evidência que durante períodos económicos tensos os ataques físicos tornam-
se uma forma mais frequente de expressão do preconceito.
 Extermínio – violência indiscriminada contra todo um grupo de pessoas, numa
tentativa de aniquilação.

Grupo Minoritário: Se só considerássemos o número seria mais fácil descrever ou


definir grupo minoritário. No entanto, não se trata de números, mas sim de estados de

79
espírito. Talvez fosse mais correcto descrevê-lo ou referir-se a ele como “grupo com
menos poder”, “grupo dominado”.
Para Wagley e Harris as minorias são: sectores subordinados de uma sociedade;
possuem traços físicos ou culturais pouco apreciados pelos grupos dominantes; estão
conscientes do seu estatuto minoritário; tendem a transmitir normas que encorajam a
afiliação e o casamento com membros do mesmo grupo.
A pertença a um grupo minoritário envolve mais um estado de espírito do que
características numéricas.

3. Algumas Categorias de Preconceito e Discriminação:


Existem quatro formas de intolerância:
Racismo – intolerância com base na cor da pele ou na herança étnica;
Sexismo – intolerância com base no sexo;
Heterossexismo – intolerância com base na orientação sexual;
Idadismo – intolerância com base na idade.

3.1 – Racismo:
O racismo é “qualquer atitude, acção, ou estrutura institucional que subordina uma
pessoa por causa da sua cor.
Assim o racismo envolve preconceito e discriminação e pode ser pessoal ou
institucional (incluindo cultural).

Um grupo étnico é um conjunto de pessoa que têm antepassados comuns pertencentes


a uma mesma cultura e sentimentos comuns de identificação a um grupo distinto. À
semelhança das diferenças raciais, as diferenças étnicas também estão na base de
muitos preconceitos. O preconceito com base em distinções étnicas denomina-se
etnocentrismo.

3.2 – Sexismo:
A investigação sobre o sexismo é importante por dois motivos:
1) Ensina-nos algo sobre os mecanismos psicossociais associados ao preconceito em
geral;
2) Trata-se de uma forma de preconceito que pode afectar um em cada dois seres
humanos.

3.3 – Heterossexismo:
A homossexualidade era vista como imoral e desviante. O preconceito contra
homossexuais ainda está muito espalhado.
O heterossexismo é um sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que
exalta a heterossexualidade e critica e estigmatiza qualquer forma não heterossexual
de comportamento ou de identidade.
O heterossexismo é um conceito novo utilizado para explicar o preconceito contra a
homossexualidade.

3.4 – Idadismo:
Uma maior proporção de pessoas idosas numa sociedade pode suscitar vários
problemas relacionados com o apoio económico, com a saúde, bem como com os
papéis na família e na sociedade.

80
Poderá acontecer que as pessoas idosas constituam um peso desproporcionado em
relação à força de trabalho dos mais jovens o que poderá ter como consequência uma
competição pelos recursos entre as necessidades dos idosos e dos jovens.
A forma como os jovens percepcionam os idosos pode variar segundo as sociedades
em virtude de variáveis, tais como tradições, estrutura familiar, grau de contacto
íntimo com os idosos e modernização.

4. A face mutante do preconceito:


A face do racismo mudou. O racismo aberto está em declínio, mas novas formas de
racismo continuam a surgir, e porventura, a aumentar. Deve-se fazer uma distinção
entre formas de racismo mais antigas e mais novas. O racismo mais usual e talvez
mais apresentado nos meios de comunicação de massa é a forma mais antiga
conhecida como “racismo antiquado”, Greely e Sheastley, 1971. Esta forma de
racismo transparece nos indivíduos que passam ao acto crenças intolerantes, os que
representam a chama viva do ódio.

O racismo moderno enfatiza que os aspectos afectivos das atitudes raciais são
geralmente adquiridos na infância e são mais difíceis de mudar que os aspectos
cognitivos.

5. Génese do preconceito e da discrição:


Os preconceitos encontram-se difundidos por todas as sociedades. Cada um de nós
certamente já teve um preconceito e foi igualmente vitima.
A compreensão da génese do preconceito e da discriminação é necessária para se
poderem utilizar técnicas que permitam erradicá-los.

