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7 - 8 semanas de gestação.
20 - 24 semanas.
Exame morfológico.
Vinte e oito semanas: Nesta fase, continuamos sempre com muita atenção para
malformações e atentos ao bem-estar fetal, avaliando batimentos cardíacos, movimentos
respiratórios e movimentos espontâneos do feto. É nesta fase que o sofrimento fetal pode
evoluir para um crescimento intra-uterino restrito, principalmente o simétrico que pode se
instalar nesta fase. O assimétrico tem aparecimento mais adiante, ao redor de 32 sema-
nas ou mais. Importante aqui, avaliar a placenta e o líquido amniótico. A placenta “baixa”
diagnosticada no início do segundo trimestre, deve ser avaliada com 28 semanas. Se ela
permanecer “baixa”, deve ser então classificada como prévia. Quanto ao líquido amniótico,
devemos fazer o cálculo do ILA (índice de líquido amniótico). O normal é ao redor de 8 a 25
cm. Podemos também utilizar a medida do maior bolsão de liquido amniótico que é mais
prática e também eficiente. É importante lembrar que a polihidramnia pode estar associada
com malformações fetais, principalmente do sistema nervoso central e do sistema gastroin-
testinal e a oligodramnia pode estar associada com malformações do sistema genitourinário.
Além disso, a oligodramnia pode estar associada a um sofrimento fetal agudo ou crônico e
deve ser sempre relatada. Comumente, os casos de crescimento restrito se acompanham
de oligodramnia. A oligodramnia pode dificultar muito o exame, já que as várias estruturas
não tem muito líquido ao redor para individualizá-las ou contrastá-las. Outro parâmetro
que passa a ser importantíssimo na avaliação fetal é o peso. O peso fetal deve ser avaliado
com maior rigor a partir da vigésima quarta semana.
Trinta e seis semanas: É uma fase perfeita para se avaliar o desenvolvimento geral
do feto, avaliar com maior precisão algumas regiões fetais e detectar anomalias existentes.
O coração fetal nesta fase encontra-se com um tamanho excelente para avaliação das 4
câmaras e detecção de algumas anomalias. Podemos também avaliar os núcleos ósseos de
crescimento como as epífises distais dos fêmures e proximais das tíbias.
Nesta fase visualizamos perfeitamente a face fetal e eventuais malformações. O cordão
umbilical já é bem visualizado desde o início do segundo trimestre, mas neste período é
particularmente fácil a sua avaliação já que se encontra calibroso. A presença de artéria
única no cordão pode estar associada com cromossomopatias e um rastreamento total do
feto à procura de anomalias, deve ser realizado. Como a paciente nesta fase se encontra
próxima do termo, é muito importante o cálculo do peso fetal.
Mais e trinta e seis semanas: Como avaliação de rotina pode não ser mais necessária,
a não ser nos casos suspeitos de sofrimento fetal, retardos de crescimento, trabalhos de
parto prematuros, roturas prematuras de bolsa amniótica e outras intercorrências.
Limitações do Exame Ultrassonográfico obstétrico
Obesidade da paciente.
Oligodramnia significativa.
Posição do feto.
Examinador inexperiente.
Equipamento inadequado.
Exame realizado muito rapidamente.
Gestação múltipla (2 fetos ou mais).
Vamos recordar alguns aspectos básicos da gravidez. Devemos discorrer sobre o que
chamamos de estirões do crescimento fetal em ordem cronológica, utilizando a datação da
clínica obstétrica (tempo de amenorreia). Não utilizem a datação do geneticista (tempo de
fecundação). Os relatórios devem referir sempre o tempo de amenorreia e as tabelas de
biometria ecográfica são corrigidas para o tempo de amenorreia. Lembrem-se: os exames
são dirigidos aos obstetras e não aos geneticistas.
Os equipamentos de ultrassonografia utilizam os tempos de amenorreia, por determi-
nação da obstetrícia clínica. O exame no período embrionário é útil para fazer a correção da
idade gestacional, pois o erro de data é frequente. Em 10 a 15% das gestantes, a ovulação
ocorre em dias diferentes do esperado, além das questões relacionadas com os distúrbios
menstruais. Uma vez corrigido o tempo de amenorreia (tempo clínico de gravidez), teremos
uma data corrigida da última menstruação e uma data correta para 40 semanas, imutável e
válida para toda a gravidez, necessária para a vigilância do desenvolvimento fetal.
