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Psicologia Social I

História e concepção da Psicologia Social e o


Sujeito Sócio-Histórico-Cultural

P ROFA . D R A . L Í V I A G O N SALVES TO L E D O
U N I VA P
O que é Psicologia Social?
O que é Psicologia Social?
O que é Psicologia Social?
Quem é o ser humano que a Psicologia Social estuda?
Com que público o psicólogo social trabalha?
Qual é o objeto de estudo da Psicologia Social?
TODA PSICOLOGIA É SOCIAL: significa que cada área da psicologia e cada
abordagem teórica assume dentro de suas especificidades a natureza sócio-
histórica do ser humano.
- Desenvolvimento e Aprendizagem
- Psicopatologia
- Escolar
- Testes e Instrumentos de Avaliação
- Organizacional
- Clínica
O que é Psicologia Social?

Entrevista Ana Bock:


https://www.youtube.com/watch?v=gRZwb2GsgeA
Área de Conhecimento
Psicologia Social é uma ÁREA DE CONHECIMENTO.
O psicólogo social pode utilizar qualquer abordagem teórica –
comportamental, psicanalítica, analítica, humanista, fenomenológica,
cognitivista etc.

Behaviorismo

Fenomenol. Psicanálise

Psicologia
Social

Cognitivismo Humanista

Junguiana
Psicologia Social
Psicologia Social

ÁREA DE CONHECIMENTO
ÁREA DE ATUAÇÃO

Fenômenos sociais
Processo Histórico e
Áreas do Conhecimento
Há uma área de intersecção entre as demais áreas, porém, as perguntas
feitas pelos profissionais de cada área (o psicólogo social, o sociólogo, o
antropólogo, o filósofo) serão distintas.

Filosofia Biologia
Psiquiatria

Sociologia
Psicologia Social
Antropologia Registros subjetivos,
simbólicos, discursivos,
cognitivos, identificações
Subjetividade significados coletivos,
Dimensão Subjetiva dos sentidos individuais, etc.
Fenômenos Sociais
Política
Jurídica
Psicologia Social e interfaces
com áreas afins
O Psicólogo Social, por exemplo, questionará sobre as produções
subjetivas diante do grupo / instituição / comunidade ou situação social
em que o indivíduo está inserido; o historiador irá conhecer as
características do fenômeno em cada momento histórico, e o
profissional da justiça os aspectos legais.
Exemplo:
◦ Relações de Gênero
◦ Movimentos políticos
◦ Violência
◦ Exclusão Social Justiça
Sociologia
◦ Formação familiar
◦ Relações comunitárias
◦ Relações Familiares
Psicologia
◦ Desemprego entre muitos outros...
Social
História
Psicologia Social
Objeto da Psicologia Social :
DIMENSÃO SUBJETIVA DOS
FENÔMENOS SOCIAIS

 Relações de gênero  Movimentos políticos  Comunicação midiática


 Sexualidade  Adoecimento Psíquico  Urbanização
 Violência Urbana  Religiosidade / Espiritualidade  Conjugalidade
 Relações de trabalho  Prática esportiva  Moda etc etc etc.
Psicologia Social
Psicologia Social

ÁREA DE CONHECIMENTO
ÁREA DE ATUAÇÃO

Fenômenos sociais
Psicologia Social Experimental
Relações de gênero
Sexualidade
Psicologia dos Grupos
Violência Urbana
Movimentos políticos
Psicologia Social Comunitária
Adoecimento Psíquico

Psicologia Política Religiosidade / Espiritualidade


Conjugalidade etc. etc. etc. etc.
História da Psicologia Social
A Construção do
Conhecimento Psicológico
A Psicologia surge em um contexto onde a construção do conhecimento
era regido por algumas premissas da época. A Ciência Moderna em
1879:
◦ Experimentalista (empírica)
◦ Racionalista (sem interferência do observador – campo da
transcendência)
◦ Positivista (observável e quantitativa)
◦ Mecanicista (leis regulares e padronizadas)
◦ Determinista (causa e efeito)
Modo de conhecimento que era exercido no estudo das Ciências
Naturais.
Psicologia – Ciência Humana
Psicologia Social Clássica
Os seguidores da Psicologia buscaram dar conta de compreender o
ser humano em seu contato com o mundo real, variando o polo
individual e social. “Fora”
PSICOLÓGICO ABSTRATO
“Dentro”

Suposta “Natureza humana”

Nenhum superou o modo de funcionamento de produção científica


moderna. Todos pensavam um ser humano apriorístico ou com
estruturas e mecanismos mentais prontos que permitem um
funcionamento regular.
Psicologia Social Clássica
INDIVÍDUO X SOCIEDADE
O estudo das relações que os indivíduos mantêm entre si e com a sua
sociedade ou cultura, sempre esteve no centro das preocupações dos
psicólogos sociais, com o pêndulo oscilando ora para um lado, ora para
o outro.