Gordon Allport, 1954, formulou seis níveis de análise que começam com as causas
sociais amplas do preconceito e progridem para causas individuais mas específicas,
são eles:

5.1 – Abordagens históricas:


A génese dos preconceitos não pode ser plenamente compreendida senão se analisar o
contexto histórico dos conflitos.
As abordagens históricas são úteis para se compreender o preconceito e a
discriminação.

5.2 – Abordagens sócio-culturais:


Esta abordagem tem examinado, por exemplo, o aumento da urbanização, o aumento
da densidade populacional, a mobilidade de certos grupos, a competição para
empregos entre membros de diversos grupos, mudanças de papel e função de família.

5.3 – Abordagens situacionais:


As abordagens da situação examinam os factores do meio imediato da pessoa que
causam o preconceito. Segundo as teorias que põem em evidência a situação, o facto
de se conformar aos outros tem uma forte influência no preconceito. Mediante o
conformismo com as opiniões das pessoas do nosso meio obtemos aprovação social.

81
O preconceito nas crianças forma-se através dos processos de reforço directo e de
modelagem em contacto com os pais, outros adultos e colegas. Tais atitudes são
aprendidas relativamente cedo.

5.4 – Abordagens psicodinâmicas:


Estas abordagens acentuam que o preconceito resulta dos próprios conflitos e
desadaptações da pessoa. Trata-se de teorias fundamentalmente psicológicas, que
contrastam com as abordagens históricas e sócio-culturais previamente assinaladas.
Segundo estas teorias, para se modificar o preconceito e a discriminação devemos
focalizar-nos na pessoa com preconceitos.

Dentro destas abordagens dois tipos de explicações têm sido amplamente utilizadas:
1. O preconceito é visto como enraizado na condição humana;
2. Resulta de um tipo de personalidade.

5.4.1 – Frustração e agressão:


Jonh Dollard e Leonard Doob defenderam que o preconceito é uma forma de
agressão, e que resulta da frustração. Esses autores defenderam que “a ocorrência de
comportamento agressivo pressupõe sempre a frustração, e por outro lado, a
existência de frustração leva sempre a alguma forma de agressão”.

5.4.2 – Diferenças de personalidade:


Uma segunda perspectiva de estudo das abordagens psicodinâmicas acentuou
diferenças básicas de personalidade entre pessoas preconceituosas e com menos
preconceitos. O mais conhecido desses estudos foi o de personalidade autoritária.
O objectivo geral do estudo foi examinar diferentes configurações de atitudes, para se
ver, em particular, se as pessoas com preconceitos contra grupos minoritários
específicos tinham igualmente outras espécies de ideias, e para além disso, tinham
determinados traços de personalidade.

Em suma, parece claro que podem existir pessoas com preconceitos a quem não se
lhes aplica a abordagem psicodinâmica. Esta não explica cabalmente os casos em que
preconceito e discriminação se imbricam na estrutura social.

5.5 – Abordagens cognitivas:


Esta perspectiva sugere que os preconceitos resultam de processos cognitivos.
Segundo esta abordagem, aspectos de como processamos informação podem estar na
origem dos preconceitos.
Há quatro espécies de informação que podem ser utilizadas para desenvolver o
preconceito, são elas:

5.5.1 – Categorização Social:


Esta perspectiva aborda as origens do preconceito e da discriminação apoiando-se no
facto básico de que muitas vezes os indivíduos dividem o mundo em duas categorias
distintas: “nós” e “eles”. As outras pessoas são vistas quer como pertencendo ao seu
próprio grupo (endogrupo) ou a alguma outra categoria (exogrupo).

5.5.2 – O Poder dos Estereótipos:


O termo foi pedido emprestado à indústria tipográfica e descreve os estereótipos como
sendo “imagens na cabeça” que temos acerca de um grupo.

82
Segundo esta abordagem cognitiva, uma vez que um estereótipo se estabelece, muitas
vezes com base na avaliação errada da covariação de características, permanecerá,
devido ao processamento enviesado da informação subsequente. Crer é ver.

5.5.3 – Processos Atribucionais (atribuição):


A atribuição é o processo de explicar o comportamento. Tentativas de explicação de
acontecimentos surpreendentes ou negativos podem ser distorcidos pelo pensamento
estereotipado. Duas consequências importantes são a rotulagem enviesada e o erro
irrevogável da atribuição.