Alguns pacientes fazem confusão com a datação. Leem na internet textos de genética
e calculam a idade gestacional pelo tempo de fecundação. Discordam do cálculo feito pelo
ecografista e polemizam de forma agressiva, com a cátedra outorgada pelo Google.
A gestação dura no máximo 42 semanas, mas a data do parto é calculada para 40
semanas, por segurança. Podemos dividir a gravidez em três intervalos de 14 semanas
(“trimestres”). No primeiro trimestre temos a embriogênese e o desenvolvimento primário
dos órgãos. No segundo, temos o desenvolvimento secundário dos órgãos e o início da ma-
turação orgânica. No terceiro, temos o final da maturação orgânica e o acúmulo de energia
(glicogênio hepático, tecido adiposo e tecido muscular).
O primeiro trimestre pode ser dividido em quatro intervalos de tempo:
Primeira e segunda semana: fase folicular do ciclo ovariano, ovulação e fecundação.
Terceira e quarta semana: é a gravidez pré-clínica (também chamada gravidez química
devido ao beta-hCG positivo no dia 26 do ciclo). Ocorre a implantação do ovo e o desen-
volvimento do saco gestacional, do disco embrionário, da vesícula vitelina (alguns falam
vitelínica) e da vesícula amniótica.
Quinta à décima semana: gravidez clínica (quinta semana em diante) e período da em-
briogênese (até um CCN de 30 mm).
Décima primeira à décima quarta semana: é o período fetal do primeiro trimestre (CCN
entre 31 e 84 mm).
Na questão do aborto, temos o aborto pré-clínico (até quatro semanas), quando 50%
dos ovos são perdidos, e o aborto clínico (quinta à vigésima segunda semana ou recém-
-nascido com até 499 gramas), quando 15% das gestações são perdidas. Portanto, de cada
100 ovos fecundados, apenas 42 ultrapassam as 22 semanas.
É uma seleção natural rigorosa visando eliminar as gestações com doenças graves e
inviáveis, onde a principal causa é uma anomalia genética, e a segunda, uma infecção. As
demais causas são fatores ambientais (teratogênese) e fatores maternos (trombofilia, do-
enças autoimunes, doenças haloimunes, doenças orgânicas, fatores uterinos, corpo lúteo
etc.). Isso sem considerarmos os óbitos fetais após a 22ª semana e os óbitos neonatais até
28 dias, devido às doenças fetais e maternas (hipertensão, por exemplo).
Não se esqueça da contagem linear do tempo. O dia 1 é sempre o primeiro dia do
intervalo seguinte. O próximo dia 1 de janeiro será o primeiro dia do primeiro mês do pró-
ximo ano. Treze semanas e um dia: primeiro dia da décima quarta semana.
O erro mais hilariante cometido com a questão da contagem linear do tempo foi a
virada do milênio. O terceiro milênio começou no dia primeiro de janeiro de 2001 (primeiro
dia do primeiro mês do primeiro ano do terceiro milênio). Muitos comemoraram a virada no
dia 31/01/99, considerando o ano dois mil como sendo o primeiro ano do terceiro milênio,
na verdade foi o último do segundo (final zero).
A confusão começou com o “bug do milênio” na computação. Por economia de dígitos,
utilizavam-se as datas com pares de números: 31/01/99 e não 31/01/1999. Veio assim a
grande bobagem: o ano 00 poderia causar uma paralisia das redes de computação, pois
poderia significar tanto 1900 quanto 2000. Não há limites para a estupidez, pois 99 poderia
ser tanto 1899 quanto 1999 e assim por diante, e não aconteceu nada com os computado-
res, os quais foram corrigidos para utilizar quatro dígitos para o ano. Para eliminar possíveis
confusões, devemos utilizar a datação do ano corretamente com os quatro dígitos.
Por que estou insistindo na questão da contagem linear do tempo?
Oras bolas! Ainda existem muitos colegas que esqueceram que a contagem do tempo
é uma sucessão linear de segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas,
séculos, milênios etc. É uma estupidez, mas acontece regularmente.