Psicologia Social
História da Psicologia Social
Duas obras, publicadas no ano de 1908, irão
marcar a fundação oficial da Psicologia Social
moderna na América do Norte:

◦ o livro Uma introdução à psicologia social, de


William McDougall (psicólogo)

◦ o livro Psicologia social: uma resenha e um


livro texto, de autoria de Edward Ross
(sociólogo)
PSICOLOGIA SOCIAL
PSICOLÓGICA
(CLÁSSICA / LIBERAL)
Psicologia Social Psicológica
1910-1920: a Psicologia Social Psicológica
estabelece-se como a tendência predominante
no cenário norte-americano (até atualmente),
sob forte influência do behaviorismo (social
entendido como um estímulo do meio) e do
positivismo.

1920-1930: predomínio dos estudos das


atitudes, da influência social interpessoal e da
dinâmica de grupos (experimentos realizados
por Kurt Lewin (1890-1947), de influências
gestaltistas.
Psicologia Social Psicológica
1930-1940: período da Segunda Grande Guerra
e do pós-guerra: estudos sobre a percepção de
pessoas e sobre as atitudes e mudança de
atitudes, fenômeno entendido por alguns
autores como o conceito central da Psicologia
Social Psicológica.

1950-1960: renovação do interesse pelas https://www.youtube.co


pesquisas sobre influência social e processos m/watch?v=ZLZps7xWfHg

intergrupais – processos que levam os


indivíduos a se conformarem com as normas do
grupo ao realizarem julgamentos (estudo do
preconceito), ainda quando se torna evidente
que tais julgamentos estão incorretos (como o
conformismo social).
Psicologia Social Psicológica
1970-1980: as teorias sociopsicológicas entram
em ascensão progressiva com o Cognitivismo
no campo da Psicologia Social Psicológica e
centram cada vez mais no estudo de aspectos
intrapsíquicos do ser humano com o social.

1980-atual: o Cognitivismo se consolida de vez


como a perspectiva dominante na Psicologia
Social Psicológica - compreender os processos
cognitivos que se encontram subjacentes ao
pensamento social, re-estudando fenômenos
anteriormente estudados, agora pelo viés
cognitivista.
A Crise da Psicologia Social na
América do Norte

Crítica à Dicotomia
Psicologia Individual x Psicologia Social
Psicologia Individual x Psicologia Social
A psicologia individual relaciona-se com o ser humano tomado
individualmente e explora os caminhos pelos quais ele busca encontrar
satisfação para seus desejos; contudo, apenas raramente e sob certas
condições excepcionais, a psicologia individual se acha em posição de
desprezar as relações desse indivíduo com os outros (FREUD, Psicologia
das Massas e análise do Eu, 1921).
Importância do
discurso
Dicotomia ou Relação: Indivíduo e Sociedade
Psicologia Individual Psicologia Individual

Psicologia Social Psicologia Social

Indivíduo x Sociedade (dicotomia falsa)


Relação Dialética: Indivíduos e grupos se tornam agentes da história
social, não há contradição entre indivíduo e sociedade, mas uma
relação dialética. O indivíduo não existe sem a sociedade, e a sociedade
não existe sem o indivíduo.
Sujeitos sócio histórico culturais
A Psicologia Social interessa-se assim pelo indivíduo como membro de
uma coletividade localizada no tempo e no espaço:
relacionamento
uma família
um grupo
uma raça
uma nação
uma profissão
uma instituição
um coletivo político
uma cultura
uma sociedade
A Crise da Psicologia Social na
América do Norte