5.5.4 – Crenças Sociais:


As crenças sociais são uma importante fonte de atitudes de preconceituosas. Alguns
preconceitos podem também apoiar-se em crenças de que o mundo é um lugar justo.

5.6 – Alvo de Preconceito:


As abordagens prévias focalizaram a fonte do preconceito no observador.
Preconceito e hostilidades intergrupais podem por vezes basear-se em características
reais de grupos; esta ideia tem por vezes sido denominada da reputação ganha.

As crenças sobre características dos membros de outros grupos, podem ser


relativamente certas (McCauley e Sitt, 1978). Mas dado que os estereótipos são
simplificações do mundo social, não permitem efectuar previsões certas acerca do
comportamento de membros de outros grupos.

Existe uma grande gama de explicações para o preconceito e a discriminação. Todavia


nenhuma teoria explica suficientemente todos os casos, o que não admira, pois um
fenómeno tão complexo como o preconceito pode ter múltiplas origens.

5.7 – Quadro integrador de teorias:


Há muitas fontes que contribuem para o preconceito e a discriminação; como para
todas as respostas humanas, preconceito e discriminação são multideterminados.
Contudo a complexidade do problema não deixou de levar os psicólogos sociais a
tentar atenuá-lo (Lambert, 1992)
Kurt Lewin, defende que, os psicólogos sociais devem ser agentes de mudança bem
como teóricos e investigadores.

6. Consequências do preconceito e da discriminação:


Os efeitos do racismo sobre o grupo alvo são fáceis de identificar. 8 milhões de judeus
foram mortos em resultado do anti-semitismo; centenas de pessoas perderam as suas
vidas este século devido a linchagens, motins, atentados e outros actos suscitados por
ódios raciais. Existem também formas mais subtis, mas igualmente insidiosas, de
discriminação com base na raça, no alojamento, na educação e no emprego.

6.1 – Reacções das vitimas de preconceito:


São várias as reacções ao preconceito, podendo referir o afastamento e passividade,
militância, agressão contra o exogrupo e auto-aversão.
Allport sugeriu que estas reacções podiam ser circunscritas em duas categorias gerais:
intrapunitivas e extrapunitivas.

83
As defesas intrapunitivas são as que implicam auto-culpabilidade;
As defesas extrapunitivas colocam a culpa nos outros.
Allport defende que os membros de grupos minoritários que são intrapunitivos são
hostis ao seu próprio grupo, ao passo que os que extrapunitivos manifestarão lealdade
em relação ao seu próprio grupo e agressividade em relação a outros grupos.

Já Taijfel e Turner (1979) avançam três tipos de respostas. As pessoas vitimadas


podem simplesmente aceitar a sua situação com passividade e resignação, muito
embora com ressentimento; podem tentar libertar-se e faze-lo em sociedade; ou
podem tentar a acção colectiva e melhorar o estatuto do próprio grupo.

6.2 – Consequências do racismo sobre o racista:


As consequências do racismo não têm unicamente efeitos traumáticos sobre as vítimas
do preconceito e do comportamento racista. O racismo tem efeitos sobre todas as
pessoas, sejam elas as vitimas, as perpetradoras ou muito simplesmente os seus
observadores.

Dennis (1981) demonstra que a imersão de pessoas numa rede social racista torna
difícil para qualquer pessoa branca evitar a sua influência. Dennis evidencia um certo
número de efeitos da socialização racial sobre crianças brancas:
a) Ignorância das outras pessoas;
b) Desenvolvimento de uma consciência psicológica dupla e confusão moral;
c) Conformidade ao grupo.

Terry (1981) defende que o racismo mina e distorce a autenticidade das pessoas
brancas;

Karp (1981) apoia-se numa perspectiva psicodinâmica, vendo o racismo como um


mecanismo de defesa para lidar com feridas do passado. O racismo restringe aspectos
quotidianos das suas vidas, tais como onde viver, trabalhar e divertir-se.
As consequências emocionais do racismo são pesadas: culpa, vergonha, bem como o
sentir-se mal em ser branco.