Por exemplo: realizam a primeira ecografia e datam com 12 semanas. A paciente volta
dentro de 10 semanas (12 + 10 = 22 semanas) e datam com 23 semanas. A paciente volta
outra vez dentro de 8 semanas (12 + 10 + 8 = 30 semanas) e datam com 33 semanas. A
partir daí a paciente passa a ter três datas diferentes para o parto e a confusão está ins-
talada. A conclusão correta: feto de 30 semanas (12 + 10 + 8 semanas) com velocidade de
crescimento acima da média. É um feto de 30 semanas de idade com tamanho equivalente
a um feto de 33 semanas. Pode ser um feto grande constitucional (50% dos casos) ou cres-
cimento acelerado devido a diabetes materno (40% dos casos) ou erro de data induzido pela
paciente (10% dos casos, não sabe a data e não veio fazer exame na primeira metade da
gestação). Nesse último caso, o ecografista vai datar com 33 semanas uma gravidez de 30
semanas, porque não conta com dados prévios confiáveis e, se não for atento e obsessivo,
vai errar a idade do feto.
O raciocínio é exatamente o mesmo para o contrário, quando o feto tem velocidade de
crescimento abaixo da média (feto pequeno constitucional) ou quando está desacelerado
devido a doenças (fatores intrínsecos, fatores extrínsecos ou fatores mistos).
Os estirões do crescimento fetal ocorrem em alguns órgãos e/ou tecidos em momentos
especiais do desenvolvimento do concepto. Assim temos:
A: Translucência nucal normal. Ângulo facial, osso nasal, palato, fossa posterior e a translucência nucal.
B: Translucência nucal aumentada.
C: Ducto venoso (vide a mudança de cor: “aliasing”). Traçado espectral normal, com contração atrial
normal (onda A anterógrada).
D: Ducto venoso anormal, com onda A retrógrada.
Os Estirões do
Crescimento Fetal
Parte 3 Dr. Luiz Antônio Bailão
CRM: 17.555
Ocorre uma multiplicação intensa dos hepatócitos, dos lóbulos hepáticos e das tríades
portais (vaso porta, artéria hepática e ducto biliar). O fígado desenvolve uma hipertrofia e
uma hiperplasia para fazer frente às necessidades metabólicas do crescimento fetal da
segunda metade da gravidez. Como o metabolismo fetal, até a trigésima quarta semana,
é centrado no glicogênio, podemos dizer que ocorre uma glicogenose hepática funcional.
Não é a doença metabólica glicogenose, pois essa só provocará alteração hepática após o
nascimento, quando cessarem as trocas maternofetais.
Com o desenvolvimento hepático, a veia umbilical é incorporada definitivamente ao
sistema porta, e o seu fluxo será direcionado aos lóbulos hepáticos. Por esse motivo, o vo-
lume de fluxo no ducto venoso diminui consideravelmente, passando a representar apenas
15 a 25% do volume da veia umbilical, a qual passará a suprir as necessidades hepáticas. O
IP do ducto venoso diminui devido à menor pressão dirigida ao coração esquerdo.
O fluxo hepático aumentado leva ao aumento do fluxo no coração direito, compensado
pelo aumento do canal arterial, caso contrário o feto sofreria uma hipertensão pulmonar. O
canal arterial aumenta o fluxo aórtico para compensar as necessidades maiores do sistema
digestório, do sistema urinário etc. As necessidades da cabeça serão supridas pelo fluxo no
forame oval, através da soma do fluxo do ducto venoso e parte do fluxo da cava inferior, a
qual tem maior volume devido ao fluxo hepático.
O aumento do fluxo no aparelho urinário provoca um aumento do volume urinário
fetal. O volume amniótico passa a ter composição urinária predominante. Por esse motivo,
uma malformação do aparelho urinário que impeça a micção fetal só levará ao oligo-hidrâm-
nio grave no segundo trimestre.
Entre 18 e 28 semanas, o feto apresentará um crescimento global contínuo lento e
uniforme, com o peso passando de 200 gramas para 1000 gramas.
O peso fetal passa de 1000 gramas para 3200 gramas (peso médio), graças ao ganho
rápido de massa muscular e de tecido adiposo. A curva de crescimento do peso fetal mostra
um aumento do índice de aceleração. Vocês podem consultar essa curva nos gráficos que
estão nos relatórios de exame dos aparelhos de ultrassonografia. A curva do peso fetal é a
única que aumenta o IA, o que não ocorre com o crescimento da cabeça e dos ossos longos.
O fígado fetal volumoso, devido à hipertrofia funcional, somado ao aumento do tecido
adiposo abdominal provoca uma inversão da relação circunferência craniana x circunferên-
cia abdominal ao redor da trigésima quinta semana. O abdome fica maior do que a cabeça,
o feto fica gordo e fofo, tudo isso para aumentar a reserva fetal destinada ao período de
fome perinatal que os conceptos passam, quando sempre perdem peso. É um mecanismo
funcional importante para a saúde do indivíduo.