Crítica à ideia de
“Natureza Humana”
A Crise da Psicologia Social na
América do Norte
As ciências naturais tem sucesso em estabelecer princípios gerais
devido à “estabilidade geral dos eventos no mundo da natureza. A
velocidade da queda dos corpos ou a combinação dos elementos
químicos, por exemplo, são eventos altamente estáveis ao longo do
tempo. São eventos que podem ser recriados em qualquer laboratório,
50 anos atrás, hoje, ou 100 anos depois. Porque são tão estáveis, largas
generalizações podem ser estabelecidas com um alto grau de
confiança, explicações podem ser empiricamente testadas e
formulações matemáticas podem ser desenvolvidas com êxito. Se os
eventos fossem instáveis, se a velocidade da queda dos corpos ou a
composição dos elementos químicos estivesse em fluxo contínuo, o
desenvolvimento das ciências naturais estaria drasticamente
impedido.” (GERGEN, A Psicologia Social como História) .
A Crise da Psicologia Social na
América do Norte
Tendo como meta última a investigação das leis universais capazes de
explicar o comportamento social, a Psicologia Social Psicológica
estrutura-se progressivamente como uma Ciência Natural e empírica,
que muitas vezes desconsidera o papel que as estruturas sociais e os
sistemas culturais exercem sobre os indivíduos.

Diferente das Ciências Naturais, o objeto de estudo das Ciências


Humanas e Sociais tem características bastante diferenciadas.

Várias análises críticas apontavam negativamente para o conhecimento


psicossocial que não conseguia intervir, explicar ou prever
comportamentos sociais.
Não existe “Natureza humana”
“A humanização é variável em sentido sociocultural. Em outras
palavras, não existe Natureza Humana no sentido de um substrato
biologicamente fixo que determine a variabilidade das formações
socioculturais. Há somente a natureza humana no sentido de
constantes antropológicas (por exemplo abertura para o mundo e
plasticidade da estrutura dos instintos) que delimita e permite as
formações sociais do homem. Mas a forma específica em que esta
humanização se molda é determinada por essas formações
socioculturais, sendo relativa as numerosas variações. Embora seja
possível dizer que o homem tem uma natureza, é mais significativo
dizer que o homem constrói sua própria natureza ou mais simplesmente
que um homem se produz a si mesmo.” (A construção social da
realidade – Berger e Luckmann, 1985, p. 70)
Não existe “Natureza humana”

Exemplo: sexualidade humana


◦ Independe de ritmos temporais;
◦ É flexível em relação aos objetos a que se dirige;
◦ É flexível em suas modalidades de expressão;
◦ Evoca o estímulo sexual com a própria imaginação;
◦ Produz categorias identitárias variáveis que independem do
organismo biológico;
◦ É geralmente correspondente a cultura a que pertence.
Crítica ao Positivismo
A Crise da Psicologia Social na América
do Norte
Crítica ao positivismo:
◦ experimentalista
◦ racionalista, sem interferência do observador
◦ observável e quantificável
◦ sem padrão de causa e efeito)
◦ objetividade que ‘perde o ser humano
◦ leis gerais não aplicáveis a todos.
Os estudos interculturais eram extremamente complexos, desafiavam as
estatísticas, muitas variáveis interferiam nos resultados, não sendo
possível chegar a conclusões objetivas como nas Ciências Naturais.
A Crise da Psicologia Social na América
do Norte
Psicologia Social Psicológica norte-americana:
◦ Excessiva individualização (desconsidera fenômenos histórico-
cultuais, remonta apenas aspectos cognitivos individuais);
◦ Falta de diálogo com os Movimentos Sociais (como o movimento
feminista);
◦ Baixa relevância social (afastada dos problemas sociais reais);
◦ Artificialidade dos experimentos conduzidos em laboratório;
◦ Falta de compromisso ético;
A Crise da Psicologia Social na
América do Norte
Na França, a tradição Psicanalítica, retomada com veemência no fim da
década de 1960, critica a Psicologia Social norte-americana como
reprodutora dos interesses da classe dominante e reprodutora de
condições históricas específicas da América, o que não podia ser
transposto para outros países.