7. Redução do preconceito e da discriminação:


A redução do preconceito e o combate aos seus efeitos negativos sendo um objectivo
de suma importância para a sociedade, levou os psicólogos sociais a conceberem e a
porem em acção estratégias para atingirem esse objectivo. A possibilidade de que o
contexto histórico, politico e económico mais amplo desempenha um papel
importante no relacionamento intergrupal.
Alguns dos métodos que os psicólogos têm utilizado para tratar com o problema do
preconceito e da discriminação são: a tomada de consciência; a hipótese de contacto;
o contacto através dos meios de comunicação social.

7.1 – Tomada de consciência:


Há três tipos de tomadas de consciência capazes de reduzirem o preconceito e a
discriminação: técnicas de consciencialização de ser oprimido, de aprender a fazer
distinções, do assimilador cultural.

7.1.1 – Tomada de consciência da pertença a um grupo minoritário:

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Diversos grupos minoritários como mulheres, negros, idosos, migrantes, entre outros,
implementam os seus próprios modos de vencer o preconceito.
Pretende-se mediante este processo tornar os membros desses grupos sensíveis às
influências opressivas que pesam sobre a sua vida, assegurando-lhes um meio de
defesa colectiva.

7.1.2 – Tomada de consciência de distinções:


A maior parte das vezes processamos informação de modo automático e passivo. Esta
tendência tem reflexos no preconceito, pois desde que encontremos alguma pessoa
pertencente a um grupo minoritário, as nossas reacções podem polarizadas por essa
característica importante desse sujeito.

É possível que as pessoas tomem activamente consciência dos outros, em vez de se


contentarem com as distinções previamente estabelecidas. Quanto mais
discriminamos os outros no nosso pensamento, menos os consideramos como
membros de uma categoria abstracta. Tal estratégia pode reduzir o preconceito.

7.1.3 – O Assimilador cultural:


Esta é uma técnica de sensibilização aos julgamentos correctos a respeito das
expectativas de um grupo ou cultura. Permite considerar o mundo social em
consonância com o ponto de vista de uma outra pessoa. Mais especificamente são
ensinadas as normas e os modos de vida de outro grupo com o intuito de permitir
efectuar atribuições certas a propósito do comportamento dos membros do outro
grupo.

O assimilador cultural recorre a “incidentes críticos” que são episódios com


importância para a interacção intergrupal e que são susceptíveis de ser mal
interpretados pelas pessoas que não estão habituadas a lidar com a população alvo,
mas sendo claros para os que conhecem a cultura.

7.2 – A Hipótese do contacto:


Esta hipótese baseia-se não tanto na personalidade do indivíduo ou nas atitudes dos
indivíduos que sofrem modificação como no desenvolvimento de uma nova
identidade grupal.

No caso dos grupos estarem de costas voltadas pode-se desenvolver a hostilidade


autista. Ora se membros de grupos diferentes desenvolverem a hostilidade autista
pode surgir o fenómeno de reflexo nos preconceitos intergrupais. Cada um dos grupos
considera-se com boas intenções e com razão e vê o inimigo como estando errado e
sendo ameaçador.

Com o aumento de contacto o exogrupo deixa de ser estranho e parece mais


diferenciado, assim a discriminação pode ser reduzida.

 Um dos factores chave para o sucesso dos contactos intergrupais é a igualdade


de estatuto, Norvell e Worchell, 1981.
 Outro factor a considerar é a intimidade de contacto entre membros de dois
grupos. Quanto maior for a intimidade, maior é a redução do preconceito.
 Um terceiro factor é que os indivíduos podem ter necessidade de partilhar
objectivos comuns que requerem acção independente e cooperativa.

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7.3 – Para além da hipótese do contacto:
Uma das críticas da hipótese do contacto é o ênfase colocado na mudança de atitudes
preconceituosas do grupo dominante, e a ignorância das atitudes dos membros de
grupos minoritários.
Os autores que levantam esta crítica sugerem que uma promoção mais eficaz da
harmonia intergrupal, os cientistas sociais devem considerar também.
1. As atitudes e as crenças dos membros dos grupos minoritários;
2. As crenças e ansiedades de todas as pessoas envolvidas no contacto
intergrupal.

7.4 – Contacto vicariante através dos meios de comunicação social:


Por vezes não temos de encontrar fisicamente membros de outro grupo para estarmos
em “contacto” com esse grupo.