Os fetos que perdem peso antes da trigésima quinta semana, geralmente devido
à insuficiência placentária, terão maiores riscos para problemas metabólicos e doenças
múltiplas pela vida toda, a chamada hipótese de Barker, já mais do que comprovada com
estudos longitudinais. As causas da insuficiência placentária são conhecidas de longa data:
hipertensão arterial materna, placentite crônica, anomalia cromossômica, doenças que
diminuem a perfusão uterina (trombofilia, doença materna autoimune) etc.
Para o feto, a insuficiência placentária depende, por um lado, da diminuição da per-
fusão materna (provoca infartos do espaço interviloso) e, por outro lado, da diminuição do
número de vilosidades funcionantes (provoca diminuição do volume placentário). A atrofia
placentária pode ser pesquisada pelo Doppler. As artérias uterinas (perfusão do espaço
interviloso) e as artérias umbilicais (perfusão das vilosidades) permitem o rastreamento
desses eventos. O período crítico é aquele entre 26 e 32 semanas. A análise espectral das
artérias umbilicais é a mais confiável e a única certificada pela Fundação Cochrane. O fluxo
telediastólico ausente (diástole “zero”) ou reverso indica uma situação gravíssima e de alto
risco fetal. A resistividade umbilical aumentada (IR > 0,75) já é um elemento preocupante,
indicando perda da perfusão vilositária. A resistividade arterial uterina tem menor acurácia
nesse período.
O sofrimento fetal crônico é um processo ativo e progressivo. Compromete a nutrição
fetal e, posteriormente, compromete a oxigenação fetal.
A desnutrição leva à restrição do crescimento, com desaceleração do ganho de peso
aferida pela medida da circunferência abdominal. A circunferência abdominal diminuída
significa perda das reservas hepáticas de glicogênio (o fígado diminui de volume) e falta de
crescimento do tecido adiposo abdominal. A análise espectral das artérias umbilicais acusa
a atrofia placentária e a biometria fetal acusa a desaceleração do ganho de peso.
A hipóxia leva à vasodilatação das artérias cerebrais, das artérias coronárias cardíacas
e das artérias adrenais. A análise espectral das artérias cerebrais acusa a vasodilatação
defensiva do feto, revelando resistividade diminuída (IR < 0,65). Num primeiro tempo, a
hipóxia provoca uma acidose respiratória fetal, com diminuição do oxigênio e aumento do
gás carbônico circulantes. É a causa da vasodilatação de algumas artérias fetais.
A hipóxia crônica provoca, num segundo tempo, uma acidose metabólica fetal, com
aumento de radicais ácidos na corrente sanguínea e diminuição do pH plasmático. Na fase
de acidose metabólica, a condição fetal é grave: o fígado está atrofiado, o crescimento do
esqueleto está diminuído, a musculatura está atrofiada e o cérebro desacelera o cresci-
mento. Na fase terminal, a contração miocárdica se altera e surge a insuficiência cardíaca.
Na hipóxia crônica grave, o ducto venoso mostra perfusão alterada, com aumento da
pulsatilidade (IP ≥ 0,75) devido ao aumento da velocidade e da pressão no átrio cardíaco
esquerdo. O aumento da pulsatilidade no ducto venoso é secundário a dois eventos: a atrofia
hepática desvia o sangue da veia umbilical para o ducto; e a acidose metabólica diminui o
pós-carga do ventrículo cardíaco esquerdo (perda da contração miocárdica) com aumento
da pressão no átrio esquerdo.
Do ponto de vista hemodinâmico, a desnutrição e a hipóxia provocam um retorno ao
estágio do período fetal do primeiro trimestre: telediástole umbilical ausente (atrofia placen-
tária) e pulsatilidade elevada no ducto venoso (atrofia hepática e acidose metabólica). Vale
referir que a alteração no ducto venoso não é um evento precoce na evolução do sofrimento
fetal crônico e, portanto, ao contrário do que muitos referem, não é o melhor marcador
para a interrupção da gestação. É muito tarde, o feto já perdeu e já lesou muitos tecidos.
Se não morrer, as sequelas futuras serão muito graves. Devemos, se possível, interromper
o processo na fase de desnutrição simples ou na fase de acidose respiratória, e não na fase
de acidose metabólica (ducto alterado).
Sétimo estirão: da trigésima sexta semana à
quarta semana pós-natal
Multiplicação acelerada dos neurônios cerebrais e migração cortical.