Crise contribuiu para o desenvolvimento de uma Psicologia Social


Europeia, mais preocupada com o contexto social (Psicologia Social
Sociológica), e, mais recentemente, de uma Psicologia Latino-
Americana, voltada prioritariamente para os problemas sociais
(Psicologia Social Crítica).
Psicologia Sócio-Histórica
Psicologia Sócio-Histórica
Séc. XX, ficou restrita ao Leste europeu até os anos 1960, quando surge na
Europa e EUA como uma nova possibilidade teórica. Chegou ao Brasil nos
anos 80 através da Psicologia Social e da Psicologia da Educação.
Formulada por Vygotski na ex-União Soviética, influenciada pelo
materialismo dialético, buscava-se superar as tradições positivistas e
estudar o ser humano e seu mundo psíquico como uma construção
histórica e social da humanidade.
O mundo psíquico que temos hoje não foi nem será sempre assim
Psicologia Sócio-Histórica
Não existe natureza humana. Não existe uma essência eterna e
universal do ser humano, que no decorrer de sua vida se atualiza,
gerando suas pontencialidades e faculdades. A linguagem e o
pensamento humano têm origem social, e a cultura faz parte do
desenvolvimento humano -> se contrapõe ao sujeito biológico natural.

A consciência e o comportamento são aspectos integrados de uma


unidade, não podendo ser isolados pela Psicologia. -> se contrapõe ao
reducionismo das Escolas da Psicologia.

O ser humano constitui-se e se transforma ao atuar sobre a natureza


com sua atividade e seus instrumentos. Está em permanente
movimento e transformação. -> se contrapõe a ideia de essência
humana, de “verdadeiro eu” e atemporalidade do sujeito.
Psicologia Sócio-Histórica
Não se pode construir qualquer conhecimento a partir do aparente (dado a
priori), pois não se captam as determinações que são constitutivas do
objeto. Ao contrário, é preciso rastrear a evolução dos fenômenos, pois
estão em sua gênese e em seu movimento as explicações para sua
aparência atual. -> para se conhecer o sujeito é preciso conhecer sua
história.

A mudança individual tem sua raiz nas condições sociais de vida. Assim,
não é a consciência do ser humano que determina as formas de vida, mas
é a vida que se tem que produz a consciência. -> o psíquico é constituído
pelo social, assim, a intervenção psicológica deve levar em conta os fatores
sociais, culturais do sujeito.
Psicologia Sócio-Histórica
Rompimento com a ideia de que o mundo psicológico germina dentro de
cada ser humano individualmente, mas sim se constrói articulado com o
mundo social e material. Deixa de responsabilizar o sujeitos pelo seu
próprio adoecimento. -> negação de um ser humano e fenômeno
psicológico abstrato e individual.

“Para a Psicologia Sócio-Histórica, falar de fenômeno psicológico é


obrigatoriamente falar da sociedade. Falar de subjetividade humana é
falar da objetividade em que vivemos [...]. Subjetividade e objetividade se
constituem uma à outra sem se confundir” [em uma relação Dialética]
(BOCK, 2015, p. 31)
Psicologia Sócio-Histórica
O ser humano não controla ou é responsável pela sua individuação, mas
produto de sua cultura, sociedade e história. -> é produto da sua
realidade, sendo também produtor dela

Os anseios do ser humano não são fruto de sua natureza individual, não
pode ser feita a separação indivíduo sociedade. -> foge à ideia de
instinto e determinação, o desejo humano também é uma produção que
se dá na relação com o mundo

A Psicologia Sócio-Histórica supera a premissa de neutralidade em


relação ao objeto de estudo (Pesquisas Participantes e Compromisso
com a Transformação Social) e se contrapõe a uma Psicologia que foi (e
muitas vezes ainda é) usada como estratégia de Dominação. Estudos
Caracterológicos, Estudos Raciais, Medicalização/Patologização da Vida
(História da Psicologia e as Relações Étnico Raciais)
PSICOLOGIA SOCIAL CLÁSSICA PSICOLOGIA SOCIAL SÓCIO HISTÓRICA
Individual é separado do social Individual é produzido pelo social
Psicológico abstrato Psicológico produzido na relação com a