Os meios de comunicação de massa têm contribuído para que haja preconceitos na


nossa sociedade. A questão que se pode levantar é a de se saber se também podem
contribuir para a sua redução, o que parece ter uma resposta positiva (crianças que
viram a rua sésamo convivem melhor com as diferenças entre as pessoas)

SUMÁRIO:
O preconceito é uma atitude favorável ou desfavorável em relação a membros
de um grupo particular baseado na pertença a esse grupo, ao passo que a
discriminação é a manifestação comportamental do preconceito. Os grupos
minoritários são definidos não tanto pelas suas características numéricas,
como pelas relações psicológicas estabelecidas com os grupos maioritários;

O racismo consta de atitudes e acções negativas injustificadas em relação a um


grupo ou membros individuais de um grupo com base na raça. O racismo
inclui práticas institucionais que subordinam certas pessoas causa da sua raça;

O sexismo é o preconceito e a discriminação com base no género. Tal qual o


racismo, o sexismo pode ser o resultado de práticas institucionais, bem como
de atitudes e comportamentos individuais;

Em contraste com as normas sociais existentes contra a expressão aberta de


sentimentos racistas e sexistas, o heterossexismo permeia a nossa cultura de tal
modo que a maior parte das pessoas ainda se sentem relativamente livres de
exprimir desdém em relação a homossexuais, lésbicas e bissexuais;

Embora algumas formas de preconceito racial tenham diminuído nas ultimas


décadas, outras emergiram para tomar o seu lugar, embora que de um modo
novo e com formas mais subtis do racismo moderno;

Diversas teorias têm sido avançadas para explicar a génese do preconceito e da


discriminação. Essas teorias acentuam o contexto social em que o preconceito
se desenvolve e o grau de preconceito existente em diferentes indivíduos;

As abordagens históricas colocam a hipótese de que o preconceito é muitas


vezes o resultado de tradições e das relações que existiram durante gerações;

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As abordagens sócio-culturais analisam o impacto da sociedade no preconceito
do indivíduo;

As abordagens situacionais estudam os modos como o meio circundante da


pessoa se relaciona com as atitudes preconceituosas;

As abordagens psicodinâmicas examinam o preconceito como sendo o


resultado de conflitos pessoais e de desadaptações no interior da pessoa com
preconceitos;

As abordagens cognitivas olham para os modos como as pessoas com


preconceitos percepcionam e processam informação sobre o alvo do
preconceito. As fontes cognitivas do preconceito incluem categorização,
estereótipos, atribuição e crenças sociais;

A categorização social envolve a distinção entre endogrupo e exogrupo e o


exagero de diferenças nas crenças;

Os estereótipos podem ser suscitados pela percepção exagerada da


heterogeneidade do exogrupo e da homogeneidade do endogrupo pelas
correlações ilusórias e pelas profecias de auto-realização;

A atribuição inclui rotulagem enviesada e o erro irrevogável da atribuição,


ambas interpretações distorcidas do comportamento dos membros do
exogrupo.

Crenças sociais podem provir de ideologias políticas e religiosas. As pessoas


que acreditam num mundo justo podem ser mais susceptíveis de censurar as
vítimas de preconceito;

Muitos autores sugerem que se pode haver um “fundo de verdade” nos


estereótipos, há exagero nas diferenças intergrupais. As consequências do
preconceito fazem-se sentir não só nas vítimas, mas como também no próprio
racista;

Várias tácticas podem ser utilizadas para reduzir o preconceito: técnica de


tomada de consciência (utilizada por vitimas de discriminação para reduzir os
efeitos sobre elas e com o intuito de mudar o mundo;

O assimilador cultural permite sensibilizar as pessoas para significado das


diferenças comportamentais que ocorrem durante a interacção social entre
membros de grupos diferentes;

É possível reduzir os preconceitos na sociedade pelo aumento do contacto


entre os grupos que se opõem. Todavia, para que o contacto possa reduzir o
preconceito deve haver igualdade de estatuto, intimidade, cooperação
intergrupal e normas sociais que favoreçam a igualdade;

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Muito embora os meios de comunicação de massa tenham muitas vezes
perpetuado estereótipos e preconceito, podem também reduzir o preconceito
mediante retratos favoráveis dos grupos minoritários e de interacção entre os
diferentes grupos;

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