Psicologia Sócio-Histórica
sociedade (materialidade)
Psiquismo é dado , é natural do ser Psiquismo é construído historicamente e
humano, o humano nasce com o socialmente (material)
Psiquismo
Ser humano "dono de si", autocontrole, Será humano moldado pela sua história e
autônomo sociedade (material)
Ser humano é influenciado pela sociedade Ser humano é constituído pela sociedade e
a constitui
Ser humano pode ser estudado do mesmo Ser humano constrói cultura (só o humano
modo que animais, pela ciência natural, possui as funções superiores -
pois as capacidades humanas são naturais, pensamento, memoria mediada, atenção
advindas do organismo, espécie humana voluntária, consciência, linguagem social,
imaginação)
Não faz referência à funções superiores e As funções superiores se modificam na
inferiores interação social
PSICOLOGIA SOCIAL
SOCIOLÓGICA
História da Psicologia Social
Psicologia Social Psicológica - procura explicar os sentimentos, pensamentos e
comportamentos do indivíduo na presença real ou imaginada de outras
pessoas. Enfatiza principalmente os processos intraindividuais responsáveis
pelo modo pelo qual os indivíduos respondem aos estímulos sociais. Foco na
dimensão individual.

Psicologia Social Sociológica - tem como foco o estudo da experiência social


que o indivíduo adquire a partir de sua participação nos diferentes grupos
sociais com os quais convive. Privilegiam os fenômenos que emergem dos
diferentes grupos e sociedades. Foco na dimensão social.
História da Psicologia Social
NÍVEL MOLECULAR: mais individualista, se focaliza cada vez mais na
investigação de processos intraindividuais.

Psicologia Social Psicológica - tradição pragmática dos Estados Unidos: visava


alterar ou criar atitudes, interferir, nas relações grupais, harmonizá-las para
garantir a produtividade (reconstruir as cidades após a Segunda Guerra
Mundial).

Psicologia Social Sociológica - tradição filosófica Europeia: com raízes na


fenomenologia, buscando modelos científicos totalizantes.
NÍVEL MOLAR: estudo dos processos socioculturais e concebendo o
indivíduo como integrante desse sistema.
Psicologia Social Sociológica
Psicologia Social Sociológica – Continua hoje sendo a vertente principal
na Europa, preocupação maior com os processos grupais e
socioculturais.
A Psicologia Social europeia inicialmente caminhou lado a lado com a
Psicologia Social Psicológica Americana. A partir dos anos 1970,
motivada pela crise da Psicologia Social na América do Norte, passou a
adquirir sua própria identidade e a demonstrar maior preocupação com
a estrutura social.

• Temas de estudo mais frequentes:


• identidade social;
• relações intergrupais;
• representações sociais;
... que remetem a uma psicologia dos grupos e
coletividades.
Nova Psicologia Social: Psicologia Social Crítica
Constatação crítica acerca do:
Biologismo: a tradição biológica da psicologia, que entende que os
processos psicológicos são causados por elementos interiores ao
sujeito;
Sociologismo: comportamentos humanos são produzidos pela cultura e
pela sociedade e uma ideologia dominante que eram considerados
como naturais e, muitas vezes, universais.
Preocupação com relações de
poder e dominação

Olhar sobre um ser humano de modo individual e biologizado ou


determinado pelas sociedade em que está inserido é o que permite a
reprodução de ideologias dominantes descrevendo comportamento
humano em frequências e tirando conclusões sobre pura e simples
relações causais de comportamentos.
Relação Dialética: Indivíduo-Sociedade
A PSICOLOGIA SOCIAL CRÍTICA ADOTA A VISÃO DA PSICOLOGIA SÓCIO-
HISTÓRICA (TAMBÉM ADOTADA PELA PSICOLOGIA SOCIAL
SOCIOLÓGICA) NO QUE DIZ RESPEITO À CONCEPÇÃO DE SUJEITO.

INDIVÍDUO-SOCIEDADE
Psicologia Social Crítica
Psicologia Social Crítica
• Fim da década de 1970 – influenciada pela Psicologia Social Sociológica,
de questionamento e ruptura com a Psicologia Social tradicional, trazendo
a concepção de sujeito sócio histórico, mas também devido aos regimes
militares arbitrários e grande desigualdade social da América-Latina.
Buscavam uma Psicologia Social mais contextualizada, adotando a
Psicologia Social Crítica, ou seja, comprometida com a realidade social.

Ignácio Martin-Baró: psicólogo e padre jesuíta espanhol


nascido em 1942, radicado em El Salvador, defendia em suas
obras o desenvolvimento de uma Psicologia Social
comprometida com a realidade social latino-americana.
Psicologia Social Crítica
A Psicologia Social Crítica: se desenvolveu principalmente na América
Latina, como abordagem preferencial à análise dos graves problemas
sociais que costumam assolar a região.
Abarcam a Psicologia Sócio-Histórica, os Estudos do Discurso, os
Estudos Feministas e de outros movimentos sociais, entre outras
perspectivas que têm em comum o fato de adotarem uma postura
crítica em relação:
◦ às instituições, organizações e práticas da sociedade atual;
◦ ao conhecimento até então produzido pela Psicologia Social;
Colocam-se contra a opressão e a exploração presentes na maioria das
sociedades e têm como um de seus principais objetivos a promoção da
mudança social como forma de garantir o bem-estar do ser humano.
Psicologia Social Crítica
Para Baró, o Psicólogo Social ou o Analista Social deve ter como tarefas:
o a conscientização de pessoas e grupos, como forma de levá-los a
desenvolver um saber crítico sobre si e sobre sua realidade, que lhes
permita controlar sua própria existência.
o contribuir para a construção de identidades
pessoais, coletivas e históricas capazes de
romper a situação de alienação das maiorias
populares oprimidas, trabalhando-se pela
desalienação da consciência social;
A construção teórica em Psicologia Social deve
emergir dos problemas e conflitos vivenciados pela
população.
Teoria Crítica
Adorno e Horkheimer, os teóricos da Escola de Frankfurt,
desenvolveram a teoria crítica como uma abordagem interdisciplinar
para compreender a sociedade e a cultura. Em resumo, a teoria crítica
de Adorno e Horkheimer se baseia no materialismo dialético de Marx,
mas expande suas ideias para incluir a análise da cultura e da sociedade
pós-industrial.
Compartilham a preocupação com a alienação e a exploração na
sociedade capitalista. Por exemplo, Adorno e Horkheimer acreditavam
que a cultura de massa e a indústria cultural eram mecanismos de
controle social que perpetuavam a alienação e a dominação.
TEORIA TRADICIONAL TEORIA CRÍTICA
Visa construir o conhecimento na realidade sem Visa uma transformação da sociedade.
nela interferir.
Demanda por uma ação baseada na Demanda por uma ação baseada na ética.
neutralidade.
Traz uma Verdade Universal que está acima da Procura as diversas verdades situadas em
realidade. diferentes contextos da realidade.
O conhecimento vem de organismos de poder O conhecimento vem de diferentes lugares e
pré-estabelecidos (cartesiano, frio, positivista, tem propósitos diferentes.
utilitarista, colonialista, masculino, patriarcal,
branco, heteronormativo).
As pessoas são objetos de estudo e As pessoas são sujeitos participantes na
instrumentos de manutenção de ordens produção do conhecimento.
dominantes.
Foco na razão, na racionalidade Foco no campo dos afetos, da sensibilidade, da
imaginação, e das relações de poder e
dominação.
Tem efeitos de neutralidade – não interferir nas Tem efeitos políticos - transformação da
condições nas quais a sociedade vive. sociedade, mudança das condições nas quais a
sociedade vive.
Aliena. Liberta.

FONTE: HOKHEIMER, M. Teoria Tradicional e Teoria Crítica. Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1980.
TEORIA TRADICIONAL TEORIA CRÍTICA

Tem efeitos de neutralidade – não Tem efeitos políticos - transformação da


interferir nas condições nas quais a sociedade, mudança das condições nas
Psicologia Social Crítica
sociedade vive. Base na neutralidade. quais a sociedade vive. Base na ética.

Depressão / Crises de Ansiedade / Burnout / Suicídio / Machismo / Racismo / LGBTIA+fobia /


Intolerância Religiosa / Exclusão Social / Violência e Violação de Direitos de todos os tipos.
- cerca de 5,8% da população brasileira sofrem de depressão – um total de 11,5 milhões de
casos; e 18,6 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade. O número representa cerca de 9,3%
da população (OMS, 2019);
- Burnout atinge 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores, segundo levantamentos da
Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt);
- Brasil está em oitavo dentre os países do mundo com maior número de suicídios (OMS);
- Brasil registra uma morte por homofobia a cada 23 horas, aponta GGB (2018);
- no primeiro semestre de 2022, a central de atendimento registrou 31.398 denúncias e 169.676
violações envolvendo a violência doméstica contra as mulheres (Ouvidoria Nacional de DH);
- a cada 15 minutos, 1 criança sofre violência sexual no Brasil (Fundação Roberto Marinho);
- 25% dos brasileiros vivem em condições precárias e 42% dos municípios do país possuem altos
índices de exclusão social (Portal MEC);
- taxa de homicídio de homens negros no Brasil é quase 4 vezes maior do que a de não negros,
aponta estudo (Instituto Sou da Paz);
- na Internação Compulsória de pessoas que fazem uso de drogas, apenas 2% conseguem se
livrar da dependência (CRPSP - PROAD).
- ... NÃO HÁ SAÚDE MENTAL ONDE HÁ OPRESSÃO.
História da Psicologia e as
Relações Étnico Raciais
A política é a gestão
da vida, dos espaços
de gestão das
experiências
coletivas e da
identificação das
relações de poder e
saber (FOUCAULT,
1979

https://www.youtube.com/watch?v=kWxksk-c_0I
VÍDEO: 10 MINUTOS
A PSICOLOGIA SOCIAL QUE NÓS
ADOTAMOS
Psicologia Social Crítica
A Psicologia social, hoje, busca romper com uma ciência que contribuiu
muitas vezes para a manipulação e massificação da sociedade (Teoria
Tradicional x Teoria Crítica).
O mundo objetivo passa a ser visto não como fator de influência para o
desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo.
A Nova Psicologia social pretende ir além do que é observável, ou seja,
além do comportamento, buscando compreender a “dimensão invisível”
(não observável) humana.
Estudo da Subjetividade levando em conta a construção sócio-histórica
do sujeito.
DIMENSÃO SUBJETIVA DOS FENOMENOS SOCIAIS
Nosso estudo
Area de Conhecimento: Psicologia Social
Psicologia Social Psicológica
Psicologia Social Sociológica
Psicologia Social Crítica

Abordagem teórica INTERDISCIPLINAR:


Psicologia Sócio-Histórica (Vygotsky, Bock)
Psicanálise (Freud-Lacan)
Esquizoanálise (Deleuze e Guattari)
CONCEPÇÃO DE SUJEITO PELA PSICOLOGIA SÓCIO
HISTÓRICA:
SUJEITO SÓCIO HISTÓRICO-CULTURAL

CONCEPÇÃO DE SUBJETIVIDADE PELA ESQUIZOANÁLISE:


REDE COMPLEXA DE FORÇAS
Subjetividade
PENSAR A SUBJETIVIDADE EM UMA DIMENSÃO
MACROPOLITICA E MICROPOLÍTICA:

◦ ESQUIZOANÁLISE
◦ Campos de Força
◦ Linhas de força
◦ Desejo e Poder
◦ Interioridade e Exterioridade
◦ Paradigma crítico: o ético-estético-político, que visa à micropolítica -
provocar o encontro entre desejo e campo social.
Paradigma ético-estético-político
Ética: convida os sujeitos a reconhecer a alteridade e criar mundos.

Estética: o singular, o reconhecimento da potencialidade do devir, é o


fazer da vida uma obra de arte que transborda os limites da própria
expressão.

Política: relações de forças e desejantes que se estabelecem em


diferentes esferas do campo social, que atuam na configuração de
poderes instituída e resultam na gestão da vida e na produção de
subjetividades, podendo ter distintos graus de organização.
Questões
QUESTÕES HISTÓRIA DA PSICOLOGIA SOCIAL E O SUJEITO SÓCIO-HISTÓRICO

1. Qual a dificuldade de reconhecimento da Psicologia enquanto uma ciência humana no final do século XIX
e na primeira metade do século XX e qual a relação disto com a Psicologia Social?

2. Por que podemos entender que toda psicologia individual é uma psicologia social?

3. Quais as características da Psicologia Social Psicológica?

4. Quais as características da Psicologia Social Sociológica?

5. Por que a Psicologia Social Psicológica entra em crise nos anos 1960-1970?

6. Por que abandonamos a Psicologia Social Psicológica e Sociológica e passamos a adotar a Psicologia Social
Crítica na América Latina?

7. Quais as características da Psicologia Social Crítica?

8. No estudo da Psicologia Social Crítica, abandonamos o binômio indivíduo x sociedade e passamos a


compreender a relação indivíduo-sociedade como uma relação dialética. Explique.

9. Por que a ideia de 'natureza humana' é questionada pela Psicologia Social?

10. O que significa dizer que o ser humano é produto e produtor da história e da sociedade?

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